REVISÃO / REVIEW PAPER / REVISIÓN Análise da produção científica brasileira sobre mortalidade por tuberculose Brazilian scientific production analysis about tuberculosis mortality Análisis de la producción científica brasileña sobre mortalidad por tuberculosis Ilana Maria Lobão Corrêa Feitosa Enfermeira. Aluna do Curso de Especialização em Saúde da Família na Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí – NOVAFAPI. Teresina, Piauí. Rua Vitorino Orthiges Fernandes, 6123 - Bairro do Uruguai. E-mail: [email protected] Lucíola Galvão Gondim Corrêa Feitosa Enfermeira. Mestre em Políticas Públicas/UFPI. Docente da Faculdade Integral Diferencial – FACID. Consultora SOET/Paraná. Teresina, Piauí. Rua Rio Poty, 2281 – Horto Florestal. E-mail: luciolagalvao@hotmail. com RESUMO A tuberculose é uma doença infectocontagiosa considerada grave problema de saúde pública, principalmente nos países menos desenvolvidos, como o Brasil. Apesar de ser prevenível e possuir terapia medicamentosa eficaz, a mortalidade por tuberculose ainda é significativa. Portanto, o presente estudo objetivou analisar a produção científica brasileira no SciELO no período de 2002 a 2009 referente à mortalidade por tuberculose. Trata-se de uma revisão bibliográfica através da qual se levantaram os seguintes dados: ano de publicação, periódico, período dos dados utilizados nas pesquisas, unidade federativa, abordagem metodológica e objetivos. Conclui-se que as pesquisas com enfoque específico na mortalidade por tuberculose se mostraram relevantes, apesar de numericamente inexpressivas se comparadas a outras sobre a doença. Porém, em todos os anos do período analisado houve publicações sobre o tema, as quais englobaram dados de 1980 a 2004. A maioria dos estudos foram epidemiológicos descritivos de dados secundários e, de modo geral, buscaram avaliar o perfil dos óbitos por tuberculose no Brasil em relação a diversas variáveis, tais como sexo, faixa etária e comorbidades. Descritores: Tuberculose. Mortalidade. Epidemiologia. ABSTRACT Tuberculosis is infect-contagious disease considered a serious public health problem, especially in sub-developed countries, like Brazil. Although it can be preventable and there are efficient medicines for it, mortality from tuberculosis is high. Therefore, this paper analyses the Brazilian scientific production in SciELO from 2002 to 2009 about tuberculosis mortality. It’s a bibliographic revision which raised the dates: year of publication, periodic, period of data used in researches, federal unit, methodological approaches, and the objective of researches. Lastly, the researches focused in tuberculosis mortality have been very important, despite of being numerically low compared to the other ones about the disease. However, in all these years of analyses, there were publications about the theme, with included data from 1980 to 2004. The majority of the studies were epidemiologic described from secondary data. They were generally evaluating the mortality profiles from tuberculosis in Brazil based on sex, age and comorbidities. Descriptors: Tuberculosis. Mortality. Epidemiology. RESUMEN Submissão: 29/10/2010 Aprovação: 30/11/2010 La tuberculosis es una enfermedad infecto-contagiosa considerada grave problema de salud pública, principalmente en los países menos desarrollados, como el Brasil. A pesar de ser prevenible y poseer terapia medicamentosa eficaz, la mortalidad por tuberculosis es todavía significativa. Por tanto, el presente estudio tiene como objetivo analizar la producción científica brasileña publicado en el sitio SciELO de Internet en el período de 2002 a 2009 referente a la mortalidad por tuberculosis. Se trata de una revisión bibliográfica a través de la cual se recogieron los siguientes datos: Año de publicación, periódico, período de los datos utilizados en las investigaciones, unidad federativa, metodologías usadas y objetivo de las investigaciones. Se concluye que las investigaciones realizadas Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.1, p.45-49, Jan-Fev-Mar. 2011. 