64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013 DIFERENTES REDES DE INTERAÇÕES ENTRE ABELHAS E PLANTAS EM UMA ÁREA EM PROCESSO DE RESTAURAÇÃO EM ARARAS-SP 2 2* Jussara Fernanda Santos¹, Roberta C. F. Nocelli , Kayna Agostini 1 Programa de Pós-graduação em Agricultura e Ambiente, Centro de Ciências Agrárias, UFSCar; ²Departamento de Ciências da Natureza, Matemática e Educação, CCA, UFSCar. *[email protected] Introdução Os principais indicadores utilizados na avaliação e monitoramento de áreas em processo de restauração na última década estão relacionados a três categorias de atributos; diversidade, estrutura da vegetação e processos ecológicos. Os processos ecológicos não são avaliados com tanta frequência como a diversidade e estrutura da vegetação [1]. Considerando a relevância da abordagem de redes ecológicas para monitoramento em áreas em processo de restauração, e a importância das abelhas e de seus serviços ambientais para estas áreas, o objetivo deste trabalho foi avaliar as interações entre as plantas (produtoras de recursos florais) e as abelhas (consumidoras de recursos florais) em uma área em processo de restauração. Metodologia O estudo foi realizado em uma área de 1 ha, em processo de restauração localizada no Centro de Ciências Agrárias (UFSCar) em Araras-SP (22°17’56.9’’ S e 47°22’53.80’’ W), com três anos de estabelecimento. Foram feitas observações em sete espécies plantadas, totalizando 176 indivíduos. As espécies foram Bixa orellana (Bixaceae) (n=4), Cordia abyssinica (Boraginaceae) (n=6), Croton floribundus (Euphorbiaceae) (n=24), Lafoensia pacari (Lythraceae) (n=21), Schinus molle (Anacardiaceae) (n=30), S. terebinthifolius (Anacardiaceae) (n=29), Senna multijuga (Fabaceae) (n=62). Foi observada uma espécie regenerante, a Solanum lycocarpum (Solanaceae) (n=18). As observações foram realizadas entre janeiro e dezembro de 2011, totalizando 16 horas de observação para cada espécie por mês. Durante as observações foi registrado o comportamento de visita das abelhas (polinização ou pilhagem). Foram utilizados para a descrição da rede de interações a conectância (C) e o grau (K) das abelhas e plantas. Para avaliar o grau de aninhamento da rede de interações foram usados dois índices de aninhamento (T e NODF). Foram confeccionados grafos bipartidos utilizando o programa PAJEK [2] [3]. Resultados e Discussão Foram identificadas 20 espécies de abelhas que se comportaram de diferentes formas dependendo da planta visitada. Deste modo três redes de interações foram confeccionadas: 1) de abelhas visitantes; 2) de abelhas pilhadoras e 3) de abelhas polinizadoras. A rede de interações das espécies de abelhas visitantes foi composta por 20 espécies de abelhas e 8 de plantas (C=42,5%;). A rede de abelhas pilhadoras foi formada por 8 espécies de abelhas e 6 de plantas (C=64,58%), enquanto que a rede de abelhas polinizadoras foi formada por 18 espécies de abelhas e 6 de plantas (C=36,8%). O grau médio (k) das abelhas na rede de visitantes foi de 3,6 e das plantas foi de 3,5, para rede de pilhadoras o grau médio das abelhas foi 3,87 e para as plantas 5,16, e na rede de polinizadoras o grau médio das abelhas foi 2,16 e das plantas de 6,5. As redes de abelhas visitantes (T=13,80; NODF=64,90) e de abelhas pilhadoras (T=0,99; NODF=69,77) apresentam-se aninhadas, e o contrário foi observado na rede das abelhas polinizadoras (T=53,99; NODF=21,43). A maioria dos trabalhos em áreas em processo de restauração que utilizaram redes de interação como forma de monitoramento, considerou apenas uma única rede para descrever as interações [3], mas este estudo possibilitou a construção de três diferentes tipos de redes de interações. Vários autores avaliaram diferentes tipos de redes de interações, e concluíram que as redes mutualísticas apresentam padrão aninhado, principalmente em ambientes mais conservados, e isto tem implicações para a conservação, pois as interações entre as espécies generalistas gera uma densa massa de interações que atinge toda a comunidade e tal padrão oferece rotas alternativas de respostas às perturbações ambientais, conferindo maior estabilidade ao sistema [4] [5]. Conclusões A rede de polinização (rede mutualística) da área em processo de restauração estudada ainda não apresentou aninhamento, e isso pode ser explicado devido à área ser muito jovem e apresentar poucas espécies de plantas que oferecem recursos para os polinizadores. Portanto, para a manutenção dos visitantes florais e polinizadores na área, as espécies vegetais que podem ser introduzidas devem contemplar diversos sistemas de polinização e oferecerem vários tipos de recursos para atenderem diferentes visitantes florais e polinizadores. Agradecimentos À CAPES, pela concessão de bolsa de mestrado à Jussara Fernanda dos Santos Referências Bibliográficas [1] Ruiz-Jaen, M.C. & Aide T.M. 2005. Restoration success: how is it being measured? Restoration Ecology 14(3): 569-577 [2] Lewinsohn, T.W.; Loyola, R.D. & Prado, P.I. 2006. Matrizes, redes e ordenações: a detecção de estrutura em comunidades interativas. Oecologia Brasiliensis 10(1): 90-104. [3] Pigozzo, C.M. & Viana, B. 2010. Estrutura da rede de interações entre flores e abelhas em ambiente de caatinga. Oecologia Autralis 14(1): 100-114. [4] Bascompte, J.; Jordano, P.; Melián, C.J. & Olesen, J.M. 2003. The nested assembly of plant-animal mutualistic networks. Proceedings of the National Academy of Sciencies USA 100: 9383-9387. [5] Bascompte, J. & Jordano, P. 2007. The structure of plantanimal mutualistic networks: the architecture of biodiversity. Annual Review of Ecology, Evolution, and Systematics 38: 567593.