Álcool e
Saúde Pública
Denise Leite Vieira
UNIAD/UNIFESP
Uso de Álcool na Sociedade

Álcool é consumido desde
o início do registro da
história da humanidade

Fermentadas, depois,
novas formas
De produção caseira à
industrialização
Aumento do acesso


Os problemas acompanham…

Religião - Movimentos para abstinência na maioria dos
países protestantes no século XIX – desde promessa
individual até a pressão para proibição nacional

Após este momento, álcool deixa de ser visto como
uma ameaça à todos, mas apenas à uma subclasse: os
dependentes
Subtópicos da discussão:

Epidemiologia – o papel do álcool na saúde e
doença

Tratamento dos distúrbios relacionados ao uso
de álcool

Pesquisas para Prevenção e Políticas Públicas
Epidemiologia
Álcool e consequências na saúde

Relação com mais de 60 condições médicas diferentes,
na maioria dos casos, de forma nociva.

Determinadas por:
volume de consumo,
padrão de consumo (especialmente, uso
pesado irregular)
Epidemiologia

Para a maioria das doenças há uma relação quanto
à quantidade consumida, sendo que, maior o risco
quanto maior o volume consumido.

As exceções encontram-se na área cardiovascular
(especialmente doenças coronarianas e AVC),
diabetes mellitus e prejuízos onde outras dimensões
de consumo, além de volume médio, têm papel
crucial para determinar as consequências
Homens










9%
15%
13%
7%
19%
29%
25%
7%
3%
23%
100%
1%
12%
100%
2%
18%
100%
–1%
–1%
–1%
Ischaemic heart disease
Haemorrhagic stroke
Ischaemic stroke
4%
18%
3%
–1%
1%
–6%
2%
10%
–1%
Cirrhosis of the liver
39%
18%
32%
25%
12%
9%
23%
8%
6%
3%
9%
20%
10%
7%
18%
15%
26%
5%
16%
11%
24%
Unintentional injury





22%
37%
30%
n/a
Gastrointestinal diseases


Unipolar depressive disorders
Epilepsy
Alcohol use disorders: alcohol
dependence and harmful use
Diabetes mellitus
Cardiovascular disorders


Mouth and oropharynx cancers
Oesophageal cancer
Liver cancer
Breast cancer
Neuropsychiatric disorders


Ambos
Malignant neoplasms


Mulheres
Motor vehicle accidents
Drownings
Falls
Poisonings
Intentional injury


Self-inflicted injuries
Homicide
Tabela 1: Maiores prejuízos e doenças relacionadas ao álcool e proporções
atribuíveis ao álcool mundialmente
Epidemiologia

Recentes avanços sobre associação álcool e os itens
abaixo:
Câncer de mama
consumo de 10g por dia de álcool aumenta o risco em 9%;
e o consumo de 30-60g dia, risco sobe para 41%
Reposição de estrogênio após menopausa aumenta o risco de CM, associação com álcool ainda
mais.

Doenças coronarianas (incidência e mortalidade)
consumo baixo para moderado – protetor / menor índice risco 20g dia
Para consumo alto – relação de risco se inverte 70g dia maior risco do que quem não bebe
Atenção para padrão de consumo! Consumo regular, sem “binge drinking” ou
consumo pesado irregular
Epidemiologia

Violência – constantemente associado porém, a relação nem sempre é causal.
Álcool altera os receptores e neurotransmissores e vários efeitos
farmacológicos do álcool podem aumentar a probabilidade de
comportamento agressivo.
O efeito nos receptores de serotonina e GABA são similares aos
produzidos pelos benzodiazepínicos e a experiência subjetiva deste efeito
pode ser de redução do medo e da ansiedade sobre as consequencias
sociais, físicas e legais das próprias atitudes.
Álcool também afeta o funcionamento cognitivo, levando à prejuizos
na solução de problemas em situações de conflito e respostas emocionais
demais ou labilidade emocional.
São categorias que causam danos substanciais, porém não são as
maiores contribuidoras para os prejuízos na saúde advindos do
consumo de álcool.
Álcool e “Global Burden of Disease”

