Trabalho 71 TÉCNICA DE COLETA POR SISTEMA FECHADO DO SANGUE DE CORDÃO UMBILICAL E PLACENTÁRIO PARA OBTENÇÃO DE CÉLULAS-TRONCO HEMATOPOIÉTICAS Dulcinéa Luzia de Oliveira Lima Marques 1, Beatriz Guitton Renaud B. de Oliveira 2, Marina Izu3, Joyce Beatriz de Abreu Castro4, Flavio Henrique Paraguassu Braga5, Luis Fernando da Silva Bouzas6 No Brasil, em 2001, o Instituto Nacional de Câncer (INCA), inaugurou o primeiro Banco Público de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário (BSCUP), para armazenamento de células-tronco hematopoiéticas, visando aumentar as chances de localização de doadores, para os pacientes que necessitam de transplante de medula óssea. Em 2001, no processo de estruturação do BSCUP, houve a formação de equipe multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiros, biólogos, biomédicos e pessoal administrativo. No planejamento das atividades, a equipe de enfermeiras ficou responsável pela captação, seleção, coleta de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário (SCUP) e follow up (consulta de enfermagem realizada com a doadora, três meses após o parto). A técnica de coleta por sistema fechado do sangue do cordão umbilical e placentário (SCUP), foi desenvolvida por equipe multiprofissional, entre estes o enfermeiro. A coleta por sistema fechado do SCUP é realizada por enfermeiros, requer deste profissional habilidade técnica para a obtenção adequada de material, sendo uma técnica importante para obtenção satisfatória de células a nível quantitativo e qualitativo. De acordo com os critérios estabelecidos pela Resolução nº 56, de 16 de Dezembro de 2010, as células-tronco hematopoiéticas obtidas através da coleta por sistema fechado serão criopreservadas, se a contagem final do número total de células nucleadas for superior a 7,5 x 10 8. . A área de terapia celular é uma especialidade que demanda alta complexidade assistencial e funcional por parte dos enfermeiros, fato que imputam a responsabilidade de identificar situações que devem ser avaliadas e pesquisadas. Deste modo, a celularidade do SCUP tem sido alvo de atenção por parte dos enfermeiros, devido a necessidade de obtenção de um número adequado células-tronco hematopoiéticas. Objetivo: Descrever a técnica de coleta de sangue de cordão umbilical e placentário por sistema fechado e avaliar o número de bolsas de sangue de cordão umbilical e placentário , que foram obtidas através da coleta de sangue de cordão umbilical e placentário por sistema fechado. Metodologia: Tipo de estudo: Estudo retrospectivo do número bolsas de sangue de cordão umbilical e placentário que foram coletadas, criopreservadas e desprezadas. Local de estudo: A coleta sangue de cordão umbilical e placentário por sistema fechado foi realizada em uma maternidade pública e a análise das bolsas de sangue de cordão umbilical e placentário foi realizada no Laboratório de Processamento e Criopreservação de células-tronco hematopoiéticas, ambos localizados no município do Rio de Janeiro. População e amostra: foram coletados por sistema fechado o sangue de cordão umbilical e placentário de cento e sessenta e oito placentas de gestantes internadas em uma maternidade pública. Coleta de Dados: A coleta de dados foi realizada por quatro enfermeiras, sendo dividida nas seguintes etapas: √ 1ª etapa: Análise dos prontuários das gestantes internadas no pré-parto por uma das enfermeiras, para identificação de potenciais doadoras. √ 2ª etapa: Após a identificação de potenciais 1 Enfermeira. Especialista em Enfermagem Oncológica pelo Instituto Nacional de Câncer e Enfermagem Pediátrica pela Universidade Federal Fluminense. Enfermeira do Centro de Transplante de Medula Óssea – Instituto Nacional de Câncer /RJ 2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor Titular da Universidade Federal Fluminense /RJ 3 Enfermeira. Especialista em Enfermagem Oncológica. Enfermeira do Centro de Transplante de Medula Óssea - Instituto Nacional de Câncer/RJ 4 Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor Substituto da Universidade Federal Fluminense/RJ 5 Biomédico. Doutor em Ciências Morfológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Supervisor Técnico do BSCUP e Analista de Laboratório do Instituto Nacional de Câncer /RJ 6 Médico. Mestre em Clínica Médica Hematológica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea – Instituto Nacional de Câncer /RJ 364 Trabalho 71 doadoras, a gestante foi abordada. Nesta abordagem foi realizada uma explanação sobre a doação do sangue de cordão umbilical e placentário. A gestante que concordou em doar o sangue de cordão umbilical e placentário, recebeu o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, com base na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, de 10 de Outubro de 1996, para assinar, em duas vias de igual teor, ficando uma via com a gestante e outra com a enfermeira. