REVISÃO / REVIEW PAPER / REVISIÓN
Análise da produção científica brasileira sobre mortalidade por
tuberculose
Brazilian scientific production analysis about tuberculosis mortality
Análisis de la producción científica brasileña sobre mortalidad por tuberculosis
Ilana Maria Lobão Corrêa Feitosa
Enfermeira. Aluna do Curso de Especialização em
Saúde da Família na Faculdade de Saúde, Ciências
Humanas e Tecnológicas do Piauí – NOVAFAPI.
Teresina, Piauí. Rua Vitorino Orthiges Fernandes, 6123
- Bairro do Uruguai. E-mail: [email protected]
Lucíola Galvão Gondim Corrêa Feitosa
Enfermeira. Mestre em Políticas Públicas/UFPI.
Docente da Faculdade Integral Diferencial – FACID.
Consultora SOET/Paraná. Teresina, Piauí. Rua Rio Poty,
2281 – Horto Florestal. E-mail: luciolagalvao@hotmail.
com
RESUMO
A tuberculose é uma doença infectocontagiosa considerada grave problema de saúde pública,
principalmente nos países menos desenvolvidos, como o Brasil. Apesar de ser prevenível e possuir
terapia medicamentosa eficaz, a mortalidade por tuberculose ainda é significativa. Portanto, o presente estudo objetivou analisar a produção científica brasileira no SciELO no período de 2002 a 2009
referente à mortalidade por tuberculose. Trata-se de uma revisão bibliográfica através da qual se
levantaram os seguintes dados: ano de publicação, periódico, período dos dados utilizados nas pesquisas, unidade federativa, abordagem metodológica e objetivos. Conclui-se que as pesquisas com
enfoque específico na mortalidade por tuberculose se mostraram relevantes, apesar de numericamente inexpressivas se comparadas a outras sobre a doença. Porém, em todos os anos do período
analisado houve publicações sobre o tema, as quais englobaram dados de 1980 a 2004. A maioria
dos estudos foram epidemiológicos descritivos de dados secundários e, de modo geral, buscaram
avaliar o perfil dos óbitos por tuberculose no Brasil em relação a diversas variáveis, tais como sexo,
faixa etária e comorbidades.
Descritores: Tuberculose. Mortalidade. Epidemiologia.
ABSTRACT
Tuberculosis is infect-contagious disease considered a serious public health problem, especially in
sub-developed countries, like Brazil. Although it can be preventable and there are efficient medicines for it, mortality from tuberculosis is high. Therefore, this paper analyses the Brazilian scientific
production in SciELO from 2002 to 2009 about tuberculosis mortality. It’s a bibliographic revision
which raised the dates: year of publication, periodic, period of data used in researches, federal unit,
methodological approaches, and the objective of researches. Lastly, the researches focused in tuberculosis mortality have been very important, despite of being numerically low compared to the other
ones about the disease. However, in all these years of analyses, there were publications about the
theme, with included data from 1980 to 2004. The majority of the studies were epidemiologic described from secondary data. They were generally evaluating the mortality profiles from tuberculosis
in Brazil based on sex, age and comorbidities.
Descriptors: Tuberculosis. Mortality. Epidemiology.
RESUMEN
Submissão: 29/10/2010
Aprovação: 30/11/2010
La tuberculosis es una enfermedad infecto-contagiosa considerada grave problema de salud pública, principalmente en los países menos desarrollados, como el Brasil. A pesar de ser prevenible
y poseer terapia medicamentosa eficaz, la mortalidad por tuberculosis es todavía significativa. Por
tanto, el presente estudio tiene como objetivo analizar la producción científica brasileña publicado
en el sitio SciELO de Internet en el período de 2002 a 2009 referente a la mortalidad por tuberculosis.
Se trata de una revisión bibliográfica a través de la cual se recogieron los siguientes datos: Año de
publicación, periódico, período de los datos utilizados en las investigaciones, unidad federativa, metodologías usadas y objetivo de las investigaciones. Se concluye que las investigaciones realizadas
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.1, p.45-49, Jan-Fev-Mar. 2011.
