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INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO IVOTI
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
VANESSA PRASS
Planejamento: Articulando desejos e necessidades
Ivoti
2009
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INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO IVOTI
CURSO NORMAL SUPERIOR - LICENCIATURA PARA EDUCAÇÃO INFANTIL
VANESSA PRASS
Planejamento: Articulando desejos e necessidades
Trabalho de conclusão apresentado como
requisito parcial para obtenção do título de
licenciada em Pedagogia do Instituto Superior
de Educação Ivoti
Orientadora: Prof. Ms. Circe Mara Marques
Ivoti
2009
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Dedico este trabalho ao meu pai e minha
mãe pela confiança e incentivo durante essa
trajetória para continuar os estudos e para que
meu sonho se tornasse realidade.
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais e minhas irmãs,
por estarem presentes nos momentos difíceis e de alegria, incentivando e dando
apoio
Ao Daniel,
pela paciência, companheirismo e compreensão pelos momentos ausentes.
Aos meus familiares,
pela ajuda em todos os momentos;
Aos colegas, amigos, direção e coordenação das escolas,
que me acolheram e auxiliaram para que meu trabalho e estudo se
concretizasse;
Aos meus amigos,
pelo incentivo e pela ajuda em todos os momentos;
À Mariane Graeff,
pela revisão do trabalho, pelas contribuições e pela amizade;
À Circe Mara Marques, professora, amiga e orientadora,
pelo acompanhamento do estudo e pelos momentos de reflexão;
A todas as pessoas
que, de alguma forma ou outra, contribuíram para que esse sonho se tornasse
realidade.
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RESUMO
O ser humano planeja cotidianamente em sua vida, mas é necessário buscar diretrizes
adequadas à realidade educacional, para que se tenha um ensino de qualidade. O planejamento
marca a intencionalidade do processo educativo e deve ser visto como um instrumento
flexível. É uma necessidade do professor, que deve usá-lo para a possibilidade de mudança
no ensino. Também traz consigo a importância da participação dos estudantes, pois é um
instrumento de formação de seres humanos, tendo como desafio transformar a realidade. O
Planejamento por projetos de trabalho é um grande desafio para os profissionais que atuam na
Educação Infantil, porém, a partir das entrevistas realizadas com profissionais que atuam com
crianças de quatro e cinco anos, pude perceber que sabem da importância do planejamento,
mas suas ideias ainda estão confusas em relação a este trabalho. Minha monografia aponta
aspectos fundamentais sobre a importância de planejar e como acontece o trabalho por
projetos de trabalho, bem como coloco a minha opinião e reflexões a respeito desse assunto.
Palavras-chave: Planejamento – Projetos – Educação Infantil
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
IMAGEM N° 01 – A CRIANÇA: AQUELA QUE É SEMPRE VISTA DE CIMA...............13
IMAGEM N° 2 – O TEMPO PERDIDO..................................................................................15
IMAGEM N° 03 – O MATERNAL: O PROGRAMA.............................................................20
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................8
2 POSSIBILITANDO O CAMINHO DE TRANSFORMAÇÃO.......................................10
2.1 A IMPORTÂNCIA DE PLANEJAR..................................................................................10
2.2 O PAPEL DO PROFESSOR NO PLANEJAMENTO.......................................................11
2.3 PLANEJAMENTO: A CRIANÇA EM FOCO..................................................................13
2.4 CAMINHOS QUE POSSIBILITAM INOVAÇÃO...........................................................16
2.5 PRÁTICAS VIGENTES DE PLANEJAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL............18
3 PLANEJAMENTO POR PROJETOS...............................................................................23
3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS................................................................................................23
3.2 O PAPEL DO PROFESSOR E DAS CRIANÇAS COMO PROTAGONISTAS..............26
3.3 ESTRUTURA E COMUNICAÇÃO..................................................................................28
4 OS PROFISSIONAIS E SUAS CONCEPÇÕES DE PLANEJAMENTO.....................35
4.1 O SIGNIFICADO DO PLANEJAMENTO: O QUE DIZEM OS PROFESSORES..........36
4.2 OS TIPO DE PLANEJAMENTO ADOTADOS PELOS PROFESSORES......................37
4.3 PROJETOS: O QUE AFIRMAM OS PROFESSORES.....................................................38
4.4 AS EXPERIÊNCIAS DOS PROFESSORES COM PROJETOS.......................................50
4.4.1 Projeto “Eu, Tu, Nós no Mundo”.................................................................................50
4.4.2 Projeto “Os Cinco Sentidos”.........................................................................................51
4.4.3 Projeto “Caminhão do Lixo”........................................................................................51
4.4.4 Projeto “Letrinha”.........................................................................................................52
5 CONCLUSÃO......................................................................................................................54
REFERENCIAS......................................................................................................................56
ANEXOS..................................................................................................................................57
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1 INTRODUÇÃO
O planejamento é uma ferramenta fundamental na educação infantil, pois através dele
o grupo organiza o espaço, a rotina e as aprendizagens.
É importante que as professoras e professores que atuam na educação infantil
ofereçam oportunidades para as crianças expressarem suas curiosidades, suas hipóteses, seus
conhecimentos e contribuam nas sugestões de atividades e metodologias para buscar as
respostas daquilo que querem aprender.
As crianças são capazes e criativas para contribuir no planejamento da ação educativa,
porém, na prática, ainda têm poucas oportunidades para isso. Sendo assim, o tema que será
desenvolvido nessa pesquisa poderá contribuir para que os professores reflitam sobre suas
práticas de planejamento e busquem oferecer oportunidades para participação ativa das
crianças na seleção dos temas, na organização das atividades e avaliação das aprendizagens.
Mas será que as crianças de quatro a cinco anos estão tendo oportunidades de
contribuir no planejamento das aulas? Que oportunidades lhes são dadas? Que implicações
essas oportunidades acarretam em suas aprendizagens?
Esta monografia tem como principal objetivo investigar e analisar as formas de
planejamentos adotadas pelas professoras que atuam com crianças de quatro a cinco anos nas
escolas de educação infantil; as oportunidades dadas/negadas de participação dessas crianças
na organização da ação educativa e as implicações dessa prática na aprendizagem das
crianças.
A metodologia deste trabalho terá inicialmente uma pesquisa teórica em relação à
importância do planejamento na educação infantil e a participação ativa da criança nesse
processo.
Também serão realizadas entrevistas com professores e crianças para verificar como
realizam o planejamento, se há a participação das crianças; em que momento acontece essa
participação e como se concretiza.
No segundo capítulo serão abordados aspectos do planejamento, destacando a
importância de planejar no cotidiano da Educação Infantil, o papel do professor nessa tarefa.
Abordarei também como se deve realizar este planejamento e os tipos de práticas vigentes na
Educação Infantil.
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No terceiro capítulo será abordado o planejamento por projetos de trabalho, e este
assunto é introduzido pelo que se refere à parte histórica do trabalho com projetos na
Educação Infantil. Também abordarei o que são os projetos, como surgiram e os benefícios
dessa forma de planejar. Além disso, será abordado o papel do professor e das crianças como
protagonistas no trabalho com projetos destacando a estrutura, comunicação, escolha dos
temas, avaliação e documentação.
O quarto capítulo trata das concepções dos professores entrevistados, realizando uma
análise sobre suas formas de planejamento, analisando os relatos de projetos e as visões que
possuem com relação a prática de planejar com projetos.
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2 Possibilitando o caminho de transformação
2.1 A importância de planejar
Se quisermos colaborar no processo de transformação social, de modo a construir uma
sociedade mais humana e democrática, precisamos planejar caminhos que nos auxiliem a
concretizar mudanças. Uma educação de qualidade é imprescindível nesse processo.
O ser humano planeja cotidianamente em sua vida, mas é necessário buscar diretrizes
adequadas à realidade educacional, de modo que superem o espontaneísmo e maximizem as
aprendizagens. Assim, o ato de “planejar é uma ajuda para ordenar e organizar um ensino de
qualidade” (BASSEDAS, 1998, p. 14).
No início dos anos 80, o planejamento cumpria uma função meramente burocrática na
escola e era deixado de lado pelos professores. Contudo, nos dias de hoje, o planejamento não
pode ser encarado como um simples preenchimento de fichas, mas como um instrumento para
orientar o professor, para provocar reflexões diárias, projetando e traçando experiências
variadas.
O planejamento marca a intencionalidade do processo educativo, porém não adianta
ficar só na intenção. Ele significa atitude e deve ser visto não como uma forma, mas sim um
instrumento muito flexível, permitindo ao professor adaptá-lo às necessidades e interesses de
suas crianças. Portanto, “planejar é elaborar o plano de intervenção na realidade, aliado à
exigência de intencionalidade de colocação em ação.” (VASCONCELLOS, 1995, p. 43).
O ato de planejar deve estar apoiado na observação, no registro e na avaliação. Ele
deve oferecer ao professor uma previsão do que irá acontecer na aula, permitindo que sejam
feitas alterações ou que algo planejado não seja realizado. Conforme Bassedas,
Entendemos o planejamento como uma ajuda ao planejamento estratégico do
professor, sendo um recurso inteligente por meio do qual ele pode elaborar suas
aulas, não fechando nenhum caminho de acesso; ao contrário, o planejamento
somente pode concretizar-se na aula, e lá será necessário tomar um conjunto de
decisões que, às vezes, afetam pouco o que se havia previsto e, em outras, exigem
modificações substanciais. (BASSEDAS, 1999, p. 114)
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O planejamento permite organizar, programar e fundamentar a prática educativa e a
tomada de decisões. Programando, pode-se colocar realmente qual é a intencionalidade,
valorizando a possibilidade do caminho de ensinar.
Quando realizamos um planejamento, há alguns aspectos que precisam ser previstos,
como: se aquilo é possível de acontecer e se podemos interferir na realidade. Devemos
planejar para a transformação do trabalho pedagógico, da relação com os alunos, da pessoa do
professor, da escola, da comunidade e da sociedade.
2.2 O papel do professor no planejamento
Algumas vezes, a escola corresponde a uma opção formal na vida do professor, que
aliena seu verdadeiro caráter político e pedagógico. Sendo assim, o trabalho pedagógico se
torna um meio de sobrevivência, uma mera fonte de renda do professor, perdendo-se a
dimensão humana que esse ato realmente carrega.
Se queremos resgatar o lugar do planejamento na prática escolar, precisamos
resgatar o lugar do professor como sujeito do processo educativo. Quem age por
condicionamento não carece de planejamento, pois alguém já planejou seu
condicionamento. Seres alienados não precisam planejar! (VASCONCELLOS,
1995, p. 24)
O educador precisa saber o “como se faz”, e não apenas “fazer como os outros
fizeram”, reproduzindo sempre as mesmas coisas. “O professor precisa ajudar a interromper o
cruel processo de imbecilização e de destruição a que vem sendo submetido. Precisa resgatarse
como
sujeito,
como
ser
autônomo,
para,
enfim,
resgatar
sua
dignidade.”
(VASCONCELLOS, 1995, p. 24).
A função do professor é muito importante e exigente, sendo necessário um
planejamento a altura, lembrando que “a tarefa de educar é por demais importante e complexa
para ser decidida e feita isoladamente, na improvisação, ao acaso, na base do ‘jeitinho’.”
(VASCONCELLOS, 1995, p. 34).
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O planejamento é e deve ser visto como uma necessidade do professor, que implica a
possibilidade de mudança, que é alcançada por novas ideias que são colocadas em prática.
Caso não haja objetivos em planejar, não conseguirá realizar um plano significativo.
Neste sentido, o plano não transforma; não adianta ter planos bonitos, se não
tivermos bonitos compromissos, bonitas condições de trabalho sendo conquistadas,
e bonitas práticas realizadas. (VASCONCELLOS, 1995, p. 31).
Para tanto, é necessário criar, inventar e se libertar para prever as intervenções,
visando à mudança e a transformação da realidade.
A maioria dos educadores sabe que precisa planejar, contudo não reconhece o real
significado dessa tarefa, vendo-a como uma mera burocracia. Mas,
[...] fazer planejamento é refletir sobre os desafios da realidade da escola e da sala de
aula, perceber as necessidades, re-significar o trabalho, buscar formas de
enfrentamento e comprometer-se com a transformação da prática.
(VASCONCELLOS, 1995, p. 59)
O professor precisa propiciar a construção significativa de conhecimentos através de
problematizações, oportunizando contato das crianças com o objeto para então surgirem as
necessidades, que são criadas socialmente e mediadas pela realidade. Deve fazer acontecer, ou
seja, ser agente de transformação.
O planejamento, por si só, não garante a concretização de uma boa prática,
Assim, a teoria (plano) deve ser a melhor possível, não caindo, porém, na
ingenuidade de imaginar que basta planejar para acontecer: há toda uma luta
ideológica, política econômica e social para ser enfrentada, seja consigo mesmo,
com os colegas de trabalho, com os educandos, com as famílias e com as instituições
em geral. (VASCONCELLOS, 1995, p. 30).
De acordo com Vasconcellos (1995), o planejamento contribui com diversas questões,
como a organização do currículo, estabelece comunicação entre os professores, tendo uma
integração curricular, racionaliza o tempo, não desperdiça oportunidades de aprendizagens,
proporciona autoformação do professor, estabelece participação e comunicação com os
alunos.
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O planejamento pode e deve ser compartilhado com os demais professores para se
tornar mais rico e regular. Assim, haverá trocas de idéias que beneficiará ambos os lados.
De acordo com Marilene Lima, “planejar é uma questão de autoria: é a possibilidade
de o professor escrever e ser autor de seu conhecimento, de seu pensamento, de sua história,
da história de seus alunos e de seu ‘destino’ de aprendiz e ensinante.” (LIMA, 2009). Ou seja,
é através do planejamento que o professor e os alunos colocam o que sabem e o que precisam
pesquisar, aprendendo um com o outro.
2.3 Planejamento: a criança em foco
O planejamento também traz consigo a importância da participação dos estudantes,
pois é um instrumento de formação de seres humanos, tendo como desafio transformar a
realidade. Nesse sentido, “a participação é um valor, é uma necessidade humana [...]. É uma
questão de respeito pelo outro, de reconhecimento de sua condição de cidadão, de sujeito do
sentir, pensar, fazer, poder.” (VASCONCELLOS, 1995, p. 51). Com a participação, passa-se
a ter um desejo muito grande de que as coisas aconteçam e a busca pelos objetivos traçados.
