O PANÓPTICO DE BENTHAN: FOUCAULT E O ENSINO A DISTÂNCIA
CAVAGNARI, Daniel – UTP – [email protected]
MUELLER, Helena Isabel – UTP – [email protected].
Agência Financiadora: sem financiamento
Eixo: Educação, Comunicação e Novas Tecnologias/ n. 09
A Educação a Distância é uma modalidade de ensino bastante recente e dessa
forma vem suscitando reações das mais diversas entre educadores. Há aqueles que a
rejeitam, pois a vêem como um “aligeiramento” do ensino, à medida em que sua prática
não requer a presença do professor em sala de aula e, dessa forma, não existindo o
diálogo presencial, não há a possibilidade de um acompanhamento eficaz para com o
aluno. Por outro lado, a contemporaneidade coloca a sociedade educacional diante de
um fato consumado: a educação a distância está em desenvolvimento e demanda a
atenção dos educadores para que ela possa se tornar, cada vez mais, uma modalidade de
ensino de qualidade. No âmbito dessa discussão, se coloca o presente trabalho, que
busca apontar para uma nova perspectiva no que se refere ao papel do Mentor na
relação institucional no processo do exercício da educação a distância.
A abordagem teórica a que nos propomos é a de pensar alguns processos da
educação a distância, enquanto modalidade de ensino, através da ótica de Foucault no
que diz respeito às relações de poder. Esta é, aliás, uma das questões – se não a questão
– central de sua análise, sempre questionando e repensando suas manifestações nas
sociedades humanas.
Por outro lado, para nos embasar as reflexões sobre as questões referentes à
educação a distância, trabalharemos com o filósofo, também francês, Pierre Levy, que
pensa a tecnologia da informação como uma categoria cognitiva.
O panóptico idealizado por Jeremy Benthan interessava ao poder de
encarceramento das prisões nos tempos em que a eletricidade, principal fonte de energia
da modernidade, só existia nas nuvens. Isso mesmo, nos raios formados por nuvens
estáticas em dias chuvosos. Naquele tempo os homens já roubavam, matavam,
enlouqueciam e se comportavam mal perante a sociedade. Comportavam-se mal as
crianças e alunos mal educados que não seguiam as regras de “moral e bons costumes”
da época. Sendo assim, o único meio possível de controlar essa “agressão” ao “mundo
civilizado” era pelos olhos e ouvidos atentos dos cárceres.
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Segundo Foucault (1987), o Panóptico é um dispositivo polivalente de
vigilância, transformado em uma forma generalizada de construção. Um meio universal
de controle das concentrações humanas. Não era apenas uma prisão, como sugeria
Benthan, pois poderia ser aplicado a diversos meios além das prisões, como escolas,
manicômios, indústrias, etc.
É polivalente em suas aplicações: serve para emendar os
prisioneiros, mas também para cuidar dos doentes, instruir os
escolares, guardar os loucos, fiscalizar os operários, fazer
trabalhar os mendigos e ociosos. FOUCAULT (1987:170)
No entanto, antes de discutir o panóptico estudado por Michel Foucault, citado
em seu livro “Vigiar e Punir” (1987), vale a pena discorrer sobre a questão relacionada
ao objetivo principal ou conseqüência da vigília: a punição. Não exatamente a punição
que sugere a capa da 23ª edição do livro “Vigiar e Punir” (Editora Vozes) de Michel
Foucault. Sugestão estampada como “História da Violência nas Prisões”. Desta edição,
se for feita uma busca em qualquer biblioteca, e justamente pela “sugestão” da capa,
poderá ser encontrada principalmente na seção de direito penal, ao invés de filosofia ou
pedagogia. E, justamente por isso, é que qualquer pessoa poderá imaginar que o livro se
trata de uma história de prisões e de violência. Talvez mais uma triste história, como a
que descreve a situação do complexo de Carandiru, antigo presídio de segurança
máxima de São Paulo. Porém não é essa a proposta do autor. O conteúdo é sim de
violência, mas não como foco principal da obra, apenas conseqüência das estruturas
prisionais anteriores ao século XIX.
