Vida silvestre: o estreito limiar entre preservação e destruição Vida silvestre: o estreito limiar entre preservação e destruição Vida Silvestre: o estreito limiar entre preservação e destruição Diagnóstico do Tráfico de Animais Silvestres na Mata Atlântica – Corredores Central e Serra do Mar Realização Renctas – Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres Coordenação e organização Angela Maria Branco Supervisão Raulff Ferraz Lima Textos Regina Macedo Angela Maria Branco Edição Regina Macedo Estatística Fernão Dias de Lima Pedro Manoel dos Santos Site e banco de dados Arcplan Geoprocessamento Assistente técnico Rosana Silva Pinto Revisão Aléssio Venturelli Gonçalves Projeto gráfico e editoração Paulo J. Celestino Foto da capa Saíra-sete-cores (Tangara seledon) Fotógrafo: Zig Koch Capa Paulo J. Celestino Impressão e acabamento Dupligráfica 1ª Edição Brasília, 2007 Vida silvestre: o estreito limiar entre preservação e destruição Sumário 6 - APRESENTAÇÃO Capítulo 1 9 - O PROJETO 10 - Unindo esforços e conhecimentos. Assim se combate o tráfico de animais silvestres. Capítulo 2 19 - CORREDORES, ESPERANÇA PARA A MATA E SUA FAUNA 20 - Os Corredores de Biodiversidade – mudando a escala da conservação da biodiversidade. 34 - Diversidade e ameaça na Mata Atlântica 44 - O tráfico de animais silvestres 3 Capítulo 50 - CORREDOR CENTRAL: PERFIL DOS MUNICÍPIOS COM OCORRÊNCIA DE TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES Capítulo 4 78 - QUADROS, GRÁFICOS, ANÁLISES 80 - Lacunas nas informações refletem a realidade da fiscalização 82 - Um olhar detalhado sobre o quadro 86 - Interagindo com o site 89 - Números, índices, indicadores, repletos de divergências. 118 - Com as instituições enfraquecidas, a fauna sofre as conseqüências. 125 - Quando se trata da fauna silvestre, falta tudo. Sumário Capítulo 5 Capítulo 131 - WORKSHOP 133 - Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? Capítulo 6 160 - BANCO DE DADOS 163 - Instrumento é fundamental 164 - Informações precisas, uma arma poderosa. 166 - Mergulhando no emaranhado de normas legais 168 - Fauna é recurso ambiental. Deve ser protegida. 172 - Breve histórico do Ibama 174 - O que determina o Regimento Interno 179 - Os recursos do Banco de Dados 186 - Espécies online, suporte à fiscalização. 7 188 - PLANO ESTRATÉGICO 196 - AGRADECIMENTOS APRESENTAÇÃO “Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. O sentido de pertencimento que me invade quando percorro matas, Tenho abundância de ser feliz por isso. rios, montanhas, vales, florestas, nascentes, biomas dos mais diversos, é Meu quintal é maior do que o mundo.” indescritível. Os animais em vida livre me fascinam, me encantam. E quando (Manuel de Barros) me vejo entre eles, em seus habitats, e percebo o poder que cada um de nós possui de preservar a vida, ou destruí-la - na maioria das vezes, por meio de um simples gesto - reafirmo minha opção de atuar e lutar pela conservação. As ameaças à biodiversidade são tantas e tão complexas, que em certos momentos me pergunto por que centrar esforços pessoais, sociais, nacionais e internacionais para combater somente uma dessas ameaças: o tráfico de animais silvestres. Mas a resposta vem fácil e traz com ela mais certeza de minha missão pessoal, e da missão da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, a Renctas, ONG da qual sou coordenador geral: de todas as agressões à natureza, a violência contra a frágil vida animal é uma das mais absurdas, e infelizmente, uma das menos combatidas pela população, pela sociedade civil organizada e até mesmo pelas autoridades constituídas. 6 A fragilidade de uma ave assustada dentro de um alçapão, o olhar Não poderia concluir essa breve apresentação sem expressar minha perdido e o desespero de um primata engaiolado, o urro surdo de um profunda gratidão à médica veterinária Angela Branco, que coordenou, com felino capturado e amarrado, a dor dessas vidas que se perdem para extremo senso de maestria e responsabilidade, esse magnífico trabalho, ao lado a natureza não pode mais ser ignorada, inclusive porque quanto mais da jornalista ambiental Regina Macedo, da médica veterinária Rosana Silva Pinto espécies são extintas ou encontram-se em ameaça de extinção, mais e do designer gráfico Paulo Celestino. Também não poderia deixar de registrar pobre se torna a própria vida humana na Terra. E para estancar um meus agradecimentos ao coordenador Executivo da Renctas, Raulff Lima, e a dano à natureza, ele precisa ser conhecido. A informação é uma arma todos da equipe da instituição. poderosa, sobretudo quando se trata do combate ao tráfico de silvestres, um crime que movimenta milhões de dólares anualmente e possui redes cada dia mais sofisticadas. No mais, observo que a introdução de meu texto fala dos passarinhos com a maravilhosa sensibilidade de Manuel de Barros. Quis reverenciar não somente o poeta, mas as aves que formam perto de 90 por cento Assim, a Renctas realizou o 1º Relatório Nacional sobre o dos animais retirados do tráfico, em apreensões. Mas, devo lembrar que Tráfico de Animais Silvestres, em 2001; e agora, mergulhou num dos nossa defesa se estende a todos os animais, de insetos a grandes felinos, biomas mais preciosos e mais ameaçados do mundo, a Mata Atlântica, passando pelas cobras, sapos, peixes e jabutis. Afinal, não existe animal para produzir o Diagnóstico do Tráfico de Animais Silvestres na Mata feio ou bonito, só existe vida. Atlântica – Corredores Central e Serra do Mar. Dener Giovanini coordenador geral da Renctas 7 8 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Muriqui (Brachyteles hipoxanthus) - Foto: Luciano Candisani 1 O PROJETO Conhecer o tráfico de animais silvestres nos corredores da Mata Atlântica e traçar diretrizes para combater este crime ambiental. Tarefas que a Renctas – Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres – resolveu abraçar, ao elaborar o Projeto Diagnóstico do Tráfico de Animais Silvestres nos Corredores Central e Serra do Mar da Mata Atlântica e a Implicação dessa Atividade para a Conservação do Bioma. Tal empreendimento viabilizou-se com financiamento do CEPF – Critical Ecosystem Partnership Fund – e o apoio da Aliança para a Conservação da Mata Atlântica. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 9 Unindo esforços e conhecimentos. Assim se combate o tráfico de animais silvestres. A biodiversidade não está igualmente distribuída ao redor da Terra. Estudos recentes apontam que 25 ecossistemas concentram 60% de toda a diversidade de vida do planeta, em apenas 1,4% de sua superfície. Esses ecossistemas, chamados de hotspots da biodiversidade, são as regiões mais ricas e também as mais ameaçadas do mundo. A Mata Atlântica, com mais de 6 mil espécies de plantas endêmicas (que só ocorrem nessa região), e reduzida a menos de 8% de sua extensão original, está entre os cinco hotspots mais críticos, o que faz dela uma prioridade mundial para conservação. E entre as estratégias de conservação, estão os Corredores de Biodiversidade. 10 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Onça-pintada (Panthera onca) - Foto: Ricardo J. Sawaya D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 11 O Corredor de Biodiversidade é como um mosaico de usos e Cada espécie de vida tem sua função no planeta e sua posição ocupação da terra. Ele integra parques e reservas (públicas ou privadas), na cadeia alimentar. O desaparecimento de uma espécie quebra esse áreas de cultivo e pastagem, terras indígenas, propriedades com sistemas elo harmônico e traz prejuízo a vários serviços ambientais. Em relação agroflorestais ou ecoturismo, centros urbanos e atividades industriais, à fauna silvestre, a redução de uma população ou sua extinção pode responsabilizando todos os cidadãos pela conservação da natureza. refletir negativamente em eventos naturais como: polinização, controle O objetivo é reconectar os fragmentos de floresta, que garantem a de pragas e vetores de doenças, ciclo de nutrientes (água, nitrogênio, sobrevivência das espécies, o equilíbrio dos ecossistemas e o bem- carbono), contenção de encostas, equilíbrio da temperatura e umidade estar humano. É uma tentativa de evitar a perda de riquezas naturais do ar, entre outros. insubstituíveis, que o tempo não irá repor sem nossa ajuda. Uma das agressões ambientais que traz mais prejuízos à fauna silvestre e provoca a extinção de espécies, contribuindo para o declínio da biodiversidade, é a captura de espécimes em áreas naturais, praticada, Pingo-de-ouro (Brachycephalus ephippium) - Foto: Ricardo J. Sawaya sobretudo, para alimentar o grande negócio ilegal do tráfico de seres 12 vivos. Portanto, conhecer e combater essa atividade deve ser tarefa fundamental entre as tantas ações desenvolvidas nos Projetos Corredores, dentro da estratégia de conservação da fauna e do bioma. Assim nasceu o Projeto Diagnóstico do Tráfico de Animais Silvestres nos Corredores Central e Serra do Mar da Mata Atlântica e a Implicação dessa Atividade para a Conservação do Bioma, idealizado pela Renctas – Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres – com patrocínio do CEPF (Critical Ecosystem Partnership Fund) e apoio da Aliança para a Conservação da Mata Atlântica. O objetivo principal da versão inicial do projeto era buscar informações detalhadas sobre o tráfico de animais silvestres, nos municípios localizados na áreas de abrangência dos Corredores de Biodiversidade Central e da Serra do Mar da Mata Atlântica. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r ESBARRANDO NA FALTA DE INFORMAÇÕES PARA PRESERVAR A FAUNA, FERRAMENTAS E ESTRATÉGIAS Os trabalhos começaram pelos estados do Espírito Santo e da Os workshops propiciaram a definição das linhas gerais de Bahia, nas áreas de abrangência do Corredor Central da Mata Atlântica. conteúdo do site do Projeto Diagnóstico (www.diagnostico.org.br) e Logo no início, foi possível constatar que ambos os estados não possuem geraram discussões em torno da criação do banco de dados sobre a informações específicas a respeito da apanha, comércio ilegal e esforços fauna. Assim, foram definidas quais informações deveriam compor de combate a estes crimes ambientais nos municípios integrantes do o banco e como as mesmas poderiam ser acessadas, processadas e Corredor. Dessa forma, a busca de informações dentro do projeto pesquisadas. precisou ser redirecionada para o âmbito estadual, junto aos órgãos responsáveis pelo licenciamento, fiscalização, controle e manejo da fauna, na região. O site tornou-se o meio para disponibilizar informações que fossem prioritárias em ações de fiscalização, contemplando dados sobre a legislação, cadastro das espécies animais, listas das Assim, ocorreram os primeiros workshops no Espírito Santo e na espécies ameaçadas de extinção, notícias, informações relativas Bahia, para que de maneira integrada e participativa, as instituições ao andamento do projeto, além de um mapa georreferenciado pudessem contribuir com informações para o desenvolvimento e apontando os municípios de compra e venda de animais, e as rotas consolidação dos seguintes produtos, dentro do Projeto Diagnóstico: do tráfico. Já o banco de dados foi destacado como uma ferramenta indispensável para um “trabalho de inteligência” e implementação 1) A construção de um website, com informações sobre o tráfico de animais silvestres na Mata Atlântica; de ações integradas voltadas à repressão do tráfico de animais, e à proteção da fauna. 2) A criação de um banco de dados contendo informações dos autos de infração de crimes contra a fauna, emitidos pelos órgãos de fiscalização DEFINIDA A LINHA, HORA DE AMPLIAR O TRABALHO integrantes do Sisnama – Sistema Nacional do Meio Ambiente; 3) A publicação de um diagnóstico sobre o tráfico de animais A partir das definições estabelecidas nos primeiros encontros silvestres nos Corredores Central e Serra do Mar da Mata Atlântica; estaduais, o projeto foi estendido para o Corredor da Serra do Mar, acompanhado de um plano estratégico para o combate ao tráfico de com a realização de workshops nos estados do Rio de Janeiro, Minas animais silvestres nesses corredores. Gerais e São Paulo. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 13 A cada evento, foram agregadas e consolidadas as contribuições fornecidas pelos representantes das instituições parceiras como: Ibama, Ministério Público Federal e Estadual; polícias Federal, Rodoviária, Ambiental e Civil, secretarias estaduais e municipais de Meio Ambiente, universidades, institutos de pesquisa e entidades não governamentais. Somente ao final dos cinco workshops, foi possível consolidar o banco de dados e dimensioná-lo em toda sua importância. O que seria, a princípio, um instrumento para obtenção de dados a serem consolidados no presente documento, acabou ganhando a dimensão de ferramenta inédita no combate ao tráfico. Mas, para que este banco pudesse ser utilizado para a consolidação de um diagnóstico do tráfico de animais, principalmente na esfera dos municípios que integram os Corredores, seria necessário abastecê-lo durante um determinado tempo, o que não haveria diante do andamento órgãos responsáveis diretamente pela fiscalização da fauna nos estados – polícias ambientais e Ibama - por meio da aplicação de um questionário que pudesse retratar as ações de combate e controle do tráfico de animais silvestres, ao menos nos estados, frente à impossibilidade de obter informações focadas nos municípios. O questionário utilizado foi o mesmo que serviu de base para a elaboração do 1° Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, publicado pela Renctas em 2001. 14 Sanhaço-de-fogo (Piranga flava) - Foto: Zig Koch do projeto. A solução encontrada foi buscar informações junto aos D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r CAMINHO SINUOSO EM BUSCA DO DIAGNÓSTICO A sede nacional do Ibama, em Brasília, foi a primeira instituição a receber o questionário, mas não o respondeu. Por isso, o mesmo questionário foi enviado às superintendências do Ibama nos cinco estados envolvidos no Projeto Corredores, bem como aos comandos estaduais das polícias ambientais. Alguns questionários não retornaram; outros apresentaram respostas em branco ou incompletas. Esse processo acabou trazendo à tona detalhes das estruturas das instituições encarregadas de proteger a fauna e também responsáveis por diversas outras atribuições na área ambiental. Os questionários foram minuciosamente processados e analisados, e os resultados disponibilizados na presente publicação. Mesmo assim, ainda, era necessário reunir mais informações, visando consolidar os dados e traçar diretrizes para a elaboração de um plano estratégico de combate ao tráfico de animais. O próximo passo foi a realização de um workshop, reunindo representantes das principais instituições dos cinco estados e Distrito Federal, que vinham participando do desenvolvimento do projeto. O encontro aconteceu nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro de 2006, na Cidade de São Paulo. Os participantes foram divididos em dois grupos – Corredor Central e Corredor da Serra do Mar. O trabalho foi norteado por 30 questões apresentadas aos grupos, que foram exaustivamente debatidas. As D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 15 respostas foram discutidas numa plenária, ao final do encontro, resultando RENCTAS – A Renctas é uma Organização da Sociedade Civil de num precioso documento aqui publicado. A dinâmica também contou com Interesse Público brasileira, sem fins lucrativos, que tem como missão a participação e contribuições de representantes de instituições da esfera combater o comércio ilegal de animais silvestres, contribuindo para a federal em Brasília, como o Ministério do Meio Ambiente e a Polícia Federal. preservação da biodiversidade. Entre as suas principais estratégias estão, a educação ambiental, o apoio aos órgãos de controle e fiscalização, o Apesar de todo esforço empreendido na busca de respostas, a incentivo à criação de políticas públicas e a implementação de projetos definição a respeito da instituição que deve administrar o banco de dados destinados à pesquisa e conservação da fauna silvestre. Tendo como ficou pendente, apesar das evidências apontarem para o Ibama. orientações principais a credibilidade, a transparência e o estabelecimento de parcerias, vem desenvolvendo um trabalho inovador, que aglutina Além de todos os documentos e ferramentas já citados, renomados diversos setores do governo, da iniciativa privada e de organizações do pesquisadores e colaboradores contribuíram com artigos para situar ou terceiro setor. Fundada em 1999, destaca-se como uma das mais atuantes inteirar os leitores sobre a temática da Mata Atlântica; Corredores Ecológicos organizações ambientais do Brasil, merecendo inclusive o reconhecimento ou de Biodiversidade e tráfico de animais silvestres. Esses artigos demonstram do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), como um a importância e necessidade premente da implementação de políticas modelo a ser adotado por outros países. públicas voltadas à gestão da fauna silvestre e à proteção do Bioma. Deve ser salientado que todos os produtos decorrentes da execução e compromisso de cerca de 200 pessoas, muitas delas representantes de importantes instituições do País, que têm por missão zelar pela fauna. PRESERVAR A BIODIVERSIDADE, UMA TAREFA PLANETÁRIA Para dimensionarmos a importância e abrangência do Projeto Diagnóstico, é interessante conhecermos um pouco mais a respeito da Renctas e de seus parceiros neste empreendimento. 16 Lambari (Deuterodon langei) - Foto: Zig Koch deste projeto só foram concretizados devido à participação, contribuição D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r CEPF - O Critical Ecosystem Partnership Fund (CEPF), no Brasil hotspots ao redor do mundo. Assim, nasceu a Aliança para Conservação da chamado de Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos, é um fundo Mata Atlântica. A SOS Mata Atlântica e a CI-Brasil uniram-se sem perder de 150 milhões de dólares destinado ao financiamento de projetos para a sua identidade e trabalham com igual nível de decisão e responsabilidade conservação dos hotspots de biodiversidade mundiais. em torno de uma estratégia comum. A Aliança foi inspirada na visão do “Desmatamento Zero”, campanha desenvolvida pela Rede de ONGs da Mata Fruto de uma aliança entre o Banco Mundial, Fundo Mundial para Atlântica, e busca dar um passo adicional: incluir a proposta da “perda de o Meio Ambiente (GEF), Governo do Japão, Conservation International biodiversidade zero” e reverter o atual processo de destruição e extinção de e Fundação MacArthur, o CEPF procura engajar a sociedade civil na espécies no qual se encontra esse bioma. conservação da biodiversidade e promover parcerias de trabalho entre grupos comunitários, organizações não-governamentais, instituições de UM PROCESSO EM CURSO. AINDA HÁ MUITO O QUE FAZER. ensino e o setor privado. A reunião das capacidades de diversos grupos e setores elimina a duplicação de esforços, tornando-os mais efetivos e abrangentes. Cabe salientar, por fim, que o projeto inicial gerou bem mais do que um documento pontual, centrado nos municípios que compõem os Corredores. Transformou-se em uma arma poderosa no combate do tráfico, voltada não O CEPF complementa mecanismos de financiamento já existentes, somente aos cinco estados onde estão estabelecidos os Corredores, mas provê fundos de maneira ágil e flexível, presta auxílio a organizações não- sim, para todo o País, que é justamente o banco de dados e todo restante governamentais e outras entidades do setor privado. Busca tanto apoiar do suporte disponibilizado no site do Projeto Diagnóstico. E a presente ações de conservação já em andamento, como incentivar novas iniciativas. publicação complementa o trabalho, com informações relevantes a respeito Esse fundo é gerenciado de forma inovadora: financia a proteção de “áreas do comércio ilegal de animais silvestres, das dificuldades por que passam as biológicas”, independentemente das fronteiras políticas, e utiliza como instituições responsáveis pela preservação da fauna e, sobretudo, aponta base o conceito de corredores de biodiversidade. diretrizes para combater o tráfico. ALIANÇA - Diante do que já foi perdido e do grande valor natural das Por tratar-se de um processo, ainda há muito que fazer. E tudo deve ser áreas que ainda restam, duas das maiores ONGs atuantes na Mata Atlântica realizado em curto espaço de tempo, pois os processos naturais desenvolvem- – a SOS Mata Atlântica e a Conservação Internacional Brasil – resolveram se em milhares ou milhões de anos, mas o desequilíbrio e a destruição unir esforços, visando maximizar a eficiência e servir de modelo para outros irremediável dos biomas e de sua rica biodiversidade ocorrem velozmente. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 17 18 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Jacuguaçu (Penelope obscura) - Foto: Armando Catunda CORREDORES, ESPERANÇA PARA A MATA E SUA FAUNA 2 Uma das regiões mais ricas do Planeta em termos de biodiversidade e endemismo é a Mata Atlântica. Toda esta riqueza sempre atraiu a cobiça humana, o que tornou este bioma tão ameaçado a ponto de ser considerado uma das áreas mundiais prioritárias para a conservação (hotspots). Neste sentido, o Projeto Corredores de Biodiversidade é fundamental. Mas, não bastam projetos e mobilização da sociedade civil; a vontade política em todos os níveis governamentais é imprescindível, no sentido de realmente barrar a destruição acelerada da Mata Atlântica e de sua rica biodiversidade. A fauna é um dos recursos mais ameaçados: sofre com o desmatamento e, mesmo nas áreas mais preservadas, acaba vítima do tráfico e da caça. Nos artigos a seguir, conheça mais sobre o Projeto Corredores, a situação crítica da fauna e o crime ambiental chamado tráfico de silvestres. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 19 Os Corredores de Biodiversidade – mudando a escala da conservação da biodiversidade. Luiz Paulo Pinto* A situação brasileira, no que tange à conservação de biodiversidade, é considerada uma das mais graves e desafiadoras no mundo. Possuímos uma das biotas mais notáveis do mundo, mas os biomas brasileiros têm perdido a cobertura da vegetação nativa de forma dramática através do desmatamento para o avanço da agricultura, pastagens e outras formas de uso da terra, além do processo dinâmico da urbanização (Brandon et al., 2005). Como conseqüência, a última revisão da fauna brasileira ameaçada de extinção indicou uma lista de 633 espécies, sendo 126 criticamente em perigo, ou seja, com populações extremamente reduzidas e próximas da extinção, se medidas concretas de conservação não forem tomadas (Machado et al., 2005). *Luiz Paulo Pinto é biólogo e mestre em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre, pelo Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente, ocupa o cargo de diretor do Programa da Mata Atlântica da Conservação Internacional. 20 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Uma das formas mais reconhecidas e utilizadas para garantir Esses números impressionam, mas ao examinarmos com a proteção dessas espécies e de ecossistemas, é a criação de detalhes, veremos que o sistema brasileiro ainda é deficiente e unidades de conservação, ou seja, parques nacionais, reservas que não protege adequadamente a enorme biodiversidade do País. biológicas, reservas extrativistas e outras. Considerando somente as unidades de conservação de proteção integral, ou seja, unidades que em virtude das restrições de uso Conforme o Sistema Nacional de Unidades de Conservação constituem-se naquelas de maior relevância para a conservação da (SNUC), as unidades de conservação são espaços territoriais, com biodiversidade, cerca de 4% da superfície do território brasileiro características naturais relevantes, legalmente instituídas pelo encontra-se dedicada oficialmente a esse objetivo. Poder Público, com objetivos de conservar a biodiversidade e outros atributos naturais nelas contidas, com o mínimo de impacto humano. Deve ser ressaltado que essa porção do território brasileiro Existem mais de 100 mil unidades de conservação distribuídas em em unidades de conservação não se encontra distribuída segundo mais de 130 países em todo mundo (Chape et al., 2003). critérios de representatividade ao longo das diferentes regiões do País, resultando em grandes lacunas no sistema de proteção. O Brasil possui um sistema relativamente extenso, contando Essa limitação é agravada pela alta diversidade biológica contida com mais de 1.600 unidades de conservação públicas e privadas nos diferentes biomas brasileiros - somos considerados um país (Rylands & Brandon, 2005). Destas, 56% são unidades de conservação de megadiversidade (Mittermeier et al., 1997) -, e as distorções públicas (federal e estadual) e 44% privadas (RPPN¹ federal e geográficas do sistema de unidades de conservação no país são estadual), totalizando cerca de 112 milhões de hectares. claras (Fonseca et al., 1997). ¹ As Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), estabelecidas desde 1990, são reconhecidas como parte do sistema nacional de unidades de conservação. A RPPN é uma categoria de área protegida instituída em áreas de domínio privado, por iniciativa de seu proprietário e mediante reconhecimento do Poder Público (Costa, 2006). D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 21 A região Amazônica possui cerca de 19% do número de para os ecossistemas que compõem este bioma, especialmente pela unidades de conservação brasileiras, mas concentra mais de 80% alta fragmentação do habitat e perda da cobertura florestal, hoje do total da área protegida do Brasil (Fonseca et al., 1997; Rylands estimada em menos de 7% da situação original (Hirota, 2003). Como et al., 2005). Já a Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados conseqüência dessa situação, a vasta maioria (60%) dos animais e do planeta, considerado um dos hotspots² mundiais, abriga quase plantas ameaçada de extinção do Brasil são encontrados da Mata a metade do número total de unidades de conservação, mas é Atlântica, e a paisagem predominante no bioma está hoje fortemente responsável por apenas 8% da extensão territorial protegida no País. dominada pelo homem (Machado et al., 2005). Essa situação exige medidas de conservação urgentes, planejadas, e em uma escala A Mata Atlântica possui menos de 2% do seu território bem maior do que tem sido aplicado até hoje. protegido em unidades de conservação, ou seja, 98% do espaço apresenta outras formas de uso da terra (agricultura, cidades, estradas, Não só a diversidade biológica do País, das regiões como hidrelétricas, remanescentes florestais etc.), e o tamanho médio das a Mata Atlântica ou dos estados pode decrescer em função unidades é de cerca de 10 mil hectares, o que não é suficiente para da degradação de ecossistemas naturais, mas também as proteger a biodiversidade a longo prazo (Pinto et al., 2006). comunidades e espécies protegidas em unidades de conservação reconhecidas pelos governos, irão experimentar um processo de Ainda tomando a Mata Atlântica como exemplo, a dinâmica da destruição foi bastante acentuada, resultando em alterações severas perda, devido ao crescente isolamento ou “ilhamento” desses espaços protegidos. ² Os hotspots de biodiversidade são áreas que apresentam uma diversidade biológica única, com grande riqueza de espécies endêmicas (pelo menos 1.500 espécies endêmicas de plantas vasculares), ou seja, que ocorrem somente em uma determinada área, e que, ao mesmo tempo, sofrem graves ameaças de destruição, tendo perdido pelo menos 75% da cobertura de vegetação natural original. Em todo o mundo, foram reconhecidos 34 hotspots (Mittermeier et al., 2004). 22 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Cachoeira do Caldeirão - Parque Estadual do Morro do Diabo - SP - Foto: André Camilli Dias D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 23 Se o grau de exposição da reserva ao ambiente circundante estratégicas, localizadas entre unidades de conservação ou é muito alto, o seu tamanho efetivo será progressivamente grandes blocos de habitat propícios à sua sobrevivência, se reduzido pela deterioração do habitat, a partir de suas margens constituiria em um mecanismo mais eficiente e menos oneroso externas. Nesse contexto, a ciência hoje reconhece que as do que buscar-se conectar fisicamente os milhares de fragmentos unidades de conservação não conseguirão sozinhas garantir a florestais dispersos no território (Fonseca et al., 2004). proteção da biodiversidade a longo prazo (50, 100, 200 anos ou mais). Portanto, será necessária a incorporação, nas estratégias Nesse sentido, a ênfase regional para conservação ganhou de conservação, das áreas influenciadas diretamente pelo força como uma estratégia essencial para garantir a proteção homem. Ou seja, as diferentes formas de uso da terra no da biodiversidade em longo prazo. Essa nova abordagem território devem permitir a sobrevivência das espécies e dos tem como foco central na implementação dos chamados processos ambientais (ciclagem de água, nutrientes, polinização, “Corredores de Biodiversidade”, e implica no desenvolvimento dispersão de sementes e indivíduos etc.) em complemento às de ações de conservação em diferentes escalas, desde a local unidades de conservação (Ayres et al., 2005; Fonseca et al., até a regional, assegurando seleção de porções estratégicas 1997; Fonseca et al., 2006). e suficientemente grandes de ambientes naturais, buscandose representar diferentes ecossistemas e também manter ou 24 As pesquisas mostram que várias espécies são capazes de incrementar os níveis de conectividade entre as diferentes se deslocar ao longo de ambientes já perturbados pela atividade áreas, sobretudo das unidades de conservação (Ayres et al., humana. A efetiva proteção dessas espécies ao longo de áreas 2005; Sanderson et al., 2005). D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Obs.: O termo “Corredor de Biodiversidade” é aqui de um corredor de biodiversidade. Mas, como mencionado utilizado para designar essa nova abordagem para a conservação anteriormente, vale ressaltar que a ausência de zonas de da diversidade biológica e representa uma unidade de contato físico entre fragmentos não significa que não exista a planejamento territorial. troca de animais e plantas entre estes (Fonseca et al., 2004). Um conjunto de pequenos fragmentos isolados, porém próximos, Com a promulgação da Lei do SNUC, os corredores pode efetivamente proporcionar vias de acesso para a fauna e ecológicos passaram a ser referidos como “porções de flora, o que amplia a forma e estratégias de atuação para a ecossistemas naturais ou semi-naturais, ligando unidades de proteção da biodiversidade. conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a Existem atualmente várias iniciativas de conservação no recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção Brasil utilizando a abordagem dos corredores de biodiversidade de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com (Arruda, 2006). Uma das propostas mais recentes para criação extensão maior do que aquela das unidades individuais” (artigo e implementação de corredores de biodiversidade pode ser 2o item XIX do SNUC). encontrada no desenho do Projeto “Corredores Ecológicos”, que visa o estabelecimento dessa estratégia na Amazônia e na Mata O estabelecimento de corredores de ligação entre Atlântica, no âmbito Ministério do Meio Ambiente e do Programa populações isoladas seria uma das possíveis estratégias Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras (PPG- de minimização dos riscos de extinção de espécies dentro 7)(Ayres et al., 2005). D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 25 Os corredores não são unidades políticas ou especiais e destacam do restante do bioma, por possuírem administrativas, mas sim extensas áreas geográficas, definidas elevada riqueza da fauna e flora e grande número de espécies a partir de critérios biológicos para fins de planejamento e endêmicas, ou seja, espécies que só ocorrem nessas regiões e conservação. Um dos requerimentos dessa abordagem é que em nenhum outro lugar do planeta (Silva et al., 2004). os corredores sejam implantados em áreas importantes para conservação da biodiversidade, considerando a riqueza de O planejamento dos corredores deve incorporar espécies, a ocorrência de espécies endêmicas e ameaçadas de intervenções em diferentes escalas espaciais (de uma extinção, comunidades e fenômenos naturais únicos, o número unidade de conservação a uma bacia hidrográfica e todo e o tamanho das unidades de conservação etc. um estado) e temporais (ações imediatas, de médio prazo e ações previstas para durarem dezenas de anos), Na Mata Atlântica, por exemplo, já foram identificados buscando-se alternativas para uma forma mais abrangente, alguns corredores de biodiversidade, tais como: o Corredor do gradual, descentralizada e participativa de conservação Nordeste (entre o Rio Grande do Norte e Alagoas); o Corredor da biodiversidade (Fonseca et al., 2006). Enquanto nos Central da Mata Atlântica (sul da Bahia e Espírito Santo); o hotspots (Mata Atlântica e Cerrado) o objetivo é ampliar Corredor da Serra do Mar (Rio de Janeiro, Serra da Mantiqueira a conectividade entre os ambientes naturais, nas grandes - no sudeste de Minas Gerais; a Floresta Ombrófila Densa do regiões naturais³ (Amazônia e Pantanal), procura-se planejar Estado de São Paulo; e a região de Guaraqueçaba, no norte do e disciplinar a utilização do território e a manutenção da Paraná) e outros (Pinto et al., 2006). Todas essas regiões são cobertura de vegetação natural ainda existente. ³ Para ser classificada como uma Grande Região Natural, a área deve ter mais de 10.000 km2 com, pelo menos, 70% de sua vegetação original intacta e baixa densidade populacional, com menos de 5 pessoas por km2. Excluindo os grandes centros urbanos, as 37 Regiões Naturais cobrem 46% da superfície terrestre, percorrendo todos os continentes (Mittermeier et al., 2002). 