Satisfação do Pequeno Cliente Varejista: Um Estudo Comparativo das Percepções de Clientes e Fornecedores Autoria: Domingos Fernandes Campos RESUMO Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa exploratória acerca do nível de conhecimento que os gestores de empresas distribuidoras têm sobre as percepções dos seus clientes no que diz respeito ao nível de serviço desejado. Os resultados provêm de dois estudos tipo survey realizados com clientes varejistas e distribuidores que atuam no pequeno varejo alimentar numa área urbana de 750 mil habitantes. O primeiro estudo reflete as percepções dos clientes relacionadas a um conjunto de atributos do marketing e da logística. O segundo estudo reflete a visão que os distribuidores, através de seus gestores, têm sobre as necessidades dos clientes tomando como base os mesmos atributos. Foram identificados os gaps de percepção e, através do teste de correlação de rankings de Spearman, comparadas as prioridades atribuídas por um e outro grupo. Os resultados apresentam uma contribuição estratégica para as organizações, na medida em que incorporam importantes indicadores externos para avaliação do seu posicionamento no mercado. 1 INTRODUÇÃO O desenvolvimento de estratégias competitivas deve incorporar um conhecimento fundamentado sobre as condições do mercado, o posicionamento dos concorrentes e, essencialmente, a identificação de um conjunto de informações sobre as necessidades dos clientes. As organizações precisam desenvolver competências para enfrentar os crescentes desafios do mercado e assumir um posicionamento diferenciado em relação aos seus concorrentes, dado que atuam em um ambiente cada vez mais competitivo. Uma das condições básicas para o desenvolvimento de uma competência essencial está vinculada aos benefícios percebidos pelo cliente (PRAHALAD; HAMEL, 1990), o que reforça a necessidade de avaliar o nível de serviço prestado como um dos aspectos para a construção de uma vantagem competitiva. A satisfação do cliente está associada a uma avaliação que vai muito além da consideração de preços nos processos de compra. O serviço logístico da distribuição tem alcançado em anos recentes um nível de importância altamente significativo. Empresas distribuidoras de produtos de consumo massificado, de alto giro, não podem mais fundamentar suas estratégias única e exclusivamente pelos preços, em função do grande número de concorrentes e da pequena diferença nos produtos percebidas pelo consumidor; os produtos viram commodities e têm seus preços ditados pelo mercado. O nível de serviço da distribuição passa, então, a ter um papel decisivo nas estratégias empresariais. Muitas empresas desejam evitar estratégias para preços e descontos promocionais por causa dos custos envolvidos. Ao contrário, focam suas estratégias no nível de serviço e competem em disponibilidade, velocidade de entrega e confiabilidade (STANK, Theodore et al). Lavalle (2006) - em estudos sobre o nível de satisfação de supermercadistas com seus fornecedores - mostra a tendência do crescimento da importância, ano a ano, do nível de serviço logístico em relação aos preços. O serviço logístico é um fator essencial para gerar competitividade. Precisa estar alinhado à estratégia da organização. O desenvolvimento das competências logísticas deve estar sintonizado com as necessidades dos clientes e as condições objetivas internas da empresa. O 1 desempenho da logística está umbilicalmente ligado ao marketing; o esforço para satisfazer as necessidades dos clientes envolve tanto atributos da logística, quanto do marketing. Este não é um processo fácil de ser operacionalizado e envolve alguns questionamentos: como avaliar o nível de serviço prestado ao cliente? Quais são os indicadores utilizados nessa avaliação? Qual a contribuição do nível de serviço na avaliação do posicionamento competitivo da empresa no mercado? Quais as condições objetivas internas que a empresa dispõe ou disponibiliza para proporcionar níveis de serviço adequado? Qual o nível de alinhamento das suas diretrizes estratégicas às necessidades dos clientes? As organizações não podem responder a estas questões sem que os gestores tenham conhecimento e estejam sintonizados com as percepções dos clientes sobre suas necessidades. O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados de uma pesquisa exploratória acerca do nível de conhecimento que os gestores de empresas distribuidoras têm sobre as percepções dos clientes no que diz respeito as suas necessidades de serviço. Os resultados provêm de dois estudos tipo survey realizados com pequenos clientes varejistas e distribuidores do segmento alimentar que atuam numa área urbana de 750 mil habitantes. O primeiro estudo reflete as percepções dos clientes relacionadas a um conjunto de atributos do marketing e da logística. O segundo estudo tomou como diretriz uma questão levantada num trabalho clássico de Marr (1994), que argui e intitula o artigo: os gestores realmente conhecem o serviço desejado pelos seus clientes (do managers really know what service their customers require)? O trabalho avalia as diferenças na importância de atributos do serviço de distribuição percebidas pelos gestores de um fabricante e por seus clientes. Tomando como base as percepções dos clientes sobre os atributos utilizados no primeiro survey, foram colhidas as percepções dos gestores de nove (09) empresas distribuidoras - que atuam sobre os mesmos clientes – em relação ao mesmo conjunto de atributos. Em verdade, apreendeu-se o que pensa o gestor em relação ao que pensam os clientes. Os dados apreendidos dos clientes e gestores foram hierarquizados, comparados e avaliados em seu conjunto. Como resultado final pôde-se avaliar em que medida as percepções são convergentes, ou qual é o grau de sintonia entre o que pensa o cliente e aquilo que pensam os gestores sobre suas necessidades. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA No varejo, a oferta de níveis de serviço adequados assume um papel chave para o mercado. Ellram, La Londe e Weber (1999) apontaram três grandes desafios para a logística do varejo nos anos recentes: a) os varejistas devem viabilizar e implantar a idéia que o serviço ao cliente deveria se expandir para toda a cadeia de suprimentos; b) os gestores da logística do varejo deveriam estar preparados para os efeitos do rápido crescimento da tecnologia, particularmente o crescimento explosivo da tecnologia de informação; c) a gestão da cadeia de suprimentos deveria ser desenvolvida e integrada para explorar estratégias de aperfeiçoamento do serviço ao cliente e do gerenciamento dos estoques. Para Mentzer, Flint e Hult (2001), entregar ao cliente um produto livre de defeitos, de forma mais rápida e mais segura que a concorrência, não é mais visto como uma vantagem competitiva, mas simplesmente uma exigência para estar no mercado. Os processos na cadeia de suprimentos tendem a ser sistêmicos e integrados. O nível de serviço prestado aos clientes não está condicionado apenas aos relacionamentos desenvolvidos na direção fornecedor-cliente. As relações a montante são decisivas para que o serviço prestado aos clientes atinja níveis satisfatórios. O ambiente competitivo coloca uma 2 ênfase cada vez maior no nível de serviço e torna-se crucial sintonizar a oferta do serviço com as expectativas do cliente. Para Innis e La Londe (1994), a satisfação do cliente é um dos objetivos chave do marketing na maioria das empresas e acrescentam que a coordenação interfuncional deveria ser incentivada para permitir que o marketing e a logística trabalhassem juntos, de modo a fornecer uma combinação ótima do serviço ao cliente final. Bowersox e Closs (2001, p. 67) ratificam esse posicionamento ao indicarem que “o desempenho da logística em um ambiente competitivo depende de sua compatibilidade com a estratégia de marketing da empresa”. A percepção do cliente em relação às atividades de prestação de serviços - mais visível no momento da distribuição física - deve considerar atributos vinculados à disponibilidade, desempenho e confiabilidade (BOWERSOX; CLOSS, 2001). Se a percepção do cliente em relação a esses três fatores atingir níveis de excelência, existe a possibilidade da empresa criar uma vantagem competitiva sustentável. Para Green (2001), as organizações precisam desenvolver competências essenciais como um conjunto de conhecimentos técnicos e habilidades que possuem influências nos produtos e serviços múltiplos e fornecem vantagem competitiva. Há três condições para se identificar uma competência essencial para a organização: a) saber se a competência é percebida pelo cliente como um beneficio real; b) verificar se outras empresas têm dificuldade para imitar a competência; c) descobrir se a competência cria – e se pode ser utilizada em – novas oportunidades de negócio (PRAHALAD; HAMEL, 1990). Sem perder de vista a importância da segunda condição estabelecida pelos citados autores, uma análise mais atenta sobre as primeira e terceira condições revela a necessidade que as organizações têm de, não só se apropriarem das percepções dos clientes relativas aos atributos do serviço que conduzem a sua satisfação, mas, também, que seus gestores, reais executores das estratégias organizacionais, alinhem adequadamente suas diretrizes e meios disponíveis. Assim, não é suficiente que os gestores saibam quais são as necessidades e/ou desejos dos clientes; é necessário que este conhecimento seja compartilhado e compatibilizado com os meios e as condições objetivas internas. O trabalho de Marr (1994) revela uma avaliação interessante entre pontos de vista dos gestores e dos clientes sobre um conjunto de atributos do marketing e da logística, mostrando, ademais, que essas divergências podem se estender entre os próprios gestores, dependendo de sua área funcional. Para o autor, o papel diferenciado que assume cada gestor pode mascarar percepções de importância em relação a cada atributo do serviço ao cliente. Embora reconheça que as diferentes áreas funcionais têm como objetivo maior o lucro, uma maior comunicação e cooperação promoveriam uma melhor compreensão das necessidades do serviço ao cliente e dos custos resultantes de seu atendimento. Essas considerações indicam que a logística integrada ao cliente assume um papel estratégico para as organizações. Para Didonet et al (2002, p. 1), tratar a logística “como uma ferramenta estratégica e alinhá-la às estratégias empresariais ganha importância, na medida em que a concorrência fica mais acirrada e as organizações vêem a necessidade de superar suas ineficiências para beneficiar clientes e reduzir custos”. Bowersox e Closs (2001) utilizam o termo competência logística como um recurso estratégico essencial para o planejamento da prestação do serviço ao cliente. Hijjar (2001) discute a necessidade da busca de indicadores externos e indica dois motivos importantes para se obter informações a partir da perspectiva do cliente: a identificação dos 3 reais níveis de satisfação dos clientes e a minimização dos gaps de percepção entre a empresa e o cliente. Mentzer, Gomes e Krapfel (1989) argumentam que existem dois elementos no serviço de entrega: serviço do marketing ao cliente e serviço realizado através da distribuição física. Eles reconhecem a natureza complementar dos dois elementos para satisfazer o cliente e propõem uma estrutura integrativa desse serviço. Gestores de diferentes áreas funcionais de um mesmo fornecedor têm uma visão diferente das necessidades do serviço necessário para seus clientes. Clientes de distintos segmentos têm diferentes apreciações do nível de serviço prestado por um mesmo fornecedor. O nível de satisfação do cliente é resultado da oferta de atributos de marketing e de logística, mas o conhecimento deles e o grau de influência de cada um não são, normalmente, claros ou conhecidos. Mentzer, Flint e Hult (2001) assinalam que os pesquisadores fornecem freqüentemente uma lista de dimensões dos serviços da logística para as quais os clientes dão forma às suas percepções. Essas operacionalizações ignoram os processos, isto é, o ordenamento temporal dos atributos que estão sendo testados. A literatura tem oferecido um leque variado de dimensões e atributos do nível de serviço logístico e do nível de serviço do marketing. Os trabalhos de La Londe e Zinszer (1976), La Londe, Cooper e Noordewier (1988), Mentzer, Gomes e Krapfel (1989), Griffis et al (2004), Innis e La Londe (1994) apresentam um conjunto extenso dessas dimensões. No Brasil, vários trabalhos têm sido desenvolvidos na área do varejo alimentar como os de Fleury e Lavalle (1997), Hijjar (2001) e Lavalle et al (2003). Os atributos utilizados no estudo junto aos clientes foram coletados a partir dessa extensa gama de variáveis associadas ao serviço. O estudo realizado junto aos gestores considerou apenas aqueles envolvidos no trabalho junto aos clientes. 