Por outro lado, no presente trabalho, não nos propomos a falar, sobre as
práticas punitivas do século XVIII. Punição dos presos, com suplício equivalente ao
tamanho da dor que este causara à sociedade. Ou então a punição dos maus alunos ou
crianças más, através da “Máquina a Vapor”. Trata-se de falar em punição sim, mas
pelo mesmo receio ao suplício que pode ocorrer caso se descubra um “mau
comportamento”. O receio de ser visto fazendo algo incorreto, sem o ter, realmente,
feito. Ou então, algo imoral sim, mas não o suficiente para o suplício esperado.
Enfim, a proposta desse trabalho é a de abordar questões relacionadas a um
panóptico que, em sua forma, é diferente daquele de Bentham e discutido por Foucault.
No entanto, em sua essência segue os mesmos princípios, qual seja, o panóptico digital.
Dessa maneira não será necessária a referência à “prisão”. A parte de “disciplina” e de
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“punição” é suficiente para que se entenda a lógica do panoptismo. Talvez não como
um vigiar e um punir, simplesmente, mas a vigilância que implica em uma tensão
psicológica de não estar fazendo o que é tido como correto ou mesmo simplesmente de
não parecer estar fazendo o que é certo.
Sala de Aula Virtual
Nos dias de hoje, falar em ensino a distância (EAD) sugere que pensemos em
uma instituição de ensino credenciada, dotada de meios tecnológicos que possibilitam
ao aluno e professor, também dotados de computadores (meios tecnológicos), e que
interagem entre si em um ambiente virtual.
Esse mundo, ou ambiente virtual, nos dá possibilidade de fazer imaginariamente
qualquer coisa que fazemos fisicamente. Obviamente que, por ser virtual,
imaginariamente. Nossa única possibilidade é a de simular um ambiente real. Mas se o
papel do professor é o de transmitir ou estimular o conhecimento, seu único meio é
fazê-lo por meio escrito, falado, gesticulado e, muitas vezes ilustrado. Sendo assim, o
próprio computador pode ser a ferramenta ideal para que o professor possa executar tais
atividades. E uma vez que, um computador pode fazer o papel do professor, através dele
mesmo, outros computadores conectados a ele, poderão chegar aos olhos e ouvidos dos
alunos.
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Segundo o filósofo Pierre Lévy (1993), a tecnologia da informação pode ser
classificada como uma categoria cognitiva. Isto significa que o ambiente virtual aliado à
tecnologia da informação nos traz a possibilidade de registrarmos o conhecimento em
bancos de dados computacionais.
Lévy considera que todo o conhecimento depende do uso de tecnologias
intelectuais e destaca que essas novas tecnologias baseiam-se na informática. Dentro
desta linha de transmissão do conhecimento por meio da tecnologia, é possível
compreender a informática como uma categoria cognitiva, em que Lévy (1993)
classifica como três tempos do espírito da seguinte forma:
− A Oralidade Primária: Vem antes mesmo de qualquer sociedade que tenha
adotado a escrita. Esta tem a palavra como função básica de gerir a
memória social. Nestas sociedades quase toda a cultura fundamenta-se nas
lembranças dos indivíduos.
− A Escrita: Com a escrita, a história pode ser narrada com detalhes, quase
sem perdas, no instante em que é gerada a informação ou pouco tempo
depois em que é memorizada. Se há perdas, são mínimas. Não é como na
oralidade primária, em que o conhecimento é gerado naquele instante e
pode ser perdido ou confundido com o passar do tempo.
