Sakura e Ipê: ressignificando a identidade de um bairro e produtos de consumo1 Nome: NUNES, Fátima Regina Vinculação Institucional: Mestranda Programa de Mestrado em Comunicação da Universidade Paulista (UNIP), sob orientação da Profa. Dra. Barbara Heller Nome: HELLER, Barbara Vinculação Institucional: Docente no Programa de Mestrado e Doutorado em Comunicação da Universidade Paulista (UNIP) Resumo Os imigrantes japoneses que se fixaram em Itaquera, na cidade de São Paulo, se apropriaram do espaço urbano de forma histórica, inserindo uma nova consciência ambiental, cultural e de valores sociais. Há 89 anos vem criando símbolos e resiginificando a paisagem local com suas flores e frutos. O sonho de poder mostrar aos descendentes as celebrações da terra distante transformou-se no maior bosque de Sakuras fora do Japão. Atualmente o bairro tem passado por modernização, especulação imobiliária e verticalização, em particular em áreas junto à Mata Atlântica, criando dessa maneira uma pretensa idéia de qualidade de vida. Esse símbolo visual também está diretamente vinculado a uma extensa gama de produtos relacionados ao elemento feminino, inserindo a cultura oriental em hábitos de consumo. Consequentemente, a memória do processo de apropriação cultural pelos japoneses nessa região pode perder-se de forma a não mais se reconhecer. Palavras-chave: Memória; identidade cultural;consumo; Itaquera; Bosque das Cerejeiras. O bairro de Itaquera na região leste da cidade de São Paulo, em 1925, recebeu uma grande imigração de japoneses e seus descendentes na época em que vieram para trabalhar como colonos. Em algumas cidades que compõem a Grande São Paulo, esses imigrantes se fixaram e trouxeram consigo seus hábitos, culinária, vocabulário, 1 - Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho COMUNICAÇÃO, CONSUMO, MEMÓRIA: cenas culturais e Midiáticas do 4º Encontro de GTs - Comunicon, realizado nos dias 08, 09 e 10 de outubro de 2014 tradições, valores sociais e culturais; a necessidade emocional e simbólica de um pedaço de sua terra. Mas, desejavam, principalmente, que seus futuros descendentes conhecessem suas raízes e sentissem um elo com sua história ancestral. Foi com esse desejo que alguns dos japoneses, que costumeiramente se encontravam no recém inaugurado Parque do Carmo para o haiku, encontro de poetas, inspiraram-se e tomaram a decisão da realização de um antigo sonho. Saudosos e com uma necessidade de significação cultural e social, decidiram resgatar os vínculos de um de seus símbolos culturais: a celebração do hanami, termo japonês que significa “contemplação do florescimento da cerejeira”. “Os japoneses utilizaram sua cultura tradicional como um instrumento flexível, com que enfrentaram suas novas condições de vida, realizando a experiência de um novo ajustamento”. (CARDOSO,1995,p.24) A constante transformação urbanística que o bairro vem sofrendo por necessidade de modernização tem descaracterizado consideravelmente todo o entorno. A criação do Parque Industrial Ecológico trouxe especulação imobiliária e muitas das habitações rurais com traços característicos orientais já não existem mais, bem como parte da história da arquitetura local. A ligação do Rodoanel Jacu-Pêssego transformou a região em tráfego de caminhões pesados, trazendo intervenções, além da violência com seus frenquentes casos de assaltos aos pequenos produtores de flores, na sua maioria idosos, que se obrigam a vender apressadamente suas propriedades abaixo do custo e a se mudarem para outras regiões. Cresce também a especulação imobiliária, que oferece empreendimentos e novos equipamentos urbanos (necessários e tardios) de acessos viários que se destacam na paisagem, criando contrastes extremos. A preservação planejada e compromissada do Bosque das Cerejeiras com a continuidade da ação da Federação Sakura e Ipê do Brasil, nos seus 37 anos, urge de apoio e garantias para o seu prosseguimento. É necessário que haja compromisso de órgãos públicos na colaboração e disseminação desses saberes no preparo das novas gerações, com intuito da conservação de seus símbolos e significados. Uma das formas mais fortes de identidade de um país define-se na sua língua, o que cria uma dimensão simbólica e gera uma multiplicidade de referências para significar sua própria cultura. Encontramos