3 METODOLOGIA Os resultados aqui apresentados provêm de dois estudos do tipo survey realizado com pequenos varejistas do ramo alimentar e seus principais fornecedores, na área urbana, de uma cidade de porte médio do nordeste brasileiro. O primeiro, estudo-clientes, teve como objetivo o conhecimento dos elementos que contribuem mais significativamente para o nível de satisfação dos pequenos varejistas da região, no que se refere às suas necessidades e às suas percepções em relação às principais empresas distribuidoras com atuação no Estado. O segundo, estudo-gestores, teve como objetivo principal identificar o que percebem os gestores das principais empresas distribuidoras – que realizam suas operações com o pequeno varejo – sobre o serviço desejado pelos seus clientes. O estudo-clientes envolveu o canal do pequeno varejo. A base de clientes foi obtida de uma empresa distribuidora com atuação intensiva na região e contemplava cerca de 1000 clientes. Foram enviados questionários para os clientes com no máximo quatro check-outs que realizaram compras nos três últimos meses anteriores ao início da pesquisa, perfazendo um total de 571 pequenos clientes ativos. Os clientes atuam numa área urbana com população estimada de 750.000 habitantes. Na realização do estudo-gestores foram envolvidos os principais dirigentes das dez empresas distribuidoras que foram avaliadas pelos clientes no primeiro estudo. Gestores de nove das dez empresas contatadas responderam o questionário, perfazendo um total de 52 respostas válidas. Nenhum dirigente teve conhecimento das respostas oferecidas pelos clientes no 4 primeiro estudo (estudo-clientes). O estudo-gestores foi realizado após a conclusão do estudoclientes. Os dois estudos foram realizados seqüencialmente num período de 10 meses. 3.1 O Estudo-Clientes Os resultados obtidos neste estudo refletem a apuração de 302 respostas válidas, representando um taxa de retorno de 52,9 % do total de clientes envolvidos. A classificação reflete o agrupamento de respostas por natureza do negócio. A classificação da natureza obedeceu a critérios locais de nominação dos estabelecimentos pela população. Os resultados indicaram que 84,1 % dos estabelecimentos que participaram da pesquisa foram classificados como mercadinho/mercearia ou como padaria/conveniência. Foram identificados outros estabelecimentos como farmácias e lanchonetes, que comercializam produtos alimentares mas não usualmente classificados no varejo alimentar. O Quadro 1 mostra a classificação. Natureza Número de Estabelecimentos Mercadinho/mercearia 189 Padaria/conveniência 65 Drogaria/farmácia 15 Bar/lanchonete 2 Bombonnière 25 Outros 6 Total 302 Quadro 1 - Classificação dos estabelecimentos de acordo com a natureza do negócio Percentual 62,6 % 21,5 % 5,0 % 0,6 % 8,3 % 2,0 % 100,0 % Foram utilizadas quatro medidas que refletem o tamanho para os estabelecimentos pesquisados. As medidas são o número de funcionários, o número de caixas (check outs), a área de vendas e a faixa de faturamento bruto mensal. O Quadro 2 mostra que os pequenos varejistas se caracterizam por terem, em sua maioria, um número de empregados na faixa de 1 a 5 pessoas (75,0 %), operam um caixa (82,7 %), disponibilizam uma área de vendas de até 100 m2 (74,3 %) e faturam até 50 mil reais por mês (87,7 %). A média global de empregados por estabelecimento foi de 4,64 funcionários. O número médio de caixas por varejista foi de 1,25 caixas e a área média de vendas, 100,44 m2. Número de Estabelecimentos Até 5 funcionários 226 1 caixa 249 Até 100 m2 220 Até R$ 50 mil 263 Quadro 2 – Faixas de maior concentração dos pequenos varejistas por tamanho. Intervalo Percentual 75,0 % 82,7 % 74,3 % 87,7 % No questionário aplicado aos clientes, foram introduzidas diversas questões que permitiram uma compreensão do comportamento dos pequenos varejistas em relação à importância conferida a diversos atributos do serviço da distribuição, a sua satisfação quanto ao serviço prestado pelos seus fornecedores, aos diversos formatos de distribuição e ao impacto dos atacadistas e supermercadistas (cash-carry) no abastecimento de seus negócios. Neste artigo, foram tomadas apenas duas séries de respostas. A primeira série apreende o grau de importância conferido a quinze atributos do serviço ao cliente, assinalado de forma independente e espontânea. Foi utilizada uma escala Likert de cinco pontos (muito 5 importante, importante, medianamente importante, pouco importante e não importante) para as respostas a essas questões. O Quadro 3 mostra os atributos avaliados e a média das respostas. As médias conferidas tomaram como base a escala numérica 0; 2,5; 5,0; 7,5 e 10 para os pontos da escala Likert. Intervalo de Confiança α = 0,10 Inferior Superior Regularidade do prazo de entrega 9,3189 9,1908 9,4471 Qualidade do atendimento vendedores 9,2632 9,1501 9,3764 Entrega completa 9,2219 9,1121 9,3316 Tamanho do prazo de entrega 9,1225 9,0078 9,2373 Assistência pós-venda 9,1113 8,9960 9,2266 Diferentes possibilidades de negociação 9,0199 8,8889 9,1510 Qualidade do serviço de entrega 8,9404 8,8141 9,0667 Freqüência de passagem do vendedor 8,7831 8,6417 8,9245 Pedidos extras de produtos e quantidades 8,6545 8,4968 8,8122 Merchandising 