− A Informática: Similar à escrita, mas com vantagens principalmente às
alterações e ao espaço. Utiliza-se de bancos de dados computacionais quase
sem limite de espaço físico, podendo ser alterados constantemente sem
deixar marcas. Armazenam em forma de códigos binários (zero e um)
qualquer informação que possa ser escrita, audível ou desenhada, e, como
dito, sem precisar estampar folhas e mais folhas de papel, como na escrita
convencional.
No ensino a distância, em sua versão hodierna que se utiliza da tecnologia da
informação, como as redes de computadores, os bancos de dados, entre outros. Nesse
processo, o professor que participa ativamente na relação de ensino e aprendizagem, é
chamado de tutor. Algumas instituições de ensino o chamam também de preceptor, de
orientador ou mesmo professor do ambiente da rede de ensino.
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Nesse sentido, o tutor é o docente que administra o ambiente de ensino a
distância1. Sua tarefa é, basicamente, a de acessar o ambiente, aplicar as tarefas préestabelecidas, corrigir as tarefas, criar fóruns de discussão, interagir nesses fóruns,
responder às mensagens e dúvidas dos alunos.
O ambiente de ensino a distância, por tratar-se de um meio computacional, é
dotado de bancos de dados e ferramentas que registram o passo a passo de seu
funcionamento. Isso significa que, cada usuário do ambiente, professor ou aluno, deixa
um registro de seus atos.
Como exemplo: para acessar o ambiente é necessário que o professor, aluno,
ou qualquer indivíduo que tenha acesso a ele, registre seu nome ou apelido (login) e
uma senha pessoal. Como em um banco, em que se digita o número da conta e senha
para acesso ao caixa eletrônico. Cada vez que o ambiente é acessado, é criado um
registro com data e hora de acesso. Também, quem acessou, que ferramentas utilizou,
que mensagens postou ou enviou, e quanto tempo interagiu no ambiente.
Nesses ambientes de ensino a distância o acesso às diversas ferramentas
depende da habilitação do usuário que esteja operando. Por exemplo, o professor tem
acesso a muitas ferramentas que o possibilitam apagar dados, escrever mensagens
particulares, acessar dados dos alunos, controlar freqüências, registrar atividades, entre
outros. O aluno, por sua vez, pode disponibilizar suas tarefas e só pode visualizar
informações postadas pelo professor ou por colegas que disponibilizaram seus
exercícios sem restrições de acesso.
A execução de uma aula a distância, com o uso de ambientes (sistemas
computacionais), funciona, de modo geral, e conforme algumas instituições de ensino
que ofertam cursos a distância2, da seguinte forma (IEAD1, 2006):
− O coordenador do curso a distância organiza as ementas das disciplinas que
farão parte do curso.
1
Ambiente de ensino a distância: Sistema computacional acessado via rede de computadores (internet)
por diversos usuários, como alunos e professores. O sistema é dotado de ferramentas computacionais de
interação, basicamente textuais, como: correio eletrônico, mensagens instantâneas (chats), mensagens
permanentes (blogs), entre outros.
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Como base para construção deste texto foram utilizados manuais de normas institucionais de três
instituições de ensino superior, sendo uma delas a CEAD-UTP (Coordenadoria de Ensino a Distância da
Universidade Tuiuti do Paraná), e os demais de duas instituições, identificadas aqui apenas como IEAD1
e IEAD2 por se tratarem de materiais de uso institucional não publicados externamente.
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− O professor responsável pela ementa e pela disciplina, o professor autor3,
prepara o material textual que será enviado ou disponibilizado aos alunos.
− Antes de iniciar o curso, o coordenador determina quem será o tutor, ou
seja, o docente que administrará as aulas no ambiente.
− O coordenador ou direção do curso designa um secretário para suporte
técnico e/ou pedagógico do ambiente.
− Outro docente, muitas vezes denominado Mentor, fica a disposição da
coordenação e do professor tutor. Ou seja, o papel do Mentor é o de
acompanhar o tutor passo a passo no uso do ambiente de ensino a distância.
Também muitas vezes o papel desse Mentor é feito diretamente pelo
Coordenador do curso.