termos estrangeiros que foram incorporados ao português brasileiro e hoje fazem parte do nosso cotidiano, naturalmente, como por exemplo: abatjour, croissant, lingerie, petit four, réchaud, molho barbecue, shop, rent a car, bacon, notebook, judô, karatê, sumo, jiu-jitsu, saquê e mangá. Assim, também, a comida tem suas expressões culturais; na cidade encontramos nos restaurantes populares, onde o prato é comercializado por quilo, os sashimis, temakis e yakissobas, convivendo lado a lado com o nosso tradicional arroz com feijão, o quibe e o macarrão. Pode-se dizer que A cidade pode ser um caleidoscópio de padrões e valores culturais, línguas e dialetos, religiões e seitas, modo de vestir e alimentar, etnias e raças, problemas e dilemas, ideologias e utopias. Algumas sintetizam o mundo, diferentes características da sociedade global, tornando-se principalmente cosmópoles, mais que cidades nacionais. (IANNI, 1994, p. 28) É inegável a mescla da população paulistana, composta de árabes, negros, alemães, nordestinos, italianos, portugueses, argentinos, gregos, índios, espanhóis e tantos mais grupos étnicos e povos que formam, também, os brasileiros. Não há uma maneira especifica de distinção física que possa separá-los ou classificá-los. Darcy Ribeiro, numa análise de todos os contatos de imigrantes e brasileiros, conclui: “Progrediu a auto-identificação dos descendentes de colonos como brasileiros, diferenciados no seu modo de participação na vida nacional, por sua origem e sua experiência, mas brasileiros tão somente.” (1995, p.440) Contudo, ressalva: “apenas os japoneses por conduzirem uma marca nacional diferenciadora, tendiam não ser reconhecida a sua assimilação, mesmo quando completada como ocorre com aqueles que se urbanizaram.”(1995, p.440) O mesmo autor registra que “os imigrantes japoneses constituem provavelmente o grupo que mais rapidamente ascendeu e se modernizou. Não é raro o descendente de camponês nipônico que seja engenheiro, médico professor ou político.” .(1995, p.440) A presente pesquisa parte de uma convivência de mais de 23 anos com a colônia nipônica dessa região. A mesma deixa como legado ao bairro e a todo entorno não somente uma contribuição na aquisição de valores que vão além da cultura oriental como também na própria significação que todo ser humano tem na busca da sua forma de pertencimento e apropriação de sua identidade cultural. Segundo Canclini, quando se dão as migrações, quer populosas, quer em pequenos grupos, há um fenômeno de desterritorialização e o sistema de significação não se consolida mais num espaço próprio, ocorrendo uma fragmentação do significado da própria cultura. Os imigrantes e migrantes que formam a população paulistana sofreram esse processo e apropriaram-se de novas referências, criando sua ressignificação de forma individual, interiorizando-a e reconhecendo-se nela. Com isso, explica-se a presença massiva da população nas festas típicas que são comuns na cidade e seu sucesso, desenvolvendo-se, assim, uma lógica dicotômica, na busca de sua identidade nessas transformações contraditórias que constituem sua nova realidade. “Devemos pensar a cultura como um processo através do qual os homens, para poder atuarem em sociedade, têm que constantemente prodruzir bens culturais. Essa é a única forma pela qual podem organizar a vida coletiva". (ARANTES, p.28) Admitir essa marca cultural expressiva e sua participação na composição da sociedade brasileira e, em especial da paulistana, é reconhecer a assimilação desses valores que são a cultura viva da cidade. Segundo Marilena Chauí , devemos pensar a cultura não somente por meio de sua produção e agentes culturais, como também pelas transformações e o progresso que trazem a essa civilização.