2 tipos de informações são necessários para estimar
variações:
1. Volume médio de consumo de álcool
(per capita)
2. Padrões predominantes de uso
(Índice de beber perigoso no país – indicador de risco por
litro de álcool consumido, composto por vários indicadores
de ocasiões de beber pesado mais a frequência de beber em
lugares públicos e não beber às refeições)
Álcool e “Global Burden of Disease”
Efeito do álcool varia entre:
1-3% de BD nos países em desenvolvimento mais pobres com baixo consumo
12.1% nos antigos países socialistas
No geral – do Global Burden of Disease:
4% álcool
4.1% tabaco
4.4% Hipertensão
6.3% Sexo sem proteção
9.5% desnutrição
Como cada vez mais atenção tem sido dada à prevenção e
manejamento de problemas relacionados ao álcool, é muito
importante que se olhe além da questão da dependência.
Implicações para Política e Tratamento
Com todos os achados nos últimos tempos, é possível
constatar que o consumo de álcool traz prejuízos não só
para o bebedor mas também para os demais.
Estudos como Global Burden of Disease aumentam a oportunidade de
comparação entre consumo, problemas e práticas de diferentes povos.
Ex. Ingleses, Dinamarqueses e Irlandeses 15 anos – maior proporção
de embriaguez nos últimos 30 dias que outros países da Europa.
(Paulínia – 11.5%)
Custo Social Relacionado ao Álcool

15% da população adulta bebe de forma abusiva

20% das famílias têm ou tiveram problemas

50% dos acidentes automobilísticos

20% das internações em clínica geral

60% dos casos de violência doméstica

50% das faltas no trabalho

90% das internações por Dependência Química

11,2% dependência ao álcool (17,1%Homens e 5,7% mulheres) –
Cebrid (2001).
Tratamento
Quando há diagnóstico de distúrbio relacionado ao álcool decisões
importantes devem ser tomadas a respeito de tipo, lugar e
intensidade da intervenção.
Sem evidência de dependência grave – intervenção em rede primária
procura reduzir padrão de consumo.
Dependentes crônicos, por outro lado, e outros bebedores com alto
consumo provavelmente tem prejuízos e precisam de mais
atenção. (Intervenção procura - abstinência completa, manejo das
condições médicas e psiquiátricas agudas, assistência
ocupacional, interpessoal e de moradia, além de promoção de
longo prazo de recuperação
Presença de complicações médicas ou psiquiátricas é importante
determinante se a reabilitação será iniciada em ambulatório ou com
internação do paciente.
Outras considerações importantes são as condições atuais de
moradia e, existência ou não, de rede de apoio social.
Figure: Algorithm for identification and management of harmful
drinking and alcohol dependence
Adapted from reference 52.

Screening




AUDIT score <8 No intervention needed
AUDIT score 8–15 Brief intervention and
Periodic re-assessment
AUDIT score 16–19 Brief intervention regular
monitoring
AUDIT score 20–40 Diagnostic assessment Evaluate presence and severity of physical
dependence
Figure: Algorithm for identification and management of
harmful drinking and alcohol dependence
Adapted from reference 52. continuação

Physical dependence is
absent or mild

Outpatient Treatment
Physical dependence is
moderate or severe
Outpatient detoxification- Inpatient detox
Management in psychiatrist's
office or referral to outpatient
or inpatient rehabilitation
rehabilitation


Aftercare including mutual help
organisations
Inpatient
Tipos de gerenciamento

Intervenções em 3 categorias:



Intervenção breve (profilaxia. Motivar bebedores
de alto risco a moderar consumo)
Programas de tratamento especializado
(dirigidas ao tratamento dos sintomas de
abstinência – alívio dos sintomas, prevenção de
recaída e reabilitação psicossocial )
Grupo de auto-ajuda (não é considerado como
“tratamento formal”, é geralmente usado como
substituto, alternativo ou complementar)
Implicações para Prática e Política

Quem consegue ajuda para o problema de beber, tem melhores resultados que os
que não tiveram ajuda; mas o tipo de ajuda, faz pouca diferença a longo prazo

A intensidade e duração do tratamento não está associada a melhoras pronunciadas
nos resultados

Tratamento em regime de internação médica, apesar de mais caras não são mais
efetivas que internação não médica e tratamento ambulatorial

Pequena evidência existe sobre o que é melhor: psicoterapia ou tratamento
farmacológico.
Os pacientes apresentam melhora significativa no primeiro ano após tratamento,
mas estudos de follow-up de longos períodos mostram que tratamento tem
pouco efeito no resultado a longo prazo.
Promover tratamento é essencial na sociedade, mas apenas isso não basta
para reduzir as taxas de problemas associados ao álcool
Pesquisa e Opções