O Panóptico Digital no Ambiente Virtual
Não poderia descrever o ambiente virtual utilizado no ensino a distância da
mesma forma que Foucault descreve o acampamento militar. Mesmo porque, o
ambiente é virtual. A distância entre uma forma, ou ferramenta, é relativa. Ou melhor,
inexiste um tamanho ou forma física real.
Também, não poderia descrever a disposição das ferramentas posicionadas
estrategicamente para facilitar a visão de quem o vigia. Mas é possível fazer uma
relação entre a construção do programa computacional com as construções em forma de
anel com uma torre no meio, ou seja, o panóptico propriamente dito.
A construção panóptica não significa, necessariamente, que as construções
devam ter essa forma. Importante é que seja possível ter-se uma visão completa,
panorâmica e geral do ambiente que se deseja vigiar.
Para entender melhor o “panóptico” do ambiente virtual de ensino a distância, é
possível descrevê-lo da mesma forma que Foucault descreve o panóptico de Benthan,
exceto pelos detalhes físicos, é claro. O ambiente virtual, sistema computacional, é
construído basicamente da forma que se segue.
3
O professor autor, ou responsável, é o docente que elabora o material da disciplina que será aplicada no
curso à distância, como as ementas, apostilas ou guias de estudo, exercícios, etc. Algumas vezes pode ser
o professor tutor do ambiente.
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Um programa computacional é escrito em linguagem lógica e apropriada para
funcionamento no computador. Nesta linguagem lógica são criadas ferramentas que
servirão para o funcionamento do ambiente.
Para não nos referirmos a um sistema específico, descreveremos o formato
básico, que pode ser entendido a todos os ambientes. Esses sistemas são compostos
basicamente das seguintes ferramentas (CEAD-UTP, 2007):
− Perfil ou cadastro do usuário: Contém espaço para dados pessoais, como
nome, endereço, telefone, foto, apelido, senha, entre outros que apresentem
e identifiquem a pessoa no ambiente. As informações deste cadastro são
guardadas em um banco de dados, o qual será acessado por qualquer
indivíduo que queira obter informações a respeito deste usuário. Os dados
registrados neste cadastro só são acessíveis pelo seu responsável, o próprio
usuário gerador do cadastro. Os demais usuários apenas podem acessá-lo
para visualizar, jamais para alterar, da forma em que somente o proprietário
das informações tem possibilidade.
Neste mesmo cadastro pessoal são colocados outros campos de registros
que não estão dispostos para alteração. Como datas de cadastro e acesso,
quantidade de acessos, mensagens postadas no ambiente, entre outras que
registram o acesso do usuário automaticamente.
O usuário não tem acesso a esses dados de registro de visita e interação com o
ambiente, para modificá-los. Muitas vezes, e na maioria delas, também não tem acesso a
essas informações, a não ser que esteja autorizado, como por exemplo a visão do
usuário professor sobre o perfil dos usuários alunos. Ou então do Mentor ou
Coordenador sobre o perfil do usuário professor.
− Mensagem eletrônica: Conhecida por correio eletrônico ou e-mail
simplesmente. Essa ferramenta dentro do ambiente virtual serve para
professores se comunicarem com alunos e vice-versa. O detalhe desta
ferramenta é que, por integrar o ambiente, as informações ali contidas
são guardadas no mesmo banco de dados. Em muitos casos, cada
mensagem que o professor envia ao aluno é copiada ao Mentor, quando
há, do ambiente. E quando não são, estão dispostas e guardadas para
serem acessadas e avaliadas a qualquer instante por terceiros.
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Enfim, toda e qualquer ferramenta, textual ou de alguma forma digital,
utilizada no ambiente, pode ser vista, revista e avaliada por qualquer indivíduo
“autorizado” pelo ambiente. Um panóptico digital que não necessita nem de olhos
humanos, nem de olhos eletrônicos (câmeras) para se ter uma visão completa do objeto
vigiado.
