UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIA DA MOTRICIDADE HUMANA A CANOAGEM COMO MANIFESTAÇÃO ESPORTIVA DE IDENTIDADE CULTURAL DO ESTADO DO PARÁ EVALDO JOSÉ FERREIRA RIBEIRO MALATO RIO DE JANEIRO DEZEMBRO - 2009 UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIA DA MOTRICIDADE HUMANA A CANOAGEM COMO MANIFESTAÇÃO ESPORTIVA DE IDENTIDADE CULTURAL DO ESTADO DO PARÁ Por EVALDO JOSÉ FERREIRA RIBEIRO MALATO Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Ciência da Motricidade Humana. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia Menezes Costa. Orientador: (in memoriam): Prof. Dr. Manoel José Gomes Tubino. RIO DE JANEIRO DEZEMBRO - 2009 2 UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIA DA MOTRICIDADE HUMANA A CANOAGEM COMO MANIFESTAÇÃO ESPORTIVA DE IDENTIDADE CULTURAL DO ESTADO DO PARÁ EVALDO JOSÉ FERREIRA RIBEIRO MALATO Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Ciência da Motricidade Humana. Banca Examinadora Rio de Janeiro, _________________________________________ Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia Menezes Costa Orientadora Orientador: (in memoriam): Prof. Dr. Manoel José Gomes Tubino. _________________________________________ Prof. Dr. Olavo Feijó _________________________________________ Prof. Dr. Jorge França 3 RIO DE JANEIRO DEZEMBRO - 2009 AGRADECIMENTOS A Deus, pela oportunidade de estudo e aperfeiçoamento concedida. A minha mãe, pela paciência, boa vontade e fé em todos os momentos importantes da minha formação educacional. Aos meus filhos, Evaldo Jr, Rafael, Thomaz e Tainá, razões maiores de minha luta. A minha irmã Eliana Ribeiro, pela orientação paciente nesta elaboração do saber. A Dra. Nazaré Dias, pelo apoio empreendido os diversos momentos desta construção. Ao Dr. André Mesquita, que ultrapassando os limites da amizade transformouse em co-orientador incansável nesta pesquisa. Aos avaliadores do questionário aplicado nesta pesquisa, Profº Dr. Pedro Paulo Maneschi, Profª Msc. Mirleide Chaar Baia, Profº Msc. Denis terezani e Profª Msc..Vera Fernandez. Aos Examinadores de minha banca examinadora de defesa de mestrado, Dra. Vera Costa, Dr. Olavo Feijó e Dr. Jorge França, pelas suas significativas correções e sugestões. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho, A meu pai, Eládio Malato (in memoriam), caboclo ribeirinho, remador do município de Ponta de Pedras, que tanto navegou pelas “ruas de rio” do Pará. Ao grande mestre Manoel José Gomes Tubino (in memoriam), que comungou com minha ideologia e se abraçou comigo no compromisso de alavancar o desenvolvimento desta nova modalidade no mundo do esporte. 5 RESUMO A CANOAGEM COMO MANIFESTAÇÃO ESPORTIVA DE IDENTIDADE CULTURAL DO ESTADO DO PARÁ Por EVALDO JOSÉ FERREIRA RIBEIRO MALATO Universidade Castelo Branco Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana Orientador: Prof. Drª Vera Lúcia Menezes Costa Número de palavras: 206 Esta pesquisa tem como objetivo compreender a Canoagem Tradicional como uma manifestação do lazer na cultura esportiva do Pará, descrevendo o fenômeno enquanto prática cultural no Pará. Da mesma forma investigar a prática cotidiana dos ribeirinhos no uso de suas canoas, relacionados aos aprofundamentos dos estudos realizados com as manifestações Esporte- Educação e Esporte-Lazer utilizando-se como meio a canoagem. Trata-se de um estudo exploratório descritivo que procurou responder algumas questões importantes à solução de sua problematização, em um universo de 30 entrevistados, sendo estes ribeirinhos. Registra em planilhas os dados coletados de forma individual, tratados por meio de procedimentos descritivos, verificando a distribuição percentual entre os avaliados para perceber como é a utilização das canoas nas diversas comunidades ribeirinhas, inclusive em aspectos relativos à construção das canoas e técnicas de remadas utilizadas e como se constituiu a identidade cultural da Canoagem Tradicional do Pará a partir da percepção de seus praticantes quanto à construção discursiva, sentimento de pertencimento, comunidades imaginadas e tradição inventada. Investigou também como a Canoagem chegou ao Brasil e nas regiões ribeirinhas da região do Pará e como esta se relaciona com o fenômeno sóciocultural do esporte nas suas manifestações de exercício do direito às práticas esportivas (Esporte-Educação, Esporte-Lazer e Esporte de Desempenho). Palavras-chave: Esporte. Lazer. Prática esportiva. Canoagem. Cultura. 6 ABSTRACT CANOEING EXPRESSION AS A SPORT CULTURAL IDENTITY OF THE STATE OF PARA Por EVALDO JOSÉ FERREIRA RIBEIRO MALATO Universidade Castelo Branco Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana Adviser: Prof. Drª Vera Lúcia Menezes Costa Number of words: 217 This research has the purpose to understand traditional canoeing as a manifestation of leisure in cultural sports of Pará State, describing the phenomenon of riparian canoeing as cultural practice in this State. It intends to investigate the everyday practice of the riparian people of Pará State and the usage of their canoes relating the depth of the study to the Sport-Educational manifestations and the Sport-Leisure manifestations having the canoeing as its way. It’s about an exploratory and descriptive study that intends to answer a few important questions regarding the theme, amongst 30 riparian people interviewed. All collected data is registered in sheets individually and treated with descriptive procedures, verifying the percentage distribution among the evaluated to have the idea of how the canoes are used around many riparian communities, including the building aspects and the rowing techniques used and how the cultural identity of the traditional canoeing of Pará State was established from the perception of the people regarding to the discursive construction, sense of belonging, imaginary communities and invented tradition. It also investigates how canoeing was introduced to Brazil and to the riparian regions of Pará State as well, and how it relates with the socio-cultural phenomenon of sport on its manifestations of exercise of the right to the sportive practices. (Education-Sport, Sport-Leisure and Performance Sport. Key-Words: Sport. Leisure. Sportive practicing. Canoeing. Culture. 7 SUMÁRIO Resumo....................................................................................................... 06 Abstract....................................................................................................... 07 CAPÍTULO I – O PROBLEMA DO ESTUDO 10 Introdução.................................................................................................. 10 Inserindo na Ciência da Motricidade Humana............................................ 13 Objetivos do estudo ................................................................................... 14 Objetivo Específico .................................................................................... 15 Questões norteadoras ............................................................................... 15 Delimitação de estudo ................................................................................ 15 Conceitos Básicos ...................................................................................... 15 CAPÍTULO II – OS CAMINHOS METODOLÓGICOS 18 Modelo de Estudo ...................................................................................... 18 Amostra ...................................................................................................... 19 Instrumentos do Estudo ............................................................................. 19 Validação do Questionário ......................................................................... 21 Coleta de Dados ........................................................................................ 22 Tratamento estatístico ...................................................................... 22 Comitê de Ética 22 ............................................................................ Esquema de Desenvolvimento E Organização do Estudo ........................ 23 CAPÍTULO III – REFERENCIAL DE APOIO DO ESTUDO 24 A Questão do meio ambiente...................................................................... 24 8 A Canoagem: Origem, Início e Desenvolvimento....................................... 27 A Canoagem no Pará ................................................................................. 29 O esporte-lazer e a canoagem no Pará...................................................... 32 Canoagem tradicional - com quantos paus se faz uma canoa................... 33 CAPÍTULO IV - IDENTIFICAÇÃO DAS CATEGORIAS REFERENCIAIS PARA A IDENTIDADE CULTURAL Referências para uma identificação cultural ……………………………… 46 46 CAPÍTULO V - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS…………………... 49 CAPÍTULO VI - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES........................... 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 57 ANEXOS..................................................................................................... 60 ANEXO I...................................................................................................... 61 ANEXO II..................................................................................................... 63 ANEXO III.................................................................................................... 66 ANEXO IV................................................................................................... 70 9 CAPÍTULO I O PROBLEMA DO ESTUDO Introdução A Amazônia, denominada por muitos como o “pulmão do Mundo” por sua extensa riqueza de grandes vegetações, é irrigada por inúmeros e grandes rios, e as margens destes encontram-se nossa população ribeirinha que vive sobrevivendo do extrativismo local, como da pesca, da fauna e da flora. Segundo diversas estatísticas, a Amazônia hoje representa o maior reservatório de água doce do mundo, a quantidade de rios e afluentes é tão grande que difícil se torna a tarefa de os enumerarmos e, por isso, o meio de transporte usual da região são as embarcações. Existem diversos tipos de embarcações que vão das simples canoas a grandes navios, isto tudo criado pelo motivo da população se locomover e transportar seus produtos. Sabe-se que desde o inicio da humanidade os homens necessitaram criar formas de adaptação ao meio natural inventando instrumentos que possibilitassem a sua sobrevivência, e assim, tiveram que criar o meio de se transportar sobre as águas. Surgiram então as canoas, já que a grande riqueza de nossas florestas, com seus troncos de arvore. Até hoje essas canoas são utilizadas, sendo denominadas de canoa tradicional, por ser uma tradição centenária, necessária e bastante comum à nossa comunidade ribeirinha. Tal artefato também se transforma entre os ribeirinhos em poderoso mecanismo de prática esportiva, seja como lazer ou competição. Considerado como um fenômeno sociocultural muito importante no panorama de final de século, o esporte envolve a prática de atividades predominantemente físicas, que são permeadas por competições com finalidade recreativa ou profissional, ou ainda atividades físicas não competitivas, objetivando apenas o lazer. Trata-se de um fenômeno que traz grandes contribuições aprimoramento físico, para a intelectual formação, e psíquico o desenvolvimento de seus e/ou praticantes e espectadores, além de permitir a criação de uma identidade esportiva para a inclusão social. 