XXXIII DOMINGO Tempo Comum – Ano B
Evangelho - Mc 13,24-32
“Ele reunirá os eleitos de Deus, de
uma extremidade à outra da terra”.
Ir. Florinda Dias Nunes, sjbp
Estamos no penúltimo domingo do Tempo Comum. A liturgia nos fala de como nos
preparar para o encontro com o Senhor. O texto é Mc 13,24-32, são passagens
apocalípticas judaicas utilizadas pelo Evangelista. Estas passagens não são para
amedrontar o povo, mas para alertar que a vida aqui na terra é passageira e assim como
Jesus irá enfrentar a morte para resgatar a vida em favor da humanidade, nós também
precisamos estar alertas para que o Senhor não nos pegue desprevenidos.
Conteúdo e contexto
O texto está colocado no final da segunda parte de Marcos. Jesus está para entregar
sua vida e dá suas últimas recomendações. Este discurso usa imagens tiradas dos
profetas do Antigo Testamento e da apocalíptica judaica. Fala-se muito de fim dos
tempos. E celebrar a Eucaristia é viver a escatologia do Cristo, já em ato, mediante a
prática da justiça. “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa
ressurreição, enquanto esperamos vossa vinda”.
Mc 13,24-32 parece difícil de compreender se pegarmos as palavras tal como estão
escritas e imaginarmos uma descrição de como será o fim dos tempos, mas o
evangelista tem em mente duas coisas importantes: a preparação dos catecúmenos para
assumirem o seguimento de Jesus; e a situação do povo era de guerra e destruição
quando escreveu seu Evangelho. Jerusalém e o Templo estavam na mira dos poderosos
e se ainda não tinham sido destruídos certamente estava para acontecer. Falo isto porque
ainda não se tem uma data exata da redação do Evangelho segundo Marcos. Alguns
dizem que foi por volta dos anos 50 d.C., outros atribuem uma data posterior. O Templo
foi destruído por volta dos anos 70 d.C. O mais importante é o conteúdo que o
evangelista nos quer transmitir. Os seguidores de Jesus precisam estar sempre
preparados para o encontro definitivo com o Senhor o qual garante a salvação aos que
lhe forem perseverantes e fiéis (vv. 24-27).
Os discípulos de Jesus e a comunidade cristã interrogam-se sobre o quando e sobre o
sinal que marca a vinda do Filho do Homem (cf. 13,4). O Mestre garante que a
comunidade cristã sobreviverá à destruição de Jerusalém e do Templo (cf. v. 24:
“depois da grande tribulação”). A missão dos discípulos de Jesus, que se prolonga no
tempo e no espaço, irá continuar apesar dos conflitos e catástrofes da história. No
máximo, a tribulação (vv. 1-8) é sinal de que a vinda do Filho do Homem está próxima.
Com isto está indicando que a comunidade dos discípulos tem ainda muito que fazer.
A vinda do Filho do Homem é descrita no v. 26 como o próprio poder de Deus que
age na história com a expressão “Então eles verão o Filho do Homem”. As nuvens,
sobre as quais ele está, são símbolo do poder e da glória divinos que o Filho possui. Sua
vinda é marcada pelo julgamento dos que se opõem ao projeto de Deus. Esse versículo
inspirou-se em Dn 7,13-14, que possui forte conotação de julgamento. A vinda do Filho
do Homem, portanto, é marcada em primeiro lugar pelo julgamento dos que rejeitaram
as propostas do Reino. Em segundo lugar, é marcada pela salvação dos eleitos: “Ele
enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma
extremidade à outra da terra” (v. 27).
Nos vv. 28-32 continua a orientação catequética de Marcos respondendo à
interrogação sobre o que acontecerá na vinda do Filho do Homem. O evangelista usa a
metáfora da figueira para mostrar a proximidade do Reino na vida da comunidade, mas
para perceber isto é necessário um discernimento constante através dos sinais e dos
acontecimentos históricos. O Reino está próximo porque através da comunidade Deus
vai conduzindo seu projeto e a própria história para um rumo novo. O discernimento,
portanto, consiste em deduzir pelos sinais a necessidade da prática que leve à criação do
mundo novo. Os sinais são passageiros, só a Palavra de Deus permanece para sempre
(v. 31). Não cabe à comunidade preocupar-se com o tempo em que se dará o fim dos
tempos, mas sim, trabalhar para construir uma nova sociedade onde haja liberdade e
vida para todos. Eis o porquê da urgência do compromisso que passa pelo
discernimento, em vista da construção do mundo novo.
As outras leituras também trazem o convite forte para a vigilância na espera do dia
do Senhor. Em Dn 12,1-3 fala do julgamento de Deus e da salvação do povo. A segunda
leitura, Hb 10,11-14.18 continua o contexto do domingo passado, a diferença entre a
ação dos sacerdotes do AT e Jesus que realizou um sacrifício único pelos pecados,
trazendo a salvação plena ao gênero humano.
Concluindo
Diante de leituras tão rica em símbolos e convite à vigilância, procuremos em
preocuparmo-nos mais com o compromisso em transformar nossa realidade de morte
em realidade de vida plena para todos, do que sobre como os fatos irão se dar.
Bibliografia
Bíblia, algumas traduções.
Balancin, Euclides Martins. Como ler o Evangelho de Marcos. Quem é Jesus? Paulus 1991, 155-157;
Gallardo, Carlos Bravo. Jesús, hombre en conflitcto. El relato de Marcos en América Larina. Ed. Sal
Terrae 1986, 213-214;
Gorgulho, Frei Gilberto e Anderson, Ana Flora. O Evangelho e a vida. Marcos. Ed. Paulinas 1975, 213214;
Poppi, Angelico. I quattro vangeli, commento sinottico. Edizioni Messaggero Padova 1990, 339-341.
Revista “Vida Pastoral” ano 56, n. 306, 44-47.
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