8,6507 8,4661 8,8352 Forma de pagamento 8,4520 8,2946 8,6094 Prazo de pagamento 8,3278 8,1260 8,5296 Limite de crédito oferecido 7,8821 7,6369 8,1272 Acesso fácil e direto ao fornecedor 6,9583 6,6560 7,2607 Compras pelo formato retira 5,2990 4,9829 5,6151 Quadro 3 – Graus de importância admitidos pelos clientes e ranking dos atributos. Atributo Média Ranking 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 A segunda série de questões demandava como resposta dos clientes a hierarquização de dez atributos. Foi tomado um subconjunto de nove atributos da primeira série de questões mais o atributo preço. Cada respondente assinalou a nota dez para o atributo que considerou mais importante e, gradativamente, assinalou notas menores para os demais atributos, priorizando, assim, do mais importante (dez) ao menos importante (um). A mesma nota não podia ser assinalada a diferentes atributos. A questão teve como objetivo forçar uma hierarquização entre preço e os demais atributos. Ao final, para cada um dos dez atributos, foi computada a média das notas atribuídas. O Quadro 4 apresenta as médias obtidas para a segunda série de questões e o ranking obtido Embora não constando na apresentação deste artigo, o estudo-clientes também introduziu questões nas quais os clientes avaliaram os dez fornecedores mais importantes na região pesquisada, em relação a um subconjunto de atributos que continha os nove aqui utilizados (sem preço) mais o atributo flexibilidade na negociação de preços e prazos. A não utilização dos cinco atributos restantes não obedeceu a critérios lineares. O tamanho do prazo de entrega, a freqüência de passagem do vendedor, a forma de pagamento e o formato de compra retira receberam questões adicionais sobre alternativas preferenciais dos clientes; ademais, se tinha previamente o conhecimento que as empresas ofereciam serviços similares, como, por exemplo, a freqüência de passagem do vendedor e tamanho do prazo de entrega. O atributo flexibilidade na negociação de preços e prazos de pagamento foi suprimido da segunda série em função das presenças dos atributos preço e prazo de pagamento. Atributo Média Preço Qualidade do atendimento dos vendedores Regularidade do prazo de entrega 8,3289 7,1544 6,6510 6 Intervalo de Confiança α = 0,10 Inferior Superior 8,0812 8,5765 6,7702 7,5386 6,4376 6,8644 Ranking 1 2 3 Entrega completa de itens e quantidades 6,1107 5,9188 6,3027 Prazo de pagamento 5,8121 5,5212 6,1029 Qualidade do serviço de entrega 5,6007 5,3850 5,8163 Assistência pós-venda 5,2819 5,0861 5,4777 Pedidos extras de produtos e quantidades 4,2584 4,0413 4,4754 Merchandising 3,1913 2,9860 3,3965 Acesso fácil e direto ao fornecedor 2,7450 2,5483 2,9416 Quadro 4 – Graus de importância comparativos dos atributos admitidos pelos clientes. 4 5 6 7 8 9 10 3.2 O Estudo-Gestores Através de questões introduzidas no estudo-clientes, foram avaliadas dez empresas fornecedoras mais importantes com distribuição no pequeno varejo alimentar. Os varejistas foram instados a avaliar seus fornecedores em relação à lista de atributos apresentada no Quadro 3, à exceção do item preço; em seu lugar figurava o atributo flexibilidade na negociação de preços e prazos de pagamento. A lista das dez maiores empresas distribuidoras foi obtida da relação dos cem maiores contribuintes do imposto sobre circulação de mercadorias (ICMS) no Estado do Rio Grande do Norte em 2004. Sete deles estão na lista do ranking da ABAD (2005) dos 100 maiores distribuidores do Brasil em 2005. Os demais não constam na lista por não terem disponibilizado seus resultados aos editores; no entanto, pelos seus faturamentos fariam parte da mesma. Como critério básico a empresa distribuidora deveria atuar no pequeno varejo alimentar. Na lista final constam empresas com distribuição nacional, regional e estadual. No estudo-gestores, um questionário foi enviado ao conjunto dos principais dirigentes das dez empresas fornecedoras assinaladas. Uma das empresas não ofereceu respostas aos questionários enviados, alegando que dependia de autorização da matriz para respondê-los. As demais empresas contatadas se dispuseram a participar do survey. Os critérios orientativos para seleção dos participantes foram três: a) área funcional de atuação, b) nível hierárquico no quadro diretivo e c) diretividade ao pequeno varejo. Responderiam ao questionário os dirigentes das empresas fornecedoras com atuação nas áreas comercial e logística, nos níveis hierárquicos de diretor, gerente, supervisor e equivalentes que tivessem suas atividades voltadas para o pequeno varejo. Foram mapeados sessenta e dois (62) gestores, nas nove (09) empresas, que atendiam os requisitos. Algumas situações especiais foram admitidas, como assistentes de direção ou gerentes de outras áreas funcionais que coordenavam projetos voltados para o pequeno varejo. O questionário foi projetado com cinco módulos. O primeiro demandava os gestores a responder sobre cada um dos atributos apresentados no Quadro 3, a seguinte questão: “na sua avaliação, considerando uma escala de zero a dez, qual a importância que seus clientes do pequeno varejo atribuem...?”. No segundo módulo, solicitava-se que o gestor fizesse uma avaliação dos serviços que sua própria empresa oferecia aos pequenos varejistas em relação a cada atributo de um subconjunto das variáveis do quadro aqui mencionado. No terceiro módulo foram incluídas questões relativas aos formatos de distribuição e impacto das grandes cadeias supermercadistas no abastecimento do pequeno varejo. O quarto envolveu a formação de um ranking dos atributos apresentados no Quadro 4; cada respondente assinalaria uma nota dez para o atributo que considerasse mais importante e, gradativamente, assinalaria notas menores para os demais atributos, hierarquizando, assim, do mais importante (dez) ao menos importante (um). O quinto tratou de questões que avaliavam o grau de influência dos mesmos atributos na estratégia de atendimento aos clientes do segmento. As respostas dos primeiro e quarto módulos são tratadas neste artigo. 