A Comunidade Feminina da Ordem de Santiago
Que pretendiam os visitadores? Não há memória de que o Mestre tivesse realizado um
périplo pelas comendas, com fins inquisitórios. O  encontro de D.  Jorge com as populações que
dependiam da Ordem, daria um carácter mais solene e pragmático às visitações. Apesar de, uma
vez mais, se insistir na sua curta periodicidade, o facto é que tal nunca acontecera. As dificuldades
eram enormes, devido ao formigueiro de foreiros, ao descontrole quanto à legitimidade da posse
patrimonial e, sobretudo, à morosidade deste tipo de actividade.
Esta nova saga começaria então em 1510, precisamente pela comenda de Palmela, prolongando-se esta tarefa por vários anos20.
Neste contexto, as visitações, de um modo geral, mostram todo um mundo recheado de
múltiplos aspectos, não só do âmbito da sociologia religiosa mas também para o estudo da história
local21, como a microtoponímia, o modus vivendi das populações, as relações de vizinhança, a
conflitualidade e evolução e composição demográfica e, sócio-profissional, e as relações entre
poderes: o poder concelhio, interno e o poder da Ordem, exógeno, poderoso nas suas acções,
brandindo, quando necessário, o foral e cartas de sentença favoráveis; e o outro poder menos
forte, mas mais próximo das populações, que plasma o inconsciente colectivo, transformando-se
na verdadeira seiva que movimenta a comunidade local.
9.2. A  visitação ao Convento de Santos
A visitação ao Convento Novo-de-Santos foi já por nós explanada, quando foi necessário
reerguer dos escombros o edifício. Sem este preciosíssimo instrumento não seria possível, hoje,
ter a percepção aproximada do aspecto físico do edifício oferecido às freiras por D.  João II, que,
quase de imediato é transformado radicalmente pela comendadeira D. Ana de Mendonça.
A chegada ao convento tivera lugar a 9 de Junho de 1513, na qual participou o próprio
Mestre, acompanhado pelo Prior-mor da Ordem e por Francisco Barradas22.
Como foi realizada a visitação? A resposta encontra-se acompanhando o texto que paulatinamente nos vai conduzindo como o faria o arquitecto do edifício, explicando todos os pormenores,
numa linguagem enfática, surpreendente, que nunca deixa o leitor saciado. Nesta constelação de
elementos, começa a ter a percepção de que em tudo o que vê, melhor capta da descrição textual
e se insere numa desorganização dentro da organização possível. Ficamos com a sensação de que
se tratava de uma visita assaz importante, não só porque iria colocar frente a frente mãe e filho,
Comendadeira e Mestre mas porque havia um vastíssimo pacote de recomendações que seriam
dadas. Há uma nítida sensação de que, finda a visitação parece que muita coisa terá ficado por
dizer ou recomendar. É essa a imagem que, na amálgama de assuntos tratados, alguns dos quais
intercalados com outros, este extraordinário instrumento jurídico nos transmite.
Este acto é precedido por uma introdução onde a simbologia do poder se transforma na chave
que abre todas as portas, fazendo-se menção ao facto de que o Mestre, visitando pessoalmente
o Mestrado, por eleição dos definidores e de todo o Capítulo, dava conhecimento à comendadeira
dos objectivos da sua chegada.
20 BRAGA, Paulo Drumond – A Construção Corrente na Região de Palmela nos Finais da Idade Média, in Actas do I
Encontro Sobre Ordens Militares. Palmela, Câmara Municipal de Palmela, 1991, p. 143.
21 MOTA, Salvador Magalhães – Visitações da Igreja de São Martinho de Carneiro (1762-1868), in “Revista de História”,
vol. I. Porto, Universidade Livre, 1981, p. 236.
22 RODRIGUES, Ana Maria S. A. – O Património das Donas de Santos no Termo de Torres Vedras Durante a Idade
Média, in Actas do I Encontro Sobre Ordens Militares. Palmela, Câmara Municipal de Palmela, 1991, p. 177.
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