Quanto maior participação dos estudantes, mais probabilidade do plano ter sucesso.
Quando a criança não é ouvida e considerada no planejamento do professor, é como se
ela fosse vista de cima. Essa ideia está representada na imagem número 01 (TONUCCI, 1997,
p. 06)..
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IMAGEM N° 01 – A CRIANÇA: AQUELA QUE É SEMPRE VISTA DE CIMA
A criança aprende interagindo com o objeto de conhecimento-linguagem e a
professora aprende com a criança pela interação dela com o objeto. Sendo assim, a professora
e a criança precisam ser cúmplices e parceiros, pois quanto mais perto um do outro, mais
conhecem sobre si, sobre o outro e sobre convivência. Ao propor atividades é preciso que os
professores conheçam as crianças e verifiquem o que elas conseguem fazer e em que
situações precisam de mais estímulos. Sendo assim, as atividades deixam de ser meros
passatempo ou uma forma de mostrar para a direção, coordenação e pais que foi realizado um
bom trabalho. É fundamental refletir e potencializar as práticas que irão contribuir para a
aprendizagem e desenvolvimento das crianças.
É necessário estar atento às situações significativas, fazendo observações, aguçando
curiosidades, respeitando a diversidade do grupo e ouvindo as crianças. Ouvir o que falam
entre si e o que conversam ou perguntam para o professor. Por isso, “[...] a escuta torna-se,
hoje, o verbo mais importante para se pensar e direcionar a prática educativa.” (OSTETTO,
2000, p. 194). O professor precisa olhar a criança real, para conhecê-la e traçar os projetos,
pois “planejar é antecipar mentalmente uma ação a ser realizada. É buscar fazer algo incrível,
essencialmente humano: o real ser comandado pelo ideal” (VASCONCELLOS, 1995, p. 42).
Planejar na educação infantil é envolver as crianças em atividades e situações de
aprendizagens desafiadoras e significativas, estimulando a exploração e a descoberta, sobre o
mundo e o meio social e físico. Essas explorações são intermediadas com interações
qualificadas que se dão entre adultos e crianças, entre as crianças e ambos com o meio.
Assim,
Nessa perspectiva, outro ponto que passamos a incluir foi a previsão do espaço.
Embora se diga que planejar implica pensar também ‘onde’ e ‘quando’ vai se
desenvolver uma ação, esse aspecto não era previsto comumente pelos educadores e
por nós. Então passamos a explicitá-lo como elemento fundamental do
planejamento. (OSTETTO, 2000, p. 194).
Através da imagem 2, Tonucci (1997, p. 78) lança uma crítica ao significado, para as
crianças, das experiências vividas na escola. Isso leva o professor a refletir sobre o seu
planejamento, sobre sua ação com as crianças no seu cotidiano: será que o professor está
conseguindo envolver seus alunos em atividades significativas?
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IMAGEM N° 2 – O TEMPO PERDIDO
O planejamento na educação infantil é mais que atividade, é a criança em foco, como
diz Luciana Ostetto (2000). É a base do ensino, pois através dele entra-se no processo de
ensino-aprendizagem, tendo-se que ter sempre presente a reflexão sobre a prática. Entretanto,
[...] o planejamento na educação infantil é essencialmente linguagem, formas de
expressão e leituras do mundo que nos rodeia e que nos causa espanto e paixão por
desvendá-lo, formulando perguntas e convivendo com a dúvida. (OSTETTO, 2000,
p. 190).
Na escola de educação infantil, o planejamento tem diferentes autores, objetos e
momentos. Estes autores podem ser as crianças, os pais, um conjunto de professores
demonstrando suas peculiaridades, pois
[...] exigem da professora um dinamismo, uma capacidade de observação e de
parâmetros gerais em que à de mover a aula no seu conjunto, o que facilitará para
responder, adequadamente, ao que requer quando se planeja educar pessoas curiosas
e incansáveis, como os meninos e meninas dessa etapa. (BASSEDAS, 1999, p. 114)
Enfim, planejar na educação infantil é “(...) planejar um contexto educativo,
envolvendo atividades e situações desafiadoras e significativas, que favoreçam a exploração, a
descoberta e a apropriação de conhecimento sobre o mundo físico e social.” (OSTETTO,
1997, p. 193)
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Quando o professor vai colocar em ação o planejamento, o sucesso ou não depende
muito do compromisso que ele tem com sua profissão, do respeito por suas crianças, da sua
formação e dos valores em que acredita. Enfim, depende de sua atitude.
2.4 Caminhos que possibilitam inovação
Cada professor tem seu jeito, sua forma de planejar e registrar no papel esse
planejamento, uma forma pessoal, pois alguns professores gostam de tudo explicado com
muitos detalhes e já outros conseguem se organizar apenas com as listagens. “Não é a forma,
mas princípios que sustentam uma ou outra organização.” (OSTETTO, 2000, p. 178).
Portanto, o mais importante é o que, para que e para quem planejar. “A forma não altera o
produto.” (OSTETTO, 2000, p.178).
Primeiramente, antes de iniciar a planejar, é muito importante verificar o que as
crianças querem aprender, no que demonstram interesse em explorar e em aprender mais. Mas
como o professor pode descobrir em que as crianças têm interesse e têm a necessidade de
saber?
De acordo com Gabriel Junqueira (2005), o planejamento se organiza em duas partes.
A primeira parte ele chama de “parte cheia”, que
são saberes instrumentais para a professora continuar se produzindo como
professora e para as crianças continuarem se produzindo como crianças e, juntos,
produzirem, em parte – sempre em parte -, a infância, a professoralidade, a
humanidade. [...] São saberes instrumentais porque também estão a serviço da
professora para que possa ir conhecendo as crianças. (JUNQUEIRA, 2005, p. 21).
Assim, no início do ano letivo, quando o professor ainda não conhece as sua crianças,
deve realizar seu planejamento baseado em suas crenças, naquilo que acredita que seja
importante trabalhar com as crianças, aquilo que ela considera significativo, organizando a
rotina e abrangendo as áreas curriculares identificadas nos Referenciais Curriculares, que são:
a linguagem oral e escrita, matemática, artes visuais, movimento, música, natureza e
sociedade. Infelizmente, muitas vezes algumas destas áreas são esquecidas ou trabalhadas de
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forma tradicional e fragmentada. É muito importante o professor ter cuidado para envolver as
diferentes áreas para que as crianças possam desenvolver-se integralmente.
A parte cheia do planejamento será apresentada para as crianças a partir de situações
de aprendizagens e não de atividades, pois as situações não vão ser colocadas para
simplesmente encher tempo, destacando que as linguagens da parte cheia são instrumentais.
De acordo com Junqueira (2005), na parte cheia do conteúdo, a partir das linguagens
trabalhadas que o professor selecionou, as crianças vão se mostrando e o professor deve
registrar tudo, tendo pistas dos interesses das crianças. As escolhas de temas por parte do
professor estão relacionadas à suas crenças e princípios, percebendo no seu grupo de crianças
as necessidades e indo em busca da solução dos problemas e curiosidades. Com as produções,
nas quais demonstram seus desejos, interesses, necessidades e curiosidades é possível
registrar e conhecer as crianças e descobrir o que precisam fazer. Portanto, ao planejar o
professor deve se aventurar com as crianças em busca daquilo que é novo, construindo juntos
a identidade do grupo.
A segunda parte do planejamento ele chama de “parte vazia”, que complementa a
primeira parte. Esta ficará em aberto e deverá ser preenchida a partir da chegada das crianças.
Interagindo com a parte cheia do planejamento e realizando as intervenções, as pistas são
identificadas. Esta parte também está vazia de conhecimento do professor sobre as crianças,
de realidades e suas singularidades, que é o diferencial para preencher esta parte. Depois que
os temas foram identificados, a professora passa a ser produtora de sentido, identificando os
temas a serem trabalhados. Após identificados os temas é o momento de dar significado,
estimulando e pesquisando.
Englobar diferentes conteúdos e a realidade do aluno é importante no planejamento. O
planejamento pode sofrer alterações, devido às necessidades que surgem no grupo, abrindo
caminhos para novas descobertas. É uma ferramenta na mão do professor, podendo assim,
refletir sobre o que pretende fazer/aprender, como se faz e como se avalia, sendo crucial para
a organização de um ensino de qualidade na educação infantil.
Na maioria das vezes, a maior preocupação dos professores
é ainda a realização da atividade e não os conhecimentos envolvidos, o
questionamento da criança, sua pesquisa e exploração. Toma-se o tema como uma
fôrma, dentro da qual um ou outro ingrediente pode ser trocado, mas o produto final
vai sair do mesmo jeitinho... Sob o controle formador... (OSTETTO, 2000, p. 187),
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Ao pensar nas atividades, deve-se sempre levar em conta a diversidade das crianças.
Uma proposta que auxilia a respeitar essa diversidade é sair de diferentes pontos de partida.
“As atividades não apresentam uma finalidade em si, mas um meio para conseguir
determinados fins; portanto, são infinitamente modeláveis e sujeitas a variações.”
(BASSEDAS, 1998, p. 121).
A programação nos faz pensar na organização do tempo, do espaço e dos recursos
disponíveis. Devemos levar em consideração o ritmo da criança na organização de atividades
para que seja realmente bem aproveitado. As atividades planejadas devem motivar os alunos,
facilitar a exploração, o descobrimento compreensão dos conteúdos e estabelecer uma síntese
do trabalho realizado.
2.5 Práticas vigentes de planejamento na educação infantil
Planejar na educação infantil tem a mesma importância de que planejar em qualquer
outra etapa educativa. Planejando, consegue-se que venham à tona nossas intenções através da
prática, consegue-se prever o melhor para alcançar os objetivos e consegue-se fazer uma boa
organização das atividades. Além disso, planejar significa “reflexão sobre o que se pretende,
sobre como se faz e como se avalia.” (BASSEDAS, 1998, p. 13). A reflexão é fundamental,
pois através dela o professor consegue perceber o que está bom e o que pode acrescentar no
seu planejamento para que as crianças possam se envolver cada vez mais e melhor.
O planejamento na educação infantil pode ser registrado de diferentes formas, umas
mais comuns e mais conhecidas do que outras. Em relação a essa diversidade de formas de
planejar, é necessário fazer uma reflexão, para analisar qual é o método que o professor está
utilizando e se este é o mais adequado para poder realizar sua práxis com intencionalidade e
protagonizando as crianças, articulando as necessidades, os interesses e os desejos.
Luciana Ostetto (2000) destaca seis formas de planejar: planejamento baseado em
listagem de atividades, planejamento baseado em datas comemorativas, planejamento baseado
em aspectos do desenvolvimento, planejamento baseado em temas, planejamento baseado em
conteúdos organizados por áreas do conhecimento e planejamento por projetos.
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Planejamento baseado em listagem de atividades
Este tipo de planejamento está mais preocupado em encher o tempo das crianças entre
os momentos de rotina, como lanches e higienização, do que com a busca de autonomia e
seleção de conteúdos. Assim, o professor busca listar diversos tipos de atividades
diversificadas para serem trabalhadas durante cada dia da semana.
Sendo assim, estas atividades planejadas são as chamadas de “hora da atividade”, não tendo a
preocupação de planejar os demais momentos da rotina, como hora da troca e demais
momentos ligados aos cuidados da criança, que são tão importantes quanto uma atividade.
Neste tipo de planejamento, a maior preocupação é em manter as crianças ocupadas,
sem nenhum embasamento teórico. A criança aparece passiva, sem necessidades e a escola
como um depósito de crianças, que precisam ficar ocupadas enquanto os pais trabalham. As
atividades estão previstas de acordo com o tempo e não com o desenvolvimento delas.
Planejamento baseado em datas comemorativas
Este tipo de planejamento é direcionado pelo calendário, pelo qual são selecionadas
algumas datas consideradas importantes pelo professor, como dia das mães, dia do
trabalhador, dia do índio, Páscoa, Natal e assim por diante, dependendo das escolhas do
profissional e da instituição. Aqui, também são listadas as atividades, referentes a cada data
importante.
O trabalho por datas comemorativas é a fragmentação dos conhecimentos, pois tudo é
trabalhado de forma fragmentada, superficial e descontextualizado, partindo de um tema para
outro de acordo com as datas, como podemos verificar na imagem 03 (TONUCCI, 1997, p.
143). O professor passa a ser um repetidor, uma vez que as datas se repetem ano após ano.
Algumas atividades podem mudar, porém o pano de fundo sempre é o mesmo.
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IMAGEM N° 03 – O MATERNAL: O PROGRAMA
Sendo assim, esse programa acaba se tornando tedioso para as crianças ano após ano,
não ampliando o repertório cultural das crianças, empobrecendo o conhecimento uma vez que
sempre são trabalhadas as mesmas coisas e não dá credibilidade à capacidade da criança de ir
além daquele conhecimento empobrecido.
Não quer dizer que não podem ser trabalhadas ou abordadas, mas não precisam ser o
tema principal nem o mais importante, podem entrar como complementos.
Planejamento baseado em aspectos do desenvolvimento
Este planejamento demonstra a preocupação com aspectos que envolvem o
desenvolvimento infantil. Nesta perspectiva, a maior preocupação é caracterizar a criança
pequena de acordo com os parâmetros da psicologia do demonstrando uma preocupação com
as especificidades das crianças pequenas.
Nessa perspectiva, serão realizados objetivos e atividades para estimular as crianças
nas áreas consideradas importantes. Por um lado, esse tipo de planejamento considera as
particularidades do desenvolvimento infantil, porém, por outro lado desconsidera questões
relacionadas à aprendizagem. Além disso, o desenvolvimento infantil padrão e universalizado,
trata das crianças como sendo todas iguais, como todas tendo o mesmo desenvolvimento e
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estando no mesmo estágio. Assim, acaba passando a ideia de criança ideal, não levando em
consideração o histórico de cada um, suas características determinadas pelo contexto, ou seja,
desconsiderando o ser real e minimizando aspectos sociais e políticos.
Podemos dizer que este tipo de planejamento se encontra na pré-escola, ficando
restrito a essa etapa, sem articulação com as fases superiores do ensino fundamental e sem
menção aos conteúdos.