10 Sendo uma ação social institucionalizada, que identifica regras para sua aplicabilidade, traz indiscutível relevância nas relações interpessoais e internacionais, garantindo renovadas dimensões sociais que vêm a provocar uma revisão conceitual em todos os campos do conhecimento inerentes à sua interdisciplinaridade (TUBINO, 1992). Entre as modalidades esportivas existentes, os esportes da natureza representam uma ação que pode aliar a simples prática do esporte às questões ecológicas, já que se faz necessário trazer para a vivência do indivíduo a formação de uma consciência ambiental, trabalho este que pode ser desenvolvido pela educação, através de propostas nas quais o esporte seja apresentado de forma lúdica, educativa e contributiva para o processo de amadurecimento humano. É neste contexto que se pode definir o esporte como uma ação coletiva, à qual os indivíduos ao participarem buscarão o ambiente como razão de ser de múltiplas atividades de lazer, afetivas, possibilitando o surgimento e o fortalecimento de culturas esportivas, com a promoção, a recuperação e até a manutenção da saúde. Há ainda a perspectiva do esporte como dimensão constitutiva do lazer para o homem. Ao definir-se como um conjunto de ocupações as quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para divertir-se ou recrear-se, ou ainda para desenvolver sua formação e sua livre capacidade criadora, que não busca outra recompensa além da satisfação provocada pela própria atividade de lazer. Nesta dimensão de lazer, o esporte traz em seu bojo relações éticas diferenciada daquelas contidas no trabalho sendo um espaço privilegiado de trocas culturais. Entre estas modalidades de esporte, existem aquelas que possibilitam a interação do homem com o meio ambiente, levando-os à reflexão dos impactos da presença humana na natureza, constituindo a garantia de uma atitude pessoal com relação ao meio ambiente. Neste sentido, o esporte tem oportunidade de contribuir no resgate dos verdadeiros valores humanos, proporcionando sensibilidades já não mais tão vividas e apreciadas no cotidiano formando o elo entre o homem e si mesmo, favorecendo assim a união das partes de um homem fragmentado ao longo dos anos por suas próprias mãos. 11 Entre as modalidades de esporte da natureza, a canoagem representa ao longo de toda a história a humanidade, a aspiração humana de dominação de rios e mares, na qual se empreendeu esforços para o desenvolvimento de técnicas de navegação empreendendo grandes esforços e sacrifícios. Com o surgimento de materiais modernos a canoagem teve um enorme crescimento e especialização, sendo desenvolvido um enorme número de tipos de embarcações procurando atender às necessidades de cada uso. É uma modalidade esportiva regida internacionalmente pela I. C. F. (International Canoe Federation) e nacionalmente pela C. B. Ca (Confederação Brasileira de Canoagem) atualmente constituída de 10 modalidades, diferenciadas pelo meio que são praticadas, podendo ser em mares, rios, lagos e piscinas, e pelos regulamentos que regem cada uma. Dentre essas modalidades não está incluída a canoagem tradicional praticada pela população ribeirinha dos rios que cruzam este país. Este fato evidencia a pouca ênfase na identidade cultural esportiva do país, na maioria das vezes instalada regionalmente. Uma possível explicação para esta constatação pode estar na reduzida força de uma prática cultural esportiva vivenciada entre a população ribeirinha. Assim sendo, a presente pesquisa tem propósito de investigar a identidade cultural do esporte canoagem tradicional ribeirinha bem como evidenciar caminhos possíveis para a valorização desse esporte junto à administração Central de Canoagem, promovendo-o nas manifestações de Esporte-Educação, Esporte-Lazer, Esporte de Desempenho ou Rendimento. A investigação em questão justifica-se por partir de uma realidade regional da região do Pará, praticada culturalmente e que, após o estudo receberá novos conhecimentos que certamente poderão influenciar esta significativa prática esportiva, criando condições para um aumento quantitativo e qualitativo deste esporte. No ano de 1997, por meio de um curso de capacitação de monitores realizado em nossa cidade, pela Confederação Brasileira de Canoagem foi iniciada em nossa cidade o trabalho com essa nova modalidade esportiva já existente em nossa região, fundando o primeiro núcleo na Universidade Federal do Pará às margens do rio Guamá e lá foi implantado o primeiro pólo de canoagem no Pará. O autor dessa iniciativa é o professor Eduardo Malato, autor dessa pesquisa. 12 Com o sucesso das atividades foram criados novos núcleos de origens ribeirinhas nas ilhas de Outeiro, Combu, Mosqueiro e nos municípios de Jubim e Quianduba. A modalidade da canoagem implantada foi a canoagem de velocidade na qual foram utilizados caiaques de fibras e remos de pá dupla, modalidade esta que apesar de sempre ser bem aceita pelos praticantes, provocou-me as seguinte inquietações: (a) por quê exportar essa cultura que se origina dos povos esquimós do Canadá em detrimento e desvalorização a nossa? (b) Por quê utilizar nossas canoas tradicionais, originárias da cultura da região e tão familiarizadas por nossos ribeirinhos? Mas apesar de tal organização à referência do modelo estrangeiro os ribeirinhos inventaram suas tradições, formaram seus pertencimentos, pois com a necessidade de criar e de instituir suas criações esportivas, vão imaginando e construindo outros mundos para além daquele que lhes é familiar, o do simples transporte para uma prática esportiva. É dentro desse contexto da criação humana que os praticantes de esportes nos rios amazonenses foram construindo suas ações na direção da vivência de algo novo, isto é, uma modalidade esportiva que ainda necessita de reconhecimento de sua identidade. Hoje, na relação das inúmeras modalidades esportivas da Confederação Brasileira de Canoagem, já existe a Canoagem Tradicional. Fico a perguntar por que não se usa este valioso processo de valorização cultural e resgate da identidade esportiva da região? A grande problemática disso tudo é fazê-los entender que a simples e cotidiana canoinha de madeira utilizada pelos ribeirinhos somente nas suas atividades cotidianas é passível de ser transformada em uma modalidade esportiva de reconhecimento nacional e até mesmo mundial, com suas técnicas de remadas aprimoradas, calendários de competições devidamente organizados com planos de mídia e marketing e principalmente visando uma melhor integração entre as comunidades, além das possibilidades de aplicação na rede escolar da região. 1.1 - Inserção na Motricidade Humana A Ciência da Motricidade Humana ao estudar a energia para o movimento intencional da transcendência, afirma que o ser humano supera e supera-se, no processo de construção da sua identidade própria. 13 Segundo Maturana (1999) apud Manuel Sérgio (2003), afirma que a emoção fundamental, que torna possível a história da hominização, é o amor sem a aceitação do outro na convivência, não há fenômeno social. É necessário compreender a fenomenologia dos indivíduos praticantes da canoagem como objeto teórico e formal da CMH (Ciência da Motricidade Humana), mais especificamente em uma perspectiva sócio-cultural, verificando, analisando, interpretando e classificando suas condutas motoras intencionais. O objeto prático do estudo são as condutas motoras e o comportamento motor relativos à prática da Canoagem. A compreensão fenomenológica do objeto de estudo pesquisado foi num contexto cultural, não utilizando a compreensão fenomênica (bio-física). Na opinião de Beresford (2000), a compreensão fenomenológica acontece quando: “Compreendemos fenomenologicamente um fenômeno quando indagamos sobre suas causas e variações de sentido essencial em uma determinada circunstância, facticidade e corporeidade, ou seja, quando buscamos os nexos mediatos de antecedência, de conseqüência e de interdependência, capazes de nos esclarecer sobre o contexto cultural (historicidade + natureza) de uma vida existência humana, ou sobre a estrutura dos aspectos relacionados com o fenótipo de um fato (fenômeno ou de um objeto de estudo investigado)”. O produto final da cultura do Ser do Homem é o somatório dos aspectos fenomênicos e fenomenológicos. O tema do estudo: A Canoagem como uma manifestação esportiva de identidade cultural do Estado do Pará pode ser inserido na CMH na área do esporte e da cultura, segundo a linha de pesquisa. 1.2 – Objetivos A pesquisa será desenvolvida no sentido de atingir um objetivo geral e seus conseqüentes objetivos específicos. 1.2.1 – Objetivos Gerais Compreender a Canoagem Tradicional como uma manifestação do lazer na cultura esportiva do Pará. 14 1.2.2 – Objetivos Específicos 1. Investigar a prática cotidiana dos ribeirinhos no uso de suas canoas. 2. Descrever o fenômeno da canoagem ribeirinha enquanto prática cultural no Pará. 3. Relacionar os aprofundamentos dos estudos realizados com as manifestações Esporte-Educação e Esporte-Lazer utilizando como meio a canoagem. 1.3 – Questões orientadoras A pesquisa propôs-se a responder algumas questões importantes à solução de sua problematização: Como é a utilização das canoas nas diversas comunidades ribeirinhas, inclusive em aspectos relativos à construção das canoas e técnicas de remadas utilizadas? 1. Como se constituiu a identidade cultural da Canoagem Tradicional do Pará a partir da percepção de seus praticantes quanto à construção discursiva, sentimento de pertencimento, comunidades imaginadas e tradição inventada? 2. Como a Canoagem chegou ao Brasil e nas regiões ribeirinhas da região do Pará? 3. Como a Canoagem Tradicional do Pará se relaciona com o fenômeno sócio-cultural do esporte nas suas manifestações de exercício do direito às práticas esportivas (Esporte-Educação, Esporte-Lazer e Esporte de Desempenho)? 1.4 - Delimitação do Estudo O estudo ficou delimitado às observações e experiências do autor junto às comunidades ribeirinhas do Pará, uma vez que a escassez de literatura específica sobre o tema se apresenta escassa. 1.5 – Conceitos Básicos Canoagem Tradicional do Pará: é o uso de qualquer embarcação movida a remo, tendo como objetivo a subsistência da comunidade local, o transporte, a 15 caça e a pesca, ou seja um venerado instrumento utilitário, veementemente vinculado às nossas raízes etno-históricas, cedendo espaço para a manifestação da canoagem contemporânea (TEREZANI, 2008). Canoagem: é o simples fato de conduzir qualquer objeto flutuante auxiliado por um remo, ou ainda o simples ato de andar de canoa. Em geral tal atividade ocorre dentro da água ou em qualquer outro líquido similar (MERKLE, 1993). Esporte de Desempenho (Rendimento): O esporte de rendimento é disputado obedecendo rigidamente as regras e os códigos existentes,específicos de cada modalidade esportiva. Por isso é considerado um tipo de esporte institucionalizado, do qual fazem parte federações internacionais e nacionais que organizam as competições no Mundo todo. (Tubino, 1993) Esporte na Natureza: São também chamados Esportes Radicais, onde o risco, a incerteza e o desafio extremo são elementos presentes a esta corrente esportiva. Pelas suas características, esta corrente tem grande apelo na mídia. Os quatro ambientes (terra, água, ar e gelo/neve) propiciam uma série de esportes (TUBINO, 2007). Esporte: fenômeno sócio-cultural, que tem no jogo o seu veículo cultural e na competição o seu elemento essencial e que nas suas diferentes formas, contribui para a formação e aproximação dos seres humanos ao reforçar o desenvolvimento de valores como a moral, a ética, a solidariedade, a fraternidade e a cooperação, o que torna num dos meios mais eficazes para a convivência humana (TUBINO, 2006). Esporte-Educação: O esporte na educação é apenas mais um meio de formação para a cidadania e para o lazer, e não pode se constituir numa reprodução do esporte de rendimento. Esta manifestação esportiva exige princípios próprios e estratégias formais e não-formais específicas de disputa esportiva, devendo acompanhar as próprias evoluções esportivas ocorridas nas ações educativas (TUBINO, 2007) Esporte de Identidade Cultural: são aqueles que, pela sua vinculação cultural, chegam a representar alguns países (Ex.: Sumo/Japão; Cricket/Inglaterra; Petanque/França). Os esportes de criação nacional e os esportes indígenas fazem parte desta corrente ou categoria. Também esportes de origem de outra nacionalidade se fixam em alguns países, incorporando-se 16 às suas culturas e assim também passam a constituir-se como esportes de identidade cultural (Ex.: Futebol/Brasil; Baseball/Japão e Venezuela etc) (TUBINO, 2007). Esporte-Lazer: é a “dimensão social do esporte referenciado com o princípio do prazer lúdico, e que tem como finalidade o bem-estar social dos seus praticantes”. Sua realização se dá através de uma livre “escolha” – onde se encontra embutida a ação voluntária e a ação opcional – denotada pela liberdade de realização (TUBINO, 2006). Inclusão Social: É o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papeis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos (SASSAKI, 1997). 17 CAPÍTULO II OS CAMINHOS METODOLÓGICOS Neste capítulo serão relatados os procedimentos metodológicos a partir de uma seqüência lógica, a saber: 1) Modelo de estudo; 2) A amostra; 3) Esquema de desenvolvimento da pesquisa; 4) Instrumentos do estudo; 5) Validação do roteiro de entrevistas; 6) Coleta de dados; 7) Tratamento estatístico. 