45 Feitosa, I. M. L. C. ; Feitosa, L. G. G. C. con enfoque específico en la mortalidad por tuberculosis se mostraron relevantes, a pesar de numéricamente inexpresivas si comparadas con otras sobre la misma enfermedad. Sin embargo, en todos los años del período analizado, hubo publicaciones sobre el tema, las cuales englobaron datos de 1980 a 2004. La mayoría de los estudios fueron epidemiológicos descriptivos de datos secundarios y, de modo general, buscaron evaluar el perfil de los óbitos por tuberculosis en Brasil con relación a diversas variables, tales como sexo, faja etária y comorbilidades. Descriptores: Tuberculosis. Mortalidad. Epidemiología. 1 INTRODUÇÃO A tuberculose (TB) é uma doença infecto-contagiosa, que se propaga pelo ar por meio de gotículas contendo os bacilos de Koch expelidos por um doente por via respiratória. Quando inalados por pessoas sadias, provocam a infecção e o risco de desenvolver a doença (BRASIL, 2002). A TB se constitui grave problema de saúde pública mundial, principalmente nos países menos desenvolvidos. Para Façanha (2006), ela vem mantendo seu caráter endêmico no Brasil, mesmo no período em que era considerada sob controle nos países industrializados. Segundo Ruffino-Neto (2002), no Brasil a TB não é um problema de saúde pública emergente ou reemergente, é um problema presente e duradouro há longo tempo. Calcula-se que a TB tenha levado a óbito 100 milhões de pessoas nos últimos 100 anos, “sendo considerada a segunda causa de morte em termos mundiais depois do vírus da imunodeficiência humana (HIV) e síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS)”. No Brasil, estima-se que haja 120 mil casos novos e 6 mil óbitos por ano (MUNIZ et al, p.530, 2006). A mortalidade por TB, conforme Oliveira, Marín-León e Cardoso (2004) é atribuída a muitos fatores, dentre eles, à quimioterapia irregular ou inadequada, diagnóstico tardio, resistência às drogas e co-infecção com HIV. A OMS recomenda que as estatísticas sobre mortalidade sejam apresentadas por meio da causa básica de morte, porém, a necessidade de informação mais abrangente sobre os eventos letais determinou o estudo da mortalidade com base em todas as causas de morte registradas na declaração de óbito. Assim, além da causa básica de morte são acrescidas as complicações da doença e outros eventos contribuintes sem relação com o processo que levou diretamente à morte (SANTO, 2006). As estatísticas de mortalidade são úteis na avaliação das condições de saúde da população. Segundo Pereira (2008), a mortalidade é o indicador mais usado para se fazer inferências sobre as condições dos grupos que a constituem, possibilitando a identificação da população mais afetada e dos problemas mais prioritários, sensibilizando as autoridades e prestando-se à avaliação de intervenções saneadoras. Dessa forma, os profissionais de saúde são motivados à pesquisa sobre mortalidade. Portanto, definiu-se como objetivo de pesquisa analisar a produção científica brasileira no SciELO no período de 2002 a 2009 referente à mortalidade por tuberculose. 2 METODOLOGIA A presente pesquisa realizou um levantamento bibliográfico de estudos brasileiros relacionados aos óbitos por tuberculose. Noronha e Fernandes (2008) afirmam que a avaliação da produção científica é uma prática indispensável à ciência, pois através dela se identificam os assuntos 46 frequentemente estudados, os tipos de estudos realizados, dentre outros aspectos relevantes, servindo como embasamento para pesquisas futuras. Essa avaliação pode considerar diversos aspectos, como a autoria, tipo de estudo, temática, discurso, metodologia, procedimento de análise de dados e enfoques teóricos. Podem ser utilizadas como fontes de pesquisa resumos de congresso, bases de dados virtuais, periódicos impressos, dissertações e teses. Ressalta-se que as bases de dados são fontes importantes de disponibilização de artigos completos, favorecendo ampla divulgação dos estudos científicos (BARROSO, 2010). Assim, a Scientific Eletronic Library Online – SciELO é uma biblioteca eletrônica constantemente atualizada que dispõe de uma ampla coleção de periódicos científicos criteriosamente selecionados e propicia o acesso aos textos completos dos artigos, constituindo, assim, importante fonte de pesquisa na área de ciências da saúde, dentre outras. É válido ressaltar que apenas são agregados na SciELO Brasil os números retrospectivos até o ano de 1997 (SciELO