‘Fale com Estranhos’ “Trabalhávamos juntos e, um dia, no ônibus, ele começou a passar mal. De repente, ele vomitou na minha perna. Na hora, tive vontade de dar uma porrada. Tempos depois a gente tava casado.” “Meu problema agora é que não tenho mais tempo. Já fiquei velho. Meu futuro é cemitério e cada vez gemer mais. A doença vai vir. Ninguém mandou a gente nascer, mas a gente nasceu.” “Meu maior sonho é pegar meus 4 filhos que moram com meus irmãos, conhecer um cara legal que me ame, arrumar um serviço e morar com minha família numa casa.” ‘SP Invisível’ “Basicamente somos poeiras das estrelas… Você sabia que o ferro que está no seu sangue pode ter sido de um tiranossauro? Pode não, foi.” Companheiros de trabalho em uma editora, a jornalista Adriana Negreiros e o diretor de arte Daniel Motta decidiram montar o projeto a partir de uma experiência que tiveram juntos em um trabalho. Daniel já tinha desenvolvido o projeto “Me Dê Conselhos”, espalhando urnas pelas ruas deixando que as pessoas escrevessem o que bem entendessem. Dessa ideia surgiu o “Fale com Estranhos”. Assim como no embrião, a dupla não toma a ação. Eles colocam uma plaquinha amarela, sentam e esperam que as pessoas façam a abordagem. “Se ela [a pessoa] se aproxima, mostra uma disponibilidade. Queríamos que elas nos escolhessem”, explica Adriana. Os depoimentos são gravados e publicados em vídeo no site do projeto e também no Facebook. “Tivemos uma overdose de coberturas de celebridades. Acho que as pessoas comuns não estão nessas fôrmas, elas “Explodo fácil e isso estão mais espontâneas, me levou à prisão. têm diversas histórias A pessoa falava que incríveis pra contar”, roubava mulheres, conclui a jornalista. fazia isso e aquilo, e desferi um golpe nele. Saiba mais no site Tô respondendo pelo falecomestranhos.com.br 121. Homicídio, né?” “– Alguém já veio falar com você emocionada com a sua música? – Emocionada sim, uma vez só. – Como foi? – Ah, foi uma boliviana e eu beijei ela (risos).” Conversa entre dois bombeiros: “Isso aqui também é uma obra de arte?” “Sim. O prédio inteiro é arte, menos a gente.” “A rua virou minha casa e passei a ser invisível para os que são “visíveis”. Esse pessoal não me dá bom dia, você acha que vão me dar oportunidade?” Criado em 2013 pelo estudante de jornalismo Vinicius Lima e o estudante de cinema André Soler, o projeto se diferencia dos outros por direcionar seu olhar a personagens muitas vezes ignorados, os moradores de rua. “A página aconteceu para quebrar esse preconceito. A história deles os humaniza”, explica Lima. A dupla costuma aproveitar um dia inteiro para andar pelas ruas de São Paulo em busca de personagens que queiram contar suas histórias, de forma livre. “Nunca pensamos em likes no Facebook ou em aparecer em matérias. Ao criar o projeto pensamos em incomodar, abrir a cabeça das pessoas”, comenta. O trabalho de Vinicius e André já teve pelo menos um ótimo retorno. Um dos entrevistados havia fugido de casa, no Paraná, e veio morar em São Paulo, perdendo o contato com a família. Sua foto foi vista pela irmã no Facebook da “SP Invisível” e os parentes puderam reencontrá-lo. “Humanos de São Paulo” “Outro dia acordei numa praça com uns policiais me cutucando, falando que eu tava incomodando. Eu tô na minha casa e ainda incomodo? Não é possível.” Saiba mais no site spinvisivel.com Inspirada no projeto pioneiro “Humans of Nova York”, a versão paulistana foi criada pela estudante de jornalismo Paula Simões, estagiária do Metro Jornal, e o estudante de publicidade, Rodrigo Quartarone e mais duas colaboradoras, Daniela Bontorim e Nicole Liu. Sempre que possível, eles saem pelas ruas puxando papo com quem encontram pela frente, sem uma ideia prévia de que tipo de pessoa pretende encontrar. “Não temos critérios, gostamos de abordar pessoas de perfis variados, mas que, principalmente, queiram nos contar suas histórias. Então a gente tenta abordar pessoas que estejam em uma situação mais receptiva, como, por exemplo, paradas ou caminhando sem muita pressa”, explica Paula. De modo despretensioso, o projeto tomou outro rumo. “Começamos como um hobbie e dessa curiosidade mesmo sobre o ‘Humans of New York’”, diz ela. “É como se a gente entrasse em um ônibus e descobrisse um pouco mais de quem está andando nele com a gente. E vimos que temos mais em comum com essas pessoas do que o local de destino.” Saiba mais no facebook.com/humanssp