Começo de tudo. “É incrível a força que as coisas parecem ter, quando elas precisam acontecer”. (Caetano Veloso) Era um domingo. Vinha eu de um dos retornos de minha eterna busca pela felicidade: o sucesso e o reconhecimento das minhas canções, quando, entre um cafezinho e um cigarro, assobiando uma melodia árida e, ao mesmo tempo, umedecida pelo suor do sonho de todo sertanejo, vejo o semblante de um poeta sentado, mirando a noite como quem vinha de um dia inteiro de saudade. Era o poeta Virgílio Siqueira, que vinha de Ouricuri – Pernambuco, risonho e satisfeito por ter conquistado um festival de música com uma canção batizada por “Maria Antonieta”, em parceria com outro caboclo de pré-nome Marcílio, que viria também a ser meu parceiro e amigo logo em seguida. Daí surge o grupo “TERRA”: Zé Galvão – bom músico, bom amigo, bom de ouvido e bom de farra. Evandro Maniçoba – um bandolim que soava como pássaros em revoada. Cada nota era um gorjeio, cada corda era uma pena, cada acorde era uma asa, e a palheta mais parecia o bico de um tico-tico no fubá. Marcílio - um boêmio, tão bonito e grande quanto a sua vontade de voar para o galho que bem lhe viesse. Cantava e decantava “Minha história” de Dalla e Pallotino, numa versão de Chico Buarque de Holanda, e depois bebíamos até o sol da feira da Areia Branca raiar. Isso vale um abraço, companheiro. Andrezão, muito maneiro, sereno feito um jabotí no terreiro de um quintal as cinco da tarde, esperando a hora da Ave Maria Schubert, interpretada por Stevie Wonder, tragava o sonho e viajava na noite em timbadoras belas, fazendo em panelas percussões singelas que a malocada toda vinha reparar. Maurício (Miquim) versejador boêmio de palavras divididas, acompanhava a patota ao pé da letra e da rima também. E o poeta Virgílio, bebia o verso e nos dava acesso ao lirismo, à trova, à prosa, além das intermináveis e inesquecíveis tardes de bebedoria na casa de Zeca de Grécia. Eu, moleque, matuto, matreiro, mambembe, maneiro, me juntei a essa tropa. E até hoje vivo assobiando aquela mesma melodia, de suor, de sal, de sangue, de cerveja e de muito forró. Maciel Melo