Brasil). Utilizaram-se os termos tuberculose, óbito(s) e mortalidade, que orientaram a pesquisa no banco de dados (indexado no world wide web: SciELO). A pesquisa foi direcionada ao campo “Todos os Índices”, abrangendo, assim, maior gama de resultados. Após a condução da busca inicial, realizou-se a leitura dos resumos escolhidos no período de 2002 a 2009 e posterior descarte de fontes irrelevantes antes da impressão. As fontes relevantes foram arquivadas e após nova leitura foi produzida uma síntese e crítica de cada fonte essencial à nossa discussão. Analisaram-se dezoito artigos referentes à mortalidade por tuberculose no Brasil, nos quais se levantaram os seguintes dados: ano de publicação, periódico, período dos dados utilizados nas pesquisas, unidade federativa, abordagens metodológicas utilizadas e objetivos das pesquisas. O tratamento final dos dados foi realizado por meio da análise das frequências percentuais. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os estudos e pesquisas referentes especificamente à mortalidade por tuberculose mostrou-se em uma pequena produção científica, se comparados a outros aspectos relativos à tuberculose investigados nesse mesmo espaço de tempo. Assim, a primeira dimensão de análise refere-se ao ano de publicação dos artigos. Em todos os anos do referido período houve publicações sobre o tema, totalizando dezoito produções científicas. Em 2002 foi publicado apenas um artigo (5,5%). No ano seguinte, em 2003, foram publicados dois artigos (11,1%), sendo essa a mesma produção de cada um dos três anos subsequentes. Já em 2007 houve a publicação de cinco artigos (27,8%), correspondendo ao ano de maior produção sobre o tema. Em 2008 a produção totalizou três artigos (16,7%) e, em 2009, essa foi de apenas um artigo (5,5%) Tabela 1. Tabela 1. Distribuição das Publicações por Ano Ano 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Total f 1 2 2 2 2 5 3 1 18 % 5,5 11,1 11,1 11,1 11,1 27,8 16,7 5,5 100 Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.1, p.45-49, Jan-Fev-Mar. 2011. Análise da produção científica brasileira sobre mortalidade por tuberculose A tendência de permanência dessa doença justifica as constantes investigações sobre o tema. No Brasil, de acordo com Bierrenbach et al (2007), houve redução do número de casos e da mortalidade para todas as formas de TB em todas as regiões, considerando-se somente esta doença como causa básica. Porém, como já era esperada, a tendência dessa redução não foi constante de 1980 a 2004, o que os autores sugerem ser devido à influência da epidemia de AIDS. A segunda dimensão de análise refere-se aos periódicos de indexação. Os dezoito artigos foram publicados em seis periódicos diferentes. Em ordem crescente de publicação, encontram-se as seguintes frequências de artigos em um mesmo periódico: com uma publicação, dois periódicos; com três publicações, dois periódicos; com quatro publicações, um periódico; com seis publicações, um periódico. Tabela 2. Tabela 2. Distribuição das Publicações por Periódicos Indexados Periódicos Ciência e Saúde Coletiva Revista Latino-Americana de Enfermagem Cadernos de Saúde Pública Revista Brasileira de Epidemiologia Revista de Saúde Pública Jornal Brasileiro de Pneumologia Total f 1 1 3 3 4 6 18 % 5,5 5,5 16,7 16,7 22,2 33,3 100 A terceira dimensão de análise compreende o período dos dados utilizados nas pesquisas. Os estudos realizados incluem dados de 1980 a 2004, portanto, o recorte temporal nas pesquisas recentes sobre mortalidade por TB é de vinte e quatro anos. Por longo tempo, segundo Pereira (2008), a inexistência de um sistema nacional de estatísticas vitais no País dificultou o aprofundamento de estudos sobre o tema. A importância das informações sobre a mortalidade levou as próprias secretarias estaduais de saúde, de planejamento e entidades similares a se ocuparem da coleta, tabulação e divulgação dos dados relativos aos óbitos. Assim, o Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM, principal instrumento utilizado nas pesquisas para a obtenção dos dados, foi desenvolvido e implantado no Brasil pelo Ministério da Saúde em 1975, envolvendo alguns estados que já coletavam essas informações. Assim, a partir da estipulação pelo Ministério da