7 Os resultados obtidos neste estudo refletem a apuração de 52 respostas válidas, representando um taxa de retorno de 83,9 % do total de gestores envolvidos. Todos os respondentes afirmaram que suas atividades estavam relacionadas no dia a dia coma clientela do pequeno varejo pesquisada. O Quadro 5 mostra o perfil da dos gestores que participaram do estudo em relação ao nível do cargo e à área funcional de atuação. Área Número de % Funcional Gestores Comercial 35 67,3 Logística 13 25,0 Outra 4 7,7 Total 52 100,0 Quadro 5 – Perfil dos gestores pesquisados. Nível do Cargo Diretor Gerente Supervisor Total Número de Gestores 11 20 21 52 % 21,1 38,5 40,4 100,0 O Quadro 6 mostra os resultados da avaliação dos gestores quanto ao grau de importância que cada atributo tem para os seus clientes do pequeno varejo. A escala utilizada variava de zero a dez. As notas foram dadas a cada atributo de forma independente. O Quadro 7 mostra as médias obtidas para o outro conjunto de atributos. Aqui as notas foram atribuídas de forma dependente e hierarquizada. As notas maiores foram dadas para os atributos que os gestores pensavam ser mais importantes para os clientes. Nenhuma nota pôde ser repetida. É importante assinalar que os gestores não apontaram o grau de importância dos atributos que eles admitiam para si mesmos, mas o que eles pensavam que os clientes admitiriam. Na essência, está se averiguando o grau de conhecimento que os gestores têm das necessidades dos clientes; sem embargo, o procedimento utilizado pelos gestores para hierarquizar a importância dos atributos foi idêntico ao demandado aos clientes no primeiro estudo. Intervalo de Confiança α = 0,10 Ranking Inferior Superior Regularidade do prazo de entrega 8,6154 8,3019 8,9288 4 Qualidade do atendimento vendedores 7,8269 7,5116 8,1422 11 Entrega completa 8,2692 7,9219 8,6165 6 Tamanho do prazo de entrega 8,6923 8,4047 8,9799 2 Assistência pós-venda 8,0385 7,6500 8,4269 8 Diferentes possibilidades de negociação 8,7308 8,4669 8,9946 1 Qualidade do serviço de entrega 7,6538 7,2872 8,0205 12 Freqüência de passagem do vendedor 8,6731 8,3994 8,9468 3 Pedidos extras de produtos e quantidades 7,8846 7,4593 8,3099 10 Merchandising 7,2115 6,8169 7,6062 15 Forma de pagamento 8,3269 7,9211 8,7328 5 Prazo de pagamento 8,1346 7,7132 8,5560 7 Limite de crédito oferecido 7,6154 7,2680 7,9628 13 Acesso fácil e direto ao fornecedor 7,9231 7,5678 8,2783 9 Compras pelo formato retira 7,5385 7,0031 8,0738 14 Quadro 6 – Graus de importância que os clientes admitiriam segundo avaliação dos gestores. Atributo Média Atributo Média Preço Qualidade do atendimento dos vendedores Regularidade do prazo de entrega Entrega completa de itens e quantidades Prazo de pagamento Qualidade do serviço de entrega 7,7115 8,2885 6,9808 6,1923 5,2692 5,3077 8 Intervalo de Confiança α = 0,10 Inferior Superior 7,1803 8,2428 7,8497 8,7272 6,5257 7,4358 5,6016 6,7831 4,6959 5,8426 4,8077 5,8077 Ranking 2 1 3 4 7 6 Assistência pós-venda 5,7308 5,1610 6,3006 5 Pedidos extras de produtos e quantidades 2,0577 1,6654 2,4500 10 Merchandising 4,5769 4,0514 5,1024 8 Acesso fácil e direto ao fornecedor 3,0962 2,6327 3,5596 9 Quadro 7 – Graus de importância comparativos que os clientes admitiriam segundo avaliação dos gestores. Note-se que o Quadro 6 reflete uma avaliação independente, sem comparações e o Quadro 7, uma avaliação dependente (comparativa) e hierarquizada. Na seção seguinte, os resultados do primeiro quadro serão nomeados “espontâneo” e os do segundo quadro, forçado ou hierarquizados. Todo tratamento estatístico foi realizado utilizando-se o Statistical Package for the Social Science – SPSS, versão 12.0. 4 RESULTADOS DO ESTUDO Os resultados oferecidos pelos dois estudos oferecem um rico manancial para avaliação de possibilidades. Neste artigo a questão central é conhecer em que medida o pensamento dos gestores se alinha às necessidades de serviço de seus clientes. As medidas utilizadas referemse a graus de importância de atributos vinculados à satisfação dos clientes, ora vistos segundo a percepção dos próprios varejistas ora vistos sob a percepção dos gestores. Os dois grupos se submeteram às mesmas questões e aos mesmos procedimentos. Os gráficos apresentados pelas Figuras 1 e 2 mostram os gaps identificados nas respostas espontâneas e nas respostas forçadas (hierarquizadas), respectivamente. Na percepção dos clientes, os atributos regularidade do prazo de entrega, qualidade do atendimento dos vendedores, entrega completa de todos itens e quantidades, tamanho do prazo de entrega, assistência pós-venda, diferentes possibilidades de negociação de preços e prazos (flexibilidade), qualidade do serviço de entrega, freqüência de passagem do vendedor e possibilidades de pedidos extras, merchandising, forma e prazo de pagamento foram apontados como muito importante (médias superiores a oito); os atributos limite de crédito oferecido e acesso fácil e direto ao fornecedor receberam avaliação de importante; e, a possibilidade de compra pelo formato retira foi avaliado como medianamente importante (média entre 4 e 6). 10 9 8 7 6 Pelos clientes Pelos gestores Prazo Entrega Assistência Serviço Pedidos Forma Limite regular completa pós-venda entrega extras pagto crédito Atendimento Prazo Flexibilidade Freqüência Merchan Prazo Acesso vendedores tamanho preço-prazo vendedor dising pagto fácil Figura 1 – Gaps de importância entre as percepções dos clientes vistas por eles e pelos gestores. 9 5 Formato retira Sob o ponto de vista dos gestores, os clientes atribuiriam o grau de muito importante para regularidade do prazo de entrega, entrega completa de todos itens e quantidades, tamanho do prazo de entrega, assistência pós-venda, diferentes possibilidades de negociação de preços e prazos (flexibilidade), freqüência de passagem do vendedor, forma e prazo de pagamento. Os atributos qualidade do atendimento dos vendedores, qualidade do serviço de entrega, possibilidades de pedidos extras, merchandising, limite de crédito, acesso fácil e direto aos fornecedores e formato retira foram avaliados como importantes (média entre 6 e 8). Nenhum atributo seria classificado como medianamente importante. 