29/09/2015
Real fraco preocupa produtores argentinos | Valor Econômico
Real fraco preocupa produtores argentinos
Por Marli Olmos | De Buenos Aires
Com os olhares atentos à sucessão de números e tabelas exibidos em slides, empresários demonstram
curiosidade por saber como será a Argentina "quando voltar a ser um país normal". Essa é a expressão
que o palestrante usa repetidas vezes para se referir às oportunidades que podem surgir a partir de 25 de
outubro, dia da eleição de um novo governo.
Reunidos recentemente na sede da Sociedade Rural Argentina, em Buenos Aires, esses empresários
aguardam ansiosos a despedida de Cristina Kirchner, cujo mandato marcou tempos de conturbado
enfrentamento com o campo.
Mas no caminho da esperada posse de um novo presidente
surgiu outro obstáculo. A crise no Brasil agrava a deterioração
das exportações dos produtos argentinos. Além disso, a onda de
desvalorizações do real e de moedas de outros parceiros
comerciais e de concorrentes preocupa o setor agropecuário do
país, onde o câmbio mudou menos nos últimos tempos.
Nos últimos 12 meses, o dólar se valorizou 70% em relação ao
real, mas apenas cerca de 11% em relação ao peso argentino. Ainda é difícil medir o alcance desse
aumento da concorrência brasileira em relação a produtos que a Argentina também exporta por causa
do câmbio, mas esse não é o único problema. Com o movimento, o Brasil também tende a importar
menos produtos argentinos, com reflexos sobretudo para as chamadas economias regionais.
O mercado brasileiro é o destino de mais de 70% do que os argentinos exportam em farinha de trigo,
cebolas, alho, azeitonas, malte e batatas congeladas. Mais de 40% de uvas e azeite de oliva e um terço de
peras e maçãs vendidos ao exterior também seguem para o Brasil.
"É muito preocupante a situação econômica que o Brasil vive hoje. Afetará fortemente o comércio,
porque boa parte de nossos produtos regionais destina­se a esse país", afirma Ezequiel de Freijo, analista
do Instituto de estudos econômicos da Sociedade Rural Argentina.
Independentemente da conjuntura, lembra Freijo, muitas empresas brasileiras que atuam na Argentina
passaram a ser mais competitivas que as locais. O economista conta que, no varejo, o quilo do presunto
de marcas como Sadia (da BRF) já custa pelo menos 35% menos que tradicionais marcas locais. "O
Brasil comprou empresas produtivas e nós ficamos com as velhas", destaca ele.
Com a desvalorização do real, aumenta a preocupação também em relação a produtos fabricados no
Brasil que podem chegar ao mercado da Argentina se o próximo governo adotar uma política de
importação menos controlada que a atual.
Mas não é só a queda do real que preocupa o agronegócio argentino. Na Rússia, outro mercado
importante, a desvalorização do rublo supera a da moeda brasileira. Para o mercado russo, seguem 20%
das exportações de carne bovina congelada e 41% da carne equina.
A possível retração da demanda da China é mais um problema, já que o país asiático absorve, por
exemplo, 81% das exportações de soja em grão da Argentina e 57% dos embarques de óleo de
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amendoim.
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A partir da crise de 2001, a Argentina avançou nas exportações de produtos agrícolas. Mas em 2011, no
início do segundo mandato de Cristina Kirchner, os volumes começaram a cair. Uma política orientada
ao consumo interno, com a criação de taxas e limites para exportar, frearam os embarques. Os volumes
vendidos para outros países encolheram 16% nos últimos quatro anos, segundo o instituto de estudos
econômicos da Rural. Alguns cultivos sofreram retração maior. As vendas de frutas cítricas diminuíram
35%.
A perda de competitividade em produtos de cultivo massivo também preocupa os produtores. Segundo
cálculos do diretor da Consórcios Regionais de Experimentação Agrícola (CREA), Santiago Soler, 43%
da área de cultivo de soja se torna inviável com um imposto de 35% sobre a exportação. "Sem mudanças
estruturais a Argentina será a variável do ajuste da oferta mundial de soja", destaca Soler.
Ele lembra que EUA, Brasil e Argentina, nessa ordem, respondem por 80% da produção mundial de
soja. "Vai custar muito digerir os altos estoques mundiais e algum país vai reduzir a capacidade
produtiva de acordo com a competitividade. Trata­se de um jogo do tipo 'quem vacila primeiro', e a
Argentina é candidata a vacilar primeiro".
Mas, apesar do cenário desfavorável, Soler acredita que muitos produtores manterão o ritmo à espera
que as coisas mudem. Para o campo, ainda há esperanças de que a Argentina volte a ser "um país
normal".
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