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IDEALISTAS E EMPREENDEDORES: UM MODO DE SER PROTESTANTE NA REGIÃO DE
CAMPINAS
Gerson Leite de Moraes
Introdução
O propósito deste trabalho é resgatar alguns fatos de grande relevância que marcaram a história do
protestantismo/presbiterianismo na região de Campinas. O grande problema é que esses grandes fatos
relevantes, no passado, eram segregados e colocados no limiar do esquecimento, ficando, portanto,
fora da historiografia oficial. Felizmente hoje em dia a situação tem mudado. A historiografia moderna
apresenta-se como um campo fragmentado, onde a história dos excluídos, dos marginalizados pela
história oficial têm tido ampla repercussão. Esse trabalho poderia ser definido com um enfoque de
História Social, abordado a partir da História Regional, circunscrevendo-se no domínio da História da
Religião. (BARROS, 2004, p.p.9-18)
O recorte feito recaiu sobre duas instituições de grande importância para a memória
protestante/presbiteriana na região de Campinas, a saber, a organização inicial da Igreja Presbiteriana
de Itapira e o Centro Áudio-Visual Evangélico, o CAVE. Essas duas instituições foram escolhidas pelo
fato de serem obras protestantes/presbiterianas de impacto na região e serem muito pouco, ou quase
nada abordadas na academia, e conseqüentemente serem quase que totalmente desconhecidas do
público presbiteriano e evangélico hodierno.
O trabalho está estruturado em dois capítulos e uma pequena conclusão. No primeiro capítulo
procurou-se trabalhar com fontes primárias, com depoimentos de descendentes dos pioneiros que,
numa época dificílima esmeraram-se para dar início ao trabalho presbiteriano em Itapira e com obras
bibliográficas que tratassem do assunto. Já no capítulo segundo, a pesquisa foi de cunho totalmente
bibliográfico e a dependência recaiu sobre as obras do Dr. Alexandre Brasil Fonseca e da Drª Karina
Bellotti, ambos que já há algum tempo têm se destacado como grandes pesquisadores na área de
mídia evangélica.
Capítulo 1 – A Igreja da Penha = Itapira
A Igreja Presbiteriana de Itapira foi uma das primeiras igrejas a aparecer como fruto do trabalho
presbiteriano na região de Campinas. Há uma grande divergência sobre a data de organização da
Igreja, existem registros que apontam para o ano de 1874, outros para o ano de 1875 e aquilo que
poderia ser chamado de “termo de abertura” do primeiro livro de Atas do Conselho aponta para o ano
de 1876.
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A data mais aceita é 1874 e para comprovar tal tese é necessário recorrer às informações do
Reverendo Júlio Andrade Ferreira que diz o seguinte:
“A 13 de Janeiro de 1872, uma reunião se deu na cidade de Campinas, em atenção à ordem da
Assembléia Geral dos Estados Unidos, e havia, presentes, os seguintes ministros: Rev. Senhores C.
Nash Morton, E. Lane, James R. Baird, e W.C. Emerson, e bem assim os presbíteros regentes W. P.
Mcfadden e J. Mc F. Gaston, os quais procederam à organização do Presbitério de São Paulo” “A
primeira mesa ficou assim constituída: Rev. G. Nash Morton – moderador; Dr. J. M. Gaston – secretário
temporário; Dr. Eduardo Lane – secretário permanente”. (FERREIRA, 1992, p.166-167).
Após a organização desse presbitério, que esteve vinculado por algum tempo ao sínodo da Virgínia,
aconteceram 03 reuniões entre os anos de 1872 a 1874, na quarta reunião ocorrida em junho de 1874,
na cidade de Santa Bárbara, a igreja de Itapira foi arrolada, como se observa pela citação abaixo:
“A reunião de 1874, em junho, ainda em Santa Bárbara, se dá de novo sem a presença de Morton, e
desta vez também de Emerson. É arrolada a Igreja da Penha (= Itapira)...”(ibid.)
Conclui-se, portanto, que no primeiro semestre de 1874, a Igreja de Itapira já havia sido organizada,
sendo arrolada somente no mês de Junho daquele ano. Examinado o primeiro livro de atas da Igreja
percebe-se uma estruturação redacional diferente daquela que é convencional nos dias hodiernos. Nas
primeiras páginas percebe-se o registro do rol de membros, com suas respectivas idades e
nacionalidades, e aquilo que poder-se-ia chamar de ata propriamente dita é datada de 18 de Julho de
1875.
“No dia 18 de Julho de 1875, reuniu-se o Pastor G. N. Morton e o Presbytero Antonio Garcia, para o
exame de Antonio da Silva Rangel e como o exame não foi satisfactório, foi admitido só para o batismo,
ficando sujeito ao segundo exame para a profissão de sua fé. Mais (sic) também para dar exame
Antonio Netto e este foi reprovado por não estar firme em sua fé, assim o pastor mandou que o mesmo
Senhor estudasse para o segundo exame.” (Ata do Conselho da IP Itapira p.04)
Este senhor Antonio da Silva Rangel, mais tarde doou um terreno para a construção do atual templo
da IP de Itapira.
“A igreja Presbiteriana é a última construção antiga no lado par da numeração das casas e tem o n° 92,
antigo 16A. O prédio na esquina faz frente para a Rua 15 de Novembro. Não há informação precisa do
início das obras do templo, mas sabe-se que foi concluído em 1910. Também faltam dados sobre o
autor do projeto arquitetônico. O prédio foi construído em terreno doado pelo membro da igreja, sr.