(2008, p.55) As sakuras, cerejeiras japonesas, são resultado de vários cruzamentos de outras espécies de rosáceas de origem chinesa e indiana que já há muitos séculos transformam a paisagem no Japão. A florada é um acontecimento carregado de significados relacionados ao renascimento; no Brasil se dá exatamente no inverno, entre o final de junho e início de agosto. Está relacionada à beleza da vida e sua efemeridade, uma vez que dura não mais que uma semana. Foi com esse sentimento que um grupo de moradores do subdistrito Colônia Japonesa, do bairro de Itaquera, uniu-se a outras 18 associações orientais da zona leste para, juntos, sensibilizarem a prefeitura de então o Sr. Olavo Setúbal. Com isso, conseguiram permissão para o plantio de mudas de cerejeiras, já climatizadas em Campos do Jordão, em uma parte ainda improdutiva do recente parque inaugurado na região, juntamente da mata preservada do Carmo. Muitas tentativas e trabalho árduo de voluntários fizeram com que hoje o Bosque das Cerejeiras do Parque do Carmo se transformasse em um dos maiores bosques de Sakuras no planeta fora do Japão, igualando-se a :Washington/EUA (1.912 árvores), Central Park/NY (4.000 árvores) e National Park Service/Columbia (3.800 árvores). Assim, no dia 6 de junho de 1.977, foi fundada a Comissão do Plantio das Cerejeiras. E, a este ideal, mais três entidades nipônicas aderiram ao sonho, totalizando assim 21 grupos de voluntários para esta tarefa. A socióloga Ruth Cardoso assinala. A explicação do grande número de associações em relação à população de nissei pode ser procurada nos incentivos inerentes à cultura japonesa. Tradicionalmente os japoneses se organizam em agrupamentos por idade com funções definidas, os seinenkai (associações) e seinen-dan (agremiação de jovens). ( CARDOSO, 1995, p.141) Em 17 de junho do mesmo ano foi, então, realizada uma cerimônia de instalação do bosque, com a presença do Cônsul Geral do Japão em São Paulo, Sr. Fumio Hirano, e do secretário Mario Osassa, representando o prefeito Sr. Olavo Setúbal. A festividade contou com o apoio da comunidade local e a participação dos alunos da Escola Estadual Cidade de Hiroshima. As 300 primeiras cerejeiras que foram trazidas já tinham sido anteriormente aclimatadas ao frio da serra do Vale do Paraíba. Mesmo com o apoio de órgãos ambientais, o sucesso deste trabalho parecia algo impossível e totalmente desacreditado. Um dia, em uma reunião com o prefeito e seus assessores, o Sr. Matsubara, um dos principais idealizadores desse intento, deu sua palavra de honra de que estas mudas seriam tratadas "como bebês inocentes e dependentes". Caso seu trabalho não atingisse o objetivo, ele mesmo cometeria a maior punição que seus ancestrais aplicavam aos fracassados: um haraquiri. Concordamos com Canclini que, para esses agente,s a necessidade desses símbolos e signos se resumem nas suas praticas e valores e que dão sentido a sua existência definindo o possível e impossível. A Colônia via-se completamente motivada pelo anseio de deixar para a posteridade uma herança que marcasse a existência desses pioneiros em terras brasileiras, onde foram acolhidos e seus descendentes teriam novas raízes. O Bosque só estaria completo se, junto às árvores que representavam o povo japonês, estivessem, como numa aliança de amizade, as árvores que são a alma da mata brasileira, os Ipês. Por essa razão, em qualquer bosque ou praça onde encontrarem-se cerejeiras japonesas, em memória à essa união de povos, ali também estará ao menos um pé de Ipê. Pode-se compreender segundo Canclini “como as comunidades se imaginam e constroem relatos sobre sua origem e desenvolvimento e estudar esses processo culturais” O mesmo autor segue “ serve para conhecer-se formas de situar-se em meio à heterogeneidade e entender como se procedem as hibridizações.”(2002, pp.17-18) Assim, em 1978, numa cerimônia solene foram plantadas estas primeiras mudas por mãos voluntárias e com a presença de 1.500 incentivadores de toda a região. Durante dois anos houve um empenho braçal, ideológico e moral para este cultivo. No entanto, mediante condições adversas, clima, solo e pragas em geral, aliados ao pouco preparo tecnológico destes senhores de extrema vontade, sucumbe a perdas seguidas e somente 2/3 das mudas sobreviveram. Outras foram sendo introduzidas e receberam vários técnicos da Secretaria do Verde, mas pouco se conhecia e menos se conseguia. Até que, após inúmeros exames de laboratório mais detalhados, foram identificados todos os problemas que impediam tal sucesso. Com essas informações puderam desenvolver, através de muitos experimentos, a metodologia ideal para o cultivo dessas espécies em áreas subtropicais. Enquanto não via o resultado do plantio, o guardião das cerejeiras, como Sr. Matsubara ficara conhecido, sentindo-se desmoralizado no seu compromisso, viu-se na obrigação de cumprir sua palavra e, um dia do ano de 1980, o