Pe. Irio Luiz Rissi, CMF Nos bastidores do altar PRÓLOGO O objetivo deste livro é seguir o lema dos antigos romanos — ridendo castigat mores –, que significa: “rindo, corrigem-se os costumes”. Muitos dos fatos aqui narrados são cômicos; porém, nos ensinam a não cometer os mesmos erros. Esta obra não foi escrita em estilo rebuscado, mas sim com o linguajar simples que Jesus usou para que todos o entendessem. APRESENTAÇÃO Quarenta e cinco anos de sacerdócio; 56 anos de profissão religiosa como missionário claretiano. Nesse período, uma intensa atuação apostólica desenvolvida em diversas localidades, por meio de múltiplas atividades, da área estritamente religiosa à social, cujo resultado (entre muitos outros) e fruto permanente é o Centro Social da Paróquia do Imaculado Coração de Maria, em Londrina, no Paraná. Eis um resumo bastante sucinto do que vem sendo a vida do meu colega de congregação e amigo, padre Irio Luiz Rissi, CMF. Características de seu trabalho: entusiasmo, persistência e alegria, que têm suscitado, por onde ele passa, a admiração e o reconhecimento das pessoas. Cabe-me a honra de apresentar ao público uma manifestação típica de sua personalidade que vem à luz com o título Nos bastidores do altar. Trata-se de um anedotário eclesiástico (a nomenclatura é minha), entremeado e permeado de observações pessoais, com nítidos significado e direcionamento pastorais. Como ele mesmo afirma, o objetivo é dado pelo aforismo latino: ridendo castigat mores, ou seja, o ensino pelo riso e pelo bom humor. Não se trata, entretanto, de anedotário colhido de fontes alheias.Os“causos”e piadas fazem parte de seu acervo pessoal, amealhado nos vários âmbitos e muitos anos de atividade apostólica. Esse acervo ainda hoje lhe serve de instrumento evangelizador através das ondas da rádio Paiquerê FM, de Londrina (PR), em seu programa Um Bom Dia para Você, que tem registrado audiência impressionante: mais de um milhão de ouvintes, no raio de abrangência da emissora, que não se limita a Londrina. Ao amigo e colega padre Irio só posso desejar que se multipliquem seus “clientes” pastorais, agora também pela leitura amena e inspiradora destas páginas. Aos leitores, um recado: quando fizerem suas viagens pelos “causos” e tiradas do autor, não se esqueçam de que, por trás de tudo, está um coração apostólico de sacerdote, cujo objetivo não consiste simplesmente em fazer rir, mas, sim, em espalhar sementes evangélicas pelos campos do Senhor. Pe. Manoel Müller, CMF DEDICATÓRIA Dedico este livro a todos os sacerdotes que se preocupam em instruir o santo povo de Deus e a meus irmãos da Congregação Claretiana, onde aprendi a viver feliz. 1a parte O PODER DA FÉ E DA ORAÇÃO UM BOM DIA PARA VOCÊ! “O caminho doce é amargo.” (beato Henrique Susone) Este é o nome de um programa que mantenho diariamente na rádio Paiquerê FM, de Londrina, às seis e meia, no qual divulgo uma mensagem de cinco minutos, animando os ouvintes para a luta do dia a dia. Certo dia, terminada a missa das sete horas, no Santuário Eucarístico, alguém me telefona: — Padre, o senhor pode me atender hoje? — Sim, pode vir às oito e meia. — Vou adiantando o assunto: hoje de manhã entrei no meu caminhão de trabalho com a intenção de me matar, mas, ao ouvir sua mensagem, resolvi mudar de rumo. Um acontecimento assim nos reconforta e recompensa o trabalho realizado. Há dezoito anos mantenho esse programa,e são inúmeras as solicitações de cópias das mensagens. 15 ANDREZINHO “Na minha angústia, invoquei o Senhor, gritei para o meu Deus: do seu templo ele ouviu a minha voz, e o meu clamor em sua presença chegou aos seus ouvidos.” (Salmo 17,7) Quando vemos uma mulher chorando, logo imaginamos que algo errado existe em sua família: ou é o marido ou são os filhos. Eram quatro horas da tarde. Uma senhora, com o rosto marcado pelas lágrimas, entra no meu escritório e pede para a secretária me chamar. Entre soluços, consegue explicar que seu filho de 11 anos tem câncer e passa muito mal. Em poucos minutos, chegamos em sua casa. De fato, o caso era desesperador. O menino estava pálido, tinha convulsões e havia perdido os cabelos em virtude da quimioterapia. Sentei-me em sua cama. Iniciamos uma conversa. Do ponto de vista humano e científico, naquele momento nada mais poderia ser feito. Já havia 17 presenciado fatos semelhantes com crianças da mesma idade. Não há palavras que consolem uma mãe com o filho doente, ainda mais sendo ele filho único. Assim, rezamos juntos. Ao sair, entreguei aos pais a “oração para um filho doente”, e iniciamos uma corrente de orações na igreja, nos grupos, nas famílias. Foi mais uma vez internado. As orações cada vez mais constantes. Eu o acompanhava sempre. Após três meses, a família participou de uma missa, momento em que apresentei a criança ao povo, dizendo: “Este é o Andrezinho por quem fazíamos as orações”. Estava miraculosamente curado. Agradecemos ao Senhor, porque “Jesus cura”. Hoje, Andrezinho joga futebol e faz todas as atividades próprias da idade. E importante: é meu grande amigo, apesar da distância. 18 E O MILAGRE ACONTECEU... “Tudo é possível ao que crê.” (Marcos 9,23) Muitas pessoas dizem: “Padre, o senhor fez um milagre”. Não, o padre não faz milagres. Somente Deus os faz. Aqui, eu posso dizer o nome, porque presenciei o fato. O senhor Fuad, bom libanês, era frequentador de minha paróquia, em São Paulo. Certa manhã, entra apressado em meu escritório: — Padre, quero que o senhor vá ao hospital Santa Catarina para batizar minha filha, que nasceu de seis meses e está passando mal. — Senhor Fuad, lá no hospital mora o padre– capelão, que pode fazer o batizado. — Não, o senhor é meu pároco, e vou levá-lo lá agora. Diante da insistência, acompanhei-o até o hospital. Entrei na UTI e batizei a Lilian. Ao sair, logo foi perguntando: 19 — Como ela está? — Somente um milagre... — Pois eu quero esse milagre! Em silêncio, nos retiramos. Depois do episódio, por um bom tempo, não tive notícias do senhor Fuad. Passados dois anos, eis que ele aparece na igreja com uma linda menina de 2 anos, a quem chamei de “turca loira”. De fato, seus cabelos pareciam um emaranhado de fios dourados. — Quem é esta menina? — perguntei. — É a Lilian. O senhor fez o milagre! Todo mundo sabe que sou chorão. Lágrimas caíram de meus olhos, e louvei a Deus. 20 FAMÍLIA QUE REZA UNIDA... “A porta da casa de uma família cristã é ungida com o sangue de Cristo.” (Cardeal Faulhaber) Quando presido um casamento, interrogo os noivos: — Família que reza unida... como continua a frase? — Permanece unida — respondem. Depois, dirijo-me aos convidados: — Todos sabem a resposta, mas vocês rezam? E vê-se aquele sorriso matreiro. O importante não é saber a resposta, mas rezar de verdade. Um casal,casado havia mais de trinta anos,veio a meu escritório e iniciou uma série de discussões, faltando apenas partir para a agressão física. Deixei-os desabafar. Nessas ocasiões, conselhos são muito difíceis de serem assimilados. À medida que eu falava, os ânimos iam se desarmando. 21 22 Concluindo a conversa, pedi aos dois que fossem à igreja e rezassem juntos por dez minutos. Não sei o que fizeram. Após esse tempo, saíram tranquilos, de mãos dadas, e nunca mais os vi. Os grupos de Nossa Senhora, que atuam em diversas comunidades, têm por dever fazer diariamente a oração conjugal. Conheci um casal que não conseguia rezar junto porque o marido viajava toda a semana. Porém, o obstáculo foi superado: à noite, por telefone, marido e mulher faziam juntos a oração. Belo exemplo para aqueles que “não têm tempo”. 23 24 NÃO QUERO SABER DE PADRE “Não fale o que você vê para pessoas que não enxergam.” (D. L. Vicenzi) Durante treze anos fui capelão de dois hospitais. Todos os dias, às 6 horas, rezava a Santa Missa e depois fazia uma visita aos doentes que a solicitavam. Uma senhora de 57 anos, internada por problemas cardíacos, foi avisada pela irmã que o padre costumava visitar os doentes. — Não quero saber de padre... A irmã, bastante chateada, relatou-me o acontecido. — Vamos fazer uma oração diante do sacrário, e as demais irmãs façam o mesmo. Assim, rezamos por mais de uma semana. Depois de mais um ataque cardíaco, finalmente a paciente recuperou a consciência. Logo que despertou, pediu à irmã que chamasse um padre e, tranquila, fez uma bela confissão. 25 É PECADO NÃO TER FÉ? “No íntimo do homem existe Deus.” (Santo Agostinho) Uma senhora de meia-idade me procurou para externar seus problemas de fé. Dizia-me que desejava muito ter fé, mas que, infelizmente, não conseguia ter certeza da sua. Por mais que se esforçasse, tudo lhe parecia confuso. Mas ela lutava e trabalhava no intuito de encontrar a verdade. Fiquei pensativo. Que vou dizer a uma pessoa assim atormentada e de tão boa vontade? A conversa foi longa. Em primeiro lugar, devo dizer que a fé é um dom. Um presente de Deus, inteiramente gratuito. Não é porque eu tenho estudo, faço boas obras, sou inteligente que, automaticamente, terei acesso a esse mistério. Por isso, quem recebeu o dom deve esforçar-se por fazê-lo crescer e rezar como os apóstolos: “Cremos, Senhor, mas aumenta a nossa fé” (Mc 9,24). E quem não a recebeu? Então é necessário ter calma. Não podemos penetrar nos desígnios do Pai, 26 mas devemos ter confiança em Sua bondade, pois Ele é sempre justo.Essa senhora sempre manifestou boa vontade e esforço para com Deus. Por isso, não tem culpa nenhuma. Ela pode estar certa de que o que vale diante de Deus é a reta intenção. Assim, não deve se desesperar. Às vezes, a fé em Deus pode demorar, mas vem. Isso aconteceu com alguns santos, cuja fé foi duramente posta à prova por muito tempo, o que serviu, como diz na Bíblia, para que se tornassem mais purificados “como o ouro no cadinho”. 27