Antônio Rangel, terreno esse que abrangia uma área que vinha desde a Rua Comendador João Cintra”
(MANDATO, 2006, p.222)
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Ainda na primeira ata, aparece o nome do Presbítero Antonio Garcia que apesar de eleito não
estava ordenado, sendo que sua ordenação só aparece na segunda ata iniciada no dia 06 de Janeiro
(quarta-feira) e que narra os acontecimentos até o dia 10 de Janeiro de 1876. É somente nesta
segunda ata que registra-se a chegada do Reverendo Eduardo Lane. A ata registra o seguinte:
“No dia 06 de Janeiro de 1876 chegou aqui o Pastor E. Lane pregou 5ª feira, 6ª feira e (sic) sábado. No
domingo de manhã houve a celebração da Ceia do Senhor, juntamente fizeram profissão de fé o Sr.
João Maiato, Federico Scholl (sic), José Zacarias de Miranda e Silva e D. Júlia. Na mesma noite foram
ordenados os oficiais desta igreja, os senhores Conrado Wiesmann e Antonio Garcia, o primeiro
diácono e o segundo como Presbytero” (Ata do Conselho da IP Itapira p.04).
Esta ata registra que depois de vários dias de trabalhos na cidade, o Reverendo Eduardo Lane
ordenou os primeiros oficiais da Igreja, e isso ocorreu num domingo, dia 10 de Janeiro de 1876. Aqui
apresenta-se um problema cronológico. A Igreja de Itapira comemora o seu aniversário de organização
a partir da data de 10 de Janeiro de 1874. Como foi observado anteriormente, com toda certeza a igreja
estava organizada no primeiro semestre de 1874, no entanto, a data de 10 de Janeiro parece ter sido
tomada posteriormente a partir da ordenação dos primeiros oficiais, porque se 10 de Janeiro de 1876
caiu num domingo, isso não poderia ter acontecido dois anos antes, a saber, no ano de 1874. E todos
sabem que o dia preferencial para se organizar uma igreja é o Domingo, o dia do Senhor. Pode-se
depreender também daí, que a Igreja foi organizada numa sexta-feira (isso sem levar em consideração
a possibilidade de ano bissexto), 10 de Janeiro de 1874 e dois anos depois, o Reverendo Eduardo
Lane para comemorar o segundo ano de organização da igreja aproveitou a ocasião e numa bela
coincidência ordenou os primeiros oficiais daquela igreja. Essa é uma questão difícil de se resolver.
O trabalho protestante na cidade de Itapira teve início na segunda metade do século XIX, quando
ainda vigorava uma relação muito estreita entre Estado e Igreja no período monárquico brasileiro. Essa
relação era extremamente prejudicial para os “acatholicos”, como se dizia na época, porque não
permitia a estes participarem como cidadãos com plenos direitos na sociedade brasileira, sendo-lhes
vedado, por exemplo, o direito ao casamento religioso. Somente com um decreto baixado pelo então
imperador D. Pedro II isso tornou-se possível. A colônia alemã solicitou então a vida de um pastor
presbiteriano para oficiar um casamento e este pregou pela primeira vez em Itapira na rua do Comércio
n° 36 (atual Francisco Glicério) e este pastor presbiteriano era o Reverendo George Chamberlain. Isso
ocorreu em meados dos anos 60 do século XIX e por ocasião da presença do Reverendo Chamberlain
em Itapira, o Sr. Jacob Bologna abraçou o evangelho. Ele era um italiano de Piemonte, norte da Itália,
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nascido em 24 de Julho de 1832 e que havia lutado como soldado de Guiseppe Garibaldi em 1860 em
prol da Unificação Italiana, fazendo parte das famosas tropas garibaldinas conhecidas como, “os mil
camisas vermelhas de Garibaldi”. O destemido aventureiro liberal do século XIX que já havia lutado na
Revolução Farroupilha (1835-1845) e que nesse período em que esteve no sul do Brasil conheceu, a
corajosa Anita Garibaldi, vindo posteriormente a casar com ela, aproveitou os anseios liberais e
nacionalistas que sobejavam no povo da península itálica (na época divida em sete estados sob
influência de potências estrangeiras) e arregimentou mil voluntários em Gênova e conseguiu unificar a
Sicília (sul da Itália) ao Reino Sardo-Piemontês, o carro-chefe da unificação italiana. Jacob Bologna
fazia parte desse grupo. Não há documentos que comprovem que ele era um carbonário1, mas seu
engajamento político não deixa dúvidas quanto ao ideário que norteia sua vida. Pode-se aferir que o Sr.
Jacob Bologna era defensor, portanto, de idéias liberais (gov. representativo, constitucional, divisão de
poderes, etc) e idéias nacionalistas. Fugindo dos horrores da guerra encontrou uma alemã chamada
Tereza Ratz (1843-1912) que também havia sofrido as agruras da guerra por ocasião da Unificação
Alemã e havia se estabelecido na colônia alemã que havia em Itapira naquela época. Jacó e Tereza
encontraram-se no Brasil e casaram-se em Itapira. Seu neto, Israel Bologna relata alguns fatos
pitorescos da saga do Sr Jacob Bologna:
“Ele se orgulhava de dizer que era um soldado garibaldino piemontês. Veio da Itália em 1861 com um
irmão que chamava-se Pedro e encontrou aqui a minha avó Tereza. Meu avô Jacob construiu o
casarão na expectativa de fazer dele um Hotel, pois naquele período a estrada de Ferro da Mogiana
estava programada para passar no Bairro do Cubatão, fato que não veio a concretizar-se e que trouxe
sérios prejuízos para o meu avô. Foi esse casarão que serviu para as primeiras reuniões da Igreja
Presbiteriana de Itapira. Ele era um italiano muito brincalhão que sempre que podia reunia-se com
outros italianos residentes em Itapira na época. Um deles era o Sr. Romano Mozaquatro, natural de
Veneza, ele era uma vítima das constantes brincadeiras do meu avô. Meu avô dizia em tom de galhofa
para ele: Romano, eu sou um garibaldino piemontês e não um comedor de polenta como tu e caía na
risada logo em seguida”. (Entrevista em 13/03/2007)
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A partir de 1808, na Itália, os carbonários assumiram o lugar dos maçons, cuja organização havia sido proibida.