Pode-se dizer, então, que a diferença fundamental entre esse panóptico digital
para o de Benthan, ou para qualquer outra forma moderna de vigia, como câmeras
instaladas em ambientes, por exemplo, é que o indivíduo observado sequer tem noção
da forma que está sendo vigiado. Não sabe onde exatamente seus atos estão sendo
seguidos. Pode até saber, em tese, que está sendo observado; no entanto algumas vezes
perde essa noção, ou mesmo não se dá conta dessa observação, pois ela é invisível e
incerta a localização do vigilante.
No panóptico original, aquele de Bentham, o indivíduo observado sabe que está
sendo vigiado. Muitas vezes não sabe por quem, ou quando, mas sabe que essa
vigilância pode ser constante. No ambiente virtual, quando sabe que está sendo vigiado,
não importa por quem ou quando, mas por ser um registro permanente e de acesso geral,
sabe que não há como evitar essas ações. Uma vez que ocorre detalhe por detalhe,
caractere por caractere, bit a bit, seus atos são permanentemente registrados.
O Mentor – Vigilância e Adestramento em forma de Orientação
O Mentor, como acima mencionado, é aquela pessoa ou professor que
acompanha a trajetória do tutor no ambiente a cada instante. É um docente, ou
coordenador, que conhece e tem vasta experiência nesses tipos de ambiente de EAD.
Seu papel é o de orientar o tutor passo a passo na administração do ambiente de ensino a
distância (IEAD2, 2006).
Por ter um papel tão importante, o de orientar as atividades do ambiente, ele
tem acesso a todas as habilitações dos tutores e com a mesma possibilidade de interagir
e visualizar cada registro dentro do ambiente. Embora ele tenha a mesma possibilidade
de intervir no ambiente, não o faz permanentemente, somente se for necessário (id.,
2006).
O papel do Mentor, portanto, é o de orientar o tutor e avaliar seus passos no
ambiente. Qualquer operação falha ou mesmo “mal feita”, ou então, qualquer
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procedimento que deveria ter sido feito pelo tutor e não o foi, o Mentor tem a função de
alertá-lo, adverti-lo e, em último caso, substituí-lo se assim for necessário (id., 2006).
O Mentor, portanto, deve avaliar se o tutor está enviando as mensagens
necessárias para o bom funcionamento do ambiente; se o tutor está saindo das regras e
enviando ou respondendo mensagens particulares (o Mentor recebe todas as mensagens
que os alunos enviam ao tutor e vice-versa), se o tutor registrou as notas das atividades,
etc não passará pelo crivo da avaliação do Mentor. Enfim, ele tem ampla visão de todos
os passos do tutor dentro do ambiente (id., 2006).
No final do curso, o Mentor, quando ele não é o coordenador do curso
propriamente dito, deve gerar um relatório que será encaminhado à coordenação
registrando cada passo do tutor. Principalmente quando tiver erros, ou se precisou
intervir nas ações do tutor durante o curso. Esse procedimento serve, também, para
registrar a experiência do uso do ambiente, gerando informações para ajuste e reajuste
nas normas institucionais de sua gestão (id., 2006).
Quem já operou um ambiente de ensino a distância e já teve, por vezes, o
acompanhamento de um Mentor, pode comparar, com sua própria experiência, que a
sensação pode ser a mesma de um teste prático em que se obtém a carteira de
habilitação, por exemplo. O indivíduo deve lembrar-se de cada movimento e normas ao
dirigir, sem esquecer que, ao seu lado, um avaliador anotará cada falta em seu
formulário de aprovação.
Planejar uma aula, qualquer que seja, exige certa concentração e visão do todo.
