Área: Fisiologia vegetal FLUORESCÊNCIA DE DIFERENTES GENÓTIPOS DE FEIJÃO CAUPI IRRIGADO COM ÁGUA SALINA Patricia Ferreira da Silva 1; Aryadne Ellen Vilar de Alencar2; Rafaela Felix Basilio da Silva3; Francisco Valfisio da Silva4; Ronaldo do Nascimento5 1 2 Engº Agrônomo, estudante, Universidade federal de campina grande. R. Aprígio Veloso, 882 - Bodocongo Campina Grande ,PB Graduanda em Eng. Agrícola,estudante, Universidade Federal de Campina Grande, R. Aprígio Veloso, 882, Campina Grande, PB. Email: [email protected]. 3 Graduanda em Eng. Agrícola,estudante, Universidade Federal de Campina Grande, R. Aprígio Veloso, 882, Campina Grande, PB. 4 Engº agrônomo,pesquisador, Universidade Federal de Campina Grande, R. Aprígio Veloso, 882, Campina Grande, PB. 5 Engº Agrônomo, professor,Doutor,Universidade federal de campina grande.R Aprígio Veloso, 882 - Bodocongo Campina Grande, PB Resumo – A salinidade é um dos principais estresses ambientais que afetam negativamente o crescimento e o metabolismo vegetal, além de ser um dos fatores responsáveis pelo decréscimo da produtividade de culturas nas regiões áridas e semiáridas. Assim, objetivou-se com o presente trabalho avaliar a fluorescência inicial, máxima, variável, terminal e a eficiência fotoquímica de genótipos de feijão caupi irrigados com águas de diferentes níveis de salinidade. Usou-se um esquema inteiramente casualizado, testando 4 níveis de salinidade da água de irrigação (0,6; 2,1; 3,6 e 5,1 dS m-1) e 5 genótipos (MNCO1-649F-1-3, MNCO1-649F-2-11, MNCO2-676F-1, MNCO2-677F-5, MNCO2-701F-2), em esquema fatorial 4x5, com 4 repetições. O experimento foi conduzido em casa de vegetação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). A unidade experimental foi constituída de uma planta por vaso. Avaliou-se aos 20e 35dias após a emergência a altura de plantas, diâmetro do caule e número de folhas. A partir dos resultados da análise, constatou-se então que a salinidade da água de irrigação foi significativa apenas para a fluorescência inicial. Não se observou diferença significativa nenhuma das variáveis estudadas em relação ao genótipo. O efeito interativo (salinidade da água x genótipos) foi significativo para fluorescência inicial e eficiência fotoquímica, indicando comportamento diferenciado da salinidade da água de irrigação dentro de cada genótipo estudado. Palavras- chave: Vigna unguiculata , Condutividade elétrica, fotossíntese Introdução A salinidade é um dos principais estresses ambientais que afetam negativamente o crescimento e o metabolismo vegetal, além de ser um dos fatores responsáveis pelo decréscimo da produtividade de culturas nas regiões áridas e semiáridas. A redução do crescimento sob salinidade tem sido atribuída ao estresse osmótico, provocado pela redução do potencial hídrico externo, e ao efeito iônico causado pelo acúmulo de íons nos tecidos vegetais (MUNNS & TESTER, 2008). O feijão-de-corda tolera a irrigação com água salina com condutividade elétrica de até 3,3 dS m-1 (AYERS & WESTCOT, 1999), sendo considerada como espécie moderadamente tolerante à salinidade, contudo, para Dantas et al. (2002) o grau de tolerância do caupi ao estresse salino varia entre genótipos. 1 Entre os vários processos afetados pela salinidade, a redução da fotossíntese está amplamente relatada na literatura (NETONDO et al., 2004b, PRAXEDES et al., 2010; SILVA et al., 2011) e tem sido atribuída a limitações de origem estomática e não estomática (NETONDO et al., 2004b; MUNNS & TESTER, 2008; PRAXEDES et al., 2010). Sabe-se que a atividade fotoquímica apresenta resistência ao estresse salino de curta duração (NETONDO et al., 2004b), sem redução da eficiência quântica potencial do fotossistema II (PRAXEDES et al., 2010). Contudo, sob exposição prolongada a sais, quando altas concentrações de íons se acumulam nos tecidos, a atividade fotoquímica também pode ser afetada (SILVA et al., 2010). De acordo com Praxedes et al. (2010), os mecanismos pelos os quais a salinidade afeta a fotossíntese de feijoeiro caupi ainda são desconhecidos, o conhecimento dos mecanismos que conferem resistência à salinidade com relação à eficiência