Conquistaram adeptos entre nobres, estudantes, soldados, burgueses e padres e estenderam suas ramificações por
toda a península. A origem do nome é controvertida. Para não serem descobertas reuniam-se em carvoarias –
seria essa a razão do apelido. Mas há quem atribua a denominação a uma receita hoje encontrada nos quatro
cantos do mundo: o macarrão à carbonara. Originalmente, informa o especialista Sílvio Lancellotti, usavam o
bucatini, um espaguete furado: “Esses revolucionários eram basicamente, sicilianos e calabreses, que tinham
uma história de resistência às invasões estrangeiras e dos aristocratas do Norte. Reuniam-se em lugares
protegidos, camufladíssimos, mas, como todos os bons italianos, gostavam muito de comer. Na pressa e para
não correr riscos desnecessários, desenvolveram uma receita em que o molho podia ser feito nos poucos
minutos em que o macarrão cozinhava. Sobre ele espargiam pimenta-do-reino generosamente, o que dava ao
prato a aparência de algo polvilhado por carvão em pó; daí viria o carbonara da história”. (MARCUN, Paulo
1999, p.87)
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Foi na casa deles, no sobrado construído inicialmente para ser um Hotel, no morro do Macumbê, no
Bairro do Cubatão, que teve início os primeiros trabalhos regulares da Igreja de Itapira.
Nessa mesma época vivia em Itapira o Sr. João Conrado Wiesmann, natural de Zurique na Suíça,
nascido em 1838. A Suíça no bojo das revoluções liberais e nacionalistas iniciadas, a partir de 1830 na
França, deflagrou através da Sociedade Helvética dos Estudantes uma série de movimentos de cunho
liberal, que permitiram ainda em 1830, a abolição da Constituição autocrática que regia o país, sendo
aprovada uma outra Constituição mais liberal. João Conrado Wiesmann nasce, portanto, num país que
lutou muito para respirar ares de liberdade e esse princípio o acompanharia por toda vida. Segue
abaixo uma foto do Sr. Conrado Wiesmann e sua esposa Amélia Bolliger.
Por ocasião de sua morte em 1896, o Reverendo Álvaro Reis escreveu:
“Que caráter probo! Que pai exemplar! Que marido irrepreensível! Que homem honesto em seus
negócios! Que caráter bom! Que modelo de presbítero e verdadeiro ancião – era Conrado Wiesmann!
A sociedade itapirense perdeu talvez, o cidadão de mais caráter e o mais esplendoroso modelo de
constância no trabalho. Era suíço por nascimento, brasileiro e republicano de coração. Era a coluna da
Igreja Presbiteriana de Itapira e presbítero desde o seu início. Sendo presbítero era também diácono,
porque era ele quem fazia a escrituração da Igreja, zelava pelos compromissos pastorais, zelava pelo
culto, ele mesmo acendia os lampiões, abria a casa, fazia tudo, tudo sem nunca reclamar, sem nunca
dizer uma palavra sequer! Oh! Que falta extraordinário não faz esse irmão. Inteligentíssimo, proferia
verdadeiros sermões, perfeitamente bem construídos, perfeitamente bem desenvolvidos. Estudioso,
todos os dias lia o “Diário de Campinas”, primeiramente, simpaticamente, logo ao anoitecer: depois lia
os jornais alemães, depois os livros em alemão ou português e finalmente a Bíblia, que era a coroa da
leitura. Todos os dias das seis e meia (da manhã) às cinco e meia da tarde, se dedicava ao pesado
ofício de ferreiro no qual era um distinto e verdadeiro mecânico. Os estudos prediletos de Conrado
Wiesmann eram a História da Suíça, da Alemanha, Geografia, Matemática e a Santa Palavra de Deus.
Quando se referia à história de sua pátria demorava-se repetindo todas as datas com precisão; os
nomes dos generais que se salientaram nesta ou naquela batalha; os principais episódios, os contos
populares; a descrição dos lugares em que se deram as mais célebres batalhas; a estratégia dos
generais, as conspirações – tudo, tudo com precisão como se ele fosse testemunha ocular de tudo. As
guerras religiosas, de que foi teatro a Suíça. Oh! Como ele comoventemente as descrevia!...Como
nessas narrações se manifestam os sentimentos cristãos de sua grande alma!...” (O PURITANO, 1896.
in: Jornal a Tribuna de 24 de Agosto de 1997)
Nas informações acima relatadas pelo Reverendo Álvaro Reis percebe-se que o Sr. Conrado
Wiesmann era uma figura ímpar. Homem culto e íntegro e que velava pelas liberdades individuais,
sendo um republicano de coração, opção política esta que ele trouxe da Suíça. Pode-se dizer também
que ele era um liberal de coração, que lutava através da sua fé, contra as mazelas e distorções da
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monarquia brasileira. Tanto ele, como o Sr. Jacob Bologna são exemplos de homens ávidos pela
liberdade de um país assolado pelos distúrbios produzidos pela relação estranhíssima entre o Estado
brasileiro e a Igreja Romana. O Evangelho pregado pelos protestantes do século XIX abria a
possibilidade para um modo de ser no mundo; oferecendo uma base sólida de valores e princípios que
regiam os passos dos convertidos. Não se quer afirmar com isso, que a conversão de ambos tenha um
caráter político, somente se deve constatar que esses presbiterianos que deram início ao trabalho da IP
de Itapira sabiam muito bem quais eram os valores espirituais, sociais e políticos a serem defendidos.
