PROBLEMA DE FÍSICA – INDUÇÃO ASSIMÉTRICA Enunciado: “É dado um condutor de formato esférico e com cavidade (interna) esférica, inicialmente neutra (considere que esse condutor tenha espessura não-desprezível). Coloca-se uma carga pontual +q dentro dessa cavidade, porém fora do seu centro. Pergunta-se como fica o campo elétrico (ou as linhas de campo elétrico) fora desse condutor?” (Vagner MEC-00). FIGURA 1 – Enunciado: condutor neutro esférico oco com carga elétrica no interior Resolução: (Jozias Del Rios ELE-09) Por efeito de indução, é esperado que a casca esférica interna tenha uma carga elétrica total –q, distribuída de maneira não-uniforme. Por conservação, também é esperado que uma carga elétrica +q exista na superfície da casca esférica externa. Considere R, raio interno do condutor e αR a distância da origem O à carga pontual +q. O raio externo do condutor é Rext. O campo elétrico E na fronteira entre o condutor e o dielétrico é normal a superfície do condutor e nulo dentro deste, onde o potencial escalar eletrostático V será constante, para que seu gradiente se anule, pois: E = −∇V (1) Para descobrir qual a forma das linhas de campo em torno da carga +q, considere a sua carga imagem virtual, posicionada no mesmo eixo x por motivos de simetria, com uma carga elétrica –q’, distante βR da origem O, conforme a figura 2: FIGURA 2 – Cotas das cargas (real e virtual) e das bordas do condutor no eixo x O lugar geométrico dos pontos P ( x, y , z ) na superfície interna do condutor pode ser escrito em coordenadas esféricas, segundo as transformações em (2): x = R cos θ y = R sen θ cos φ z = R sen θ sen φ (2) O potencial elétrico é constante (e também nulo, se for tomado como referência) nos pontos P. A superposição devido à carga +q e sua imagem –q’ é: 1 q q' − = 4πε 0 P − ( Rα , 0, 0 ) P − ( R β , 0, 0 ) 1 1 q q' = − 4πε 0 R 1 + α 2 − 2α cos θ 1 + β 2 − 2β cos θ V ( P) = (3) Que se anula quando: 2 cos θ (α q '2 − β q 2 ) = q '2 (1 + α 2 ) − q 2 (1 + β 2 ) (4) Como o mesmo deve ser verdade em todo ponto P, isto é, para todo θ e ϕ, então: α q '2 − β q 2 = 0 2 2 2 2 q ' (1 + α ) = q (1 + β ) ⇒ q ' = α −1q e β = α −1 (5) Com isso, a posição e módulo da carga elétrica virtual –q’ foi obtida. O campo resultante satisfaz o potencial constante dentro do condutor, e pelo teorema da unicidade, é a única solução existente. O campo vetorial elétrico resultante é mostrado abaixo para alguns valores de α: FIGURA 3 – Direção do campo para r<R (módulo não corresponde á densidade de linhas) Nota-se da figura 3 que o vetor do campo elétrico é normal na fronteira interna do condutor, o que é necessário para que não coloque as cargas elétricas induzidas do condutor em movimento na tangente, desfigurando um regime eletrostático permanente. Quanto ao campo na direção normal, enquanto não seja rompida a rigidez dielétrica do meio fora do condutor, o campo elétrico normal não conseguirá retirar elétrons da (ou prover elétrons à) superfície condutora. Pela Lei de Gauss: ∫∫ S =∂V 1 E ⋅ dS = ε0 ∫∫∫ V ρ dV = 1 ε 0 ∫∫dS σ dS (6) Para uma superfície gaussiana S prismática com faces de área infinitesimal dS paralelas à superfície interna do condutor, torna-se: E ( P) 1 ( −∇V ) dS = σ ( P ) dS ε0 (7) Então poderá ser inferida a distribuição superficial de carga σ no condutor, que depende apenas do ângulo θ, pois há simetria em relação ao eixo x: ∂V lim − r→R ∂r 1 = σ (θ ) ε0 (8) O potencial para 0<r<R é: carga − q ' carga + q −1 q 1 α − V ( r ,θ , φ ) = 4πε 0 r 2 + α 2 − 2α r cosθ r 2 + α −2 − 2α −1r cosθ (9) Então, executando a derivada e o limite de (8) usando o potencial de (9): σ (θ ) = q α 2 −1 3 4π R 2 (1 + α 2 − 2α cosθ ) 2 (10) De fato, a integral desta densidade superficial de carga em toda superfície da esfera é: π 2π 0 0 ∫ ∫ σ (θ ) R 2 sen θ dφ dθ = − q (11) Os gráficos de –σ(θ) para alguns valores de α é: FIGURA 4 – Densidade de carga –σ(θ) para α=0,2; α=0,4; α=0,6. Que apresenta picos na região mais próxima da carga +q, como era esperado. A curva do potencial V(r,θ) para alguns valores de θ, resultante da carga +q e da distribuição σ(θ), sem mais considerar a carga imagem virtual, é: FIGURA 5 – Comportamento do potencial variando o raio para alguns ângulos θ Percebe-se que o potencial é infinito onde se localiza a carga +q, e que é nulo para r>R, caracterizando a situação de potencial constante dentro (e após) o condutor elétrico, que procurávamos. Para a distribuição externa de carga elétrica que totalize +q, uma distribuição admissível (e pelo teorema da unicidade, também será a única existente) é a uniforme, para que seja mantido constante o potencial elétrico dentro do condutor, pois o potencial elétrico superposto aos pontos (r, θ, ϕ) do espaço é: V ( r ,θ , φ ) = 1 4πε 0 σ ext ∫∫ ( r ,θ ,φ ) − ( R esfera externa ext ,θ ', φ ' ) 2 ⋅ Rext sen θ ⋅ dφ ' dθ ' (12) Aproveitando que a distribuição é uniforme e tem simetria radial, o potencial então dependerá apenas do raio: V (r ) = 1 4πε 0 π 2π 0 0 ∫ ∫ σ ext , = Rext σ ext r , σ ext 2 2 ext r + R − 2rRext cosθ 2 ⋅ ( Rext sin θ ) ⋅ dφ dθ se r ≤ Rext (13) se r > Rext A distribuição externa deve totalizar uma carga +q, então: 2 4π Rext σ ext = q ⇒ σ ext = q 2 4π Rext (14) Verifica-se pelo resultado em (13) que dentro do condutor é adicionado um potencial constante, e que fora do condutor o potencial elétrico cai com o inverso da distância, caracterizando uma carga pontual centrada na origem O. A figura a seguir mostra o comportamento radial do potencial total: Como resultado final, o campo vetorial elétrico é mostrado a seguir: FIGURA 5 – Direção do campo elétrico para α=0,6 e Rext=1,25R (módulo não corresponde á densidade de linhas)