9 8 ` 7 6 5 4 3 Pelos clientes Pelos gestores Preço Atendimento Prazo vendedores regular 2 Entrega completa Prazo pagto Serviço Assistência Pedidos Merchan Acesso entrega pós-venda extras dising fácil Figura 2 – Gaps entre as percepções hierarquizadas dos clientes vistas por eles e pelos gestores. No que diz respeito às avaliações forçadas, nas quais foi incluído o atributo preço, os clientes apontaram um ranking que difere em algumas posições do ranking elaborado pelos gestores. Aqui cabe ressaltar dois aspectos. Primeiro, os rankings foram apontados em função das médias nominais apuradas para cada atributo. Ao nível de significância apurado (alfa=0,10), algumas posições poderiam mudar de lugar em função do erro amostral. Por exemplo, no ranking dos clientes - observando o intervalo de confiança - as posições dos atributos preço e qualidade do atendimento dos vendedores não se alterariam. Sem embargo, no ranking dos gestores as posições poderiam ser diferentes nesse nível de significância, ou seja, a variável preço poderia estar na primeira posição em função do erro amostral. Em segundo lugar, o grau de divergência/convergência entre os rankings dos clientes e gestores indicam o grau de alinhamento entre o que pensam os clientes sobre suas necessidades e o que pensam os gestores sobre as necessidades dos clientes. O alinhamento, então, pode ser verificado pelo grau de correlação existente entre os dois rankings. Um coeficiente de correlação 1 indicaria um grau de alinhamento 100%, um coeficiente -1 indicaria um (des)alinhamento completo. Cooper e Schindler (2003) apontam os coeficientes de correlação de Spearman e de Kendall como os mais utilizados para comparação de rankings (valores ordinais). Neste artigo, foi utilizado o coeficiente de Spearman para medir o grau de alinhamento entre os rankings estabelecidos pelos clientes e pelos gestores. O teste de 10 correlação de Spearman (Spearman's rank correlation test) analisa os resíduos através das diferenças entre as posições hierarquizadas de cada variável. O coeficiente de Spearman seria equivalente ao de Pearson aplicado aos rankings sem, no entanto, exigir as condições de normalidade da população e a relação linear entre as variáveis. Os Quadros 8 e 9 mostram, através do coeficiente de Spearman, o grau de alinhamento entre os rankings espontâneos e forçados estabelecidos por clientes e gestores. Prazo Entrega Assist. Serviço Pedidos Forma Limite Forma regular completa pós-venda entrega extras pagto crédito retira Atend Prazo Flexibil Freq. Merchan Prazo Acesso RANKING vendedor tamanho preço/prazo vendedor dising pagto fácil Clientes 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Gestores 4 11 6 2 8 1 12 3 10 15 5 7 13 9 14 Coeficiente de Spearman = 0,4643, significativo para alfa = 8,13% BAIXO ALINHAMENTO Quadro 7 – Grau de alinhamento entre os rankings das respostas espontâneas dos clientes e dos gestores. Preço RANKING Clientes Gestores 1 2 Atend Prazo Entrega Prazo Serviço Assist. Pedidos Merchan Acesso vendedor regular completa pagto entrega pós-venda extras dising fácil 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 3 4 7 6 5 10 8 9 Coeficiente de Spearman = 0,9030, significativo para alfa = 0,03% ALTO ALINHAMENTO Quadro 8 – Grau de alinhamento entre os rankings das respostas forçadas dos clientes e dos gestores. Os resultados apresentados mostram claramente que as respostas dadas pelo quadro de dirigentes nas respostas espontâneas, conferindo grau de importância a cada atributo de forma independente, não apresentam um grau de alinhamento elevado com as respostas dadas pelos clientes nas mesmas condições. Por outro lado, quando o mecanismo de hierarquização forçado esteve presente, as respostas dos gestores ficaram fortemente alinhadas às percepções dos clientes a um nível de significância menor que 1%. Intuitivamente, esse resultado podia ser observado quando confrontadas às Figuras 1 e 2. 4.1 Comparação dos Rankings Espontâneos e Forçados dos Atributos Comuns O grau de alinhamento das percepções dos gestores quando comparadas às dos clientes nas respostas espontâneas não foi significativo; no entanto, as respostas forçadas se mostraram altamente alinhadas. Tomando como referência as respostas hierarquizadas dos clientes, é possível verificar em que nível as respostas espontâneas dos clientes coincidem com suas próprias respostas hierarquizadas e, ademais, qual seria o grau de alinhamento das percepções de gestores com esse mesmo conjunto. A comparação é possível se consideradas apenas as variáveis comuns aos dois conjuntos de atributos. No grupo dos atributos hierarquizados, há nove atributos (excluído preço) que são comuns a atributos do grupo espontâneo. O Quadro 9 mostra os rankings de respostas espontâneas e forçadas elaborados pelos clientes e pelos gestores para o subconjunto de atributos comuns e os resultados do teste de correlação de Spearman. RANKING Clientes forçado Clientes espontâneo Atend Prazo Entrega Prazo Serviço Assist. Pedidos Merchan Acesso vendedor regular completa pagto entrega pós-venda extras dising fácil 1 2 3 4 5 6 7 8 9 2 1 3 8 5 4 6 7 9 11 Coeficiente de Spearman = 0,8000, significativo para alfa = 0,96% Clientes forçado 1 2 3 4 5 Gestores forçado 1 2 3 6 5 Coeficiente de Spearman = 0,8833, significativo para alfa = 0,16% Clientes forçado 1 2 3 4 5 Gestores espontâneo 7 1 2 3 8 Coeficiente de Spearman = 0,4167, significativo para alfa = 26,46% Gestores forçado 1 2 3 6 5 Gestores espontâneo 7 1 2 3 8 6 4 ALTO ALINHAMENTO 7 8 9 9 7 8 6 4 ALTO ALINHAMENTO 7 8 9 6 9 5 4 4 BAIXO ALINHAMENTO 9 7 8 6 9 5 Coeficiente de Spearman = 0,3500, significativo para alfa = 35,38% BAIXO ALINHAMENTO Quadro 9 – Grau de alinhamento entre respostas forçadas e espontâneas dos clientes e dos gestores. Uma análise atenta dos resultados apresentados pela matriz de correlação dos rankings no Quadro 