A ATUAÇÃO DO PROFESSOR EM REALIDADE HOSPITALAR SZVARÇA, Yara Maria SME / HUEC [email protected] A legislação brasileira reconhece o direito das crianças e adolescentes hospitalizados ao atendimento pedagógico-educacional. A declaração dos Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizado decorreu de formulação da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente com a chancela do Ministério da Justiça em 1995. Essa modalidade de atendimento denomina-se classe hospitalar, prevista pelo Ministério da Educação e do Desporto em 1994, através da publicação da Política Nacional de Educação Especial (MEC / SEESP, 1994). A insuficiência de teorias e estudos dessa natureza em território brasileiro gera tanto na área educacional como na área de saúde o desconhecimento dessa modalidade de atendimento não só para viabilizar a continuidade da escolaridade das crianças e adolescentes que requerem internação hospitalar, mas também para integralizar a atenção de saúde e potencializar o tratamento e os cuidados prestados à criança e ao adolescente. Essa ação adquire maior significância no momento em que diferentes segmentos da sociedade civil se mobilizam para que todas as crianças, de fato, tenham um lugar na escola. O estímulo às classes hospitalares se impõe como uma nova política inclusiva que respeite o direito de todos ao atendimento escolar. De acordo com Piaget, no que se refere às questões referentes ao direito à educação no mundo atual “... se toda pessoa tem direto à educação, é evidente que os pais também possuem o direito de serem senão educados, ao menos informados e mesmo formados no tocante à melhor educação a ser proporcionada a seus filhos”. (Piaget, 1972/2000. P.50). Se a educação é importante para toda pessoa, torna-se imprescindível para a criança hospitalizada, que ao receber o apoio pedagógico não se sinta excluída e passe a valorizar a oportunidade de aproveitamento do espaço hospitalar para manter em dia suas obrigações escolares. Quando um professor deixa a sala de aula de uma escola e passa a desenvolver seu trabalho dentro de um hospital, dando aula para crianças internadas, ele, obrigatoriamente, deverá iniciar e manter uma relação de cooperação com a família e de uma forma mais 4509 abrangente fazer com que a família inicie ou mantenha também uma relação de cooperação com a escola de origem da criança. Caso essa parceria entre profissionais e familiares não ocorra, o aluno que já se encontra afastado da escola em decorrência de seu problema de saúde, sofrerá prejuízos ainda maiores em relação à sua educação. O professor que passa a trabalhar com alunos internados em hospitais, casas de saúde ou até mesmo em casas de apoio deve ter sempre em mente uma proposta de inclusão. Pois ela implica acolhimento, além do respeito às características das pessoas que passam a fazer parte do grupo independentemente de seus limites ou singularidades. Isso, na prática é difícil porque no contexto escolar tal hábito é pouco explorado. Ficamos com medo, acreditamos que nossos recursos são insuficientes e que nossas técnicas são precárias. Mas em uma proposta de educação inclusiva criamos e recriamos ações interativas com finalidade de conseguir o sucesso na aprendizagem de todos. É um desafio. Para obtermos resultados satisfatórios começamos aceitando o desafio e com paciência vamos estabelecendo as relações de cooperação necessárias para o desenvolvimento do trabalho. Procurando diferentes métodos de trabalho, partindo de uma análise individual e coletiva das práticas e contando com a colaboração de parceiros acreditamos que seja possível desenvolver um bom trabalho, mesmo em condições adversas como é o caso muitas vezes, dos ambientes hospitalares. Considerando, portanto, que todos aprendem na possibilidade de troca de idéias, concordamos com Santos, quando diz que: “Incluir é trocar, entender, respeitar, valorizar e transpor barreiras que a sociedade criou para as pessoas. É oferecer o desenvolvimento da autonomia, por meio da elaboração de pensamentos e formulação de juízo de valor, de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstâncias da vida”. (Santos, 1999.p.). A criança e o adolescente hospitalizado vivem um período no qual, de alguma forma, a sua maneira de ser e estar vem se modificando. E é neste processo que a intervenção pedagógica auxilia essa criança e esse adolescente a resignificar o momento de suas vidas. Através da efetuação de dinâmicas pedagógicas e interações com a família e escola, as repercussões da hospitalização tornam-se mais amenas. O professor, através da pedagogia, propiciará formas para que estas pessoas acreditem na sua capacidade de compreender a situação vivenciada e encontrem mecanismos que os auxiliem no seu processo emancipatório na busca da saúde. Será também esse professor o 4510 mediador entre criança /adolescente e seus familiares, os objetos e as pessoas deste novo ambiente, contribuindo para elaboração de novos conhecimentos e aquisições de novos significados, estimulando o pensamento crítico, construindo e desconstruindo e reconstruindo o conhecimento a partir das vivências ocorridas no ambiente hospitalar. A abordagem pedagógica no ambiente hospitalar é entendida como instrumento redutor dos efeitos traumáticos da internação e do impacto causado pelo distanciamento da criança e adolescente da sua rotina, principalmente no que se refere ao afastamento escolar. O período de hospitalização é transformado então num tempo de aquisição