45
Feitosa, I. M. L. C. ; Feitosa, L. G. G. C.
con enfoque específico en la mortalidad por tuberculosis se mostraron
relevantes, a pesar de numéricamente inexpresivas si comparadas con
otras sobre la misma enfermedad. Sin embargo, en todos los años del período analizado, hubo publicaciones sobre el tema, las cuales englobaron
datos de 1980 a 2004. La mayoría de los estudios fueron epidemiológicos
descriptivos de datos secundarios y, de modo general, buscaron evaluar
el perfil de los óbitos por tuberculosis en Brasil con relación a diversas
variables, tales como sexo, faja etária y comorbilidades.
Descriptores: Tuberculosis. Mortalidad. Epidemiología.
1
INTRODUÇÃO
A tuberculose (TB) é uma doença infecto-contagiosa, que se propaga pelo ar por meio de gotículas contendo os bacilos de Koch expelidos
por um doente por via respiratória. Quando inalados por pessoas sadias,
provocam a infecção e o risco de desenvolver a doença (BRASIL, 2002).
A TB se constitui grave problema de saúde pública mundial, principalmente nos países menos desenvolvidos. Para Façanha (2006), ela vem
mantendo seu caráter endêmico no Brasil, mesmo no período em que era
considerada sob controle nos países industrializados. Segundo Ruffino-Neto (2002), no Brasil a TB não é um problema de saúde pública emergente
ou reemergente, é um problema presente e duradouro há longo tempo.
Calcula-se que a TB tenha levado a óbito 100 milhões de pessoas nos últimos 100 anos, “sendo considerada a segunda causa de morte
em termos mundiais depois do vírus da imunodeficiência humana (HIV)
e síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS)”. No Brasil, estima-se que
haja 120 mil casos novos e 6 mil óbitos por ano (MUNIZ et al, p.530, 2006).
A mortalidade por TB, conforme Oliveira, Marín-León e Cardoso
(2004) é atribuída a muitos fatores, dentre eles, à quimioterapia irregular ou inadequada, diagnóstico tardio, resistência às drogas e co-infecção
com HIV.
A OMS recomenda que as estatísticas sobre mortalidade sejam
apresentadas por meio da causa básica de morte, porém, a necessidade
de informação mais abrangente sobre os eventos letais determinou o
estudo da mortalidade com base em todas as causas de morte registradas na declaração de óbito. Assim, além da causa básica de morte são
acrescidas as complicações da doença e outros eventos contribuintes sem
relação com o processo que levou diretamente à morte (SANTO, 2006).
As estatísticas de mortalidade são úteis na avaliação das condições
de saúde da população. Segundo Pereira (2008), a mortalidade é o indicador mais usado para se fazer inferências sobre as condições dos grupos que a constituem, possibilitando a identificação da população mais
afetada e dos problemas mais prioritários, sensibilizando as autoridades
e prestando-se à avaliação de intervenções saneadoras. Dessa forma, os
profissionais de saúde são motivados à pesquisa sobre mortalidade.
Portanto, definiu-se como objetivo de pesquisa analisar a produção
científica brasileira no SciELO no período de 2002 a 2009 referente à mortalidade por tuberculose.
2
METODOLOGIA
A presente pesquisa realizou um levantamento bibliográfico de
estudos brasileiros relacionados aos óbitos por tuberculose. Noronha e
Fernandes (2008) afirmam que a avaliação da produção científica é uma
prática indispensável à ciência, pois através dela se identificam os assuntos
46
frequentemente estudados, os tipos de estudos realizados, dentre outros
aspectos relevantes, servindo como embasamento para pesquisas futuras.
Essa avaliação pode considerar diversos aspectos, como a autoria,
tipo de estudo, temática, discurso, metodologia, procedimento de análise de dados e enfoques teóricos. Podem ser utilizadas como fontes de
pesquisa resumos de congresso, bases de dados virtuais, periódicos impressos, dissertações e teses. Ressalta-se que as bases de dados são fontes
importantes de disponibilização de artigos completos, favorecendo ampla
divulgação dos estudos científicos (BARROSO, 2010).
Assim, a Scientific Eletronic Library Online – SciELO é uma biblioteca eletrônica constantemente atualizada que dispõe de uma ampla coleção de periódicos científicos criteriosamente selecionados e propicia o
acesso aos textos completos dos artigos, constituindo, assim, importante
fonte de pesquisa na área de ciências da saúde, dentre outras. É válido
ressaltar que apenas são agregados na SciELO Brasil os números retrospectivos até o ano de 1997 (SciELO Brasil).