2.1 – Modeçlo de Estudo Esta investigação caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, do tipo de investigação Survey com questionário e com delineamento ex post facto, onde descrevem situações de eventos coletivos a partir de dados primários; podendo ser qualitativos ou quantitativos (no caso qualitativo). Thomas e Nelson (2002) advertem quanto a importância da pesquisa descritiva ao afirmar que ela é “um estudo de status e é amplamente utilizada na educação e nas ciências comportamentais”. Os autores consideram que o valor da pesquisa descritiva se baseia na observação, na análise e na descrição objetiva e completa dos fatos o que possibilita a resolução dos problemas e, conseqüentemente, leva à melhoria das situações práticas. Flegner & Dias (1995) corroboram também com esta idéia ao discorrer que o método descritivo “é utilizado para a obter informações acerca de condições existentes, com respeito as variáveis ou condições numa situação”. O tipo de pesquisa utilizada é a investigação (survey) que é usado “não só para descrever condições atuais, mas também para fazer as comparações destas condições com critérios predeterminados ou para avaliação de eficiência dos problemas” (FLEGNER & DIAS 1995) Os fenômenos de situações reais do campo de intervenção serão analisados ligando os fatos ao seu conhecimento, observam-se as disposições recíprocas das diferentes partes do todo e as suas relações com os problemas envolvidos com os mesmos. Segundo Ludke e André (1986) “ao considerar os diferentes pontos de vista dos participantes, os estudos qualitativos permitem iluminar o dinamismo interno das situações geralmente inacessível ao observador externo”. Neste 18 caso, as autoras ressaltam que o pesquisador deve ter especial atenção ao significado que as pessoas dão coisas à vida. Assim a investigação foi entendida como uma pesquisa descritiva, que depende de estudos bem estruturados e planejados que exigem um conhecimento aprofundamento do problema estudado por parte do pesquisador, que deve saber o q deseja avaliar e como deverá proceder para fazê-lo. 2.2 - Amostra Esta pesquisa terá como amostra a entrevista de 30 (trinta) moradores ribeirinhos da localidade de CACHOEIRA DO ARARI – MARAJÓ – PARÁ. A escolha desses grupos de pesquisa é apoiada em Minayo (1994) ao enfatizar que deve haver adequação prática ao objeto de estudo. Diante dessa indicação, estabelecer-se-á como critério para escolher nossos parceiros de pesquisa, aqueles que praticam efetivamente a canoagem. Essa opção também se justificou, analisando a seguinte recomendação de Minayo (1994): a seleção dos sujeitos, na abordagem qualitativa, privilegiou os sujeitos sociais que detém os atributos que o investigador conheceu, considerando-os em número suficiente, para permitir certa reincidência das informações, entendendo-o em sua homeogeneidade fundamental relativa dos atributos, o conjunto das experiências e expressões que se pretendem objetivar com a pesquisa. Acrescenta-se que todos os participantes escolhidos para a realização deste estudo preencherão os critérios iniciais necessários para a seleção do grupo de pesquisa que no caso serão a vivência indiscutível na canoagem e a disponibilidade para a entrevista. 2.3 – Instrumento do Estudo O instrumento utilizado para a coleta dos dados foi a entrevista estruturada contendo questões direcionadas ao tema de estudo, definida por Lakatos e Marconi (1996) como sendo aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido e as perguntas ao indivíduo são predeterminadas. Ela se realiza segundo autores, de acordo com formulário 19 elaborado e é efetuada de preferência com pessoas selecionadas de acordo com um plano. Ludke e André (1986) acrescentam que a entrevista estruturada visa à obtenção de resultados uniformes entre os entrevistados, permitindo assim uma comparação imediata. Na visão de Minayo (1994), a entrevista constitui um instrumento de coleta de informações privilegiado porque a fala pode ser reveladora de condições estruturais, de sistema de valores, normas e símbolos e, ao mesmo tempo, ter a magia de transmitir, através de um porta-voz, as representações de grupos determinados, em condições históricas, socioeconômicas e culturais específicas. Para a realização das entrevistas, foi elaborado um questionário roteiro onde utilizou-se as seguintes questões do tipo fechadas: a) Perguntas fechadas dicotômicas, segundo Lakatos e Marconi (1996) são aquelas que o informante escolhe sua resposta entre duas opções: sim e não. Estes tipos de perguntas serão utilizadas nos itens 1, 3, 4 e 5. b) Perguntas fechadas de múltipla escolha são perguntas que apresentam uma série de possíveis respostas, abrangendo várias facetas do mesmo assunto (LAKATOS, MARCONI, 1996). Este tipo de pergunta foi utilizada no item 8. A escolha das perguntas fechadas se justificará pelas vantagens que apresentam pois segundo Rea e Parker (2000) uma delas é que o conjunto de alternativas de respostas é uniforme e portanto facilita comparações entre os entrevistados. Outra vantagem é que a lista fixa de possibilidades de respostas tende a tornar a pergunta mais clara para o entrevistado. Caso ele tenha alguma dúvida sobre a pergunta ela pode ser esclarecida pelas categorias de respostas além disso, essas categorias podem fazer com que ele se lembre de alternativas que, caso contrário, não seriam consideradas ou seriam esquecidas. Rea e Parker (2000) ainda nos apontam a existência e artifícios para que as desvantagens das perguntas fechadas sejam minimizadas, pois de certa forma, perguntas fechadas forçam os entrevistados a escolher a representação mais próxima da sua resposta real, na forma de uma resposta fixa específica. 20 Serão utilizados ainda perguntas de múltipla escolha com mostruário na confecção dos itens 2, 6, 7, 9, 10 e 11 nas quais, segundo Lakatos e Marconi (1996) as respostas possíveis estão estruturadas com a pergunta, devendo o informante assinalar uma ou várias delas. Finalmente o roteiro de perguntas (anexos 1) foi elaborado com o intuito de obter informações a respeito das seguintes referências: 1) Construção Discursiva Nos itens 1 e 2 destinou-se à obtenção de informações a respeito do entendimento de construção discursiva pelos entrevistados 2) Sentimento de Pertencimento Do item 3 ao item 6 destinou-se à obtenção de informações a respeito do entendimento de sentimento de pertencimento pelos entrevistados. 3) Comunidades Imaginadas O item 7 teve como objetivo obter informações a respeito do entendimento de comunidades imaginadas pelos entrevistados. 4) Tradição Inventada Nos itens 8 a 11 a proposta foi obter informações a respeito do entendimento de tradição inventada pelos entrevistados. 2.3.1 – Validação do Questionário O roteiro de entrevista e das referências teve seu conteúdo validado através de uma análise detalhada de quatro (4) juízes-validadores, considerados notórios na Educação Física e no esporte e que tinham conhecimento da canoagem como atividade pesquisada. Os valores e a percepção dos juízes-validadores escolhidos, quanto à coerência, clareza e validade das perguntas, e dos conceitos das referências formuladas em relação à temática do estudo, serão hierarquizados em dois formulários, que serão anexados ao questionário a às referências intituladas “Parecer” (Anexos). Nestes formulários anexados, o juiz-validador manifestou seu parecer escolhendo entre as opções: manter, retirar ou reformular, para cada pergunta e conceitos do roteiro de entrevista. Quando a opção reformular for escolhida três (3) vezes, a pergunta e o conceito ou o item será reformulado, seguindo as sugestões apresentadas. 21 Dessa forma serão validados o roteiro de entrevista e as referências como instrumento do estudo, possibilitando o desenvolvimento da pesquisa. 2.4 – Coleta de dados Após a aplicação do questionário, na amostra, os dados foram coletados pelo próprio autor, no contato direto com os indivíduos selecionados. À respeito da aplicação do questionário de uma forma direta, Richardson (1985), enuncia que desta forma, existe menos possibilidade de os entrevistados não responderem o questionário ou de deixarem algumas perguntas em branco. Assim sendo, o mesmo autor, complementa afirmando que no contato direto, o pesquisador pode explicar e discutir os objetivos da pesquisa e do questionário, responder as dúvidas que os entrevistados tenham em certas perguntas. Para complementar a coleta de dados foi feita entrevistas de caráter informal com os canoístas , com intuito de reforçar os resultados obtidos. Desta forma, tentou-se eliminar possíveis tendências para ceder a sugestões no seu uso. Este processo é sustentado por Gressler (1983), quando enuncia que: Entre os principais propósitos da entrevista encontramse o de auxiliar na identificação das variáveis e suas relações, sugerir hipóteses e guiar outras fases da pesquisa, coleta de dados afim de comprovar hipóteses e suplementar outras técnicas de coleta de dados. Em resumo, pode-se afirmar que o questionário evidenciou ter o seu raio de atuação suficiente para caracterizar os conjuntos de acontecimentos no início deste capítulo. Entretanto, notou-se que a sua estabilidade interna se mostrou aceitável, possibilitando chegar as informações necessárias ao estudo. Assim sendo, as questões formuladas apresentaram um grau de objeção harmônico com a capacidade interpretativa dos informantes. 2.5 – Tratamento Estatísticos Foi realizada somente a Estatística Descritiva em função da convergência ao tipo de pesquisa, o que encontra respaldo em Costa Neto (2002) e Bunchaft Kellner (1999). Portanto, aplicou-se a análise de freqüência absoluta e relativa. 2.6 – Comitê de Ética Comitê de Ética em pesquisa (COMEP) da Universidade Castelo Branco 22 2.7 – Esquema de desenvolvimento e organização do estudo A pesquisa pode ser expressa por esquema de desenvolvimento e organização do trabalho que expõe os passos seguidos numa lógica, de acordo com as necessidades que o próprio estudo requeria durante o seu desenvolvimento. Para se entender melhor o desenvolvimento do estudo, fazse necessário uma visualização através do esquema a seguir: CAPÍTULO I - O PROBLEMA - Introdução - Objetivos - Questão de Estudo - Justificativa e Relevância - Delimitação de Estudo - Conceitos Básicos CAPÍTULO II – CAMINHOS METODOLÓGICOS - Modelo de Estudo - Esquema de desenvolvimento estudo - Amostra - Instrumento do estudo - Validação do Roteiro da Entrevista - Coleta de Dados - Tratamento Estatístico CAPÍTULO IV – IDENTIFICAÇÃO DAS CATEGORIAS REFERENCIAIS PARA A IDENTIDADE CULTURAL - Construção Discursiva – A cultura nacional como discurso - Sentimento de Pertencimento – As culturas nacionais como representação do pertencimento - Comunidades Imaginadas – As culturas nacionais como comunidades imaginadas - Tradição Inventada – A identidade cultural como tradição inventada CAPÍTULO III – REFERENCIAL DE APOIO AO ESTUDO - A Questão do Meio Ambiente - A Canoagem: Origem, Início e Desenvolvimento - A Canoagem Tradicional do Pará e no Brasil - O Esporte-Lazer e a Canoagem Tradicional do Pará CAPÍTULO V – RESULTADOS E ANÁLISES - Elaboração de um questionário - Validação do mesmo - Aplicação do questionário - Resultados CAPÍTULO V – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 23 CAPÍTULO III – REFERENCIAL DE APOIO AO ESTUDO A finalidade deste capítulo foi desenvolver uma revisão de literatura de apoio ao estudo, sobre a Canoagem, onde foi feita uma síntese sobre a origem a o desenvolvimento da Canoagem no Brasil. 3.1 A questão do Meio ambiente O meio líquido sempre exerceu um grande fascínio sobre o ser humano. Á água, em especial, tem o sinônimo de vida e de desafios. Esses desafios podem ser traduzidos na exploração de mares, lagos e rios, em busca da caça e da pesca, visando a sobrevivência. Já a construção e o uso de embarcações foram imprescindíveis, como nos relata Kohnen (1989), pois as canoas sempre fizeram parte da vida e da evolução do ser humano, ou seja, os primeiros relatos do surgimento de uma canoa modelada, toda em prata, foram encontrados às margens do Eufrates, datando, aproximadamente, 4000 a. C. Dessa forma, essa busca pelo risco e pela aventura em meio aos mares, lagos e rios, foram os grandes incentivos para o surgimento das primeiras embarcações desenvolvidas pelo ser humano. Não se pode abordar um assunto que envolva os temas esporte, lazer e meio ambiente sem discutir a função do poder publico no âmbito de suas atribuições. No âmbito da legislação nacional, especificamente, na Constituição Federal e nas políticas do meio ambiente, lazer e turismo, a Constituição se reporta aos direitos e garantias de todos os seus cidadãos em vários artigos e capítulos, como os elaborados no Capítulo VI, artigo 225, onde diz que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. O seguro deste direito se dá por um série de deveres do Estado, destacando-se aqui, de acordo com os assuntos em questão, os incisos VI e VII, ao definirem, respectivamente: “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” e “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”. De acordo com o exposto 24 anteriormente, que se referem às ações humanas que podem ser lesivas ao meio ambiente, permitem refletir e aludir às práticas corporais na natureza. Concomitantemente, o setor do turismo também vem, há alguns anos, desenvolvendo ações e articulando uma movimentação, no que tange à prática do ecoturismo e do turismo de aventura. A construção de uma Política Nacional envolvendo as Atividades de Aventura não é só de responsabilidade do Ministério do Esporte, Ministério do Turismo, Ministério do Meio Ambiente. Abrangem demais interessados e responsáveis, como demais parlamentos do governo. Segmentos comunitários tradicionais, entidades movimentos sociais privadas, organizados, organizações entidades não-governamentais, esportivas, cientistas, pesquisadores e técnicos mobilizados, populações interessadas, entre outros (LAVOURA, 2008). A cada dia, na sociedade contemporânea, novas práticas de atividades esportivas se consolidam e ganham mais adeptos. Segundo Bahia (2008) o aumento gradativo da busca dessas atividades no contexto contemporâneo tem mobilizado pesquisadores de diversas áreas (Educação