fotossintética é fundamental, especialmente para as plantas cultivadas no semiárido. Assim, objetivou-se, portanto, com este trabalho, avaliar a fluorescência inicial, máxima, variável, terminal e a eficiência fotoquímica de genótipos de feijão caupi irrigados com águas de diferentes níveis de salinidade. Material e métodos O experimento foi conduzido em condições de ambiente protegido de casa de vegetação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), nas dependências da UFCG, Centro de Tecnologia e Recursos Naturais (CTRN), Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola (UAEA). A UFCG está localizada na zona centro oriental do Estado da Paraíba, no Planalto da Borborema, cujas coordenadas geográficas são latitude sul 7º13’11’’, longitude oeste 35º53’31’’ e altitude de 547,56 m. Usou-se um esquema inteiramente casualizado, testando 4 níveis de salinidade da água de irrigação (0,6; 2,1; 3,6 e 5,1 dS m-1) e 5 genótipos (MNCO1-649F-1-3, MNCO1-649F-2-11, MNCO2-676F-1, MNCO2677F-5, MNCO2-701F-2) em esquema fatorial 4 x 5,com 4 repetições. A unidade experimental foi formada por um vaso (1 planta por vaso). As águas de irrigação foram preparadas pela adição de NaCl à água do sistema de abastecimento local, conforme metodologia proposta por RICHARDS (1954). As irrigações foram diariamente e de forma manual, com base no consumo de água das plantas na irrigação anterior, dividindo-se o volume estimado pelo fator 0,8, restabelecendo-se, assim, a umidade do solo à capacidade de campo e se obtendo uma fração de lixiviação (FL) de aproximadamente 20% (Eq. 1): [VI=(VA-VD)/1-FL], em que, VI, VA, VD são volume de água a ser aplicado na irrigação, volume de água aplicado e drenado na irrigação anterior, respectivamente (mL). As sementes foram semeadas em vasos de polietileno com capacidade para 20 kg de solo esterilizado, e adubado, de acordo com NOVAIS et al. (1991), para ambiente controlado em vasos. Foram semeadas três sementes por vaso, permanecendo apenas uma planta por vaso após o desbaste, que ocorreu aos cinco dias após a emergência (DAE). Avaliou-se aos 20 (DAE) fluorescência inicial (F0), máxima (F m), variável (Fv), terminal (Ft) e a eficiência fotoquímica (Fv /F m), a determinação dos níveis do sinal da cinética de emissão de fluorescência (F0, Fv, Ft e Fv/Fm) foi através de leituras feitas em folhas, utilizou-se de pinças que acompanham o fluorômetro. Elas foram colocadas na região mediana da quarta folha do ápice para a 2 base. Após a adaptação da folha ao escuro, emitiu-se um pulso de luz saturante de 10 segundos, na frequência de 0,6 KHz, na face abaxial da folha, utilizando-se de um fluorômetro portátil (PEA – Plant Efficiency Analyser, Hansatech), sendo registrados os valores das fluorescência inicial (F0), máxima (Fm), variável (Fv), terminal (Ft) e a eficiência fotoquímica (Fv/Fm).. Os dados obtidos foram submetidos às análises de variância, os tratamentos com variáveis quantitativas foram submetidos à análise de regressão e os tratamentos com variáveis qualitativas foram submetidos ao teste de Tukey a 1 e 5% de significância com o auxilio do SISVAR (Ferreira, 2008). Resultados e Discussão O resumo da analise de variância para fluorescência inicial (F0), máxima (Fm), variável (Fv), terminal (Ft) e a eficiência fotoquímica (Fv/Fm) de cinco genótipos de feijão caupi irrigado com agua salina encontra-se na (Tabela 1). Observa-se de acordo com analise de variância que houve diferença significância para níveis de salinidade ao nível de (p<0,01) na avaliação aos 20 DAE apenas para fluorescência inicial. Para o fator genótipo não se observou diferença significativa em nenhuma das variais estudadas. O efeito interativo (salinidade da água x genótipos) foi significativo a (p<0,05) para fluorescência inicial e eficiência fotoquímica, indicando comportamento diferenciado dos genótipos dentro da salinidade da água. Tabela 1 – Valores do quadrado médio e significância estatística para fluorescência inicial (F0), máxima (Fm), variável (Fv), terminal (Ft) e a eficiência fotoquímica (Fv/Fm). em plantas de feijão caupi (Vignaunguiculata(L.) Walp.), irrigadas com água