26 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Outras atividades importantes para a implementação de um Corredor de Biodiversidade são: o combate à caça ilegal; a criação de novas unidades de conservação públicas e privadas; o estímulo à conservação de áreas florestais estrategicamente situadas; o incentivo à regeneração natural ou induzida de florestas; a mudança nos padrões de uso da terra; o desenvolvimento de atividades econômicas compatíveis com a conservação da biodiversidade, seguindo critérios claros de sustentabilidade no uso dos recursos naturais; e também a criação de corredores ecológicos entre remanescentes de vegetação nativas. Não existe, no entanto, uma forma definida para chegar a esses resultados. Portanto, Besouro cor - Ubatuba - Foto: André Camilli Dias cada corredor tem suas características específicas e exigirá uma articulação própria entre as políticas públicas e as comunidades atuantes em sua área. Para a implantação dos corredores, são necessárias ações coordenadas que visem o fortalecimento, à expansão e à conexão do sistema de áreas protegidas e que incentivem uma paisagem D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 27 onde se conservem e/ou recuperem as Áreas de Preservação Permanente – APP´s e as de Reserva Legal – RL´s, na forma da lei, e onde se incentive o uso adequado e sustentável dos solos e dos recursos naturais renováveis. Desde a sua concepção, os corredores de biodiversidade vêm sendo adotados por várias organizações públicas (Governo Federal e estados) e pelas organizações não governamentais como estratégia de conservação (MMA, 2006; Arruda, 2006). O sucesso na implementação dos corredores de biodiversidade requer um elevado grau de envolvimento e cooperação entre as diversas instituições governamentais, empresas privadas e organizações da sociedade civil que atuam na região alvo. Ou seja, a estratégia como a conexão ou reconexão entre as instituições. A implementação de um corredor de biodiversidade pode ser considerada um projeto ambicioso, porém, a dinâmica da ameaça 28 Ninho - ES - Foto: André Camilli Dias busca também a reconexão das pessoas ao ambiente natural, assim D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r também possui uma magnitude sem precedente. Espera-se que e Espírito Santo, ONGs através do Comitê da Reserva da essa abordagem traga uma contribuição nova e promissora para Biosfera da Mata Atlântica e o setor privado - corporações e um manejo dinâmico e integrado do território, e que, com isso, proprietários de RPPNs (CI & IESB, 2000; Prado et al., 2003; se ampliem as conquistas e se consolidem os resultados de Fonseca et al., 2006; MMA, 2006). conservação da biodiversidade no Brasil e no mundo. Se bem sucedidos os projetos, as regiões-alvo dos Alguns corredores já estão sendo implementados, e corredores de biodiversidade, em sua maioria, irão se contam com um processo de trabalho similar, mas contém constituir em mosaicos de áreas naturais compostas por atores e contextos diversos: no Corredor de Biodiversidade do unidades de conservação protegidas da influência humana, Amapá (9.500.000 hectares), o governo estadual coordena um juntamente com a totalidade da paisagem circundante sob dos maiores corredores florestais do mundo em cooperação diferentes formas de uso da terra, determinadas pelas práticas com as ONGs; no Corredor de Biodiversidade Emas-Taquari de manejo mais apropriadas à realidade sócioeconômica (9.800.000 hectares), municípios, setor privado e ONGs local. Por fim, os corredores de biodiversidade têm um grande compartilham a estratégia de conexão entre o Cerrado e o potencial para servir de estímulo para a atuação em rede e Pantanal; já o Corredor Central da Mata Atlântica (12.000.000 para a gestão ambiental integrada e de forma participativa hectares) em áreas estratégicas, proporcionando mais chances para apresenta uma estrutura mais complexa, envolvendo uma ampla articulação das diferentes esferas da conservação da biodiversidade em longo prazo. administração pública - Governo Federal e estados da Bahia D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 29 Tamanduá-mirim filhote (Tamandua tetradactyla) - Foto: André Camilli Dias 30 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Bibliografia Arruda, M.B. 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D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 31 Machado, A.B.M., Martins, C.S. & G.M. Drummond (ed.). (2005). Lista Prado P.I., Landau E.C., Moura R.T., Pinto L.P.S., Fonseca G.A.B., Alger K. da fauna brasileira ameaçada de extinção – incluindo as listas (orgs.) (2003). Corredor de Biodiversidade na Mata Atlântica do Sul da das espécies quase ameaçadas e deficientes em dados. Fundação Bahia. CD-ROM II. Ilhéus, IESB/CI/CABS/UFMG/UNICAMP. (CD-ROM) Biodiversitas. Belo Horizonte. Mittermeier, R.A., Robles-Gil, P. & Mittermeier, C. (eds.) (1997). Megadiversity: Earth´s Biologically Wealthiest Nations. CEMEX and Agrupación Sierra Madre, México. Rylands, A. & Brandon, K. (2005). Unidades de conservação brasileiras. Megadiversidade 1(1): 27-35. Rylands, A. B., Fonseca, M. T. da, Machado, R. B., Pinto, L.P.S. & Cavalcanti, R. B. (2005). Brazil. 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Rio de Janeiro. 32 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Beija-flores no ninho - Foto: Carlos Renato Fernandes D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 33 Diversidade e ameaça na Mata Atlântica Adriano Paglia* A pesar da devastação acentuada, a Mata Atlântica ainda abriga uma parcela significativa de diversidade biológica do Brasil, com altíssimos níveis de endemismo e mais de 2.300 espécies de vertebrados. Dessas, estima-se que aproximadamente 740 espécies são endêmicas, o que representa 32% do total de vertebrados que ocorrem no bioma (Tabela 1). Para alguns grupos essa unicidade é ainda mais acentuada. Cerca de 80% das 24 espécies de primatas da Mata Atlântica não ocorrem em nenhum outro lugar do planeta. Alguns gêneros de primatas, tais como Leontopithecus e Brachyteles, são endêmicos do bioma. Adriano Paglia é biólogo, mestre em Ecologia e analista de Biodiversidade do Programa da Mata Atlântica da Conservação Internacional 34 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r O nível de diversidade e endemismo de plantas é ainda mais impressionante. São estimadas 20 mil espécies, das quais cerca de 8 mil são endêmicas. O alto nível de riqueza de espécies e endemismo, associado com a elevada pressão antrópica sobre o bioma, colocam a Mata Atlântica brasileira entre um dos 5 hotspots mundiais mais ameaçados do planeta. Tabela 1 – Total de espécies, endemismo e número de espécies ameaçadas de vertebrados e plantas na Mata Atlântica brasileira Total de espécies na Mata Atlântica Endêmicas da Mata Atlântica Ameaçadas (IUCN 2006) Ameaçadas (IBAMA 2003) Aves 992 188 83 101 Mamíferos 270 90 43 41 Répteis 197 60 14 13 Anfíbios 372 340 6 16 Peixes 350 133 6 - 2181 811 152 171 Árvores e arbustos ~20.000 ~8.000 ~200 28 Total ~21.181 ~8.811 ~355 199 Taxa Subtotal Vertebrados D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 35 O status de ameaça do bioma se reflete nos exercícios de indicação das espécies ameaçadas de extinção a nível regional e global. A União Internacional para a Conservação da Natureza, IUCN, indica, em seu Livro Vermelho de 2006, um total de 355 espécies da fauna brasileira em alguma categoria de ameaça. Avaliando a distribuição geográfica dessas espécies, nota-se que 187 delas, mais de 52%, ocorrem na Mata Atlântica (Tabela 2). Os níveis de ameaça são ainda mais elevados quando se considera a Lista Oficial do IBAMA, divulgada em 2003. Mais de 60% das 627 espécies da lista brasileira ocorrem na Mata Atlântica (Tabela 2). Em termos da fauna total de vertebrados da Mata Atlântica, indicadas como ameaçada de extinção pela Lista Oficial do IBAMA e pela Lista da IUCN. As categoria de ameaça indicadas na tabela são: CR= Criticamente em Perigo; EN = Em Perigo; VU= Vulnerável; EW= Extintas na Natureza e EX = Extintas. GRUPOS IUCN 2006 IBAMA 2003 CR EN VU EW EX TOTAL CR EN VU EW EX TOTAL Mamíferos 8 9 21 0 0 38 9 6 25 0 0 40 Aves 14 19 1 41 0 75 12 32 53 1 2 100 Répteis 3 2 9 0 0 14 5 2 6 0 0 13 muito pouco sobre aspectos biológicos e ecológicos de muitas espécies Anfíbios 4 6 10 0 1 21 7 3 3 0 1 14 de vertebrados, principalmente anfíbios e répteis, e esse pouco que Peixes 0 0 0 6 0 6 24 18 38 0 0 80 sabemos, muitas vezes apenas uma única localidade de ocorrência da Invertebrados 8 9 13 0 3 33 26 42 63 0 2 133 espécie, não é suficiente para indicarmos mais precisamente qual o Mata Atlântica 37 45 100 4 4 187 83 103 188 1 5 380 status de ameaça. Brasil 60 79 209 1 6 355 125 163 330 2 7 627 algo em torno de 6 a 8% dela é considerada ameaçada de extinção. Esses números podem ser na realidade bem maiores, já que sabemos 36 Tabela 2 - Número de espécies da fauna da Mata Atlântica brasileira D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Jararaca-ilhoa (Bothrops insularis) - Foto: Otavio Marques D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 37 Pela Lista Oficial das Espécies Brasileiras Ameaçadas de listados como Criticamente em Perigo são endêmicos do bioma. Extinção, promulgada pelo Ibama em março de 2003, sete espécies Esse é o caso de cinco das sete espécies de anfíbios, nove das 12 foram consideradas extintas no Brasil. Entre elas, quatro ocorriam espécies de aves, sete das nove espécies de mamíferos e de todas na Mata Atlântica. Para citar apenas duas, há mais de 50 anos as cinco espécies de répteis da Mata Atlântica, enquadradas nessa não temos registro da Perereca Phrynomedusa fimbriata, nem da categoria. Dentre os nove mamíferos Criticamente em Perigo, Arara-azul-pequena Anodorhynchus glaucus. De acordo com os sete são primatas, dentre eles o Muriqui-do-norte (Brachyteles critérios da IUCN, que foram adotados na revisão da Lista oficial do hypoxanthus) Ibama, uma espécie é considerada extinta se, reconhecidamente, xanthosternos), duas das espécies de primatas mais ameaçadas do sabe-se que o último indivíduo da espécie morreu, ou se apesar planeta, e que ocorrem no Corredor Central da Mata Atlântica. e o Macaco-prego-do-peito-amarelo (Cebus dos esforços intensivos de coleta, a espécie não é mais encontrada na sua área de distribuição. Também na categoria “Criticamente em Perigo” aparecem 13 espécies de aves, tais como a Saíra-apunhalada (Nemosia rourei) e o 38 A condição que antecede à indicação de extinta é a categoria Bigodudo-baiano (Merulaxis stresemanni), dois pássaros que só ocorrem “Criticamente em Perigo” (CR), portanto atenção especial deve no Corredor Central da Mata Atlântica: o primeiro, no Estado do Espírito ser dada às espécies que aparecem listadas nessa categoria. Santo, e o segundo, na Bahia. Na Mata Atlântica, considerando a lista oficial do Ibama, são Já no Corredor da Serra do Mar, ocorrem pelo menos 16 espécies 83 táxons, sendo 26 invertebrados e 57 vertebrados. Um ponto de vertebrados Criticamente em Perigo. Alguns exemplos são o Mico- importante é que boa parte dos vertebrados da Mata Atlântica leão-caissara (Leontopithecus caissara), que ocorre na Ilha de Superagui, D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r no litoral norte do Estado do Paraná; os pássaros Formigueiro-do- Áreas-chave para a conservação da biodiversidade são litoral (Formicivora littoralis) e Anambé-mirím (Calyptura cristata), manchas de habitat (como os remanescentes de mata) ou conjuntos endêmicos do Estado do Rio de Janeiro; e os animais endêmicos de ilhas de manchas de habitat capazes de manter populações viáveis no oceânicas, como a Perereca (Scinax alcatraz), a Jararaca de Alcatrazes longo prazo (Eken et al. 2004). Elas são indicadas pela presença (Bothrops alcatraz) e a Jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), da Ilha de confirmada de espécies globalmente ameaçadas, espécies de Queimada Grande, ambas as ilhas no litoral do Estado de São Paulo. distribuição restrita e por grande número de indivíduos de uma mesma espécie, que se reúnem, durante alguma etapa do seu Talvez a medida mais prioritária para a conservação dessas ciclo de vida, para a reprodução, alimentação etc. espécies Criticamente em Perigo seja assegurar que todas elas estejam protegidas em Unidades de Conservação de Proteção Integral. A Conservação Internacional, em um trabalho feito em Infelizmente esse não é o caso para muitas dessas espécies. Além disso, parceria com a Birdlife International, identificou 553 áreas-chaves nosso conhecimento sobre a distribuição geográfica dessas espécies para biodiversidade na Mata Atlântica, utilizando a informação ainda é incipiente, ou está difuso. sobre a ocorrência de 143 espécies de vertebrados terrestres (36 mamíferos, 73 aves, 14 répteis e 18 anfíbios). Do total de áreas Parte da estratégia é a compilação, estruturação e identificadas, 81 áreas (14,65%) são Unidades de Conservação, consolidação de um Banco de Dados, com os registros de ocorrência públicas ou privadas, de Proteção Integral ou Uso Sustentável. O das espécies de vertebrados ameaçados da Mata Atlântica. Esse restante, 472 (85%), não se encontra sob nenhuma forma de proteção banco fornece o subsídio para a identificação das Áreas-Chave para legal. São áreas pequenas (menores do que 1000ha) e isoladas, a Biodiversidade (KBAs) no bioma. muitas vezes localizadas no interior de propriedades particulares. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 39 Ações integradas de manejo de espécies conservação e proteção dos remanescentes, recuperação florestal e planejamento da paisagem, envolvendo vários setores da sociedade, são medidas necessárias para garantir a manutenção destas áreas, de importância global para a conservação da biodiversidade no longo prazo. Nesse sentido, a estratégia dos Corredores de Biodiversidade é fundamental para o sucesso de conservação. Gavião-pombo-grande (Leucopternis polionota) - Foto: André Camilli Dias Os Corredores de Biodiversidade representam uma abordagem 40 regional no planejamento para a Conservação. Um corredor de biodiversidade contêm uma rede de áreas protegidas, entremeada por áreas com variáveis graus de ocupação humana, na qual o manejo é integrado para ampliar a possibilidade de sobrevivência de todas as espécies, a manutenção de processos ecológicos e evolutivos, e o desenvolvimento de uma economia regional baseada no uso sustentável dos recursos naturais (Sanderson et al., 2003). A abordagem dos corredores de biodiversidade é utilizada para endereçar as diferentes escalas de proteção ambiental, desde a local D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r até a regional, buscando representar diferentes ecossistemas, manejar esses corredores podem, coletivamente, proteger 75% das espécies sistemicamente a rede de unidades de conservação e também manter ameaçadas da Mata Atlântica e uma parcela significativa da ou incrementar os níveis de conectividade entre as diferentes áreas biodiversidade total desse hotspot. (Fonseca et al., 2004). Muito do nosso atual esforço é para fornecer condições Na Mata Atlântica, os Corredores de Biodiversidade foram adequadas para a preservação dessas espécies em vias de extinção. definidos a partir da identificação dos centros de endemismos. Embora A estratégia para reverter o quadro que se apresenta é aumentar a a extensão e localização das áreas de endemismo ainda sejam motivo eficácia do nosso sistema de unidades de conservação, através da de controvérsia, pelo menos cinco áreas podem ser reconhecidas com concepção inovadora dos Corredores de Biodiversidade, que busca base em vertebrados terrestres (Müller, 1973; Kinzey, 1982; Costa integrar as áreas protegidas existentes com a paisagem no entorno e et al., 2000; Silva et al., 2004), invertebrados (Tyler et al., 1994) e os remanescentes presentes, em terras particulares. plantas (Prance, 1982; Soderstom et al., 1988): Brejos Nordestinos, Centro de Pernambuco, Centro da Bahia, Costa da Bahia e Serra do Mar (ver Silva et al., 2004). Só com muito trabalho e uma ampla conscientização de todos poderemos um dia retirar a Mata Atlântica da categoria de um dos cinco hotspots mais ameaçados do planeta, e garantir a preservação Com base nesses centros de endemismo, três corredores de de um ecossistema único em diversidade e oportunidades. biodiversidade da Mata Atlântica foram definidos: o Corredor do Nordeste; o Corredor Central da Mata Atlântica e o Corredor da Serra do Mar. As estimativas indicam que, se adequadamente manejados, D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 41 Bibliografia Costa, L.P., Leite, Y.L.R, Fonseca, G.A.B. & Fonseca, M.T. 2000. Biogeography of South American Forest Mammals: endemism and diversity in the Atlantic Forest. Biotropica 32(4b): 872-881. Eken, G., Bennun, L., Brooks, T. M., Darwall, W., Fishpool, L. D. C., Foster, M., Knox, D., Langhammer, P., Matiku, P., Radford, E., Salaman, P., Sechrest, W., Smith, M. L., Spector, S. & Tordoff, A. 2004. Key biodiverity areas as site conservation targets. BioScience, 54(12): 1110-1118 Fonseca, G.A.B., Alger, K., Pinto, L.P., Araújo, M. & Cavalcanti, R. 2004. Corredores de Biodiversidade: o Corredor Central da Mata Atlântica. Em: Corredores Ecológicos: uma abordagem integradora de ecossistemas no Brasil. Arruda, M.B. & Sá, L.F.S.N. (orgs.). Pp. 47-65. Ibama. Brasília. Kinzey, W.G. 1982. Distribution of primates and forest refuges. In: planning, implementing, and monitoring sustainable landscapes. Conservation International. Washington, DC. Silva, J.M.C., Sousa, M.C. & Casteleti, C.H.M. 2004. Areas of endemism for passerine birds in the Atlantic Forest. Global Ecology and Biogeography 13: 85-92. Soderstrom, T.R., Judziewicz, E.J. & Clark, L.G. 1988. Distribution patterns of Neotropical bamboos. Proceedings of a Workshop on Neotropical distribution patterns (ed. By P.E. Vanzolini and W.R. Heyer), pp. 121-157. Academia Brasileira de Ciências. Rio de Janeiro. Tyler, H., Brown, K.S. Jr. & Wilson, K. 1994. Swallowtail butterflies of the Americas. A study in biological dynamics, ecological diversity, biosystematics and conservation. Scientific Publishers, Gainesville. Prance, G.T. (ed.) Biological Diversification in the Tropics,. Columbia University Press, New York, 455-482. Müller, P. 1973. Dispersal centres of terrestrial vertebrates in the Neotropical. Biogeographica 2: 1-244. Prance, G.T. 1982. Forest Refuges: Evidence from woody angiosperms. In: Prance, G. T. (ed). Biological diversification in the Tropics. Columbia University Press. New York, USA. Sanderson, J., Alger, K., Fonseca, G.A.B., Galindo-Leal, C., Inchausty, V.H. & Morrison, K. 2003. Biodiversity conservation corridors: 42 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Calango-verde (Ameiva ameiva) - Foto: Tirone Takahasi D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 43 O tráfico de animais silvestres Raulff Lima* A grande riqueza de espécies e o alto nível de endemismos transformam a Mata Atlântica num alvo dos contrabandistas internacionais, que fazem dos crimes contra a fauna, uma atividade altamente lucrativa. De todas as formas de agressão que vêm sofrendo a biodiversidade brasileira, o tráfico de animais silvestres é a mais cruel e um dos fatores responsáveis pela extinção das espécies. O comércio ilegal da vida selvagem é o terceiro maior negócio ilícito do planeta, superado apenas pelo tráfico de armas e o de drogas. Acredita-se que, anualmente, esta atividade movimenta entre 10 a 20 bilhões de dólares no mundo e o Brasil participa com cerca de 10%. Informações recentes apontam que 38 milhões de animais brasileiros são retirados de seus habitats para abastecer este mercado ilegal. Raulff Lima é coordenador Executivo da Renctas. 44 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r A maioria dos animais traficados, provenientes da Mata Atlântica, é enviada para as cidades do Rio de Janeiro tradicionais, que são corrompidas e estimuladas pelos traficantes a explorarem os recursos naturais. e de São Paulo, onde são vendidos em feiras livres ou lojas especializadas. Muitos desses animais são exportados através Os intermediários transitam entre as zonas rurais e os dos portos e aeroportos dessas cidades e das regiões onde elas centros urbanos. São barqueiros que percorrem principalmente se localizam para os Estados Unidos, alguns países da Europa e as regiões Norte e Nordeste, fazendeiros, caminhoneiros, o Japão. A lógica do tráfico é cruel: quanto mais ameaçada de motoristas de ônibus e ambulantes. Na seqüência, pequenos extinção for a espécie, maior será o valor que ela alcançará no e médios traficantes fazem a conexão com as grandes mercado ilegal. organizações criminosas, que atuam dentro e fora do país. A cadeia social envolvida no tráfico de animais silvestres é O contrabando de maior porte envolve comerciantes composta basicamente por três grupos com características bastante brasileiros, ou estrangeiros familiarizados com todas as distintas: os fornecedores, os intermediários e os consumidores. formas de corrupção, e que se movem rapidamente de um país para o outro quando se sentem ameaçados. O tráfico Entre os fornecedores, incluem-se pessoas das camadas internacional é sofisticado e inclui táticas como subornos, mais pobres do interior do país, desprovidas de recursos e sem fraudes e falsificação de documentos, além de contar com acesso à educação. Caçam para se alimentar e descobriram a participação de alguns pesquisadores que possuem acesso no comércio da fauna uma fonte de renda complementar. aos esquemas internacionais de tráfico. Calcula-se que do Nessa categoria, encontram-se também algumas comunidades volume total de animais envolvidos no tráfico, cerca de 60% D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 45 sejam comercializados no País; os outros 40% são destinados ao mercado internacional. São muitas as pessoas que mantêm animais silvestres como bichos de estimação. Estes consumidores estão divididos em quatro modalidades ou destinos, que caracterizam o tráfico da fauna silvestre brasileira, seja no mercado nacional ou internacional. Os colecionadores particulares e zoológicos ilegais são os tipos de tráfico da vida selvagem, pois prioriza as espécies mais ameaçadas. Entre elas, estão o mico–leão-dourado (Leontopithecus rosalia) e o papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis), que alcançam altos valores no mercado internacional. A indústria química e farmacêutica utiliza a nossa fauna na pesquisa científica e para a produção de medicamentos. É uma modalidade que vem aumentando, devido à intensa incursão de pesquisadores ilegais no território brasileiro, em busca de novas 46 Galo-de-campina (Paroaria dominicana) - Foto: Vincent Kurt Lo que mais movimentam recursos e, seguramente, é o mais cruel dos D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r substâncias. Só o mercado mundial de hipertensivos movimenta cerca de US$ 500 milhões por ano: um dos princípios ativos é extraído do veneno da jararaca (Bothrops jararaca) e comercializado a US$ 433 o grama. Outras espécies da Mata Atlântica, como besouros, sapos e aranhas, também são alvos deste tráfico que abastece o mercado científico internacional. O comércio de animais nos pet shops é a modalidade que mais incentiva o tráfico dentro do Brasil, devido à grande procura de espécimes para serem mantidos como animais de estimação. Os preços praticados dependem da espécie e da quantidade encomendada. As mais procuradas para este tipo de tráfico são a jibóia (Boa constrictor), o tigre d´água (Trachemys dorbygnyi), o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) e o sagüi-de-tufo-branco (Callithrix jacchus). Para os traficantes, o animal é apenas uma mercadoria e a natureza um grande depósito. Todos os animais sofrem maus-tratos no esquema do tráfico, no qual se incluem D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 47 práticas como dopá-los ou embriagá-los, queimar as córneas, fonte alternativa de renda. Depois, é preciso lembrar a serrar e arrancar seus dentes e garras, cortar as penas das importância dos animais que se alimentam de insetos e fazem asas, entre outras. De cada dez animais traficados, apenas o controle biológico de pragas que prejudicam a lavoura. Além um sobrevive. disso, a fauna também pode ser um grande atrativo para o ecoturismo. Quanto às conseqüências ecológicas, são óbvias, Existem mais de 180 tipos de enfermidades comuns aos animais e aos humanos. Denominadas de zoonoses, pois quando se elimina uma espécie, morre com ela toda sua história genética, que jamais poderá ser recriada. algumas delas podem levar o homem à morte ou causar sérios prejuízos à saúde. As crianças e os idosos correm maior risco, O País perde muitas divisas com o tráfico da fauna silvestre, devido ao constante contato com os animais silvestres, que pois esta atividade ilegal não gera empregos nem impostos. Este potencialmente podem transmitir várias doenças, como por comércio possui como base o aliciamento de comunidades menos exemplo: os primatas transmitem a raiva, febre amarela, favorecidas e que recebem um valor irrisório pelos animais capturados, hepatite A, tuberculose; os répteis são portadores de pois somente os grandes traficantes obtêm altas quantias. Além salmoneloses, verminoses e micoses; as aves são transmissoras disso, são muitos os riscos à saúde que o comprador pode submeter da ornitose e da toxoplasmose, entre outras zoonoses. a si próprio e a sua família, pois o controle sanitário simplesmente não existe quando se trata do tráfico de animais, sendo estes potenciais 48 Em termos econômicos, essa atividade clandestina é transmissores de doenças graves e até mesmo desconhecidas, igualmente devastadora. Primeiro, porque recruta pessoas acarretando sérias conseqüências para a saúde pública no Brasil e para carentes para trabalhar em uma atividade ilícita como uma os países que importam animais silvestres ilegalmente. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r A grande extensão geográfica e fronteiriça do País impede pelo Ministério das Relações Exteriores, em conjunto com o o combate eficiente do comércio ilegal da fauna. O problema Ministério do Meio Ambiente, e o trabalho de repressão que o se torna maior devido à precariedade de recursos humanos e Ministério da Justiça vem realizando, através de sua divisão de financeiros, o que leva a um impasse: enquanto novas espécies são combate aos delitos ambientais da Polícia Federal. Sem claro, descobertas pela ciência a cada dia, o tráfico por sua vez, sofistica esquecer do incansável trabalho que as polícias ambientais suas estratégias de operação. A questão do meio ambiente precisa têm desempenhado em seus estados. Na maioria das vezes, ser tratada de forma integrada, havendo comunicação e parceria sem apoio e recursos, os policiais conseguem conquistar entre as instituições. As informações devem ser analisadas, grandes resultados e, por isso, são considerados os verdadeiros sistematizadas e divulgadas de modo eficaz pelos órgãos “Guardiões da Fauna”. ambientais, objetivando a ampliação do conhecimento, tanto por parte de entidades ambientalistas como da população. Além disso, é necessário o fortalecimento das ações de conservação da biodiversidade e a repressão aos crimes ambientais. Bibliografia Apesar de ainda tímidos, os resultados que o Brasil FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA e REDE NACIONAL DE COMBATE AO alcançou no combate ao tráfico de animais têm merecido TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES (RENCTAS). União pela fauna grande destaque no País e junto à comunidade internacional. silvestre. São Paulo: SOS Mata Atlântica, 2006. 110 p. Entre eles, podemos citar a Campanha Internacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, lançada em 2006 GIOVANINI, D. (Org). Animais silvestres: vida à venda. Brasília (DF): Renctas, 2003. 260 p. RENCTAS. 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre. 1 ed. Brasília: Renctas, 2001, 108p. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 49 PERFIL DOS MUNICÍPIOS COM OCORRÊNCIA DE TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES As agressões à fauna, entre elas, a apanha de animais na natureza, não vêm merecendo destaque nos estudos e ações oficias em áreas dos Corredores Ecológicos da Mata Atlântica. Já as instituições que têm a missão de conservar a fauna não dispõem de dados focados nos municípios. Assim, o presente estudo utiliza documentos oficiais, inclusive do Ministério do Meio Ambiente, para obter informações pontuais sobre caça e apanha e tentar relacionar a precária situação econômica em algumas cidades ao mal uso dos animais silvestres. Mas isso só foi possível nos estados que possuem áreas no âmbito do Corredor Central, pois não existem estudos nem dados mais aprofundados em relação às ameaças contra a fauna nas regiões do Corredor da Serra do Mar da Mata Atlântica. 