Saúde de um modelo único de declaração de óbito (DO) e dos avanços na Classificação Internacional de Doenças e Estatísticas de Mortalidade, a coleta dessas informações passou a ser mais criteriosa, possibilitando o desenvolvimento de pesquisas sistemáticas (BRASIL, 2001). O quarto aspecto analisado engloba a distribuição geográfica das pesquisas. Em ordem crescente de publicação, encontram-se as seguintes produções por unidade federativa: com uma produção cada, Bahia, Distrito Federal e Espírito Santo; com duas produções cada, Ceará e Rio de Janeiro; com três produções, Pernambuco; com oito produções, São Paulo. Tabela 3. Tabela 3. Distribuição dos estudos por unidade federativa, Unidade Federativa Bahia Distrito Federal Espírito Santo Ceará Rio de Janeiro Pernambuco São Paulo Total f 1 1 1 2 2 3 8 18 % 5,5 5,5 5,5 11,1 11,1 16,7 44,4 100 Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.1, p.45-49, Jan-Fev-Mar. 2011. O Rio de Janeiro, embora seja o Estado com as maiores taxas de mortalidade por tuberculose, não foi o maior produtor de pesquisas científicas sobre o tema no SciELO. Segundo Selig et al (2004), nenhum estudo sistemático sobre os óbitos por tuberculose foi conduzido no estado. Os autores afirmam ainda que, no Rio de Janeiro, a elevada porcentagem da população vivendo na zona urbana – a mais alta do país, e as deficiências do sistema de saúde são prováveis justificativas para o elevado número de casos em relação ao total do Brasil. O quinto aspecto refere-se às abordagens metodológicas utilizadas pelos pesquisadores. Sobre os delineamentos empregados pode-se constatar a preponderância dos estudos epidemiológicos descritivos de dados secundários com um total de treze artigos (72,2%) desenvolvidos a partir de investigações com esta abordagem. Das demais, três foram estudos epidemiológicos de coorte (16,7%) e dois do tipo ecológico (11,1%). Tendo em vista a redução da morbimortalidade por tuberculose, Pelaquin, Silva e Ribeiro (2007, p. 312) afirmam que “as linhas prioritárias de pesquisa nacional recomendadas pelas diretrizes para TB, na epidemiologia, são a vigilância em óbitos e estudos sobre tendência de notificação de TB (casos novos e óbitos)”. Muitos critérios são empregados para classificar os métodos utilizados na epidemiologia, dentre os quais, conforme Pereira (2008), o modo de exposição das pessoas ao fator em foco, o que pode ser constatado nos estudos observacionais e experimentais. Segundo Costa e Barreto (2003), os estudos epidemiológicos observacionais podem ser classificados em descritivos e analíticos. Os estudos experimentais, por sua vez, fogem ao propósito deste trabalho e não serão comentados. Essas autoras afirmam que no estudo descritivo o observador descreve as características de uma determinada amostra, determinando a incidência ou a prevalência de doenças ou condições relacionadas à saúde segundo o tempo, o lugar e/ou as características dos indivíduos (por exemplo, sexo, idade e escolaridade), podendo fazer uso de dados secundários ou primários. O estudo analítico testa hipóteses elaboradas geralmente durante estudos descritivos. Nele há um grupo de referência, o que permite estabelecer comparações. Assim, propõe-se a verificar a existência de associação entre uma exposição e o desenvolvimento de uma doença ou condição relacionada à saúde, sendo os seus principais delineamentos os seguintes: a) ecológico; b) seccional; c) caso-controle; e d) coorte (COSTA; BARRETO, 2003). No estudo ecológico, presente entre as pesquisas revisadas, o princípio é o de que, nas populações onde a exposição é mais frequente, a incidência das doenças ou a mortalidade serão maiores, sendo a incidência e a mortalidade as medidas mais usadas para quantificar a ocorrência de doenças. Nele a utilização de dados secundários é mais comum. Outro delineamento de estudo analítico revisado foi o de coorte, em que um grupo de pessoas com algo em comum (exposição a um agente, por exemplo) é acompanhado por um período de tempo para acompanhar-se um desfecho qualquer – coorte prospectiva. Pode, ainda, colher informações do passado, sendo o desfecho medido de determinado momento em diante – coorte retrospectiva (MENEZES, 2001). O Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM tem como documento padrão a Declaração de Óbito (DO), que é composta por nove blocos, com um total de sessenta e duas variáveis. Assim, quanto maior o número de informações de boa qualidade preenchidas, melhor será o conhecimento da história natural das doenças e maiores as possibilidades de prevenção dessas mortes (BRASIL, 2001). 