prefeito depara-se com aquele samurai a caráter em seu gabinete para a cerimônia que constatava seu fracasso, o haraquiri (suicídio por espada). O ato, evidentemente impedido, serviu para ele conseguir ajuda na continuidade de sua tarefa. A nova oportunidade traduziu-se em anos de trabalho árduo e voluntário de um senhor idoso a carregar baldes de água pelo parque e, de sol a sol, criar condições para este bosque crescer e florir. Esse senhor caminhava quilômetros diariamente para cumprir sua tarefa; costumava dizer que o trabalho havia lhe devolvido a saúde e alegria. Canclini analisa que estes modos independentes de processo geram as construções de nações e criam retratos de heróis destinados a instaurar a iconografia que representa a dimensão de suas utopias. Com a ocasião dos 70 anos de imigração japonesa no Brasil, durante as festividades da Colônia, o Príncipe Herdeiro Akihito, em sua visita, emocionou as 80 mil pessoas presentes no parque com seu discurso sobre o quanto os imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil foram bem acolhidos. Em 1980, o cônsul japonês no Brasil, Sr. Masayuki Yabe, articulou a doação direta de 100 mudas para colaborar com a formação do bosque. No ano seguinte, o trabalho destes voluntários é reconhecido pela Associação de Sakura no Japão e mais 500 mudas chegam ao Brasil. Essa acão repercute até os dias de hoje, conforme denota a tabela abaixo: 1975 Início dos preparativos para celebração dos 70 anos de imigração japonesa no Brasil 1976 O Prefeito Sr. Olavo Setúbal adquire a fazendo do Carmo da família do Engenheiro Oscar Americano com o projeto da criação do Parque do Carmo 1977 A inspiração da criação de um bosque de Cerejeiras e concessão da área tão desejada no parque de 10 mil hectares 1978 O desafio e plantio das primeiras 300 mudas * O reconhecimento pela Associação Sakura do Japão dos esforços para o desenvolvimento do trabalho voluntário dos associados da Zona Leste e o presente de 100 mudas vindas do Japão por intermédio do cônsul Japonês no Brasil. 1981 O primeiro Show no Parque para a celebração da florada 1982 A área destinada ao bosque dentro do parque é cercada. Todas as 4 as quintasfeiras de todos os meses ocorreram mutirões voluntários para manutenção e limpeza da área do bosque. 1983 * Plantio de 60 mudas de Ipê simbolizando um abraço fraternal entre o povo brasileiro e o povo japonês. 1984 * 4ª. Festa das cerejeiras, 500 mudas doadas pelo Japão ao parque. 1985 1986 20º. Aniversário da Associação Sakura do Japão e 500 mudas doadas ao Parque do Carmo. * A Associação Sakura do Japão contabiliza que foram distribuídas 1.460.000 mudas pelo território japonês e 62.000 mudas além de 120 litros de sementes em 34 países. 1987 Final de gestão do primeiro presidente da Associação Sakura Ipê, Sr. Kauno Onuma substituído então pelo Sr. Shunji Shintaku (mas este enfermo, veio a falecer) 1988 Gestão do terceiro presidente das associação. Sr. Hiroshi Nishitani. Decidem priorizar o plantio da espécie Yukiware e sua florada como a estrela das festas Sakura Matsuri e, por meio de tratos com hormônios, adiantam a florada das Okinawa Zakura e das Himalaia. 1989 Em defesa da natureza e da Ecologia nesta data o bosque já contava com 1300 árvores semiformadas e florescendo em seu esplendor. 1990 * 1997 1998 Falece aos 93 anos o maior sonhador deste projeto o Sr. Katsutoshi Matsubara com a certeza de seu dever cumprido e a continuidade do compromisso. * 1999 2000 Eficiência aliada à responsabilidade elege o grupo a mais uma empreitada: cuidar de uma espécie de árvore (Metasequóia) considerada extinta no Planeta e que fora redescoberta por soldados no Vietnã. Foram distribuídas mudas em quatro regiões do globo terrestre. Ao grupo foram confiadas 60 pés que foram plantadas em cerimônia com a prefeita Luiza Erundina ao som dos tambores do Taikô que simbolizam o coração da Terra pulsando a vida. 90º Aniversário da Imigração Japonesa no Brasil e o 1º. Festival de comidas Típicas e Folclore na marquise do Parque do Ibirapuera. Visita do Casal Imperial japonês ao Brasil. O Deputado estadual Hatiro Shimomoto consegue aprovar o projeto de Lei No. 518/1998 que é sancionado pelo Governador Mário Covas como Decreto Lei no. 10.228, inserindo, assim, a Festa de Celebração das Cerejeiras no Calendário Turístico do estado de São Paulo. * 2001 A 22ª Festa das Cerejeiras recebe a visita da Princesa do Sakura do Japão, Emiko Kondo, que faz questão de conhecer o pedaço do Japão que existe em Itaquera. Troca de Presidência da Associação Sakura e Ipê; o Sr. Pedro Yano, então o mais votado, encontra-se ainda na gestão. 