50 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Morcego (Sturnira lilium) - Foto: DG Consultoria 3 CORREDOR CENTRAL: D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 51 Introdução Rogério Rodrigues Ribeiro* A o verificarmos os objetivos postulados pelo Projeto Corredores Ecológicos do Ministério do Meio Ambiente – Amazônia e Mata Atlântica (reverter os índices de fragmentação das matas, proteção da biodiversidade e o uso sustentável das áreas rurais), constatamos que a apanha de animais silvestres nas práticas da caça, comércio de subprodutos ou para abastecimento do tráfico, é um elemento complicador e comprometedor dos resultados finais esperados. *Rogério Rodrigues Ribeiro é geógrafo, mestre em Geociências pelo Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo e especialista em Engenharia de Controle da Poluição Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. 52 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Sem dúvida, a retirada de animais do meio ambiente documentos: 1) Projeto Corredores Ecológicos (associado ao natural é um fenômeno - definido assim pela sua complexidade Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do e alta dinâmica – merecedor de constantes análises e deve Brasil – PPG7); 2) “Síntese dos Encontros Regionais Realizados ser focado em qualquer projeto que vise à proteção florestal. com os Municípios do Estado do Espírito Santo” (Seama, Infelizmente, este fenômeno não vem obtendo o destaque 2005) e 3) Renctas (2001). Num segundo momento, foram devido na maior parte dos referidos projetos e ações, identificadas e espacializadas geograficamente as áreas conforme constatamos ao pesquisar documentos oficiais para focais e as regiões com os respectivos municípios envolvidos a realização da presente análise. na prática da caça e do tráfico de animais silvestres. Por último, reunimos informações complementares referentes Para identificar alguns dos fatores de indução a essa atividade, faz-se necessária uma caracterização aos estados da Bahia e do Espírito Santo, sendo a principal fonte o IBGE. sócioeconômica e ambiental, bem como a espacialização geográfica dos municípios envolvidos com a apanha, caça e o Crises econômicas, desestruturação da agricultura, tráfico de animais silvestres. Com este propósito, focamos o desagregação familiar, baixa escolaridade e má distribuição de interior do Corredor Ecológico Central da Mata Atlântica, que renda, são fatores que estimulam a apanha, a caça e o tráfico abrange o Estado do Espírito Santo e o Sul da Bahia. de animais silvestres na natureza, como complementação da renda familiar das comunidades carentes. É o que pretendemos Para tanto, criamos uma metodologia de trabalho que consistiu, primeiramente, na consulta dos seguintes verificar com a análise dos muitos aspectos deste fenômeno no presente trabalho. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 53 Áreas Focais do Corredor Central A identificação de municípios integrantes do Corredor Para termos uma idéia da complexidade dos trabalhos Central da Mata Atlântica, marcados pela ocorrência de que geraram os documentos citados, vamos conhecer, atividades de caça e de tráfico de animais, foi realizada a partir resumidamente, a metodologia desenvolvida pelo Ministério dos dados do “Documento Base para a Elaboração das Diretrizes do Meio Ambiente no processo de seleção das áreas focais. Operacionais – 2ª Versão” (MMA, no prelo). Este documento, O primeiro passo foi a consulta de documentos básicos, onde ainda inédito, foi gerado pelo Ministério do Meio Ambiente, em eram apontadas áreas de interesse para a conservação da conjunto com as instituições colaboradoras, grupo viabilizador biodiversidade. Essas áreas de interesse foram caracterizadas e e equipe executora. Tal identificação foi complementada por analisadas pela equipe executora do documento base, a partir informações de outro documento oficial: “Síntese dos Encontros de documentos e informações disponibilizadas pelas instituições Regionais Com os Municípios do Estado do Espírito Santo” e pesquisadores envolvidos. Esta caracterização e análise (Seama, 2005). resultaram em um quadro sinóptico, onde as informações foram dispostas segundo sua natureza, em atributos relativos Através desses documentos, o Ministério do Meio Ambiente à biodiversidade, conservação, administrativos, institucionais definiu as áreas focais e regiões nas quais serão desenvolvidas e socioeconômicos. Também foram analisadas as principais ações específicas, visando reduzir ou eliminar pressões sobre a ameaças e oportunidades que cada área de interesse abrigava. biodiversidade, bem como ações que visem o estabelecimento 54 de conectividade no corredor ecológico (MMA, no prelo). A partir desse quadro sinóptico e após realização de Infelizmente, no rol de tais ações não encontramos o combate à duas reuniões técnicas (uma na Bahia e outra no Espírito apanha, à caça nem ao comércio ilegal de animais silvestres. Santo), os representantes das diversas instituições envolvidas D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r redesenharam as áreas de interesse - sob a ótica do projeto Corredores Ecológicos -, e as priorizaram, resultando em 11 áreas focais, sendo seis no Estado do Espírito Santo, quatro na Bahia e uma que une os dois estados. Com base em todas as informações, concentramos nosso trabalho nas áreas focais e regiões com os respectivos municípios envolvidos com a caça e o tráfico de animais silvestres, cruzando ainda tais dados com informações contidas no Relatório Nacional Sabiá-do-campo (Mimus saturninus) - Foto: Vincent Kurt Lo sobre o Tráfico de Fauna Silvestre (Renctas, 2001). D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 55 ÁREA FOCAL MUNICÍPIOS AMEAÇA Almadina, Aurelino Leal, Barro Preto, Cairú, Camacan, 01 BA: CAMAMU CABRUCA CONDURU (*) Camamu, Coaraci, Gandu, Ibirapitanga, Igrapiúna, Ilhéus, Itacaré, Itajuípe, Itapé, Ituberá, Jussari, Maraú, Nilo Caça os respectivos municípios envolvidos com a caça e o tráfico Peçanha, Piraí do Norte, Taperoá, Teolândia, Ubaitaba, Uruçuca, Valença. 02 BA: COMPLEXO BOA NOVA CONQUISTA (*) 03 BA: UNA – SERRAS (BAIXÕES e LONTRAS) (*) 04 BA:DESCOBRIMENTO (*) 05 ES: COMPLEXO SOORETAMA (*) 06 ES: BURARAMA Boa Nova, Poções, Planalto, Barra do Choça, Iguaí, Itambé, Tráfico e Jequié, Encruzilhada,Vitória da Conquista Caça para Mascote, Pau Brasil, Santa Luzia, Una Belmonte, Guaratinga, Itamaraju, Jucuruçu, Porto Seguro, Prado, Santa Cruz Cabrália,Vereda Aracruz, Jaguaré, Linhares, São Mateus, Sooretama e Vila ES:Outros Municípios (***) de Camamu e Una (MMA, no prelo). No Espírito Santo, a cidade Caça e O município capixaba Cachoeiro de Itapemirim participa das Itapemirim, Castelo, Conceição do Castelo, Domingos Extração Áreas Focais Complexo Burarama, Complexo Pindombas (MMA, Martins, Guarapari, Iúna, Marechal Floriano, Muniz Freire, Ilegal da Guaçui, Dores do Rio Preto, São José do Calçado, Iúna, Muniz Rio Novo do Sul, Cachoeiro de Itapemirim, Atílio Vivácqua, Muqui, Mimoso do Sul, Bom Jesus do Norte, Apiacá e Iconha. Aracruz, João Neiva, Ibiraçu, Fundão, São Roque do Canaã, CENTRO-NORTE SERRANA(**) Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá, Santa Leopoldina. BA:Outros Municípios (***) Caça de Ilhéus, Jussari e Camacan são integrantes das áreas focais Complexo Sooretama e Centro Norte Serrana (MMA, no prelo). Freire e Jerônimo Monteiro. 10 ES:Região Tráfico Verifica-se na figura 1 que no estado da Bahia os municípios Caça Alegre, Irupi, Divino São Lourenço, Ibatiba, Ibitirama, 09 ES:Região SUL(**) Caça de Aracruz é citada concomitantemente nas Áreas Focais Cachoeiro de Itapemirim e Castelo Vargem Alta e Viana. 08 ES:Região CAPARAÓ(**) trabalhos do MMA (no prelo), Seama (2005) e Renctas (2001). predatória Valério Alfredo Chaves, Anchieta, Brejetuba, Cachoeiro do PINDOBAS (*) de animais silvestres, elaborada a partir da combinação dos Consumo Arataca, Buerarema, Camacan, Canavieiras, Ilhéus, Jussari, PACOTUBA CAFUNDÓ (*) 07 ES: COMPLEXO Figura 1 – Quadro contendo as áreas focais e regiões com Itabuna e Itabela. Afonso Cláudio, Cariacica, Conceição da Barra, Colatina, Pancas, Serra e Vila Velha. Fauna no prelo) e Região Sul (Seama, 2005). Caça e Contrabando A partir da figura 1, as áreas focais (e seus respectivos Caça municípios) foram espacializadas geograficamente em predatória mapas, com o objetivo de facilitar a caracterização Caça sócioeconômica-ambiental e o levantamento dos prováveis Venda fatores de indução à prática de tais ilícitos ambientais. Apanha e Venda Fonte: * (MMA, no prelo) ** (Seama, 2005) *** (Renctas, 2001) 56 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r BAHIA 2. Declínio da participação da Bahia no PIB do Brasil nas décadas de 1980 e 1990. HISTÓRICO c) Do ponto de vista social: Observando os dados do IBGE (censos 1991 e 2000) e os 1. Elevado nível de desemprego; indicadores apresentados pelo Atlas de Desenvolvimento Humano 2. Má distribuição de renda; e Municipal (PNUD et al., 2006), podemos constatar graves problemas 3. Pobreza extrema. econômico-sociais neste Estado. Alcoforado (2003) destaca: Observando ainda o trabalho de Alcoforado (op cit.), a) Do ponto de vista do desenvolvimento regional: este relata que de 1980 a 1994, o Brasil enfrentou sérios 1. Concentração econômica excessiva na RMS — Região problemas de hiperinflação, de agravamento de suas contas Metropolitana de Salvador; 2. Regressão no desenvolvimento da Região Cacaueira da Bahia; e externas e de queda nos financiamentos internacionais. A partir de 1994, com a abertura da economia e a política de privatizações, os investimentos estrangeiros diretos 3. Subdesenvolvimento da Região Semiárida da Bahia. cresceram. Com os recursos arrecadados com a venda de empresas estatais e a redução dos custos operacionais, o b) Do ponto de vista econômico: governo do Estado realizou alguns investimentos na área 1. Baixas taxas de crescimento do PIB nas décadas de de infra-estrutura econômica e social, mas não o suficiente 1980 e 1990; e para atender às demandas da Bahia. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 57 Conforme MMA (2006), na segunda metade do século XIX, o Sul e milhões de pequenas propriedades rurais empregam 80% da mão- o extremo Sul da Bahia conheceram a expansão do café, que permitiu de-obra do campo e produzem 60% dos alimentos consumidos um importante desenvolvimento econômico para o estado. Na década pela população brasileira. de 80, a expansão da praga da “vassoura-de-bruxa” causou a queda do preço do cacau no mercado internacional, levando a região cacaueira a Na Bahia, a economia rural está fundamentada uma importante crise. Na contramão desta, ocorre o desenvolvimento principalmente na agricultura familiar. A participação desta na de grandes áreas de plantação de eucalipto (monoculturas), que vêm economia é expressiva: são 623 mil estabelecimentos familiares abastecendo a produção de papel e celulose. Tal expansão trouxe responsáveis por 40% do valor bruto da produção, além de ocupar prejuízos ambientais e sociais, como o cerceamento de terras indígenas 85% da mão de obra empregada em agricultura e pecuária no e de quilombolas, expulsão de produtores e o fim das parcerias com estado (Demeter, 2005). pequenos proprietários. Outras atividades do setor agropecuário também se expandem e trazem impactos, quer a pecuária extensiva, quer o padrão de produção modernizada. Estudando a estrutura social do tráfico de animais (Renctas, 2001), observa-se a divisão da classe social envolvida nessa atividade em três grupos distintos: fornecedores, intermediários CRISE NA AGRICULTURA FAMILIAR COMO INDUTORA e consumidores. Conceitua-se fornecedores “as populações do DA CAÇA E DO TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES interior do Brasil, humildes e pobres, sem acesso à educação e à saúde, possuindo qualidade de vida muito baixa. Essas pessoas, além A agricultura familiar possui forte representatividade na economia brasileira. Segundo Vezzali (2006a), cerca de quatro 58 de caçarem para se alimentar, descobriram no comércio da fauna uma fonte de renda complementar da economia doméstica”. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em entrevistas realizadas na Reserva Biológica de Una e áreas adjacentes na Bahia (CEPF, 2001), 42% dos habitantes locais revelaram que caçam, e 66% relataram que os animais de caça têm se tornado menos abundantes na região. Os pequenos proprietários caçam com mais freqüência, visto que suas necessidades de subsistência são maiores. A caça esportiva, apesar de não ser praticada em grande escala, também é um problema, já que contribui para a extinção das espécies locais. Alcoforado (2003) associa a baixa renda média rural do Rã (Hylodes phyllodes) - Foto: Otavio Marques Estado da Bahia à estrutura fundiária concentrada nas mãos de poucos proprietários e assentada sobre grandes extensões de terra, contrapondo-se à existência de vários minifúndios que mantém um vínculo dos pequenos proprietários com o meio rural baiano. A implantação tardia dos pólos industriais e a existência de cidades de médio porte, bem como os lucros provenientes do agribusiness cacau, não foram suficientes para fomentar uma oferta de mãode-obra capaz de atrair as populações rurais e para proporcionar uma melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 59 BREVE PERFIL SÓCIOECONÔMICO-AMBIENTAL DAS ÁREAS FOCAIS DA BAHIA ENVOLVIDAS COM AS ATIVIDADES DE CAÇA E TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES Conforme vimos no quadro da figura 1, na Bahia são quatro as áreas que apresentam ameaças à biodiversidade, por meio da caça e do tráfico de animais: Complexo Boa Nova, Camamu, Una-Serras e Descobrimento. As quatro áreas focais estão espacializadas na figura 2. Com o intuito de traçar um breve perfil sócioeconômico e ambiental destas áreas, foram utilizados dados oriundos do IBGE (2000), MMA (no prelo) e do Atlas de Desenvolvimento Humano Municipal (PNUD et al., 2006), tais como Índice de Desenvolvimento Humano (IDH – que combina expectativa de vida, renda e nível de escolaridade) e atividade econômica. ●Complexo Boa Nova – Conquista Segundo MMA (no prelo), nesta área focal ocorre especulação imobiliária, desemprego, derrubadas recentes Figura 2 – Áreas focais e seus respectivos municípios contendo as ameaças de caça e/ou tráfico de animais silvestres, no Estado da Bahia. Mapa elaborado pelo autor. Fonte: MMA (no prelo) e Renctas (2001). 60 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r de vegetação em pequenas áreas localizadas nas cotas mais Para esta área focal, o MMA (no prelo) informa a existência elevadas, ameaçando as áreas mais íntegras de florestas, entre do comércio de animais silvestres e a caça para consumo pela outras ameaças. Trata-se de uma das regiões mais pobres da Bahia. população de baixa renda ocorrente. Renctas (2001) indica a Como atividades econômicas, há o predomínio agropecuário, com existência das atividades de venda no município de Jequié, e de culturas de café, cacau, lavoura branca e pecuária. apanha e venda, em Vitória da Conquista. A área focal está inserida em região com clima variante de ●Camamu – Cabruco – Conduru subúmido a semiárido baiano, sendo também muito vulnerável Segundo MMA (no prelo), nessa área focal é possível às queimadas, que contribuem para a devastação da cobertura encontrar atividades como: pesca, queimadas, desmatamentos vegetal no local. em função da especulação imobiliária, retirada ilegal de madeira no interior das unidades de conservação, ampliação das Possui baixos índices de IDH, sendo os municípios com áreas de pecuária, forte desemprego na zona rural, ampliação os piores índices (0,521 a 0,613): Encruzilhada, Itambé, Barra de empreendimentos turísticos, entre outras ameaças. Como do Choça, Planalto e Boa Nova. Melhor qualidade de vida está principais atividades agrícolas, verificam-se o cacau, extração vinculada aos melhores índices, apresentados pelos municípios de borracha, lavoura branca e baixa ocupação de pastagem. de Vitória da Conquista e Jequié (IDH 0,660-0,805), onde também a educação se faz mais presente, com os menores percentuais Observando a qualidade de vida dos municípios da de adultos (pessoas de 25 anos ou mais) com menos de quatro área focal, vemos que os piores índices de desenvolvimento anos de estudo (IDH 19,30 a 59,70%). correspondem aos municípios de Aurelino Leal, Nilo Peçanha e D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 61 Itacaré (IDH 0,521 a 0,592), fazendo oposição aos municípios A maioria dos municípios tem como principal atividade de Ilhéus, Itabuna (Renctas, 2001) e Valença, com melhor econômica a cultura do cacau. Com menor intensidade, qualidade de vida (IDH 0,660 a 0,805). Aurelino Leal, encontra-se o café, a borracha e o coco. Ibirapitanga, Maraú, Teolândia e Igrapiúna possuem entre 74,86 e 87,40 % de adultos (pessoas de 25 anos ou mais) com menos de quatro anos de estudo. A qualidade de vida é menor nos municípios de Arataca, Santa Luzia, Mascote e Una (IDH 0,521 a 0,613), diferentemente de Ilhéus e Itabuna (IDH 0,660-0,805). Arataca e Una detêm a pior O MMA (no prelo) informa a existência de caça de animais escolaridade da área com 70,47 a 87,40 % dos adultos (pessoas silvestres nesta área focal. Renctas (2001) indica a existência de 25 anos ou mais) com até quatro anos de estudo (IBGE, 2000). das atividades de venda somente nos municípios de Valença, As cidades de Camacan, Jussari e Ilhéus são também municípios Ilhéus e Itabuna. integrantes da Área Focal Camamu (MMA, no prelo). ●Una-Serras (Baixões e Lontras) Esta área focal apresenta problemas com a caça de animais Verifica-se nesta área focal a especulação imobiliária, falta de cooperativismo na comunidade, desemprego, substituição da lavoura cacaueira tradicional (cabruca) por silvestres (MMA, no prelo). Há a ocorrência das atividades de venda no município de Ilhéus e as de apanha e de venda em Mascote (Renctas, 2001). outras culturas, expansão de pastos, queimadas, criação de 62 novos assentamentos, presença de posseiros, turismo, fraca ●Descobrimento fiscalização ambiental, entre outras (MMA, no prelo). Nesta área focal, observa-se a ocorrência do tráfico de animais D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r e plantas. As ameaças englobam, ainda, a monocultura de eucalipto com menor desenvolvimento são Guaratinga, Vereda e provocando êxodo de pequenos agricultores para a periferia dos Jucuruçu (IDH – 0,521 a 0,613). Apresentam também os piores centros urbanos (promovendo o aumento da pobreza e poucas percentuais de educação, que variam entre 74,86 e 87,40 % alternativas de renda na zona rural), ausência de fiscalização, dos adultos (pessoas de 25 anos ou mais) com até quatro anos destruição e invasão de áreas de floresta, manguezais e restingas de estudo (IBGE, 2000). Dentre os municípios com melhores (devido à urbanização desordenada e ao turismo de massa), IDH, observa-se Eunápolis, Santa Cruz Cabrália, Porto Seguro, assentamentos de reforma agrária em áreas de remanescentes, Itamaraju, Prado e Teixeira de Freitas. queimadas, pecuária e exploração de jazidas minerais. Além das monoculturas e empresas de celulose, em vários municípios, a Além das ameaças do tráfico de animais silvestres e agricultura contribui com o café, mamão, coco, borracha; e existe plantas (MMA, no prelo), Renctas (2001) indica a existência das alto grau de ocupação por pastagens (MMA, no prelo). atividades de apanha no município de Guaratinga, venda nos municípios de Eunápolis, Itamaraju, Prado e Itabela e de apanha No município de Porto Seguro, a expansão da monocultura e venda em Porto Seguro e Teixeira de Freitas. de eucalipto já pressiona o entorno dos Parques Nacionais de Monte Pascoal e do Pau-Brasil, que também sofrem com as diversas queimadas (Santos et al., 2004). Quanto às rodovias, estas são importantes instrumentos utilizados na atividade de tráfico de animais. A BR 116, que corta a área focal do Complexo Boa Nova, é a principal rota de granéis Boa parte dos municípios dessa área focal possui índice agrícolas (GEIPOT, 1997). Muito trafegada por caminhoneiros, desenvolvimento humano entre 0,660-0,805. Os municípios alcançam regiões metropolitanas como Belo Horizonte, Rio D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 63 Cigarras - Foto: André Camilli Dias 64 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r de Janeiro, São Paulo, entre outras cidades. Segundo Renctas estabelecimentos rurais no Espírito Santo tinham o café como (2001), 95 % do tráfico na Bahia dá-se por rodovias e 100 % no principal atividade e contribuíam diretamente com cerca de um Estado do Espírito Santo. Outra importante rodovia, que passa ao terço da renda gerada no Estado (mais de 40% das suas receitas longo das áreas focais de Camamu, Una-Serras e Descobrimento, tributárias). As recorrentes crises de queda de preço na atividade é a BR 101, que corta a Bahia e interliga o Estado com outros cafeeira fizeram cair a renda de boa parte da população. O importantes centros econômicos. A abertura da rodovia federal modelo de produção em pequenas propriedades familiares, que BR-101, em 1973, contribuiu fortemente para intensificar a ocupavam o interior do estado, dificultava a substituição da devastação no sul da Bahia (CEPF, 2001). cultura, em razão do caráter de subsistência de parte delas. ESPIRITO SANTO 2 – O Ciclo da Industrialização O ciclo de diversificação econômica pela via industrial HISTÓRICO tem início na década de 60 até meados dos anos 80. Quando a Conforme SEP (2006), o Estado do Espírito Santo passou por dois importantes ciclos econômicos distintos, sendo: cafeicultura (predominantemente agroexportadora e centrada na produção cafeeira em pequena escala) sofreu forte redução em seu peso econômico no estado (com o programa de erradicação dos cafezais menos produtivos), a economia 1 – Ciclo do Café. do Espírito Santo passou rapidamente a uma especialização O café chegou à região capixaba a partir de 1880, oriundo secundário-exportadora centrada em commodities industriais da Baixada Fluminense. No fim da década de 50, 75% dos de produção em larga escala, com escoamento da produção D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 65 pelo Porto de Tubarão. A implantação do Porto de Tubarão, em CONTEXTO ATUAL Vitória, pode ser encarada como o “divisor de águas” deste ciclo. Surge, nesse momento, a usina de pelotização de minério de ferro da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Num contexto mais recente (1990 a 2003), o Espírito Santo passa por um processo de privatização das grandes empresas e estruturas portuárias, com uma política de abertura econômica de A partir de 1975, a expansão industrial foi fomentada pelo incentivo às exportações (Campos, 2004). grande capital estatal e estrangeiro. Essa etapa foi marcada pela instalação e expansão dos chamados “grandes projetos” Nas áreas ambiental e social, observam-se alguns problemas – grandes unidades industriais focadas na produção de bens relevantes. Spizlman, (1998) informa que no Espírito Santo, entre intermediários (commodities). Entre os setores que aumentaram 1990 a 1995, foram derrubados aproximadamente 22.428 hectares sua participação na indústria de transformação, destacam- ou 5,47% de Mata Atlântica. O problema é que a maior parte dos se: (I) o setor de papel e celulose (Aracruz Celulose S.A.), em remanescentes encontra-se em propriedades privadas e as unidades 1979; (II) o setor de extração mineral (CVRD); e (III) o setor de conservação no estado são muito pequenas para preservar a metalúrgico (Companhia Siderúrgica de Tubarão - CST), em fins imensa biodiversidade da região. de 1983. Na década de 90, o petróleo deu novo ânimo ao ciclo 66 da industrialização ao instalar campos terrestres e marítimos. Não muito diferente do já visto no Estado da Bahia, a agricultura Na área rural, verifica-se a implantação de agroindústrias e a sofre graves problemas, especialmente a agricultura familiar. A Seag diversificação da agricultura. A população urbana começa a (2005) aponta os principais problemas enfrentados pelos agricultores predominar em face de uma grande migração rural. familiares: políticas públicas inadequadas, intempéries climáticas, D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r degradação da base natural dos recursos das unidades produtivas, agricultura para segundo plano. A atividade da silvicultura permitiu pequena diversificação das atividades agrícolas, déficit tecnológico, o investimento variado na propriedade: em lavouras, máquinas, estreitamento da base alimentar, baixa produtividade e falta de equipamentos, reforma de galpões, dívidas, lazer e até na educação competitividade no mercado. Como conseqüências sociais, verificam- para os filhos. Muitos proprietários afirmaram, em entrevistas, que se o empobrecimento, a migração (sobretudo da população jovem deixam de investir na silvicultura por indisponibilidade de terras e das mulheres) e o risco à segurança alimentar, tanto no campo suficiente, por desconhecimento e por falta de contato com as quanto nas cidades. agências fomentadoras. Novamente, a monocultura de eucalipto (início na década Quanto ao tráfico de animais no Estado do Espírito Santo, 100 % de 80) causa problemas. No extremo Norte do Estado, já provoca ocorre por meio das rodovias. Já a caça é altamente seletiva e praticada o cerceamento de terras indígenas e quilombolas, expulsão de em zonas pequenas e muito fragmentadas, o que representa uma grave pequenos proprietários e a realização de parcerias com pequenos ameaça para as pequenas populações animais (CEPF, 2001). proprietários (MMA, no prelo). Tais parcerias começam a causar preocupação em relação à proteção da Mata Atlântica situada nas BREVE PERFIL SÓCIOECONÔMICO-AMBIENTAL DAS ÁREAS propriedades particulares. Oliveira et al. (2006), ao pesquisarem FOCAIS E REGIÕES DO ESPÍRITO SANTO ENVOLVIDAS COM AS a atuação de empresas de fomento de atividades silvícolas, ATIVIDADES DE CAÇA E DE TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES verificaram que a silvicultura, na composição de renda familiar dos proprietários rurais, pode chegar a contribuir com até 46%. Para As áreas focais e regiões definidas para o Estado do Espírito alguns produtores, tal atividade passou a ser principal, relegando a Santo são: Complexo Sooretama, Burarama-Pacotuba-Cafundó, D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 67 Complexo Pindombas, Região Caparaó, Região Sul e Região Os municípios de Conceição da Barra, Sooretama, Vila Norte-Serrana. Estas áreas focais e Regiões estão espacializadas Valério e Jaguaré possuem os menores IDH (0,659 a 0,719), como na figura 3. reflexo dos baixos indicadores educacionais, de baixa renda per capita e da distribuição irregular de renda. Os municípios A seguir, a caracterização das áreas focais e regiões envolvidas com a caça e o tráfico de animais silvestres. de Aracruz e Linhares, com forte atuação das empresas de celulose e da monocultura de eucalipto, possuem os melhores IDH (0,739 a 0,856), corroborado pela melhor renda per capita ●Complexo Sooretama e nível escolar. Entretanto, não escapam da forte concentração Segundo MMA (no prelo), nesta área focal ocorre de renda. Esta área focal é cortada pela BR 101, representando o avanço agressivo da pecuária, agricultura e plantio de a principal rota de tráfico. eucalipto, alto índice de atropelamento de animais na BR 101, queimadas e incêndios florestais, turismo desordenado, MMA (No prelo) identificou a ameaça de caça predatória pouca efetividade das unidades de conservação, entre outras para a biodiversidade desta área focal. Renctas (2001) indica ameaças à biodiversidade. Como atividades econômicas, a existência das atividades de apanha nos municípios de observam-se grandes plantios de eucalipto (Aracruz e São Conceição da Barra e as de apanha e de venda em São Mateus, Mateus), café (todos os municípios), cacau (Linhares), Sooretama e Linhares. seringueira (maioria dos municípios), fruticultura (mamão e maracujá) e intensa ocupação com pastagens. A área contribui com aproximadamente 9,1 % do PIB do Estado (SEP, 2006). 68 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r ●Burarama-Pacotuba-Cafundó Entre as ameaças à biodiversidade desta área focal, MMA (no prelo) ressalta as queimadas, retirada de lenha e a falta de assistência técnica para o desenvolvimento rural. Há o predomínio do plantio de café, abacate, palmito e forte ocupação com pastagens. Os municípios de Castelo e Cachoeiro de Itapemirim possuem bons índices de desenvolvimento (IDH - 0,762 a 0,856), com boa renda per capita e educação. A má distribuição de renda também se faz presente nestas cidades. Cachoeiro de Itapemirim pode ser considerado uma centralidade regional (SEP, 2006), por possuir fortes ligações com vários municípios e com outros estados. Por seu território passam duas principais rodovias: a BR 101 e a ES 482. ●Complexo Pindombas Segundo MMA (no prelo), observa-se nesta área, entre outras ameaças à biodiversidade, a caça e a extração ilegal da fauna, a especulação imobiliária agressiva, falta de política agrícola e Figura 3 – Áreas Focais e Regiões com seus respectivos municípios contendo as ameaças de caça e/ou tráfico de animais silvestres, no estado do Espírito Santo. Mapa elaborado pelo autor. Fonte: MMA (no prelo), RENCTAS (2001) e SEAMA (2005). D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 69 agrária, falta de capacitação profissional (agrícola, artesanal e a BR 262, que cortam a presente área focal, além de interligá-la turística) e baixa rentabilidade das lavouras. a outras regiões metropolitanas, como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. As cidades de Afonso Cláudio, Brejetuba, Muniz Freire e Conceição do Castelo apresentam os menores IDH (0,659 ●Região Caparaó a 0,738) da área, em face de problemas apresentados com Segundo Seama (2005), as ameaças à biodiversidade educação, baixa renda per capita e má distribuição de renda. desta região mais significativas são: desmatamento, destruição Os municípios de Castelo [participante da Área Burarama (MMA, de nascentes e mata ciliar, monocultura de café e eucalipto, no prelo)], Cachoeiro de Itapemirim [área focal Burarama queimadas descontroladas, uso indiscriminado de agrotóxicos, (MMA, no prelo) e Região Sul (Seama, 2005)], Guarapari, manejo inadequado na agropecuária, dificuldade de acesso ao Cariacica, Vitória, Vila Velha e Anchieta, possuem bons IDH crédito, e falta de planejamento direcionado à utilização dos (0,762 a 0,856). Com destaque para este último, que também recursos naturais. é uma centralidade regional (SEP, 2006), com fortes ligações com outros municípios e estados. Os municípios de Ibitirama, Irupi, Divino de São Lourenço e Jerônimo Monteiro são os que possuem baixos indicadores de 70 Quanto ao tráfico de animais, Renctas (2001) identificou as educação e renda per capita, com reflexos no IDH (0,659 a atividades de apanha nas cidades de Afonso Cláudio, Domingos 0,719) - ao contrário dos municípios de São José do Calçado, Martins e Vargem Alta, e de venda, nos municípios de Serra, Guaçuí e Alegre, com IDH variando entre 0,739 a 0,761. Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Vitória, Vila Velha e Viana. Esta última cidade possui um dos maiores percentuais de Pelo território desta última cidade passam as rodovias BR 101 e analfabetismo na região. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r A ameaça à biodiversidade desta Região, por meio da nos municípios de Apiacá, Mimoso do Sul e Atílio Vivácqua. caça e do contrabando de animais silvestres, já foi constatada pelo MMA (no prelo). Foi identificada no município de Alegre a atividade de apanha e venda de animais (Renctas, 2001). Além da caça predatória nesta Região, somente foi identificada a atividade de venda na cidade de Cachoeiro de Itapemirim (Renctas, 2001). ●Região Sul As principais ameaças à biodiversidade desta região são: caça predatória, existência de monoculturas, falta de profissionais ●Região Centro-Norte Serrana As principais ameaças à biodiversidade desta região configuram- para a criação de se na caça, no crescimento familiar com divisão do módulo rural, RPPN´s, grandes extensões de pastagens - causando desgaste do solo desmatamento e não aproveitamento do potencial das espécies nativas, -, fragmentação dos ecossistemas naturais, uso indiscriminado de e a falta de incentivo para a criação de RPPN´s (Seama, 2005). para educação ambiental, falta de incentivos agrotóxicos e indústrias no limite das áreas de preservação permanente A melhor qualidade de vida na região pode ser observada nos (Seama, 2005). municípios de Ibiraçu, Aracruz (também integrante do Complexo A região é uma das que apresentam melhor equilíbrio nos Sooretama – MMA, no prelo), João Neiva, Santa Teresa e Colatina índices de desenvolvimento humano, com destaque para Bom Jesus (IDH 0,762 a 0,856). Esta última cidade é também considerada como do Norte, Cachoeiro do Itapemirim (representante das Áreas do centralidade regional (SEP, 2006), por possuir fortes ligações com Complexo Pindombas e Complexo Burarama (MMA, no prelo) e Iconha vários municípios e com outros estados. Com mais dificuldades, (IDH 0,762 a 0,856). Alguns valores menores de renda per capita e encontram-se as cidades de Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina, alguns problemas fundiários podem ser encontrados, principalmente com índices educacionais e rendas per capita menores. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 71 Nas cidades de Pancas e Santa Teresa ocorre a atividade escolaridade, índice de desenvolvimento humano (em referência de apanha de animais e na cidade de Colatina ocorre as de ao Estado da Federação), foram elaborados quadros sínteses por apanha e venda (Renctas, 2001). Como rodovias de suporte ao estado (figuras 4 e 5), na tentativa de identificar possíveis relações tráfico de animais, destacam-se a BR 101, que corta o território entre esses dados. dos municípios de João Neiva, Ibiraçu e Fundão, e a BR 259, que percorre o município de Colatina até o Estado de Minas Gerais. SÍNTESE DOS MUNICÍPIOS DA BAHIA E DO ESPÍRITO SANTO Apesar dos documentos básicos do presente trabalho (MMA, no prelo e Seama, 2005) indicarem a ocorrência da caça e do tráfico de animais nas áreas focais e regiões estudadas da Bahia e do Espírito Santo, os mesmos não esclarecem se estas ameaças à biodiversidade ocorrem, sem exceção, em todos os municípios. Também não detalham, para os municípios envolvidos, qual é a principal atividade danosa à fauna (apanha ou venda) em seu território. A partir dos municípios e das atividades citadas no documento produzido pela Renctas (2001), e complementando com as informações sobre a existência de rota de tráfico, baixa 72 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Figura 4: quadro síntese contendo os municípios do Estado da Bahia envolvidos no tráfico de animais (Renctas, 2001) e suas ocorrências por atividade, rota de tráfico, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-2000) e ocorrência de baixa escolaridade (2000). Org. pelo autor. Figura 5: quadro síntese contendo os municípios do Estado do Espírito Santo envolvidos no tráfico de animais (Renctas, 2001) e suas ocorrências por atividade, rota de tráfico, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-2000) e ocorrência de baixa escolaridade (2000). Org. pelo autor. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 73 Analisando as figuras 4 e 5, verifica-se: CONSIDERAÇÕES FINAIS a) que apenas sete municípios desenvolvem a atividade de Por meio desse estudo pode-se afirmar que nem todos os apanha de animais. Destes, quatro apresentam baixa qualidade de municípios do Corredor Central da Mata Atlântica, com baixo vida e de escolaridade, com a exceção de três municípios do Espírito índice de desenvolvimento humano, são locais onde ocorrem a Santo: Santa Teresa, Domingos Martins e Vargem Alta, que apresentam atividade de apanha de animais, bem como nem todas as cidades médio e alto IDH. Somente três municípios têm seu território cortado que gozam de melhor qualidade de vida (ou que são cortadas por por rodovias consideradas rotas de tráfico de animais; rodovias consideradas rotas de tráfico) desenvolvem as atividades de venda de animais silvestres. Entretanto, a má qualidade de 74 b) que treze municípios desenvolvem a atividade de venda vida, associada com a baixa escolaridade, potencializa a prática de animais silvestres. Doze cidades possuem os melhores índices do tráfico de animais silvestres. Tráfico este que pode encontrar de qualidade de vida em relação ao estado de origem e estão na como potenciais pontos de venda as cidades com melhor qualidade rota do tráfico; de vida e servidas por importantes estradas e rodovias. c) que nove municípios desenvolvem as atividades de Os documentos do MMA (no prelo), da Seama (2005), entre apanha e venda de animais. Oito destes estão na rota do tráfico outros documentos oficiais, não conseguem mapear e nem dar e sete cidades possuem médio e alto IDH. Apenas dois municípios destaque corretamente ao fenômeno do tráfico de animais, em possuem baixa qualidade de vida (Mascote (BA) e Sooretama vários projetos e ações desenvolvidos. Falta um melhor estudo (ES)). Quanto aos baixos índices de escolaridade, além desses dois das classes sociais envolvidas nessas atividades, bem como uma últimos municípios, soma-se a cidade de Alegre (ES). integração dos bancos de dados dos órgãos ambientais responsáveis D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r pelo licenciamento e fiscalização das atividades potencialmente trabalhos do Ministério do Meio Ambiente (MMA, no prelo) e da degradadoras do meio ambiente. Seama (2005), desenvolvidos no âmbito do Corredor Central. Assim, para o conhecimento do perfil sócioeconômico e A apanha de animais silvestres na natureza, a caça, o ambiental dos municípios do Corredor Ecológico da Serra do tráfico seriam atividades atrativas para populações que vêem Mar, será necessária a continuidade destes pertinentes trabalhos reduzidas suas fontes de renda e sobrevivência, devido a crises de levantamento de dados e informações, junto aos estados socioeconômicas que afetam as áreas onde vivem; desestruturação componentes deste corredor ecológico, quais sejam, Rio de da agricultura familiar - sobretudo pela expansão de monoculturas; Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. desagregação familiar causada pela migração; e má distribuição de renda. Combinadas com uma educação ambiental precária, quando inexistente, têm proporcionado o surgimento de várias gerações de pessoas carentes, desestimuladas e com baixo discernimento na tomada de decisões favoráveis à proteção de nossa biodiversidade. Esses fatores induzem ainda mais a retirada de fauna silvestre de seus habitats, quando aliados à facilidade do acesso a compradores, propiciada pela abertura de grandes rodovias. A elaboração do presente tema só foi possível frente à valiosa oferta de informações e dados levantados a partir dos D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 75 Bibliografia ALCOFORADO, Fernando. Os condicionantes do desenvolvimento do ESPÍRITO SANTO. Secretaria de Estado de Agricultura, Abastecimento, Estado da Bahia. 2003. Tese (Doctorado en Planificación Territorial Aqüicultura Y Desarrollo Regional) Universidad de Barcelona, Barcelona, 2003. 2005. BAHIA. Secretaria do Planejamento. Plano Plurianual da Administração Pública Estadual-período 2004-2007 (Lei Estadual nº 8.885, 17/11/2003). Bahia, 2003. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Documento base para a elaboração das diretrizes operacionais - 2ª Versão. Brasília: MMA. 2006. 120 p. No prelo. BRASIL. Ministério dos Transportes. GEIPOT-Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes. Corredores de transporte: proposta de ações para adequação da infra-estrutura e para racionalização de transporte de granéis agrícolas. Brasília. 1997. 145p. e Pesca. Disponível em Agricultura orgânica. (ES). http://www.seag.es.gov.br/organica_ caracterizacao.htm. Acesso em 09/01/2007. ESPÍRITO SANTO. Secretaria de Estado de Economia e Planejamento. Espírito Santo 2025: plano de desenvolvimento. Vitória (ES). 2006. 156p. ESPÍRITO SANTO. Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos; BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Síntese dos encontros regionais realizados com os municípios do estado do Espírito Santo – projeto Corredores Ecológicos. Cariacica. 2005. 52p. IBGE-INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Sistema de contas nacionais, 1996, 1999, 2000, 2001, 2002. www.ibge.gov.br. CAMPOS, Martha M. Vazios operativos da cidade: territórios interurbanos OLIVEIRA, Paulo Rogério Soares de; VALVERDE, Sebastião Renato; na Grande Vitória (ES). 2004. Tese (Doutorado em Comunicação e COELHO, France Maria Gontijo. Aspectos de relevância econômica Semiótica) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2004. no fomento florestal a partir da percepção dos produtores rurais CRITICAL ECOSYSTEM PARTNERSHIP FUND (CEPF). Perfil do ecossistema – Mata Atlântica hotspot de biodiversidade – versão final. Brasil. 2001. 29 p. DEMETER, Paulo. Fase inicia ciclo de avaliações de 2005 – Fase Bahia. Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional. Rio de Janeiro. Disponível em http://www.fase.org.br/_fase/pagina. envolvidos. Revista Árvore, Viçosa, v.30, n.4, p.593-601, 2006. ONU. PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO; INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA; FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Atlas de Desenvolvimento Humano Municipal. Brasília, 2006. Disponível em http://www.pnud.org.br/atlas/ oque/index.php php?id=10. Acesso em 09/01/2007. 76 Vitória D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r REDE Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres – Renctas. Relatório Nacional Sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, 1. Brasília: Renctas, 2001 SANTOS, Cláudia Santana; DA SILVA, José Luis Caetano. Os impactos do plantio de eucalipto e da produção de celulose em comunidades tradicionais no estremo sul baiano. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AMBIENTE E SOCIEDADE (ANPPAS), 2, 2004, Indaiatuba. Grupo de Trabalho... Aqualung. Rio de Janeiro. Outubro/1998. Disponível em http:// www.institutoaqualung.com.br/info_desmatamento28.html Acesso em 11/01/2007. VEZZALI, Fabiana (a) Especial latifúndio – concentração de terra na mão de poucos custa caro ao Brasil. Repórter Brasil. Brasil. 11/07/2006. Disponível em http://www.reporterbrasil.com.br/ exibe.php?id=654. Acesso em 09/01/2007. VEZZALI, Fabiana (b) Agricultura familiar gera empregos mas recebe pouco recurso. Repórter Brasil. Brasil. 10/08/2006. Disponível em http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=692. Acesso em 09/01/2007. Cuica (Philander opossum) - Foto: André Camilli Dias SZPILMAN, Marcelo. A situação atual da Mata Atlântica. Instituto D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 77 GRÁFICOS, ANÁLISES A partir dos questionários respondidos pelos comandos da Polícia Ambiental e superintendências do Ibama, foi realizado o processamento dos dados, com exaustivas análises de todas as respostas. Este trabalho resultou nas tabelas e gráficos apresentados a seguir, bem como nos comentários que retratam amplamente o problema da retirada de animais silvestres da natureza, o complexo trabalho de combate a este crime, e os problemas e deficiências a serem sanados. Outras informações estão disponibilizadas no site do Diagnóstico. 78 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Sagui-de-cara-branca (Callithrix geoffroyi) - Foto: André Camilli Dias 4 QUADROS, D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 79 DESTAQUES DOS QU Lacunas nas informações refletem a realidade da fiscalização ESTADO ÓRGÃO Nº AUTOS* Nº ANIMAIS APREENDIDOS* ESPÉCIES ** LOCAIS DE APREENSÃO BA Ibama 110 3.482 Sim Nv/Nc Sim BA Coppa X X Sim Nv Sim ES Ibama 225 X X Sim ES P.A. 171 6.434 Sim Nv Sim RJ Ibama X X X X RJ P.A. 114 3.549 Sim Nv/Nc Sim MG Ibama X X X X MG P.A. 2.740 21.529 Sim Nv/Nc Sim SP Ibama 185 2.691 X Sim SP P.A. 746 25.111 Aves Nv/Nc Sim X X X X Ibama Nacional O quadro Destaques dos Questionários Respondidos pela Polícia Ambiental e Ibama apresenta um panorama parcial da atuação dos órgãos fiscalizadores nos cinco estados pesquisados. 80 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r ESTIONÁRIOS APLICADOS À POLÍCIA AMBIENTAL E IBAMA DESTINO ANIMAIS (%) S/CE/Z/CR*** Nº DE ÓBITO VIAS DO TRÁFICO LOCAIS CAPTURA LOCAIS VENDA PRINCIPAIS ROTAS ESTRUTURA DIFICULDADES 25 / 75 / 0 / 0 22% Sim X Sim Sim Sim Sim, parcial 24 / 72 / 4 / 0 1% X Sim Sim X Sim Sim, citando tudo “Ce Maioria” X X X X Sim Sim Sim, menos apoio governamental 10 / 90 / 0 / 0 2% Sim Sim Sim Sim Sim Sim, menos apoio gov. e integração X X X X X X X X 10 / 85 / 5 / 0 X Sim Sim Sim Sim Sim Sim, menos integração; Cetas X X X X X X X X 24,37 / 26,4 / 13,85 / 8,38 10,31% Sim Sim Sim Sim Sim Sim, citando tudo 20 / 8 / 2 / 70 5% Sim Sim, genérico X X Sim X 18,3 / 27,8 /17,3 / 11,5 0,51% Sim Sim, apenas um local Sim Sim Sim Sim X X X X X X X X Fonte: Questionário Renctas. Obs – 100 % das Polícias Ambientais responderam ao questionário; das Supes do *Os dados de autos e animais apreendidos referem-se somente ao ano de 2005. Ibama, 60 % responderam. ** Nv = nome vulgar; Nc = nome científico. A letra X refere-se a dados não fornecidos. *** S = Soltura; Ce = Cetas; Z = Zoológico; Cr = Criadouro. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 81 Corrupião (Icterus jamacaii) - Foto: Vincent Kurt Lo Um olhar detalhado sobre o quadro A s unidades do Ibama do Rio de Janeiro e de Minas Gerais não responderam ao questionário. O Ibama-sede, localizado em Brasília, foi o primeiro a ser consultado, mas alegou falta das informações, o que levou a Renctas a encaminhar os questionários às superintendências dos Estados. Para a elaboração do quadro, foram considerados somente os dados referentes ao ano de 2005. As respostas relativas aos locais de captura, venda e principais rotas do tráfico foram inseridas no mapa georreferenciado, do site www.diagnostico.org.br (veja página 86). As perguntas contidas no questionário e consideradas para a elaboração do quadro foram as seguintes: 82 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Número de Autos de Infração Destino dos Animais 1. Quantos autos de infração envolvendo animais silvestres (apanha, transporte, comércio, depósito ou posse ilegal) foram lavrados em 2005? Observa-se uma grande diferença entre os números, ou falta de informação (110 a 2.740 autos de infração emitidos em 2005). 5. Quais os destinos dos animais apreendidos por vocês? (soltura, depósito em zôos, e outros). Obs: escreva o percentual aproximado no quadro abaixo. Percebe-se a falta de padronização de critérios para a destinação dos animais apreendidos, pois, ora o maior número percentual é encaminhado Número de Animais Apreendidos 2. Quantos animais silvestres foram apreendidos no ano de 2005? Repete-se a grande diferença de números, variando de 2.681 a 25.111. para Cetas, ora para criadouros. Número de Óbitos 6. Em média, quantos animais morrem desde a apreensão até o seu destino final? Resposta em porcentagem ( % ). Espécies mais Apreendidas Neste item, a diferença é imensa, variando de 0,51% a 22% nos 3. Mamíferos / Aves / Répteis mais apreendidos Nota-se grande dificuldade na identificação dos animais apreendidos, uma vez que, em alguns casos, só foram mencionados nomes vulgares sem os correspondentes nomes científicos, o que dificulta uma análise mais precisa da situação das espécies mais vitimadas pelo tráfico, pois os nomes vulgares variam conforme a região para uma mesma espécie. diferentes estados e órgãos. Dentro de um mesmo estado, o número varia de 0,51% a 5%, dependendo do órgão fiscalizador - como é o caso de São Paulo. Nem todos forneceram esta informação. Vias do Tráfico 7. Diga em termos percentuais (%) quais as vias de escoamento mais utilizadas para o tráfico de animais em sua área de abrangência? Locais de Apreensão Todos responderam, evidenciando o que se conhece plenamente: a 4. Cite, na ordem de importância, os principais locais de apreensão de animais silvestres no Estado: (feiras, estradas, depósitos irregulares, quase totalidade do tráfico interno de animais silvestres (cerca de 90%) é escoada pelas rodovias. Embarcações e aviões também são utilizados. residências, lojas, etc.). Todos responderam. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 83 Locais de Captura 8. Cite os 10 lugares mais importantes de captura de animais silvestres em sua área de abrangência. Obs: se essa situação não ocorrer em sua região, não preencha, ou coloque apenas os dados disponíveis. Esta resposta ficou bastante comprometida, considerando que a maioria dos estados não forneceu um quadro claro a este respeito, com exceção de Minas Gerais, que fez um primoroso detalhamento. Locais de Venda 9. Cite os 10 lugares mais importantes de venda ilegal de animais silvestres em sua área de abrangência. Obs: se essa situação não ocorrer em seu estado, não preencha, ou coloque apenas os dados disponíveis. Novamente, respostas incompletas, à exceção do Estado de Minas Gerais, que forneceu detalhadamente os locais de venda de animais Principais Rotas 10. Cite as principais rotas do tráfico de animais silvestres em sua região. Outro item pouco respondido e que também compromete o combate ao tráfico. Para direcionar e intensificar a fiscalização, é necessário conhecer detalhadamente as rotas do tráfico de animais. 84 Caranguejeira - Foto: DG Consultoria silvestres provenientes do tráfico. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Estrutura do Órgão 11. Informações sobre a sua instituição. Todos informaram, mas alguns, de forma relativamente precária, passando informações imprecisas (ex: “mais ou menos 15 veículos”) ou demonstrando desconhecimento do número real de fiscais existentes na instituição. Dificuldades 12. Marque com um X as principais dificuldades para combater o tráfico de animais silvestres na sua região de atuação: ( ) Pessoal insuficiente. ( ) Veículos insuficientes. ( ) Falta de treinamento adequado. ( ) Falta de equipamentos. ( ) Falta de material de estudo. ( ) Falta de apoio governamental. ( ) Falta de integração com demais órgãos públicos ambientais. ( ) Falta de locais para destinar animais apreendidos. ( ) Entraves na legislação. ( ) Outros, citar:_____________________________________________ Esta pergunta evidencia alguns problemas estruturais graves na maior parte dos órgãos, que carecem de pessoal, veículos, equipamentos, treinamento etc. Quase todos mencionam a falta de locais para destinar os animais, o que torna o trabalho de repressão ao tráfico bastante complicado. Além disso, nota-se uma certa incoerência em algumas respostas, pois alguns órgãos citam falta de praticamente tudo, mas não marcam o quesito falta de apoio governamental. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 85 Papagaio-chauá (Amazona rhodocorytha) - Foto: André Camilli Dias Interagindo com o site A lguns órgãos fiscalizadores forneceram informações detalhadas sobre os locais de apanha, venda e as principais rotas do tráfico de animais silvestres em seus respectivos estados. Esses dados estão disponibilizados no mapa do site www.diagnostico.org.br, conforme mostra a figura ao lado. Interagindo com a imagem do mapa, é possível resgatar tais informações em nível de municípios, clicando sobre a área desejada. O maior detalhamento encontra-se na região de Minas Gerais, graças às especificações fornecidas pela Polícia Ambiental daquele Estado, ao preencher o questionário. 86 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Classificação das localidades de acordo com o tipo de ocorrência de tráfico APANHA E VENDA APANHA VENDA Rota de tráfico de animais silvestres D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 87 Tucano-toco (Ramphastos toco) - Foto: André Camilli Dias 88 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Números, índices, indicadores, repletos de divergências. O s dados fornecidos pela Polícia Ambiental e Ibama dos cinco Estados geraram os gráficos apresentados a seguir. O fato de algumas instituições não terem respondido aos questionários, ou não disporem de informações completas, comprometeu a realização de análises mais profundas, e os gráficos também mostram estas falhas. Inclusive, não foi possível um olhar mais específico em relação à retirada de animais e ao comércio ilegal dos mesmos, nos municípios que compõem os corredores Central e Serra do Mar da Mata Atlântica. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 89 Autos de infração envolvendo animais silvestres O número de autos de infração envolvendo a fauna, emitidos pela Polícia Ambiental do Estado do Espírito Santo, apresenta uma tendência de alta, conforme o gráfico acima. Nos dois primeiros anos da série, houve um decréscimo, apresentando um aumento de quase três vezes no ano seguinte, mantendo-se então estável por mais um ano. Em 2003, houve aumento de 1,67 vezes em relação ao no anterior, aumentando mais 1,41 vezes no ano seguinte. Em 2005, a emissão de autos de infração voltou ao patamar de 2003. Os dados fornecidos pela Polícia Ambiental da Bahia são insuficientes para qualquer análise. 90 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Autos de infração envolvendo animais silvestres 3 Os quatro anos nos quais existem dados disponibilizados não apresentam nenhuma tendência. 4 Os autos de infração emitidos anualmente pela Policia Ambiental de Minas Gerais não apresentam nenhum padrão no período estudado. Houve um incremento de 1,70 vezes, entre 1999 e 2000, um decréscimo de 1,40 vezes no ano seguinte, seguido de uma estabilização por mais um ano, decrescendo, então, 3,30 vezes no ano de 2003, quando comparado ao ano anterior, vindo, então, a subir com a mesma força no ano seguinte, para, finalmente, crescer 1,21 vezes no final da série. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 91 Autos de infração envolvendo animais silvestres Observa-se no gráfico ao lado que o número de autos de infração emitidos pela Polícia Ambiental de São Paulo apresenta uma tendência de queda, ao longo da série estudada. Considerando o primeiro ano da série e o último, a queda foi de 2,29 vezes, tendo a maior queda ocorrido entre 1999 e 2000: 1,56 vezes. A segunda maior queda ocorreu no ano subseqüente, 1,33 vezes e, a partir de então, observou-se uma ligeira estabilização, com valores variando entre 822 e 746 autos de infração, o que significa um decréscimo de 1,10 vezes. 6 Os dados relativos ao Espírito Santo começam em 2001 e apresentam uma queda de 1,36 vezes, entre este ano e o ano de 2002, vindo a crescer substancialmente, 1,80 vezes, no ano seguinte, mais 1,13, entre 2003 e 2004, vindo finalmente a decair 1,29 vezes, no último ano. 92 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Autos de infração envolvendo animais silvestres Não foram fornecidos dados de 1999 e 2000. Entre 2001 e 2002, ocorreu a maior queda registrada na série, 2,06 vezes, vindo a crescer, no ano seguinte, 1,44 vezes, diminuindo ligeiramente, em 2004, 1,15 vezes, e apresentando seu maior incremento no último ano da série, 1,69 vezes. Os dados fornecidos pelo Ibama de São Paulo são insuficientes para qualquer análise. O Ibama do Rio de Janeiro e o de Minas Gerais não responderam ao questionário. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 93 Panorama dos Corredores A análise global relativa aos autos de infração emitidos pelas polícias ambientais dos estados pertencentes ao Corredor Central não foi possível, pois a Companhia da Bahia forneceu apenas os dados referentes aos dois primeiros anos da série. Entre 1999 e 2000, houve um incremento de 1,22 vezes no número de autos de infração, seguido de uma importante queda, de 2,84 vezes, entre 2000 e 2003. O desempenho recuperou-se nos dois anos subseqüentes, aumento este de 2,26 vezes. 94 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Apreensão de animais silvestres No Espírito Santo, o número de animais silvestres apreendidos pela Polícia Ambiental apresenta uma tendência de alta. A diferença entre o maior e o menor total anual de apreensões é de 2,63 vezes. Na Bahia, a ausência de dados não permite análise. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 95 Apreensão de animais silvestres A Polícia Ambiental do Rio de Janeiro não forneceu dados relativos aos três primeiros anos da série. Nota-se uma grande queda no número de apreensões entre 2003 e 2004, e um incremento de 6,52 vezes, quando considerados os anos de 2004 e 2005. Minas Gerais, onde foi registrada uma das maiores apreensões de animais silvestres, também apresenta uma tendência de aumento no número de apreensões. No ano de 2000, nota-se uma queda no número de apreensões com relação a 1999. Em 2001, houve um significante aumento, seguido de um decréscimo, nos dois anos posteriores, com queda acentuada no ano de 2003. A tendência reverte-se em 2004, mantendo-se praticamente no mesmo patamar em 2005. 96 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Apreensão de animais silvestres São Paulo apresenta um padrão de apreensão de animais silvestres parecido com o de Minas Gerais. Foi neste Estado que a linha de tendência melhor se ajustou (R2=0,70). As apreensões apresentam um crescimento constante, exceto os anos de 2000 e 2004. O aumento entre o início e o final da série foi de 1,91 vezes. Os dados relativos às apreensões do Ibama da Bahia não apresentam uma tendência. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 97 Apreensão de animais silvestres Os dados do Ibama de São Paulo também não apresentam uma tendência. O Ibama do Espírito Santo não forneceu os dados relativos aos animais apreendidos. O Ibama do Rio de Janeiro e o de Minas Gerais não responderam ao questionário. Panorama dos Corredores As apreensões de animais silvestres pelas Policias Ambientais dos Estados do Corredor Central apresentam uma leve tendência de alta, embora seu maior valor tenha ocorrido no ano de 2001. A partir de 2002, houve um incremento até 2004, e o ano de 2005 apresentou uma ligeira queda em relação ao ano anterior. Considerando o início e o final da série, o incremento foi de 1,73 vezes. 98 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Panorama dos Corredores No Corredor Serra do Mar, existe um padrão de apreensões, com uma diminuição do número em quatro anos, tendo o maior decréscimo sido registrado entre 1999 e 2000, 1,36 vezes; e uma diminuição constante que soma 1,07 vezes, no período de 2001 a 2004. O maior incremento foi observado entre 2000 e 2001, 2,90 vezes, e entre os dois últimos anos da série, com um aumento de 1,26 vezes nas apreensões. Devido à falta de dados relativos às apreensões realizadas pelo Ibama em alguns estados, a análise relativa aos corredores ficou comprometida. Mamíferos mais apreendidos No Espírito Santo, duas espécies de mamíferos representam quase ¾ dos mamíferos capturados: o gambá de orelha preta, com 45,0% dos casos, e o sagüi, com 29,8%. As demais espécies têm percentuais sempre menores ou iguais a 6,0%. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 99 Mamíferos mais apreendidos 12 Espécie sagui 7 bicho preguiça 0 2 4 6 8 10 12 14 Número Espécie sagui 12 macaco prego 3 bugio 2 0 2 4 6 8 Número 100 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 10 12 14 Mamíferos mais apreendidos 331 gambá sagui tufo branco 169 Espécie capivara 138 tatu 109 Em Minas Gerais, as principais espécies de mamíferos apreendidas são macaco prego 83 sagui tufo preto 82 os gambás, os sagüis-de-tufo-branco, as capivaras e os tatus, com 30,8, 15,7, paca 82 12,8 e 10,1%, respectivamente. As outras espécies apresentam participações lobo guará 56 cachorro do mato inferiores a 8%. 24 0 50 100 150 200 250 300 350 Número A Polícia Ambiental de São Paulo não informou os números, nem as espécies de mamíferos mais apreendidos. Aves mais apreendidas As aves pertencentes ao gênero Sporophila, juntamente com os canários, representam quase 68,0% das aves apreendidas pela Polícia Ambiental do Espírito Santo. As outras espécies têm participações inferiores a 10,0%. *Devido às diferenças regionais de nomenclatura para o gênero Sporophila (coleiro, coleirinha, papa-capim), não foi possível classificar os animais pela espécie, a partir dos dados contidos nos questionários. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 101 Aves mais apreendidas 24 Na Bahia, apesar do pequeno número de aves apreendidas, o canário-daterra, as aves do gênero Sporophila e a jandaia representam 50,5%. As aves do gênero Sporophila são as mais apreendidas pela Polícia Ambiental do Rio de Janeiro, com quase 25,0%. Seguem as espécies canárioda-terra, tiziu, Sporophila caerulescens e trinca-ferro, com: 14,8%, 12,1%, 10,2% e 9,8%, respectivamente. 102 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Aves mais apreendidas 12.086 canário da terra Sporophila sp 7.697 Espécie trinca ferro 5.255 canário chapinha 4.241 pássaro preto 1.790 1.157 azulão maracanã 768 pintassilgo 717 papagaio Em Minas Gerais, o canário-da-terra representa 35,3% das aves apreendidas, seguido pelas aves do gênero Sporophila e pelo trinca-ferro, 542 0 6000 10000 16000 com 22,5 e 15,3%, respectivamente. As outras espécies representam 26,9%. Número São Paulo é o Estado em que a Polícia Ambiental mais apreende aves. O canário-da-terra representa 35,3% das aves apreendidas, seguido pela Sporophila nigricolis com 18,8%, e o picharro, com 10,6%. As outras espécies têm participações inferiores a 7,0%. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 103 Répteis mais apreendidos No Espírito Santo, o jabuti representa 42,8% dos répteis apreendidos, seguido pela jibóia, com 28,0%. As outras espécies somam 29,2%. Na Bahia, o jabuti representa 41,2% dos répteis apreendidos, seguido pelas serpentes, jibóia e sucuri, com 23,0, 17,2 e 11,7%, respectivamente. 