Física, Turismo, Biologia, Engenharia Florestal) a uma reflexão mais detalhada sobre os impactos sociais, culturais e ambientais dessas práticas, demonstrando por meio de pesquisas empíricas, que a crescente utilização de algumas áreas vem causando tanto descaracterização sócio-culturais, quanto ambientais, sendo necessárias medidas de manejo e de gestão, capazes de mininizar tais impactos negativos e planejar futuras atividades nas áreas até antão degradadas. Bahia (2005) percebeu que alguns praticantes de vivências diversas na natureza consideravam esta experiência como “status”, alienação de seus problemas ou busca de compensações de seu dia-a-dia, vivendo nessas práticas os mesmos comportamentos adotados nos outros momentos da vida (stress, competitividade, individualismo exarcebado, falta de educação ambiental) e não possibilitando a experiência do “fazer por prazer” e da compreensão de outra forma de viver no mundo, de se relacionar com seus pares e com a natureza. Muitas vezes, exatamente em função de fatores intrínsecos à busca dessas práticas na natureza, para legitimar as ofertas de mercado, mesmo que 25 nem todas estejam comprometidas com nenhum aspecto educativo de valorização e difusão da diversidade biológica, muito menos de vivência de novas atitudes, em relação ao meio ambiente e em relação a seus pares. Ao sistematizar alguns dos principais processos de impactos do lazer na natureza, Barros e Dines (2000), os agrupam em dois aspectos: “ecológicos, quando provocam alterações no ambiente, degradando o solo, a vegetação, os recursos hídricos e a fauna, e sociais, quando causam uma diminuição na qualidade da experiência dos visitantes” (p. 38). Ainda os mesmos autores relatam que nas áreas naturais é comum encontrar sinais evidentes de impactos causados no ambiente por pessoas que freqüentam os rios e as trilhas, como restos de fogueira, lixo, locais devastados, rios com margens desgastadas, erosão em trilhas, etc. Além disso, existem outros impactos graves que nem sempre são tão aparentes como a contaminação das águas, a mudança de hábito da fauna, a alteração na dinâmica de ecossistemas, a ausência de certas plantas nativas, o decréscimo na natalidade de espécies ameaçadas, etc. Bahia e Sampaio (2005) relatam os possíveis impactos resultantes da prática de atividades na natureza, onde é possível verificar que, apesar de algumas modalidades possuírem grau de intensidade grau de intensidade baixo, todas causam algum tipo de impacto sócio-ambiental, cabendo tentar minimizá-los o ma´ximo possível, a fim de aproximar tais práticas de um grau de sustentabilidade aceitável. A Canoagem é classificada com baixo grau de intensidade e seus possíveis impactos negativos são: • Poluição: barulho e lixo, • Distúrbios e alterações da fauna, • Possíveis quebras de pequenos pedaços de rocha em corredeiras (contato com a bóias ou caiaques), • Interferência social e cultural em comunidades próximas envolvidas. A possibilidade de desenvolvimento de um senso de responsabilidade, solidariedade, criticidade e criatividade nas práticas de lazer na natureza, instrumentalizando a sociedade a lidar com problemas ambientais, implica, além de conhecimentos e técnicas, a aquisição de novas atitudes e padrões de comportamento em relação ao ambiente. Porém, tais judanças não serão alcançadas efetivamente até que maior parte dos indivíduos de uma dada 26 sociedade interiorize atitudes e valores mais construtivos que poderão servir de base para uma relação auto-disciplinada entre ser humano e o ambiente (BARROS, 2000). 3.2 – A Canoagem: Origem,inicio e desenvolvimento Desde o inicio da historia da humanidade o homem precisou desloca-se por cima da água em determinados trechos, e logo então surgiram o que hoje podemos definir como: canoas, barcos, navios enfim, diversas são suas nomenclaturas de acordo com os mais variados protótipos e modelos que ate os dias de hoje foram e são criados para a mesma finalidade, a de transportarse obre as águas. E pesquisando sobre a historia da canoagem tomamos conhecimento que os egípcios no séc. XV a.C. e mais tarde os astecas nos séculos III a IX d.C. usavam embarcações propulsionadas com pás que alguns historiadores alegam ser a origem das atuais canoas, muito embora, temos conhecimento que esta necessidade de locomoção sobre as águas tenha surgido desde a origem do próprio homem. Porém, a grande corrente doutrinária afirma que foi no século XVI o registro das atuais concepções de canoa e caiaques. Neste período historiadores registravam a utilização de canoas na América do Norte, utilizando madeira e peles, embarcações leves e rápidas, próprias para enfrentar os rios canadenses, repletos de corredeiras. Enquanto que a canoa era utilizada por indígenas no interior do continente, o caiaque era usado pelos esquimós para pescar e transportá-los entre dois pontos da costa. Esses caiaques eram formados por uma estrutura de madeira, revestida com pele de foca e calafetada com a gordura das articulações daqueles animais. No começo do Século XIX, inspirados nas embarcações acima descritas, os ingleses começaram a utilizar para lazer uma embarcação chamada de “gronelandais”. Este barco deu início aos formatos modernos de caiaques e canoas. Em pouco tempo esta embarcação propulcionada com remos contendo duas pás tornou-se febre na Alemanha e outros países da Europa Central. Jonh Mac Gregor, advogado escocês, é considerado o primeiro a utilizar o caiaque em percursos desportivos (rios e lagos europeus). Desenhou seu próprio barco que batizou de “ROB ROY” e realizou com ele várias expedições 27 cujas memórias resumiu mais narde no livro “Um millier de miles dans lê canoe Rob Roy”. A primeira regata conhecida ocorreu na Bélgica no ano de 1877. Hoje os modernos caiaques e canoas são construídos em resina de poliéster reforçada com fibra de vidro, em sua maioria, ou mesmo em resina epóxi com kevlar ou fibra de carbono, e ainda plástico injetado ou rotomoldado – polietileno. No Brasil, a canoagem surgiu como prática esportiva de forma informal no ano de 1943, através de um imigrante alemão nascido em 1915, o Sr. José Wingen. Ele residiu em Porto Alegre e em 1941 mudou-se para a cidade de Estrela banhada, pelo Rio Taquari, onde decidiu construir uma embarcação de madeira parecida com as que ele utilizava durante a sua infância quando competia pelo Kanu Club da Alemanha. Dessa forma surgiu o primeiro caiaque na região e no país, denominado de "regata", que despertou um enorme interesse pela atividade na comunidade local. Posteriormente, segundo o próprio Sr. José Wingen, a canoagem sofreu com a falta de infra-estrutura, desestimulando os praticantes, mas acabou tendo o seu mais duro golpe com a construção da represa de Bom Retiro, levando a canoagem nacional a um momento de estagnação e descontinuidade” (IMBRIACO, 2001). Somente em meados da década de 70 / 80, a canoagem nacional foi retomada com a chegada dos primeiros caiaques em fibra de vidro trazidos da Europa e da Argentina. Tais embarcações serviram como molde para a construção dos primeiros caiaques nacionais em resina de poliester reforçada com fibra de vidro (IMBRIACO, 2001; ROBBA, 2001). A sua organização, no Brasil, é relativamente recente. A CBCa, Confederação Brasileira de Canoagem, atualmente com sede na cidade de Curitiba, Estado do Paraná. Foi fundada em 1988 com apenas quatro associações filiadas. Apesar de sua pouca idade já está conseguindo resultados expressivos a nível internacional tornando-se conhecida por grande parte da população. Este grande desenvolvimento deve-se ao árduo trabalho estruturado e organizado realizado pela CBCa e ao esforço dos atletas orientados e supervisionados por excelentes treinadores (IMBRIACO, 2001). A CBCA – Confederação Brasileira de canoagem, em sua primeira década de existência, já conseguiu organizar-se de maneira bastante expressiva no cenário internacional e Nacional. Hoje podemos comprovar 28 através de resultados e de sua propia pratica o sucesso da fomentação desta nova atividade esportiva. Nova como modalidade esportiva, porem milenar como meios de suprirmos nossas necessidades cotidianas. 3.3 – A Canoagem no Pará Nossa História começa no ano de 1997 com a iniciativa do Sr. João Thomazini Schuwertner, atual Presidente da Confederação Brasileira de Canoagem, que dedica-se ao compromisso de difundir esta modalidade esportiva em nosso Estado. Primeiro investe na cidade de Santarém - Pará, onde inclusive já conseguiu bons frutos, tendo atletas daquela localidade sagrado-se campeão brasileiro em provas de maratona. Nossa região por ter uma hidrografia muito rica e bela desperta em todos muito interesse em promover o desenvolvimento da canoagem no Estado. Após a estruturação do pólo de Santarém onde inclusive já existe a primeira associação de canoagem do Pará denominada ASCAE - Associação Santarena de Canoagem e Ecologia. presidida por Francisco Miranda. Francisco, formado em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina - RS, nos conta que tudo começou em um congresso que se realizava na cidade de Goiânia, onde pela primeira vez praticou canoagem, se apaixonou pelo esporte, comprou dois caiaques e levou para Santarém, onde reside, lá varias pessoas se interessaram pelo esporte e também adquiriram seus caiaques, dai o surgimento da ASCAE, que segundo ele, já existe a cerca de dez anos. Foi quando o Sr. João Thomazini em uma visita a Santarém, se encanta, e resolve investir no desenvolvimento deste esporte, naquela localidade. Providencia a ida do técnico Cubano Wiliam Flores, técnico da seleção brasileira e destaque internacional no mundo da canoagem, para ministrar um curso de aperfeiçoamento e qualificação de técnicos para desenvolver a canoagem naquela cidade. Após incentivar o desenvolvimento desta prática em Santarém, investe agora em nossa capital. Acreditando em nosso potencial, por sermos um povo ribeirinho, passa a articular-se com a Universidade Federal do Pará, e junto com o Prof. Christian Pinheiro, atual coordenador naquela Entidade, começa a 29 planejar a estruturação de um polo de desenvolvimento da pratica da canoagem em nossa capital. A Universidade Federal do Pará é banhada pelo rio Guamá e possui uma orla muito linda e bastante propícia a esta modalidade esportiva. É quando, em sua primeira atuação na região, a CBCA – Confederação Brasileira de Canoagem, doa à esta universidade 18 caiaques, sendo 09 caiaques escolas , 06 K1 e 03 K2. Em seguida, repetindo o feito em Santarém, a CBCA destaca novamente o técnico Willians Flores para ministrar curso de formação de professores, e acelerar esta prática em nossa cidade. Como já citamos anteriormente, naquela época coordenava as atividades da UFPA o Prof. Christian Pinheiro, profissional muito capaz, dedicado e bastante conceituado dentro daquela universidade que abraça-se também com este compromisso: o de fomentar este desenvolvimento. Na época o professor Christian divulga o curso que teria a duração de uma semana e coordena o mesmo com muita dedicação tendo assim bastante êxito. O curso aconteceu na própria universidade e dividiu-se em aulas práticas e teóricas. Foi gratuito e destinado a formação de novos técnicos. Estiveram inscritos aproximadamente 80 professores o que surpreendeu as expectativas e premeditou o sucesso dessa fomentação. O professor Wiliam nos repassou condições suficientes para este desenvolvimento e ele também se deslumbrou com as nossas condições hidrográficas. O professor Christian, bastante interessado em proporcionar o desenvolvimento desta pratica desportiva em nossa região, injeta-nos estímulos, contando-nos sobre os projetos e viabilização da utilização daquela orla fluvial com esta nova modalidade esportiva que muito tem a ver com nossa origem cultural e com a preservação de nosso meio ambiente Agora o professor Christian luta para viabilizar a implantação destas aulas praticas na universidade e diante a dificuldade em contratar um professor específico para desenvolver essas atividades. Sabiamente, articula-se junto a Prefeitura Municipal de Belém sob a administração do atual Prefeito Edmilson Rodrigues e estrutura a parceria da implantação de um polo desportivo de iniciação a canoagem, onde a universidade cederia o espaço físico e o material 30 necessário a esta pratica e a Prefeitura a mão de obra especializada e os serviços de manutenção necessário ao mesmo. Pela Prefeitura a administração do mesmo se deu junto ao CEAL Coordenadoria de Esportes Artes e Lazer, coordenado pela diretora Lucilia Matos e suas assessoras Andreia Nascimento e Fátima Souza e assessorado pelo professor Ms. Pedro Paulo Maneschy. E é exatamente que neste momento histórico de nossa canoagem que entra positivamente personalidades de fundamental importância para esta fomentação. Esta equipe do CEAL, junto os professores da universidade Ms. Pedro Paulo Maneschy e Christian Pinheiro sabiamente direcionaram nossos primeiros passos, cravando assim seus nomes como os propulsores de nossa historia. Sem dúvida o sucesso dessa implantação se deve ao interesse e dedicação que estes coordenadores nutrem até hoje por este desenvolvimento, colocando-se sempre muito presente e atuante a esta prática. Para o início deste primeiro pólo, programamos uma semana de inscrição e mesmo falhando na divulgação fomos surpreendidos pelo preenchimento das vagas disponíveis já no segundo dia de inscrição. Foram criados nove turmas com vinte vagas em cada e em dois dias cento e oitenta alunos se inscreveram, entre eles alunos da comunidade em geral, alunos da UFPA e da rede Municipal e até mesmo professores que confirmavam com isto o sucesso da implantação da canoagem em nossa região entre os inscritos tínhamos crianças, mulheres e idosos. A canoagem chegou para ser um esporte bastante popular é o que isto confirma nossas conclusões. O pólo começa a funcionar. Caiaques para cá, caiaques para lá, e assim todos remando sem parar. A todo momento sempre novos alunos chegando e interessando-se por esta prática, a oferta não estava suprindo a demanda sempre muito bem orientado por todos meus coordenadores João Thomazini, Christian, Pedro Paulo e a equipe do CEAL, que sempre estavam nos injetando novos estímulos e boas idéias. Vários eventos ecológicos visando a preservação de nosso meio ambiente eram organizados e executados com muito sucesso,. A mídia logo nos achou, contribuindo mais ainda para o nosso desenvolvimento. O Pará deslumbra-se com a nossa canoagem. Estamos atingindo nossos objetivos. 