Utilizaram-se os termos tuberculose, óbito(s) e mortalidade, que
orientaram a pesquisa no banco de dados (indexado no world wide web:
SciELO). A pesquisa foi direcionada ao campo “Todos os Índices”, abrangendo, assim, maior gama de resultados. Após a condução da busca inicial, realizou-se a leitura dos resumos escolhidos no período de 2002 a
2009 e posterior descarte de fontes irrelevantes antes da impressão. As
fontes relevantes foram arquivadas e após nova leitura foi produzida uma
síntese e crítica de cada fonte essencial à nossa discussão.
Analisaram-se dezoito artigos referentes à mortalidade por tuberculose no Brasil, nos quais se levantaram os seguintes dados: ano de publicação, periódico, período dos dados utilizados nas pesquisas, unidade
federativa, abordagens metodológicas utilizadas e objetivos das pesquisas. O tratamento final dos dados foi realizado por meio da análise das
frequências percentuais.
3
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os estudos e pesquisas referentes especificamente à mortalidade
por tuberculose mostrou-se em uma pequena produção científica, se
comparados a outros aspectos relativos à tuberculose investigados nesse
mesmo espaço de tempo.
Assim, a primeira dimensão de análise refere-se ao ano de publicação dos artigos. Em todos os anos do referido período houve publicações sobre o tema, totalizando dezoito produções científicas. Em 2002
foi publicado apenas um artigo (5,5%). No ano seguinte, em 2003, foram
publicados dois artigos (11,1%), sendo essa a mesma produção de cada
um dos três anos subsequentes. Já em 2007 houve a publicação de cinco
artigos (27,8%), correspondendo ao ano de maior produção sobre o tema.
Em 2008 a produção totalizou três artigos (16,7%) e, em 2009, essa foi de
apenas um artigo (5,5%) Tabela 1.
Tabela 1. Distribuição das Publicações por Ano
Ano
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Total
f
1
2
2
2
2
5
3
1
18
%
5,5
11,1
11,1
11,1
11,1
27,8
16,7
5,5
100
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.1, p.45-49, Jan-Fev-Mar. 2011.
Análise da produção científica brasileira sobre mortalidade por tuberculose
A tendência de permanência dessa doença justifica as constantes
investigações sobre o tema. No Brasil, de acordo com Bierrenbach et al
(2007), houve redução do número de casos e da mortalidade para todas
as formas de TB em todas as regiões, considerando-se somente esta doença como causa básica. Porém, como já era esperada, a tendência dessa
redução não foi constante de 1980 a 2004, o que os autores sugerem ser
devido à influência da epidemia de AIDS.
A segunda dimensão de análise refere-se aos periódicos de indexação. Os dezoito artigos foram publicados em seis periódicos diferentes. Em
ordem crescente de publicação, encontram-se as seguintes frequências
de artigos em um mesmo periódico: com uma publicação, dois periódicos; com três publicações, dois periódicos; com quatro publicações, um
periódico; com seis publicações, um periódico. Tabela 2.
Tabela 2. Distribuição das Publicações por Periódicos Indexados
Periódicos
Ciência e Saúde Coletiva
Revista Latino-Americana de Enfermagem Cadernos de Saúde Pública
Revista Brasileira de Epidemiologia
Revista de Saúde Pública
Jornal Brasileiro de Pneumologia
Total
f
1
1
3
3
4
6
18
%
5,5
5,5
16,7
16,7
22,2
33,3
100
A terceira dimensão de análise compreende o período dos dados
utilizados nas pesquisas. Os estudos realizados incluem dados de 1980 a
2004, portanto, o recorte temporal nas pesquisas recentes sobre mortalidade por TB é de vinte e quatro anos.
Por longo tempo, segundo Pereira (2008), a inexistência de um sistema nacional de estatísticas vitais no País dificultou o aprofundamento
de estudos sobre o tema. A importância das informações sobre a mortalidade levou as próprias secretarias estaduais de saúde, de planejamento e
entidades similares a se ocuparem da coleta, tabulação e divulgação dos
dados relativos aos óbitos.