47 Feitosa, I. M. L. C. ; Feitosa, L. G. G. C. Nesse sentido, Façanha (2006) aponta como limitações dos estudos de dados secundários a deficiência no registro da tuberculose como uma das causas do óbito bem como na coleta e preenchimento das declarações de óbitos no Sistema de Informação em Mortalidade – SIM, podendo sugerir tendências que não correspondem à realidade. Porém, Santo, Pinheiro e Jordani (2003) ressaltam que as vantagens desse tipo de estudo superam as suas limitações, além disso, se observa nos últimos anos uma melhora nesse quadro, devido a um melhor conhecimento por parte dos profissionais sobre a importância estatística e legal da Declaração de Óbito para a saúde pública. A sexta dimensão de análise destaca os objetivos visados pelas pesquisas. De um modo geral, os estudos descritivos de dados secundários buscaram avaliar o perfil dos óbitos por tuberculose no Brasil e sua tendência em relação a diversas variáveis, tais como sexo, faixa etária e comorbidades. Também foi objeto de pesquisa a mortalidade por tuberculose como causa básica ou fator associado ao óbito, sobretudo na co-infecção HIV/TB. Outra importante finalidade foi a utilização do estudo dos óbitos por TB como instrumento de avaliação do programa de controle de tuberculose, inclusive da qualidade das notificações. O estudo de coorte retrospectivo objetivou a identificação de fatores associados ao óbito por tuberculose, tais como co-infecção por HIV/AIDS e abandono do tratamento, já os dois estudos de coorte prospectivos buscaram identificar fatores de risco para o óbito por tuberculose, bem como para outros desfechos numa coorte de pacientes recém-diagnosticada. Em um dos estudos do tipo ecológico o interesse foi realizar comparação da mortalidade por TB com indicadores sociais, por exemplo, índice de pobreza e densidade demográfica; o outro objetivou descrever a distribuição espacial da mortalidade por TB. Na tabela 4 são apresentados os estudos de acordo com os objetivos predominantes e o delineamento de pesquisa empregado. Tabela 4. Descrição dos tipos de estudos e objetivos. Objetivos/ Delineamento Estudo Estudo Estudo Descritivo de Coorte Ecológico f % f % f % f 6 33,3 1 5,6 1 5,5 8 Analisar o perfil dos óbitos por TB segundo variáveis Estudar a mortalidade por TB Segundo causas múltiplas de morte Analisar indicadores de morbi- Mortalidade por TB Avaliar o programa de controle da TB Identificar fatores de risco para o óbito por TB Estudar a mortalidade por TB em comparação com indicadores sociais Total Total % 44,4 3 16,7 0 0 00 3 16,7 2 11,1 0 0 0 0 2 11,1 2 11,1 0 0 0 0 0 0 2 11,1 0 0 2 2 11,1 11,1 1 5,5 1 5,5 0 0 0 0 13 72,2 3 16,7 2 11,1 18 100 Segundo Rieder (2001), três fatores principais determinam as características da mortalidade, sendo eles as diferenças na mortalidade por grupos etários, as diferenças na mortalidade por coorte e as diferenças em períodos particulares. Nesse sentido, as mortes podem ser melhor caracterizadas segundo a forma da tuberculose, a idade, o local, o sexo etc. De acordo com Vicentin, Santo e Carvalho (2002), a busca da relação entre aspectos da vida social e a morbimortalidade também é frequentemente explorada pelos estudos epidemiológicos. Assim, o estudo da associação entre indicadores sociais no desenvolvimento de doenças como a tuberculose é bastante apropriado, podendo revelar os efeitos 48 desses componentes para o desenvolvimento do processo de morbidade e seu desfecho mais grave, o óbito. A associação entre TB e infecção pelo HIV também é amplamente estudada e, de acordo com Muniz et al (2006, p.530), ela “afeta a mortalidade de duas formas: a TB traz uma importante letalidade para as pessoas infectadas pelo HIV, e o HIV atua como causa indireta do aumento da incidência da TB”, haja vista a baixa imunidade que essa síndrome confere ao seu portador. Porém, alguns estudos mostram que o risco de adoecimento por