2003 * Jubileu de Prata do Bosque das Cerejeiras e, durante o ano todo, a celebração Sakura Matsuri foi cuidadosamente planejada no intuito de homenagear os pioneiros. A participação da sociedade se intensifica ano a ano; a administração do Parque sempre presente traz maior colaboração dos órgão públicos para a realização dos eventos da Associação, desde o apoio da Subprefeitura de Itaquera, a SPTUR, a Guarda Civil Metropolitana, a Polícia Militar do Estado de São Paulo, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), a Câmara Municipal de São Paulo, a Secretaria do Verde e Meio Ambiente do Município de São Paulo e a Assembleia Legislativa. 2004 * Preparativos para o Centenário da Imigração Japonesa 2005 Formalização da Entidade FSIB-Federação de Sakura e Ipê do Brasil pela nova gestão assumida pelo Sr. Pedro Yano. Em 7 de Agosto celebra-se a 27ª Sakura Matsuri com a participação de todas as Associações que compõem a FSIB. 2006 Um ano para o planejamento e preparativos dos festejos dos 100 Anos de Imigração Japonesa no Brasil em 2007. 2007 * A Federação recebe o escultor japonês Kota Kinutani para definir o local dentro do parque onde seria instalada sua obra que marcaria os festejos do centenário da imigração em 2008. 2008 * 2012 Celebração do centenário com a visita ilustre do Príncipe Naruhito recepcionado pelo Prefeito Gilberto Kassab e a inauguração da instalação do artista plástico e escultor japonês Kota Kinutani. Esculturas lúdicas em formatos de círculos compostos de blocos de granitos de cores distintos, formando o monumento intitulado “SONHO E GRATIDÃO”, com a simbologia de ratificar ali um círculo de amizade e compreensão mútuas em prol do futuro e a solidez de uma ponte entre o Brasil e Japão. O Bosque das Cerejeiras conta com 3.000 pés de Sakuras. Em 2012 também, o então prefeito Gilberto Kassab firmou uma parceria com o Banco Itaú para a revitalização do parque. No mesmo ano, por interesses políticos, o parque foi rebatizado de Parque Olavo Egídio Setúbal, em homenagem ao ex-prefeito, que governou a cidade entre 1975 e 1979 e foi o criador do parque. O trabalho de ampliação do Bosque atinge 4.100, ultrapassando a Alameda das Cerejeiras em Washington/EUA (3.000) e 600 Ipês de cores variadas. O Bosque das Cerejeiras do Parque do Carmo torna-se o maior do mundo fora do Japão. Em Agosto dá-se o início de plantio de 100 novas mudas que fazem parte de uma meta de ampliação de um total de 1.000 pés adicionais. 2013 * 2014 * Meta de conclusão de plantio das 900 mudas restantes até o final deste ano, chegando ao total de 5.100 árvores plantas no mesmo bosque. Recebeu a visita da Primeira Dama do Japão a Sra.Aki Abe. 2015 * Preparativos para os festejos dos 90 anos de imigracão no bairro. * Eventos de repercussão internacional. E, assim, com parcerias e muito trabalho que vem sendo transmitido às novas gerações, o sonho dos poetas tornou-se a cada ano mais e mais conhecido e valorizado. Muitas destas mudas aclimatadas foram plantadas em outros parques da cidade de São Paulo e hoje pode-se constatar sua florada no Ibirapuera, Jardim Botânico, Horto Florestal. A chácara Yukiware, no bairro da Colônia, produz parte significativa das mudas de reposicão dos parques e do bosque, onde se situa a ávore mais antiga com cerca de 50 anos, utilizada como referência imagética da embalagem do perfume Florata produzido pelo Boticário. Cerejeira da espécie Okinawa, que inspirou o perfume Florata. Foto: Fatima Nunes As festividades do Hanami se dão por toda a comunidade japonesa e sua beleza popularizou-se, bem como a filosofia de saúde física e mental para uma vida plena. Reconhecer o Bosque das Cerejeiras, como Patrimônio Imaterial, Paisagístico e Cultural da cidade de São Paulo, nada mais será do que consolidacão deste bem simbólico, histórico–étnico e a inegável contribuição da preservação da memória dos imigrantes japoneses na região que trouxeram sua cultura, seus valores, sua capacidade produtiva e seus sonhos. Essa cultura é percebida desde os nomes das ruas