31 3.4 - O Esporte lazer e a Canoagem no Pará As primeiras embarcações surgiram das dificuldades que o ser humano encontrava em meio à natureza, utilizando-se das mesmas para superá-las. Esse fascínio envolvente vinculado à necessidade da navegação, independente da sua natureza resultou da prática da modalidade conhecida atualmente como canoagem. Dessa forma, a canoagem se torna um instrumento útil para a sobrevivência das populações ribeirinhas (canoagem utilitária), ou, funcionar como brinquedo que propicia divertimento, prazer, e turismo aos praticantes de finais de semana (canoagem lazer), até mesmo chegando ao extremo de estimular um atleta e uma embarcação a uma competição (canoagem competição) (TEREZANI, 2004). No entanto dois aspectos prejudicaram a massificação da canoagem no Brasil: 1- O primeiro seria a tardia criação do primeiro órgão administrativo de caráter nacional na canoagem, que surgiu somente em 1985. Infelizmente, os órgãos de caráter nacional-administrativo vieram a estruturar somente após um investimento em massa das empresas especializadas em esportes náuticos, levando o caiaque a ser apenas um material para comercialização, não desenvolvendo-o como um brinquedo, o que daria suporte para o início de sua popularização; 2- O segundo motivo é decorrente do primeiro, em função da não estruturação da modalidade, passando a não propiciar o lazer como chamariz para a prática da atividade canoagem, não acarretava, conseqüentemente, a participação em massa, oq eu passara a aumentar o número de adeptos, tanto em nível participativo quanto em comprometimento. Pode-se perceber que esses dois aspectos expostos acima evidenciam a complexidade da popularização de uma atividade esportiva, que decorrem da aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais. Segundo Marcelino (2000) além do fator econômico, nos deparamos com outras barreiras que dificultam a propagação do lazer, como: gênero, a 32 faixa etária, os estereótipos, as propostas de horários incoerentes para o desenvolvimento das atividades, a falta de democratização dos espaços para o lazer, formando um todo inibidor, limitando o lazer, quantitativa e qualitativamente. No entanto, temos também cidades que desfrutam de condições naturais favoráveis, que é o caso das cidades ribeirinhas do Estado do Pará, para o desenvolvimento desse esporte, com rios, lagos, mar, etc mas, por desenvolverem políticas públicas municipais, não conseguem a propagação desta modalidade. Terezani (2008) afirma que se considerarmos o esporte e o lazer como um direito social, ambos geram a necessidade da intervenção de políticas públicas, tendo em vista todo inibidor para sua prática, estimulando o lazer (incluindo nele o conteúdo físico esportivo), nas suas vertentes participativa, educacional e competitiva. Zingoni (2003) enfatiza o esporte e lazer como setores de menor importância nos planos de governo, faltando mesmo uma Política Pública Nacional no setor, marcado, muitas vezes, pela falta de recursos, fruto de uma falsa hierarquia de necessidades. Dessa forma, para que a canoagem se propague como esporte e lazer pela interferência do Poder Público, a mesma deverá ser incluída nos seus programas esportivos, possibilitando o ingresso de novos interessados e oferecendo-lhes garantia de oportunidades. Outro aspecto fundamental é que sejam estabelecidas ações intersecretarias na chamada área cultural do lazer, atendendo os demais conteúdos do lazer, sendo um deles as atividades de caráter físico-esportivo nas quais a canoagem se insere, como também estabelecer parcerias com a iniciativa privada (TEREZANI, 2008). 3.5 – A Canoagem tradicional – com quantos paus se faz uma canoa O Estado do Pará, talvez um dos estados mais ricos hidrograficamente do Brasil. a canoagem desenvolve-se culturalmente de uma maneira bastante peculiar e especifica, aqui devido a rica vegetação (Floresta amazônica) e a grande variedade de madeiras de Lei, as canoas são construídas artesanalmente com técnicas repassadas milenarmente por nosso ancestrais. 33 Diversos tipos e modelos são desenvolvidos de acordo com cada região onde elas são construídas, mais todas de madeiras e adequadas a suprirem suas necessidades cotidianas. No dia 23 de Março de 2007, a nossa equipe de remadores da AECAVBEL Associação Ecológica de Canoagem e Cela de Belém realizou uma canoata de Belém (Pará) ao vilarejo de Caracará, localizado no município de Cachoeira do Arari, na mesorregião da Ilha do Marajó e microregião do Arari, localizada a 01º 00' 36" de latitude sul e 48º57'36" de longitude a Oeste de Greenwich (PORTAL AMAZÔNIA, 2009). Nosso principal objetivo era o compromisso de aliar o esporte – canoagem tradicional - a uma aventura ecológica e a um gesto de solidariedade social, pois nesta aventura doamos cerca de um mil e quinhentos livros didáticos para o acervo cultural da mini biblioteca da escola daquelas comunidades ribeirinha. Caracará é um grande rio da ilha de Marajó, onde se encontram quatro comunidades ribeirinhas: São José, Santa Clara, Ribolada e Aracajú, próximas uma das outras e ligadas somente por vias de rios. Percebe-se que neste local o principal meio de transporte é a canoa tradicional, construída artesanalmente de uma maneira bastante peculiar e específica, com madeiras de lei devido à rica vegetação (floresta amazônica). Por ocasião da nossa experiência, canoas de diversos tamanhos, tipos e modelos foram vistas ao longo da via fluvial, como se estivéssemos transitando em uma grande cidade apreciando a movimentação dos diversos tipos de veículos. Todos os moradores da localidade, ou grande parte deles, possui sua própria canoa ou casco, nome dado às canoas pelos ribeirinhos, que são utilizadas como meio de suprir as necessidades cotidianas. Desta forma, se dirigem às escolas, às igrejas, à visitação de amigos, aos jogos de futebol, às mercearias, fazendo uso deste meio de transporte como parte essencial de suas vidas. Trata-se de embarcações construídas de tronco de árvores e feitas artesanalmente por eles mesmos através de técnicas repassadas por seus ancestrais. Assim, fica clara a observação de que a canoa tradicional é considerada, para eles, um meio de transporte de maior valia para o seu deslocamento. É fato que desde o inicio da humanidade os homens da Amazônia necessitaram criar formas de adaptação ao meio natural inventando 34 instrumentos que possibilitassem a sua sobrevivência, e assim, tiveram que criar também o meio de se transportar sobre as águas. Surgiram então as canoas, já que em nossas florestas há uma grande riqueza em troncos de árvores. Até hoje essas canoas são utilizadas, sendo denominadas de canoas tradicionais comuns às comunidades ribeirinhas. Essas canoas transformaram-se também em mecanismo de prática esportiva entre os ribeirinhos, tornando-se instrumento de lazer ou competição. Vimos assim, o homem fazendo valer sua capacidade de apropriar-se da realidade natural para garantir a sobrevivência no meio, e, por conseguinte, ainda tornar agradável a sua existência. Segundo Anderson (2008), as vidas humanas estão cheias dessas combinações entre acaso e necessidade. Desta forma, constituída como uma prática esportiva de identidade cultural (TUBINO, TUBINO E GARRIDO, 2007) regional do Estado do Pará, a canoagem tradicional leva em consideração o que os grupos sociais ribeirinhos desenvolveram em suas atividades lúdicas utilizando os recursos disponíveis, a madeira e os rios da floresta, organizando a vida cotidiana como resposta às próprias necessidades. O espaço de lazer e o tempo livre, segundo Costa Neto (2005) passam a ser organizados e vividos por meio de práticas lúdicas que refletem as características básicas da ordem cultural daqueles grupos. Desenvolvê-las enquanto esportes com identidade cultural é cultuá-las pelo imaginário lúdico da comunidade, deixando fluir suas criatividades e invenções. Existe aí também um sentido de gratuidade na adesão às formas esportivas o que faz com que aquela atividade, diz Pinto (1996), neste caso, a canoagem tradicional, encontre um fim em si mesma, fazendo com que a finalidade do jogo de remar pelos rios da Amazônia, seja determinada pelos desejos que movem as ações competitivas ou turísticas, ultrapassando a condição utilitária de transporte, interpenetrando ludicidade e desempenho. O esporte, considerado como um fenômeno sociocultural importante no panorama de final de século XX e neste início do século XXI envolve a prática de atividades predominantemente físicas, que são permeadas por competições com finalidade recreativa ou profissional, ou ainda atividades físicas não competitivas, objetivando apenas o lazer. Trata-se de um fenômeno que traz grandes contribuições aprimoramento físico, para a intelectual formação, e psíquico o desenvolvimento de seus e/ou praticantes e 35 espectadores, além de possibilitar a criação de uma identidade esportiva para a inclusão social. Enquanto uma ação social institucionalizada, pressupõe regras para sua aplicabilidade, traz indiscutível relevância nas relações interpessoais e até internacionais, garantindo renovadas dimensões sociais que vêm a provocar uma revisão conceitual em todos os campos do conhecimento inerentes à sua interdisciplinaridade (TUBINO, 1992). Entre as modalidades esportivas existentes, a canoagem tradicional ribeirinha, um dos esportes da natureza, representa uma ação que pode aliar a simples prática do esporte às questões de cidadania e às ecológicas, trazendo a formação de uma consciência ambiental, trabalho este que pode ser desenvolvido pela educação, através de propostas nas quais o esporte seja apresentado de forma lúdica, educativa e contributiva para o processo de amadurecimento humano. É neste contexto que se pode definir o esporte como uma ação coletiva, à qual os indivíduos ao participarem buscarão o ambiente como razão de ser de múltiplas atividades de lazer, afetivas e sociais, possibilitando o surgimento e o fortalecimento de culturas esportivas, com a promoção, a recuperação ou a manutenção da saúde. Nesta perspectiva do esporte como dimensão constitutiva do lazer podemos compreendê-lo como um conjunto de ocupações as quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para divertir-se ou recrear-se, ou ainda para desenvolver sua formação e sua livre capacidade criadora, que não busca outra recompensa além da satisfação provocada pela própria atividade de lazer. Nesta dimensão de lazer, o esporte traz em seu bojo relações éticas diferenciadas daquelas contidas no trabalho sendo um espaço privilegiado de trocas culturais. Entre estas modalidades de esporte, existem aquelas que possibilitam a interação do homem com o meio ambiente, levando-os à reflexão dos impactos da presença humana na natureza, constituindo a garantia de uma atitude pessoal com relação ao meio ambiente. Neste sentido, a canoagem ribeirinha tem oportunidade de contribuir no resgate dos valores humanos, proporcionando sensibilidades já não mais tão vividas e apreciadas no cotidiano formando o elo entre o homem e si mesmo, 36 favorecendo a união das partes de um homem fragmentado ao longo dos anos por suas próprias mãos. Para desfrutar desse espaço lúdico esportivo de lazer, os ribeirinhos produzem os próprios objetos de prazer, no caso, as canoas tradicionais, consideradas também como um meio de transporte de significativo valor para os seus deslocamentos. Cada um cuida e zela da sua canoa. As técnicas de como remá-las nem mesmo eles sabem dizer como aprenderam, pois desde cedo e pode-se dizer, desde quando nascem já praticam esta atividade e vão, por tradição, recebendo os conhecimentos da remada de seus antecessores, isto