Planejamento baseado em temas
Nesse tipo de planejamento, o tema é o gerador das atividades propostas. “O tema
busca articular as diversas atividades desenvolvidas no cotidiano educativo, funcionando
como uma espécie de eixo condutor do trabalho” (OSTETTO, 2000, p. 185).
Nesta perspectiva, percebe-se a preocupação com o interesse das crianças, colocando
em foco suas necessidades e perguntas. Os temas podem ser escolhidos pelo professor,
sugeridos pelas crianças ou surgidos por situações significativas. Além de serem trabalhados
assuntos relacionados à realidade da criança, são trabalhados conteúdos significativos para a
aprendizagem delas.
O trabalho baseado no interesse das crianças visa focalizar suas curiosidades, dúvidas
e perguntas, trabalhando a partir da realidade dos alunos, fazendo assim, um trabalho
significativo e envolvente.
Primeiramente é escolhido o tema e depois são organizadas as atividades da semana
relacionadas a este tema. Assim, a proposta não fica solta, simplesmente para ocupar as
crianças, mas sim, tendo significado e intencionalidade.
Muitas vezes para os educadores, a escolha de temas é um pretexto para fazer a
listagem de atividades. Os aspectos sociais e culturais da sociedade também deveriam
contemplar o planejamento do professor.
Se por um lado o planejamento por temas visa enfocar a intencionalidade e reforça o
trabalho educativo, por outro cria uma falsa articulação, pois as atividades acabam se
tornando mecanicamente repetitivas, transparecendo que a maior preocupação é a atividade e
não os conhecimentos, os questionamentos, a pesquisa e exploração.
Planejamento baseado em conteúdos organizados por áreas do conhecimento
Nesta perspectiva busca-se a articulação com o ensino posterior que é o ensino
fundamental. A articulação se dá pelos conhecimentos produzidos socialmente e
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historicamente acumulados. Dessa forma, o trabalho é contemplado com conteúdos básicos
das quatro grandes áreas do conhecimento: português, matemática, ciências sociais e naturais.
As áreas do conhecimento trouxeram maior consistência para o trabalho com temas,
pois estas dão o norte e intensificam a intencionalidade com as crianças ampliando seus
conhecimentos. Porém essa forma de planejar ainda não contempla os bebês.
Por fim, Ostetto, se refere ao Planejamento por projetos de trabalho como um grande
desafio para os profissionais que atuam na educação infantil. Devido a sua importância no
contexto atual, o próximo capítulo será dedicado a essa metodologia de trabalho.
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3 Planejamento por projetos
3.1 Aspectos históricos
A ideia de projetos está muito presente no cenário pedagógico, porém esta ideia não é
nova. Na época do iluminismo, surgiram discussões em relação aos projetos sociais que
procuravam utilizar o conhecimento para pensar e imaginar um futuro melhor.
No final do século XIX, construiu-se um movimento chamado Escola Nova, que
questionava os sistemas educacionais vigentes, criticava a escola tradicional e as concepções
de criança e de aprendizagem vigentes na época.
Os principais representantes desse movimento foram Ovide Decroly e John Dewey.
Estes procuravam criar uma forma de organização de ensino que enfatizasse o trabalho
globalizado, atendimento ao interesse dos alunos e participação no processo de ensino
aprendizagem.
Decroly criou os “centros de interesses”, que é um trabalho globalizado que busca
enfatizar aquilo que as crianças demonstram interesse. Propunha a observação direta, a
associação das coisas observadas e a expressão do pensamento da criança através das
linguagens. Defendia a liberdade, individualidade, atividade, intuição e globalização. Enfim,
os “centros de interesses” consistiam em um estudo da realidade através de um eixo, um
centro que desse sentido.
No inicio do século XX, debatia-se sobre o ensino globalizado sobre o qual se
destacaram importantes educadores como John Dewey (1852 – 1952) e seu seguidor Willian
Kilpatrick (1871 – 1965). Para Dewey, a aprendizagem se dá através da ação e da experiência,
pois o pensamento é produto do encontro do indivíduo com o mundo.
De acordo com Lima (2007), este ensino globalizado, conquistado a partir do trabalho
com projetos, “teve início a partir do pressuposto da importância de se desempenhar, no
espaço escolar, atividades com intenções definidas ou integradas a partir de propósitos
pessoais.” (LIMA, 2007, p. 7)
24
Essa proposta revela uma escola ativa, que compartilha as experiências e trabalhos em
comunidade, sendo assim a sala de aula foi considerada uma comunidade em miniatura. A
função da escola é auxiliar as crianças a compreender o mundo pela pesquisa, debates e
solução de problemas. Para Dewey, “projetar e realizar é viver em liberdade” (HORN, 2008,
p.18) e ele levanta alguns princípios fundamentais para a laboração de projetos, como:
princípio da intenção (a ação para ser significativa precisa ser desejada), princípio da situação
problema (o pensamento surge de uma situação problema que precisa ser analisada, refletida;
realizar conexões), princípio da ação (a aprendizagem é singular, implicado sensibilidade,
emoção, pensamento), princípio da real existência anterior (experiências passadas), princípio
da investigação científica (aprendizagem através da pesquisa), princípio da integração
(construir relações entre os projetos), princípio da prova final (verificar se houve
aprendizagem) e princípio da eficácia social (atividades que estimulem o comportamento de
solidariedade e democracia).
Devemos refletir por que essa forma de ensino voltou ao cenário da educação, pois as
características das crianças não estavam sendo levadas em consideração, precisando de
modificações na estrutura escolar para significar as aprendizagens e experiências dos alunos.
A metodologia dos projetos utilizada por Kilpatrick parte dos problemas reais, do diaa-dia do aluno. Tudo é realizado através de projetos. Sua metodologia era baseada com
intenção para que os alunos fizessem algo, interagindo com o meio e aprendendo Ciências,
Linguagem, Geometria, História, etc.
Kilpatrick classificou os projetos em quatro grupos: de produção (no qual se produzia
algo), de consumo (no qual se aprendia a usar algo já produzido), para resolver um problema
e para melhorar uma técnica de aprendizagem. Além disso, destaca algumas características
para um bom projeto: devem promover atividades motivadoras e intencionais, deve
caracterizar-se como um plano de trabalho, deve constituir-se de atividades que impliquem
uma diversidade globalizada de ensino e ser uma atividade que se dê num ambiente natural.
Também destaca três princípios: princípio da situação problemática (o projeto surge de um
problema que desperta o interesse do aluno, a ponto dele desejar resolvê-lo), princípio da
experiência real anterior (em que só a experiência garante o êxito) e o princípio da eficácia
social (o projeto deve ser executado em conjunto para garantir uma boa convivência).
Hoje, as ideias de Kilpatrick e Dewey foram reestruturadas por Fernando Hernandez,
sendo que para ele os projetos podem ser assim caracterizados: Projeto é um tema-problema
que favorece a análise, a interpretação e a crítica, onde predomina a atitude de cooperação e o
25
professor é um aprendiz. É um percurso que busca estabelecer conexões e que questiona a
ideia de uma versão única da realidade, considerando que cada percurso é singular e se
trabalha com diferentes tipos de informação. O docente ensina a escutar, pois do que os outros
dizem também podemos aprender. Sobre o que queremos ensinar há também diferentes
formas de aprender. Projeto é uma aproximação atualizada aos problemas das disciplinas e
dos saberes, uma forma de aprendizagem em que se leva em conta que todos os alunos podem
aprender se encontrarem lugar para isso e, por isso, não se duvida que a aprendizagem
vinculada ao fazer, à atividade manual e à intuição, também é uma forma de aprendizagem.
Para Horn, projeto é:
Um projeto é um plano com características e possibilidades de concretização. Um
plano de ação intencionado que potencializa a capacidade de avaliar o futuro de
quem propõe ou o vive; [...] Um projeto pode ser esboçado por meio de diferentes
representações, como cálculos, desenhos, textos, esquemas e esboços que definam o
percurso a ser utilizado para a execução de uma idéia. (HORN, 2008, p. 31.)
Um projeto é a possibilidade para a resolução de encaminhamentos envolvendo
diferentes recursos imaginativos, criativos e inteligentes, é flexibilidade de ação e de
organização. Permite criar por autoria uma forma de resolver as questões. Possibilitam
momentos de autonomia, cooperação, liberdade, momentos individuais e coletivos.
“[...] um projeto é a procura da solução de um ato problemático levado à realização
completa em um ambiente real tendo um compromisso com a transformação da realidade.”
(BARBOSA, 2000, p. 68). Assim, é necessário proporcionar momentos em que a criança
possa projetar, possa procurar seus próprios instrumentos para resolver as questões.
Pode ser desenvolvido com qualquer grupo de crianças, sendo viável tanto com bebês
quanto com os maiores, considerando os conteúdos de acordo com as características das
crianças. O projeto é uma investigação.
A proposta de trabalhar com projetos de trabalho está ligada à perspectiva de
conhecimento globalizado, resolvendo uma série de problemas da aprendizagem, organizando
as atividades de forma que as crianças possam ter uma compreensão simples e construindo
conhecimentos. Assim é construído um aprendizado significativo com atividades que
favorecem o conhecimento e uma lógica na sequência dos conteúdos para facilitar a
compreensão.
26
3.2 O papel do professor e das crianças como protagonistas
Um grande desafio da educação infantil é trabalhar com crianças de 0 a 6 anos de
forma articulada. Com o tempo, foi-se construindo e ampliando a idéia de situações
significativas.
No projeto há o conhecimento do professor, que conhece os conteúdos das disciplinas
e dos temas a serem trabalhados e o conhecimento que ele adquire durante o projeto, que é
diferente de como a criança o adquiriu. O professor precisa partir junto com as crianças para
fazerem juntos as descobertas.
A aprendizagem dentro do projeto se dá através das interações concretas. Entre as
realizações das atividades é que o planejamento vai se construindo e se definindo os
conteúdos e as metodologias, pois à medida que os interesses vão surgindo o professor vai
trabalhando com as crianças. Essa construção pedagógica, que é o norte do professor, é
fundamental para conquistar um ensino de qualidade.
O papel do professor, que é de articulador, permite que haja novas convergências e
consequentemente novos temas irão surgindo. Dentro do trabalho com projetos, o professor
tem a função de guiar seus alunos por diversos caminhos, escutando e dialogando
constantemente com as crianças. Além disso, tem a tarefa e preparar recursos, materiais e
estratégias, ou seja, realizar um planejamento organizando a rotina e as matérias necessárias.
Não podemos esquecer que quando trabalhamos com projetos, devemos considerar
que as crianças já sabem algo sobre o tema, por isso deve-se levar em conta suas necessidades
e características. Essa proposta pedagógica tem o objetivo de estimular a inovação
educacional. Entretanto,
A pedagogia de projetos oferece aos professores a possibilidade de reinventar o seu
profissionalismo, de sair da queixa, da sobrecarga de trabalho, do isolamento, da
fragmentação de esforços para criar um espaço de trabalho cooperativo, criativo e
participativo. (HORN, 2008, p. 85).
É muito importante que os professores reflitam sobre sua prática, para perceber se
estão utilizando os projetos para fazer um trabalho em parceria com os colegas, pais, alunos e
comunidade em geral. É a oportunidade de inovar, fazer coisas diferentes integrando a todos e
possibilitando aprendizagens. Essas reflexões
27
precisam ser resgatadas no adulto-profissional da educação infantil que constrói e
reconstrói sua competência dia a dia; que busca uma ação intencional, voltada ao
atendimento de qualidade para a criança pequena, articulando necessidades vitais
para o seu crescimento, garantindo cuidado e educação no planejamento do
cotidiano. (OSTETTO, 2000, p. 193).
Na prática diária, o professor deve ser um sinônimo de observador. Também deve ser
questionador, sem dar respostas prontas, fazendo as crianças refletirem. Além disso, o
professor faz a diferença com práticas que contemplem todas as crianças. Observar é construir
a realidade, portanto é fundamental observar e registrar como cada criança se envolve nos
projetos. Assim, “ser professor, como tantas outras profissões, não é só estar na escola na hora
da aula, é ter outro tipo de presença. É paixão, é encantamento com o mundo e as pessoas. É
ligar o mundo e o conhecimento à vida dos alunos na escola.” (HORN, 2008, p. 87)
Cabe ao professor proporcionar um ambiente propício para que as crianças possam
construir a aprendizagem. Ao professor cabe oferecer estruturas da tradição e também trazer o
novo, conectando o conhecimento dos alunos com o científico, articulando, mediando apoios
indispensáveis e intermediando as ações das crianças e os objetos de conhecimento.
De acordo com Horn,
Essa construção envolve a participação tanto dos alunos quanto do educador, na
medida em que as decisões e os encaminhamentos emergem das motivações do
grupo, dos materiais e recursos disponíveis, das portas que se abrem (...) e,
principalmente, do estudo aprofundado que os professores realizam acerca da
temática a ser estudada. (HORN, 2008, p. 54)
“O professor deve colher tanta informação quanto possível sobre os tipos de
experiências pelas quais cada criança passou, bem como sobre o que aprendeu ou deixou de
aprender.” (KATZ, 2005, p. 27). O professor precisa conhecer as crianças, verificar as
informações, focar e pensar no futuro, em como abordar o assunto exposto pelas crianças.
A professora também não pode se esquecer dos momentos de livre escolha, fora do
assunto estudado, pois o projeto não ocupa todos os momentos da rotina, nem todos os dias.
Deve-se ter um equilíbrio para não saturar. Nunca sabemos quanto vai durar o projeto, tudo
depende de como foi planejado e da necessidade das crianças. Não se pode exagerar nem
dispersar as crianças. As falas das crianças, durante e depois do projeto, fazendo seus
28
comentários, são a avaliação espontânea delas. Não há necessidade de um novo projeto ter
relação com o anterior.
Os professores devem ter o cuidado para que esses três princípios sejam abordados e
com qualidade, visando o processo, o produto e o conteúdo dos trabalhos das crianças.
Contudo, “maximizar a independência nos projetos não requer que os assuntos sejam
totalmente sugeridos pelas crianças. Os professores podem dar início aos assuntos a serem
estudados.” (HELM, 2005, p. 41).
3.3 Estrutura e comunicação
Todos os aspectos da vida da criança estão presentes na sala de aula e devem ser
levados em consideração para ela poder compreender o mundo que a rodeia. O professor
precisa conhecer a realidade educativa.