Assim, o Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM, principal instrumento utilizado nas pesquisas para a obtenção dos dados, foi
desenvolvido e implantado no Brasil pelo Ministério da Saúde em 1975,
envolvendo alguns estados que já coletavam essas informações. Assim,
a partir da estipulação pelo Ministério da Saúde de um modelo único de
declaração de óbito (DO) e dos avanços na Classificação Internacional de
Doenças e Estatísticas de Mortalidade, a coleta dessas informações passou
a ser mais criteriosa, possibilitando o desenvolvimento de pesquisas sistemáticas (BRASIL, 2001).
O quarto aspecto analisado engloba a distribuição geográfica das pesquisas. Em ordem crescente de publicação, encontram-se as
seguintes produções por unidade federativa: com uma produção cada,
Bahia, Distrito Federal e Espírito Santo; com duas produções cada, Ceará e
Rio de Janeiro; com três produções, Pernambuco; com oito produções, São
Paulo. Tabela 3.
Tabela 3. Distribuição dos estudos por unidade federativa,
Unidade Federativa
Bahia
Distrito Federal
Espírito Santo
Ceará
Rio de Janeiro
Pernambuco
São Paulo
Total
f
1
1
1
2
2
3
8
18
%
5,5
5,5
5,5
11,1
11,1
16,7
44,4
100
Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.1, p.45-49, Jan-Fev-Mar. 2011.
O Rio de Janeiro, embora seja o Estado com as maiores taxas de
mortalidade por tuberculose, não foi o maior produtor de pesquisas científicas sobre o tema no SciELO. Segundo Selig et al (2004), nenhum estudo
sistemático sobre os óbitos por tuberculose foi conduzido no estado. Os
autores afirmam ainda que, no Rio de Janeiro, a elevada porcentagem da
população vivendo na zona urbana – a mais alta do país, e as deficiências
do sistema de saúde são prováveis justificativas para o elevado número de
casos em relação ao total do Brasil.
O quinto aspecto refere-se às abordagens metodológicas utilizadas pelos pesquisadores. Sobre os delineamentos empregados pode-se
constatar a preponderância dos estudos epidemiológicos descritivos de
dados secundários com um total de treze artigos (72,2%) desenvolvidos a
partir de investigações com esta abordagem. Das demais, três foram estudos epidemiológicos de coorte (16,7%) e dois do tipo ecológico (11,1%).
Tendo em vista a redução da morbimortalidade por tuberculose, Pelaquin, Silva e Ribeiro (2007, p. 312) afirmam que “as linhas prioritárias de pesquisa nacional recomendadas pelas diretrizes para TB, na
epidemiologia, são a vigilância em óbitos e estudos sobre tendência de
notificação de TB (casos novos e óbitos)”.
Muitos critérios são empregados para classificar os métodos utilizados na epidemiologia, dentre os quais, conforme Pereira (2008), o modo
de exposição das pessoas ao fator em foco, o que pode ser constatado nos
estudos observacionais e experimentais.
Segundo Costa e Barreto (2003), os estudos epidemiológicos observacionais podem ser classificados em descritivos e analíticos. Os estudos experimentais, por sua vez, fogem ao propósito deste trabalho e
não serão comentados. Essas autoras afirmam que no estudo descritivo
o observador descreve as características de uma determinada amostra,
determinando a incidência ou a prevalência de doenças ou condições relacionadas à saúde segundo o tempo, o lugar e/ou as características dos
indivíduos (por exemplo, sexo, idade e escolaridade), podendo fazer uso
de dados secundários ou primários.
O estudo analítico testa hipóteses elaboradas geralmente durante
estudos descritivos. Nele há um grupo de referência, o que permite estabelecer comparações. Assim, propõe-se a verificar a existência de associação entre uma exposição e o desenvolvimento de uma doença ou
condição relacionada à saúde, sendo os seus principais delineamentos os
seguintes: a) ecológico; b) seccional; c) caso-controle; e d) coorte (COSTA;
BARRETO, 2003).