é, aprendendo uns com os outros. Incomodados com a feitura de tal objeto e o que representa, mergulhamos junto à comunidade para melhor compreender o processo de construção das canoas, esse processo de como o homem se põe a criar, a transformar com dinamismo a matéria, exercitando o que Bachelard (1990) formulou: imaginação criadora e vontade. E foi assim que tivemos a oportunidade de conhecer o Sr. Messias dos Santos, vulgo Miçanga, que apresentando seu pai, o Sr. Nelson Dias dos Santos (2009), um autêntico caboclo amazônico, de 55 anos, informou ser este o grande construtor de canoas da localidade. Personagem reconhecida na comunidade por sua arte, Seu Nelson nos conta que desde doze anos de idade já trabalhava com seu pai nas construções de canoas tradicionais, e depois do falecimento de seu genitor continuou nessa profissão artesanal de onde tira seu sustento principal. Narra que sua maior dificuldade nos dias atuais está em encontrar as árvores ideais para as fabricações, pois com a exploração desordenada das matas elas estão cada vez mais devastadas, dificultando assim o exercício desta profissão. “Hoje não é mais o caboclo morador da área que tira moderadamente proveitos da natureza para sua sobrevivência, e sim as grandes empresas que vem com seus mais variados maquinários devastando em alta escala nossas florestas em função de lucros e benefícios próprios e nós só ficamos vendo sem nada podermos fazer”, relata Seu Nelson quando aceita prosear sobre sua profissão. Sua denúncia sobre o extrativismo predador nos sensibiliza e nos aumenta o desejo de conhecer suas proezas. Humildemente, e com seu velho machado nas costas, ele nos leva a percorrer a floresta em busca de uma árvore para a construção de uma canoa, espécie que já se encontra em 37 adiantado estado de extinção, já denunciado. Neste local decidimos registrar e catalogar todos os procedimentos técnicos dessa construção artesanal. Seu Nelson, bastante sentido e magoado, nos conta que a maior destruição das matas, ocorre por parte de uma grande empresa, que nem sabe citar o nome, e que há cerca de mais ou menos uma década vem extraindo todos os diversos tipos de madeiras para a confecção de “dormentes”, peças denominadas pelos exploradores. Esses madeireiros se aproveitam dos próprios moradores locais que, ingenuamente, contribuem com a mão de obra mais barata para os devastadores. “É lamentável, além de estarem nos fazendo mal, ainda nos usam como verdadeiros escravos deles e os prejuízos que causam a nossa região são irreversíveis, até a nossa existência”, lamenta seu Nelson, que apesar de seu pouco estudo tem uma visão de águia e sente na pele as mudanças provocadas pelo capitalismo selvagem e a exploração desordenada de seu quintal, a sua Floresta. Sr. Nelson concorda em nos mostrar todos os procedimentos de como se constrói uma canoa tradicional da Amazônia, então fomos apanhá-lo em sua casa nas primeiras horas da manhã e partimos rumo à floresta. Depois de uma hora de caminharmos pela mata à procura de uma árvore ideal para a construção de uma canoa, deparamo-nos com uma árvore abatida no chão ao que o Sr. Nelson informa ao grupo ser uma árvore de sucupira, linda e frondosa, que, segundo ele, chega a mais ou menos uns cinqüenta metros de altura, ainda que as fontes teóricas a coloquem em torno de 16 a 18 metros, o que não descarta a hipótese de, naquela região exuberante, Sr. Nelson ter razão em sua avaliação. A sucupira fornece, segundo Lorenzi (2002), uma madeira dura usada na carpintaria e na construção civil. O poder medicinal dos óleos, bem como das tinturas extraídas de suas cascas, é utilizado pela farmacopéia brasileira (LORENZI & ABREU, 2002). Mas o que merece registro aqui é a denúncia do Sr. Nelson sobre as destruições advindas do progresso. Com o desmatamento ilegal da floresta, são destruídos os habitats mais ricos e diversificados do mundo, espécies animais ficam sem condição de sobrevivência em prol do benefício da extração de matéria prima que possui alto valor comercial no mercado, as queimadas se instituem, a emissão de carbono aumenta na atmosfera interferindo no efeito 38 estufa, no aquecimento global e nas mudanças climáticas. Os habitantes da floresta sujeitos a vivenciarem um processo de desertificação no seu habitat, perdem, ao longo do tempo, sua condição de sobrevivência, uma vez que seus alimentos e remédios retirados das plantas vão desaparecendo. A floresta, se destruída, não terá condições de se recuperar. Nesta etapa da experiência vivenciada, causava admiração extremada a beleza e o encanto da madeira ideal para construções de canoas. Deparamos com mais uma frondosa árvore, e, em seguida seu Nelson prepara o terreno e começa a golpear a árvore com seu afiado machado, e após nada menos que a terceira machadada, ouve-se um grito: PARE!!!!!!!! O grupo não suportava mais ver aquela cena, que já significava grande crueldade. Ninguém ali queria presenciar, aquela árvore linda sendo derrubada, e resolvemos mudar imediatamente a estratégia de se presenciar a construção de uma canoa, já que não era desejo compartilhar com aquela agressão à natureza, uma vez que fazemos parte da AECAVEBEL (Associação Ecológica de Canoagem e Vela de Belém), que trabalha em prol da proteção do meio ambiente. Encontra-se aqui um paradoxo: necessitamos de um artefato para deslocamento, que permita a recreação e o esporte no rio, mas que para a sua construção demanda que alguma coisa do ambiente seja destruída, sendo usada a potência da natureza em detrimento da realização de nosso desejo e necessidade. Nossa indignação tem, para seu apoio, a teoria do desenvolvimento sustentável que prescreve o desenvolvimento econômico e social com políticas de preservação ambiental, já que a deteriorização do ambiente está diretamente relacionada à pobreza e ao baixo nível de qualidade de vida, e esses ribeirinhos parecem estar conscientes dessa necessidade de preservação não só para si, mas para o equilíbrio da biosfera, o que alcança toda a humanidade. O conceito de ecodesenvolvimento vem definir, segundo Neves (2009), o estilo de desenvolvimento adaptado às regiões do Terceiro Mundo e, consequentemente pode ser estendido aos povos ribeirinhos, pois, segundo a autora estes já detêm um tempo de relação com essa natureza em que vivem e, ao criticá-los devemos ajustar o nosso olhar do ponto de vista do habitante da região, procurando entender seu mundo, seus mitos e significados, 39 compreendendo a lógica com que operam no seu meio. Oriundos de uma economia extrativista, é da terra que retiram seu sustento e sobrevivência. Almeida (1994) nos ensina que devemos compreendê-los a partir das limitações biofísicas do ambiente, mas com vistas ao crescimento moral da humanidade. Mas o Sr. Nelson, diante da decisão de nosso grupo de não participar da extração, nos convida a adentrar mais à floresta onde ele já tinha uma árvore cortada para fazer uma canoa, já na fase da buliação (veremos mais adiante nas fases das construções das canoas). No caminho por um longo rio, ele rema nos contando que entende as colocações de nosso grupo em preservar a floresta, mas questiona o que podia ser feito. Argumenta que se ele não tira a árvore, na qual garante o sustento da família, vêm os catadores de dormentes e a tiram, sem piedade, e sem pedir licença. Assim justifica sua reflexão, colocando-nos em situação de perplexidade com tendência a concordar com ele. Sugerimos então, que procurasse um órgão competente para registrar uma denúncia para o que ele volta a argumentar que mal tinha condições de ir até a cidade levar sua esposa ao médico, já que teria que remar umas cinco horas, quanto mais de registrar esse fato e, mais alarmante ainda, afirma que as autoridades têm conhecimento, mas, se beneficiam, se corrompem. Consideramos sábias suas colocações observando que, apesar de poucos conhecimentos sobre os feitos e fatos, a louvável sensibilidade de sua pequena condição diante do emaranhado de fatores que determinam a vida naquele lugar, mas suas carências e dificuldades ultrapassam seu poder de intervenção. Chegando ao local, lá estava sua árvore, tombada ao chão, e em estado de buliação como ele tinha nos falado, e já parecendo com o formato de uma canoa. Era uma árvore de pracuúba, segundo ele, uma das melhores para esta finalidade. Depois de buliá-la ele iria brocá-la com uma verruma, depois virar e limpar de trincha, ou seja, escavá-la, seguindo seus próprios palavreados caboclos. Ao final de tudo isso iria conseguir um búfalo emprestado de seu vizinho, trazê-lo ao local e arrastar a tora até a margem do rio que ficava aproximadamente a 1 km de onde estávamos. Para só então poder fazer os próximos procedimentos (queima e acabamento) no quintal de sua casa, em sua marcenaria. 40 E como todos os moradores de lugares encantados, Sr. Nelson trabalhava na demonstração da buliação da tora, no entalhamento do modelo da canoa, narrando alguns mistérios daquele lugar. Conta-nos que já era para esta canoa estar pronta, mas na verdade ele estava com receio de voltar àquele lugar sozinho, pois há alguns dias atrás ele estava trabalhando naquele lugar, naquela futura canoa, quando começou a ouvir vozes e ruídos vindos em sua direção, o que o fez abandonar tudo e sair correndo para margem onde havia amarrado sua canoa e remar pra casa. A natureza, com sua exuberância pressupõe um imaginário que envolve o povo ribeirinho, suas crenças e histórias mobilizam as ações. Sr. Nelson seguiu nos contando suas historinhas, e, para nos deixar ainda mais em pânico, conta que no mês passado, ali mesmo, sua mulher havia sido picada por uma jararaca e nem imagina como conseguiu chegar com ela no município de Cachoeira do Arari, que fica a cerca de mais de cinco horas de remo. A partir daí nossa equipe, em perceptível estado de medo, resolveu terminar esta matéria em sua casa, tomando um bom cafezinho. Mesmo assim, no caminho, sua filha Maria que nos acompanhava, afirma ter avistado uma jararaca bem no meio do caminho, o que fez com que o quilômetro de distância que teríamos que atravessar se tornasse, de acordo com nossa imaginação, dez, e enquanto não chegávamos à beira do rio a tensão era total, adrenalina em alta. Por fim chegamos à casa de nosso anfitrião e ele discorreu didaticamente sobre a construção da canoa: (a) primeiro passo: derrubada (escolher a árvore a ser sacrificada). Entrar na mata e olhar para aquela variada vegetação e denominá-las por seus tipos e espécies, para nós, já é uma tarefa muito difícil, mas Sr. Nelson conhece todos os tipos e qualidades de árvores ali existentes, distingue com facilidade cada uma e sabe denominá-las. Segundo ele na nossa região existem muitas espécies de arvores que podem servir pra construção de uma boa canoa, entre elas temos: sucupira, mandiogueira, burajuba, cupiuba, angelim, jutairana, pracuuba, curtiça, castanheira, morcequeiro, andiroba, juruba, guaruba, jasmim e outras mais que podem ter sido esquecidas. A idéia de sacrifício da árvore é própria do imaginário do sagrado de que algo deve ser transmutado em benefício de outra vida, outra utilidade, outra missão. Ela passa a servir com outra natureza. Isso 41 se faz num gesto de extrema reverência a quem lhe nutre o cotidiano. (b) segundo passo: (lavrar, desgalhar, alinhar e descascar a madeira). Após a derrubada da árvore, que dura cerca de uma manhã inteira, o construtor trabalha no desgalhamento do tronco e alinhamento da peça escolhida para a fabricação da canoa, o que, confeccionada a golpes de machado deve durar dois a três dias. Trata-se de uma fase bem delicada, afirma Sr. Nelson, dizendo-nos que este alinhamento irá definir o modelo da mesma, e ele denomina esta fase como a “lavração da tora”. (c) terceiro passo: bulia (esculpir). Esta, segundo nosso informante, é a fase mais delicada de toda a construção, pois o construtor terá que esculpir a tora, entalhando-a com golpes de machado já nos moldes do modelo da canoa, como uma obra de arte. (d) quarto passo: brocação. Com um instrumento denominado por eles de verruma, eles irão brocar toda a extensão do casco, com a intenção de, quando forem escavá-los, não ultrapassar a espessura do mesmo. (e) quinto passo: cavação (escavação do tronco). Nesta fase o tronco é virado, e com instrumentos denominados trincha e ferro de cova, escava-se o tronco até os limites determinados pelo processo anterior, o das “brocadas”, que servirão de orientações ao limite a ser aprofundado no casco, não permitindo assim que o escultor ultrapasse e estrague ou deixe fragilizado o tronco para o fim a que se destina. (f) sexto passo: vareiar (queima do tronco até ele ficar mole). Depois do tronco já esculpido e escavado, vem agora o processo final, onde o tronco é preparado com tesouras para abri-los a seus limites, e em seguida colocado em baixo de um fogo, até o ponto da tora ficar bem mole para em seguida ser moldada dentro de seus limites, onde sua forma côncava vai ser definida. E por fim (g) sétimo e último passo: acabamento. Esta é a fase em que colocados os bancos, a calafetagem dos furos feitos na fase da