de novos significados, não sendo preenchido apenas pelo sofrimento e vazio do não crescimento. A pedagogia informal também desempenha um papel importante ao fazer a integração de jogos e brincadeiras ao aprendizado, ameniza assim a permanência da criança dentro do hospital e contribui para a superação de sua enfermidade, pois brincar é uma atividade inerente à vida de uma criança. As crianças ao serem hospitalizadas, geralmente, ficam afastadas de suas casas, famílias, escolas, amigos e brinquedos. Passam a viver em um ambiente até então desconhecido, onde convivem com a própria dor e com a dor de outros doentes. Essa situação é agravada quando a hospitalização é prolongada. O trabalho pedagógico neste momento é extremamente necessário, ele deve criar um ambiente alegre e positivo, que estimule a recuperação da criança e que amenize dentro do possível o problema de rejeição ao tratamento de saúde. É importante observarmos que a fase de escolaridade no hospital apresenta uma situação emergencial, onde a criança receberá um atendimento individual e ou coletivo, exigindo maior flexibilidade na execução das atividades, pois as crianças e adolescentes se encontram em uma situação adversa ao ambiente escolar. Ao iniciarmos o trabalho com o escolar hospitalizado devemos informar a ele e aos seus familiares qual é a proposta do trabalho de escolarização no hospital, qual o objetivo de estarmos trabalhando neste ambiente e como esse trabalho irá auxiliá-lo no retorno à sua rotina escolar. O processo de retorno do escolar-doente à escola deve envolver não apenas a equipe hospitalar como também a equipe escolar, no sentido de que haja garantia de continuidade da identidade social da criança. Vem daí a necessidade de, durante a fase de hospitalização, haver uma permanente relação com a escola de origem da criança através de intercâmbio de informações. 4511 Esse contato visa eficácia da escolaridade no hospital, mas também permite o preparo do referido retorno no momento da alta médica. Aqui devemos incluir algumas situações em que o escolar, no momento da alta médica, não se encontra ainda em condições físicas adequadas de freqüência à escola, e deverá passar por uma fase intermediária entre o hospital e a escola. Em relação aos familiares, as ações referem-se ao incentivo à participação nas atividades escolares do aluno e ao aumento de cuidados às crianças enfermas. É importante o vínculo alcançado junto à criança e aos familiares. Estimulando-os à valorização do tratamento da saúde e da vida escolar, obtendo uma visão mais dinâmica e otimista do futuro. Não podemos esquecer que as atitudes dos familiares, em relação à enfermidade são importantes e determinantes na vida escolar da criança. Considerando o meio-social identificamos dois tipos característicos de atitude familiar: familiares estimulantes e familiares não estimulantes e super protetores. Dos familiares estimulantes podemos dizer que são aqueles que se preocupam, apóiam, e inspiram segurança ao doente; aceitam conscientemente a situação agindo de forma positiva em relação à doença e não deixam de considerar o doente em sua totalidade. Esse apoio e compreensão proporcionam à criança condições de crescer e progredir mais harmoniosamente. Por outro lado os pais superprotetores encasulam seus filhos enfermos impedindo-os de se expandirem. Com uma proteção extrema privando-os de esforços acabam bloqueando suas ações, tornando-os dependentes e limitados em seu desenvolvimento. A atuação do professor confirma que não há um modelo pronto ou acabado, mas o desfio de se construir uma ação pedagógica que contemple esta diversidade e especificidade. Dados levantados informam que as classes hospitalares existem desde 1950 e apesar disso este recurso tem sido pouco utilizado, resultando dificuldade em sistematizar os atendimentos e obter profissionais qualificados, pois há pouco conhecimento especializado disponível para os professores envolvidos com esse trabalho. Há, portanto, necessidade de pesquisar e aprofundar conhecimentos teóricos e metodológicos para que sejam implementadas propostas efetivas de atuação do professor nas classes hospitalares. 4512 REFERÊNCIAS Brasil. Conselho nacional dos direitos da criança e do adolescente. Resolução no 41, de 13 de outubro de 1995. Ceccim, R., Cristófilo, L., Kulpa, S. & Modesto, R. (1997) Escuta pedagógica à criança hospitalizada. . Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 76-84. Ceccim, R & P. Carvalho (org.) Criança hospitalizada: atenção integral como escuta à vida. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 76-84. Classe Hospitalar: atendimento pedagógico-educacional para crianças e jovens hospitalizados. Apresenta dados, informações e bibliografia sobre o atendimento de crianças e jovens hospitalizados, 1997-2001, Disponível em <http: //geodesia.ptr.usp.br/classe>. Fassam, M. (1982) Education for children in hospital. London: The National Association for the Welfare of Children in Hospital. Fonseca, E. (1997) Classe hospitalar: atendimento pedagógico-educacional para crianças e jovens hospitalizados. Home page no endereço http://craae.ptr.usp.br/ltg/classe. Webmaster e logo por Alexandre Lee. São Paulo. Matos, E.L.M; Muggiati, M.T.F. Pedagogia Hospitalar. Curitiba: Champagnat, 2001. MEC/SEESP (1994) Política nacional de Educação Especial. Educação Especial: um direito assegurado. livro 1. Brasília: Secretaria de Educação Especial. 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