104 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Répteis mais apreendidos Os dados fornecidos pela Polícia Ambiental do Rio de Janeiro não permitem análises. O jabuti-piranga é o réptil mais apreendido em Minas Gerais, representando 63,0%, seguido pela cascavel e jararaca, com 14,5 e 7,7%, respectivamente. As outras espécies somam menos do que 15,0%. A Polícia Ambiental de São Paulo não forneceu dados sobre apreensões de répteis. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 105 Outras espécies mais apreendidas 32 Entre as outras espécies mais apreendidas pela Polícia Ambiental do Rio de Janeiro, três se destacam: pássaro-preto, com 17,2%; o coleiro-baiano, com 15,2%, e o galinho-da-serra, com 15,0%. 33 minhocuçu Espécie 1.772 galo de briga A polícias ambientais do Espírito Santo, da Bahia e de São Paulo não forneceram dados sobre outras espécies de animais mais apreendidos. 106 34 0 500 1000 Número D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 1500 2000 Bugio (Alouatta fusca) - Foto: André Camilli Dias Panorama dos Corredores E m relação às espécies de mamíferos, aves e répteis mais apreendidas pela Polícia Ambiental e Ibama, não foi possível a construção de gráficos relativos aos Corredores Central e Serra do Mar, pois alguns forneceram dados relativos ao período de 2001 a 2005, enquanto outros limitaram-se ao ano de 2005. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 107 Preguiça-de-três-dedos (Bradypus variegatus) - Foto: O Globo Nomenclatura dos Animais NOME COMUM NOME CIENTÍFICO Bicho-preguiça Bradypus sp Bugio Alouatta sp Cachorro-do-mato Cerdocyon thous Capivara Hydrochoeris hydrochaeris Cateto Tayassu tajacu Cutia Dasyprocta azarae Gambá Didelphis sp Gambá-de-orelha-preta Didelphis aurita Gato-do-mato-pequeno Leopardus tigrinus Lobo-guará Chrysocyon brachyurus Macaco-prego Cebus sp Ouriço-cacheiro Sphiggurus villosus Paca Agouti paca Quati Nasua nasua Raposa Sagüi Callithrix sp Sagüi-de-cara-branca Callithrix geoffroyi Sagüi-de-tufo-branco Callithrix jacchus Sagüi-de-tufo-preto Callithrix penicillata Tamanduá Tamandua tetradactyla Tatu Veado-campeiro Ozotocerus bezoarticus Tabela 1 - Lista dos mamíferos mais apreendidos, de acordo com a nomenclatura comum e científica. 108 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r NOME COMUM NOME CIENTÍFICO Arara-canindé Ara ararauna Azulão Passerina brissonii Bico-de-lacre Estrilda astrild Bigodinho Sporophila lineola Brejal Sporophila albogularis Caboclinho Sporophila sp Canário Canário chapinha Sicalis flaveola Canário da terra Sicalis flaveola Cardeal Paroaria coronata Coleiro Sporophila sp Coleiro-baiano Sporophila nigricollis Coruja Curió Oryzoborus angolensis Galo-da-campina Paroaria dominicana Jandaia Maracanã Canário-da-terra (Sicalis flaveola) - Foto: Zig Koch Maritaca Papagaio Amazona sp Pássaro-preto Gnorimopsar chopi Periquito Picharro Saltator maximus Pintassilgo Carduelis sp Pichochó Sporophila frontalis Sabiá Sanhaço Sofrê Icterus sp Tico-tico Tiziu Volatinia jacarina Trinca-ferro Saltator similis Tuim Forpus xanthopterygius Tabela 2 - Lista das aves mais apreendidas, de acordo com a nomenclatura comum e científica D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 109 NOME COMUM Cágado NOME CIENTÍFICO Phrynops geoffroanus Camaleão Cascavel Crotalus durissus Cobra-d’água Coral Falsa-coral Iguana Iguana iguana Jabuti Geochelone sp Jabuti-piranga Geochelone carbonaria Jacaré Jacaré-de-papo-amarelo Caiman latirostris Jararaca Bothrops sp Jararacuçu Bothrops sp Jibóia Boa constrictor Lagarto Serpente Sucuri Eunectes murinus Teiú Tupinambis merianae Tigre-d’água Trachemys sp Urutu Bothrops alternatus Tabela 3 - Lista dos répteis mais apreendidos, de acordo com a nomenclatura comum e científica. Obs.: estas listas foram elaboradas a partir dos nomes comuns e científicos dos animais mais apreendidos, fornecidos pela Polícia Ambiental e Ibama, nos vários estados. Alguns nomes comuns aparecem sem os correspondentes nomes científicos pela impossibilidade de correlação, devido à ausência de dados mais específicos por parte dos órgãos fiscalizadores. 110 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Tigre d’água (Trachemys dorbignyi) - Foto: Armando Catunda Tartaruga D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 111 Destino dos Animais Gráfico 34 - Destino dos animais apreendidos (%) pela Polícia Ambiental do ES, 2005. 10,0 90,0 A quase totalidade dos animais apreendidos pela Polícia Ambiental do Espírito Santo (90%) é destinada ao único Cetas existente no Estado; o restante SOLTURA CETAS ZOO CRIADOURO OUTROS é solto. Gráfico 35 - Destino dos animais apreendidos (%) pela Polícia Ambiental da BA, 2005. 4,0 24,0 72,0 Na Bahia, também a quase totalidade dos animais apreendidos é encaminhada para os Cetas (72%). As solturas somam 24%. 112 SOLTURA CETAS ZOO D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r CRIADOURO OUTROS Destino dos Animais Gráfico 36 - Destino dos animais apreendidos (%) pela Polícia Ambiental do RJ, 2005. 5,0 10,0 85,0 No Rio de Janeiro, o padrão repete-se: o destino predominante é para o SOLTURA CETAS ZOO CRIADOURO OUTROS Cetas (85%), seguido pelas solturas, com 10%, e pelos zoológicos, com 5%. Gráfico 37 - Destino dos animais apreendidos (%) pela Polícia Ambiental de MG, 2005. 27,0 24,4 8,4 Dois tipos de destino são os mais encontrados em Minas Gerais: os 26,4 Cetas e as solturas, com pouco mais de 50% e em percentuais próximos, 13,9 26,4 e 24,4%, respectivamente. Os zoológicos aparecem com quase 14%, e os criadouros com aproximadamente 8%. Com relação aos 27% que constam como outros destinos, temos: incineração; doação; depositário; entregues SOLTURA CETAS ZOO CRIADOURO OUTROS ao Ibama e delegacias de polícia. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 113 Destino dos Animais Gráfico 38 - Destino dos animais apreendidos (%) pela Polícia Ambiental de SP, 2005. 18,3 25,1 Os tipos de destinação relatados em São Paulo são semelhantes aos de Minas Gerais, embora com percentuais mais distribuídos. Os Cetas aparecem com quase 28%, seguidos pelas solturas e zoológicos, com 18,3% e 17,3%, respectivamente, e os criadouros com 11,5%. Com relação aos 25,1% atribuídos 11,5 a outros destinos, a Polícia informa que 20,1% permanecem com os autuados. 27,8 17,3 Como a soma final da destinação dos animais informada pela Polícia Ambiental de São Paulo não atingiu 100%, e sim 95%, tomamos a iniciativa SOLTURA CETAS ZOO CRIADOURO OUTROS de acrescentar 5% aos 20,1% atribuídos a outros destinos. Gráfico 39 - Destino dos animais apreendidos (%) pelo IBAMA da BA, 2005. 25,0 Os Cetas são o destino predominante na Bahia: 75%; e o restante, segundo o Ibama, outros destinos. 75,0 O Ibama da Bahia foi o único órgão que informou o destino dado aos animais pelos Cetas, especificando que: 65,02% foram soltos, 4,02% permaneceram nos próprios Cetas, 2,06% foram encaminhados para zoológicos e 2,19% para criadouros. Os óbitos totalizam 22,25%, e 4,46% SOLTURA CETAS ZOO tiveram outros destinos, principalmente fugas, segundo dados do órgão. 114 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r CRIADOURO OUTROS Destino dos Animais Gráfico 40 - Destino dos animais apreendidos (%) pelo IBAMA de SP, 2005. 20,0 Diferentemente do destino dado aos animais apreendidos pela Polícia Ambiental em São Paulo, o Ibama destina 70% a criadouros, 20% representam as solturas, 8% têm outras destinações e 2% vão para zoológicos. 8,0 2,0 O Ibama do Espírito Santo não informou percentuais de encaminhamento 70,0 dos animais apreendidos, citando apenas que a “maioria” é destinada para o único Cetas do Estado. CETAS ZOO CRIADOURO OUTROS O Ibama do Rio de Janeiro e o de Minas Gerais não responderam ao questionário. Dormideira (Imantodes cenchoa) - Foto: Giuseppe Puorto SOLTURA D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 115 Mortalidade Dos Animais Gráfico 41 - Mortalidade (%) dos animais apreendidos pela Polícia Ambiental dos conco Estados, 2005. Minas Gerais apresenta o maior percentual de mortalidade entre os animais apreendidos pelas Policias Ambientais, 10,3%, seguido por Espírito Santo, Bahia e São Paulo, com 2,0%, 1,0% e 0,5%, respectivamente. O Rio de Janeiro não forneceu este dado. Gráfico 42 -Mortalidade (%) dos animais apreendidos pelo IBAMA, 2005. A alta taxa de mortalidade dos animais apreendidos pelo Ibama da Bahia, 22,0%, contrasta com a taxa apresentada pela Polícia Ambiental, de 1,0%. O mesmo ocorre com os dados de São Paulo: 5,0% para o Ibama, e 0,5% para a Polícia Ambiental. Tratam-se de taxas bastante díspares, dificultando qualquer análise. O Ibama do Espírito Santo não forneceu o dado, enquanto que o Ibama do Rio de Janeiro e o de Minas Gerais não responderam ao questionário. 116 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Detalhando a atuação das Polícias Ambientais Gráfico 43 - Participação (%) de cada Estado na emissão de autos de infração, 2005. A comparação entre os dados das Polícias Ambientais dos Estados foi 4,5 19,8 realizada levando-se em consideração o último ano da série estudada (2005). Foi 3,0 calculado o percentual relativo a cada Estado. No quesito emissão de autos de infração, Minas Gerais apresenta a maior participação, com 72,7%, seguido por São Paulo, com 19,8%. As demais Polícias apresentam percentuais inferiores a 5,0%. 72,0 A Polícia Ambiental da Bahia não informou os dados relativos às emissões ES RJ MG SP de autos de infração, armas, armadilhas e animais silvestres apreendidos, sendo excluída desta análise. Gráfico 44 - Participação (%) de cada Estado na apreensão de armas e armadilhas, 2005. 0,1 23,7 13,3 63,0 Quando comparados os percentuais relativos às apreensões de armas e armadilhas, o Rio de Janeiro foi o que mais se destacou, com 63,0%, seguido por São Paulo e Minas Gerais, com 23,7 e 13,3%, respectivamente. ES RJ MG SP A participação do Espírito Santo neste quesito é ínfima. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 117 Com as instituições enfraquecidas, a fauna sofre as conseqüências. U m olhar detalhado nas respostas e observações (ou na ausência delas) contidas nos questionários aplicados nos Estados evidencia o descaso com a fauna. Mico-leão-de-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas) - Foto: Luciano Candisani Como acontece com outras formas de crime organizado, se 118 as instituições não aprimoram suas estruturas e não compartilham informações, as redes criminosas ampliam sua atuação. O crescimento do número de animais apreendidos deixa evidente que o comércio ilegal é intenso. Além disso, a falta de critérios para soltura e de locais para destinação dificulta a ação fiscalizatória, que acaba sendo realizada basicamente atendendo denúncias. Os indicadores propostos sugerem que a fiscalização de fauna não é prioridade para as polícias ambientais; enquanto que o Ibama, devido à falta de respostas, sequer permite análises mais detalhadas da atuação da instituição nos cinco estados. O fluxo de animais destinados a criadouros é outro aspecto preocupante, até porque se a estrutura é falha em relação ao comércio ilegal, o controle sobre os animais mantidos em cativeiro deixa bastante a desejar. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r ESPÍRITO SANTO Polícia Ambiental – Fornece os números de autos de infração e de animais apreendidos, mas ao especificar os mais apreendidos aponta somente Ibama – Informa o número de autos envolvendo silvestres, mas nomes vulgares. Neste sentido, chama a atenção o percentual de soltura - 10% não detalha o total de animais apreendidos. Também deixa evidente o do total apreendido - pois se os animais não são corretamente identificados, desconhecimento a respeito das espécies mais apreendidas, pois relaciona como podem ser soltos? O percentual de óbitos também situa-se fora do genericamente passeriformes, psitacídeos; ofídios e mamíferos. Com parâmetro usualmente verificado em apreensões: somente 2%. Ao apontar relação à destinação dos animais, aponta genericamente que a “maioria” as dificuldades, lista todas, inclusive entraves na legislação, mas não assinala é encaminhada para o Cetas. falta de apoio governamental e nem falta de integração entre os órgãos. A falta de dados e ausência de coerência nas informações sugere que esta unidade do Ibama não possui controle sobre os animais retirados do tráfico que, cabe lembrar, são produtos de crime. E se o Ibama não consegue especificar quantos e quais animais apreende, e nem para onde são destinados, talvez o controle do tráfico esteja Animais retirados do comércio ilegal, após darem entrada em centros de triagem ou em criadouros, passam a ter uma origem definida, que permite o reencaminhamento para outra instituição. Daí a gravidade da ausência de controle sobre esses animais pelo próprio órgão fiscalizador. Ao especificar a estrutura do órgão, inclui no número de fiscais os policiais ambientais. Por fim, aponta praticamente todas as dificuldades listadas no questionário, sem apontar “falta de apoio governamental” e também não cita “entraves na legislação”. Surucucu (Lachesis muta) - Foto: DG Consultoria prejudicado no Estado. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 119 BAHIA Ibama – Apontou no questionário que o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) não funciona (“os órgãos ambientais do Estado e dos municípios não atuam plenamente neste setor, o que leva o Ibama a absorver um percentual muito elevado da demanda total do Estado”). Destaca ainda a falta de centros de triagem e afirma que os recursos destinados ao órgão para a fiscalização da fauna são “insuficientes”. O Ibama informa que 75% dos animais apreendidos são destinados aos Cetas existentes no Estado. No Cetas, o índice de soltura é bastante elevado: 65% dos animais. É preciso esclarecer se existem critérios técnicos para um número tão elevado de solturas, ou se elas se dão somente pela falta de local de Aparentemente, não existe qualquer critério, pois o próprio órgão afirma, como observação em seu questionário, que “a quantidade de animais apreendidos informada para o período (2001/2005) é aproximada, considerando que parte dos animais silvestres apreendidos é devolvida imediatamente à natureza, antes de ocorrer a catalogação dos mesmos, quando a situação assim exige. Quando isto ocorre, é registrado pela estimativa do total apreendido, sem a indicação precisa de suas espécies”, completa. 120 Douradinha (Tangara cyanoventris) - Foto: Zig Koch destinação. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Obs.: Se o Ibama não sabe o que está liberando para a natureza, existe o risco de introdução de espécies em áreas onde elas não ocorrem. Aparentemente, o percentual de animais que vêm a óbito é o mais elevado dentre os Estados, chegando a 38,6%. Isso porque, da apreensão até o destino (Cetas), morrem 22%; e, dos 75% que chegam ao Cetas, mais 22,25 % vêm a óbito. Ao elencar as dificuldades, cita apenas falta de pessoal, veículos, combustível e Cetas. Mesmo tendo se queixado que os órgãos do Sisnama não funcionam, deixou de apontar a falta de integração com os demais órgãos públicos ambientais. Polícia Ambiental – Não informa o número de autos de infração, nem o total de animais apreendidos, mas especifica, por exemplo, que exatos 24% foram soltos; e que 1% veio a óbito. Aliás, esse percentual de óbitos é extremamente baixo, porque a quantidade de animais perdidos nas apreensões normalmente é sempre maior. Na questão relativa às dificuldades enfrentadas pelas instituições, esta Polícia Ambiental aponta todos os itens, demonstrando uma postura coerente, pois se um órgão sente falta de praticamente tudo, certamente carece de apoio governamental. Obs.: Especificamente em relação a este Estado, um dado é bastante conflitante: o Ibama informa que 22% dos animais apreendidos vêm a óbito, enquanto a Coppa (Companhia de Polícia de Proteção Ambiental) relata que somente 1% morre, chamando a atenção o fato desta instituição não ter informado o total de animais apreendidos. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 121 RIO DE JANEIRO Ibama – mesmo contatado dezenas de vezes, e tendo participado do Workshop realizado no Estado, durante o desenvolvimento do projeto, não respondeu ao questionário. Polícia Ambiental - Os números relativos às espécies mais apreendidas surpreendem: a quantidade estimada dos répteis apreendidos, em 2º, 3º e 4º lugares, resume-se a uma iguana, uma jararacuçu e um jacaré-do-papo-amarelo. Em primeiro lugar, está o jabuti, com seis exemplares (espécie largamente traficada e apreendida nos outros estados). No caso dos mamíferos, em primeiro lugar vem o sagüi (espécie não identificada), com 12 exemplares; seguido por macaco prego, três; e bugio, dois. Na questão relativa às dificuldades enfrentadas pelas instituições, aponta apenas falta de integração com demais órgãos e cita falta de infra-estrutura, nem pessoal, nem apoio governamental, mas o número de animais apreendidos é o menor entre todas as polícias (3.549, em 2005). Apesar de informar que falta Cetas, 85% dos animais apreendidos têm este destino. 122 Bugio (Alouatta caraya) - Foto: Renctas falta de locais para destinar os animais. Esta Polícia Ambiental não D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r MINAS GERAIS Ibama – mesmo contatado dezenas de vezes, e tendo participado do Workshop realizado no Estado, durante o desenvolvimento do projeto, não respondeu ao questionário. Polícia Ambiental – Demonstrou grande coerência no preenchimento do questionário, com dados minuciosamente elencados, inclusive com percentuais relativos aos outros destinos dos animais apreendidos (incineração, fiel depositário, doação etc). Apesar de ser o único órgão a preencher todos os dados solicitados no questionário, com detalhes, evidenciou a falta de estrutura e apoio no combate ao tráfico de animais silvestres, pois elencou todos os itens na questão relativa às dificuldades enfrentadas pelas instituições, inclusive falta de apoio governamental. Esta instituição ainda apontou dificuldades de atuação junto à Polícia Rodoviária, revelando um dado gravíssimo: os policiais rodoviários são impedidos de fiscalizar veículos de cargas, passageiros e passeio, Suindara (Tyto alba) - Foto: Funpeb na BR-116, a não ser durante ações pré-programadas, e em locais préestabelecidos, sendo a BR-116 o principal eixo do tráfico na região, onde ocorrem mais de 60% das apreensões registradas. Aponta ainda a falta de biólogo ou profissional capacitado para a realização de exames, e emissão de atestado biológico/físico-sanitário no ato da apreensão e, ainda, informa que o sistema de distribuição de anilhas para criadores registrados no Ibama é um grande aliado do tráfico de animais no Estado. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 123 (20,1%). SÃO PAULO E quando se soma os percentuais relativos aos destinos dos animais apreendidos, a somatória é de 95%. O Ibama – Informa o número de autos, o número de animais apreendidos, mas não soube informar as espécies. O órgão diferenciou- Na questão relativa às dificuldades enfrentadas pelas instituições, se dos outros, ao criar uma listagem dos animais mais entregues são citadas a falta de integração com os demais órgãos públicos e a falta de espontaneamente pela população na instituição (mas somente na locais para destinar os animais. cidade de São Paulo). Neste sentido, é importante observar que os animais mais entregues pela população são justamente aqueles mais traficados, e também os mais comercializados em pet shops autorizados pelo Ibama. O percentual de óbitos também é reduzido: 5%; mesmo assim, ainda é 10 vezes superior ao apontado pela Polícia Ambiental do mesmo Estado. O Ibama São Paulo não se manifestou a respeito das dificuldades enfrentadas no combate ao tráfico de silvestres. Polícia Ambiental – O questionário não foi respondido não contempladas no relatório, não estão sendo encaminhadas visto serem de interesse estratégico-operacional interno deste comando”. Entre os itens deixado em branco estão, por exemplo, os itens mamíferos e répteis mais apreendidos. Já o índice de mortalidade de animais nas apreensões – 0,51% - apesar da aparente precisão, está totalmente fora de parâmetros, nestas situações, e em relação aos outros estados. Também merece destaque o elevado percentual de animais deixados com os autuados 124 Jabuti (Geochelone sp) - Foto: André Camilli Dias integralmente, e o órgão justifica-se: “as demais informações solicitadas, D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Quando se trata da fauna silvestre, falta tudo. ESTRUTURA INSTITUCIONAL PRECÁRIA – No geral, nota-se a falta de critérios no trato com a fauna silvestre por parte dos órgãos responsáveis por este patrimônio ambiental, agravada pela aparente falta de apoio dos governos Federal e estaduais. Os órgãos de fiscalização não dispõem de recursos humanos e materiais suficientes, e os funcionários, em sua maioria, não estão preparados para atuar com fauna. A forma com que os questionários Durante o processo de obtenção dos dados dos questionários, já ficou evidente a precariedade de alguns setores responsáveis pela fauna. Nenhum órgão conseguiu responder no prazo solicitado. Duas superintendências do Ibama, a do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, não responderam. Em contatos telefônicos, funcionários alegavam razões como: falta de pessoal, falta de um sistema informatizado que fornecesse as informações, falta de tempo, falta de sistematização do trabalho de fiscalização. Arara-canindé (Ara ararauna) - Foto: Roni Celestino foram preenchidos é uma grande evidência dessa situação. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 125 Por outro lado, faltam locais para depositar os animais, o que representa um grave entrave para a fiscalização – neste aspecto, é importante observar que o Decreto Federal 3.179/99, que regulamentou a lei de Crimes Ambientais (Lei Federal 9.605/98), prioriza a soltura como destinação de animais apreendidos pela fiscalização; mas o Governo Federal e governos estaduais, em sua grande maioria, continuam despreparados para o atendimento da referida legislação, uma vez que a soltura requer infra-estrutura de apoio e critérios técnicos bastante rigorosos. FISCALIZAÇÃO NÃO AGE; REAGE - Em alguns estados, o baixo número de autos emitidos reflete a não priorização da fiscalização relativa à fauna silvestre. Também ficou claro que a fiscalização é mais norteada por denúncias. No Estado do Espírito Santo, as residências são apontadas como locais de maior importância, entre aqueles onde mais se apreende animais silvestres. FALTA DE PESSOAL ESPECIALIZADO – Se as superintendências do Ibama e as polícias ambientais apontam grandes dificuldades estruturais, dificilmente estes órgãos dispõem de técnicos capacitados para manejar e destinar os animais apreendidos. Uma evidência da ausência de tais profissionais é a falta de identificação dos espécimes apreendidos, constatada em vários questionários. 126 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Borboleta-coruja (Caligo sp) - Foto: Vincent Kurt Lo D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 127 LIBERDADE OU CATIVEIRO: COMO SE DECIDE? - Se não existem comércio especializado e que usa como propaganda a “legalidade” técnicos capacitados para manejar a fauna silvestre, pressupõem- dos animais, os elevados números das apreensões apontam para a se que haja falhas nos critérios adotados para as solturas. Os dados intensificação do tráfico. relativos ao destino dado aos animais apreendidos evidenciam ainda uma falta de padronização do Ibama Federal em relação à CAPTURA, ESCOAMENTO, VENDAS. SÓ A AÇÃO PLANEJADA PODE SER destinação. EFICAZ – O Ibama e a Polícia Ambiental da maioria dos estados desconhecem os principais pontos de captura de animais silvestres, detalhes das vias de No item destinação, o Ibama do Estado de São Paulo destina 70% escoamento do tráfico, bem como os pontos de venda. Estas informações dos animais apreendidos para criadouros - índice altamente elevado são absolutamente imprescindíveis para que estes órgãos possam planejar se comparado aos números dos outros estados. Além desta destinação suas ações e realmente coibir a retirada de animais da natureza. Mas a não ser prioridade estabelecida por lei, os próprios técnicos do ausência de tais dados na maior parte dos questionários leva a crer que não Ibama admitem que o controle dos criadouros conservacionistas existe um trabalho de inteligência norteando as ações de fiscalização. e, sobretudo, dos comerciais é bastante complexo. Assim, animais retirados do comércio ilegal e depositados oficialmente podem vir a compor plantéis onde existam animais não regularizados. animais mais apreendidos pertencem às espécies historicamente mais presentes em residências, vítimas da retirada ilegal da natureza. Essas mesmas espécies, atualmente, podem ser adquiridas de forma legal, bem como outras que estão se tornando “moda”. Vale lembrar que a liberação quase indiscriminada das espécies passíveis de serem criadas para fins comerciais foi largamente justificada pelo Ibama, como forma de “conter o comércio ilegal de animais silvestres”. No entanto, apesar do modismo que leva à expansão do 128 Anta (Tapirus terrestris) - Foto: O Globo CRIME E LEGALIDADE, UM CÍRCULO VICIOSO - Em geral, os D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Iguana (Iguana iguana) - Foto: Roni Celestino Citar, por exemplo, “rodovias”, sem especificar quais são elas, não ÍNDICES DE MORTALIDADE DIVERGEM – a perda de animais contribui com a montagem de um mapa de rotas. Mesmo quando especificada nas apreensões é o item que mais gera respostas discrepantes a rodovia, não são citados os pontos mais prováveis, e isso é ainda mais no questionário, variando de 22% na Bahia a 0,51% em São Paulo grave no caso de rodovias federais que cortam os estados. Tanto quanto as (Polícia Ambiental). É certo que as condições da Polícia Ambiental vias de escoamento, conhecer os pontos de captura e de comercialização é paulista são melhores em relação às polícias da maior parte dos fundamental para o planejamento no combate ao tráfico. estados; mas, mesmo assim, uma discrepância tão grande não se justifica, principalmente porque nota-se maior índice de perdas Enquanto o tráfico age intensamente, os órgãos de fiscalização somente reagem, instigados por denúncias da população. no estado de origem do animal do que no estado onde ocorre a comercialização (São Paulo). D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 129 130 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Perereca (Hypsiboas albomarginatus) - Foto: Zig Koch WORKSHOP 5 O workshop destinado à consolidação do Diagnóstico do Tráfico de Animais Silvestres nos Corredores Central e Serra do Mar da Mata Atlântica, sexto de uma série, trouxe à tona, de forma bastante realista, a situação precária dos órgãos oficiais encarregados de zelar pela fauna brasileira, que somadas às dificuldades de integração entre as várias instâncias, apontam para a urgência do poder público, em todos os níveis, assumir suas responsabilidades na gestão deste recurso e fortalecer as estruturas das instituições. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 131 Libélula - Foto: Paulo J. Celestino 132 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? workshop realizado em São Paulo, dias 30 de novembro A coordenação do projeto apresentou aos grupos um e 1º de dezembro de 2006, reuniu representantes do roteiro único, contendo 30 perguntas. Depois do trabalho Ministério do Meio Ambiente, Ibama, polícias Federal, Rodoviária, realizado separadamente, os participantes foram reunidos em Militar Ambiental, Ministério Público Federal e Estadual, secretarias uma plenária, para consolidação dos resultados. O estaduais e municipais do Meio Ambiente, universidades, institutos e ONGs. Os participantes foram divididos em dois grupos de trabalho - As respostas dos grupos de trabalho, acrescidas pelas Corredor Central e Serra do Mar - e debruçaram-se, exaustivamente, contribuições da plenária, resultaram em um documento tão em questões destinadas a sanar dúvidas surgidas ao longo do projeto, esclarecedor que está disponibilizado na íntegra. explicar as lacunas dos questionários e embasar a elaboração de um Plano Estratégico de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres nos Corredores de Biodiversidade da Mata Atlântica. Cabe observar, que nem todas as questões geraram debate ou complementação, durante a plenária. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 133 Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? Quais foram os fatores que dificultaram o fornecimento das informações solicitadas no questionário? Existe alguma possibilidade de obtenção de informações específicas das áreas dos Corredores da Mata Atlântica? 1 CORREDOR SERRA DO MAR CORREDOR CENTRAL A primeira dificuldade apontada pelos órgãos ambientais, Polícia Militar, Ibama, Polícia Rodoviária Federal, foi a inexistência de um banco de dados que reúna as informações solicitadas. Também foi alegado pouco tempo para consulta aos arquivos de cópias dos autos de infração, que em geral formam pilhas de papéis. Questionário com perguntas fixas para as diferentes formas de ação contra o tráfico, falta de software e de pessoal para compilação dos dados. Além disto, o mesmo deveria ser respondido pela polícia em conjunto com o Ibama, e faltou capacitação prévia para preenchimento do questionário. Sim, a possibilidade de obtenção de informações focadas é possível através das instituições parceiras do Projeto Corredores Ecológicos, incorporando mais atores envolvidos. Foi destacado o perigo de se criar mais um sistema de dados, sem a necessária infra-estrutura logística (equipamentos e mão-de-obra) para lançamento dos dados. A falta de técnicos em número suficiente para identificar os animais apreendidos tem dificultado a coleta de dados mais precisos sobre as espécies e sua correta identificação. Entre as soluções sugeridas, tem-se: a) buscar viabilizar parcerias para a digitalização dos dados contidos nas autuações relativas à fauna silvestre, b) centralizar e sistematizar os dados decorrentes das autuações. PLENÁRIA Foi reafirmada a importância da existência de banco de dados informatizado relativo às autuações aplicadas pelos órgãos fiscalizadores, que facilitaria a busca de qualquer informação relativa, por exemplo, à repressão de crimes cometidos contra a fauna. Coordenadores do Projeto Diagnóstico lembraram que, durante o workshop, foi apresentado o banco de dados que atende à demanda relativa à fauna, e funcionários das instituições foram treinados para operar o sistema. 134 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? 2 Quais fatores norteiam as ações de fiscalização envolvendo fauna silvestre? CORREDOR CENTRAL As condutas são, em sua maioria, reativas, atendendo a denúncias formuladas pela população. A Polícia Militar de Minas Gerais afirmou que são realizadas ações de inteligência, mas poucas. As denúncias e a demanda provocada pela sazonalidade, constituída pelo turismo, períodos festivos, ou épocas de reprodução da fauna silvestre. Sagui-da-serra-escuro (Callithryx aurita) - Foto: André Camilli Dias CORREDOR SERRA DO MAR PLENÁRIA Proposta de trabalho de inteligência dentro e entre os órgãos envolvidos na repressão ao tráfico (alguns órgãos, como a Polícia Federal, estão mais preparados para atuarem sozinhos ou em conjunto com outros; mas este preparo deve estender-se a todos os envolvidos). D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 135 Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? Numa ação fiscalizatória, quais os órgãos envolvidos nas diferentes etapas e qual a atuação dos mesmos? Surgem dúvidas quanto à competência e/ou atribuições das diferentes instituições? 