Ao aplicar essa aula, requer cautela e precisão em cada passo planejado. Errar pode
fazer parte deste processo, mas corrigir é fundamental. Talvez o papel do Mentor se
encaixe perfeitamente na visão de recursos para o “bom adestramento”, na “correta
disciplina” descrita por Foucault:
O poder disciplinar é, com efeito, um poder que, em vez de se
apropriar e de retirar, tem como função maior “adestrar”; ou
sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e
melhor. Ele não amarra as forças para reduzi-las; procura ligálas para multiplicá-las e utilizá-las num todo. Em vez de dobrar
uniformemente e por massa tudo o que lhe está submetido,
separa, analisa, diferencia leva seus processos de decomposição
até as singularidades necessárias e suficientes... A disciplina
“fabrica” indivíduos; ela é a técnica específica de um poder que
toma os indivíduos ao mesmo tempo com objetos e como
instrumentos de seu exercício.
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O sucesso do poder disciplinar se deve sem dúvida ao uso de
instrumentos simples: o olhar hierárquico, a sanção
normalizadora e sua combinação num procedimento que lhe é
específico, o exame. (FOUCAULT, 1987:143)
Depois de Vigiar e Orientar, Punir
Saber que se está sendo vigiado, durante as ações no ambiente de ensino a
distância, pode requerer uma certa cautela por parte do docente. Principalmente quando
cometer um erro e o Mentor vier a adverti-lo por esta ação. Corrigir seus atos no tempo
certo pode até ser suficiente para que não haja efeitos maiores.
Quando se trabalha no ambiente virtual de ensino a distância se está, ao mesmo
tempo, escrevendo e enviando mensagens, constantemente, aos alunos. Quaisquer
dessas mensagens, que contenham palavras ou frases que possam ser mal
compreendidas, ou de duplo entendimento, podem gerar conseqüências difíceis de
serem contornadas. Quando se fala ou se faz um gesto, este é apenas registrado na
mente de quem vigia; o tempo se encarrega de apagar estas ações ou substituí-las por
outras que a justifiquem ou, simplesmente, anulem. Na informática, os bancos de dados
não são tão tolerantes assim. Uma vez escrito, estará registrado e a qualquer tempo
poderá ser reproduzido. Sem contar com o fato de que também pode ser apagado por
completo, desde que não seja reproduzido em inúmeras cópias, o que também é
permitido pela tecnologia da informação.
O Mentor do ambiente tem o papel fundamental de acompanhar cada atividade
do docente, orientá-lo em qualquer dúvida e principalmente adverti-lo em situações que
não façam parte das normas estabelecidas, como erros ortográficos, palavras de
vocabulário inapropriadas, etc. Também, o Mentor pode advertir o docente quanto aos
prazos que devem ser seguidos para envio de materiais e textos, para o perfeito
funcionamento do ambiente, conforme previsto.
Enfim, cada passo do docente que administra o ambiente virtual de ensino a
distância é seguido e registrado pelo Mentor. Portanto, cada passo do docente é
registrado no banco de dados do ambiente e avaliado pelo Mentor, que por sua vez
registra um relatório próprio e que, ao final do processo, o envia para a coordenação ou
direção do curso ministrado.
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Esse relatório, em muitas instituições, pode levar a entendimento de ações do
docente e também a punições previstas.
Algumas dessas punições partem de critérios avaliados a partir de seus
registros textuais no ambiente, ou seja, critérios como: postura, atendimento aos alunos,
registro de tarefas, avaliação e correção das tarefas, administração do ambiente em
geral, entre outros.
As punições para qualquer ação feita pelo docente e vigiada pelo Mentor vão
desde uma simples advertência até o desligamento do quadro de funcionários.
Como exemplo, se o docente censurar o aluno ou se comportar de forma
autoritária, lembrando, sempre textualmente. Ou então demorar em responder as
mensagens dos alunos, não cooperar, ou não interagir. Não corrigir as provas no prazo
previsto, não orientar os alunos nas tarefas, não enviar mensagens aos alunos, enfim,
não interagir ativamente no ambiente, este docente, em muitas instituições que aplicam
o ensino a distância, é advertido por isso. E após essa advertência ou reincidência, pode
ser desligado, ou melhor, demitido simplesmente.