tuberculose em indivíduos com sorologia positiva para o HIV diminuiu consideravelmente, e a taxa de ocorrência de casos de tuberculose em pacientes atendidos em serviços especializados em DST/AIDS no Brasil, apresentou uma ampla redução quando comparada aos índices encontrados antes do advento da terapia antirretroviral combinada (BRASIL, 2002). Nesse sentido, o enfoque no programa de controle da tuberculose também se faz importante, pois, não só a eficiência do diagnóstico, mas a qualidade do tratamento da tuberculose também afeta o resultado final. Oliveira, Marín-León e Cardoso (2004) destacam ainda que a cada ano muitos pacientes com TB não são identificados até o óbito, representando falhas no sistema de atenção que dificultam o manejo da doença de maneira oportuna. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS As pesquisas com enfoque específico na mortalidade por tuberculose se mostraram relevantes e, apesar de numericamente inexpressivas em comparação com publicações que tiveram outros objetos de investigação no tocante à tuberculose, em todos os anos do período analisado foram verificadas produções científicas brasileiras no SciELO acerca dessa temática. Observou-se que essa produção foi discretamente crescente até 2007, sofrendo posterior redução nos dois anos seguintes. Entretanto, acredita-se que o declínio observado não seja significativo e nem sugira uma tendência para um futuro próximo, uma vez que a tuberculose continua sendo um grande problema de saúde pública e a redução da mortalidade por essa doença mantém-se como uma preocupação coletiva. Os estudos englobaram dados de 1980 a 2004, fato que entra em acordo com a recente criação do sistema nacional de estatísticas vitais no país, sobretudo do Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM, principal fonte de dados utilizada pelos pesquisadores e implantado no Brasil em 1975. Um achado curioso refere-se à produção científica do Rio de Janeiro, estado que conhecidamente possui as maiores taxas de mortalidade por tuberculose no país. No período analisado, verificou-se que este não fora o maior detentor de pesquisas sobre a mortalidade por tuberculose no SciELO, contribuindo com apenas duas publicações de um total de dezoito sobre o tema. Acerca das abordagens metodológicas empregadas, observou-se que a maioria das pesquisas relativas à mortalidade por tuberculose foram estudos epidemiológicos descritivos de dados secundários, que apesar de possuírem limitações conhecidas, tais como o registro deficiente dos instrumentos de coleta de dados, são muito vantajosos, permitindo a descrição das condições de saúde de uma amostra populacional segundo variáveis consideradas importantes. Nesse sentido, também se verificou que os principais objetivos dos estudos analisados envolveram a avaliação do perfil dos óbitos por tuberRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.1, p.45-49, Jan-Fev-Mar. 2011. Análise da produção científica brasileira sobre mortalidade por tuberculose culose no Brasil considerando-se determinantes demográficos, socioeconômicos e de saúde. A busca da relação entre tais variáveis é bastante explorada, pois, revela os efeitos desses componentes para o desenvolvimento do processo de morbimortalidade. Os estudos sobre mortalidade por tuberculose contribuem significativamente para a descrição das condições de saúde da população, para a investigação epidemiológica e mesmo para a avaliação de ações diversas, como aquelas voltadas ao controle da doença. Grande parte do conhecimento que se tem atualmente sobre a saúde de populações provém de estatísticas vitais, sendo as informações sobre mortalidade as mais utilizadas. Assim, embora haja deficiências que limitem a utilização desses dados, os estudos dessa natureza revelam-se necessários e vantajosos. REFERÊNCIAS BARROSO, S. M. Avaliação psicológica: análise das publicações disponíveis na SciELO e BVS-Psi. Revista de Psicologia, v. 22, n. 1, p. 141-154, Jan/Abr, 2010. iso> Acesso em: 30 mai. 2010. BIERRENBACH, A. L. et al. Tendência da mortalidade por tuberculose no Brasil, 1980 a 2004. Rev Saúde Pública, v. 41 (Supl. 1), p. 15-23, 2007. OLIVEIRA, H. B.; MARÍN-LEÓN, L.; CARDOSO, J. C. 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