ESTUDO HISTOQUÍMICO DO TUBO DIGESTIVO DE LARVAS DE Anticarsia gemmatalis (Hübner 1818) (Lepidoptera: Noctuidae) ALIMENTADAS COM GENÓTIPOS DE SOJA COM CARACTERÍSTICA DE RESISTÊNCIA: EFEITO DA GENISTINA NO INTESTINO MÉDIO Louise Rejane Forghieri (PROIC/UEL), e-mail: [email protected], Sheila Michele Levy (Orientadora), e-mail: [email protected], Ângela M. Ferreira Falleiros (Co -orientadora), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Centro de Ciências Biológicas – Londrina-PR Área: Ciências Biológicas, Sub-área: Biologia Geral Palavras-chave: lagarta da soja, histoquímica, genistina. Resumo Este trabalho teve como objetivo verificar por análises histoquímicas a ação da genistina da soja resistente no intestino médio de larvas de Anticarsia gemmatalis. O intestino médio (IM) de larvas alimentadas com genótipos de soja contendo diferentes concentrações de genistina foi analisado com técnicas histoquímicas para determinação de polissacarídeos neutros e glicogênio. Podemos concluir que a presença da genistina promove alterações na constituição química do IM modificando sua atividade metabólica. Introdução O Brasil é responsável por grande parte da produção mundial de grãos, e a soja (Glycine max) considerada a principal cultura de exportação brasileira. Os mecanismos de defesa da planta abrangem uma série de características morfológicas e um complexo de substâncias químicas, que podem torná-la repelente e tóxica para os insetos-praga, sendo a isoflavona genistina reconhecida por desempenhar papel importante na proteção de plantas contra lepidópteros, com capacidade de romper as membranas celulares levando a distúrbios de metabolismo digestivo dos insetos (APPEL,1993; HOFFMANN-CAMPO, 1995). Nos insetos, o tubo digestivo é a principal via de acesso dos alimentos como também de patógenos, sendo o IM considerado o principal local da digestão e absorção do alimento, bem como dos inseticidas químicos e biológicos (MOSCARDI e CARVALHO, 1993). Assim, o IM é modelo para o estudo das alterações pós ingestivas ocorridas na lagarta da soja Anticarsia gemmatalis Hübner (Lepidoptera: Noctuidae), uma das principais pragas desfolhadoras da soja no Brasil. A aplicação de técnicas histoquímicas permitiu avaliar as alterações na composição química dos tipos celulares presentes no epitélio do IM de A. gemmatalis, após a Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. ingestão de genótipos resistentes com diferentes concentrações de genistina. Materiais e Métodos Os insetos foram fornecidos pelo Laboratório de Entomologia do Centro Nacional de Pesquisa da Soja/Embrapa/Londrina/PR, e mantidos no laboratório de Histologia, do Departamento de Histologia, da Universidade Estadual de Londrina. As larvas foram alimentadas com folhas de genótipos resistentes (in natura) BR16 (0,0016mg genistina/g) Dowling (0,0429mg genistina/g) e BR257 (controle: sem genistina). Larvas com idade variando de 6 a 8 dias de desenvolvimento foram dissecadas em solução salina, os IM identificados e fixados em Bouin por 4h, incluídos em Paraplast e os cortes de 7 µ m foram submetidos à técnica de histoquímica para detecção de polissacarídeos neutros pelo método do Ácido Periódico-Schiff (PAS), seguidos pela diastase para detecção de glicogênio. Resultados e Discussão Em larvas de A. gemmatalis o IM é formado por um epitélio pseudoestratificado colunar, com três tipos celulares distintos: células colunares, caliciformes e regenerativas. O epitélio é revestido por uma estrutura acelular denominada membrana peritrófica e está apoiado na camada muscular, conforme descrito por Levy et al, 2004. Os resultados da deteção histoquímica de carboidratos neutros evidenciados pelo método PAS estão expressos na tabela 1. Nos insetos alimentados com o tratamento controle BR257, notamos leve positividade para reação de PAS, especialmente na bordadura estriada das células colunares e na membrana peritrófica (Figs. A e B). Já para o genótipo BR16, não observamos marcação na membrana peritrófica, no entanto observamos intensa reação nas células colunares principalmente na região citoplasmática apical; também observamos granulação intensa no ápice das células caliciformes (Figs. C e D). Estes polissacarídeos detetados nas células colunares auxiliariam na absorção de produtos da digestão e na síntese de enzimas (PINHEIRO et al., 2008). A marcação das células caliciformes estaria relacionada com a atividade destas células no auxilio às colunares como absorção de metabólitos e homeostasia iônica (BILLINGS