3 CORREDOR SERRA DO MAR CORREDOR CENTRAL O Ibama de Minas Gerais relatou a inexistência de uma normatização específica de âmbito estadual que regulamente a atuação fiscalizatória (poder de polícia) e de fixação de multas. Na Bahia, em denúncias, constatações e autuações atuam: Ibama, OEMAs, OMMA e polícias. Já no Espírito Santo, os órgãos municipais não atuam. Não foi manifestada dúvida quanto às competências dos vários órgãos. O Município de São Paulo está se preparando para atuar na fiscalização conjunta, através da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. Ministério Público: denúncia, processo administrativo, civil e criminal. As dúvidas quanto ao Espírito Santo são minimizadas pelas atribuições específicas previstas no Pacto Federativo. Na Bahia, há conflito em relação às ações isoladas e em relação às competências da Polícia Civil e aos órgãos estaduais e municipais de meio ambiente. O dr. Vinicius Leal Cavalleiro, promotor de Justiça do Rio de Janeiro, fez uma explanação sobre a divisão de competências entre os entes integrantes do Sisnama. PLENÁRIA Foi destacado que os órgãos da esfera administrativa parecem mais empenhados em realizar o licenciamento ambiental de empreendimentos, do que em atuar no combate a ilícitos contra a fauna. 136 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? 4 Como tem sido o papel da Polícia Federal e da Polícia Civil na repressão ao tráfico de silvestres? CORREDOR SERRA DO MAR CORREDOR CENTRAL A Polícia Federal realiza operações de fiscalização anuais, como a Rosa dos Ventos e outras de inteligência, incluindo questões de tráfico internacional. A Polícia Civil possui atuação precária por motivos de falta de capacitação e de instrumentalização (criação formal), baixo efetivo, desinteresse pelos crimes ambientais. A Polícia Federal é efetiva em relação às investigações de crimes ambientais, assim como na execução de ações pontuais das mesmas. A Polícia Civil não estava representada na reunião. (*) * Foi convidada e não mandou representante. Reafirmou-se a importância do documento gerado a partir das discussões do workshop, para que cada órgão envolvido possa cobrar ações relativas às suas atribuições frente aos crimes ambientais. PLENÁRIA Exemplo: o Ministério Público deverá cobrar ações frente aos crimes Propõem-se o envolvimento da Policia Civil, por intermédio das ambientais. Enfim, o documento gerado pelo projeto em questão deve academias de polícia, visando qualificar os delegados em formação. Um ser utilizado estrategicamente pelos participantes do workshop visando a dos caminhos sugeridos foi a provocação das respectivas secretarias de implementação das propostas nele contidas. Segurança Pública para viabilizar tal mudança. Na Polícia Federal, a necessidade de trabalhar com a fauna já está incorporada, principalmente dentro das delegacias de repressão aos crimes ambientais. Foi destacada a necessidade de estruturação financeira e de pessoal para que a capacitação seja viabilizada. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 137 Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? 5 Quais os problemas enfrentados quando as ações de fiscalização ocorrem de forma satisfatória, resultando em grande número de animais apreendidos? CORREDOR SERRA DO MAR CORREDOR CENTRAL Entre os problemas citados tem-se: a) o reduzido número de Cetas; b) dificuldades de readaptar e destinar, adequadamente, os animais apreendidos; c) inexistência de assistência veterinária aos animais apreendidos; d) dificuldade no manejo dos animais entre a apreensão e a destinação; e) o grande número de procedimentos gerados com as autuações. Autuar na delegacia os infratores (falta de estrutura das delegacias) e a falta de locais para destinação dos animais apreendidos (ex: Infratores sendo fiéis depositários e a morte de animais apreendidos por falta de estrutura para recepção destes). Entre as soluções sugeridas: implantação dos projeto ASAS (Áreas de Soltura de Animais Silvestres), do Ibama, e do projeto ASM – Áreas de Soltura e Monitoramento, do Ibama de São Paulo. PLENÁRIA Este item gerou inúmeras manifestações, sobretudo porque no dia anterior (30 de novembro de 2006), o Conama aprovou a Resolução do à qual regulamenta (Lei Federal 9.605/98). Teoricamente, portanto, quando um animal é deixado com o infrator, comete-se uma ilegalidade – conduta não prevista na lei. Termo de Guarda Doméstica de Animais Silvestres. Com a nova resolução do Conama, a prática deve tornar-se 138 A permanência do animal apreendido com o infrator, possibilitada corriqueira, gerando críticas por parte dos promotores de Justiça pelo Decreto 3.179/99, já gera enorme polêmica, pois ao abrir esta presentes, representantes de ONGs e até mesmo de servidores do possibilidade, o referido decreto acrescentou medida não prevista na Lei próprio Ibama. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? A maioria deixou evidente o temor de que a possibilidade de “guarda existe; em geral eles sofrem por manejo inadequado, recintos impróprios doméstica” estimule ainda mais a retirada de animais da natureza e ainda e alimentação errônea. A manutenção de algumas espécies de silvestres cause um efeito anti-educativo. em cativeiro é quase impossível, ocasionando a morte dos animais. Outro ponto lembrado foi o risco de transmissão de zoonoses, uma vez que a O coordenador Geral da Renctas, Dener Giovanini, manifestou-se maioria das doenças dos silvestres ainda é desconhecida. duramente contra a aprovação da Resolução para Concessão do Termo de Guarda para Animais Silvestres, e pretende recorrer ao Ministério Público Foi salientada novamente a necessidade de construção de mais Federal contra a medida. Um dos pontos frisados foi o fato de até mesmo Cetas, mas isso não resolverá o problema, uma vez que a retirada de técnicos experientes do Ibama de todo o Brasil terem se posicionado animais da natureza deve ser reprimida na origem. Por outro lado, a contrariamente à medida, o que não foi suficiente para a direção do Ibama ampliação do número de Cetas pode até ser viabilizada pelo governo, recuar em seu propósito de entregar os animais silvestres aos chamados desde que não se incluam particulares, onde interesses privados podem guardiões domésticos, indiscriminadamente. Para o coordenador da Renctas, desviar a finalidade da destinação dos animais, dada a limitada capacidade a medida pode, sim, estimular a retirada de silvestres da natureza. Até por de controle governamental. isso, durante todo o processo de discussão da resolução, a Renctas tentou evitar que a mesma prosperasse, apelando inclusive à ministra do Meio Ambiente, autoridade contrária à guarda doméstica. Agora, a esperança é que a Justiça barre esta medida considerada ilegal e inconstitucional. Um técnico do Ibama de São Paulo frisou que “é preciso pensar na conservação e não em um indivíduo”, portanto não tem cabimento defender a guarda doméstica em nome do possível bem-estar de um ou dois animais, quando esta prática pode estimular a retirada de indivíduos da natureza, comprometendo a conservação das espécies. Foi frisado ainda que o alegado “bem-estar” de um animal em cativeiro doméstico sequer D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 139 Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? Existe apoio técnico para identificar as espécies e avaliar o estado zôo-sanitário dos animais apreendidos? Quem fornece este apoio? Qual o procedimento adotado no caso de animais doentes ou feridos e que necessitam de socorro imediato? 6 CORREDOR SERRA DO MAR CORREDOR CENTRAL Em Minas, ocorre de forma deficitária. No Rio de Janeiro, existe um corpo técnico do batalhão ambiental. A Polícia Federal possui corpo técnico próprio. A Polícia Civil e os outros batalhões não possuem corpo técnico próprio. A identificação das espécies é feita pela equipe de fiscalização que possui relação das espécies mais comuns e larga experiência prática. Quando há um analista ambiental veterinário/biólogo, este dá apoio à fiscalização do Ibama. Eventualmente, na ausência de técnicos, o auxílio vem de instituições de ensino/pesquisa, ONGs ambientalistas e zôos. Em relação ao estado zôo-sanitário, as medidas ficam restritas aos Cetas, porém de forma superficial e precária, demandando custo para exames e pessoal qualificado. Foi sugerido o uso de agentes ambientais voluntários do Ibama, em apoio às ações de fiscalização para atendimento mais imediato, o que se mostrou impossível em face dos entraves legislativos existentes. Assinatura de convênios com entidades científicas, aparelhamento dos órgãos de fiscalização (contratação de técnicos), capacitação dos policiais militares, pelo Ibama, além de parcerias com municípios e suas secretarias de Meio Ambiente. PLENÁRIA Ficou evidente que todos precisam ser capacitados em todos os órgãos. Sugere-se convênios com institutos de pesquisa e universidades para que ocorra a capacitação dos agentes ambientais. Sugere-se também a produção de materiais de consulta (manuais), com inclusão de bibliografia especializada. 140 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? 7 Existem critérios para a destinação dos animais apreendidos? Quais? Em qual instância estes critérios são estabelecidos? CORREDOR CENTRAL Existem critérios definidos pela Lei Federal 9.605 e pelo Decreto Federal 3.179, entretanto, verificou-se que há necessidade de regulamentação das destinações previstas. O Ibama informou que existe uma instrução normativa sendo elaborada a respeito do tema. Sim, a própria legislação, sendo na prática o principal destino dos animais o Cetas, tanto no Espírito Santo quanto na Bahia, ou soltura, quando em bom estado de saúde e procedentes da região onde foram encontrados (Polícia Ambiental da Bahia). Entretanto, há carência de Cetas nos dois estados, agravada pelo constante aumento de número de animais apreendidos. Cuica - Foto: O Globo CORREDOR SERRA DO MAR PLENÁRIA Foi observado que algumas instituições não atendem à Legislação, pois não se prioriza a soltura, nem o envio para Cetas; a prioridade fica com os criadouros, em geral, comerciais. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 141 Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? Qual o tempo médio de permanência dos animais sob a responsabilidade dos agentes de fiscalização até a destinação? 8 CORREDOR SERRA DO MAR O Ibama informou que os animais ficam em média menos de 12 horas com a fiscalização, salvo nos finais de semana, quando não há plantão. CORREDOR CENTRAL No Ibama do Espírito Santo, a destinação é imediata ou em até 4 horas, pela falta de estrutura em manter tais animais. Na polícia ambiental do mesmo estado, a permanência é de até 5 dias (através de viveiros de passagem), a menos que o animal esteja com a saúde precária. Na Bahia, tanto para a polícia ambiental como para o Ibama, a média é de até 4 horas, nas regiões metropolitanas; entretanto, no interior do Estado pode variar de 2 a 8 dias para a destinação dos animais apreendidos. É importante ressaltar que se deixa de atender outras demandas, também urgentes, para destinar o mais rápido possível tais animais e daí a necessidade de uma estrutura específica para destinação (Cetas, veículos e pessoal). 142 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? Existem centros para a recepção dos animais apreendidos? Especificar o número e a qual instituição pertence. 9 CORREDOR SERRA DO MAR Ibama possui quatro Cetas, em Minas; quatro em São Paulo; e um no Rio de Janeiro. Existem outras instituições, não relacionadas no momento. Gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) - Foto: André Camilli Dias CORREDOR CENTRAL O Espírito Santo dispõe de um Cetas (Cereias), que é o principal destino de mais de 90% da fauna apreendida - um pronto-socorro de animais silvestres, que atende a região norte do Estado (FLONA Rio Preto, em Pinheiros) e um Centro de Reabilitação de Rapinantes em Itaúnas (município de Conceição da Barra). Na Bahia, há em funcionamento um Cetas em Vitória da Conquista e outro em Salvador; além de outro, em implantação, em Porto Seguro. Fora da área do Corredor Central, estão em fase de implantação mais três Cetas: em Barreiras, Sobradinho e Paulo Afonso. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 143 Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? O Ibama mantém o controle dos animais depositados e das instituições que os recebem? 10 CORREDOR SERRA DO MAR Sim. CORREDOR CENTRAL Sim, em relação aos Cetas, entretanto, o controle físico não é efetivo em relação aos criadouros e fiéis depositários (apenas a parte de registro cartorial). Como se define a possibilidade de um infrator permanecer com os animais, após a autuação? 11 CORREDOR SERRA DO MAR Tem sido observado o disposto no Decreto Federal 3.179/99, conduta que não mantém sintonia com a Lei Federal 9.605/98, regulamentada por este decreto; situação que precisa ser revista. CORREDOR CENTRAL Através das circunstâncias operacionais, quando se conclui pela impossibilidade das destinações acima discutidas (soltura, Cetas, criadouros, etc). PLENÁRIA PLENÁRIA 144 Novamente, foi lembrado que a permanência do animal apreendido Foi observado que o controle não é efetivo em relação aos animais, com o infrator, possibilitada pelo Decreto Federal 3.179/99, pode ser mas apenas à documentação. Quer dizer, um animal é depositado, mas pode considerada ilegal, já que esta conduta não existe na lei à qual este ser substituído por outro da mesma espécie, uma vez que praticamente Decreto regulamenta – Lei Federal 9.605/98, a Lei dos Crimes Ambientais. não são empregados sistemas de marcação. O acompanhamento do animal Teoricamente, portanto, quando um animal é deixado com o infrator, é muito complicado na maior parte dos estados. comete-se uma ilegalidade – conduta não prevista na lei. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? 12 No caso de solturas imediatas, quais os critérios técnicos adotados e quem se responsabiliza pelo procedimento? CORREDOR SERRA DO MAR CORREDOR CENTRAL Somente são soltos os animais encontrados em armadilhas no meio das áreas de fiscalização. O critério é superficial e empírico, pelo estado aparente de saúde e pelo estado de amansamento do animal. No caso do Ibama, a responsabilidade é da equipe de fiscalização; no caso das polícias ambientais, não há quem se responsabilize pela soltura. Há ainda apreensões não formalizadas que resultam em solturas indiscriminadas (ex: na Bahia, há a soltura de animais oriundos de feiras livres pelas secretarias municipais de meio ambiente sem qualquer critério). PLENÁRIA Foi observado que a informação do grupo da Serra do Mar (soltura imediata somente de animais encontrados em armadilhas), aparentemente, não corresponde com os dados apresentados na tabela Destaques dos Questionários Aplicados à Polícia Ambiental e Ibama, pois o índice de soltura dos estados é elevado. De mais a mais, a grande maioria dos animais resgatados é proveniente do tráfico e não encontrado em armadilhas. Foi lembrado que, diante das dificuldades de identificação das espécies pelas equipes de fiscalização, as solturas imediatas não podem ser recomendadas. A menos que o animal, comprovadamente, tenha sido recém-capturado. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 145 Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? 13 Qual o destino dos animais que vêm a óbito durante o processo de fiscalização? Como se explica a grande diferença entre índices de perdas? CORREDOR SERRA DO MAR CORREDOR CENTRAL O animal que vem a óbito é registrado e só é periciado (fica armazenado em freezer) por solicitação judicial e em casos de desastres ambientais. No Espírito Santo, é registrado em um livro da própria corporação, ao contrário da Polícia Ambiental da Bahia, que não realiza este tipo de registro. Os animais mortos são entregues aos Cetas, pela Polícia Ambiental e pelo Ibama. No Ibama e Polícia Ambiental do Espírito Santo, são encaminhados às instituições de ensino/pesquisa para necrópsia e taxidermia ou encaminhados para incineração. A diferença pode ser explicada pelos óbitos terem sido catalogados nas unidades de maneira diferente umas das outras. No caso da Bahia, devido ao grande espaço territorial do Estado para destinação dos animais apreendidos. PLENÁRIA Foi indicado que as carcaças deveriam ser melhor aproveitadas pelas universidades, reduzindo a necessidade de captura de animais da natureza. E foi destacado que: “em escala nacional, a diferença entre o número de animais apreendidos e destinados para Cetas muitas vezes chega à casa dos milhares”. O banco de dados permitiria dar a exata noção do que ocorreu com os animais apreendidos, até a destinação final. O investimento em capacitação pessoal e infra-estrutura contribuiriam para a redução do índice de óbitos de animais. 146 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? Os órgãos empregam trabalho de inteligência para nortear ações de combate ao tráfico ou estas acontecem somente mediante denúncias? 14 CORREDOR SERRA DO MAR A regra é agir reativamente. Poucas são as ações planejadas. Tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus) - Foto: Funpeb CORREDOR CENTRAL Polícia Ambiental/BA: não há para os crimes ambientais. Polícia Ambiental/ES: existe trabalho de inteligência para caça e tráfico, em conjunto com a Polícia Federal, mas não é usado rotineiramente. Ibama/ BA: conta com auxílio do núcleo especial de investigação de crimes ambientais de Brasília, porém é pontual e incipiente. Ibama/ES: não existe trabalho de inteligência, somente trabalhos com denúncias. PLENÁRIA Sugeriu-se a realização de ações de fiscalização integrada, envolvendo todos os órgãos, concomitantemente. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 147 Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? No questionário foi apontada a dificuldade da fiscalização junto às rodovias federais. Qual a participação dos policiais rodoviários na repressão ao tráfico de animais silvestres? Eles atuam rotineiramente contra este crime? 15 CORREDOR SERRA DO MAR CORREDOR CENTRAL A Polícia Rodoviária Federal destina 10% de seu tempo de ações ao combate contra crimes ambientais. Existe disciplina de legislação ambiental no curso de formação dos policiais, e algumas iniciativas de parcerias para capacitação ambiental mais ampla. Ibama e Polícia Ambiental da Bahia afirmam que a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Rodoviária Estadual atuam de forma satisfatória, apreendendo e registrando as infrações. Ibama e Polícia Ambiental do Espírito Santo dizem que não possuem parcerias com a Polícia Rodoviária Federal; no caso da Rodoviária Estadual, esta parceria não ocorre, uma vez que, afirmam, o tráfico está mais presente nas rodovias federais. A polícia rodoviária estadual não tem competência para fiscalizar, rotineiramente, nas rodovias federais. Somente mediante prévio agendamento. PLENÁRIA Foi destacada a proibição de policiais estaduais atuarem em rodovias federais, sem a permissão da Polícia Rodoviária Federal, na região do Corredor Central. Ressaltou-se a falta de apoio entre as instituições; muitas vezes elas ainda agem trocando ofícios. O representante do Ministério Público da Bahia destacou que a repressão ao tráfico deve ser feita "de ofício" e não "por ofício". 148 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? Como a Polícia Federal vem atuando na repressão ao tráfico de animais nos estados em questão? 16 17 O que deve ser aprimorado na estrutura dos órgãos? CORREDOR SERRA DO MAR CORREDOR SERRA DO MAR Sugestão: disseminação de capacitação para as secretarias municipais de Meio Ambiente. A Polícia Federal realiza operações de fiscalização anuais, como a Rosa dos Ventos, e outras de inteligência, incluindo questões de tráfico internacional. CORREDOR CENTRAL CORREDOR CENTRAL Na delegacia especializada em meio ambiente da Polícia Federal/ BA, há um trabalho pontual e de grande destaque (nos últimos três meses, atuou com demanda própria, sem a necessidade do Ibama repassar atividades). No Espírito Santo, ação pontual, destacando-se a Operação Rosa dos Ventos (junho/05) e Operação Silvestre (outubro/06) Tudo: integração entre os órgãos públicos; recursos para equipamentos, infra-estrutura, espaço físico, centros de triagem; pessoal, capacitação e o próprio apoio governamental (política pública voltada para o tráfico de animais, neste caso). PLENÁRIA Sugere-se a incorporação de aspectos relacionados ao controle do tráfico de animais silvestres, no programa nacional de capacitação de gestores ambientais do Ministério do Meio Ambiente. Foi destacada a possibilidade de contato com a Anamma – Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente - e com as Oema – Órgãos Estaduais de Meio Ambiente. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 149 Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? Ao responder sobre as dificuldades enfrentadas, a maioria apontou falta de quase tudo, mas sem citar a falta de apoio governamental. Quando ele existe, como se justificam as dificuldades? 18 CORREDOR SERRA DO MAR Normalmente existe apoio institucional, porém, sem apoio governamental. CORREDOR CENTRAL Batuqueiro (Saltator atricollis) - Foto: Vincent Kurt Lo Não existem políticas públicas para a gestão ambiental, sendo a fauna a mais esquecida dentro do meio ambiente. 150 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? Um ponto bastante abordado foi a falta de integração entre as instituições. Como isso reflete no combate ao tráfico? Como integrar as instituições? 19 CORREDOR SERRA DO MAR Criação de grupos de estudos interinstitucionais, realização de reuniões, agendamento de ações conjuntas e criação de uma força tarefa permanente. O tráfico está organizado e os órgãos de fiscalização, não. Intensificar os contatos interpessoais previamente tem se demonstrado mais eficaz, que impor convênios de cima para baixo. Exemplos de ações integradas bem sucedidas: Correios e Ibama de São Paulo; e órgãos ambientais do Rio de Janeiro. CORREDOR CENTRAL Como os órgãos estaduais e municipais integrantes do Sisnama vêm contribuindo no combate ao tráfico de animais? 20 CORREDOR SERRA DO MAR Muito pouco. CORREDOR CENTRAL Na Bahia, as secretarias municipais e a estadual mostram desinteresse em relação ao tema, e não existem ações específicas. O mesmo acontece nas secretarias municipais do Espírito Santo. Neste estado, a secretaria estadual promove ações educativas contra o tráfico de animais silvestres, encaminhamento de denúncias, processo de planejamento participativo (grupo de trabalho para gestão da fauna em conjunto com outras instituições), e é responsável pela coordenação estadual do projeto Corredores Ecológicos, do Ministério do Meio Ambiente Ações isoladas refletem baixa efetividade, existe conflito de competências, e desconhecimento de resultados de ações de outras instituições. A integração pode ser efetivada através de treinamentos conjuntos e da troca de experiências entre as instituições, além de outras medidas. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 151 Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? 21 Quais são os entraves na legislação e como enfrentá-los? CORREDOR SERRA DO MAR Muitos entraves; entre as sugestões: Correção dos termos do Decreto Federal 3.179/99, no que se refere à destinação de animais silvestres. Regulamentação sobre a reprodução de animais comprados com nota fiscal. CORREDOR CENTRAL Criar um tipo legal específico para o tráfico de animais silvestres, portanto que não tenha o mesmo tratamento dos crimes de menor potencial ofensivo. PLENÁRIA Foi reiterada a posição levantada pelos grupos relativa à Criação de núcleos de inteligência e convênios com entidades de pesquisa e manejo, oficiais e privadas. Criar um tipo penal específico, estabelecendo critérios com relação ao tráfico. Melhorar o controle sobre os biotérios, pois os animais servem de alimento tanto para os animais regularizados, como para os advindos do tráfico. Criar tipos legais (penais e administrativos) de proteção à fauna exótica introduzida no País, prevendo tipo penal pelo uso inadequado e/ou irregular do animal e criando mecanismos de controle sobre o uso e exposição de animais exóticos. Além disso, a criação de um cadastro nacional, que deve ser iniciado com um censo dos animais já introduzidos no Brasil. 152 necessidade premente de tipificar penalmente o tráfico de animais silvestres, de forma a evitar que esta atividade criminosa receba os benefícios da Lei Federal 9.099 (Lei do Juizado Especial Criminal). O tão discutido tráfico de animais, segundo os promotores de Justiça, não existe no Brasil, uma vez que não está tipificado em lei. Levantou-se, ainda, a possibilidade de instituir a delação premiada na esfera administrativa, para pessoas que contribuam na identificação de traficantes de animais. Deixou-se evidente que em geral os órgãos estaduais e municipais atuam mediante convênio com o Ibama; mas em ambas as esferas, podem atuar em seu próprio nome, bastando haver legislação pertinente. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? Foi sugerido resgatar, junto ao Conama, o Projeto de Lei de Proteção à Fauna, elaborado anos atrás, com contribuições de juristas e O Ibama de um dos estados apontou a existência de um grande número de animais entregues espontaneamente pela população. Isso ocorre em todos os estados? São animais ilegais, comprados de criadouros, ou de lojas registradas no Ibama? Qual o destino dado aos mesmos? 22 ambientalistas de todo o Brasil, sob a coordenação das OABs estaduais, em substituição à Lei Federal 5.197/67. Tal projeto não chegou a tramitar no Congresso Nacional, pois na época autoridades do Ibama alegaram que o Brasil ia ganhar a Lei de Crimes Ambientais, como de fato aconteceu, mas sem contemplar a fauna de forma abrangente conforme era previsto no projeto de lei específico. CORREDOR SERRA DO MAR Ocorre em todos os estados, porém não há anotação de dados quanto à origem dos animais. A destinação tem sido o envio ao Cetas, em sua grande maioria, o que não se mostra ideal, porém, é o possível. CORREDOR CENTRAL Borboleta - Foto: Roni Celestino Na Bahia, não ocorrem entregas espontâneas em grande número; ao contrário do Espírito Santo, onde a prática existe. Em geral, nos dois estados, são animais ilegais, destinados principalmente para os Cetas. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 153 Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? Os questionários evidenciaram que muitas espécies listadas entre as mais traficadas são as mais comercializadas legalmente. Isso ocorre em todos os estados? Como explicar? 23 Como a fragmentação do bioma influi no tráfico de animais silvestres? 24 CORREDOR SERRA DO MAR Não há dados disponíveis. CORREDOR SERRA DO MAR CORREDOR CENTRAL O Ibama de Brasília informou que a regra tem sido encontrar irregularidades nos criadores comerciais. A experiência tem demonstrado que os criadores comerciais e amadoristas não têm contribuído para a diminuição da captura; eles têm servido como entreposto do tráfico, “esquentando” filhotes, falsificando documentação e anilhas. A fragmentação proporciona uma maior cobiça em relação às espécies animais, tornando a fauna mais suscetível, pelo maior acesso de pessoas ao bioma. Com a fragmentação, os animais acabam deixando seu habitat em busca de novos espaços. Ou seja, quanto mais se fragmenta um bioma, mais difícil se torna a preservação da fauna. Foi destacado que alguns animais silvestres não permitem manejo, por não se reproduzirem em cativeiro, como tucano-de bico-verde e trinca-ferro. Soluções sugeridas ante a dificuldade de se extinguir os criadores e dar destinação aos animais: a) melhoria do controle sobre os criadores comerciais e amadoristas; b) criação do banco de amostras genéticas. CORREDOR CENTRAL Com a legalização do comércio, a tendência esperada era a diminuição do tráfico; mas ocorreu o contrário. Tal situação pode ser atribuída à falta de fiscalização dos criadouros comerciais: 20.000 criadores amadoristas são fiscalizados por sete técnicos do Ibama e seis servidores do núcleo de fauna no Espírito Santo. O que acontece é “esquentamento” de animais silvestres nos criadouros. 154 A conexão por corredores ajuda a evitar a retirada de animais da natureza? Citar exemplos. 25 CORREDOR SERRA DO MAR Não há dados disponíveis. CORREDOR CENTRAL Evita a retirada, desde que haja monitoramento e fiscalização efetivos nas áreas de corredores, e uma conscientização dos proprietários de áreas ao redor dos corredores de biodiversidade. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? Citar projetos de pesquisa voltados para as espécies da Mata Atlântica envolvidas no tráfico. Existem projetos de pesquisa envolvendo espécies traficadas não ameaçadas de extinção? Quais? 26 CORREDOR SERRA DO MAR O Cetas-RJ mantém convênio com a UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) para o desenvolvimento de protocolos de atendimento e pesquisa, sobre as condições dos animais apreendidos do tráfico. CORREDOR CENTRAL O Ibama/ES tem parceria com a Universidade de Vila Velha em pesquisas envolvendo doenças de aves e mamíferos e seus impactos em futuras solturas. Existem pesquisas da Aliança para a Mata Atlântica (Conservação Internacional e SOS Mata Atlântica) com macaco-pregodo-peito-amarelo, mico-leão-da-cara-dourada, mutum, macuquinho, muriqui, papagaio chauá, envolvendo as seguintes instituições: Ipema, IESB, UESC e Idéia Ambiental. Tatu-peba (Euphractus sexcinctus) - Foto: Vincent Kurt Lo Foram citados projetos de pesquisa sobre a preguiça e o micoleão-dourado. O Ibama de São Paulo, em convênio com a Unesp, está desenvolvendo projetos visando a criação de um banco para tipagem e comprovação de paternidade dos animais em cativeiro. Há problemas com relação aos altos custos do projeto. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 155 Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? 27 Como o Ministério Público atua no combate ao tráfico de animais silvestres e na conservação da Mata Atlântica, nos cinco estados envolvidos no projeto? CORREDOR SERRA DO MAR Em São Paulo, o Ministério Público Estadual tem desenvolvido um trabalho pró-ativo na proteção das áreas de preservação da Mata Atlântica, entretanto, não existe um trabalho específico de proteção à fauna ou ao combate ao tráfico de animais silvestres. No Rio de Janeiro, o Ministério Público Estadual, através de núcleos, promove a defesa dos direitos do cidadão, porém atendendo somente a parte cível e, portanto, não há um programa pró-ativo de combate ao tráfico, na parte penal, em função da ausência de dados sobre o dano ambiental causado nessa área. Foram citados projetos de reparação cível de desmatamentos. Em Minas Gerais, como nos outros estados, há uma ação intensa na conservação da Mata Atlântica, mas quanto ao tráfico não se tem nenhuma ação específica de combate. Quanto à manutenção de animais em cativeiro, foi desenvolvido um projeto, chamado Pássaros. O procurador da República em São Paulo faz gestões para a elaboração de uma planilha de custos de retorno do animal à natureza, em conjunto com o Ibama. O Ministério Público Federal assinou termo técnico de cooperação com o Funbio (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade) para destinar recursos para a Fauna. 