e suas indústrias (na maioria de propriedade de descendentes orientais), como também pelo seu trabalho de conscientização ambiental e social inserido na sociedade local, escrevendo, assim, a história do bairro com suas flores e ideogramas. Os imigrantes e migrantes que formam a população paulistana sofreram esse processo e apropriaram-se de novas referências, criando sua ressignificação de forma individual, interiorizando-a e reconhecendo-se nela. Com isso, explica-se a presença massiva da população nas festas típicas que são comuns na cidade e seu sucesso, desenvolvendo-se, assim, uma lógica dicotômica, na busca de sua identidade nessas transformações contraditórias que constituem sua nova realidade. “Devemos pensar a cultura como um processo através do qual os homens, para poder atuarem em sociedade, têm que constantemente prodruzir bens culturais. Essa é a única forma pela qual podem organizar a vida coletiva". (ARANTES, p.28) Atualmente, urge a disseminação desses saberes no preparo das novas gerações visando a continuidade de seus significados e símbolos que identificam e traduzem a forma que encontraram de apropriação da nova terra. Tanto os imigrantes japoneses, como os moradores dos conjuntos habitacionais, encontraram na natureza local condições de significação de sua nova realidade, interiorizando-a de forma a reconhecerem-se nela. A hibridização cultural neste momento, obteve uma expressiva colaboração por parte das mídias impressas e telejornalisticas as quais tiveram papel significativo na inserção das celebrações orientais no cotidiano do bairro, fortalecendo os laços de memória dos pioneiros como símbolo de amizade e cultura entre dois povos em dois períodos na construção de sua cultura. Itaquera é uma região populosa e, neste ano de 2014, vem sofrendo transformações aceleradas. Consequentemente esse espaço urbano está perdendo seu conjunto de obras e mensagens que estruturavam sua cultura visual e criavam uma leitura desse bairro e vão perdendo sua eficácia. A especulação imobiliária e a construção do Estádio Itaquerão estão tornando o bairro a cada dia mais verticalizado. A Federação Sakura e Ipê têm em suas associações não somente um trabalho voltado para as flores e preservação da memória de uma cultura, como também um vasto trabalho social junto à terceira idade, com atividades que têm contribuído para saúde e bem estar de grande parte destes seus associados, orientais ou não. Desenvolve uma ação de conscientização da preservação ambiental e tem contribuído significativamente com o desenvolvimento da juventude na introdução de valores morais, sociais e artísticos.O Bosque das Cerejeiras propiciou um ponto de referência de expressão da cultura local a tal ponto, que uma das maiores empresas instaladas na região da Colônia, a Panco, utilizou das imagens de cerejeiras para significá-las como se já fosse considerada árvore nacional em sua série "Conheça nossas árvores" nas embalagens das bisnaguinhas. Processo semelhante ocorre com outras empresas cosméticas direcionadas ao público feminino como a linha Florata do Boticário, esmaltes Risqué, Linha Dove, produtos Natura, L'Occitane entre outras. Podemos reconhecer os valores simbólicos e culturais no consumo desses produtos relacionados às flores diretamente significados visualmente pela referencia de feminilidade, tanto das cores em tons de rosa, quanto à delicadeza da apresentação dos elementos orientais. Nesse mesmo viés, a indústria Panco insere no seu produto parte da filosofia dos ancestrais dessa região com uma proposta de consciência ambiental. A climatização, adaptação das Sakuras e o desenvolvimento de uma metodologia de cultivo ressaltam os saberes e as práticas da comunidade em seu contexto cultural que se firmou e transformou o entorno e em toda sua comunidade.. A disseminação desses saberes no preparo das novas gerações visa a continuidade de seus significados e símbolos que identificam e traduzem a forma que encontraram de apropriarem-se da nova terra. tem papel relevante na continuidade dessa história. Estabelecendo um paralelo com a criação do bosque no mesmo momento em que o bairro sofria uma expressiva hibridização com a vinda dos novos moradores provenientes de várias outras regiões para ocuparem os novos conjuntos do programa de habitação popular COHAB. Podemos