Para Horn, o desejo é um aspecto fundamental para o trabalho com projetos, sendo
assim
Não há vida sem desejo, e a conceitualização mental do desejo, sua racionalização,
formula-se em termos de projeto. Projetar é, pois, introduzir o inédito; um novo
desejo em uma história não é apenas prosseguir é também romper e orientar o curso
das coisas. (HORN, 2008, p. 33)
“O importante é exercitar o olhar atento, o escutar do comprometimento dos desejos e
necessidades do grupo revelados por seus gestos, falas, expressões, linguagens, enfim”
(OSTETTO, 1997, p. 199), é o ponto de partida para poder ir mais além.
Se as crianças não demonstram nenhum interesse em um assunto para ser trabalhado, é
o professor que deve fazer a introdução dos temas, pois há crianças que não conseguem ainda
fazer perguntas de forma espontânea e nem demonstram curiosidade. Somente após essa
introdução do professor é que irão começar a surgir perguntas e temas para serem
pesquisados. Com os projetos, uns aprendem com os outros, na troca com o colega.
29
Quando as crianças começam a demonstrar algum interesse por um assunto, tema,
expondo suas curiosidades e dúvidas, é necessário o professor começar a se questionar,
refletir e também questionar as crianças, para iniciar a planejar junto com elas, fazendo um
roteiro. O professor deve então perguntar para as crianças o que já sabem sobre o tema e o que
querem descobrir, pois de acordo com Helm,
Os projetos permitem que as crianças construam sua própria aprendizagem e criem
suas próprias metas e áreas de investigação. Eles também propiciam que os pais
participem de maneira significativa a educação de seus filhos. Mas o mais
importante é que os projetos levam as crianças a se verem como aprendizes de
sucesso, acreditando que assim continuarão no futuro. (HELM, 2005, p. 57).
Os professores devem se questionar, “há espaço para a diversidade de dizeres e
saberes das crianças” (OSTETTO, 2000, p. 192)? Está se escutando as crianças, para perceber
o que querem aprender? Os professores estão permitindo às crianças participarem? “Os
projetos de trabalho são uma resposta [...] para a evolução que o professorado do centro
acompanhou e que lhe permite refletir sobre sua prática e melhorá-la.” (HERNANDEZ, 1998,
p. 63)
As atividades pedagógicas não são só aquelas relacionadas aos trabalhos dirigidos e os
que são realizados com diferentes materiais, como giz, lápis, tinta, mas o pedagógico também
está presente nas relações afetivas, e momentos de contato e troca com as crianças. É deixar
as crianças brincarem, é brincar junto com elas e fundamentalmente ter espaço para brincar e
para a diversidade de linguagens.
Os projetos permitem um processo democrático de decisões, pois as situações podem
ser resolvidas entre o grupo de forma que todos possam contribuir, como por votação ou
intercalando as sugestões. Além disso, é um instrumento para atender as necessidades sociais.
É muito importante organizar as salas de forma que auxilie as crianças, que as ajude a
fazer suas descobertas e poder fazer melhor as intervenções, e não organizar como for bom
para o professor, pois o foco é o aluno. Portanto, “para se trabalhar com a organização do
ensino em projetos de trabalho, é preciso inseri-lo em uma proposta pedagógica que
contemple concepções de ensino e aprendizagem, educação, modos de organizar o espaço.”
(HORN, 2008, p. 46). A forma como organizamos os espaços interfere significativamente nas
aprendizagens infantis.
30
Os projetos podem ter tempos diferentes, de curto, médio ou longo prazo e esse tempo
somente é definido na ação. É muito importante organizar os espaços e o tempo de acordo
com as exigências do trabalho executado.
O espaço destinado para as crianças não será sempre o mesmo, pois “[...] um ambiente
rico e instigante suscita muitas interrogações às crianças, o que é ponto de partida para o
desenvolvimento de projetos significativos.” (HORN, 2008, p. 51)
Nem todos os projetos terão a mesma estrutura, dependendo do tipo e das experiências
das crianças. A estrutura não é rígida, mas é necessário apontar aspectos fundamentais e
importantes no processo da construção. Horn (2008) destaca alguns aspectos importantes para
essa construção:
a) Definir o problema
b) Mapear percursos (propostas, organizar listas, mapa conceitual, esquema do
coletivo. É importante o professor articular o tema com os objetivos previstos do
ano letivo.)
c) Coleta de informações (pesquisar por diferentes fontes, como entrevistas, passeios,
observações, referências bibliográficas, exploração de materiais, experiências,
multimídia, internet. Essa coleta deve ser selecionada e registrada através de textos,
fotos, painéis, gráficos, documentos. O planejamento necessita ser retomado
continuamente.
d) Sistematizar e refletir sobre as informações (hipóteses transformadas em diferentes
linguagens, como a criança em ação nos jogos, dramatizações, música, gráficos...)
e) Documentar e comunicar (memória do trabalho), pode ser exposto, apresentado e
avaliado.
“Muito mais significativo e importante desta metodologia é o relatório que vai sendo
construído dia após dia e a documentação dos planos que vão sendo registrados” (HORN,
2008, p. 67). Ou seja, são muito mais importantes as aprendizagens que as crianças vão
construindo ao longo de um projeto do que a forma que este vai ser colocado no papel.
De acordo com Ostetto (2000, p. 196), o projeto de trabalho com base na observação e
visando os interesses das crianças, se estrutura em: nome, justificativa, objetivo geral,
assuntos-atividades-situações significativas, fontes de consulta, recursos e tempo previsto.
31
De acordo com Katz (2005), os projetos passam por três princípios básicos, e o
primeiro princípio passa por três fases sequenciais. A primeira fase é o foco do projeto, que é
a escolha do tema. A segunda fase é a coleta de dados e a terceira fase são as atividades de
culminância, na qual se compartilham os resultados.
Na primeira fase, o possível assunto surge. Esse assunto pode ter sido escolhido pelo
professor ou pelas crianças, a partir do interesse delas. Depois de identificado o assunto, é
necessário criar hipóteses sobre possíveis questões e oportunidades, oferecendo atividades
focadas e proporcionando experiências em grupo. Em seguida, deve-se avaliar se o assunto é
apropriado ou não. Se não for, volta-se ao inicio, a procura de um novo tema. Se for, o
professor cria com as crianças uma rede sobre o assunto, destacando o que querem descobrir.
Então, entra-se na segunda fase, na qual o professor examina esses dados e prepara as crianças
para a pesquisa e investigação. Em seguida, é necessário registrar o que foi aprendido pelas
crianças. Depois disso, o professor avalia o que foi aprendido e verifica o que ainda pode ser
abordado, para então novamente investigar. Após, entra-se na terceira fase, na qual é o
momento de realizar uma atividade de culminância, para que as crianças possam apresentar o
projeto. Em seguida, o projeto é finalizado e novamente avaliado pelo professor, para
verificar se as metas foram alcançadas.
O segundo princípio diz respeito à curiosidade, a busca com papel ativo e a
investigação, podendo envolver-se mais no projeto, fortalecendo tendências inatas como a
curiosidade. O terceiro princípio são as metas, os objetivos a serem alcançados.
De acordo com Hernandez (1998), alguns aspectos são relevantes para a elaboração de
um projeto, que são apresentados a seguir:
a)
A escolha do tema é o ponto de partida. Os alunos partem do que eles já sabem,
sobre suas experiências anteriores. O tema pode pertencer ao currículo oficial, a uma
experiência em comum, originar de um fato da atualidade, surgir de um problema proposto
pela professora ou sobre algo que ficou pendente em outro projeto. Deve ser definido de
acordo com as demandas dos alunos, considerando os interesses dos alunos. Destacando
hipóteses sobre o que os alunos querem saber.
A justificativa do tema não pode ficar no porque gostamos, mas deve ser argumentado,
fazendo conexões com informações e elaborando hipóteses, para que não fiquem somente
naquilo que já sabem. Porém, “tudo isso não impede que os docentes também possam, e
32
devam propor aqueles temas que considerem necessários, sempre e quando mantenham uma
atitude explicativa similar à que se exige dos alunos.” (HERNANDEZ, 1998, p. 68).
b)
Após a escolha do tema, o professor pode realizar as seguintes atividades:
escolher o fio condutor, prever os conteúdos, as atividades e os recursos, estudar e atualizar as
informações do tema de estudo, criar um clima de interesse e envolvimento do grupo, realizar
um sequência de avaliação, inicial, formativa e final, e recapitular o processo do projeto.
c)
Após a escolha do projeto, paralelamente às decisões do professor, as crianças
vão realizando outras atividades. As tarefas destacadas a seguir, são algumas das quais os
alunos realizam, considerando que não sempre da mesma maneira, auxiliadas pelo professor:
realizam um índice, que auxilia a planejar o tempo e as atividades a serem realizadas. Além
disso, é também um instrumento de avaliação e motivação. É um roteiro realizado que marca
o ponto de partida e os interesses de cada um.
De acordo com Junqueira (2005), as linguagens geradoras são uma abordagem para a
prática de projetos, que é um instrumento de investigação. O primeiro passo para essa prática
é a interação com a parte cheia e depois os projetos vão surgindo através de diversas situações
selecionadas pelo professor que dão origem a ele.
O ponto de partida para a elaboração do projeto é inventariar o que o professor viu
durante a ação da parte cheia do planejamento, investigar o que as crianças sabem, investigar
curiosidades, dúvidas, interesses, realizar rascunho de um roteiro, pesquisar, classificar as
ideias, realizando uma sequência, sair do papel, realizando uma ponte entre os dois
planejamentos; registrar e organizar todas as informações.
Nesta perspectiva, tanto o professor quanto o aluno são considerados conteúdos, pois
são “conteúdos-objetos de conhecimento-linguagem a serem investigados e articulados dia-adia, sempre mais um pouquinho, nos múltiplos, diferentes, prioritários e complexos aspectos
que os constituem – por si mesmos e uns pelos outros.” (JUNQUEIRA, 2005, p. 25). São
sujeitos leitores a serem conhecidos uns pelos outros, trocando ideias, diálogos e produções.
Depois são retomadas e resignificadas por novos vínculos.
É muito importante a documentação dos projetos, pois até mesmo as crianças podem
perceber sua evolução e as diferenças no seu desenvolvimento. Além disso, ocorre uma
integração e envolvimento com os pais, compartilhando os fatos mais importantes e o sucesso
do projeto.
33
Ao longo do ano, o professor vai construindo diversos arquivos com seus alunos,
individuais e coletivos, e
É, portanto, articulando esses arquivos que vão se compondo cotidianamente, pelas
produções das crianças – ‘documentos de processo’ – em múltiplas e diferentes
linguagens, que o professor se deparará com os fatos, fenômenos, eventos e
instituições mais significativos da vida das crianças, com as forças que atuam sobre
a vida das crianças, indicadores, todos eles, do que deve o professor acreditar e
selecionar como os temas-assunto-coneudo-linguagens mais importantes a cada
momento na vida do grupo. (JUNQUEIRA, 2005, p. 71)
Portanto, coletando os materiais concretos das produções das crianças é que a
professora irá identificar os temas a serem trabalhados, interesses presentes no grupo.
Dialogando, a professora responde às crianças a essas necessidades com os projetos.
Após o término do projeto, é muito importante a avaliação juntamente com as
crianças, destacando dentro daquilo que foi citado inicialmente, o que estava certo, o que não
era verdade e o quê foi aprendido.
Os projetos participativos “são um excelente veículo para a alfabetização das crianças
e a realização de resultados específicos, como aqueles listados na maior parte dos padrões da
educação infantil.” (HELM, 2005, p. 23)
Na organização do projeto o aluno complementa o professor, tendo iniciativas e
colaborações significativas e envolventes. A busca de informações dos alunos incentiva a
autonomia, o diálogo com os professores e com o grupo.
Os projetos indicam uma ação intencional construída coletivamente. Eles podem ser
elaborados de diferentes formas, como organizados pela escola para serem realizados com as
famílias, podem ser organizados pelos professores indicando o que deve ser trabalhado ou
ainda propostos pelas crianças, de acordo com seus interesses e suas vontades, permitindo que
reflitam sobre a atualidade, que realizem pesquisas, permitindo a busca de informações,
podendo criticar, opinar e argumentar. O projeto surge de uma situação real, um problema ou
uma interrogação. “Assim, não há uma única forma de trabalharmos com projetos, mas várias,
e ainda podem ser criadas nas instituições educativas muitas outras.” (HORN, 2008, p. 29)
O projeto é uma atividade dinâmica, que permite repensar e transformar a prática junto
com as crianças. Os projetos abrem espaço para a curiosidade das crianças, permitindo
34
trabalhar a partir de seus interesses, desejos e que façam suas descobertas sozinhas,
explorando o meio e os objetos.
35
4 OS PROFISSIONAIS E SUAS CONCEPÇÕES DE PLANEJAMENTO
Para conhecer e analisar as práticas de planejamento foi realizado entrevistas com
professores da rede municipal de Ivoti, que atuam em duas Escolas de Educação Infantil nos
níveis quatro e cinco, atendendo crianças de quatro e cinco anos de idade. Em cada escola foi
entrevistado dois professores, sendo um que atua no nível quatro e outro que atua no nível
cinco. As entrevistas foram realizadas na escola, individualmente, para que eu pudesse ouvir o
que cada pensa.
A entrevista aborda as seguintes questões:
1.
Você costuma planejar? Por quê?
2.
Que tipo de planejamento você realiza? (projetos, centro de interesse, temas
geradores, unidades)
3.
O que é projeto para você? Em sua opinião, o que não pode faltar em um
projeto? Em que autor/es você se fundamenta? Que passos você costuma seguir na construção
de um projeto?
4.
Relate um projeto desenvolvido com seu grupo de alunos. (ao termino do relato
esclarecer dúvidas quanto?
Na intenção de preservar a identidade dos participantes dessa pesquisa, eles serão
identificados através de nomes fictícios: Paula, Arlete, Maria e Pedro.
A professora Paula trabalha na turma do nível cinco, com crianças de cinco anos e é
formada em Ensino da Arte na Diversidade. Arlete é a professora que trabalha na turma do
nível quatro, com crianças de quatro anos; ela é formada em artes visuais. A professora Maria
também trabalha na turma do nível quatro, com crianças de quatro anos e está se graduando
em Pedagogia. O professor Pedro também trabalha com a turma do nível cinco, com crianças
de cinco anos e está se graduando em Pedagogia.