Estudos na área incluem agora ensaios bem desenhados
não apenas pra programas focados no indivíduo, como
também voltados para a comunidade

Formadores de Políticas em sociedades onde o trabalho
científico é forte, têm agora, um conhecimento do que
funciona, em quais circunstâncias, para quem e quão bem.
Ou seja, os princípios gerais baseados nos resultados
encontrados podem ser aplicados em outros países desde
que sejam respeitadas as devidas adaptações para cada
cultura específica.
Educação e Informação Pública:
Popular mas ineficaz
Um dos primeiros recursos é campanha de informação pública
e prevenção nas escolas. Pesquisas mostram que as
medidas não são eficazes.
Apesar de aumentar conhecimento e poder mudar algumas
atitudes, afetar comportamento de beber através de
programs nas escolas é uma tarefa difícil. Não conseguem
efeitos duradouros.
As experiências de campanhas para informar a população
também se mostraram negativas.
O ideal é concentrar os esforços para formar alicerces de
suporte para implementar estratégias comprovadas de
prevenção.
Controlando Preço e Disponibilidade




Consumo de álcool, assim como de outros produtos, reage a
preço. É uma medida eficaz para redução de problemas
relacionados ao álcool em todo lugar.
Há evidências de que bebedores pesados, assim como
outros bebedores, são afetados pelos aumentos da taxa e do
preço do álcool. (Aumento de preço/imposto afeta também
taxa de mortalidade por cirrose, mortes por dirigir
embriagado e crimes violentos)
Beber e os problemas relacionados também são afetados
pela restrição de horas e dias para compra e pelo número e
tipos de lugares que vendem álcool.
Aumentar idade limite para compra e consumo também
diminui uso e vítimas de trânsito nesta faixa etária.
Reduzindo vítimas de acidentes de trânsito



Em alguns países, houve redução com adoção
de um limite de BAC e subsequente diminuição
do nível aceitável.
Eficiência dessas leis depende bastante da
percepção de poder ser pego pela polícia por
estar dirigindo acima do nível permitido.
Há clara evidência que atenção constante
da polícia no beber e dirigir tem um efeito em
reduzir o número de vítimas de acidentes
relacionados ao álcool.
Reduzindo vítimas de acidentes de trânsito




Check points (Austrália – redução de 15% em acidentes
fatais)
Melhores resultados em check points de amostra
randomizada do que em “sobriety check points” onde só so
que os policiais julgam ter bebido são testados
Licença gradual, tolerância zero para jovens e novos
motoristas também mostraram redução beber embriagado,
acidentes e danos e ferimentos para esta população.
Apesar de estudos escassos, tentativa para reduzir números
de vítimas de acidentes de outros meios de transporte, ex:
barcos, iates.
Reduzindo Violência e Vítimas do
Beber em Público
Danos/Ferimentos intencionais ou não somam uma fração
considerável de custo de prejuízo relacionado ao álcool
 29% das mortes relacionadas ao álcool no Reino Unido
estão ligadas a ferimentos.
Recentemente estratégias de prevenção tem sido focadas
em lugares públicos de consumo (bares e restaurantes) onde
70% da cerveja consumida no país foi consumida em pubs.
Sistema de licença e mecanismos de fiscalização do álcool
servido no local, onde o dono ou gerente do estabelecimento
pode ser responsável pelas políticas implementadas.
Outra estratégia : não vender a quem já está intoxicado ou a
menor de idade

Reduzindo Violência e Vítimas do
Beber em Público
Treinamento de quem serve/vende e de todos os
funcionários para controlar violência dentro do bar
e arredores.
 Fiscalização de responsabilidade civil de quem
serve, gerencia, ou é dono do estabelecimento
caso algo ocorra
Regra geral para situações que é mais fácil e mais
efetivo para o estado influenciar comportamento
ocupacional do estabelecimento licenciado do
que infuenciar o comportamento de clientes
particulares.