e LEHANE, 1996; CHAPMAN, 1998). Com o tratamento Dowling, as células colunares apresentaram positividade moderada na bordadura estriada, mas reação leve na porção citoplasmática apical; já as porções média e basal foram reações negativas (Figs. E e F). A membrana peritrófica e a membrana envolvente da camada muscular mostraram leve marcação (Figs. E e F). A reação PAS positiva indica a presença de polissacarídeos neutros, que podem representar depósito de glicogênio e outros açúcares neutros. Após a diastase não observamos redução na positividade no IM para o tratamento controle e para o genótipo Dowling (Fig. G), indicando que os polissacarídeos neutros encontrados não remetem ao glicogênio. No Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. entanto, para o tratamento com genótipo BR16, notamos intensa redução de marcação das células colunares e caliciformes (Fig. H), o que nos indicou a presença de glicogênio. De acordo com Kilby (1965) o glicogênio e outros carboidratos de reserva são importantes no metabolismo, pois podem ser mobilizados e utilizados em situações que exijam gasto energético como na metamorfose, reprodução e na defesa. Co Cm Ca Ca * * * A M p Lu B C a Ca M p Lu C o Co Cm * Lu Mp DD Lu Co Ca Ca * Mp Cm * Mp E F Lu Ca Lu Lu Co Ca * G Co Mp C Cm Co Co * Mp H * Mp Lu Fotomicrografias do intestino médio de A. gemmatalis tratadas com os genótipos BRS 257 (A/B), BR16 (C/D/H) e Dowling (E/F/G). Análise histoquímica para deteção de polissacarídeos neutros (A-F) e glicogênio (G/H): membrana peritrófica (Mp), células colunares (Co) com grânulos PAS+ (), bordadura estriada (Ú), células caliciformes (Ca) com grânulos PAS+ (seta), camada muscular (Cm), lúmen (Lu). Barras= 40µm. Tabela 1- - Resultados da reação do PAS no IM de larvas de A. gemmatalis Estruturas Membrana peritrófica Borda estriada Células Colunares Porção apical Porção média Porção basal Protusões Genótipos BRS257 G=0,0 + + - BR16 G=0,0016 + ++++ + - Dowling G=0,0429 + ++ + - Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Células Caliciformes Camada muscular - +++ - - Legenda: (-) reação negativa; (+) reação fraca; (++) reação moderada; (+++) reação forte; (++++) reação muito forte. Conclusões Podemos concluir que a genistina altera a síntese de polissacarídeos neutros no epitélio do IM de A. gemmatalis. O genótipo BR16, apesar da baixa concentração de genistina, promove um aumento no depósito de polissacarídeos como o glicogênio, provavelmente para uma eventual necessidade energética do inseto. Já no tratamento Dowling, a alta concentração de genistina leva uma maior mobilização do glicogênio, evidenciada pela diastase, que seria necessário para reposição de moléculas estruturais e do metabolismo geral do inseto. Referências Appel, H.M. Phenolics in ecological interactions: the importance of oxidation. J. Ecol. Chem.1993, 1521-1551. Billingsley, P.F.; Lehane, M.J. Structure and ultrastructure of the insect midgut. In: Lehane, M.J. (Ed, Billingsley, P.F. (Eds). Biology of the Insect Midgut. Londres: Chapman & Hall, 1996, 3-30. Chapman, R.F. The Insects: structure and function. 4.ed. Cambridge: Harvard University Press, 1998. Hock,G.; Pilarska, D.K.; DOBART, N. Effect of midgut infection with the microsporidium Endoreciculatus schubergi on carbohydrate and lipid levels in Lymantria dispar larvae. Journal Pest Sicence, v.82, p. 351-356, jun. 2009 Hoffmann-Campo, C.B. et al. Role of the flavonoids in the natural resistance of soybean to Heliothis virescens (F.) and Trichoplusia ni (Hübner). The university of Reading, Reading, UK, PhD thesis, 165p, 1995. Kilby, B.A. Intermediary metabolism and the insect fat body. In: Goodwin, T.W. Aspects of insects biochemistry. New York: Academic Press, 1965. p.39-48. Levy, S.M. et al. The larval midgut of Anticarsia gemmatalis (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae): light and electron microscopy studies of the epithelial cells. J. Biol. Braz. 2004, 64, 1-6. Moscardi, F.; Carvalho, R.C.Z. Consumo e utilização de soja por Anticarsia gemmatalis Hüb. (Lepidoptera: Noctuidae) infectada, em diferentes estádios larvais, por seu vírus de poliedrose nuclear. In Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, 1993, Vol.22, 267-280. Pinheiro, D.O. et al., Morphological Regional Differences of Epithelial Cells along the Midgut in Diatraea saccharalis Fabricius (Lepidoptera: Crambidae) Larvae. Neotropical Entomology, Vacaria, v.37, n.4, p.413-419, jun./ago. 2008. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.