Apesar de todos os entrevistados possuírem o magistério, as professoras Paula e Arlete
não estão com a formação prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB,
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996).
Art. 62º. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos
superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do
36
magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental,
a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (BRASIL, 1996, p. 23)
A formação dos professores nas áreas curriculares não é a indicada para o trabalho
com a educação infantil, pois além do magistério é necessária a formação em Pedagogia ou
Normal Superior, para assegurar o que traz o artigo 29 da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996).
Art. 29º. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus
aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família
e da comunidade. (BRASIL, 1996, p. 12)
4.1 O significado do planejamento: o que dizem os professores
Os professores entrevistados afirmam que costumam planejar. A professora Paula
coloca que planeja porque é o mais adequado à proposta da escola e é bom porque consegue
se organizar e também as crianças. Ela escreve no papel as atividades e vai aplicando, não é
algo fixo, pois vão surgindo ideias e as mudanças ocorrem na hora. Se não é possível realizar
uma a atividade naquele momento, ela faz mudanças no planejamento.
Para a professora Arlete, o planejar é importante porque faz pensar o que está
trabalhando com os alunos e isso possibilita ir variando as atividades para as crianças terem
contato com materiais diferentes.
Assim, fica claro que a professora Arlete realiza seu planejamento baseado em
listagem de atividades (Ostetto 2002), na qual a maior preocupação é em estar ocupando as
crianças com atividades a maior parte do tempo que permanecem na instituição. Em relação
ao destaque de proporcionar materiais diferentes também tem relação com sua formação, que
não é adequada para trabalhar na Educação Infantil e dando ênfase para sua área.
Os professores Maria e Pedro afirmam que o planejamento é necessário para um bom
trabalho e para organizar os objetivos, as atividades e aproveitar para pensar como está a
turma e partir disso para elaborar as atividades. O professor Pedro também considera o
planejamento um controle. Sendo assim, pude perceber que seu planejamento é utilizado para
37
controlar as crianças. Mas será que as crianças precisam ser controladas? As crianças são
sujeitos participantes do planejamento dos projetos.
O planejamento é de extrema importância na educação infantil, pois ele marca a
intencionalidade, ou seja, aquilo que se quer atingir com seus alunos.
Não devemos esquecer que ele é um instrumento muito flexível, e isso está presente
no relato da professora Paula, pois ela demonstra flexibilidade no decorrer do trabalho,
permitindo reorganizar a prática educativa.
Também é importante vincular a proposta educativa à realidade das crianças, o
planejamento deve estar contextualizado, como nos traz o Referencial Curricular para a
Educação Infantil:
As particularidades de cada proposta curricular devem estar vinculadas
principalmente às características socioculturais da comunidade na qual a instituição
de educação infantil está inserida e às necessidades e expectativas da população
atendida. Conhecer bem essa população permite compreender suas reais condições
de vida, possibilitando eleger os temas mais relevantes para o processo educativo de
modo a atender a diversidade existente em cada grupo social. (BRASIL, 1998, v. 1,
p. 65)
De acordo com as respostas dos professores, pude perceber que todos reconhecem a
importância do planejamento na Educação Infantil, porém ainda executam modelos já
superados de planejamento. Percebi que a maioria apresenta ideias confusas em relação ao
trabalho com projetos. Um dos fatores que contribuem para este fato é a formação destes
professores, que não corresponde ao que está previsto na legislação.
4.2 Os tipo de planejamento adotados pelos professores
Todos os professores entrevistados disseram que trabalham por projetos. A professora
Paula explica que costuma pensar em um tema que seria adequado para trabalhar com o
grupo, conversa sobre isso com as crianças perguntando o que já sabem sobre o assunto e
coloca no papel. Procura sempre questionar as crianças para poder acrescentar coisas novas e
não ficar repetitivo. Por exemplo, as crianças já sabem o número de patas que os animais
possuem, por isso é importante questioná-los e trazer coisas novas para não ficar repetitivo.
38
Esses questionamentos são muito importantes, pois além de integrar as crianças no
planejamento, enriquece o conhecimento e o trabalho se torna algo estimulante para realizar
as pesquisas e resolver os problemas.
Os professores Maria e Pedro destacaram que seus planejamentos partem sempre do
interesse das crianças. A professora Maria citou o exemplo do projeto “caminhão de lixo”,
realizado a partir do interesse identificado no grupo. E se o professor não consegue perceber
qual é o interesse do grupo de crianças? Essa identificação nem sempre é possível pelo
professor, sendo necessário que ele mesmo escolha o tema de estudo.
O trabalho por projetos possibilita a resolução de problemas, dúvidas e
questionamentos das crianças e, como a professora Paula destaca, envolvendo novas questões
àquilo que as crianças já sabem. Permite criar por autoria uma forma de resolver as questões.
Possibilitam momentos de autonomia, cooperação, liberdade, através de momentos
individuais e coletivos.
4.3 Projetos: o que afirmam os professores
Para as professoras Paula, Maria e Arlete, projeto é uma construção conjunta,
incluindo o interesse das crianças. Nem sempre o tema do projeto parte delas, mas também
pode ser algo que elas consideram importante trabalhar com o grupo naquele momento,
contemplando as curiosidades das crianças sobre o assunto. A professora Arlete ainda destaca
a importância de fazer uma fundamentação teórica no projeto. A professora Maria coloca que
costuma partir de uma pergunta.
O professor Pedro aponta que projeto é uma concentração de ideias, é dar ênfase no
foco. Porém, a criança não deve ser vista como foco, um objeto, mas sim como sujeito
pesquisador.
Sua organização do trabalho é construída através do planejamento, para organizar as
atividades e perceber quais áreas envolver. É muito importante o professor envolver todas as
áreas, para o desenvolvimento das crianças.
Conforme o Referencial,
39
Os projetos são formas de trabalho que envolvem diferentes conteúdos e que se
organizam em torno de um produto final cuja escolha e elaboração são
compartilhadas com as crianças. Muitas vezes eles não terminam com esse produto
final, mas geram novas aprendizagens e novos projetos. (BRASIL, 1998, v. 3, p.
109)
De acordo com Barbosa (2008), um projeto é a possibilidade de solução de um ato
problemático. É permitir que as crianças projetem com seus próprios instrumentos para
resolver as questões, envolvendo conhecimento globalizado. Projeto é a possibilidade da
mudança, de transformar a prática junto com as crianças.
Além disso, a principal característica do trabalho com projetos
É a visibilidade final do produto e a solução do problema compartilhado com as
crianças. Ao final de um projeto, pode-se dizer que a criança aprendeu porque teve
uma intensa participação que envolveu a resolução de problemas de naturezas
diversas. Soma-se a todas essas características mais uma, ligada ao caráter lúdico
que os projetos na educação infantil têm. (BRASIL, 1998, v. 1, p. 58)
Em relação ao que não pode faltar em um projeto, as professoras Paula e Arlete
destacam que os objetivos devem ser claros para que a aprendizagem aconteça. A professora
Paula ainda coloca que é fundamental a participação das crianças e reflexão ao longo do
projeto para poder mudar o que não deu certo. O professor Pedro destaca que não pode faltar
justificativa, objetivo geral e atividade da educação infantil concreta.
Para a professora Maria não pode faltar o interesse das crianças, o planejamento, o
lúdico/brincar e integrar a família com temas de casa, solicitação de materiais e passeios.
Conforme os relatos, cada um dos professores possuem suas crenças para realizar o
trabalho com as crianças de educação infantil. Porém, na entrevista realizada, a professora
Maria destaca a questão do interesse das crianças, que é fundamental. Junqueira (2005)
enfatiza a importância de o professor estar sempre observando em diferentes momentos para
perceber qual é o interesse delas para propor os projetos. Ele também coloca que o professor
não deve se esquecer dos momentos de livre escolha para não saturar o assunto, até mesmo
porque o projeto não ocupa todos os momentos da rotina, mas deve-se ter um equilíbrio.
Outro aspecto que chamou minha atenção foi que a professora Maria destacou o lúdico como
algo que não poderia faltar em um projeto, pois é através dele que as crianças podem realizar
suas próprias descobertas.
40
Os autores que os professores se fundamentam são bem variados. A professora Paula
gosta muito do Rubem Alves e do Paulo Freire. Relatou que Rubem Alves fala mais da
educação como um todo e que ela pode acontecer em qualquer momento e que Paulo Freire
não trabalha em cima de projetos, mas aborda questões do cotidiano. Também gosta muito do
Victor Lowenfeld, um estudioso que fala das fases do desenvolvimento do desenho. Justifica
este autor pelo fato de sua formação ser em ensino das artes na diversidade, dando ênfase para
estas questões.
Já a professora Arlete destaca Arribas e Luciana Viegas, que aborda a avaliação. Para
a professora Maria os autores que fundamentam meu trabalho e que também está trabalhando
na faculdade são Fernando Hernandez e Maria Carmem Barbosa, que abordam os projetos de
trabalho.
De acordo com os autores citados, pude perceber que as professoras formadas em
artes, acabam dando ênfase para a área delas, como a professora Paula mesmo destacou,
sendo que não tem nenhuma relação com o trabalho com projetos.
Já a professora Maria colocou os autores que está estudando, e é a única das
entrevistadas que aponto autores que pesquisam projetos de trabalho.
Houve uma contradição por parte da professora Arlete, pois ela relata que após a
escrita do projeto realizava um embasamento teórico, porém quando perguntei sobre autores,
não soube responder com clareza qual.
Os passos que os professores seguem na construção dos projetos é bem semelhante um
do outro. A professora Paula registra no livro de chamada, a justificativa, os objetivos, os
procedimentos, a avaliação do projeto, a bibliografia, as observações, os recursos e as
mudanças ocorridas. Reúne a turma na sala de aula ou em um espaço fora para conversar
sobre o novo tema.
O registro do projeto é de extrema importância e as escolas já têm uma formatação
padrão que deve ser preenchido no livro de chamadas, o que não impede do professor fazer
seus próprios registros em outro espaço. Nesse sentido, Ostetto (2002) destaca que há
necessidade de apontar aspectos fundamentais e importantes: nome do projeto, justificativa,
objetivo geral, assuntos-atividades-situações significativas, fontes de consulta, recursos e
tempo previsto.
41
O relato da professora Paula em fazer uma conversação sobre o tema é um espaço
muito importante para as crianças poderem estar colocando suas curiosidades, angustias e
desejos.
Para a professora Arlete a construção do projeto parte de uma necessidade sua ou
deles. Depois coloca o que vai trabalhar, faz embasamento teórico para saber como
aprofundar, que atividades desenvolver e recursos utilizar.
Segundo os professores Maria e Pedro, primeiramente verificam o que as crianças já
sabem sobre o assunto, depois o que gostariam de aprender e como aprender. Após,
organizam o trabalho colocando o que acham importante, englobando sempre o interesse
deles.
Outro aspecto levantado pelos professores foi da importância de verificar o que as
crianças já sabem e realizar conversas sobre o assunto. Assim,
O que se deseja alcançar justifica as etapas de elaboração. O levantamento dos
conhecimentos prévios das crianças sobre o assunto em pauta deve se constituir no
primeiro passo. A socialização do que o grupo já sabe e o levantamento do que
desejam saber, isto é, as dúvidas que possuem, pode se constituir na outra etapa.
(BRASIL, 1998, v. 1, p. 58)
Realizando um trabalho, com o qual se parte do interesse das crianças, verificando o
que já sabem sobre isso e buscando novas aprendizagens, os projetos tornam-se mais
significativos para as crianças. Conforme Helm (2005), as redes temáticas são o primeiro
passo para o trabalho com projetos, para não tornar este tipo de planejamento algo repetitivo e
cansativo.
Os professores colocaram que os temas dos projetos às vezes são escolhidos pelas
crianças e, em outros momentos, por eles mesmos. A professora Arlete destacou que em
algumas vezes também sugere dois temas para que eles escolham um. Esta é uma estratégia
na qual procura envolver as crianças. Após a tomada de decisões sobre o tema, é necessário
identificar através de diálogos as necessidades do grupo. Dos projetos relatados, apenas um o
tema foi escolhido pelas crianças.
A escolha de projetos juntamente com as crianças é o norte do professor, é
fundamental para conquistar um ensino de qualidade. É necessário o olhar atento do
professor, para perceber os desejos das crianças e introduzir o inédito. Porém,
42
Para que as crianças possam manifestar suas preferências, seus desejos e desagrados
é necessário que elas percebam que tais manifestações são recebidas e levadas em
consideração. Uma criança que percebe que suas colocações, sejam elas expressas
verbalmente ou de outra forma, são desconsideradas, tende a desistir de fazê-lo e
acreditar que suas tentativas são inócuas. Isso não significa dizer que todas as
queixas e desejos das crianças devam ser satisfeitos, mas sim que devem ser ouvidos
e sempre respondidos. Se não há possibilidade de atendê-los, é uma boa atitude
deixar isso claro para a criança e explicitar a razão da negativa. (BRASIL, 1998, v.
2, p. 67)
Quando o professor não consegue identificar o interesse das crianças, é ele mesmo que
deve introduzir o assunto e construir uma rede temática, envolvendo os alunos nas decisões e
verificando o que é necessário trabalhar.
Para a escolha do tema se parte do que as crianças já sabem, levando em conta as suas
experiências anteriores. A escolha pode se dar a partir de um problema, pode ser de algo que
ficou pendente em um outro projeto. Ele deve estar de acordo com as demandas dos alunos,
levando em consideração os interesses deles. Sendo assim, conforme o Referencial,
Os projetos podem ter como ponto de partida um tema, um problema sugerido pelo
grupo ou decorrente da vida da comunidade, uma notícia de televisão ou de jornal,
um interesse particular das crianças etc. Uma das condições para sua escolha é que
ele mobilize o interesse do grupo como um todo. As crianças, em primeiro lugar,
mas também os professores, devem sentir-se atraídos pela questão. É aconselhável
que o professor observe atentamente e avalie continuamente o processo, tendo em
vista a reestruturação do trabalho a cada etapa do projeto. (BRASIL, 1998, v. 3, p.