salina. Quadrados Médios Fonte de Variação GL FO FM FV FO/FV 4 822.481ns 45802.175ns 19060.606ns 0.001ns Genótipo (G) ** ns ns 3 1589.845 23724.445 7223.312 0.001ns Salinidade (S) * ns ns Interação G x S 12 770.147 25962.258 25414.197 0.001* 57 347.551 19356.140 17194.651 0.001ns Resíduo 4.71 5.87 6.68 1.40 CV * e ** significativo a 5 e 1% de probabilidade, respectivamente; ns não significativo O desdobramento para as variáveis fluorescência inicial (FO) e eficiência fotoquímica (FO/FV) de feijão caupi dos genótipos dentro de cada nível de salinidade e da água de irrigação encontra-se na (Tabela 2), onde observa-se que para a FO que par ao nível (0,6 e 3,6 dS m-1) não se observou diferença significativa dos genótipo dentro dos níveis de salinidade estuados sendo as maiores médias observadas no G1 e G3 respectivamente para 0,6 e 3,6 dS m-1 , para os níveis (2,1 e 5,1 dS m-1) houve diferença significativa para a salinidade dentro dos genótipos estudados. Já para a eficiência fotoquímica (FO/FV) se verificou diferença estatística dos genótipos estudados com relação ao nível (3,6 dS m-1), os demais níveis de salinidade não diferiram estatisticamente para os genótipos estudados. Tabela 2 – Comparação de médias para fluorescência inicial (FO) e eficiência fotoquímica (FO/FV), em plantas de feijão caupi (Vignaunguiculata(L.) Walp.), quando irrigadas com água de diferentes condutividades. Médias seguidas de mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pela comparação de Tukey, a 5% de probabilidade. 3 Desdobramento dos genótipos dentro de cada nível de salinidade Gen 0,6 dS m-1 2,1 dS m-1 3,6 dS m-1 5,1 dS m-1 Gen 0,6 dS m-1 FO 2,1 dS m-1 3,6 dS m-1 5,1 dS m-1 FO/FV G1 403.250a 397.000 a b 408.000 a 406.000 b G1 0.838 a 0.831 a 0.835 b 0.832 a G2 394.250a 401.500 a b 398.750a 396.000 b G2 0.829 a 0.835 a 0.832 a b 0.830 a G3 378.000a 397.250 a b 415.500a 350.000a G3 0.825 a 0.834 a 0.811 a 0.845 a G4 392.000a 387.750 a 404.250a 388.250 b G4 0.839 a 0.834 a 0.836 b 0.827 a G5 390.000a 425.250 b 398.250a 388.500 b G5 0.835 a 0.818 a 0.829 b 0.830 a *Médias seguidas da mesma letra nas linhas e nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey em nível de 0,05de probabilidade Souza et al. (2011) em seu trabalho sobre fotossíntese e acúmulo de solutos em feijoeiro caupi submetido à salinidade afirmam que a eficiência quântica potencial do fotossistema II (FV/ FM) variou entre 0,82 e 0,85, o que evidencia uma grande resistência da atividade fotoquímica do feijoeiro caupi ao estresse salino. Na literatura, há estudos que apontam tanto a alta (Netondo et al., 2004b) como a baixa (Moradi & Ismail, 2007; Silva et al., 2011) sensibilidade de FV/FM ao aumento de NaCl no substrato, o que indica que o efeito da salinidade pode ser específico para as formas de imposição do estresse salino e para as condições de crescimento da planta. No desdobramento para fluorescência inicial (FO) em relação a salinidade dentro de cada genótipo(Figura 1). O modelo matemático que melhor se ajustou para os genótipos 3 quadrático, sendo a máxima fluorescência e 5 foi o observada na salinidade de 2,61 e 2,64 dS m-1, respectivamente. (b) 420 410 400 390 380 370 360 350 340 G3 = -9,33**x2 + 48,8nsx + 347,9 R² = 0,85 FO FO (a) 0,6 2,1 dS m-1 3,6 5,1 430 425 420 415 410 405 400 395 390 385 380 G5= -5*x2 + 26,4nsx + 379,9 R² = 0,64 0,6 2,1 dS m-1 3,6 5,1 Figura 1 – Desdobramento da interação para fluorescência inicial de feijão caupi submetido ao estresse salino aos 20 dias após a emergência Conclusões A salinidade da água de irrigação foi significativa apenas para a fluorescência inicial. Não se observou diferença significativa nenhuma das variáveis estudadas em relação ao genótipo. O efeito 4 interativo (salinidade da água x genótipos) foi significativo para fluorescência inicial e eficiência fotoquímica, indicando comportamento diferenciado da salinidade da água de irrigação dentro de cada genótipo estudado. Referência bibliográfica AYERS, R.S.; WESTCOT, D.W. A qualidade da água na agricultura. Campina Grande, UFPB, 1999. 153p. DANTAS, J.P.; MARINHO, F. J. 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