brocação e, por fim, a pintura onde cada um irar personalizar a seu modo. Segundo Sr. Nelson os preços da canoa pronta estão ligados à capacidade da mesma, ou seja, a capacidade para cada pessoa aumenta em 100 reais, melhor explicando, diz ele: canoa pra uma pessoa, 100 reais, pra duas, 200, pra três, 300 e assim sucessivamente. Desse modo temos as nossas canoinhas prontas para as mais diversas finalidades, desde o suprimento das necessidades utilitárias cotidianas daquele povo ribeirinho como a seu próprio lazer. Nascida de um extrativismo original, 42 ela se transformou pela mão e desejos humanos num objeto artesanal lúdico e de sobrevivência. Sabendo-se que apesar dela ter sido construída de um pau só, a antiga e primitiva ciência para a sua construção (que nos é repassada de gerações a gerações) constitui-se numa árdua e difícil tarefa, atribuídas somente a artesãos nativos e desenvolvidos dentro de seu próprio meio, a floresta. Percebemos o quão ritualizado é cada um dos passos descritos. Não se trata apenas de construir um objeto por uma técnica, mas de criá-los em estado de reverência à matéria prima original: a natureza, a árvore que lhe distribui vida e se dá ao sacrifício para que continue a vivê-la no trabalho e no lazer. Portanto, a utilização das canoas tradicionais está inserida diretamente em nossas raízes culturais, uma vez que desde a história da humanidade o homem teve a necessidade de criar meios de se transportar sobre as águas e com isso usar sua criatividade na construção de vários tipos e modelos de canoas. No momento, a nossa maior inquietação é trabalhar na esportivização da prática da canoagem tradicional mantendo os vínculos culturais que a ela se ligam. Torná-la uma modalidade esportiva reconhecida junto aos órgãos esportivos, mostrando que o esporte, depende do valor cultural que lhe é atribuído pelos diferentes segmentos sociais, passando a expressar significados e sentidos diferenciados na estruturação dos níveis de aspiração ao lazer. Para tal torna-se necessário conhecer o estímulo e as motivações culturais ambientais de amparo e desenvolvimento do esporte, as facilidades econômicas de sua prática, a qualidade de vida da população, os espaços disponíveis, o tempo livre para o lazer e o material esportivo disponível aos diferentes níveis sociais (Guimarães, 1996). A construção discursiva dos ribeirinhos, quando se apropriam de um conjunto de práticas significantes estabelecendo identidades individuais e coletivas da figura do canoeiro apresentam um discurso comum. Tratar a canoagem como construção discursiva é perceber que é possível identificar o sistema simbólico na figura do Sr. Nelson, que é repetido e validado no comportamento dos outros indivíduos da região. As representações e condutas adotadas naquele povo, ao fazer do ato de remar, de construir a canoa, de transformá-la de ferramenta a brinquedo em suas 43 vidas, confere o conjunto de significações e representações culturais daquele grupo. Citando Woodward, apud Serra (2002, P. 57), “a representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeito”. Ora, não só a postura do Sr. Nelson como ainda o comportamento de sua filha, bem como de todo o povo ribeirinho, denota o “vestir” de significados à prática da canoagem, quando se construiu todo um “modo de ser”, desde o ato da construção da canoa até o de remar. No que tange ao sentimento de pertencimento, Malato (2009) percebeu que os praticantes se sentem imersos na representação criada, fazendo uso de termos comuns a eles desde os que enumeram a construção da canoa até o palavreado usado, desde o manejo do remo até o comportamento diante da inevitável derrubada de uma árvore, deixando claro o sentido de apropriação aos hábitos criados no imaginário canoístico. Esse pertencimento, no dizer de Hall (2000), faz constituir um sentimento entre eles que tomam para si símbolos, hábitos e linguagens, próprios deles mesmos, absorvidos como identidades, um corpo de pessoas que se consideram membros pertencentes com exclusividade àquele grupo. Assim por dizer, o sentimento de pertencimento do grupo ribeirinho traz ao ato da canoagem uma prática própria, vivenciada e transformada em cultura local. Em relação às comunidades imaginadas, observou que apesar de não existir, formalmente estabelecido, um rol de comportamentos sociais a serem seguidos pelos praticantes da canoagem, estes demonstram no respeito à natureza, no ritual da construção das canoas, no manejo destas e no ato de ensinar aos seus descendentes toda a vivência que permeia suas vidas, préexiste o modelo imaginado de comportamento padrão. Anderson (1989, P. 14), considera nação imaginada atos semelhantes a estes, já que: “nem mesmo os membros das menores nações jamais conhecerão a maioria de seus compatriotas, nem os encontrarão, nem sequer ouvirão falar deles, embora na mente de cada um esteja viva a imagem de sua comunhão”. 44 Vemos a canoagem imbuída de elementos que a fazem constituir-se em comunidade, o que exemplificamos com o sentimento de companheirismo e de pertencimento existente entre os ribeirinhos. A canoagem é praticada pela comunidade ribeirinha como um costume tradicional que se mantém por vários anos, devendo ser inserida em uma perspectiva de cultura ao expressar o respeito às entidades da floresta, o perpetuar dos passos para a construção da canoa, identificando a prática como cultura nacional. Em tempos de pós-modernidade, alta tecnologia e potentes barcos a motor, só uma força de tradição cultural mantém a prática da canoagem entre ribeirinhos. Desse modo parece justo e urgente organizar recursos para fomentar a institucionalização da canoagem tradicional, uma forma de promover o desenvolvimento do esporte e dos habitantes do lugar. Os ribeirinhos inventaram suas tradições, formaram seus pertencimentos, pois com a necessidade de criar e de instituir suas criações esportivas, vão imaginando e construindo outros mundos para além daquele que lhes é familiar, o do simples transporte para uma prática esportiva. É dentro desse contexto da criação humana que os praticantes de esportes nos rios amazonenses foram construindo suas ações na direção da vivência de algo novo, isto é, uma modalidade esportiva que ainda necessita de reconhecimento de sua identidade. Num enfoque de uma prática esportiva cidadã, de identidade cultural regional, de inclusão social, numa perspectiva de emancipação dos povos e comunidades ribeirinhas da Amazônia, buscamos o reconhecimento da canoagem tradicional como prática esportiva de identidade cultural. Neste sentido vários desafios precisam ser superados, ações institucionais e governamentais aperfeiçoadas e empreendidas, e este artigo pretendeu colaborar para que tal aconteça a partir do cotidiano daqueles que desfrutam da atividade. 45 CAPÍTULO IV IDENTIFICAÇÃO DAS CATEGORIAS REFERENCIAIS PARA A IDENTIDADE CULTURAL 4.1 – Referencias para uma identificação Cultural 4.1.1 - A construção discursiva, o sentimento de pertencimento, as comunidades imaginadas e a tradição Inventada É possível se pensar na esportivização da prática da canoagem tradicional, já que esta mantém os vínculos culturais que a ela se ligam. Para torná-la uma modalidade esportiva reconhecida junto aos órgãos esportivos, é mister mostrar que o esporte, depende do valor cultural que lhe é atribuído pelos diferentes segmentos sociais, passando a expressar significado e sentidos diferenciados na estruturação dos níveis de aspiração ao lazer. Para tal torna-se necessário conhecer o estímulo e as motivações culturais ambientais de amparo e desenvolvimento do esporte, as facilidades econômicas de sua prática, a qualidade de vida da população, os espaços disponíveis, o tempo livre para o lazer e o material esportivo disponível aos diferentes níveis sociais (GUIMARÃES, 1996). Tomando como referência Serra (ano) e Santos (ano), este estudo, buscou compreender o significado da canoagem tradicional segundo quatro categorias: a construção discursiva de seus atores, o sentimento de pertencimento ao grupo de praticantes e à região, as comunidades imaginadas em torno da canoagem tradicional e a tradição inventada. Em relação à construção discursiva, identificou o discurso comum ao grupo ribeirinho, evidenciando as práticas significantes estabelecendo identidades individuais e coletivas da figura do canoeiro. Tratar a canoagem como construção discursiva é perceber que é possível identificar o sistema simbólico na figura do ribeirinho, que é repetido e validado no comportamento dos outros indivíduos da região. As representações e condutas adotadas naquele povo, ao fazer do ato de remar, de construir a canoa, de transformá-la de ferramenta a brinquedo em suas vidas, confere o conjunto de significações e representações culturais daquele grupo. Citando Woodward, apud Serra (2002, P. 57), “a representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeito”. Ora, a postura do 46 povo ribeirinho, denota o “vestir” de significados à prática da canoagem, quando se construiu todo um “modo de ser”, desde o ato da construção da canoa até o de remar. No que tange ao sentimento de pertencimento, percebeu-se que os praticantes se sentem imersos na representação criada, fazendo uso de termos comuns a eles desde os que enumeram a construção da canoa até o palavreado usado entre eles, desde o manejo do remo até o comportamento diante da inevitável derrubada de uma árvore, deixando claro o sentido de apropriação aos hábitos criados no imaginário dos canoeiros. Hobsbawm (1997) atribui à palavra nação um significado subjetivo e outro significado objetivo, salientando que nenhum dos dois completa a palavra ao afirmar: “trataremos como nação qualquer corpo de pessoas suficientemente grande cujos membros consideram-se como membros de uma nação” (p.18). Em relação ao pertencimento como marca de identidade, Hall (2000) evidencia aspectos como etnias, raciais, lingüísticas, religiosas como fatores identificadores desse sentimento. Os grupos tomam para si símbolos, hábitos e linguagens como sendo exclusivos ou próprios deles mesmos e criam a crença de que não devem ser utilizados por outros grupos ou sociedades, pelo fato de já terem sido absorvidos como uma identidade própria e, portanto, fazendo parte delas. Assim por dizer, o sentimento de pertencimento do grupo ribeirinho de canoagem traz ao ato da canoagem uma prática própria, vivenciada e transformada em cultura local. Aqueles atores sentem-se proprietários dos hábitos de construir as canoas e de fazer uso delas em seus momentos de lazer, fazendo-os parecer próprios, exclusivos, diferentes de outros meios. Tal procedimento também foi encontrado por Serra (ano) e por Santos (ano) em seus estudos. A isto Hall (2000) chamou de uma forma particularista de pertencimento. Trata-se de um vínculo próprio, construído nas teias da subjetividade dos canoeiros. Em relação às comunidades imaginadas, observou que apesar de não existir, formalmente estabelecido, um rol de comportamentos sociais a serem seguidos pelos praticantes da canoagem, estes demonstram no respeito à natureza, no ritual da construção das canoas, no manejo destas e no ato de 47 ensinar aos seus descendentes toda a vivência que permeia suas vidas, préexiste o modelo imaginado de comportamento padrão. Anderson (1989), considera que as comunidades devem ser distinguidas pelo estilo em que são imaginadas e para tal exemplifica as ligações entre as pessoas seja por meio dos laços familiares consanguineos e pela importância dos seus antepassados, onde seus vínculos eram imaginados de forma particularista, pelo seu parentesco e dependência. Essa criação cultural é imaginada pelos atores de cada comunidade. Atos semelhantes a estes se expandem pelos territórios, já que, segundo o mesmo autor, “nem mesmo os membros das menores nações jamais conhecerão a maioria de seus compatriotas, nem os encontrarão, nem sequer ouvirão falar deles, embora na mente de cada um esteja viva a imagem de sua comunhão” (p.14). Vemos a canoagem imbuída de elementos que a fazem pertencer a uma comunidade, a dos remadores com aquele tipo de canoa. O sentimento de companheirismo existente entre os ribeirinhos se constitui um laço simbólico que os une. Finalmente no que tange à tradição inventada, Hobsbawm e Ranger (1997), observam que a invariabilidade é o objeto das tradições, ou seja, a referência em relação ao passado seja ela real ou forjada vai depender de práticas fixas e repetitivas. A canoagem é praticada pela comunidade ribeirinha como um costume, como uma invenção de tradição que se mantém por vários anos, devendo ser inserida em uma perspectiva de cultura ao expressar o respeito às entidades da floresta, a fazer parte dos hábitos dos ribeirinhos como uso e como lazer, à conservação dos passos para a construção da canoa, a inserção de vários rituais entre eles os cultos e devoções religiosas. 