110)
Em relação ao papel do professor, a professora Paula destaca que realiza a observação
sobre a ação e reação das crianças e age sobre isso. Destaca que não é porque teve uma ideia
maravilhosa, que ela tenha que ser aplicada, se não há interesse das crianças não adianta
aplicar, pois não será significativa. Ressalta que está com eles nas atividades, fornece
estímulos e às vezes ganha nos jogos para mostrar aquilo que sabe, pois para eles ela é o
exemplo. Coloca que fica na altura deles, mas com o conhecimento que tem.
Para a professora Arlete, o papel do professor no trabalho com projetos é de desafiar
os alunos, mediar as atividades e proporcionar diferentes materiais como argila, pois é
mediando que eles se desenvolvem.
Segundo a professora Maria, seu papel de professora é de facilitadora, de integrar as
crianças como alguém que contribui e não leva as coisas prontas. Mas será que é necessário
facilitar as atividades para as crianças? Não podemos subestimar a capacidade das crianças,
43
sendo que é necessário desafiá-las para novas aprendizagens. De acordo com Vasconcellos
(1995), o professor deve ser articulador, guiando seus alunos por diversos caminhos,
escutando, dialogando e problematizando constantemente com as crianças. Deve possibilitar a
mudança e trazer novas ideias para serem colocadas em prática, fazendo uma construção
significativa. Deve perceber as necessidades, re-significar o trabalho, e ser agente de
transformação.
E para o professor Pedro, o papel do professor no trabalho com projetos é organizar o
projeto de modo que as crianças possam desenvolver todas as áreas, abrangendo todas as
linguagens, o que é fundamental no desenvolvimento da criança.
É necessário que o professor conheça as crianças e verifique situações que precisam de
mais estímulos, potencializando as práticas para contribuir com a aprendizagem. Portanto,
como coloca Vasconcellos (2005), é preciso olhar a criança real, para poder realizar seu
planejamento.
Em relação ao papel dos alunos, as professoras Paula e Maria destacam a importância
da participação e autonomia para dar sugestões, sendo que muita coisa parte deles e têm
liberdade para testar. Para elas, as crianças são contribuintes e o professor deve ir fazendo
construções com eles. Entretanto, as crianças apenas contribuem com os projetos de trabalho?
Apenas contribuem com algumas sugestões? Deveríamos dizer, que as crianças são co-autoras
do projeto, pois são construtoras junto com o professor.
Segundo os professores Arlete e Pedro os alunos são o alvo, são eles que vão
desenvolver as atividades, dizer se foi válido ou não, se precisam mudar o caminho e se
aquilo tem sentido pra eles. Nesta resposta colocam as crianças como um alvo, algo a ser
atingido. Mas se as crianças são co-autores, participantes e integrantes, elas são também
sujeitos nos projetos de trabalho, elas precisam buscar e pesquisar.
O papel dos alunos no trabalho com projetos é de extrema importância, pois são
agentes transformadores e inovadores para que possam trazer novas descobertas. São
pesquisadores e fazem juntos as descobertas. A aprendizagem se dá através das interações
concretas. Sendo assim, de acordo com Vasconcellos (2005), os projetos permitem as crianças
se verem como aprendizes do sucesso.
De acordo com os professores Paula, Arlete, Maria e Pedro, os autores envolvidos são
a turma, os professores e demais pessoas que contribuem. Os pais auxiliam nos projetos e
também trazem sugestões de atividades. Para os pais são encaminhadas uma ou duas
44
atividades por projeto para que tenham conhecimento do que está sendo trabalhado. Somente
o professor Pedro colocou que os pais são pouco envolvidos.
Mas o que vem a ser comunidades de aprendizagem? Dar atividades para os pais não é
suficiente para envolvê-los. De acordo com Barbosa (2008), para envolver as famílias é
preciso abrir espaço para criação cultural, para experimentação e procura de sentidos e não
apenas de divulgação de saberes, de experimentação, de padronização de significados. A
comunidade educativa deve ser de aprendizagem aberta, “onde os indivíduos aprendem uns
com os outros e onde as investigações sobre o emergente têm, nessas trocas, um papel
fundamental.” (BARBOSA, 2008, p. 89). Os pais são excelentes parceiros de estudo e
informantes para as crianças.
De acordo com Bassedas (1999), os autores envolvidos nos projetos devem ser os
professores, alunos, pais e comunidade em geral. Além de participar, os pais também podem
contribuir com sugestões de projetos. No entanto,
a participação das famílias não deve estar sujeita a uma única possibilidade. As
instituições de educação infantil precisam pensar em formas mais variadas de
participação de modo a atender necessidades e interesses também diversificados.
(BRASIL, 1998, v. 1, p. 79)
O envolvimento com as famílias é muito significativo, pois
As trocas recíprocas e o suporte mútuo devem ser a tônica do relacionamento. Os
profissionais da instituição devem partilhar, com os pais, conhecimentos sobre
desenvolvimento infantil e informações relevantes sobre as crianças utilizando uma
sistemática de comunicações regulares. (BRASIL, 1998, v. 1, p. 79)
Além de questões relacionadas aos projetos, também é importante “partilhar, com os
pais, conhecimentos sobre desenvolvimento infantil e informações relevantes sobre as
crianças utilizando uma sistemática de comunicações regulares. (BRASIL, 1998, v. 1, p. 80).
A troca com o grupo da escola, envolvendo colegas, direção e coordenação, também é
muito importante, pois
O coletivo de profissionais da instituição de educação infantil, entendido como
organismo vivo e dinâmico é o responsável pela construção do projeto educacional e
do clima institucional. A tematização da prática, o compartilhar de conhecimentos
45
são ações que conduzidas com intencionalidade, formam o coletivo criando
condições para que o trabalho desenvolvido seja debatido, compreendido e assumido
por todos. (BRASIL, 1998, v. 1, p. 67)
Em relação às questões sobre as fontes de pesquisa, o Referencial traz que
Onde procurar as informações pode ser uma decisão compartilhada com crianças,
familiares e demais funcionários da instituição. Várias fontes de informações
poderão ser usadas, como livros, enciclopédias, trechos de filmes, análise de
imagens, entrevistas com as mais diferentes pessoas, visitas a recursos da
comunidade etc. (BRASIL, 1998, v. 1, p. 58)
A professora Paula coloca que o fechamento e a documentação é feita por portfólios
ou pasta, na qual o registro é por fotos e com as atividades realizadas. Para os pais, sempre
envia por escrito o projeto, com objetivos e atividades em forma de texto e cola na agenda.
Também faz registro com fotos.
Já para os professores Arlete, Maria e Pedro o fechamento depende do projeto. Há a
feira de vivencias, os trabalhos são enviados para casa, cada turma tem sua vez para expor
seus trabalhos na entrada da escola e às vezes é feito um portfólio. A professora Arlete
também relatou que na sala dos professores há uma pasta na qual cada semana cada turma
arquiva uma atividade que considerou importante, podendo compartilhar com as demais
turmas.
A documentação do projeto é muito importante, pois as crianças podem perceber sua
própria evolução. Além disso, há integração e envolvimento com os pais.
Conforme Gabriel Junqueira (2005), coletando os materiais concretos das produções
das crianças é que a professora irá identificar os temas a serem trabalhados, interesses
presentes no grupo e as singularidades de cada um.
Segundo os professores Paula, Maria e Pedro, os projetos giram em torno de um mês
ou mais ou menos 14 dias, dependendo da temática. A professora Arlete colocou que a
duração dos projetos depende do interesse das crianças, mas aproximadamente um ou dois
meses. A professora Maria destaca ainda que as datas comemorativas e demais atividades são
encaixadas no planejamento do projeto, não são trabalhadas separadamente.
46
Quando iniciamos um projeto, não sabemos ao certo quanto tempo pode durar, pois
podem surgir mais dúvidas no decorrer do mesmo, mas é importante que o professor tenha
uma previsão para que possa se organizar.
A organização do tempo e do espaço é fundamental para a professora Paula, pois
primeiro ela prevê o tempo e em segundo é preciso saber abrir mão do planejado e possibilitar
mais ou menos tempo nas atividades. Destaca que os espaços podem ser bem explorados e
não ficar só na sala, mas também fazer saídas e passeios. Também destaca a tarefa de casa que
pode ser realizado junto com a família, porém não sendo algo rígido, mas que todos
participam.
A professora Arlete coloca que as atividades não podem ser muito longas, senão as
crianças perdem o interesse. Destaca que é importante organizar a atividade conforme o
espaço, como tinta só na sala e que também é interessante fazer grupos para poder
acompanhar a atividade adequadamente.
Por que não podemos realizar atividades com tinta fora da sala de aula? Explorar
diferentes ambientes, realizar observações, explorar o material é muito importante. Não
podemos minimizar as atividades dentro da sala de aula. Além disso, as atividades não
necessitam de fiscalização, as crianças precisam de liberdade para se expressarem.
Já os professores Maria e Pedro destacam que a organização do tempo e do espaço é
bem importante, pois se deve planejar para esse tempo e esse espaço para aproveitar o tempo,
nada muito longo, não poluir os ambientes. Colocam que nas salas é difícil mudar alguma
coisa em relação à mobília, porque é pequena, mas mudam os cartazes e os trabalhos das
paredes.
O espaço da sala deve estar organizado como for bom para o aluno, para que nele
possa fazer suas descobertas.
O Referencial (1998) coloca que também é muito importante que os ambientes
permitam o desenvolvimento de atividades simultaneamente, como a organização de
diferentes espaços de jogos, artes, faz-de-conta leitura e assim por diante. O espaço da sala
deve estar de acordo com as necessidades do projeto.
O tempo é definido na ação, como os professores também colocaram, pois varia de
uma série de questões, como o interesse e a disposição para a realização das atividades ou do
projeto. Conforme o Referencial, o projeto
47
Possui uma duração que pode variar conforme o objetivo, o desenrolar das várias
etapas, o desejo e o interesse das crianças pelo assunto tratado. Comportam uma
grande dose de imprevisibilidade, podendo ser alterado sempre que necessário,
tendo inclusive modificações no produto final. (BRASIL, 1998, v. 1, p. 57)
É necessário organizar os espaços e o tempo de acordo com as exigências do trabalho
executado. De acordo com Horn (2008), o espaço precisa ser cúmplice na construção da
autonomia da criança. Um espaço que permite livre trânsito na sala e instigante proporciona
interações e “interrogações às crianças, o que é o ponto de partida para o desenvolvimento de
projetos significativos.” (HORN, 2008, p. 51)
Além disso,
A organização dos espaços e dos materiais se constitui em um instrumento
fundamental para a prática educativa com crianças pequenas. Isso implica que, para
cada trabalho realizado com as crianças, deve-se planejar a forma mais adequada de
organizar o mobiliário dentro da sala, assim como introduzir materiais específicos
para a montagem de ambientes novos, ligados aos projetos em curso. Além disso, a
aprendizagem transcende o espaço da sala, toma conta da área externa e de outros
espaços da instituição e fora dela. A pracinha, o supermercado, a feira, o circo, o
zoológico, a biblioteca, a padaria etc. são mais do que locais para simples passeio,
podendo enriquecer e potencializar as aprendizagens. (BRASIL, 1998, v. 1, p. 58)
Infelizmente, percebi que os professores entrevistados não possuem o hábito de mudar
a posição dos móveis em sala, para acomodar
[...] confortavelmente as crianças, dando o máximo de autonomia para o acesso e
uso dos materiais. [...] Precisam, igualmente, permitir o rearranjo do mobiliário de
acordo com as propostas. [...] A arrumação do espaço ao término das atividades
deve envolver a participação das crianças. O espaço deve possibilitar também a
exposição dos trabalhos e sua permanência nesse local pelo tempo que for desejável.
(BRASIL, 1998, v. 3, p. 110)
Apesar dos professores exporem os trabalhos das crianças, fica ainda a necessidade de
criar ambientes de aprendizagens. Mesmo considerando que as salas são pequenas, há meios
para essa tarefa de inovação. Entretanto, o espaço também deve estar organizado de forma
“aconchegante, com almofadas, iluminação adequada e livros, revistas etc. organizados de
modo a garantir o livre acesso às crianças.” (BRASIL, 1998, v. 3, p. 156,) Além disso, deve
“privilegiar a independência da criança no acesso e manipulação dos materiais disponíveis ao
trabalho.” (BRASIL, 1998, v. 3, p. 201)
48
A avaliação dos professores Paula, Pedro e Arlete se dá ao longo do projeto,
verificando o que está funcionando e o que não está para perceberem que interesses as
crianças têm e se aquilo tem sentido pra elas. Procura fazer anotações para auxiliar a
avaliação no boletim. Também é um auxilio para ver o que precisa mudar e é a avaliação que
permite isso. Destacam que a avaliação também é importante, pois pode-se aplicar uma
atividade ou projeto com outra turma, que talvez funcione melhor ou até mesmo não funcione.
Para a professora Maria a avaliação também é contínua. Possui um caderno de
acompanhamento, no qual registra em média de 15 dias, destacando diferentes atividades, se a
criança conseguiu realizar ou não. Coloca que a avaliação no final do projeto também é
realizada com as crianças, destacando o que aprenderam.
Os professores destacaram a importância de realizar registros dos alunos para o auxilio
da avaliação individual, que é muito importante e está sancionado por lei. Nesse sentido, o
Referencial traz que
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, sancionada em dezembro de 1996,
estabelece, na Seção II, referente à educação infantil, artigo 31 que: “... a avaliação
far-se-á mediante o acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o
objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental”. (BRASIL,
1998, v. 1, p. 59)
Esta forma de avaliação é a mais comum, sendo que
A observação e o registro se constituem nos principais instrumentos de que o
professor dispõe para apoiar sua prática. Por meio deles o professor pode registrar,
contextualmente, os processos de aprendizagem das crianças; a qualidade das
interações estabelecidas com outras crianças, funcionários e com o professor e
acompanhar os processos de desenvolvimento obtendo informações sobre as
experiências das crianças na instituição. Esta observação e seu registro fornecem aos
professores uma visão integral das crianças ao mesmo tempo que revelam suas
particularidades. São várias as maneiras pelas quais a observação pode ser registrada
pelos professores. A escrita é, sem dúvida, a mais comum e acessível. O registro
diário de suas observações, impressões, idéias etc. pode compor um rico material de
reflexão e ajuda para o planejamento educativo. Outras formas de registro também,
podem ser consideradas, como a gravação em áudio e vídeo; produções das crianças
ao longo do tempo; fotografias etc. (BRASIL, 1998, v. 1, p. 59)
A avaliação é um auxilio para o planejamento do professor, pois através dele pode
perceber o envolvimento dos alunos e a sua satisfação, sendo um instrumento de trabalho
49
permitindo replanejar a ação educativa. Ela deve ser processual e destinada a auxiliar o
processo de aprendizagem, fortalecendo a autoestima das crianças. Também
possibilita ao professor definir critérios para planejar as atividades e criar situações
que gerem avanços na aprendizagem das crianças. Tem como função acompanhar,
orientar, regular e redirecionar esse processo como um todo. (BRASIL, 1998, v. 1,
p. 59)
A avaliação também pode e deve ser realizada juntamente com as crianças,
verificando o que foi bom, o que podia mudar, o que aprenderam, quais eram conhecimentos
que estavam corretos e o que acrescentou, como relatou a professora Maria.
A professora Paula ainda acrescentou que não gosta de trabalhar por datas
comemorativas. Trabalha estas datas, mas não são o foco no planejamento, encaixando-as nos
projetos de trabalho, assim como também assuntos que surgem durante o ano que são
sugeridos pela escola. Isso é uma estratégia muito boa, pois quando o trabalho se dá por estas
datas comemorativas,
Essa perspectiva torna-se tediosa na medida em que é cumprida ano a ano, o que não
amplia o repertório cultural da criança. Massifica e empobrece o conhecimento,
além de menosprezar a capacidade da criança de ir além daquele conhecimento
fragmentado e infantilizado. (OSTETTO, 2002, p. 182)
Ela sempre procura agregar novas atividades as atividades planejadas. Destaca que
quando um projeto acaba, dá um tempo de aproximadamente uma semana antes de iniciar
outro, para poder realizar mais brincadeiras.
Sendo assim, a professora Paula está afirmando que não realiza brincadeiras e jogos
nos projetos? Não é necessário parar tudo para brincar, até mesmo porque o brincar faz parte
do cotidiano das crianças e em qualquer projeto.
O trabalho com projetos permite repensar e transformar a prática junto com as crianças
e trabalhar a partir de seus interesses, desejos para que façam suas descobertas sozinhas,
explorando o meio e os objetos. Com a participação dos estudantes, o professor tem o desafio
de transformar a realidade. “Mas além disso, a participação no processo de planejamento tem
a ver com uma questão muito prática: o desejo de que as coisas realmente aconteçam.”
(VASCONCELLOS, 1995, p. 51). Partindo do planejamento coletivo, com a participação das
50
crianças, a busca e o desejo de que funcione é mais intenso, pois o objetivo é alcançar aquilo
que desejam. Quanto maior a participação dos estudantes, mais probabilidade do plano ter
sucesso.
4.4 As experiências dos professores com projetos
4.4.1 Projeto “Eu, tu, nós no mundo”.
A professora Paula contou que a sua turma, do nível cinco, era muito agitada e que
aconteciam muitas brigas no grupo, pois tinham muitas diferenças de idade, sendo que alguns
tinham cinco anos e outros ainda não.
Será que essa pequena diferença de idade é uma justificativa para as brigas que
aconteciam no grupo? A diferença de idade entre as crianças é mínima e, além disso, é
preciso superar a idéia de que turmas homogêneas são melhores de trabalhar do que as turmas
onde convivam crianças de diferentes idades.
Trabalhou questões do tipo o que um gosta e o outro não, o que não gosto e que não
quero que façam pra mim. Procurou trabalhar o respeito, fez atividades com espelhos para o
reconhecimento próprio. Fez uma atividade com massa acrílica para colocarem suas
dificuldades no trabalho e não no relacionamento. Também trabalhou muito com imagens e
fotos deles. Recortou o rosto de fotos e colou ambas as partes em uma folha, na qual tinham
que completar desenhando. Também colocou massa acrílica no Eva e tinham que se desenhar
se olhando no espelho, fazendo descobertas do corpo. Destacou que ficou muito bonito, pois o
fundo do Eva colorido ficava destacado.
De acordo com o relato da professora Paula, o projeto foi escolhido por ela, porém em
nenhum momento faz menção a momentos de conversação e troca de ideias. Apenas fez o
relato de atividades, as quais todas se encaixam na área das artes, que é a sua formação. Não
construiu espaços de aprendizagem, para serem explorados. Neste projeto também não
envolveu os pais.
Algo que achei muito interessante é a documentação que a professora Paula realiza,
criando portfólios contendo a estrutura do projeto, trabalhos e fotografias. Essa tarefa é muito
51
significativa e percebi que normalmente é realizada, sendo que poderia ser mais explorada
com a comunidade familiar.
4.4.2 Projeto “os cinco sentidos”.
A professora Arlete desenvolveu várias atividades, foram à feira para comprar rúcula e
pimentão, pois são alimentos tem sabores mais fortes. Fizeram também um jogo de sucos, no
qual não viam o que era e tinham que provar pelo canudinho e adivinhar de que era e
revelavam o que sentiam. Também fizeram memória auditiva, textura em lixas, túnel das
sensações, que era preto, cheio de texturas e cheiros. Também conversaram com a
fonoaudióloga a respeito de gritar, pra que as crianças percebam que falando baixo também
podemos ouvir o colega. Além disso, conversaram sobre os cuidados que devemos ter com o
ouvido e a questão de escutar o som muito alto. Outra atividade foi de tocar uma sineta e a
criança tinha que ir em direção ao som com os olhos vendados. Realizaram caminhadas para
perceber diferentes sons no caminho.
Conforme o relato da professora Arlete, pude perceber que o mesmo não traz nada de
muito novo para as crianças, o que prova que não foi elaborado em conjunto. É um assunto
que a maioria dos professores trabalha, abordando as mesmas atividades, o que torna o
trabalho repetitivo. Acredito que se possa realizar um projeto diferente e abordar as questões
dos cinco sentidos, não sendo necessário um projeto específico sobre isso. A ideia de trazer a
fonoaudióloga foi boa para conversar sobre as demandas da voz. Também não houve
participação da comunidade familiar, a qual poderia estar contribuindo com diversos aspectos,
se envolvendo com riqueza de seus conhecimentos relacionados ao projeto, como músicas que
escutavam, chás conhecidos para conhecer os gostos, fazer uma pesquisa sobre os chás ou
alimentos, enfim, diversas aspectos que completariam o projeto.
4.4.3 Projeto “Caminhão do lixo”.
Segundo a professora Maria, quando o caminhão de lixo passava na rua, as crianças
ficavam eufóricas e gritavam: “caminhão de lixo, caminhão de lixo!” Portanto, foi iniciado
52
um projeto através de pesquisa, para saber quem dirigi o caminhão e quem recolhe o lixo,
quando recolhe e como. Depois a professora acrescentou alguns aspectos que considerava
importante, como a separação do lixo realizando atividades relacionadas à separação,
consciência da redução e procura por materiais alternativos. Construíram bonecos, boliches e
diversos materiais.
Esta professora conseguiu identificar muito bem o tema de interesse das crianças, que
era o caminhão do lixo. De acordo com o relato, pude perceber que ela conseguiu desenvolver
muito bem este projeto, partindo do interesse das crianças e depois acrescentando aspectos
importantes a serem trabalhados com elas. Realizou pesquisas bem como conseguiu envolver
demais atividades relacionadas ao lixo, como a redução e os materiais alternativos, que é
muito importante. A construção de jogos e demais materiais com as sucatas é uma forma
muito divertida de estar trabalhando e envolvendo diferentes aspectos.
Poderia ainda ter visitado uma usina de reciclagem e ter feito oficinas de confecção de
brinquedos, jogos ou até mesmo bonecas com os pais, para enriquecer o trabalho.
4.4.4 Projeto “letrinha”.
O professor Pedro entrou nesta turma na metade do ano, sendo assim, já havia uma
sistemática. A turma tem um projeto grande e sua duração é para o ano todo, sendo que são
incluídos ao longo deste outros pequenos do interesse das crianças ou do professor. Um dos
projetos pequenos foi o “Letrinha”
O Letrinha é um boneco grande com letras pelo corpo que passeava na casa das
crianças, que era acompanhado por um caderno, no qual os pais escreviam e as crianças
registravam com desenhos o que era feito com o boneco em casa. Quando voltava para a
escola, a criança relatava o que havia feito com o Letrinha.
Este projeto que foi relatado pelo professor Pedro pareceu-me bem superficial, pois o
boneco passeava na casa das crianças e na escola não era realizado nada em cima disso,
apenas o relato das crianças. Se o objetivo era familiarizar as crianças com as letras, ele
poderia ter aprofundado muito mais o projeto, realizando diversos momentos em que poderia
abordar as letras, como confecção de livros, cartazes, leitura, entre outras coisas.
53
Pelo relato, não houve pesquisa, dúvidas, curiosidades ou investigações. Considerando
que foi o único projeto em que houve a participação dos pais, acredito que um dos objetivos
era envolvê-los de alguma forma.
54
5 CONCLUSÃO
A prática em sala de aula só terá sucesso se o professor realizar um bom planejamento,
flexível e reflexivo com a participação das crianças.
O trabalho com projetos não é uma tarefa fácil e exige muita dedicação e
comprometimento do professor, pois é um desfio para toda a comunidade escolar.
Os resultados que a prática com projetos possibilita na educação integral das crianças,
é sem dúvida compensatória que garante a qualidade na educação infantil e o
desenvolvimento integral das crianças.
Através dessa pesquisa, pude perceber que os professores da Educação Infantil,
realizam o planejamento, sabem de sua importância, porém o trabalho não acontece sob forma
de Projetos, apesar de alegarem trabalhar desta forma, pois suas ideias estão um pouco
confusas em relação a esta forma de planejar. Isso significa que ainda utilizam formas já
superadas de planejamento.
Pelos relatos dos professores, pude percebe que elas consideram o interesse das
crianças em alguns momentos, mas ainda precisam envolver mais as crianças na tomada de
decisões, no planejamento das atividades e na organização dos espaços, nos quais as crianças
possam interagir, fazer suas descobertas e ir a busca daquilo que é necessidade no momento.
também não constroem comunidades de aprendizagem, limitando-se a “mandar dois ou três
trabalhinhos para os pais, durante cada projeto. o referencial teórico delas está limitado!
Por mais que os professores consigam identificar qual é o interesse dos alunos, é
necessário todo um envolvimento das crianças na tomada de decisões, pois são parte
integrante e não apenas contribuintes. No momento em que o professor descobre a
necessidade, ele parte para a listagem de atividades pensando nas quais podem ser
importantes para as crianças. Mas, e suas curiosidades? E suas necessidades? Do que adianta
fazer um trabalho que eles querem, mas cair na mesmice a acabar repetindo atividades e
aspectos já trabalhados, não acrescentando nenhum novo aprendizado para elas?
São questões que precisam ser repensadas e refletidas pelos professores, pois as
crianças são co-autoras e protagonistas dos projetos de trabalho, e precisam desta
oportunidade para ocorrer a aprendizagem significativa.
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Professores e crianças devem ser cúmplices e parceiros no processo de ensino
aprendizagem, interagindo e aprendendo um com o outro.
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REFERÊNCIAS
BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Trabalhando com projetos na educação infantil. IN:
XAVIER, Maria Luisa M; ZEN, Maria Isabel H(org.). Planejamento em Destaque: análises
menos convencionais. 3. ed. Porto Alegre: Mediação, 2003.
BARBOSA, Maria Carmen Silveira; HORN, Maria da Graça Sousa. Projetos Pedagógicos
na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2008.
BASSEDAS, Eulália; HUGUET, Teresa; SOLÉ, Isabel. Aprender e ensinar na educação
infantil. Porto Alegre: Artmed, 1999.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. V.
1,2,3
HELM, Judy H.; BENEKE, Sallee. O poder dos projetos: novas estratégias e soluções
para a educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2005.
HERNANDEZ, F.; VENTURA, M. A organização do currículo por projetos de trabalho:
o conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
JUNQUEIRA FILHO. Gabriel de Andrade. Linguagens geradoras: seleção e articulação de
conteúdos em educação infantil. Porto Alegre: Mediação, 2005.
LIMA, Marilene. Conteúdos escolares em classes de Educação Infantil-as questões:
conceitual,
procedimental
e
atitudinal.
Disponível
em:
<
http://www.pedagobrasil.com.br/psicologia/conteudosescolares.htm>. Acesso em: 15 mar.
2008.
OSTETTO, Luciana Esmeralda (org.). Encontros e encantamentos na educação infantil.
2.ed. Campinas: Papirus, 2002.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Planejamento: plano de ensino-aprendizagem e
projeto educativo. São Paulo: Libertad, 1995.
TONUCCI, Francesco. Com olhos de criança. Porto Alegre: Artmed, 1997.
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ANEXOS
ENTREVISTA COM A PROFESSORA PAULA
1. Você costuma planejar? Por quê?
Sim. Porque é o mais adequado à proposta da escola e é bom porque consigo me
organizar e também as crianças. Coloco no papel e vou aplicando, não é algo fixo, pois vão
surgindo ideias e mudo na hora. Se a atividade não é possível realizar no momento planejado,
mudo de dia ou para outro momento.
2. Que tipo de planejamento você realiza? (projetos, centro de interesse, temas
geradores, unidades).
Por projetos. Penso em um tema que seria adequado para trabalhar, converso sobre
isso com as crianças, perguntando o que já sabem sobre o assunto e coloco no papel. Procuro
sempre questionar eles, para poder acrescentar coisas novas e não ficar repetitivo. Por
exemplo, no projeto dos animais, quantas patas têm já sabem e fica repetitivo. Por isso é
importante questioná-los e trazer coisas novas.
3. O que é projeto para você? Em sua opinião, o que não pode faltar em um projeto? Em
que autor/es você se fundamenta? Que passos você costuma seguir na construção de um
projeto?
É uma construção conjunta, incluindo o interesse deles. Nem sempre o projeto parte
deles, mas algo que considero importante naquele momento, acrescentando suas curiosidades
no assunto.