Criando Políticas do Álcool Efetivas



Discrepância entre resultados de pesquisas e opções de política
consideradas pela maioria dos governantes
Em vários lugares, os interesses da indústria têm, efetivamente,
vetado políticas, deixando claro que a principal ênfase é dada às
estratégias ineficazes como educação. Exemplo disso “Alcohol
Harm Reduction Strategy for England” que enfatizou a cooperação com a indústria do álcool e se esquivou das
estratégias efetivas.
A tendência é tratar bebidas alcoólicas mais e mais como um
produto qualquer negligenciando os sérios problemas sociais e
de saúde relacionados ao consumo de álcool.
Bases das Políticas





Princípio Básico:
Intervenções No Meio Ambiente
São Mais Poderosas Do Que Nos Indivíduos.
Price
Place
Product
Promotion
Política Global do Álcool

Devido à globalização, políticas do álcool não podem mais ser
de interesse nacional ou regional

É necessário um consenso internacional para o controle do
álcool, assim como foi feito com o tabaco. (Framework
Convention on Tobacco Control)

A necessidade crucial sob a perspectiva da saúde pública é
que por meios regulares de coordenação através dos quais a
prevenção dos problemas relacionados ao álcool seja levada
em conta nas decisões de política sobre o controle do álcool e
outras regulamentações de mercado das bebidas alcoólicas.
Pesquisa Escolar – Paulínia 2004
2037 estudantes de 5a EF a 3a EM
45.7% meninos
54.3% meninas
Idade de 10-27 anos sendo 88% 17 ou menor
70.0% moram com os pais
24% trabalha
Pesquisa Escolar – Paulínia 2004










Uso na vida 59.5%
30 dias
40%
Idade primeiro uso – 47.6% 12 anos (aos 17anos - 99.1%)
Embriaguez na vida 23.9 – nos 30 dias 11.6%
17.6% relataram ter bebido 5 ou mais doses últimos 30 dias
8.3% beberam na escola nos últimos 30 dias
57% já compraram bebida e apenas 1% tentou e não conseguiu
21.3% acham que nenhum lugar que eles conhecem que vende álcool,
venderia bebida sem pedir identidade
Acesso cerveja fácil 87.2%, vinho 75.8%, alcopops 56.3 e destilados
50.8%
5% compraram bebida alcoólica na escola nos últimos 6 meses
Pesquisa Escolar – Paulínia 2004
Propaganda –
95% relataram terem visto atores bebendo na TV
nos últimos 30 dias
90% viram marca/logo de bebida em programas
de TV (incluindo esportivos)
82.7% viram propaganda em revistas e jornais
21.5% têm algum produto com logo de marca de
bebida alcoólica

Pesquisa Escolar – Paulínia 2004


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


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




5.2% perderam aula devido ao álcool
3.5% estavam bêbados na escola
18% passaram mal por ter bebido
10% não se lembram do que aconteceu no período em que beberam
4.1% desmaiaram devido uso de álcool
18.5% ficaram de ressaca
10.6% ficaram preocupados por terem bebido demais
5.1% entraram em briga depois de terem bebido
5.8% transaram devido ao álcool
3.7% transaram sem camisinha devido ao uso de álcool
55% conhecem alguém que sofreu acidente causado por motorista
embriagado
64.3 % acham que as pessoas ficam mais agressivas depois que bebem
40% acham que as pessoas ficam mais descontroladas sexualmente
Campanha Propaganda Sem Bebida
A UNIAD estará colhendo assinaturas para o Movimento
Propaganda Sem Bebida e precisamos de uma equipe para coleta
conforma dados abaixo:
Datas: 28, 29 e 30 de junho
Horários: Divididos em 3 períodos –



8 às12hs;
12 às 16hs;
16 às 20hs
Obs.: Os voluntários poderão escolher um período ou mais.
www.propagandasembebida.org.br
Referências



Room, R, Babor, T, Rehm, J. Alcohol and
Public Health. Lancet 2005; 365: 519-30.
Galduróz, J.C.F.; Noto, A.R.; Carlini, E. A. IV
Levantamento Sobre o Uso de Drogas entre
Estudantes de 1º e 2º graus em 10
Capitais Brasileiras, no ano de 1997 CEBRID
WHO– Public Health Problems Caused by
Harmful Use of Alcohol. Fifth-Eighth World
Health Assembly 7 Abril 2005
[email protected]
Álcool e Saúde Pública
 Obrigada
pela atenção.
Denise Leite Vieira
[email protected]
Bases Das Políticas

1.
2.
3.
4.
5.
Vantagens Das Intervenções LOCAIS:
Mais Flexíveis
Maior Mobilização E Apoio Social
Mais Fácil De Visualizar Benefícios
Mais Fácil De Serem Ampliadas
Mais Fácil De Serem Avaliadas