9 indicam claramente que as respostas espontâneas dos clientes são compatíveis com suas respostas hierarquizadas. Tal compatibilidade não é observada quando comparadas as respostas espontâneas e hierarquizadas dos gestores. Mais significativo é que as respostas hierarquizadas dos gestores se mostraram altamente alinhadas às respostas forçadas dos clientes e que não houve alinhamento significativo das respostas espontâneas dos gestores com as respostas forçadas dos clientes. Isto sugere que não há um viés de homogeneidade nas respostas espontâneas dos gestores e explica a baixa compatibilidade entre as respostas espontâneas de clientes e gestores analisadas no Quadro 7 da seção anterior. É um indicativo, também, que a forma de apreensão das percepções pelas respostas forçadas, hierarquizadas e comparativas, leva os respondentes a uma reflexão mais profunda sobre a importância de cada atributo no serviço prestado ao cliente. 4.2 A Visão dos Gestores Segundo a Área de Atuação Uma questão importante a ser analisada é se a área de atuação do gestor interfere significativamente na sua percepção sobre as necessidades dos clientes. De acordo com o demonstrativo do Quadro 5, de um total de 52 dirigentes, 36 atuam na área comercial, 13 na área logística e 3 em outras áreas. Estas últimas respostas foram mantidas na pesquisa porque os dirigentes atuavam em programas vinculados à atividade de distribuição ao pequeno varejo, no entanto, não foram aqui consideradas. As respostas espontâneas oferecidas pelos dois grupos de gestores não oferecem um grau de alinhamento significativo com as respostas espontâneas dos clientes. Sem embargo, o grau de compatibilidade das respostas assinaladas foi maior para os gestores comerciais. A correlação (Spearman) entre as respostas dos gestores comerciais e clientes foi de 0,5321 com nível de significância de 4,12%; entre as dos gestores logísticos e dos foi clientes, 0,3750 com alfa igual 16,84%. O Quadro 10 apresenta as médias e os rankings das respostas assinaladas. Atributo Regularidade do prazo de entrega Qualidade do atendimento vendedores Entrega completa Tamanho do prazo de entrega Assistência pós-venda Clientes Médias Rank 9,3189 1 9,2632 2 9,2219 3 9,1225 4 9,1113 5 12 Gestores Com Médias Rank 8,5278 4 7,9444 10 8,2222 5 8,6667 3 8,0556 7 Gestores Log Médias Rank 8,7692 3 7,5385 11 8,2308 6 8,7692 2 8,1538 8 Diferentes possibilidades de negociação 9,0199 6 8,8611 2 8,6154 Qualidade do serviço de entrega 8,9404 7 7,5000 13 8,0000 Freqüência de passagem do vendedor 8,7831 8 8,8889 1 8,2308 Pedidos extras de produtos e quantidades 8,6545 9 7,9722 9 7,3846 Merchandising 8,6507 10 7,2778 14 7,3846 Forma de pagamento 8,4520 11 8,1389 6 8,6923 Prazo de pagamento 8,3278 12 7,7778 11 8,8462 Limite de crédito oferecido 7,8821 13 7,6667 12 7,3077 Acesso fácil e direto ao fornecedor 6,9583 14 8,0000 8 7,5385 Compras pelo formato retira 5,2990 15 7,2778 15 8,0000 Quadro 10 – Graus de importância admitidos pelos gestores segundo a área de atuação. 5 9 7 14 13 4 1 15 12 10 Por outro lado, quando as respostas hierarquizadas dos dois grupos de gestores são comparadas com as dos clientes, os resultados estatísticos mostram um alto grau de alinhamento entre elas. Segundo os resultados apresentados no Quadro 11, o grau de alinhamento das respostas do grupo de gestores comerciais foi ligeiramente superior ao do grupo da logística. Preço RANKING Clientes Gestores Com 1 2 Atend Prazo Entrega Prazo Serviço Assist Pedidos Merchan Acesso vendedor regular completa pagto entrega pós-venda extras dising fácil 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 3 4 6 7 5 10 8 9 Coeficiente de Spearman = 0,9152, significativo para alfa = 0,02% Clientes 1 2 3 4 5 6 Gestores Log 3 2 1 4 6 5 7 7 ALTO ALINHAMENTO 8 9 10 10 8 9 Coeficiente de Spearman = 0,9030, significativo para alfa = 0,03% Gestores Com 2 1 3 4 6 7 Gestores Log 3 2 1 4 6 5 5 7 ALTO ALINHAMENTO 10 8 9 10 8 9 Coeficiente de Spearman = 0,9152, significativo para alfa = 0,02% ALTO ALINHAMENTO Quadro 11 – Grau de alinhamento entre respostas forçadas dos clientes e dos gestores comercial e logístico. O resultado das respostas espontâneas mostra, no geral, um acerto com os níveis de importância das variáveis. À exceção do atributo compras pelo formato retira, as médias apuradas revelam para os atributos um nível de importância alto ou muito alto. Contudo, as respostas espontâneas são pouco úteis para hierarquizá-los. 4.3 A Visão dos Gestores Segundo o Nível Hierárquico Uma questão importante a ser analisada é se nível gerencial do gestor interfere significativamente na sua percepção sobre as necessidades dos clientes. O Quadro 5 mostra que dos 52 dirigentes, 11 pertencem a alta administração, 20 são médios gestores e 21 atuam num nível mais baixo da administração. Dos três grupos estudados, apenas os gestores da alta administração oferecem respostas espontâneas alinhadas significativamente com as respostas espontâneas dos clientes. O coeficiente de Spearman entre as respostas dos altos gestores e clientes foi de 0,7321 com nível de significância de 0,19%; para os gestores médios, 0,1679 com alfa igual a 54,99%; para os gestores de nível hierárquico mais baixo, 0,3000 com alfa igual a 27,73%. O Quadro 12 apresenta as médias e os rankings das respostas assinaladas. 13 Clientes Gestores Alto Gestores Médio Média Rank Média Rank Média Rank Regularidade do prazo de entrega 9,3189 1 9,2500 2 8,7222 5 Qualidade atend. dos vendedores 9,2632 2 7,6667 10 8,4444 8 Entrega completa 9,2219 3 9,0000 3 8,5556 6 Tamanho do prazo de entrega 9,1225 4 9,2500 1 8,5000 7 Assistência pós-venda 9,1113 5 8,0000 7 8,0556 13 Diferentes possibilid. negociação 9,0199 6 8,1667 5 8,7778 4 Qualidade do serviço de entrega 8,9404 7 8,0833 6 7,9444 14 Freqüência de passagem vendedor 8,7831 8 8,5833 4 9,0000 2 Pedidos extras produtos/ quantid. 