EDITORIAL
Deus conta com o homem
O primeiro decénio do século XXI acaba de completar-se.
Ainda temos na memória a magia e o mistério da noite de 31 de Dezembro
de 1999, que marcou a passagem para o terceiro milénio. Num abrir e fechar
de olhos, decorreram dez anos densos de factos e acontecimentos que marcaram
este breve período da nossa história. Muitos deles não trouxeram grandes
motivos para sorrir. Porque mais próximos no tempo, lembramos com facilidade
as crises e os escândalos financeiros, o sobe e desce dos preços do petróleo a
atingirem níveis espantosos, os conflitos armados, as alterações climáticas,
as pandemias verdadeiras ou artificiais, a constatação da impossibilidade de
realizar os objectivos fixados de reduzir a pobreza, a mortalidade infantil e outros
objectivos chamados do «Milénio». Um longo elenco que poderia ser alargado
com um pequeno exercício de memória. Ficamos com a impressão de que, em dez
anos, pouco ou quase nada mudou. É que persistimos no hábito de esquecer os
esforços e sucessos da luta para melhorar a vida dos homens e mulheres do nosso
planeta. Temos dificuldade em lembrar os pequenos ou grandes passos para
vencer a doença, para combater a pobreza, para criar um mundo mais justo e para
desenvolver mecanismos de solidariedade entre as instituições e entre os povos.
São esforços que, muitas vezes, passam despercebidos e que recolhem pouca
atenção dos meios de comunicação social.
Mergulhados nas dificuldades do tempo presente, temos todavia
É urgente
vencer
um certo
acanhamento
em
reconhecer
o lugar
de Deus
seja na vida
pessoal
como no
âmbito da
vida pública
motivos para esperar. Entre outros, a consciência crescente da “responsabilidade
comum para com a humanidade, especialmente os pobres e as gerações futuras”,
cuja urgência Bento XVI sublinha na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz.
As atitudes de egoísmo ou individualismo que ignoram o sofrimento dos pobres
e o futuro da humanidade são reprováveis. O clima natalício que, nesta quadra,
envolve o mundo de várias maneiras lembra esta responsabilidade e, ao mesmo
tempo, torna presente o empenhamento de Deus revelado na pessoa de Jesus
Cristo para salvar o homem. É um Deus solidário com os homens que
contemplamos no Menino nascido em Belém. Não estamos sós na luta contra
o mal. Deus é nosso aliado. Um aliado poderoso.
O discurso sobre Deus é importante e não se pode escamotear,
tanto pelos crentes como pelos não-crentes. É um tema que sempre fascinou
o espírito humano, colocando-lhe interrogações. Tem a ver com a orientação
da nossa vida e, particularmente, com a nossa sociedade ocidental sedenta da
verdade. O seu caminhar “às apalpadelas” em nada contradiz, ao invés reforça,
a exigência de uma procura sincera sobre o significado fundamental do seu
viver e do seu agir. Para quem acredita, Deus é a origem, o sentido e o fim do
homem e do universo. É urgente vencer um certo acanhamento em reconhecer
o lugar de Deus seja na vida pessoal como no âmbito da vida pública. O Papa
ainda recentemente alertou: “Há a tendência para reduzir o homem a uma só
dimensão, a horizontal, tendo como irrelevante para a sua vida a abertura ao
Transcendente”. A relação com Deus é essencial no caminho da humanidade
e da Igreja para o progresso autêntico e para um humanismo pleno, irrealizáveis
sem esta abertura ao Absoluto. A missão do crente é tornar Deus presente no
mundo e abrir aos homens o caminho que a Ele conduz.
EA
FÁTIMA MISSIONÁRIA
0 JANEIRO 2010
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Deus conta com o homem