Volume 1: Número 7 Editor: Fernando Carneiro Managing Director, The Altman Group [email protected] Caso tenha problemas visualizando este email clique aqui. O qu e espera r da tempora da de assemb leias? “Agora não é o fim. Nem talvez o início do fim. Mas talvez seja o fim do começo” (Winston Churchill) Absolutamente nada. Constatamos isso ao comparar as recém-aprovadas instruções de nossa comissão de valores, que tem sido exemplar, com a atuação da comissão americana, que, surpreendentemente, continua à deriva. Basicamente, tudo o que esperávamos da SEC que poderia respingar em companhias brasileiras - aqui ou ali não se materializou, e muitos observadores apostam que não teremos, mais uma vez, mudanças significativas. Com a SEC enfraquecida, mesmo depois de Obama ter tentado revigorá-la com nomeações de ativistas, temos um certo frenesi de propostas e período de comentário sobre certas questões. Ocorre que muitas delas já tinham escapado da alçada da comissão, parando no congresso americano. Ali mesmo é que o trem não anda. A reforma do sistema de saúde e a catástrofe do Haiti, entre outras questões, tiraram mais uma vez o foco dos problemas de Wall Street. Isso é uma miopia, pois os problemas de Wall Street afetam até mesmo o Haiti. Enquanto não houver uma regulação coerente, visando implementar uma verdadeira democracia corporativa nos EUA, não teremos nenhuma mudança digna de menção. Alguns discursos dos integrantes do colegiado se assemelham a um bate-boca com o congresso. Aqui no Brasil, a CVM passou as instruções 480 e 481, realmente marcos de grande importância e significado para o mercado acionário. Essas instruções são “revolucionárias”, segundo agentes do mercado, pelo fato de realmente aumentar o escopo de transparência e divulgação, principalmente, a 480. A questão de proxies e assembleias foi esmuiçada em detalhe na 481, e obtivemos um novo marco, onde eu destacaria a potencial participação de dissidências. De todo modo, alguns investidores estrangeiros já deixaram absolutamente claro que, para eles, o processo burocrático não muda tanto assim, especialmente, para os que participam do mercado de forma remota. Ocorre que a comissão está na vanguarda em termos de santificar a autorregulamentação. Instruções extremamente pontuais e progressivas foram aprovadas, mas com o “inciso” (a ressalva) de que as companhias podem ir além da letra e espírito das instruções, caso queiram adotar práticas que seriam “better than best practices”. Isso, sim, é revolucionário, não as instruções em si. De toda maneira, isso tampouco fará muita diferença nas assembleias. Assim como no amor, o que mantêm pessoas juntas numa relação (nesse caso, acionista e administradores) são “needs not wants” – isto é, as necessidades em vez do querer – ainda que isso se coloque no nível inconsciente. Onde houver necessidade, as companhias certamente adotarão procedimentos de requerimento de votos virtuais com o mínimo de empecilho possível. O querer não basta. Como vemos no Artigo 129 da Lei das S.A., a questão de quórum é basicamente estatutária. Portanto, como a temporada é de assembleias normativas e ordinárias, não antevejo maremoto nem celacanto. Partes da Instrução 481 lidam com potencial “acesso” de acionistas tanto ao processo como à própria lista de seus pares e parceiros, à lista de acionistas em si. Em consulta posterior feita pela AMEC junto à CVM, conseguiu-se uma interpretação ainda mais favorável e ampla quanto a uma eventual obtenção da lista de acionistas (PROC. RJ2009/5356 -Reg. nº 6669/09), onde é possível fazer uma leitura dando ênfase ao art. 100 quanto ao percentual mínimo de ações necessário para que se solicite o nome de seus pares numa empreitada. O comentário de proxy advisors de fora em geral revela um tom similar. Eles também concordam que tivemos avanços, mas que ainda teremos percalços na hora de execução de votos. Volto a insistir que isso depende muito da companhia. A comissão não colocará empecilhos a quem não quiser criá-los de antemão. Voltando às questões dos EUA, as certezas de que teríamos para essa temporada pronunciamentos regulatórios ou legislação sobre acesso às cédulas (proxy access), voto específico sobre remuneração (say on pay) e separação compulsória entre presidente do conselho e CEO (algo um pouco radical demais para ser santificado em minuta ou legislação fora do escopo estatutário de cada companhia) foram dissipadas e estão paralisadas no congresso. Não teremos nada, a não ser o que algumas companhias já adotaram por conta própria via pressão de seus acionistas. Ficamos com a mudança da Regra 452, da Bolsa de Nova York, que vai ter um impacto ainda maior na diminuição de quórum para questões importantes, posto que as corretoras estarão proibidas de votar para clientes pessoas físicas (retail) que não enviarem instrução de voto. De toda forma, vale a pena ficar de olho nas políticas de voto de proxy advisors como RiskMetrics e Glass Lewis, bem como nas políticas individuais de investidores de peso, como T. Rowe Price, entre outros. Em geral, em relação ao buy-side tradicional observamos uma mudança bastante significativa em relação a questões sociais e ambientais. Antes, votava-se muito “contra” certas propostas. Dado o novo clima, muitos já se pronunciaram que não votarão contra, mas tampouco vão se abster de analisar propostas de acionistas. É algo no qual as companhias devem ficar de olho. Sendo um pouco mais justo, pode-se dizer que a SEC não ficou de braços totalmente cruzados. A Comissão se pronunciou de forma muito mais rígida em relação à transparência e “disclosure” de risco, diversidade nos conselhos e qualificação nas nomeações. Mas foram apenas diretrizes e não atos normativos. O problema é que, na verdade, estamos observando uma pressão popular enorme contra os programas criados para a salvação de instituições financeiras, como o TARP, uma espécie de Proer americano, levado a cabo ainda durante a administração Bush. As recentes derrocadas eleitorais dos democratas foram um breque violento nas ambições de reformas mais abrangentes no escopo da SEC, que se propunha mais ativista, mas que ainda estava um tanto catatônica. Foi uma oportunidade perdida. O congresso americano aprovou a resolução H.R. 4173, que, na verdade, dá mais poderes à SEC para decidir sobre say on pay e proxy access. Na prática, o congresso está passando a batata quente para a SEC. Os congressistas não querem se indispor com o lobby de Wall Street. O que a SEC fez foi reabrir o período de comentários e sugestões, inclusive, na questão da identificação da base acionária – que ainda não pode ser feita de forma integral nos EUA. Essa é uma bandeira defendida pelo The Altman Group, cuja proposta vem sendo a mais debatida na indústria (The Altman Group Report) . Sabemos que essas questões serão decididas apenas no fim de 2010. Portanto, podemos antecipar um segundo semestre mais interessante. Teremos eleições, Copa do Mundo, mais questões cambiais e fiscais pendentes, que poderão impactar o cenário macroeconômico e, consequentemente, os resultados de nossas companhias. Talvez, nesse momento tenhamos a necessidade de um estreitamento maior entre companhia e acionista. Não só é preciso estar atento e forte, mas sempre lembrar a máxima: “Vigiai, pois não sabeis a hora...”. P.S. Para acessar o compendio do The Altman Group sobre governança e atuais tendências, favor clicar no link abaixo. Temos artigos de vários colaboradores de peso como Marty Lipton, Anne Simpson e Rich Ferlauto, recentemente nomeado para o colegiado da SEC http://www.altmangroup.com/pdf/GovernanceCompendium2009Vol1TAG.pdf Lin ks pa ra A rtigos de G overn an ç a