156 Os promotores de Justiça sugeriram: 1) a criação de um tipo penal específico para o tráfico de animais, com rito fora do Juizado Especial; 2) a criação de um grupo virtual de estudo pela internet para formação de um banco de dados sobre a atuação das promotorias de meio ambiente e dos órgãos ambientais; e 3) cobrar dos municípios uma fiscalização mais intensa das feiras-livres, com várias irregularidades administrativas e ligadas a outros crimes. CORREDOR CENTRAL O Ministério Público Estadual da Bahia exerce uma ação pontual, sendo que cada promotor atua de forma própria; é possível a formação, no próximo ano, de um grupo especializado para combate ao tráfico de animais silvestres, que atuará com o núcleo de inteligência do Ministério Público Estadual, e de um grupo de investigação contra o crime organizado; além de existir um promotor específico para assuntos da Mata Atlântica e do repasse de recursos pelo Projeto Corredores Ecológicos, através de um convênio. O Ministério Público do Espírito Santo realiza ações pontuais com o Centro de Apoio ao Meio Ambiente, além da criação, em 2006, de grupo para meio ambiente que atuará em conjunto com o grupo de repressão ao crime organizado (não há um grupo específico para o tráfico de animais). D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? O Art. 2º, § 6º, inciso X, do Decreto 3.179, de 21 de setembro de 1999, que regulamentou a lei 9.605, de 12 de fevereiro de 98, determina que as cópias dos autos de infração envolvendo animais, produtos e subprodutos sejam entregues ao Ministério Público. Esta determinação está sendo cumprida? E qual o encaminhamento dado pela Instituição? 28 CORREDOR SERRA DO MAR Tem sido encaminhado ao Ministério Público Estadual e Federal, conforme o crime, seguindo o procedimento de passar pela fiscalização, administração e MP, à exceção de ações desenvolvidas em conjunto por vários órgãos. Como o Ministério Público e a Polícia Federal encaram a criação do banco de dados? 29 CORREDOR SERRA DO MAR A Polícia Federal tem restrição ao compartilhamento de dados com entidades privadas. O Ministério Público entende que deva haver uma unificação, por entidade pública, dos vários órgãos do Sisnama para compartilhamento e cruzamento de dados. CORREDOR CENTRAL A criação deste banco de dados é considerada pelo Ministério Público de fundamental importância para o combate ao tráfico de animais silvestres (favorável). CORREDOR CENTRAL Sim, os encaminhamentos são o oferecimento direto de denúncia criminal, remessa para o juizado (menor potencial ofensivo) e, quando há elementos suficientes na denúncia, encaminha-se para a delegacia, para instauração de inquéritos e, por último, eventuais ações civis. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 157 Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? 30 A quem compete o gerenciamento do banco de dados; quais as instituições que devem alimentá-lo e quais podem ter acesso às informações? CORREDOR SERRA DO MAR CORREDOR CENTRAL O Ibama seria o órgão mais adequado ao gerenciamento dos dados, porque tem atuação nacional. O gerenciamento pode ser realizado pela Renctas, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente. Seriam instituições alimentadoras todos os parceiros do projeto do banco de dados. O acesso aos dados estratégicos seria garantido, de forma ampla, aos órgãos alimentadores; e de forma restrita (com filtros), ao público em geral. PLENÁRIA Quanto à proposta do banco ser administrado pela Renctas e Foi reconhecida a importância do banco de dados como uma Ministério do Meio Ambiente, foi feita a ressalva de que esta atribuição ferramenta de controle das informações sobre os ilícitos cometidos contra não é do MMA, mas sim do Ibama, que é o órgão executor da Política a fauna, porém permaneceu a dúvida a respeito de qual instituição assumirá Nacional de Meio Ambiente. a administração do banco. O Ibama admite assumir a responsabilidade, 158 desde que haja normatização (por exemplo, uma resolução do Conama) O Ibama afirmou que a implantação do banco significaria mais e entende que todos os órgãos do Sisnama são potenciais instituições trabalho para os técnicos, que já alimentam outros bancos (SIFISC e alimentadoras do banco. SICAF), e também aventou a possibilidade de ocorrer duplicidade de D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Em meio a tantas dificuldades, como proteger a fauna? dados entre estes bancos e o novo, relativo somente aos ilícitos cometidos GRUPO CORREDOR SERRA DO MAR contra a fauna. Técnicos responsáveis pela criação do sistema informaram Coordenadores: que o banco de dados, idealizado para a fauna, foi projetado de forma a dra. Vânia Maria Tuglio, promotora de Justiça / Ministério Público permitir a migração dos dados para outros sistemas. Foi também salientado do Estado de São Paulo e dr. Vinícios Leal Cavalleiro, promotor de que apenas alguns campos seriam duplicados, uma vez que o sistema foi projetado para receber e abrigar informações que não existem em nenhum Justiça / Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro Relatora: dra. Lilian Maria Ferreira Marotta Moreira, promotora de Justiça / outro banco de dados. Ministério Público do Estado de Minas Gerais Quanto ao sigilo das informações, foi destacado, pelo Ministério Público, que “todo ato público é público”. Além disso, o banco somente poderá ser acessado por agentes autorizados, mediante senha. No caso, por GRUPO CORREDOR CENTRAL Coordenador: Alberto Gonçalves da Silva / Ibama/DICOF – BA exemplo, de uma coleta de dados referente aos animais mais apreendidos, há como obter tais informações sem que apareçam nomes de infratores. Relatora: Aline de Castro Alvarenga / Instituto Estadual de Meio Ambiente e Por fim, foi lembrado que a efetiva utilização deste banco é importante para consolidar um projeto que é piloto, podendo no futuro ser estendido para todo o País. Recursos Hídricos – IEMA RELATORES DA PLENÁRIA Roberto Cabral Borges / Ibama - Sede/Brasília Vinicius de Seixas Queiroz / Ibama/NUFAU/DITEC – ES O grupo deixou registrada sua preocupação em relação ao reduzido espaço que o tema fauna merece em campanhas oficiais de educação ambiental. Devem ser viabilizadas campanhas publicitárias de informação educacional, a respeito da inconveniência da manutenção de animais silvestres em cativeiro. Sugere, ainda, que o tema seja priorizado, criando-se um Conselho Nacional de Fauna. Aline de Castro Alvarenga / Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – IEMA Vincent Kurt Lo / Ibama/Divisão de Fauna e Recursos Pesqueiros – SP Regina Macedo / jornalista ambiental - SP D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 159 6 BANCO DE DADOS Entre as ferramentas de suporte ao trabalho das instituições no site www.diagnostico.org.br, encontramos um banco de dados, criado especificamente para os órgãos de fiscalização, com acesso restrito mediante senha. Neste capítulo, detalhamos as discussões em torno do banco de dados, ferramentas disponibilizadas e aspectos legislativos relativos às atribuições do Ibama enquanto executor da Política Nacional do Meio Ambiente. 160 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Camaleão (Enyalius sp) - Foto: Armando Catunda oficiais que atuam na área de fauna silvestre, implantadas D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 161 Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) - Foto: Paulo J. Celestino 162 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Instrumento é fundamental a inexistência de sistemas informatizados e de bancos de dados que permitam reunir informações a respeito dos números oficiais do tráfico de animais silvestres no Brasil, e do combate a esta prática criminosa, tem conseqüências desastrosas para a conservação e preservação da fauna. Sem dados precisos a respeito das áreas onde se concentram as maiores ocorrências, espécies mais vitimadas, identificação de pessoas envolvidas com a atividade em diversos estados, a fiscalização fica emperrada. Ficam comprometidas, ainda, possíveis ações de inteligência pelos agentes fiscalizadores e polícias; e até o Ministério Público tem seu trabalho dificultado. A falta de informação compromete os projetos governamentais e de ONGs, focados em áreas de maior risco para determinadas espécies. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 163 Informações precisas, uma arma poderosa. Ministério Público, Poder Judiciário, polícias Civil e Federal, que poderão deter uma senha de acesso às informações. Devido à metodologia empregada para criação do banco de dados, O banco de dados foi construído com contribuições de somente em julho de 2006 a ferramenta foi concluída, mas ainda não está todos os parceiros envolvidos no projeto, em sucessivos sendo utilizada devido aos questionamentos dos órgãos oficiais quanto ao órgão workshops realizados nos cinco estados participantes e Distrito Federal, competente para sua administração. durante a execução do Projeto Diagnóstico do Tráfico de Animais Silvestres no Corredor Central e Serra do Mar da Mata Atlântica e a Implicação dessa Atividade para a Conservação do Bioma, já detalhado no Capítulo 1. Durante o Workshop realizado em São Paulo, um representante do Ibama e um da Polícia Ambiental de cada um dos cinco estados, além de um representante do Ibama do Distrito Federal, foram treinados para alimentar e A utilização dessa ferramenta possibilitará que as instituições utilizar o banco de dados. tenham um panorama atualizado sobre os crimes cometidos contra a fauna, como: pontos de apanha de animais na natureza, espécies-alvo ADMINISTRAÇÃO, O GARGALO DOS DEBATES dos traficantes e caçadores, principais rotas do tráfico, pontos de venda, pessoas envolvidas nos ilícitos etc. O banco deve ser alimentado a partir dos dados dos autos de infração envolvendo animais silvestres. Nas discussões realizadas dentro dos dois grupos de trabalho – Corredor Central e Corredor Serra do Mar –, bem como nos debates da Plenária, não se chegou a uma conclusão a respeito da instituição que deverá ficar responsável Devidamente abastecido, o banco de dados permitirá visualizar, pela administração do Banco de Dados. Por fim, algumas vozes levantaram-se detalhadamente, a ação predatória do homem sobre a fauna das áreas apontando o Ibama como o administrador ideal. Também é preciso definir o protegidas da Mata Atlântica e, com isso, apontar as áreas mais críticas correspondente nível de acesso para cada instituição (administrar o banco de e aquelas prioritárias para a conservação, além de fornecer mais dados, alimentar com informações do estado, consultar, emitir relatórios etc). subsídios para o planejamento de conexões de áreas fragmentadas e implantação de corredores. Os representantes do Ministério Público dos estados do Corredor Central classificaram a criação do banco de dados como fundamental para o combate 164 Este banco de dados é fundamental, não somente para o planejamento ao tráfico de animais silvestres. Quanto ao gerenciamento do banco, o grupo de combate ao tráfico, conservação das espécies em áreas críticas, implantação Corredor Serra do Mar concluiu que ”o Ibama seria o órgão mais adequado ao de corredores; mas também para subsidiar a ação de instituições como o gerenciamento dos dados, porque tem atuação nacional”. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Ainda na Plenária do Workshop, técnicos ambientais do Ibama levantaram a possibilidade do órgão assumir a responsabilidade pelo banco de dados, desde que haja algum tipo de normatização, como por exemplo, uma Resolução do Conama. A alimentação do banco ficaria - segundo esses técnicos - a cargo das polícias e órgãos do Sisnama. Daí, a importância de uma normatização para definir o papel de cada instituição em relação a esta ferramenta, criada através do Projeto Diagnóstico. SIGILO DEVE SER GARANTIDO? Um dos receios apontados por agentes da Polícia Federal durante os debates no Workshop, diz respeito a uma possível quebra de sigilo que poderia ocorrer a partir de acessos ao banco de dados. O Ministério Público lembrou que “todo ato público é público”. Murucututu (Pulsatrix koeniswaldiana) - Foto: Roni Celestino Por outro lado, técnicos que participaram da criação do banco de dados lembraram que o acesso estará sempre restrito a agentes autorizados, mediante senha. Agentes de diferentes estados poderão consultar, online, nomes de infratores, podendo localizar contumazes traficantes, o que facilita ações preventivas e subsidia o serviço de inteligência. Já no caso de uma coleta de dados referente aos animais mais apreendidos, há como obter tais informações sem que apareçam nomes de infratores. Por fim, concluiu-se que efetivar a implantação deste banco de dados é fundamental para consolidar um projeto-piloto que pode estenderse para todo o País e, realmente, possibilitar diagnósticos precisos dos crimes cometidos contra a fauna, incluindo o tráfico de animais silvestres. Essa precisão é importante em se tratando de um elemento de tão frágil equilíbrio quanto a fauna, pois na maioria dos casos, a agilidade nas ações é a única forma de conter o dano. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 165 Mergulhando no emaranhado de normas legais a lém de ser o órgão executor da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei Federal 6938/81), o Ibama possui, em sua estrutura atual, uma Coordenação de Proteção de Espécies da Fauna, que tem, no rol de suas atribuições, promover a elaboração, a implantação, a implementação e a manutenção de sistemas de informação para a proteção dos recursos faunísticos. Até configurar-se tal estrutura, sucessivas normas legais definiram a criação, as atribuições e a vinculação formal do Instituto. Examinando esta trajetória, bem como o atual regimento interno, as evidências apontam o Ibama como o administrador natural do Banco de Dados. 166 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Teia de aracnídeo - Foto: André Camilli Dias D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 167 Fauna é recurso ambiental. Deve ser protegida. A constituição destaque de 1988 fundamental imprimiu ao meio ambiente, e, de forma inovadora, especialmente à fauna. Anteriormente, a Política Nacional do Meio Ambiente, de 1981, apesar de ser considerada um marco na defesa dos recursos ambientais, não tratou a fauna de forma específica. O direito de todos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado ficou Sussuarana filhote (Puma concolor) - Foto: Fumpeb assegurado pela Carta Magna do País, impondo-se ao 168 Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Os legisladores também relacionaram diretamente o equilíbrio ambiental à saúde da espécie humana. E entre as várias incumbências impostas ao Poder Público para garantir este direito, encontra-se, especificamente, a proteção da fauna. Quando muito, constituições brasileiras anteriores preocuparam-se em regrar a “caça”, nunca a efetiva proteção aos animais. Vejamos: D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r MEIO AMBIENTE TEM POLÍTICA PRÓPRIA TÍTULO III Da Organização do Estado A Política Nacional do Meio Ambiente foi criada pela Lei Federal CAPÍTULO I 6.938, de 31 de agosto de 1981, tendo como objetivo central a DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento dos Municípios: sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção (...) VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; da dignidade da vida humana (Art. 2º). E esta política, ainda Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar segundo o texto legal, deve atender vários princípios, entre eles, concorrentemente sobre: a “ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso TÍTULO VIII coletivo” e o “planejamento e fiscalização do uso dos recursos Da Ordem Social ambientais”. Um avanço fundamental, mas, ainda, um instrumento CAPÍTULO VI infraconstitucional. DO MEIO AMBIENTE Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem A mesma lei definiu meio ambiente como “o conjunto de de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao condições, leis, influências e interações de ordem física, química e Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. E presentes e futuras gerações. listou no rol dos recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que subsolo e os elementos da biosfera. Posteriormente, com o advento da coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou nova Constituição, a Lei Federal 7.804/89 fez um acréscimo a este rol submetam os animais a crueldade. de recursos ambientais, incluindo expressamente a fauna e a flora. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 169 A Política Nacional do Meio Ambiente constituiu o Sisnama (Sistema DESCENTRALIZAÇÃO COM TRANSPARÊNCIA, PALAVRAS DE ORDEM Nacional de Meio Ambiente), formado pelos “órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como O Sisnama adquiriu ainda mais importância e transparência, a partir as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e da promulgação da Lei Federal 10.650/03, que determina, em seu Art. melhoria da qualidade ambiental”. A estruturação do Sisnama sofreu várias 2º: os órgãos e entidades da Administração Pública, direta, indireta e mudanças ao longo dos anos, com sucessivas leis tratando do assunto. Até fundacional, integrantes do Sisnama, ficam obrigados a permitir o acesso que a Lei Federal 8.028/90 estabeleceu como órgão executor, dentro do público aos documentos, expedientes e processos administrativos que Sisnama, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais tratem de matéria ambiental e a fornecer todas as informações ambientais Renováveis (criado em 1989), com a finalidade de executar e fazer executar, que estejam sob sua guarda, em meio escrito, visual, sonoro ou eletrônico, como órgão federal, a política e diretrizes governamentais fixadas para o especialmente as relativas a: meio ambiente. (...) VII - diversidade biológica; (...) Conforme a Lei Federal 6.938/81, com as modificações dadas pela Lei 8.028/90, além de ter como órgão executor o Ibama, o Sisnama é formado Já o Art. 4º determina: deverão ser publicados em Diário Oficial por um órgão superior (Conselho de Governo, que assessora diretamente o e ficar disponíveis, no respectivo órgão, em local de fácil acesso ao Presidente da República), um consultivo e deliberativo (Conama – Conselho público, listagens e relações contendo os dados referentes aos seguintes Nacional do Meio Ambiente, criado pela Lei 6938/81), um órgão central assuntos: (antes, a Secretaria de Meio Ambiente da Presidência da República, (...) depois, o Ministério do Meio Ambiente) e, ainda, por “órgãos seccionais (os III - autos de infrações e respectivas penalidades impostas pelos órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, 170 órgãos ambientais; (...) projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar V - reincidências em infrações ambientais; a degradação ambiental); e por órgãos locais (os órgãos ou entidades (...) municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas Parágrafo único - As relações contendo os dados referidos neste suas respectivas jurisdições)”. Assim, as polícias ambientais e secretarias artigo deverão estar disponíveis para o público trinta dias após a publicação estaduais e municipais de meio ambiente integram o Sisnama. dos atos a que se referem. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Arara-vermelha (Ara chloropterus) - Foto: André Camilli Dias D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 171 Breve histórico do Ibama O Ibama (Instituto Ambiente e dos Brasileiro Recursos do Meio Naturais Renováveis) foi criado pela Lei Federal 7.735/89, ainda vinculado ao Ministério do Interior, pois não existia Ministério do Meio Ambiente. O Instituto foi criado a partir da junção de vários órgãos: SEMA (Secretaria Especial do Meio Ambiente, subordinada ao Ministério do Interior); SUDEPE (Superintendência do Desenvolvimento da Pesca, vinculada ao Ministério da Agricultura); (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal). Tal situação criou, durante um bom tempo, uma grande confusão, porque os órgãos “extintos” por lei continuaram desenvolvendo suas atividades como integrantes do Ibama, até que a nova estrutura fosse plenamente adequada. O Ibama foi desvinculado do Ministério do Interior, com a edição da Lei Federal 8.028/90, que 172 Sauá (Callicebus nigrifrons) - Foto: André Camilli Dias SUDHEVEA (Superintendência da Borracha); e IBDF D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r deu nova redação ao Art. 2º da lei 7.735/89: É criado o Instituto Brasileiro O Ibama aparece, outra vez, formalmente vinculado a este do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Autarquia Ministério e tem suas finalidades reafirmadas, com a edição da Medida Federal de Regime Federal, dotada de personalidade jurídica de Direito Provisória 2.216-37/01, que em seu Art 2º determina: Público, autonomia administrativa e financeira, vinculada à Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República – SEMAM-PR, com a finalidade O art. 2º da Lei no 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, com de assessorá-la na formação e coordenação, bem como executar e fazer a redação dada pela Lei no 7.804, de 18 de julho de 1989, passa a executar a política nacional do meio ambiente e da preservação, conservação vigorar com a seguinte redação: e uso racional, fiscalização, controle e fomento dos recursos naturais. Art. 2º É criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama, entidade O Ministério do Meio Ambiente foi criado pela Lei Federal 8.490/92, autárquica de regime especial, dotada de personalidade substituindo a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República jurídica de direito público, vinculada ao Ministério do e dando aos assuntos ligados à área um novo e importante status na Meio Ambiente, com a finalidade de executar as políticas estrutura do Governo Federal. Este Ministério foi redefinido pela Lei nacionais de meio ambiente referentes às atribuições Federal 8.746/93, passando a chamar-se Ministério do Meio Ambiente e federais da Amazônia Legal. conservação e ao uso sustentável dos recursos ambientais permanentes relativas à preservação, à e sua fiscalização e controle (grifo nosso), bem como Em 1995, através da Medida Provisória 813, o Ministério ganhou novo apoiar o Ministério do Meio Ambiente na execução das ações nome e nova estrutura: Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos supletivas da União, de conformidade com a legislação em e da Amazônia Legal. Ainda em 95, conforme o Decreto Federal 1.361, o vigor e as diretrizes daquele Ministério. Ibama é formalmente vinculado, como autarquia, a este Ministério. Portanto, o Ibama é formalmente o órgão executor das políticas Uma nova mudança de nome acontece em 1999, quando a Medida nacionais de meio ambiente, no que diz respeito à preservação, Provisória 1.795, de 1º de janeiro, em seu Art. 17, inciso III, transformou conservação e uso sustentável dos recursos ambientais e sua o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia fiscalização e controle; e está diretamente vinculado ao Ministro Legal em Ministério do Meio Ambiente, retomando o nome original. do Meio Ambiente. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 173 O que determina o Regimento Interno o Regimento Interno do Ibama, aprovado pela Portaria 230, de 14 de maio de 2002, do ministro de Estado do Meio Ambiente, determina: Art. 1º: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-Ibama, entidade autárquica de regime especial, com autonomia administrativa e financeira, dotada de personalidade jurídica de direito público, com sede em Brasília, criada pela Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, vinculada ao Ministério do Meio I - executar as políticas nacionais de meio ambiente referentes às atribuições federais permanentes, relativas à preservação, à conservação e ao uso sustentável dos recursos ambientais e sua fiscalização e controle; II - executar as ações supletivas da União, de conformidade com a legislação em vigor e as diretrizes daquele Ministério. Art. 2º No cumprimento de suas finalidades e, ressalvadas as competências das demais entidades que integram o Sistema Nacional do 174 Periquitambóia (Corallus caninus) - Foto: Ivan Sazima Ambiente, tem como finalidades: D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Meio Ambiente-Sisnama, cabe ao Ibama, de acordo com as diretrizes fixadas pelo Ministério do Meio Ambiente, desenvolver as seguintes ações federais: (...) VIII - geração, integração e disseminação sistemática de informações e conhecimentos relativos ao meio ambiente; IX - proteção e manejo integrado de ecossistemas, de espécies, do patrimônio natural e genético de representatividade ecológica em escala regional e nacional; (...) XVII - implementação do Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente-Sisnima; (...) XXII - elaboração do sistema de informação para a gestão do uso dos recursos faunísticos, pesqueiros e florestais; (grifos nossos) (...) O mesmo regimento, em seu Art 3º, ao estabelecer a estrutura organizacional, lista, no Item IV, órgãos específicos singulares, detalhando cinco diretorias: 1. - Diretoria de Florestas-DIREF; 2. - Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros-DIFAP; 3. - Diretoria de Ecossistemas-DIREC; 4. - Diretoria de Licenciamento e Qualidade Ambiental-DILIQ; 5. - Diretoria de Proteção Ambiental-DIPRO; D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 175 Cabe observar que, na estrutura original do Ibama (Lei Federal 7.735/89), as diretorias eram outras e não existia a Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros. A estrutura da Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros-DIFAP está assim estabelecida, pelo Regimento Interno: 2.1 - Coordenação Geral de Fauna-CGFAU; 2.1.1 - Coordenação de Proteção de Espécies da Fauna-COFAU; 2.1.2 - Coordenação de Gestão do Uso de Espécies da Fauna-COEFA; 2.2 - Coordenação Geral de Gestão de Recursos Pesqueiros-CGREP; 2.2.1 - Coordenação de Estudos e Pesquisas Pesqueiras-COPES; Ao determinar as competências das diversas estruturas, o Regimento Interno do Ibama dispõe, em seu Art. 52: À Diretoria de Fauna e Recursos Pesqueiros, compete, de acordo com as diretrizes definidas pelo Ministério do Meio Ambiente, coordenar, supervisionar, regulamentar e orientar a execução das ações federais referentes à gestão e ao manejo da fauna silvestre e exógenas, dos recursos pesqueiros. À Coordenação Geral de Fauna compete, conforme disposto no Art. 53, supervisionar, regulamentar e orientar a execução e 176 Pica-pau-verde-barrado (Colaptes melanochlorus) - Foto: Vincent Kurt Lo 2.2.2 - Coordenação de Ordenamento Pesqueiro-COOPE; D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r implementação das ações referentes à política de fauna silvestre e da fauna exótica na natureza e em cativeiro, além de gerenciar as demandas inerentes aos dispositivos dos acordos nacionais e internacionais, relacionados a referida política da qual o País é signatário. O Art. 54 determina que compete à Coordenação de Proteção de Espécies da Fauna implementar as medidas necessárias para a proteção das espécies da fauna silvestre, sobretudo, as espécies ameaçadas de extinção, as de acesso restritivo e as de situações emergentes, e em especial: (...) IV - promover a elaboração e a revisão periódica de normas e estratégias para a proteção das espécies; V - orientar a elaboração e a execução de planos de proteção e manejo das espécies; VI - monitorar, supervisionar e avaliar as ações de proteção e manejo das espécies; VII - promover o controle e a implementação de ações de melhoria contínua no âmbito da execução dos planos de ação para a proteção e manejo das espécies; (...) X - coordenar a implementação de projetos de proteção da fauna, mediante a orientação, supervisão, avaliação e controle dessas atividades nas unidades descentralizadas; XI - incentivar e subsidiar a participação institucional em órgãos colegiados, técnicos e científicos, inclusive voltados para elaboração de estratégias de conservação e manejo das espécies da fauna, na natureza e em cativeiro, implementando as ações pertinentes; D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 177 A Coordenação de Gestão do Uso de Espécies da Fauna concentra as atribuições relativas ao acesso e gestão do uso de qualquer Guaxinim (Procyon cancrivorus) - Foto: André Camilli Dias espécie silvestre, nativa ou exótica - assuntos não XII - promover a elaboração e atualização da lista oficial de espécies da fauna ameaçadas de extinção; abordados no presente estudo. Sem dúvida, o Ibama tem papel fundamental na proteção, conservação e preservação da fauna brasileira. Além das inúmeras competências do órgão relativas à vida silvestre e de sua subordinação direta ao Ministro do Meio Ambiente, o peso institucional do Ibama é inegável. Brasil afora, o próprio nome Ibama causa temor a possíveis infratores da legislação ambiental. Inexplicavelmente, conforme o resultado dos questionários e as evidências colhidas no Workshop, o Instituto encontra-se bastante desestruturado e sem recursos. Esta situação merece um olhar mais atento por parte da sociedade brasileira e XIII - promover a elaboração, a implantação, a implementação das autoridades constituídas. Afinal, o Ibama é um dos principais instrumentos e a manutenção de sistemas de informação para a proteção dos oficiais de defesa e preservação do meio ambiente - atribuições estas impostas, recursos faunísticos; (grifo nosso) constitucionalmente, ao Poder Público e à coletividade. XIV - apoiar o desenvolvimento de ações que visem levar à sociedade o conhecimento da fauna brasileira, buscando sua conscientização para a conservação da vida silvestre, principalmente as ameaçadas. 