XXXIII DOMINGO do Tempo Comum – Ano B Evangelho: Mc 13,24-32. “Espera com confiança o dia da vinda de Jesus!” Ir. Sandra M Pascoalato, sjbp. Estamos para concluir o ano litúrgico. Logo mais nos despediremos de Marcos e do seu evangelho e iniciaremos, junto com Lucas, um novo percurso de preparação para o Natal. Antes, porém, Marcos nos convida a fazer uma reflexão bastante séria e profunda, lançando o nosso olhar para frente, para aquela realidade que será a plenitude da história. O texto do evangelho deste Domingo é parte do cap. 13 de Marcos, o capítulo que contém o assim chamado ‘Discurso Escatológico’ de Jesus. O evangelista dispõe as palavras de Jesus num discurso bem articulado, com uma introdução (13,1-4) e três partes que desenvolvem os temas (13,5-37). É interessante notar como a primeira e a terceira parte são dispostas de forma simétrica ao redor de um núcleo central: 1. Anúncio e advertências (13,5-23). 2. Vinda do Filho do homem (13,24-27). 3. Anúncio e advertências (13,28-37). Del tal modo, o tema da vinda do Filho do homem, ainda que menos desenvolvido que os outros dois, é colocado explicitamente em destaque e dá a tonalidade a todo o discurso. É clara a mensagem do evangelista: o que importa não é a identificação do sinal ou a precisa indicação do tempo final (cf. 13,4); o que importa é a espera da vinda do Filho do homem. Esta idéia retorna continuamente em todo o discurso através dos convites a estar atentos e vigilantes (13,5.9.23.35.37). A linguagem usada é aquela própria do gênero apocalíptico que, através de imagens enigmáticas, simbolismos e alegorias retrata o período final da história, quando, numa luta suprema, as forças do mal serão, definitivamente, derrotadas pela potência de Deus. Na perícope de hoje, o ponto culminante do drama escatológico, ‘a vinda do Filho do homem com grande poder e glória’, é precedido pela notícia de uma reviravolta das realidades celestes que expressa, na literatura profético-apocalíptica, a intervenção de Deus na história (cf. Is 13,9-10; Is 34,4). ‘Sol’ e ‘lua’, ‘estrelas’ e ‘forças do céu’ eram também, no panteão dos antigos romanos, entidades divinizadas. A queda destes astros e a catástrofe cósmica descrita pelo evangelista são figura não somente ‘do fim do mundo’, mas ‘do fim de um mundo’, ‘o fim do mundo das divindades pagãs destronadas pelo Filho do homem’. Se se afirma, então, que o fim da idolatria se completará com o Reino de Deus instaurado pela vinda do Senhor, se sugere também que o modo de viver dos cristãos no mundo pode constituir um sinal do reinado de Deus graças à vigilância para não deixar-se dominar pelos ídolos. É como se Marcos estivesse dizendo à sua comunidade: ‘Não adore, não se incline, não se ajoelhe diante de poder algum – político, econômico, religioso – que queira ocupar o céu, que procura seduzir o universo. Não se dobre. Isso pode parecer uma potência do céu, mas o dia de Cristo, o Grande Dia, revelará a sua hipocrisia e fragilidade. Espera! Espera com confiança o dia da vinda de Jesus! Ele virá sobre as nuvens com grande poder e glória. Com o verdadeiro poder, com a verdadeira glória!’. Continuando na escuta do texto, encontramos uma das palavras de Jesus mais densas de ternura e de atenção à realidade: “Aprendei, pois, da figueira esta parábola” (13,28ss). Isto é, o evangelho sublinha que o anúncio da vinda do Senhor não aliena o discípulo de Jesus do hoje, ao contrário, pede-lhe a capacidade de aderir ao presente, de aderir e amar a terra na qual vive. Somente quem ama a terra, esta terra, poderá crer na nova terra prometida. A fidelidade à terra é a condição para crer e esperar a vinda gloriosa do Senhor. A vinda do Filho do homem é anunciada como segura, mas o seu momento é incerto (13,32). Como viver, então, o tempo da espera? Como um tempo de ‘resistência’ nas adversidades e tribulações da história; como ‘paciência’, isto é, como capacidade de viver a incompletude do cotidiano; como ‘perseverança’ nos tempos obscuros; como ‘fé’ que crê nas coisas invisíveis, mais duradouras e seguras que aquelas visíveis (cf. 2Cor 4,17-18). Em síntese: como tempo de contínua conversão. Textos consultados: BATTAGLIA, O – URICCHIO, F – LANCELLOTTI, A., Comentário ao Evangelho de São Marcos. Vozes, Petrópolis, 1988. CURTAZ, P., La Parola Incarnata. San Paolo Edizioni, Milano, 2008.