Outros pioneiros importantes nesses primórdios da IP de Itapira são, os bravos missionários
oriundos dos EUA, que aportavam em terras tupiniquins e escolhiam Campinas como quartel-general
de suas atividades.
É impossível falar no trabalho iniciado em Itapira e não mencionar a figura heróica do Reverendo
Eduardo Lane, um dos primeiros missionários da Igreja Presbiteriana do Sul, que veio para o Brasil em
1869, juntamente com o Sr. e Sra. George Nash Morton. O Doutor Carl Joseph Hann registra que logo
após a Guerra de Secessão (1861-1865):
“a empobrecida Igreja do Sul, que tinha sido forçada a fechar o seu Seminário Teológico por causa da
conscrição de seus jovens, reabriu-o em 1865 estando Edward Lane entre os alunos do primeiro ano.
Quatorze desses jovens graduaram-se três anos depois sendo que quatro deles ofereceram-se para
servir no exterior. Lane estava entre eles, vindo no ano seguinte para o Brasil para fundar a primeira
missão da Igreja Presbiteriana do Sul neste país. Campinas foi escolhida como centro do trabalho,
sendo Lane o pastor da igreja ali fundada”. (HANN, 1989, p.180)
A mencionada “empobrecida Igreja do Sul” é a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos que viu nas
já existentes colônias de norte-americanos instaladas no Brasil uma excelente oportunidade para a
evangelização. Sobre esse assunto, Hann sentencia:
“Ao final da Guerra Civil muitos sulistas que tinham perdido tudo no colapso da causa confederada
vieram em colônias para o Brasil com o intuito de reconstruir suas fortunas e estabelecer novos lares. A
mais bem sucedida dessas colônias foi a que se estabeleceu no Estado de São Paulo, num lugar
chamado Santa Bárbara do Oeste, perto de Campinas”.
“A presença destes imigrantes procedentes do Texas, de Alabama, das Carolinas, da Flórida e de
outros estados do Sul contribuiu para influir a recém formada Igreja Presbiteriana do Sul (Igreja
Presbiteriana dos Estados Unidos), a enviar missionários para o Brasil, mesmo durante a luta para
recuperar seu próprio trabalho dentro das dificuldades do pós-guerra”. (ibid, p.p.112-113)
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A chegada desses missionários foi decisiva para a evangelização na região de Campinas. O
Reverendo Eduardo Lane organiza a missão de Nashville, funda o Colégio Internacional juntamente
com George Nash Morton em 1869 e também em parceria com este, assume o pastorado de uma
igreja em Campinas. Segundo Boanerges Ribeiro, a Igreja em Campinas fora “organizada em 10 de
Julho de 1870” (RIBEIRO, 1950, p.196). Essa proto-igreja fora a base para o trabalho presbiteriano em
Campinas até 1903, quando houve a cisão no trabalho presbiteriano nacional, que contará a partir de
então, com a Igreja Presbiteriana do Brasil e a Igreja Presbiteriana Independente. Enquanto Morton
cuidava mais do Colégio Internacional, Lane dedicava seu tempo à atividade pastoral e à
evangelização. Lane usava os jornais da cidade Campinas para anunciar as atividades de sua igreja:
CULTOS EVANGÉLICOS. No domingo dia 24 deste mês serão reafirmados os seguintes cultos
religiosos na Igreja Evangélica Presbiteriana na esquina das ruas Pórtico e Lusitana: Às 10:30 da
manhã, Escola Dominical dirigida pelo senhor Lane. Às 11:30 culto e pregação dirigido pelo Senhor
Lane sobre o texto de Mateus 21.22: “...e tudo quanto pedirdes em oração, crendo recebereis”. (ibid,
p.182)
Lane não só realizava o trabalho de evangelização na cidade de Campinas, como também percorria
toda região com o intuito de propagar a Palavra de Deus, e foi numa dessas andanças que ele chegou
em Itapira em Janeiro de 1876 para ordenar os primeiros oficiais daquela comunidade.
