XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010. SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DO PROCESSO DE ATENDIMENTO AO PÚBLICO NUMA AGENCIA BANCÁRIA DE FORMA A MAXIMIZAR EFICIÊNCIA E RENTABILIDADE Gustavo Henrique Dienstmann (UNISINOS) [email protected] Debora Costa de Azevedo (UFRGS) [email protected] Felipe Jorge Demartini (UNISINOS) [email protected] Este trabalho apresenta um projeto de Simulação Computacional que propõe melhorias para um processo de atendimento ao público pessoa física em uma agência bancária. Para isso, este estudo utiliza conceitos de gestão de serviços e Simulação Computacional, a fim de construir modelos de simulação, alimentá-los e gerar resultados, bem como conhecer sua aplicabilidade e características. Como resultado deste estudo tem-se subsídios para a tomada de decisões de uma proposta que busque elevar a satisfação de clientes e conseqüentemente aumentar a rentabilidade e comercialização de produtos e serviços bancários da unidade de negócios estudada. Palavras-chaves: Simulação Computacional, cenários, atendimento bancário, espera, tomada de decisão 1. Introdução O cenário atual demonstra uma grande globalização de informações e técnicas. Se por um lado o acesso às diferentes práticas e ferramentas de gestão proporciona vantagens competitivas para as organizações, por outro lado torna cada vez mais difícil o processo de diferenciação entre elas. Nesse contexto, para evitar a comoditização dos produtos e serviços, é constante a busca das empresas por métodos que elevem sua competitividade. Essa busca, na discussão atual, está ligada diretamente à capacidade de inovação, seja esta em produtos, serviços ou processos, que permitam não desperdiçar qualquer oportunidade de negócios que efetivamente elevem o ganho das organizações (VILHENA, 2006). O setor bancário brasileiro tem sido um dos que torna mais aparente essa busca por diferenciação baseada em serviços e processos. Ao passo que busca estreitar o relacionamento com os clientes, visando a sua fidelidade e manutenção a longo prazo, verifica formas de atender o máximo de clientes possível de maneira automatizada e personalizada, assim elevando a eficiência de seus processos com uma qualidade percebida cada vez maior no serviço prestado ao cliente (FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2005). Conforme Roussakis (1997), os bancos surgiram na Itália no século XII, onde se chamavam casas bancárias, de propriedade de famílias que possuíam capital e o administravam, assim realizavam a intermediação entre quem detinha o capital (aplicador) e quem necessitava deste (tomador). O papel do banco como intermediador gera sua fonte de receita: o spread, que consiste na diferença do valor pago ao aplicador e do cobrado do tomador (FEBRABAN, 2004). Ao longo do tempo, as operações de intermediação realizadas pelos bancos evoluíram em quantidade de operações e de opções de intermediação, a partir de fatores como a expansão econômica e a bancarização, consolidando este setor como um dos pilares de sustentação da expansão do capitalismo ao longo dos tempos. Atualmente, os bancos expandem seus negócios para ramos tidos como não bancários, como seguridade, capitalização, previdência, entre outros. Para ampliar suas possibilidades de negócio, o foco da organização bancária deve ser o cliente: vários investimentos são feitos para conhecer seus potenciais de consumo, bem como para mantê-lo fiel e satisfeito com os serviços prestados pela empresa, para assim potencializar o consumo de outros produtos e serviços que agreguem ganhos para a organização (LOVELOCK E WRIGHT, 2003). Para se obter este foco no cliente e na comercialização de produtos e serviços bancários é central a criação de estratégias que potencializem estes objetivos, isto através de uma orientação do pessoal de linha-de-frente, que tem o contato direto com o cliente e nos momentos da verdade (CARLSON, 2005) do encontro de serviço deixa o cliente satisfeito ou não com a organização e realiza negócios com o cliente (LOVELOCK; WRIGHT, 2003). Outro ponto importante nesta estratégia é a necessidade de avaliar os negócios que agregam valor para a empresa, buscando minimizar/eliminar os que não agreguem. Da mesma forma é necessária uma seleção de público conforme o seu potencial de consumo de produtos e serviços bancários, pois é impossível atender todos (ao menos de maneira individualizada e ideal). O atendimento às demandas do cliente ocorre pela comercialização e uso dos diversos produtos e serviços, os quais geram ganhos diferentes. Há, também, serviços que pertencem a “pacotes de serviços”, pelos quais o cliente irá desembolsar o mesmo valor mensal, 2 independente de utilizar ou não o serviço. Ou seja, para o banco não há geração de ganho quando da utilização deste serviço, apenas consumo de estrutura da empresa. Há também, nas empresas de controle público, alguns serviços que são ofertados e não trazem