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética do INCA. Posteriormente a gestante foi entrevistada, e utilizado um formulário de coleta de dados, sendo este formulário semi-estruturado e com perguntas fechadas. √ 3ª etapa: Após o processo de seleção e captação das gestantes, a coleta convencional do sangue dos vasos do cordão umbilical e placentário foi realizada por uma das enfermeiras, seguindo os seguintes passos: 1- Lavagem das mãos com água e sabão; 2- Colocação de luvas estéreis e utilização de campo estéril para acondicionar a placenta; 3- Acondicionamento da placenta em suporte apropriado, mais especificamente no receptáculo, que fica apoiado em um aro, permitindo graduações de altura. Posicionamento do aro a uma altura que permitisse que a parte distal do cordão ficasse apoiada na base do suporte. Colocando a placenta suspensa permitiu que ocorresse a drenagem do sangue da placenta em direção a parte distal do cordão, local onde foi realizada a punção do cordão umbilical; 4- Troca das luvas e uso de álcool gel nas mãos; 5- Assepsia do cordão umbilical: Primeiro com gaze embebida com álcool a 70% e depois com gaze embebida com clorexidina alcoólica. A assepsia ocorreu da parte distal do cordão até a inserção do cordão com a placenta. Foi realizada três vezes a assepsia com álcool a 70 % e três vezes com clorexidina alcoólica; 6- Troca das luvas e novamente uso de álcool gel nas mãos; 7Puncionamento da parte distal do cordão umbilical, deixando que o sangue drenasse para dentro da bolsa de coleta. Essa bolsa ficou posicionada em cima do homogenizador; 8- Com o término da drenagem, foi selado o circuito com seladora, uns 30 cm da bolsa; 9- A bolsa de sangue de cordão umbilical e placentário foi acondicionada em caixa térmica, para posterior encaminhamento. √ 4ª etapa: As bolsas foram enviadas para o laboratório de processamento e criopreservação para análise do número de células tronco-tronco, volume de sangue e contaminação. Todas as etapas da técnica foram discutidas com a comissão de infecção hospitalar do INCA. Resultados: Cento e sessenta e oito bolsas de sangue de cordão umbilical e placentário foram coletadas, destas, cento e quarenta e sete bolsas (87,5%) foram processadas e as células-tronco hematopoieticas criopreservadas. Vinte e uma bolsas (12,5%) foram desprezadas devido a baixa celularidade. Nenhuma bolsa foi desprezada por contaminação. Conclusão: A coleta por sistema fechado apresenta diversas vantagens dentre as quais podemos citar: a obtenção de celularidade adequada para criopreservação, testes microbiológicos negativos e segurança para o profissional que realiza a coleta. Contribuições: A obtenção de células-tronco hematopoiéticas por sistema fechado, se consolidou como uma etapa importante da coleta de sangue de cordão umbilical e placentário. Sendo esta uma atividade de assistência do enfermeiro, que participa de maneira expressiva da equipe multidisciplinar responsável pela coleta de células, atuando não só nas técnicas que envolvem o procedimento, como também no processo de seleção e captação de doadoras de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário e consulta de follow up. Referências: BRASIL. Resolução n° 56, de 16 de dezembro 2010. Regulamento técnico dos serviços de hemoterapia e bancos de sangue de cordão umbilical e placentário. Brasília: 2010. ORTEGA, E.T.T et al. Princípios do Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas. Compêndio de Enfermagem em Transplante de Células Tronco Hematopoéticas. 1ª ed. Curitiba: Maio; 2004. VOLTARELLI, J.C.; PASQUINI, R.; ORTEGA, E.T.T. Transplante de Células-Tronco Hematopiéticas. 1ª ed. São Paulo: Atheneu, 2009. ZAGO, M.A ; COVAS, D.M. Células –Tronco, a nova fronteira da medicina. São Paulo: Atheneu, 2006. 365 Trabalho 71 Descritores: Enfermagem, Células-Tronco Hematopoéticas, placenta Área temática: Tecnologia em Saúde e Enfermagem. Eixo temático: Transplante com Células-Tronco Hematopoiéticas. 366