As correspondências de Lane não deixam dúvida quanto ao seu ardoroso trabalho. Em 1872, Lane
escreve:
“Na última semana o Rev. Le Conte e eu fizemos breve visita à colônia americana, perto de Santa
Bárbara...” (FERREIRA, 1992, p.160)
Em correspondências de 1875, diz:
“No caminho de volta da Penha, dois dias são gastos em prédicas e visitas em Mogi-Mirim. Em dias
não distantes será organizada, com a bênção de Deus, uma igreja nesse lugar...” “Depois de poucos
dias em Campinas fiz, em companhia do colportor, breve visita a Limeira...” “Deixando o companheiro
na cidade para terminar o serviço de vendas de livros, fui à vila de Santa Bárbara, distante 18 milhas, e
preguei no último domingo a uma congregação de americanos, e em português, à noite a um auditório
misto de americanos e brasileiros...” “Tarde do dia chegamos a Capivari, pretendo realizar culto à
noite”. “Uma caminhada escaldante de vinte milhas levou-nos à vila de Tietê, belamente localizada no
rio do mesmo nome...” “Chegamos a Água Branca a tempo de pregar no domingo...” (ibid, p.p.161163)
No ano de 1876, escreve:
“Lembro-me aqui apenas que, depois de pregar em Itu, fui a Porto Feliz, de onde, depois de exaustiva
caminhada desde manhãzinha até às nove horas da noite, atingi Água Branca. Regularizados os
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negócios da pequena congregação passei a Botucatu. Esta cidade dista de Campinas cento e vinte
milhas...” (ibid, p.163)
As correspondências de 1878 revelam:
“Casa Branca, cidade situada a cem milhas de Campinas e ligada por estrada de ferro, vem a seguir na
ordem. Foi a primeira vez que se pregou o Evangelho nesse lugar, e quiseram intimidar-nos com o
perigo de realizar culto protestante, visto que o povo é tido na conta de muito fanático...” “As viagens do
presente mês de março se limitaram a duas boas cidades: Bragança e Belém...” “Depois de cinco horas
de caminhada em lombo de burro, através de uma região solitária, entrecortada aqui e ali por capões
de florestas nativas, cuja profunda solidão e silêncio profundo põem o viajante a pensar, chegamos a
Piracicaba. Chuvas violentas impediram a prédica...” (ibid, p.p. 163-164)
Em 1879, Lane escreve:
“Pode ser interessante aos leitores saber algo sobre o abrigo do pequeno rebanho de Água Branca. A
casa do presbítero, como a dos seus vizinhos, é construída do seguinte modo: fincam-se quatro esteios
fortes para sustentar o teto, geralmente feito de telhas ou de sapé. As paredes são formadas
intercalando-se o bambu com varetas e tapando-se tudo com barro. O piso é de chão batido”. “Quando
chega a hora da Ceia do Senhor, uma mesinha coberta com toalha branca, colocada no extremo do
recinto, tem a Bíblia e os elementos para a comunhão. O pessoal da roça raramente usa o pão; o pão e
o vinho para o Sacramento têm de ser comprados na cidade mais próxima, a dezessete milhas”. (ibid,
p.p.164-165)
Nessas correspondências Lane relata uma situação difícil vivida em Itapira, pelo Reverendo Morton,
num povoado chamado Água Choca na estrada velha entre Mogi-Mirim e Itapira. Ele diz:
“Deixando Campinas a 21 de Outubro (1875), em companhia do Sr. Garcia, o Presbítero da Igreja da
Penha, chegamos tarde da noite, em Água Choca, pequena vila de duzentos ou trezentos habitantes.
Foi ali que o Reverendo Morton, há poucos anos, foi tão selvagemente atacado por uma multidão,
enquanto pregava. Na manhã seguinte depois de distribuir alguns tratados, e de realizar um culto numa
hospedaria. Na praça em frente à Igreja (Matriz de Itapira), notamos grande cruz com a inscrição: ‘Cem
dias de indulgência, Missão, 1873’”. (ibid, p,162)
Mais uma vez percebe-se como era difícil ser um protestante presbiteriano no século XIX. Somente
homens e mulheres com muita fibra e forte convicção poderiam suportar aquelas dificuldades todas. E
a Igreja de Itapira foi um celeiro de grandes servos e servas de Deus que glorificaram ao Senhor com
suas vidas e suas convicções, mostrando a todos quantos quisessem ver que a Palavra podia ser
vivida intensamente. Nesse pequeno artigo foram registrados alguns feitos de alguns pioneiros do
presbiterianismo na região. Por falta de tempo e espaço, muitas “injustiças” foram cometidas com
outros servos e servas de Deus, ficando a tentativa de fazer “justiça” a esses pioneiros da fé, para uma
outra ocasião. A igreja que iniciou suas atividades num casarão conta com o número significativo de
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grandes homens que por lá passaram e apascentaram o rebanho de Deus naquela cidade, são eles, os
reverendos:
George Chamberlain (1° Missionário a chegar na cidade), George Nash Morton, Eduardo Lane;
John Boyle, Delfino dos Anjos Teixeira, Zacharias de Miranda, Álvaro Reis, Flamino Rodrigues, Alfredo
Guimarães, Alfredo Jackson Porter, José Borges dos Santos Junior, Willian Sim, Avelino Boamorte,
Benedito Alves da Silva, Basílio Braga de Oliveira, Norivaldo Nicácio, Theodomiro Emerique, Ernesto
Alves Filho, Paulo Villon, Américo Justiniano Ribeiro, Nephtali Vieira Junior, João Francisco Correa,
Natanael Almeida Leitão, Milton Leitão, Ademar de Oliveira Godoy, Silas de Campos, Celso Soares da
Silva, Oswaldo Soares de Campos, Naor Vilas Boas, Oswaldo Abrahan Chamorro Vergara, Mac João
de Paula, Gilmar Bueno da Silva, Naor Vilas Boas (2° Pastorado), e atualmente Edson Elias de
Oliveira.
Além disso, vários filhos daquela igreja foram chamados para o ministério da Palavra. São eles, os
Reverendos: Delfino dos Anjos Teixeira, Zacharias de Miranda, Oswaldo Soares de Campos, Geziel
Antonio dos Santos, Marcelo Bologna da Silva (trineto do sr. Jacob Bologna), Breno Martins Campos e
Gerson Leite de Moraes ( também trineto do sr. Jacob Bologna).
A Igreja Presbiteriana de Itapira continua sua saga histórica e espera-se dela que continue com
dignidade essa maravilhosa história iniciada no século XIX.
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Capítulo 3 – Mídia Presbiteriana na Região de Campinas
Como o propósito deste trabalho é procurar mapear historicamente o presbiterianismo na região de
Campinas é necessário abordar as tentativas de inserções midiáticas presbiterianas na região de
Campinas. E o período escolhido vai do final dos anos 50 até meados dos anos 70 do século passado.