retorno monetário à empresa, mas sim cumprem um papel social do sócio majoritário (governo). Assim, os grandes desafios da organização bancária estão em: a) Potencializar o consumo de produtos e serviços que tragam ganhos mais elevados; b) Segmentar e selecionar o público conforme o seu potencial de consumo de produtos e serviços bancários; c) Automatizar (e reduzir custos) ao máximo dos produtos e serviços que não agreguem receita, assim como os de realização obrigatória. Com isso busca aumentar a lucratividade da empresa, ampliando os ganhos e reduzindo custos e consumo da estrutura. A partir do exposto, um dos caminhos possíveis para a ampliação dos ganhos em uma empresa do setor bancário é a análise do processo de serviço, de maneira que se estabeleçam alternativas para um fluxo mais lógico, focando a realização de negócios que agreguem ganho à organização, através da elevação da satisfação dos clientes com potencial de consumo, e considerando os recursos disponíveis. No presente artigo, apresenta-se uma análise do processo de atendimento a clientes em uma agência bancária, utilizando-se a Simulação Computacional, uma ferramenta pouco difundida nos estudos sobre este setor no Brasil. Foram testadas alternativas ao processo de serviço, a fim de subsidiar elementos para uma tomada de decisão e comprovar a aplicabilidade do método no setor de serviços, mais especificadamente no setor bancário. 2. Referencial teórico Para uso da ferramenta de simulação faz-se necessário o compreendimento de sua importância, sua aplicabilidade e dos resultados que esta ferramenta retorna. Prado (1999) define simulação como a técnica que propõe uma solução a um problema através da análise de um modelo, que descreve um sistema de maneira simplificada, com uso de um computador. Pidd (1998) complementa, definindo simulação computacional como a aplicação de um modelo como base para exploração e experimentação da realidade. Ou seja, pode-se descrever o uso de simulação no âmbito deste trabalho como uma forma de representar, com o uso de computação e de maneira simplificada, o processo a ser analisado: o atendimento a clientes numa agência bancária. Assim como em outras metodologias de modelagem, a simulação é utilizada em função do seu menor custo, maior segurança e rapidez em comparação com a realização de experimentações na realidade (PIDD, 1998). Law e Kelton (1982) indicam (ver, Figura 1) diferentes formas que podem ser utilizadas para estudar um sistema, sendo a simulação uma delas. Na simulação, por meio da construção de um modelo matemático, é possível examinar um sistema e responder a questões que interessem sobre ele. No presente estudo, buscou-se examinar o processo de atendimento a fim de elevar sua eficiência em termos de geração de negócios para a organização. 3 Figura 1 – Formas de estudar um sistema. Fonte: Law e Kelton (1982, p.4) A simulação computacional pode auxiliar em inúmeras tomadas de decisões. Pidd (1998) coloca que a maioria dos sistemas existentes podem ser simulados, apesar do alto custo, conhecimento e poder computacional necessários para isto. Assim, ele define as características dos sistemas para os quais a utilização da simulação computacional é recomendável: a) Dinâmicos: o comportamento varia ao longo do tempo. Esta variação pode estar associada a fatores que não podem ser controlados, mas que podemos prever através de análise estatística; b) Interativos: possuem componentes que interagem entre si e esta interação modifica o comportamento de todo o sistema; c) Complicados: existem inúmeras variáveis que interagem no sistema e sua dinâmica precisa ser analisada. A partir das características citadas por Pidd (1998), pode-se verificar a adequação do uso de simulação para o estudo do processo de atendimento numa agência bancária, por ser um sistema dinâmico (seu comportamento varia ao longo do tempo, por exemplo, com a variação de demanda ao longo do dia ou entre diferentes dias do mês), interativo (há várias interações entre os recursos do sistema) e complicado (há várias variáveis interagindo no sistema). Pidd (1998) representa o uso de simulação computacional para fins de experimentação e auxílio à tomada de decisão através da Figura 2. Figura 2 – Conceito de simulação como base para experimentação. Fonte: Pidd (1998, p.226) Ao se optar pelo uso de simulação computacional como auxílio ao processo de tomada de 4 decisão, é importante considerar que este se configura como um projeto, com etapas específicas que buscam garantir a validade dos modelos construídos e, conseqüentemente, a qualidade das saídas do modelo, que servirão de base para as análises. Fitzsimmons e Fitzsimmons (2005) citam a importância de se possuir clareza sobre o problema a ser abordado ao se iniciar o projeto de simulação: “Desenvolver uma definição precisa e concisa dos problemas é importante porque esta atividade envolve o cliente no processo e facilita a implementação dos