8,6545 9 7,7500 9 8,4444 9 Merchandising 8,6507 10 7,0000 14 7,3333 15 Forma de pagamento 8,4520 11 7,5833 11 8,9444 3 Prazo de pagamento 8,3278 12 7,5000 13 9,0556 1 Limite de crédito oferecido 7,8821 13 7,5000 12 8,1111 12 Acesso fácil/direto ao fornecedor 6,9583 14 7,9167 8 8,3333 10 Compras pelo formato retira 5,2990 15 6,5833 15 8,2222 11 Quadro 12 – Graus de importância admitidos pelos gestores, segundo o nível hierárquico. Atributo Preço RANKING Clientes Gestores Alto 1 3 Gestores Baixo Média Rank 8,1818 5 7,4091 12 7,6364 8 8,5455 2 8,0455 6 9,0000 1 7,1818 15 8,4545 3 7,5000 10 7,2273 14 8,2273 4 7,7273 7 7,2727 13 7,5909 9 7,5000 11 Atend Prazo Entrega Prazo Serviço Assist Pedidos Merchan Acesso vendedor regular completa pagto entrega pós-venda extras dising fácil 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 4 7 6 5 10 8 9 Coeficiente de Spearman = 0,8788, significativo para alfa = 0,08% Clientes 1 2 3 4 5 6 Gestores Méd 2 1 3 7 4 6 7 5 ALTO ALINHAMENTO 8 9 10 10 8 9 Coeficiente de Spearman = 0,8667, significativo para alfa = 0,12% Clientes 1 2 3 4 5 6 Gestores Baixo 2 1 4 3 6 7 7 5 ALTO ALINHAMENTO 8 9 10 10 8 9 Coeficiente de Spearman = 0,9030, significativo para alfa = 0,03% ALTO ALINHAMENTO Quadro 13 – Grau de alinhamento entre respostas forçadas dos clientes e dos gestores segundo o nível. As respostas hierarquizadas dos três grupos de gestores mostram um alto grau de alinhamento com as respostas dos clientes. De acordo com o Quadro 13, o grau de alinhamento das respostas do grupo de gestores hierarquicamente mais baixo foi o mais alto dos três. O grupo dos altos gestores teve um alinhamento ligeiramente superior ao grupo da média administração. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Bowersox e Closs (2001) indicam que as convicções básicas do benchmarking envolvem a busca do aperfeiçoamento contínuo das operações de uma organização e a necessidade de identificação e estudo das melhores práticas do mercado. A primeira convicção envolve melhorias no ambiente interno, enquanto a segunda requer uma avaliação externa. A identificação e redução de gaps existentes entre as percepções de clientes e gestores são importantes para que uma empresa possa estabelecer uma estratégia de serviço ao cliente mais robusta e consistente. O serviço tem gradativamente ocupado mais espaço na cesta de motivações para a fidelização de clientes, exigindo novos trabalhos de investigação que lancem luz sobre o tema. O presente estudo mostra a percepção de agentes externos e internos à organização de um mesmo conjunto de indicadores e as lacunas de percepção existentes. Parte-se do pressuposto que as estratégias de uma organização tendem a refletir o 14 conhecimento de seus dirigentes sobre o mercado e que quão mais próximas estiverem suas percepções das reais necessidades dos clientes, maior o nível de acerto de suas estratégias. Nas respostas espontâneas dos clientes, dos quinze atributos analisados, doze receberam avaliação muito importante; o item com maior média foi regularidade do prazo de entrega (9,3189) e o item com média menor foi compras pelo formato retira (5,2990). Nas respostas dos gestores, oito receberam avaliação muito importante; a média maior foi para diferentes possibilidades de negociação de preços e prazos de pagamento (8,7308) e a menor para merchandising (7,2115). À exceção do acesso fácil e direto ao fornecedor e do formato retira nas respostas dos clientes, todos os atributos receberam média final entre importante e muito importante. Os resultados com médias altas não surpreendem, tendo em vista que os atributos foram colhidos dentre os citados como mais importantes na literatura. Os testes de Spearman revelaram um nível alto de consistência para os resultados apreendidos dos clientes. As respostas espontâneas dos clientes sobre o conjunto de atributos referenciados convergiram com os resultados forçados, colhidos de forma comparativa e hierarquizada. Por outro lado, não foi observado um grau de convergência significativo entre as respostas espontâneas dos gestores e suas respostas comparativas e hierarquizadas. Sem embargo, as respostas comparativas e hierarquizadas dos gestores tiveram um alto grau de alinhamento com as respostas dos clientes. Isto sugere que a avaliação comparativa e hierarquizada força uma reflexão mais profunda no momento da resposta e torna o método forçado mais confiável para a definição de uma escala de prioridades. As comparações que envolveram as respostas de subconjuntos de gestores com as respostas dos clientes não revelaram diferenças consistentes pela natureza específica da função (comercial e logística) ou pelo nível hierárquico de atuação (alta, média e baixa administração). Todos os subgrupos mantiveram nas respostas um alto grau de alinhamento com as respostas dos clientes, num nível de significância inferior a 1%. Saber o que pensam os clientes não é condição suficiente para o estabelecimento de uma estratégia empresarial, mas é condição essencial para delineá-la adequadamente. Ao apreender com mais precisão as percepções dos clientes, as empresas passam a ter elementos importantes para criar um diferencial competitivo em suas estratégias. Tomando como base um conjunto de atributos do marketing e da logística, o objetivo deste artigo foi avaliar em que medida o pensamento dos dirigentes de empresas distribuidoras está alinhado às necessidades do serviço requerido pelos clientes. Alinhado aqui não significa necessariamente fazer o que o cliente quer ou precisa. Significa, essencialmente, saber o que o cliente deseja e prioriza. Este conhecimento, aliado a outros elementos como o posicionamento dos concorrentes e a disponibilidade de recursos internos, ajudarão a organização a delinear cursos alternativos para as suas estratégias, especialmente aquelas voltadas para a satisfação do cliente. 6 REFERÊNCIAS ABAD, Ranking 2005, Revista Distribuição, v. 13, n. 147, p. 70-173, São Paulo, 2005. BOWERSOX; D.J.; CLOSS, D.J. Logística Empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimentos. São Paulo: Atlas, 2001. COOPER, D; SCHINDLER, Pamela. Métodos de Pesquisa em Administração. 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