Mérito Científico na PUC-Rio Pe. Pedro M. Guimarães Ferreira S.J. Vice-Reitor da PUC-Rio No dia 15 de agosto p.p., conforme noticiado pelo último número deste Jornal da PUC, ingressaram na Ordem Nacional do Mérito Científico (ONMC) seis Professores desta Universidade: na Classe da Grã-Cruz , o Pe. Paul A. Schweitzer S.J., Professor Titular do Departamento de Matemática e na Classe de Comendador os Professores Fernando Rizzo Assunção, do Departamento de Ciências dos Materiais e Metalurgia, Hans Ingo Weber, Professor Titular do Departamento de Engenharia Mecânica, Margarida de Souza Neves do Departamento de História, Rubens Sampaio, Professor Titular do Departamento de Engenharia Mecânica e eu, que sou Professor Titular do Departamento de Engenharia Elétrica. Além de nós seis, nos anos anteriores haviam sido distinguidos, daqui da PUC, Carlos José Pereira de Lucena na Classe da Grã-Cruz, e Marcelo Gattass, na Classe de Comendador, ambos Professores Titulares do Departamento de Informática. A ONMC, criada em 1993, tem por finalidade “premiar personalidades nacionais e estrangeiras que se distingam por suas relevantes contribuições prestadas à Ciência e Tecnologia” (Regulamento da Ordem). A ONMC tem 200 vagas para a Classe da GrãCruz e 500 para a Classe de Comendador. Seria ingênuo pensar que haja justiça perfeita no ingresso na ONMC. Eu mesmo, sem falsa modéstia, reconheço que vários dos meus colegas, tanto de dentro, como de fora da PUC, deveriam ter recebido esta Comenda antes de mim. E, por outro lado, creio que o número de Professores da PUC na ONMC ainda não faz justiça à importância da nossa Universidade no cenário nacional. A PUC é uma Universidade de porte médio em termos nacionais, tanto em número de alunos como de professores e funcionários. Comparados com as maiores, somos pequenos: pouco mais do que 10% de Professores de tempo contínuo da USP, que é a maior Universidade do país. E, no entanto, em termos qualitativos não ficamos a dever às melhores, com vários indicadores inequívocos. Bastaria citar a respeito o índice que talvez seja o mais eloqüente: na última avaliação, feita pela CAPES, dos cursos de pós-graduação “stricto sensu”, ficamos com a média mais alta de todo o país, sendo que na avaliação anterior, realizada tres anos antes, havíamos obtido o segundo lugar. Estes resultados são muito importantes, quando se fala em mérito científico do corpo docente, porque a produção científica do mesmo é um dos ingredientes principais, se não o principal, na avaliação da CAPES. A PUC é uma “Universidade de Pesquisa”, expressão que tem sido usada com freqüência recentemente e que, se não for bem entendida, será redundante segundo a Constituição Federal (art. 207) ao afirmar o princípio da “indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. Não é nada óbvio, porém, o significado desta indissociabilidade entre ensino e pesquisa. Efetivamente, mesmo nos países do chamado primeiro mundo, na maioria das Universidades a pesquisa está longe de ter presença forte, sendo muitas vezes virtualmente inexistente. Uma Universidade de Pesquisa é aquela em que ensino e pesquisa estão efetivamente imbricados de tal modo que no ensino se transmita aquilo que é descoberto / inventado na pesquisa. Ou seja, numa 1 Universidade de Pesquisa, os professores, na sua maioria, são também pesquisadores, a pesquisa precede o ensino, sendo então, neste sentido, a atividade mais “nobre”. Esta é a Universidade no seu melhor, seguindo a bela tradição que começa com Oxford, Paris, Cambridge, etc. O reconhecimento da PUC como uma das (poucas) Universidades de Pesquisa do país parece ser consensual. Há poucos anos atrás foi criado um Forum das Universidades de Pesquisas, convocando-se apenas 8 para a constituição do grupo inicial; a nossa PUC estava lá, aliás a única Universidade de direito privado, acompanhando 4 Universidades Federais e 3 Estaduais. Há quase 10 anos atrás, mais precisamente em 1993, encerrava-se um período de cerca de 25 anos, durante os quais o Governo Federal subsidiou os nossos Centro TécnicoCientífico (CTC) e Departamento de Economia, subsídios estes que efetivamente permitiram à nossa Universidade lançar-se e firmar-se como Universidade de Pesquisa. No início daquela década, quando ficou claro que o subsídio governamental, reduzindose a cada ano, iria se extinguir, muitos dos professores do CTC achávamos que o nosso modelo, Universidade de Pesquisa, iria terminar, pensávamos que a PUC voltaria a ser, como o fora nos seus primórdios, mas aliás de excelente qualidade, um “Colégio de 3º grau”, expressão injustamente depreciativa, tendo em vista a qualidade e seriedade de tantas instituições de ensino superior que não são, entretanto, Universidades de Pesquisa. Os fatos demonstraram que aqueles professores estávamos, graças a Deus, errados. Efetivamente, o modelo de Universidade de Pesquisa já se consolidara então não somente no CTC, mas também nos outros dois Centros, o de Teologia e de Ciências Humanas (CTCH) e no de Ciências Sociais (CCS), apesar de não terem tido subsídios diretos do Governo Federal. Ou seja, a coisa era possível. Efetivamente, através de ajustes, sempre difíceis e penosos, além de iniciativas criativas que aproveitam as novas oportunidades que sempre vão surgindo nessa sociedade que muda tão aceleradamente, temos conseguido manter nosso modelo, aliás em ritmo crescente de qualidade a julgar pelas avaliações da CAPES. Mas é claro que a ausência de aportes governamentais coloca uma pressão enorme sobre os encargos educacionais e arrisca a comprometer seriamente a qualidade da pesquisa e, consequentemente, do ensino. Apesar dos benefícios práticos para a sociedade que a pesquisa científica muitas vezes propicia, somos de opinião que o principal resultado da pesquisa é a qualidade do ensino, este sendo um resultado sempre presente, mesmo que a investigação nada produza em termos “práticos”: o conhecimento da verdade é o que, depois da santidade, mais dignifica o ser humano. (E aliás a santidade é simultaneamente o conhecimento da verdade mais sublime). E é por isso que a eles, todos os alunos da PUC, queremos dedicar o nosso Mérito Científico. 2