Acredito que não podem faltar objetivos claros que envolvam aprendizagem,
participação deles e reflexão ao longo do projeto para poder mudar o que não deu certo. Não é
algo rígido. A duração depende do interesse deles, pois se já cansaram não adianta prolongar e
também há a possibilidade de estender o projeto.
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Sempre procuro encaixar os assuntos que surgem durante o ano sugeridos pela escola
nos projetos. Por exemplo, no projeto dos animais com o caminho encantado, faço o link e
encaixo no planejamento.
Gosto muito do Rubem Alves e do Paulo Freire, que tem opiniões diversas. Rubem
Alves fala mais da educação como um todo, que ela pode se dar em qualquer momento. Já
Paulo Freire não está tão em cima de projetos, mas fala mais do cotidiano. Eles trazem
enfoques diferentes. Também gosto muito do Victor Lowenfeld, um estudioso que fala das
fases do desenvolvimento do desenho. Como sou formada em artes, minha área acaba sendo
como uma porta e acabo puxando um pouco para isso.
O projeto registro no livro de chamada, no qual coloco justificativa, objetivos,
procedimentos, avaliação do projeto, bibliografia e observação, como recursos e mudanças
ocorridas.
Nos reunimos na sala de aula ou em um espaço fora, por exemplo para observar os
bichos e trazem as informações. No projeto “vira o que”, podiam se identificar com os
personagens. Se ele é uma fera, eu viro uma fera quando...
4. Relate um projeto desenvolvido com seu grupo de alunos.
“Eu, tu, nós no mundo”.
A turma era muito agitada e aconteciam muitas brigas no grupo. Tinham muitas
diferenças de idade, porque uns tinham cinco anos e outros ainda não. Hoje não é mais tanto.
Trabalhamos questões do tipo o que um gosta o outro não, o que não gosto e que não
façam pra mim. Procurei trabalhar o respeito, fizemos atividades com espelhos para o
reconhecimento próprio. Fizemos uma atividade com massa acrílica para colocarem suas
dificuldades ali e não no relacionamento. Também trabalhei muito com imagens e fotos deles.
Cortei o rosto de fotos e colei ambas as partes em uma folha, na qual tinham que completar
desenhando. Também coloquei massa acrílica no Eva e tinham que se desenhar se olhando no
espelho, fazendo descobertas do corpo. Ficou muito bonito, pois o fundo do Eva colorido
ficava destacado.
Não gosto de trabalhar por datas comemorativas. Trabalho elas, mas não são o foco,
procuro encaixar nos projetos de trabalho. Sempre procuro agregar novas atividades as
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atividades planejadas. Quando um projeto acaba, dou um tempo de aproximadamente uma
semana antes de iniciar outro, para poder realizar mais brincadeiras. Não tem regras.
Meu papel no trabalho com projetos é de observação sobre a ação e reação deles e agir
sobre isso. Não é porque tive uma ideia maravilhosa, que ela tenha que ser aplicada. Se não há
interesse, não adianta aplicar a minha ideia maravilhosa.
Estou com eles nas atividades, dou estímulos e às vezes ganho nos jogos para mostrar
aquilo que sei, pois para eles sou como exemplo. Fico na altura deles, mas com o
conhecimento que tenho.
O papel dos alunos é serem participativos e autônomos. Fazer descobertas como na
argila. Também de dar sugestões, muita coisa parte deles e têm liberdade para testar.
Os autores envolvidos são a turma, os professores e demais pessoas que contribuem.
Os pais auxiliam nos projetos e também dão sugestões de atividades.
Para os pais, sempre envio por escrito o projeto, com objetivos e atividades em forma
de texto e colo na agenda. Também faço registro com fotos.
A documentação é feita por portfólios ou pasta, na qual o registro é por fotos e com as
atividades realizadas.
Os projetos giram em torno de um mês ou mais ou menos 14 dias. Depende da
temática.
A organização do tempo e do espaço é fundamental, porque primeiro se prevê o tempo
e em segundo é preciso saber abrir mão e possibilitar mais ou menos tempo nas atividades. Os
espaços podem ser bem explorados e não ficar só na sala, mas também fazer saídas e passeios.
Também procuro dar tarefa de casa par ser realizado junto com a família, não é rígido, mas
todos participam. Quando não retorna, questiono e enviam para a escola.
A avaliação se dá ao longo do projeto, se está funcionando, o que não está. Procuro
fazer anotações para auxiliar a avaliação no boletim. Também me auxilia para ver o que
preciso mudar e é a avaliação que me permite isso. Também é importante porque posso
aplicar uma atividade ou projeto com outra turma, que talvez funcione melhor ou até mesmo
não funcione.
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ENTREVISTA COM A PROFESSORA ARLETE
1.
Você costuma planejar? Por quê?
Sim, porque é importante pensar o que trabalho com os alunos e variar as atividades
para terem contato com materiais diferentes.
2.
Que tipo de planejamento você realiza? (projetos, centro de interesse, temas
geradores, unidades)
Por projetos.
3.
O que é projeto para você? Em sua opinião, o que não pode faltar em um
projeto? Em que autor/es você se fundamenta? Que passos você costuma seguir na
construção de um projeto?
É um tema que parte do aluno ou que acho importante, colocando tudo que dá para
desenvolver, materiais e relacionar com teoria. Não pode faltar num projeto são objetivos
claros para saber o que se pretende.
Gosto muito do Arribas e da Luciana Viegas, que fala de avaliação.
Para a construção do projeto, parto da minha necessidade ou deles. Depois coloco o
que vou trabalhar, faço embasamento teórico para saber como aprofundar, que atividades
desenvolver e recursos.
4.
Relate um projeto desenvolvido com seu grupo de alunos.
Projeto dos sentidos: “os cinco sentidos”.
Desenvolvemos várias atividades. Para trabalhar paladar fomos à feira, compramos
rúcula e pimentão, que tem sabores mais fortes. Fizemos também um jogo de sucos, no qual
não viam o que era e tinham que provar pelo canudinho e adivinhar de que era e revelavam o
que sentiam. Também fizemos memória auditiva, textura em lixas, túnel das sensações, que
era preto e cheio de texturas e cheiros. Também conversamos com a fonoaudióloga, a respeito
de gritar, que falando baixo também podemos ouvir o colega e os cuidados que devemos ter.
para a audição, tocávamos uma sineta e a criança tinha que ir em direção a ela com os olhos
vendados, realizamos caminhadas, para perceber diferentes sons no caminho. Explicamos os
cuidados que temos que ter com o ouvido, não gritar, som muito alto.
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Este projeto surgiu pelo professor e eles gostaram, pois não estavam com tanta
sensibilidade. Os demais projetos varia, às vezes surgem deles mas a maioria os professores
trazem. Algumas vezes também são sugeridos dois temas para que eles escolham um.
O papel do professor no trabalho com projetos é de desafiar os alunos, mediar
atividades, proporcionar diferentes materiais como argila. Mediando eles se desenvolvem, é
importante dar dicas.
Os alunos são alvo, são eles que vão desenvolver, dizer se foi valido ou não, se
precisam mudar o caminho e as vezes aquilo não tem sentido pra eles.
As pessoas envolvidas são os professores, alunos e pais, com uma ou duas atividades
de casa para puxar os pais e tenham conhecimento do que está sendo trabalhado.
Em relação ao tempo e espaço, as atividades não podem ser muito longas, se não
perdem o interesse. É importante organizar a atividade conforme o espaço, como tinta só na
sala. Também é legal fazer grupos para poder acompanhar a atividade adequadamente. O
espaço da sala deve estar de acordo com as necessidades do projeto.
A duração dos projetos depende do interesse das crianças, mas aproximadamente um
ou dois meses.
A avaliação é feita durante o processo, vendo como reagem nas atividades, que
interesses têm, se aquilo tem sentido pra eles e se é necessário outro material ou técnica.
Procuro fazer anotações de cada aluno, colocando falas para o relatório, é um suporte.
Em relação ao fechamento do projeto depende, temos a feira de vivencias, os trabalhos
vão para casa, cada turma na escola tem sua vez de expor na entrada da escola e às vezes é
feito um portfólio. Na sala dos professores há uma pasta na qual cada semana cada turma
arquiva uma atividade que considerou importante, podendo compartilhar com as demais
turmas.
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ENTREVISTA COM A PROFESSORA MARIA
1.
Você costuma planejar? Por quê?
Sim, porque é necessário para um bom trabalho, para organizar os objetivos, as
atividades e aproveitar para pensar como está a turma e partir disso para elaboraras atividades.
2.
Que tipo de planejamento você realiza? (projetos, centro de interesse, temas
geradores, unidades)
Projetos que parte do interesse das crianças. por exemplo o projeto do caminhão de
lixo, foi realizado porque demonstravam interesse nele, estudamos sobre o caminhão, como
separar lixo, como reaproveitar, trabalhamos com sucatas, revistas, jornais.
3.
O que é projeto para você? Em sua opinião, o que não pode faltar em um
projeto? Em que autor/es você se fundamenta? Que passos você costuma seguir na
construção de um projeto?
Diz que parte da pergunta. Para mim é o que estamos trabalhando, parte da escola,
turma e interesse. Em minha opinião, não dá para chegar do chegar do nada, por isso não pode
faltar o interesse das crianças. Também não pode faltar planejamento, o lúdico/brincar e
integrar a família com temas de casa, solicitação de materiais e passeios.
Os autores que fundamentam meu trabalho e que estamos trabalhando na faculdade
são Fernando Hernandez e Maria Carmem Barbosa, que também fala de projetos.
Na construção do projeto, primeiramente preciso verificar o que eles já sabem, o que
gostariam de aprender e como. Depois disso, organizo o trabalho colocando o que precisa, o
que eu acho importante e englobando no interesse deles.
4.
Relate um projeto desenvolvido com seu grupo de alunos.
“Caminhão do lixo”
Quando o caminhão de lixo passava, as crianças ficavam eufóricas e gritavam:
“caminhão de lixo, caminhão de lixo!” Portanto, iniciamos pesquisando quem dirigi e recolhe,
quando e como. Depois acrescentei algumas coisas que considerava importante, como a
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separação do lixo, atividades relacionadas a separação, consciência da redução e procura por
materiais alternativos. Construímos bonecos, boliches e diversos materiais.
Meu papel de professora é de facilitadora, de integrar as crianças como alguém que
contribui, não traz as coisas prontas. As crianças são contribuintes, e o professor deve ir
fazendo construções com eles.
A organização do tempo e do espaço é bem importante, pois se deve planejar para esse
tempo e esse espaço para aproveitar o tempo, nada muito longo, não poluir os ambientes. Na
sala é difícil mudar alguma coisa, porque é pequena, mas mudam os cartazes das paredes.
Os projetos duram em media um, dois ou três meses, dependendo do que tem pra
fazer. Por exemplo, as datas comemorativas e demais atividades são encaixadas no
planejamento do projeto, não são trabalhadas separadamente.
A avaliação é continua. Tenho um caderno de acompanhamento, no qual escrevo na
média de 15 dias, destacando diferentes atividades, se a criança conseguiu realizar ou não. A
avaliação do projeto também é realizada com as crianças no final, destacando o que
aprenderam.
O fechamento do projeto é diferenciado, como por passeios, exposição na frente da
escola e agora estou fazendo um portfólio que vai para casa com o planejamento e as
atividades realizadas.
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ENTREVISTA COM O PROFESSOR PEDRO
1.
Você costuma planejar? Por quê?
Sim, para a minha organização e porque é muito importante. Consigo localizar o que
já trabalhei, é um controle.
2.
Que tipo de planejamento você realiza? (projetos, centro de interesse, temas
geradores, unidades)
Projetos e centro de interesses.
3.
O que é projeto para você? Em sua opinião, o que não pode faltar em um
projeto? Em que autor/es você se fundamenta? Que passos você costuma seguir na
construção de um projeto?
É uma concentração de ideias, é dar ênfase no foco. A organização é construída pelo
planejamento, para organizar as atividades e perceber quais estímulos e quais áreas envolver.
Em um projeto não pode faltar justificativa, objetivo geral, atividade da educação
infantil concreta e no final a avaliação do professor, para verificar o que precisa melhorar,
como foi retribuído para melhorar.
Primeiramente, para iniciar um projeto, realizo uma conversa em roda para ver as
preferências. Depois estruturo a justificativa, os objetivos, as atividades que eles sugeriram e
após acrescento as coisas que considero importante para eles.
4.
Relate um projeto desenvolvido com seu grupo de alunos.
Entrei nesta turma na metade do ano, sendo assim, já havia uma sistemática. A turma
tem um projeto grande, que é do ano todo e são incluídos ao longo do ano projetos pequenos
do interesse deles ou do professor.
Um dos projetos pequenos foi o “Letrinha”
O Letrinha é um boneco grande com letras pelo corpo passeava na casa das crianças e
com ele um caderno no qual os pais escreviam e as crianças registravam com desenhos.
O tema deste projeto foi escolhido pelo professor, mas as crianças também podem
fazer suas escolhas.
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O papel do professor no trabalho com projetos é organizar o projeto de modo que as
crianças possam desenvolver todas as áreas, abrangendo todas as linguagens. O papel dos
alunos é de ajudar na elaboração do planejamento e realizá-lo. O professor sozinho não
consegue fazer essa elaboração, pois se as crianças não têm vontade e interesse, o projeto
estaciona, para, não vaio adiante.
Os atores envolvidos são os professores e alunos, às vezes os pais são envolvidos, mas
na maioria das vezes não.
O tempo dos projetos é relativo, pois pode ir mais além do planejado ou pode ser mais
rápido que o esperado, mas esse tempo é muito importante. Devemos trazer a atividade no
espaço de forma a cativar as crianças, pensar como realizar e trazer o concreto para eles. Na
sala, é difícil mudar o espaço porque a sala é pequena, mas há trabalhos pendurados na porta
do armário e nas paredes. Procuro explorar os diferentes espaços da escola, como brincadeiras
na quadra e pracinha. Em relação ao caminho encantado, trabalhei a história do boi, a qual
encenaram na quadra.
A duração dos projetos duram aproximadamente 15 dias, três semanas.
A avaliação é feita no decorrer, durante o projeto com anotações de como foi e as
respostas das atividades realizadas pelas crianças.
O fechamento do projeto se dá com exposições na frente da escola e também temos a
feira de vivências.
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Planejamento: Articulando desejos e necessidades