No entanto, para tal é necessário apresentar um breve histórico sobre os principais meios de
comunicação de massa ao longo do século XX.
O século XX marca o início da comunicação de massa e o grande pioneiro nesse segmento é o
rádio. A invenção do rádio data de 1901 e seu inventor Guilherme Marconi foi homenageado em 1909
com o Prêmio Nobel, ainda nesse ano nos EUA ocorreu a primeira transmissão experimental, e esse
ato marca a relação muito estreita entre o rádio e a religião. Leonildo Silveira Campos (1999) registra
assim o episódio:
“... em 1909, quando o pioneiro Reginald Fersenden fez sua transmissão experimental histórica, nos
Estados Unidos a religião marcou a sua presença e o pioneiro inaugurou o rádio lendo uma passagem
bíblica”. (CAMPOS, p.266)
Essa parceria entre rádio e religião é antiga e profícua. No Brasil essa parceria tem um grande
impacto na pregação de várias denominações religiosas. No ano de 1922, por ocasião do centenário da
proclamação da independência, foram importados 800 aparelhos e o rádio passa a ser utilizado no
Brasil por clubes e sociedades de caráter erudito e literomusical que divulgavam seus conteúdos
(FONSECA, 2003); outro aspecto importante é que o rádio nesse momento não possuía um aspecto
comercial. Os aparelhos eram poucos e caros e os que queriam utilizá-los deveriam pagar uma taxa ao
Estado, devido ao uso das ondas hertzianas. Somente na década de 30, aparecem os rádios com
válvulas e especificamente em 1932, o Estado passou a permitir a publicidade e as rádios existentes na
época (onze emissoras somente) poderiam dedicar 10% de seu tempo diário para a venda de produtos
e anúncios pagos. Esse é o momento inicial da popularização do rádio. Com um instrumento tão
poderoso para atingir as massas, os vários grupos religiosos não hesitaram em usá-lo. O primeiro
programa religioso de rádio no Brasil, data de 23 de Setembro de 1943, intitulado a Voz da Profecia, e
foi transmitido pelo pastor, Roberto Rabello da Igreja Adventista, que a cada dois ou três meses dirigiase aos Estados Unidos para gravar os programas.
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De igual modo, quando a televisão estreou no Brasil, nos idos anos de 1950 com a inauguração da
PRF-3-TV, nome herdado da tradição radiofônica, mais tarde TV Tupi, ou simplesmente, CANAL 3, os
grupos religiosos logo perceberam seu poderoso alcance. Coube também à Igreja Adventista o mérito
de inaugurar o primeiro programa religioso na TV, no dia 18 de novembro de 1962, intitulado, Fé para
Hoje, apresentado pelo pastor Alcides Campolongo e sua esposa. Logo depois, ainda nos anos 60 foi a
vez do bispo Robert McAlister, líder da Igreja Nova Vida, ninho e laboratório do chamado
neopentecostalismo, marcar de forma muito contundente sua participação na TV brasileira, vale
lembrar que McAlister foi o grande tutor e mestre do bispo Edir Macedo e do missionário RR Soares.
Ele apresentava um programa com o nome sugestivo, Café com Deus. No final dos anos 60 foi a vez
do pastor presbiteriano em Recife, João Campos apresentar o programa Encontro com Deus.
Feitas essas observações históricas e que tem um valor introdutório, o que importa registrar como
escopo principal deste trabalho é que a Igreja Presbiteriana do Brasil marca sua inserção nos meios de
comunicação de massa, a partir dos anos 50 na cidade de Campinas, com a criação do CAVE (Centro
Áudio-Visual Evangélico2).
“O Centro Áudio-Visual Evangélico começou como um departamento da Confederação Evangélica do
Brasil no Rio de Janeiro, transferido logo para São Paulo. Sua sede atual com estúdios de gravaçãofilmagem e laboratório de filmes encontra-se perto (sic) de Campinas. O CAVE existe para servir a
causa geral do evangelismo no Brasil, produzindo filmes fixos, filmes de cinema, discos e programas
radiofônicos. Dezoito denominações e missões evangélicas constituem a assembléia geral do CAVE,
na qual participam as duas igrejas presbiterianas e as quatro missões presbiterianas. O CAVE está
ligado ao Comitê para Cooperação na América Latina e ao RAVEMCCO3 (do Conselho Nacional de
Igrejas Cristãs dos Estados Unidos). O Secretário geral é o Reverendo Robert McIntire, membro da
Missão Presbiteriana Central”. (Revista sobre o centenário da Igreja Presbiteriana do Brasil, 1959,
p.143)
O CAVE nasceu por iniciativa do reverendo Dr. Robert Leonard McIntire e do recém-formado na
época, o reverendo Celso Wolf.
O Reverendo Robert McIntire era um apaixonado por fotografias e levou para os Estados Unidos
uma foto de um carro de boi, tirada em Minas Gerais e entrando em contato com um dos líderes do
trabalho evangelístico audiovisual naquele país teve a confirmação de sua habilidade como fotógrafo e
como recompensa foi convidado a fazer um curso de fotografia em Nova York. Quando ele retornou ao
Brasil já estava convicto da necessidade de implantar no país a mentalidade do uso dos meios de
comunicação audiovisuais para o trabalho da evangelização.
2
. Será respeitado nesse artigo a grafia antiga (Áudio-Visual) quando a referência for ao nome do CAVE. Em
outras referências será utilizada a grafia atual (audiovisual).
3
RAVEMCCO é a sigla de Radio Audio-Visual Education and Mass Comunication Committee. (BELLOTTI,
2005, p.15).
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Chamado para dar uma palestra no Seminário Presbiteriano do Sul, McIntire foi surpreendido por
uma cena que chamou-lhe muito a atenção.