Outras ações podem levar o docente diretamente a demissão sem que haja
advertência alguma, como: apagar ou modificar mensagens, principalmente dos alunos,
propor atividades não previstas no curso, entre outros.
O detalhe dessas punições não é exatamente uma novidade na área de
educação. O fato é que, para que essas punições ocorram da mesma forma no ensino
presencial, é necessário que haja uma câmera constantemente apontada para o professor
em sala de aula. Caso contrário, o único meio de punir seria a partir de reclamações dos
alunos. No ensino a distância os alunos nem precisam ficar sabendo que o professor se
“portou mal”. O próprio Mentor se encarrega de registrar o fato em seu relatório para
que a punição aconteça.
Conclusão
O ambiente virtual pode ter vantagens em relação ao ambiente presencial. Por
exemplo, não necessita de “olhos” diretamente voltados para as ações. Pode vigiar e
punir com informações detalhadas e precisas sem necessidade de provas materiais.
Vantagens para quem vigia. Cautela para quem é vigiado.
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Com isso, o Mentor, para alguns um “carrasco“ digital, pode vigiar e punir sem
sequer ser visto ou sem precisar ter muito a explicar. Seu papel é apenas o de vigiar e
orientar. A punição vem do resultado da sua análise. E esta é certa.
Nos dias atuais, é comum encontrar câmeras eletrônicas instaladas em diversos
ambientes corporativos, muitas vezes para garantir a segurança de clientes e visitantes, e
também para vigiar funcionários em seus afazeres. A diferença dessa vigia em relação
àquela do ambiente virtual, é que uma imagem ou som captado pode ser interpretado de
diversas formas. Não são como registros textuais guardados em bancos de dados
computacionais, que não deixam muitas dúvidas quanto ao seu conteúdo.
Vale lembrar, aqui, a conhecida frase que se diz do indivíduo que não garante
seus discursos: “o que fulano fala, não se escreve”. Frase que demonstra justamente que
as palavras podem ser ditas e depois retratadas. Mas se estiver escrito, pode ser a
garantia de registro eterno.
Ficam postas, então, a seguintes questões: será o panóptico digital uma garantia
para o bom funcionamento do ensino a distância? Justamente pelo medo que os tutores
têm de errar os tutores serão melhores docentes que os presenciais? Não sabemos até
que ponto um indivíduo pode se tornar melhor que outro simplesmente pelo “medo” de
estar sendo vigiado.
Enfim, vigiar faz parte do nosso cotidiano, sempre existiu em qualquer tipo de
atividade e sempre existirá. O que temos a fazer é sermos cautelosos e competentes em
nos nossos atos. A melhor base para que isso venha a acontecer é estarmos pautados
pela ética. Não apenas para câmeras e bancos de dados, mas para todos os nossos atos e
pensamentos. Esta é a garantia de que não haverá dor em nenhum sentido, pois não
haverá punição, nem física e nem psicológica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
13
CEAD-UTP (Coordenadoria de Ensino a Distância da Universidade Tuiuti do Paraná).
Manual Institucional de Uso do Ambiente de Ensino a Distância. Disponível em:
<http://www.utp.br/cead/>. Acesso em: 03 mar. 2007.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. 23 ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1987.
IEAD1. Normas para EAD. 2006.
IEAD2. Normas para Docentes no EAD. 2006.
LÉVY, Pierre. AS TECNOLOGIAS DA INTELIGÊNCIA – O Futuro do Pensamento na
Era da Informática. São Paulo: Editora 34, 1993.
TELEDUC – Ambiente de Ensino a Distância – NIED/UNICAMP. Disponível em: <
http://hera.nied.unicamp.br/teleduc/>. Acesso em: 21 fev. 2007.
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O PANÓPTICO DE BENTHAN