No estudo ecológico, presente entre as pesquisas revisadas, o princípio é o de que, nas populações onde a exposição é mais frequente, a incidência das doenças ou a mortalidade serão maiores, sendo a incidência
e a mortalidade as medidas mais usadas para quantificar a ocorrência de
doenças. Nele a utilização de dados secundários é mais comum. Outro delineamento de estudo analítico revisado foi o de coorte, em que um grupo
de pessoas com algo em comum (exposição a um agente, por exemplo)
é acompanhado por um período de tempo para acompanhar-se um desfecho qualquer – coorte prospectiva. Pode, ainda, colher informações do
passado, sendo o desfecho medido de determinado momento em diante
– coorte retrospectiva (MENEZES, 2001).
O Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM tem como documento padrão a Declaração de Óbito (DO), que é composta por nove
blocos, com um total de sessenta e duas variáveis. Assim, quanto maior
o número de informações de boa qualidade preenchidas, melhor será o
conhecimento da história natural das doenças e maiores as possibilidades
de prevenção dessas mortes (BRASIL, 2001).
47
Feitosa, I. M. L. C. ; Feitosa, L. G. G. C.
Nesse sentido, Façanha (2006) aponta como limitações dos estudos de dados secundários a deficiência no registro da tuberculose como
uma das causas do óbito bem como na coleta e preenchimento das declarações de óbitos no Sistema de Informação em Mortalidade – SIM, podendo sugerir tendências que não correspondem à realidade.
Porém, Santo, Pinheiro e Jordani (2003) ressaltam que as vantagens
desse tipo de estudo superam as suas limitações, além disso, se observa
nos últimos anos uma melhora nesse quadro, devido a um melhor conhecimento por parte dos profissionais sobre a importância estatística e legal
da Declaração de Óbito para a saúde pública.
A sexta dimensão de análise destaca os objetivos visados pelas
pesquisas. De um modo geral, os estudos descritivos de dados secundários buscaram avaliar o perfil dos óbitos por tuberculose no Brasil e sua
tendência em relação a diversas variáveis, tais como sexo, faixa etária e
comorbidades. Também foi objeto de pesquisa a mortalidade por tuberculose como causa básica ou fator associado ao óbito, sobretudo na co-infecção HIV/TB. Outra importante finalidade foi a utilização do estudo dos
óbitos por TB como instrumento de avaliação do programa de controle de
tuberculose, inclusive da qualidade das notificações.
O estudo de coorte retrospectivo objetivou a identificação de
fatores associados ao óbito por tuberculose, tais como co-infecção por
HIV/AIDS e abandono do tratamento, já os dois estudos de coorte prospectivos buscaram identificar fatores de risco para o óbito por tuberculose,
bem como para outros desfechos numa coorte de pacientes recém-diagnosticada.
Em um dos estudos do tipo ecológico o interesse foi realizar comparação da mortalidade por TB com indicadores sociais, por exemplo, índice de pobreza e densidade demográfica; o outro objetivou descrever a
distribuição espacial da mortalidade por TB. Na tabela 4 são apresentados
os estudos de acordo com os objetivos predominantes e o delineamento
de pesquisa empregado.
Tabela 4. Descrição dos tipos de estudos e objetivos.
Objetivos/ Delineamento
Estudo
Estudo
Estudo
Descritivo de Coorte Ecológico
f % f
% f
% f
6 33,3 1 5,6 1 5,5 8
Analisar o perfil dos óbitos por TB
segundo variáveis
Estudar a mortalidade por TB
Segundo causas múltiplas de morte
Analisar indicadores de morbi- Mortalidade por TB
Avaliar o programa de controle da TB Identificar fatores de risco para o
óbito por TB
Estudar a mortalidade por TB em comparação com indicadores sociais
Total
Total
%
44,4
3 16,7 0
0
00
3
16,7
2 11,1 0
0 0 0
2
11,1
2 11,1 0 0 0 0
0 0
2 11,1 0 0
2
2
11,1
11,1
1 5,5 1
5,5
0 0 0 0
13 72,2 3 16,7 2 11,1 18
100
Segundo Rieder (2001), três fatores principais determinam as características da mortalidade, sendo eles as diferenças na mortalidade por
grupos etários, as diferenças na mortalidade por coorte e as diferenças
em períodos particulares. Nesse sentido, as mortes podem ser melhor caracterizadas segundo a forma da tuberculose, a idade, o local, o sexo etc.