178 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Os recursos do Banco de Dados Figura 1: Página do site www.diagnostico.org.br O banco de dados foi construído durante o desenvolvimento do Projeto Diagnóstico, com a participação de representantes de todas as instituições oficiais que atuam em fauna, nas áreas de licenciamento, controle, manejo e fiscalização, das esferas municipal e estadual, dos cinco estados, além da esfera federal (veja Participantes e Eventos, no menu principal do site www.diagnostico.org.br). D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 179 Os recursos do Banco de Dados O acesso é feito através do item Sistema, disponível no menu principal, mas só é possível mediante senha. Figura 2: Página do site www.diagnostico.org.br 180 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Os recursos do Banco de Dados O Banco de Dados possibilita o lançamento, pelas instituições autorizadas, de todas as informações contidas nos autos de infração contra a fauna, emitidos pelo Ibama, polícias e secretarias de meio ambiente (processos, termos circunstanciados e B.O.s, também). É possível identificar o infrator, o tipo de delito, o local onde ocorreu, a sanção, quem foi o órgão autuador etc. Figura 3: Página teste demonstrativa do banco de dados. www.diagnostico.org.br D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 181 Os recursos do Banco de Dados O sistema permite listar autuações anteriores, possibilitando conhecer outros envolvimentos do autuado com infrações contra a fauna. Figura 4: Página teste demonstrativa do banco de dados. www.diagnostico.org.br 182 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Os recursos do Banco de Dados As informações relativas aos animais apreendidos abrangem: classificação, nome científico, o número de espécimes envolvidas na apreensão e destino. Figura 5: Página teste demonstrativa do banco de dados. www.diagnostico.org.br D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 183 Os recursos do Banco de Dados No item Destino, é possível detalhar informações relativas aos espécimes, inclusive com o tipo e número da identificação recebida no local de depósito, como, por exemplo, o número de cadastro e marcação recebida (anilha, microchip, tatuagem etc). O local onde o animal foi depositado também pode ser identificado: cetas, zôo, criadouro - com especificação da razão social -, CNPJ ou CPF, no caso de fiel depositário. Além dos dados específicos dos animais, o sistema permite o lançamento de outros itens apreendidos, como armas e petrechos (gaiolas, armadilhas, redes etc). Figura 6: Página teste demonstrativa do banco de dados. www.diagnostico.org.br 184 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Os recursos do Banco de Dados Também podem ser lançados no sistema todos os outros destinos dados aos animais apreendidos, como solturas e fugas, e também os óbitos. Figura 7: Página teste demonstrativa do banco de dados. www.diagnostico.org.br D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 185 Espécies online, suporte à fiscalização. Outro recurso extremamente útil para agentes de fiscalização é o Banco de Espécies – Espécies Cadastradas e Espécies Ameaçadas. No link Espécies Cadastradas, é possível pesquisar pelo nome popular ou nome científico de cada espécie. Se o animal está no banco, aparece uma tela com a ficha biológica e foto. Informa-se, ainda, se a espécie pertence a alguma lista de animais ameaçados de extinção e o grau da ameaça. Este banco é um instrumento bastante importante, principalmente para agentes fiscalizadores, que muitas vezes sentem dificuldade para identificar animais apreendidos. Um bom exemplo são os papagaios, pois já estão disponíveis dados relativos a 10 espécies: campeiro, charão ou da-serra, chauá, de-cara-roxa, do-mangue, do-peito-roxo, moleiro, galego ou de-barriga-amarela, papa-cacau e verdadeiro. Figura 8: Página do site www.diagnostico.org.br 186 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Além da correta identificação, é fundamental o agente ter conhecimento se o animal é de uma espécie pertencente a alguma lista de animais ameaçados de extinção, pois o Decreto 3.179/99, que regulamenta a Lei Federal 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), determina, em vários artigos, acréscimos significativos à multa original, caso trate-se de espécie constante da lista oficial de fauna brasileira ameaçada de extinção e do Anexo I da CITES - Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção; e, ainda, novo acréscimo caso a espécie faça parte de ambas as listas (artigos 11, 12, 13, 14, 15 e 17). A própria Lei Federal 9.605/98 estipula aumento da pena se o crime é praticado “contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local da infração”. O outro link do Banco de Espécies, denominado Espécies Ameaçadas, disponibiliza a Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, do Ibama; a lista internacional da União pela Conservação Mundial (IUCN); e as listas dos cinco estados envolvidos no Projeto (Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo). Um detalhe interessante é que, em cada estado, pode-se acessar também o rol de espécies daquele local, incluídas na lista nacional. Figura 9: Página do site www.diagnostico.org.br D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 187 7 PLANO ESTRATÉGICO Todas as ações voltadas à defesa e preservação da fauna não estão à altura do status diferenciado que este recurso ambiental adquiriu a partir da Constituição de 1988. A fauna vem sendo sistematicamente comprometida pelos desmatamentos, queimadas, caça, pesca, apanha, expansão da urbanização e da agropecuária sem planejamento, entre outras ações danos provocados pelo comércio ilegal, apesar de gravíssimos, constituem apenas uma das agressões aos animais silvestres. A fauna brasileira merece um programa consistente e amplo, de defesa e preservação, em todos os sentidos. No entanto, como o Projeto Diagnóstico do Tráfico de Animais Silvestres nos Corredores Central e Serra do Mar da Mata Atlântica e a Implicação dessa Atividade para a Conservação do Bioma teve como foco diagnosticar o tráfico de silvestres, as diretrizes para a elaboração de um plano estratégico concentram-se nesta temática. Cabe lembrar que a consolidação deste rol de diretrizes foi embasada, fundamentalmente, nos resultados do Workshop, evento detalhado no capítulo 5. 188 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Socó-boi filhote (Tigrisoma lineatum) - Foto: André Camilli Dias antrópicas comprometedoras do ambiente natural. Assim, os D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 189 1 - TIPIFICAÇÃO DO TRÁFICO 2 - LEI FEDERAL DE PROTEÇÃO À FAUNA Considerando que não existe, na legislação brasileira, um tipo Aprovar e fazer cumprir uma lei específica de fauna. A Lei penal específico que defina como crime o ato de traficar animal Federal 5.197/67, que trata do tema, é bastante permissiva em silvestre, é fundamental a introdução de um novo artigo na Lei nº relação ao uso da fauna silvestre, o que contraria as modernas 9.605/98, descrevendo-o. diretrizes de preservação deste recurso ambiental, impostas pela Constituição de 88. A Lei de Crimes Ambientais (9.605/98) também Tendo em vista que o 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico não detalha todas as questões relativas à fauna. de Fauna Silvestre (2001, Renctas) apontou para o fato de que o comércio ilegal de vida silvestre é “a terceira atividade ilícita do Conforme foi lembrado durante o Workshop, anos atrás, mundo, depois das armas e das drogas”, fica claro que as penas foi consolidado um projeto de Lei de Proteção à Fauna, com a previstas no art. 29 da referida lei são insuficientes ao combate de participação de subseções da Ordem dos Advogados do Brasil, tão lucrativa atividade ilícita, sendo certo, ainda, que as condutas entidades não governamentais, técnicos, representantes dos ali descritas são por demais genéricas, não se podendo pretender poderes legislativos municipais e estaduais. O texto final foi apenas o aumento das penas ali cominadas. É necessária a criação trabalhado por uma Câmara Técnica Temporária de Fauna, criada de um tipo penal específico, com penas condizentes com a gravidade pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), gerando e amplitude do dano causado ao bem jurídico protegido. um anteprojeto de Lei de Proteção à Fauna, aprovado durante a 46ª Reunião Ordinária deste conselho, em 1997. O documento Ressalte-se que a descrição típica há de contemplar as peculiaridades do tráfico de animais silvestres, foi encaminhado pelo então presidente do Conama, ministro do voltando-se Meio Ambiente, Gustavo Krause Gonçalves Sobrinho, para o então especialmente aos responsáveis diretos pelo funcionamento desta ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Clóvis atividade, ou seja, os traficantes propriamente ditos. As penas de Barros Carvalho. O projeto nunca chegou ao Congresso, com a devem ser suficientemente elevadas para não permitir a transação alegação de que a futura Lei de Crimes Ambientais contemplaria penal (art. 76, Lei nº 9.099/95) ou a suspensão do processo (art. 89, totalmente a proteção da fauna. Mas, isso não aconteceu, e há Lei nº 9.099/95). urgência em se consolidar uma lei federal de fauna, contemplando todos os aspectos não tratados pela Lei 9.605/98, como a criação de animais silvestres em cativeiro. 190 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 3 - CLAREZA EM RELAÇÃO ÀS 5 - REDE DE CETAS COMPETÊNCIAS DAS INSTITUIÇÕES Estruturar uma rede federal de Cetas (Centros de Triagem ou Detalhamento, esclarecimento e publicidade a respeito dos papéis e respectivas competências de todos os órgãos do Sisnama (Sistema Nacional do Meio Ambiente) em relação à fauna silvestre. A partir disso, e da estruturação individual dos órgãos, pode-se atingir uma atuação conjunta eficiente, de forma complementar e supletiva, inclusive com a realização de ações de inteligência. Mas esta reavaliação das competências e interfaces deve acontecer de forma integrada, com a concordância e participação de todos os envolvidos. Manejo de Animais Silvestres) e estimular a implantação de centros municipais e estaduais, controlados pelo Poder Público. Todo centro deve ter estrutura física e pessoal capacitado, compatíveis com a complexidade do trabalho de manejo e destinação dos animais; e priorizar a reintegração dos espécimes às áreas de origem (daí, a importância da consolidação de uma rede nacional de Cetas). O controle dos animais recebidos e destinados precisa ser totalmente aprimorado, com métodos de marcação individual, registro em banco de dados informatizado e interligado em toda a rede, e identificação através de exames de DNA, quando aplicável. Os Cetas devem ainda 4 - APARELHAMENTO DOS ÓRGÃOS E CAPACITAÇÃO DE PESSOAL Adequação de instalações; aquisição de veículos, equipamentos e materiais; alocação de recursos financeiros; e capacitação de pessoal para os órgãos encarregados de fiscalizar, defender e conservar a fauna. O ideal seria a promoção de alguns treinamentos conjuntos entre as várias instituições, para atuarem de forma integrada, otimizando recursos e equipamentos. Pode-se pensar até na formação de uma força-tarefa permanente de combate ao tráfico de silvestres. A capacitação deve incluir a identificação e manejo dos animais vitimados pela ação humana, sobretudo pelo tráfico. promover a educação ambiental e estimular o conhecimento científico voltado à conservação das espécies em vida livre. 6 - CRITÉRIOS PARA SOLTURA E DESTINAÇÃO É necessário estabelecer critérios técnicos compatíveis com uma rede nacional de Cetas, respeitando a diversidade regional e visando prioritariamente a soltura. Inclusive, a futura Lei de Proteção à Fauna deve ser clara em relação à guarda doméstica de animais silvestres. Atualmente, um animal pode permanecer com um depositário (Decreto Federal 3.179/99) e este, muitas vezes, é o próprio infrator. Com esta determinação, o Decreto contraria a lei à qual regulamentou – Lei Federal 9.605/98, que prioriza a soltura e não prevê a possibilidade de um animal permanecer nas mãos do infrator. Por último, os critérios para soltura, a serem cumpridos em todo o País, podem ser definidos pelos órgãos ambientais em conjunto com ONGs conservacionistas. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 191 7 - CRIADOUROS COMERCIAIS E CRIADORES AMADORISTAS A destinação para esses estabelecimentos precisa ser totalmente revista. Na prática, os criadouros comerciais, que deveriam, na concepção antiga da lei 5.197/67, contribuir para a redução da retirada de animais da natureza, não exercem este papel. O tráfico cresce ano a ano, e alimenta até mesmo o comércio dito legal. Animais retirados do tráfico acabam indo para os criadouros, já que os órgãos responsáveis pela fiscalização alegam não ter para onde encaminhálos. Assim, um animal produto de uma atividade ilegal (tráfico) vai gerar descendentes nos criadouros, que abastecerão o comércio legal, alimentando um circulo vicioso altamente questionável. Por outro lado, técnicos do Ibama afirmam que muitos criadouros Papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) - Foto: Zig Koch são locais onde se “esquentam” animais e filhotes apanhados na 192 natureza, crimes difíceis de serem detectados e combatidos, até pela dificuldade científica de comprovação de origem biológica de animais silvestres (paternidade). Quanto aos criadores amadoristas, a sugestão é que o governo paralise a concessão de licenças e reveja todas as regras. Atualmente, muitos amadoristas comercializam animais e mantêm coleções com centenas de espécimes, descaracterizando totalmente uma atividade amadora. Além disso, o grande foco do tráfico de silvestres são os passeriformes - e justamente as espécies mais retiradas do comércio ilegal pelos órgãos de fiscalização são as preferidas dos chamados criadores amadoristas. Estas constatações descartam a crença de que regulamentar os amadoristas reduziria a retirada de animais da natureza. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 8 - GUARDA DOMÉSTICA A guarda doméstica de animais silvestres precisa ser revista. A Resolução Conama 384/06, que regra a concessão de depósito doméstico provisório de animais silvestres apreendidos, foi duramente combatida, ainda no período de tramitação, por organizações não governamentais e até mesmo por superintendências do Ibama de todo o País. Não está regulamentada, mas pode estimular o tráfico e a posse ilegal de animais silvestres. A medida também deve intensificar a ocorrência de maus-tratos aos animais, por desconhecimento das suas necessidades físicas e biológicas, bem como aumentar o risco de propagação de doenças transmissíveis pelos animais silvestres a humanos e vice-versa (zoonoses, muitas delas de difícil diagnóstico). 9 - COMBATE AO TRÁFICO NA ORIGEM A consolidação de uma rede de Cetas, formando uma complexa estrutura destinada a acolher e destinar os animais silvestres apreendidos do comércio ilegal, é fundamental, mas não é solução no combate ao tráfico. A ação primordial, mas raramente desenvolvida com eficiência, deve visar a não retirada de qualquer silvestre de seu habitat. Culpar a situação socioeconômica pela apanha e venda de animais não pode mais ser uma justificativa aceitável, da mesma forma que não se tolera o tráfico de drogas em regiões carentes. Educação e repressão precisam caminhar juntas, bem como a implantação de projetos de incentivo a atividades geradoras de renda para as comunidades que não impliquem em usos indevidos dos recursos naturais. Estas considerações foram detalhadas por pesquisadores, técnicos, policiais e fiscais ambientais, promotores públicos, representantes 10 - POLITICAS PÚBLICAS de ONGs e de universidades, presentes ao Workshop. Um dos fatores apontados é que o Ibama não está preparado para fiscalizar os Devem ser instituídas políticas públicas voltadas para a proteção “guardiões”, que somariam milhões de pessoas. Atualmente, o crescente da fauna, nos níveis municipal, estadual e federal, com os respectivos número de criadouros comerciais e criadores amadoristas já extrapola instrumentos legais e a participação da sociedade civil. Os principais focos a capacidade de fiscalização do órgão; e, na prática, irregularidades só devem ser: educação continuada; e maciças campanhas publicitárias, que são detectadas mediante denúncias. estimulem a preservação dos animais silvestres e a não manutenção dos mesmos em cativeiro. Exploração indevida da fauna não pode ser moda, Outra questão a ser revista diz respeito à entrega espontânea não pode ser confundida com estímulo turístico, não pode gerar dividendos de silvestres para órgãos de fiscalização e em Cetas, por parte da para uma comunidade. Pode-se gerar renda numa região, por exemplo, com população. Na maioria das vezes, esses espécimes não possuem origem turismo ecológico, observação de aves, safáris fotográficos, mas, nunca, com legal comprovada, mas o infrator não sofre qualquer tipo de punição, o a apanha e venda ilegal de animais. Fauna deve ser tratada como prioridade que pode incentivar o comércio ilegal. por legisladores e governantes, tanto quanto os demais recursos ambientais. D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 193 11 - ATIVAÇÃO DO BANCO DE DADOS E CONTINUIDADE DO PROCESSO As instituições envolvidas no Projeto Diagnóstico não mostram dúvidas a respeito da necessidade de um banco de dados que reúna e consolide informações sobre crimes cometidos contra a fauna silvestre. Quanto ao banco de dados criado durante o desenvolvimento do trabalho, restaram dúvidas a respeito dos procedimentos para sua operação. Mas quanto ao possível administrador, a maioria dos envolvidos apontou o Ibama como a instituição mais indicada, até por ser o executor da política nacional de meio ambiente. Os detalhes práticos e legais pedem uma normatização, que deve ser priorizada na continuidade do processo. O certo é que a ferramenta não pode deixar de ser empregada, pois uma das grandes evidências do presente trabalho é o quanto a falta de informações dificulta ações de repressão ao tráfico e compromete possíveis programas de preservação. O banco pode contribuir ainda com o Projeto Corredores Ecológicos, do Ministério do Meio Ambiente, onde a questão da fauna não foi contemplada com a devida importância. Outro aspecto fundamental é a continuidade do processo que passa pela divulgação dos documentos aqui gerados, nos mais diversos escalões das instituições envolvidas, provocando atitudes pró-ativas em defesa da fauna. 194 D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r Tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta) - Foto: André Camilli Dias D i a g n ó s t i c o d o Tr á f i c o d e A n i m a i s S i l v e s t r e s n a M a t a A t l â n t i c a - C o r r e d o r e s C e n t r a l e S e r r a d o M a r 195 AGRADECIMENTOS Achiles Lima Macêdo - Polícia Federal-BA Adalberto Bernardino Junior - Delegacia Especializada de Ecologia-MG Adilson Paulo Prudente do Amaral Filho – procurador de Justiça do Ministério Público Federal-SP Adilson Pinto Gil – chefe da Divisão Técnica Ibama-RJ Adriano Pereira Paglia – analista de biodiversidade do Programa Mata Atlântica -Conservação Os resultados do Projeto Diagnóstico, apresentados nesta publicação, só foram possíveis graças ao empenho, compromisso e à coragem de centenas de pessoas envolvidas neste trabalho, ao longo das diversas etapas de seu desenvolvimento. Essa colaboração foi Internacional Brasil-MG Airton de Grande – assessor de comunicação do Ibama-SP Alberto Felipe Klotz – Ibama-ES Alberto Gonçalves da Silva – Ibama-BA Alcides Pissinatti – diretor do Centro de Primatologia do Rio de Janeiro Aléssio Venturelli Gonçalves - revisor Alessandra Aparecida Silva - Federação das Reservas Ecológicas Particulares do Estado de São Paulo Alexandre Rigotti – 2º tenente da Polícia Militar/Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito-MG (*) fundamental para a consolidação dos produtos gerados e, independente do grau de envolvimento ou da extensão Aline de Castro Alvarenga - Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos-ES Ana Lúcia de Oliveira Leão – tenente da Companhia de Polícia de Proteção Ambiental da Polícia Militar-BA (**) Ana Lúcia Fiúza – Superintendência do Ibama-BA (*) da participação de cada um, encontram-se aqui listados potenciais agentes mobilizadores, para a continuidade Ana Raquel Gomes Faria – Ibama-Brasília Analice de Novais Pereira – superintendente do Ibama do Estado de São Paulo Anderson Mendes Augusto - Fundação RioZoo deste processo, dentro de suas instituições ou comunidades, nos estados da Bahia, Espírito Santo, Minas André Camilli Dias – fotógrafo-SP André Hirsch – Coordenadoria de Espécies Ameaçadas - Fundação Biodiversitas-MG Angela Maria Branco – coordenadora de projetos da Renctas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, e no Distrito Federal. Antonietta Ficucella - bióloga-SP Antonio Carlos de Carvalho Filho – diretor administrativo da Fundação Parque Zoológico de São Paulo Antonio Carlos Orlando Ribeiro da Costa - Instituto Butantan-SP Arley Gomes de Lagos Ferreira – capitão da Polícia Militar/Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito-MG (*) Bartira Goes – promotora de Justiça do Ministério Público Federal-BA 196 Carlo Marx Siqueira Rocha – major comandante da Polícia Militar Ambiental-ES (*) Fernanda Alves de Oliveira – promotora de Justiça do Ministério Público Federal-BA Carlos Alexandre Rey Matias -1º tenente-veterinário da Polícia Florestal e de Meio Ambiente-RJ (*) (**) Fernando Claro de Campos Júnior – coordenador do Núcleo de Fauna-Ibama-RJ Carlos Gonzaga Corrêa – 1º sargento da Polícia Militar/Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito-MG (*) Fernão Dias de Lima – analista de sistemas de Faculdade de Saúde Pública da USP-SP Carlos Henrique Prestes Camargo – promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo Flávio Montiel da Rocha – diretor de Proteção Ambiental – Ibama-Brasília Carlos Roberto Barretto – vice-presidente da Pró-Animal Francisco Gomes - Polícia Militar Ambiental-ES Carlos Roberto Leandro - Polícia Federal-SP Francisco José Silva Gomes – capitão subcomandante da Polícia Militar Ambiental-ES (*) Cecília Fernandes – coordenadora de eventos da Renctas Francisco Luís Franco – pesquisador científico do Instituto Butantan-SP Célio Costa Pinto – superintendente do Ibama do Estado da Bahia (*) Frederico Jun Okabayashi – diretor da Divisão de Controle Ambiental da Secretaria Municipal do Cesar Yukio Takara - Universidade Metodista de São Paulo Cícero Leonardo da Cunha – major da Polícia Militar/Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito-MG Claudecy Vieira dos Santos – major da Polícia de Proteção Ambiental-BA (*) Claudia Araujo da Silva – agente de controle ambiental da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente-SP Cláudia Gibeli Gomes – Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente-SP Cláudia Repina S. de Oliveira – Secretaria de Meio Ambiente-BA Cosette Barrabás Xavier da Silva - Ibama-PR Cristiano Araújo – coordenador administrativo/operacional da Renctas Cristina Amaral Passos Figueiredo - Superintendência Geral da Polícia Federal-MG Cristina Harumi Adania – coordenadora de fauna da Associação Mata Ciliar-SP Daniel Ambrósio da Rocha Vilela - Ibama-MG Dener Giovanini – coordenador geral da Renctas Denise Marçal Rambaldi – secretária geral da Associação Mico-Leão-Dourado-RJ Edmilson Moulin Ferreira – coronel da Polícia Militar Ambiental-ES (*) Eduardo Frederico Cabral de Oliveira – tenente-coronel da Polícia Florestal e de Meio Ambiente-RJ (*) Erika Guimarães – coordenadora da Aliança pela Mata Atlântica/Fundação SOS Mata Atlântica-SP Evandro Teófilo – major comandante da 2ª Companhia de Polícia Florestal-MG Fábio Murilo Wagnitz – Ibama-ES Fabíola Pinheiro Ribeiro – tenente do Batalhão de Polícia Florestal e de Meio Ambiente-RJ Verde e do Meio Ambiente-SP Geraldo da Silva Lopes - Polícia Rodoviária Federal-BA Gilson de Oliveira Wenceslau – capitão da Polícia Militar/Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito-MG (**) Giuliano Negreli Martins - Secretaria Municipal de Meio Ambiente-ES Giuseppe Puorto - diretor do Museu Biológico - Instituto Butantan-SP Gustavo Senna Miranda – promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Espírito Santo Hélio Pedro da Silva – major da Polícia Militar/Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito-MG (*) Jacques Augusto Passamani – chefe da Divisão de Controle e Fiscalização/Ibama-ES João Batista da Cruz – diretor-presidente da Fundação Parque Zoológico de São Paulo João Batista Rizzieri – presidente da Federação das Reservas Ecológicas Particulares do Estado de São Paulo João Carlos Batista – coronel da Polícia Militar Ambiental-ES (*) José Augusto de CastroTosato – gerente executivo do Ibama/Eunápolis-BA (*) José Luiz Pimentel Pazeto – Delegacia de Polícia Civil-ES José Pereira Cupertino – delegado da Delegacia de Proteção Ambiental-BA José Roberto Pedroso – delegado da Delegacia do Meio Ambiente de São Paulo-SP José Ronaldo Pinheiro Costa – Ibama-ES Juarez Barbosa Ferreira Cardoso – inspetor da Polícia Rodoviária Federal-SP Jury Patricia Mendes Seino – chefe da Divisão de Fauna e Recursos Pesqueiros do Ibama-SP (*) Karina Gomes Cherubini – promotora de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia 197 198 Keith Marques - Câmara Municipal de Vitória-ES Maria Fernanda Branco Espuny Gonçalves - presidente da Pró-Animal-SP Lauro Cesar da Cruz Silva – Gerência Executiva do Ibama/Barreiras-BA (*) Maria Inês Mendes - Ibama-BA Leandro Pontes Martins - Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente-RJ Maria Isabel Martins Nascimento - Instituto de Defesa Agropecuária Florestal-ES Ligia Ilg – Gerência Executiva do Ibama/Eunápolis-BA (*) Maria Terezinha de Alencar Lino - Instituto Estadual de Meio Ambiente do Espírito Santo Lilian Maria Ferreira Marotta Moreira – promotora de Justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais Matheus Tamás Júnior – Pró-Animal-SP Luís Antonio Gonçalves de Lima – chefe da Fiscalização do Ibama do Estado de São Paulo (*) Maurício Nascimento Paulent – cabo do Batalhão de Polícia Ambiental da Polícia Militar-ES (*) (**) Luís Fábio Silveira – curador do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo Mauro Guimarães Diniz - Ibama-MG (**) Luiz Eduardo Ferreira Fontes – professor da Universidade Federal de Viçosa-MG Mauro Lúcio Gontijo - coronel da Polícia Militar/Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito-MG (*) Luiz Fernando Duarte de Moraes - Ibama-RJ (**) Miguel Senna - Polícia Federal-BA Luiz Paulo Pinto – diretor do Programa da Mata Atlântica da Conservação Internacional Brasil-MG Milton Paulo Bôer – tenente-coronel da Polícia Militar Ambiental-SP (*) Luiz Soares Nascimento – presidente do Instituto Ambiental Cafundó-ES Monica Kock - Ibama-SC Marcela Miranda Luppi - Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte-MG Nilde Lago Pinheiro – presidente do Instituto Pró-Carnívoros-SP Marcelo Barreto - Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos-BA Otávio A. V. Marques – pesquisador científico do Instituto Butantan-SP Marcelo de Oliveira Andrade – delegado da Polícia Federal-Brasília Pablo Villanueva - Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Ilhéus-BA Marcelo Mores – coordenador técnico do Projeto Corredores Ecológicos do IEMA/MMA-ES Patrícia Freire Bueno - Universidade Metodista de São Paulo-SP Marcelo Passamani – Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica-ES Patricia Gomes Salomão – Ibama-ES (*) Marcelo Ramos de Oliveira - Polícia Rodoviária Federal-ES Patricia Pimentel - Ibama-BA Marcelo Richter - Renctas Paulo J. Celestino – designer e produtor gráfico-SP Marcelo Robis Nassaro – tenente da Polícia Militar Ambiental-SP Paulo Cesar Pires Diniz da Cruz – chefe da Reserva Biológica de UNA/Ibama-BA Márcia Cristina Rezende – delegada da Delegacia de Proteção Ambiental-BA Paulo Sérgio Arêdes de Araujo – chefe substituto da Fiscalização do Ibama-SP (*) (**) Marcia Hirota – diretora de gestão do conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica-SP Pedro Manoel dos Santos – biólogo – Faculdade de Saúde Pública da USP-SP Marcia Lederman - Projeto Corredores Ecológicos-ES Poliana Floriz – Reserva Particular do Patrimônio Natural-ES Márcio Port Carvalho – pesquisador científico do Instituto Florestal da Secretaria de Estado do Meio Ambiente-SP Raulff Lima – coordenador executivo da Renctas Marcos Reis Rosa – diretor da ArcPlan-SP Regina Macedo – jornalista ambiental-SP Marcus Vinicius de Freitas –gerente técnico do Instituto Estadual de Florestas-MG Reginaldo Anaissi Costa - Ibama-ES (*) Maria Conceição Santana Pires – Ibama-BA (**) Reinaldo Martins - coronel da Polícia Militar/Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito-MG (*) Maria Eugênia Laurito Summa - Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente-SP Renata Gama Santalla - bióloga-SP Renato Peixoto Moraes – tenente do Batalhão de Polícia Florestal e de Meio Ambiente-RJ Valdir Vasques Barros – cabo da Polícia Florestal e de Meio Ambiente-RJ (*) Ricardo Sawaya - pesquisador científico - Instituto Butantan-SP Vânia Maria Tuglio – promotora de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo Ricardo Vereza Lodi - Ibama-ES (*) Vera Lúcia de Oliveira – secretária Municipal do Meio Ambiente de Ilhéus-BA Roberto Cabral Borges – chefe de Fiscalização de Fauna do Ibama-Brasília (**) Vilma Clarice Geraldi – diretora da Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo da Fauna Roberto de Almeida Borges Gomes – promotor de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia Roberto Messias Franco – superintendente do Ibama do Estado de Minas Gerais Roberto Xavier de Lima – coordenação do Projeto Corredores Ecológicos - Ministério do Meio Ambiente Robson Dalprá – delegado da Polícia Federal-ES Robson Fernandes Cordeiro - 2º Sargento da Polícia Militar Ambiental-SP (*) Rogério de Lima e Silva Caldas - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro Rogério Rodrigues Ribeiro – pesquisador científico do Instituto Geológico da Secretaria de Silvestre da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente-SP Vilma Medeiros – coordenadora financeira da Renctas Vincent Kurt Lo – analista ambiental da Divisão de Fauna e Recursos Pesqueiros do Ibama-SP Vinicius de Seixas Queiroz - Ibama-ES (**) Vinicius Leal Cavalleiro – promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro Waldir Lourenço Alves - Polícia Federal-SP Walter Nyakas Junior- capitão da Polícia Militar Ambiental-SP (*) Estado do Meio Ambiente-SP Wanderson Machado Luchi – tenente do Batalhão de Polícia Militar Ambiental-ES Ronaldo Inácio de Medeiros – capitão da Polícia Militar/Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito-MG (*) Warley Dias – delegacia de Polícia Civil-MG Rosana Silva Pinto - Renctas Waverli Maia Matarazzo Neuberger – coordenadora do Núcleo e Agência Ambiental Rute Colares Pelicao - Prefeitura de Ilhéus-BA Salvador Pettinato Neto – coronel da Polícia Militar Ambiental-SP (*) da Universidade Metodista de São Paulo Zenildo Eduardo Correia Soares – Gerência Executiva do Ibama/Barreiras-BA (*) Samuel José MacDowell – delegado da Polícia Federal-ES Sandra Giselda Paccagnella – Centro de Estudos e Reintrodução de Animais Selvagens-ES Saturnino Neto F. de Sousa - Ibama-BA (*) Responsáveis pelo preenchimento e envio dos questionários (**) Participantes do treinamento para utilização do banco de dados Sebastião Francisco Alves – presidente da Associação Capixaba do Patrimônio Ambiental-ES Selene Siqueira da Cunha Nogueira – professora da Universidade Estadual de Santa Cruz-BA Sérgio Luiz Gama Nogueira Filho – professor da Universidade Estadual de Santa Cruz-BA Sérgio Peixoto – coordenador institucional da Renctas Sergio Ramos – chefe do Escritório Regional do Ibama/Ilhéus-BA Agradecimentos especiais Jason Cole – diretor de doações da América do Sul-CEPF-Washington DC Daniela Lerda Klohck – diretora de doações da América do Sul-CEPF-Washington DC Ivana Reis Lamas – coordenadora do Programa CEPF no Brasil-MG Silvia Neri Godoy - Fundação Parque Zoológico de São Paulo Sinara Lopes Vilela - Associação Mico-Leão-Dourado-RJ Tirone Takahasi - consultoria ambiental - SP 199 Execução: Apoio: Patrocínio: