251 BIOMONITORAMENTO CITOGENÉTICO DE LESÕES ORAIS Rosana Matos1; Susie Vieira2 1. Bolsista FAPESB, Graduanda em Feira de Santana, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: [email protected] 2. Susie Vieira de Oliveira, Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Periodontite, micronúcleo, câncer As práticas de higiene são fundamentais na prevenção das doenças bucais, especialmente a doença periodontal. Em diversos estudos, pesquisadores têm demonstrado associação entre higiene bucal e o surgimento de placa bacteriana (PAGE, 1986; SHEIHAM, 1988; LEVINE, 1991). Além disso, há evidência de que doenças periodontais estão associadas com placa bacteriana (GESSER, PERES & MARCENES, 2001; REZENDE et al., 2008). Hart. (1996) e Kinane & Hart (2009) sugerem que polimorfismos em genes que codificam anticorpos podem estar associados com a susceptibilidade à periodontite agressiva. Marques et al. (2008) consideram que a má higiene bucal, inflamação gengival, associados à suscetibilidade genética podem ser fatores importantes no desenvolvimento de câncer oral. A identificação de alterações genéticas é uma das principais medidas de prevenção do câncer, uma vez que estas alterações ocorrem antes da manifestação de qualquer sintoma clínico da doença. Dentre os diversos testes que permitem a detecção de danos genéticos, o Teste de Micronúcleo em células esfoliadas da mucosa oral tem amplo registro na literatura (SAILAJA et al., 2006; BLOCHING et al., 2008; HOLLAND et al., 2008). Diante do exposto, o objetivo deste projeto é avaliar a ocorrência de danos genéticos e alterações indicativas de apoptose em células esfoliadas da mucosa oral de portadores de periodontite agressiva, e, consequentemente, uma possível relação entre esta patologia e o desenvolvimento neoplásico. MATERIAIS E MÉTODOS A amostra foi caracterizada pela aplicação de questionário contendo indagações a respeito de idade, sexo, ocupação atual e anterior, tempo de atividade, hábitos de fumar, 252 ingestão de bebidas alcoólicas, uso de medicamentos, exposição à radiação e a produtos tóxicos, tipo e tempo de exposição, e uso de medidas protetoras. OBTENÇÃO DO MATERIAL PARA ESTUDO CITOGENÉTICO O material biológico utilizado no estudo foram células da mucosa oral, coletado nas áreas sem lesão e nas áreas com periodontite, de modo que os indivíduos analisados foram os seus próprios controles. Este material foi coletado por raspagem gentil da mucosa bucal com uso de escova endocervical. PREPARAÇÕES PARA O ESTUDO DO MICRONÚCLEO O material foi coletado com auxílio da escova endocervical e transferido, por esfregaço, para lâmina de microscopia estéril contendo duas gotas de soro fisiológico (NaCl 0,9%). Após secagem à temperatura ambiente as preparações foram submersas por trinta minutos em solução de metanol/ácido acético (3:1) para fixação. Vinte e quatro horas depois o material foi corado com o reativo de Shift e contra-coradas com fast green. ANÁLISE MICROSCÓPICA Toda análise foi realizada em teste cego com relação aos dados do questionário Um total de 2.000 células por indivíduo foi analisado. Os critérios de identificação de micronúcleo adotados foram aqueles descritos por SARTO et al. (1987) e TOLBERT et al. (1992), sendo considerados micronúcleos, estruturas com distribuição cromatínica e coloração igual (ou mais clara) a do núcleo, visualizadas no mesmo plano deste, com limites definidos e semelhantes aos nucleares, e tamanho até 1/3 do núcleo. Somente células com citoplasma íntegro foram computadas. Células apresentando alterações nucleares indicativas de apoptose como cariorréxis, picnose e cromatina condensada também foram incluídas na contagem. ANÁLISE ESTATÍSTICA A análise foi realizada com o uso do teste condicional para comparação de proporções em situações de eventos raros (BRAGANÇA-PEREIRA, 1991) adequado à avaliação de eventos citogenéticos quando uma grande amostra de células é necessária para detecção da ocorrência de determinada aberração cromossômica. 253 RESULTADOS ANÁLISE CITOGENÉTICA A análise estatística comparando a frequência dos marcadores biológicos observados nestas duas regiões da mucosa bucal revelou que a ocorrência de micronúcleo e alterações nucleares degenerativas foi significativamente maior em células da lesão. (Tabela 1) Tabela 1 - Alterações genéticas e nucleares na mucosa oral com lesão e sem lesão de indivíduos portadores de periodontite crônica moderada em início de tratamento odontológico no CEO/Senhor do Bonfim. Marcador citogenético Mucosa com lesão Mucosa sem lesão Parâmetros estatísticos OBS. ESP. OBS. ESP. χ2 P* MN 30 17,74 08 20,26 15,19 p<0,05 Picnose 68 38,74 15 44,26 41,43 p<0,001 C. condensada 284 191,85 127 219,15 83,00 p<0,001 2.746 2.112,71 1.780 2.413,29 356,01 p<0,0001 Cariólise 48 31,27 19 35,72 16,77 p<0,05 V. nucleares 96 51,81 15 59,18 70,67 p<0,001 Broken-eggs 04 7,47 12 8,53 3,02 p>0,050 Cariorréxis C. condensada = Cromatina condensada; V. nucleares = Vacúolos nucleares; MN = Micronúcleo; OBS = observado; ESP. = esperado; *Grau de liberdade = 1 Quando a análise da ocorrência de alterações genéticas foi realizada comparando-se homens e mulheres, os resultados mostraram que as áreas de lesão nos homens apresentou frequência de células com vacúolos nucleares significativamente maior em relação as mulheres. CONCLUSÕES: A análise dos resultados obtidos nesse estudo permite as seguintes conclusões: - A periodontite crônica, como todo processo caracterizado por intensa resposta inflamatória, apresenta alterações genéticas que, se não reparadas, podem contribuir para a transformação maligna e o aumento da citotoxicidade, bem como aumento de alterações indicativas de apoptose, são alterações relacionadas à periodontite crônica, resultantes da resposta biológica do organismo. 254 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLOCHING, M.; REICH, W.; SCHUBERT, J.; GRUMMT, T.; SANDNER, A. Micronucleus rate of buccal mucosal epithelial cells in relation to oral hygiene and dental factors. Oral Oncology. 44(3):220-6, 2008. GESSER, H. C.; PERES, M. A.; MARCENES, W. Condições gengivais e periodontais associadas a fatores socioeconômicos. Saúde Pública.; v. 35., n. 3., p. 289-93: 2001. HART, T.C. Genetic risk factors for early onset periodontitis. J. Periodontol., Chicago, V. 67, p. 355-366, 1996. HOLLAND, N. et al. 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