De acordo com Vicentin, Santo e Carvalho (2002), a busca da relação entre aspectos da vida social e a morbimortalidade também é frequentemente explorada pelos estudos epidemiológicos. Assim, o estudo
da associação entre indicadores sociais no desenvolvimento de doenças
como a tuberculose é bastante apropriado, podendo revelar os efeitos
48
desses componentes para o desenvolvimento do processo de morbidade
e seu desfecho mais grave, o óbito.
A associação entre TB e infecção pelo HIV também é amplamente
estudada e, de acordo com Muniz et al (2006, p.530), ela “afeta a mortalidade de duas formas: a TB traz uma importante letalidade para as pessoas
infectadas pelo HIV, e o HIV atua como causa indireta do aumento da incidência da TB”, haja vista a baixa imunidade que essa síndrome confere
ao seu portador.
Porém, alguns estudos mostram que o risco de adoecimento por
tuberculose em indivíduos com sorologia positiva para o HIV diminuiu
consideravelmente, e a taxa de ocorrência de casos de tuberculose em
pacientes atendidos em serviços especializados em DST/AIDS no Brasil,
apresentou uma ampla redução quando comparada aos índices encontrados antes do advento da terapia antirretroviral combinada (BRASIL, 2002).
Nesse sentido, o enfoque no programa de controle da tuberculose
também se faz importante, pois, não só a eficiência do diagnóstico, mas a
qualidade do tratamento da tuberculose também afeta o resultado final.
Oliveira, Marín-León e Cardoso (2004) destacam ainda que a cada
ano muitos pacientes com TB não são identificados até o óbito, representando falhas no sistema de atenção que dificultam o manejo da doença
de maneira oportuna.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As pesquisas com enfoque específico na mortalidade por tuberculose se mostraram relevantes e, apesar de numericamente inexpressivas
em comparação com publicações que tiveram outros objetos de investigação no tocante à tuberculose, em todos os anos do período analisado
foram verificadas produções científicas brasileiras no SciELO acerca dessa
temática.
Observou-se que essa produção foi discretamente crescente até
2007, sofrendo posterior redução nos dois anos seguintes. Entretanto,
acredita-se que o declínio observado não seja significativo e nem sugira
uma tendência para um futuro próximo, uma vez que a tuberculose continua sendo um grande problema de saúde pública e a redução da mortalidade por essa doença mantém-se como uma preocupação coletiva.
Os estudos englobaram dados de 1980 a 2004, fato que entra em
acordo com a recente criação do sistema nacional de estatísticas vitais no
país, sobretudo do Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM, principal fonte de dados utilizada pelos pesquisadores e implantado no Brasil
em 1975.
Um achado curioso refere-se à produção científica do Rio de Janeiro, estado que conhecidamente possui as maiores taxas de mortalidade
por tuberculose no país. No período analisado, verificou-se que este não
fora o maior detentor de pesquisas sobre a mortalidade por tuberculose
no SciELO, contribuindo com apenas duas publicações de um total de dezoito sobre o tema.
Acerca das abordagens metodológicas empregadas, observou-se
que a maioria das pesquisas relativas à mortalidade por tuberculose foram estudos epidemiológicos descritivos de dados secundários, que apesar de possuírem limitações conhecidas, tais como o registro deficiente
dos instrumentos de coleta de dados, são muito vantajosos, permitindo a
descrição das condições de saúde de uma amostra populacional segundo
variáveis consideradas importantes.
Nesse sentido, também se verificou que os principais objetivos dos
estudos analisados envolveram a avaliação do perfil dos óbitos por tuberRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.1, p.45-49, Jan-Fev-Mar. 2011.
Análise da produção científica brasileira sobre mortalidade por tuberculose
culose no Brasil considerando-se determinantes demográficos, socioeconômicos e de saúde. A busca da relação entre tais variáveis é bastante
explorada, pois, revela os efeitos desses componentes para o desenvolvimento do processo de morbimortalidade.
Os estudos sobre mortalidade por tuberculose contribuem significativamente para a descrição das condições de saúde da população,
para a investigação epidemiológica e mesmo para a avaliação de ações
diversas, como aquelas voltadas ao controle da doença. Grande parte do
conhecimento que se tem atualmente sobre a saúde de populações provém de estatísticas vitais, sendo as informações sobre mortalidade as mais
utilizadas. Assim, embora haja deficiências que limitem a utilização desses
dados, os estudos dessa natureza revelam-se necessários e vantajosos.
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