“Em 1948, quando o americano foi ministrar uma palestra no Seminário Presbiteriano do Sul, encontrou
um rapaz com uma estranha máquina fotográfica nas mãos, documentando o evento. Amante da
fotografia foi conversar com o jovem e descobriu que era uma máquina feita em casa. Admirado por ter
encontrado um seminarista louco por fotografia, McIntire convidou o jovem para revelar seus filmes na
câmara escura que possuía em casa. Inicia-se uma longa amizade com Celso Wolf, visando o uso dos
meios de comunicação para realizar trabalho evangelístico”. (BELLOTTI, 2000, p.7)
Naquela época, a Confederação Evangélica do Brasil (CEB) havia recebido vários equipamentos de
gravação que foram doados pelo Comitê de Cooperação para a América Latina (CCLA). Necessitando
de uma pessoa que tivesse inclinações para essa área de trabalho, a CEB solicita à Missão
Presbiteriana do Brasil Central o recrutamento de um missionário e o escolhido foi o Dr. McIntire. Este
foi aos Estados Unidos para fazer um curso de treinamento para poder utilizar os equipamentos que a
CEB havia ganhado.
Aquela amizade iniciada em 1948, com Celso Wolf deu os seus primeiros frutos no que tange ao
projeto de utilizar os recursos audiovisuais com intuitos evangelísticos, entre 1950 e 1951. Celso Wolf
havia terminado o curso de teologia em 1950 (SILVA, 1995, p.63) e retornado para o Presbitério de Rio
Claro, quando McIntire solicita formalmente a esse Presbitério que ceda o agora, Reverendo Celso
Wolf para a obra evangelística audiovisual. Com poucos recursos, o Centro Áudio-Visual Evangélico
teve início oficialmente nos porões da casa da Missão Presbiteriana do Brasil Central, na Alameda
Campinas, 139, em São Paulo. Na capital paulista mudou de endereço algumas vezes, tendo inclusive
como sede por algum tempo, a lavanderia de propriedade da Igreja Presbiteriana Unida. Aliás, essa
igreja foi uma grande parceira do CAVE, inclusive patrocinando o programa radiofônico inaugural do
CAVE, transmitido pela Rádio Tupi de São Paulo. O programa chamava-se Jardim das Oliveiras, e era
apresentado pelo Reverendo José Borges dos Santos Júnior.
Nessa época o CAVE não possuía uma sede própria e McIntire procurou alguns amigos da Igreja
Cristã Reformada Holandesa, Jacques e Margarida Dultilh, que possuíam uma fazenda na estrada
Campinas-Mogi-Mirim, chamada Pau D’ Alho. Estes irmãos cederam dois alqueires para a construção
da sede do CAVE. O dinheiro para a construção da sede própria foi levantado pela RAVEMCCO, e a
obra custou aproximadamente 100 mil dólares. Após dois anos de obras, a sede foi inaugurada em
Agosto de 1958. (ibid, p.8)
Durante os anos de existência do CAVE, sua área de atuação audiovisual foi sendo diversificada. O
CAVE produziu desde filmes de 16mm, como “O Punhal” de 1958, até um desenho animado em preto e
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branco, intitulado, “Tônico e o Demônio” (1961). Além disso, o CAVE fabricava, vendia e dava
manutenção em projetores de filmes e transparências, bem como teve o mérito de ser um dos pioneiros
na revelação de fotos coloridas no Brasil. A Drª Karina Bellotti registra da seguinte maneira a produção
do CAVE.
“Dos estúdios do CAVE saiu uma produção de áudio que compreendeu discos (nos formatos LP, EP e
compactos, muitos com gravações de um coral próprio, o Coral CAVE), programas radiofônicos (de
vários formatos, inclusive um rádio-teatro,“Os grandes Vultos da Bíblia”, além de programas de
evangelização diversos, sob o comando de pastores de destaque, como Miguel Rizzo e José dos
Santos Jr.)...”. “No prédio de serviços auxiliares funcionava, dentre outras coisas, uma gráfica equipada
com aparelhos modernos, doados pela mantenedora dos Estados Unidos, que também atendia
encomendas não só de entidades religiosas, mas também de terceiros ( leigos ou até denominações
religiosas não protestantes). Todos esses serviços poderiam ser solicitados por meio da loja do CAVE,
localizada no centro de Campinas, na rua Luzitana, 985”. (ibid, p.10)
Muitos desses produtos são verdadeiras raridades hoje em dia. A boa notícia para os pesquisadores
e interessados de forma geral na história do protestantismo na região é que a Drª Karina Bellotti,
quando estava pesquisando para produzir sua dissertação de mestrado na UNICAMP, conseguiu junto
à FAPESP, recursos para restaurar sessenta cópias do programa Almanaque do Ar, um programa
radiofônico produzido pela CAVE e que fora inspirado na publicação “Nosso Almanaque”, da Livraria
Cristã Unida.
Colaboraram com esse programa várias pessoas de destaque no campo religioso brasileiro, entre
elas Jaime Wright, João Dias de Araújo e Ricardo Irwin, Osvaldo Hack, entre outros. O objetivo do
programa era dar um sentido cristão à vida cotidiana dos habitantes de zonas rurais, cidades pequenas
e bairros periféricos de grandes cidades (BELLOTTI, 2005, p.56)
Durante os anos 60, o CAVE experimentou uma série de conflitos internos, principalmente quanto
ao conteúdo de sua produção. O CAVE experimentou aquilo que Pierre Bourdieu chama de conflito no
campo, no caso, conflito no campo religioso. Aliás, seria muito interessante usar a teoria de campo de
Pierre Bourdieu para estudar os conflitos que marcaram a existência do CAVE, no entanto, não é esse
o propósito deste trabalho, ficando tal aplicação para uma outra ocasião.