conhecer através do jornal local, “Noticias de Itaquera”, com distribuicão gratuíta, a representatividade que a colônia japonesa já encontrava e os anseios de modernidade da população com a expectativa de investimentos de equipamentos urbanos de transporte, saúde , educação e lazer. Este fato teve considerável influência sobre o resultado do aculturamento desses grupos que estão em busca de novas referências e significação. Assim, apropriaram-se da cultura local dos orientais para reconstruírem suas referências, gerando um hibrisimo cultural. Desta maneira buscam construir percepções e linguagens que os representam. É do ser humano uma necessidade nata de pertencimento; assim como ocorreu aos japoneses que chegaram há muitos anos em condições quase similares, houve uma imediata apropriação cultural e social por parte da nova população que se formava na região. Neste momento da historia local, a mídia jornalística teve forte influência servindo de elo de ligação entre estes dois grupos heterogêneos. Muito além de oferecer as informações que estes grupos necessitam para compreenderem a complexidade desse conflito urbano os meios de comunicação ajudam a imaginar uma sociabilidade que relaciona estas comunidades entre si. Analisando as publicações do jornal Noticias de Itaquera no inicio deste processo com as edições. 01 a 153 (Ago 1980 à Jan. 1986), pode estabelecer a seguinte relação entre os destaques de primeira ‘pagina com 11% das edições, 34% caderno de noticias e 9% de página inteira na contra capa. A inserção destes valores e a hibridização cultural neste momento obteve uma expressiva colaboração por parte das mídias impressas e televisivas, as quais tiveram papel significativo na inserção das celebrações orientais no cotidiano do bairro fortalecendo os laços de memória dos pioneiros da região como símbolo de amizade e cultura entre dois povos e dois períodos da história local. Podemos com isso dizer que o assentamento de colonos japoneses e seus descendentes no Brasil , proporcionado pela mobilidade das famílias que vieram do Japão para trabalhar nas lavouras e pouco a pouco foram se transferindo para áreas de periferia mais próximas dos centros urbanos. O qual, no intuito de criar condições de educação e desenvolvimento social a seus descendentes sofreu também um choque cultural. Buscaram essa ressignificação principalmente em suas associações, onde puderam preservar símbolos que criavam sua identidade. Com suas festas o Bosque das Cerejeiras hoje é um símbolo dessas culturas que interagiram e lançaram mão de seus traços culturais diferenciais e se reidentificam no trabalho de manutenção e disseminação dos valores sócio ambientais e a implantação de conceitos de preservação, ecologia, medidas educativas e laços de amizade entre dois povos, Brasil e Japão. Os quais deixam um legado de grande significado para a cidade de São Paulo tanto material em relação ao bosque, como pelo trabalho desenvolvido neste período, reconhecido internacionalmente. As transformações urbanísticas ( necessárias e tardias) e as novas construções todo o bairro vem sofrendo mudanças extremas, consequentemente parte de sua história desaparecendo como as antigas chácaras de produtores pêssegos e flores que não existem mais e com eles a própria memória da imigração japonesa no bairro nos seus 89 anos. Referências CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Hibridas; estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000. CARDOSO, Ruth Corrêa Leite. Estrutura Familiar e Mobilidade Social- Estudo dos Japoneses no Estado de São Paulo (tese de doutoramento, 1972) edição bilíngue português/japonês São Paulo: Primus Comunicação, 1995. CHAUÏ, Marilena. Cultura e democracia. Crítica y Emancipación, (1): 53-76, junio 2008. IANNI, Octavio. A cidade global. Revista Cultura Vozes, v. 88, n. 2, março/abril, 1994. REIS, Maria Edileuza Fontenelle. Brasileiros no Japão: O elo das relações bilaterais SP 2001 – Tese de doutoramento da Consulesa Geral Adjunto do Brasil em Tóquio. RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1995. WADA, Koniti e ODA, Sérgio Ocimoto. Cultivando uma semente da amizade entre o Brasil e Japão –SAKURA: Livro Comemorativo do 30º Aniversário do Bosque das Cerejeiras do Parque do Carmo. São Paulo: Paulo’s Comunicação e Artes Graficas Ltda. 2008.