48 CAPÍTULO V APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS As informações contidas neste capítulo forma organizadas da seguinte maneira: uma parte de natureza descritiva forneceu informações acerca das características da canoagem enquanto construção discursiva, quanto ao sentimento de pertencimento, a comunidade imaginada e a tradição inventada, junto aos entrevistados. Após a coleta de dados obtidos chegou-se aos seguintes resultados: Na referência construção discursiva foram inseridas 02 questões baseadas no instrumento de auto-apreciação (pergunta 1 e 2). Neste sentido na primeira referência, fundamentaram-se os questionamentos em Stuart Hall (1997), observando que na construção da identidade dos ribeirinhos comprovase o comportamento diante do uso das canoas como fator cultural. A respeito da pergunta um (1), sobre a construção discursiva houve a confirmação da referência, com a afirmação das respostas. Pergunta 1 – A canoa retrata o cotidiano dos ribeirinhos? Retrata o cotidiano Não retrata o cotidiano 96% 4% Em relação à 2ª pergunta que, ainda alude à referência construção discursiva, confirmou-se por meio da maioria das respostas, o papel da Canoagem como construção discursiva. 49 Pergunta 2 – O vocabulário utilizado pelos ribeirinhos na canoagem são? Específico desta atividade De outra atividade 98% 2% A inserção da canoa como objeto do cotidiano a faz presente em todas as dimensões da vida do ribeirinho seja para uso de atividades diárias, para o divertimento, para a religião e para o esporte. Em relação à pergunta 3, 4 e 5, os ribeirinhos responderam que as frases e versos utilizados por eles são específicos desta atividade e que a maioria utiliza a canoa como meio de sobrevivência/transporte. Confirmando desta forma a caracterização da canoagem como Sentimento de pertencimento no cotidiano ribeirinho. Pergunta 3 – Os praticantes da canoagem são na sua maioria nascidos no interior? Nascidos no interior Nascidos em outra localidade 100% 0% 50 Pergunta 4 – Qual a utilização da canoagem para os Ribeirinhos do Marajó? Sobrevivência Outras Transporte Lazer Turismo 40% 28% 20% 10% 2% Pergunta 5 – Quais as principais evidências do uso da canoa no cotidiano dos Ribeirinhos? Pesca Locomoção Comércio Transporte Festas, lazer e esportes Procissão Artesanato 35% 35% 10% 10% 5% 3% 2% 51 Em relação à terceira referência com base em estudos de Eric Hobsbawm (1997) em Tradição Inventada comprovou-se a canoagem encaixando-se neste perfil através das perguntas 6 e 7. Pergunta 6 – Os praticantes de canoagem possuem santos protetores? Recorrem a entidades protetoras Não recorrem as entidades 100% 0% Pergunta 7 – A canoagem é uma manifestação: Manifestação do interior do Estado Manifestação Brasileira 95% 5% No que concerne a quarta referência entendida como comunidades imaginadas com base em Benedict Anderson (1998), percebeu-se uma predominância nas respostas dos ribeirinhos reconhecendo o Artesanato, o 52 círio e a canoagem como elementos do interior do Pará. Confirmando entre estas manifestações da canoagem como uma comunidade politicamente imaginada, limitada e soberana, esta constatação sustenta os objetivos de nossa pesquisa através das respostas apresentadas nas perguntas 8, 9, 10 e 11. Pergunta 8 – Qual dos elementos culturais pode ser considerado manifestação cultural Círio de Nazaré Artesanato Canoagem tradicional Canoagem Agarrada Marajoara 50% 20% 10% 10% 10% Pergunta 9 – Qual a relação do ritual e da prática de canoagem? Habitual na canoagem Não habitual na canoagem 90% 10% 53 Pergunta 10 – Os rituais que acontecem no início de cada prática de canoagem foram Criados pelo canoeiros Não tem relação com os hábitos dos canoeiros 98% 2% Pergunta 11– Os canoeiros são Criados em função da canoagem tradicional Criada em função da cultura local 80% 20% 54 CAPÍTULO VI CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O meio natural do estado do Pará, apresenta-se em seu desenho geográfico, entrecortado por rios, unindo comunidades a comunidades e estas à Capital e outros estados da Amazônia. Este desenho geográfico fez com que o povo habitante do lugar precisasse desenvolver sua capacidade de locomoção usando o meio de transporte mais acessível a eles, cujas técnicas de uso são ensinadas de geração a geração. Os ribeirinhos inventaram suas tradições, formaram seus pertencimentos, pois com a necessidade de criar e de instituir suas criações esportivas, vão imaginando e construindo outros mundos para além daquele que lhes é familiar, o do simples transporte para uma prática esportiva. É dentro desse contexto da criação humana que os praticantes de esportes nos rios amazonenses foram construindo suas ações na direção da vivência de algo novo, isto é, uma modalidade esportiva que ainda necessita de reconhecimento de sua identidade, num enfoque de uma prática esportiva cidadã, de identidade cultural regional, de inclusão social. E nesta perspectiva de emancipação dos povos e comunidades ribeirinhas da Amazônia, buscamos o reconhecimento da canoagem tradicional como prática esportiva de identidade cultural. Neste sentido vários desafios precisam ser superados, ações institucionais e governamentais aperfeiçoadas e empreendidas. Permeando o conceito de Esporte Lazer ou Esporte Participação, que se apóiam no princípio lúdico, a prática da canoagem como manifestação esportiva, também não agrega compromissos com regras institucionais rígidas. Não obstante, como Esporte de Desempenho, esta poderá ser indicada a institucionalizar-se, promovendo assim a valorização desta prática natural dos ribeirinhos, elevando-a ainda à categoria reconhecida nacionalmente. Parece justo e urgente organizar recursos para fomentar esta institucionalização como forma de promover o desenvolvimento do esporte e dos habitantes do lugar. Recomenda-se outros estudos que recomendem as opções do gênero entre os canoístas, no que se refere a ações institucionais e governamentais a 55 inclusão da pratica esportiva da canoagem tradicional no Esporte educacional do Pará. Recomenda-se ainda o desenvolvimento da mentalidade de uma canoagem tradicional com sustentabilidade numa pedagogia ecológica e de conservação dessas origens culturais. 56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA j.m. Desenvolvimento ecologicamente auto-sustentavel: Conceitos, prncipios e implicações. In: Humanidades, Universidade de São Paulo, v 10, n.14 1995 , p284-299 ANDERSON, B. Comunidades Imaginadas. São Paulo: Companhia das LetraS, 2008. BACHELARD, gaston. A terra e os devaneios da vontade. São Paulo: Martins Fontes, 1990 BAHIA, M. C. Lazer – Meio Ambiente: em busca das atitudes vivenciadas nos Esportes de Aventura. 2005. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP, SP, 2005. BAHIA, M. C.; SAMPAIO, T. M. V. Turismo de Aventura na região amazônica: desafios e potencialidades. In: UVINHA, R. R. (Org.) Turismo de Aventura: reflexões e tendências. São Paulo: Aleph, 2005. BARROS, M. I, DINES, M. 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( ) Sim ( ) Não 5 – Quais as principais evidências do uso da canoa no cotidiano dos Ribeirinhos? ( ) Pesca ( ) Locomoção ( ) comercio ( ) festa, lazer e esporte ( ) procisão ( ) artesanatos 6 – Os praticantes de canoagem possuem santos protetores? ( ) cultural do interior do Pará ( ) cultural brasileira 7 – A canoagem é uma manifestação ( ) Manifestação do interior do Estado ( ) Manifestação Brasileira 8 – Qual dos elementos culturais pode ser considerado manifestação cultural: ( ) Círio de Nazaré ( ) Artesanato ( ) Canoagem tradicional ( ) Canoagem ( ) Agarrada Marajoara 9 – Qual a relação do ritual e da prática de canoagem? ( ) Habitual na canoagem ( ) Não habitual na canoagem 10 - Os rituais que acontecem no início de cada prática de canoagem foram ( ) Criados pelo canoeiros ( ) Não tem relação com os hábitos dos canoeiros 11 - Os canoeiros são ( ) Criados em função da canoagem tradicional ( cultura local ) Criada em função da Nome: _______________________________________________________________ Titulação:_______________________________________________________ Trabalho:________________________________________________________ 62 ANEXO II CARTA ENDEREÇADA AOS VALIDADORES 63 ANEXO II CARTA ENDEREÇADA AOS VALIDADORES Sr. Validador. O presente estudo tem como tema “A contribuição da canoagem como manifestação Esportiva de Identidade Cultural do Estado do Pará. Os objetivos do estudo são os seguintes: Objetivo Geral: Desenvolver a Canoagem Tradicional do Pará, propondo perspectivas para esta modalidade esportiva seja mais fortalecida e mais reconhecida como um Esporte de Identidade Cultural deste Estado. Objetivos específicos 1. Investigar a prática cotidiana dos ribeirinhos no uso de suas canoas. 2. Desenvolver regras e parâmetros a modalidade da canoagem tradicional. 3. Elaborar documento sobre a forma de proposta fundamentando a investigação para encaminhar para a Confederação Brasileira de Canoagem solicitando a oficialização da modalidade como esporte de desempenho (rendimento). 4. Relacionar os aprofundamentos dos estudos realizados com as manifestações Esporte-Educação e Esporte-Lazer utilizando como meio a canoagem. Neste sentido, foi formulado um questionário com perguntas e quatro (4) referências, que constam de um roteiro a ser validado, que toma como base temas que estão de acordo com os objetivos e as questões de estudo a serem investigadas. Utilizar-se-á como amostra DE moradores ribeirinhos da localidade de CACHOEIRA do ARARI – MARAJÓ - PARÁ e professores universitários. Com as informações obtidas dos entrevistados, será possível chegar a conclusões importantes para o estudo em questão. Assim, obter-se a opinião dos entrevistados, em relação às questões de estudo a serem respondidas, pedimos ao Sr. (Sra) que verifique a coerência, a clareza e a validade das perguntas formuladas no questionário e das citadas referências. 64 Junto ao provável questionário e as referências, segue uma folha dirigida para a emissão do seu parecer em relação a cada pergunta e referência. Caso concorde com a pergunta, marque X na opção Manter; caso discorde, marque Retirar ou Reformular, sugerindo a reformulação no espaço abaixo. Antecipadamente, agradeço a valiosa colaboração. Evaldo Malato 65 ANEXO III MODELO DE PARECER DOS VALIDADORES 66 ANEXO III MODELO DE PARECER DOS VALIDADORES Parecer do validador em relação ao questionário e as referências a serem respondidas. Caso concorde com o item ou pergunta, marque um X em Manter. Caso discorde marque em retirar ou reformular, sugerindo a reformulação no espaço abaixo. Item 1 [ ] Manter [ ] Retirar [ ] Reformular Sugestão: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Item 2 [ ] Manter [ ] Retirar [ ] Reformular Sugestão: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Item 3 [ ] Manter [ ] Retirar [ ] Reformular Sugestão: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 67 Item 4 [ ] Manter [ ] Retirar [ ] Reformular Sugestão: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________________________________________ Item 5 [ ] Manter [ ] Retirar [ ] Reformular Sugestão: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Item 6 [ ] Manter [ ] Retirar [ ] Reformular Sugestão: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Item 7 [ ] Manter [ ] Retirar [ ] Reformular Sugestão: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 68 Item 8 [ ] Manter [ ] Retirar [ ] Reformular Sugestão: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Item 9 [ ] Manter [ ] Retirar [ ] Reformular Sugestão: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Item 10 [ ] Manter [ ] Retirar [ ] Reformular Sugestão: _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Item 11 [ ] Manter [ ] Retirar [ ] Reformular Sugestão: _______________________________________________________________ 69 ANEXO IV VALIDADAÇÃO DO QUESTIONÁRIO 70 ANEXO IV VALIDADAÇÃO DO QUESTIONÁRIO PERGUNTAS DO QUESTIONÁRIO JUIZ 1 – A canoa retrata o cotidiano dos ribeirinhos? ( ) Sim ( ) Não 2 – O vocabulário utilizado pelos ribeirinhos na canoagem são: ( ) específicos desta atividade ( ) de outra atividade 3 – Os praticantes da canoagem são na sua maioria nascidos no interior? ( ) Sim ( ) Não 4 – Qual a utilização da canoagem para os Ribeirinhos do Marajó? ( ) Sim ( ) Não 5 – Quais as principais evidências do uso da canoa no cotidiano dos Ribeirinhos? ( ) Sim ( ) Não 6 – Os praticantes de canoagem possuem santos protetores? ( ) cultural do interior do Pará ( ) cultural brasileira J1 J2 J3 J4 J5 7 – A canoagem é uma manifestação ( ) Manifestação do interior do Estado ( ) Manifestação Brasileira J1 J2 J3 J4 J5 J1 J2 J3 J4 J5 8 – Qual dos elementos culturais pode ser considerado manifestação cultural: ( ) Círio de Nazaré ( ) Artesanato ( ) Canoagem tradicional ( ) Canoagem ( ) Agarrada Marajoara 9 – Qual a relação do ritual e da prática de canoagem? ( ) Habitual na canoagem ( ) Não habitual na canoagem 10 - Os rituais que acontecem no início de cada prática de canoagem foram ( ) Criados pelo canoeiros ( ) Não tem relação com os hábitos dos canoeiros 11 - Os canoeiros são ( ) Criados em função da canoagem tradicional ( ) Criada em função da cultura local Análise Modificação sugerida Parecer Final J1 J2 J3 J4 J5 J1 J2 J3 J4 J5 J1 J2 J3 J4 J5 J1 J2 J3 J4 J5 71