Um grupo liderado pelo Reverendo Américo Ribeiro (secretário executivo do CAVE na época)
defendia a produção exclusivamente religiosa, enquanto outro grupo liderado pelo Reverendo Celso
Wolf defendia uma maior abertura para produção de mídia secular, com a finalidade de captar recursos
para a produção de mídia religiosa. Essa disputa no campo religioso, somada com uma dose enorme
de má administração dos recursos contribuíram para a falência do CAVE em 1971. Além disso, o CAVE
também foi usado com intuitos político-ideológicos.
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“Américo Ribeiro (...) trouxe o coronel Theodoro de Almeida Pupo para a equipe de direção do CAVE,
um dos pivôs da falência do órgão, em 1971. Ele demitira o pastor no final dos anos 60 e teria usado o
CAVE para gravar propaganda para o regime militar. Sob sua gestão, a RAVEMCCO retirou totalmente
os recursos de financiamento, impossibilitando a continuação das atividades, vindo a falir em 1971. O
CAVE estava muito endividado e, para pagar tantas indenizações aos funcionários, o coronel ordenou
a venda do prédio e do terreno da Fazenda Pau D’Alho, contrariando uma cláusula do contrato de
doação assinado entre o CAVE e o casal Dultilh: a de que o terreno referente à empresa seria
devolvido caso extinguisse”. (BELLOTTI, 2000, p.12)
Infelizmente o CAVE fechou suas portas e encerrou suas atividades, sendo que os laboratórios e
estúdios foram transferidos para o Instituto Metodista de Ensino Superior de São Bernardo do Campo
(IMES) e lá houve uma tentativa de reabilitação do CAVE, no entanto, sem o mesmo impacto que o
CAVE produziu nos seus bons tempos em que estivera sediado em Campinas.
CONCLUSÃO
Poder recontar a história do presbiterianismo na região de Campinas é um privilégio e uma
confirmação. É um privilégio porque vasculhamos o baú da nossa família da fé e é uma confirmação
porque podemos nos deparar com um sem número de pessoas que foram usadas tremendamente por
Deus para marcar de forma impactante a geração em que viveram. Émile Durkheim (1858-1917), ao
tratar dos fatos sociais dizia que conhecimento é o que uma geração deixa como legado para outra, ou
seja, é aquilo que é transmitido de geração em geração. Pensando nessa perspectiva, observa-se que
essa geração de pioneiros empreendedores deixou muito para as gerações seguintes, mas as ações
deles em prol do Reino de Deus impõe às gerações futuras um grande questionamento, em especial à
geração de presbiterianos do início do século XXI: O que deixaremos como legado para a próxima
geração?
A História da Igreja Presbiteriana de Itapira e do CAVE estão aí para nos estimular e desafiar. Afinal
nós somos herdeiros de uma tradição que precisa continuar sua trajetória marcando de forma profunda
o seu tempo e respondendo às necessidades que lhe são impostas. Que Deus continue levantando
homens e mulheres que saibam cultivar suas histórias, e que marquem o seu tempo com dedicação e
amor para a glória do Todo-Poderoso.
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BIBLIOGRAFIA
BARROS, José D’Assunção (2004). O Campo da História – Especialidades e Abordagens. Petrópolis,
Vozes.
BELLOTTI, Karina Kosicki (2000). Uma Igreja Invisível? Protestantes históricos e meios de
comunicação no Brasil (anos 50 e 80). Monografia de conclusão de graduação em História, Instituto de
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_______________________(2005). A mídia presbiteriana no Brasil – Luz para o caminho e Editora
cultura cristã (1976-2001). São Paulo, Annablume, FAPESP.
CAMPOS, Leonildo Silveira (1999). Teatro, Templo e Mercado – Organização e Marketing de um
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FERREIRA, Julio Andrade (1992). História da Igreja Presbiteriana do Brasil. Vol 1. São Paulo, Casa
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RIBEIRO, Boanerges (1950). O Padre Protestante. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana.
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ARTIGOS EM PERIÓDICOS, REVISTAS E ATAS DE CONSELHO
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ATAS do Conselho da Igreja Presbiteriana de Itapira (1876-1897)
REVISTA sobre o Centenário da Igreja Presbiteriana do Brasil (1959). Presbiterianismo no Brasil (18591959). Casa Editora Presbiteriana, São Paulo.
SOBRE a Igreja Evangélica Presbiteriana de Itapira – Da Europa a Itapira. Jornal Tribuna, Itapira, 24 de
Agosto de 1997.
CASAMENTO dá início a igreja presbiteriana. Jornal do Presbitério de Campinas, Campinas-SP, Junho
de 1998.
ENTREVISTA
BOLOGNA, Israel. Depoimento [13/03/2007]. Entrevistador: Gerson Leite de Moraes. Entrevista
concedida por telefone para a produção deste artigo.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Ao Presbítero Durval Lautenschleger da 2ª IP de Marília pelo “empréstimo” dos livros.
Ao Reverendo Edson Elias de Oliveira, pastor da IP de Itapira, pela permissão de pesquisar os
arquivos da Igreja e pela atenção;
Ao Reverendo Marcelo Bologna da Silva, pastor da IP Boa Esperança em Itapira, pela atenção e pela
cópia do primeiro de atas do Conselho da IP de Itapira.
Ao Sr. Israel Bologna pela entrevista e pela atenção.
Ao Sr. Marco Antônio Alves Petrucci, secretário da IP de Itapira pela colaboração e atenção.
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