resultados. A declaração de objetivos segue naturalmente e proporciona um enquadramento para o alcance do modelo e medidas de desempenho do sistema. Um problema, por exemplo, pode envolver a melhoria do serviço bancário com o objetivo de reduzir tempo de espera. [...] O desenvolvimento do modelo começa com uma abstração conceitual do sistema, talvez na forma de um fluxograma de processo” (FITZSIMMONS; FITZSIMMONS, 2005, p.304). Conforme Pidd (1998) os modelos de simulação, independente da abordagem, devem ser capazes de captar as mudanças que ocorreram ao longo do tempo. A simulação computacional pode ser caracterizada por três tipos diferentes de abordagem: simulação por eventos discretos, simulação contínua e uma combinação entre a simulação discreta e a contínua. Para fins deste estudo, será utilizada a simulação por eventos discretos, pois, conforme Law e Kelton (1982), a simulação por eventos discretos, refere-se à modelagem do sistema, que evolui ao longo do tempo por uma representação em que as variáveis sofrem alterações apenas em função do tempo. Os intervalos de tempo são aqueles em que um evento ocorre e é quando pode mudar o estado de um sistema. Pidd (1998) relata que os sistemas simulados através desta abordagem apresentam entidades discretas que se encontram em estados discretos e variam ao longo do tempo. Desta forma, a essência da modelagem por eventos discretos está em capturar as características mais importantes do sistema em termos de estados e entidades. A parte principal na construção de um modelo de simulação por eventos discretos consiste na criação de regras lógicas, expressas em alguma linguagem computacional, que irão descrever como as entidades do sistema devem mudar de estado. Nos últimos anos, softwares de simulação por eventos discretos têm sido desenvolvidos com o intuito de facilitar o processo de criação e rodagem do modelo computacional. Estas ferramentas são conhecidas como Sistemas de Modelagem Visual Interativa (VIMS – Visual Interactive Modelling Systems). O objetivo principal de um sistema VIM é permitir que o usuário desenvolva seu modelo de simulação por meio da construção do desenho do sistema que será simulado, utilizando os ícones e figuras necessárias, disponíveis no software, fornecendo as informações necessárias para as figuras e, por fim, os parâmetros necessários para o funcionamento do modelo de forma simples (PIDD, 1998). O Micro Saint é um software para simulação discreta por eventos, que utiliza o conceito de VIMS. Pidd (1998) relata que o Micro Saint é um dos softwares VIM mais simples, porém ainda é uma ferramenta surpreendentemente poderosa. Para o presente estudo, o software utilizado foi o Micro Saint Sharp 3.0. Prado (1999) indica que a metodologia ideal para o estudo de sistemas é constituído de duas etapas: construção do modelo da situação atual e a inclusão de alterações no modelo da situação atual para refletir a situação futura desejada, ou seja, construção de novos cenários. Com base nesta recomendação, realizou-se um mapeamento do processo atual, analisando-o, para então propor possíveis situações futuras, a fim de realizar uma melhoria no sistema. Essas etapas são descritas no método. 5 3. Método Law e Kelton (1982) definem dez etapas que devem ser seguidas para o sucesso do projeto de simulação, que compreendem desde a formulação do problema até a tomada de decisão. De forma esquemática a Figura 3 apresenta o método sugerido. Outros métodos de condução de projetos de simulação também foram propostos, dos quais se podem citar os autores: Gogg e Mott (1996), Alan Pritsker (1989) e Osman Balci (1990). Para este estudo, optou-se pela utilização do método proposto por Law e Kelton. Por limitações de espaço, as etapas do método não são discutidas aqui. Figura 3 – Passos para implantação de um projeto de Simulação. FONTE: Law e Kelton (1982) 4. Apresentação do modelo Para início de análise, realizou-se um acompanhamento do processo foco do estudo. A partir desta visualização partiu-se para o mapeamento dos processos que posteriormente foram analisados e criticados a fim de realização de melhorias. Os itens visualizados no processo foram: a) Chegada: é o momento de chegada do cliente à agência bancária, a partir dela se iniciam as interações de serviço; b) Entra na agência: o cliente entra propriamente na agência quando passar pela Porta Giratória Detectora de Metais (PGDM); c) Retira senha no Gerenciador de Atendimento (GAT): após a entrada na agência, o cliente dirige-se a ferramenta GAT, que consiste em equipamento gerador de senhas, operado por meio da identificação do cliente por cartão ou pela escolha do tipo de atendimento desejado em uma tela touch-screen. O GAT imprime na senha o setor de atendimento do cliente: exclusivo, pessoa jurídica ou preferencial (cada setor de atendimento é composto de uma ou mais mesas de atendimento). Caso o cliente não seja correntista do banco, a 6 d) e) f) g) h) i) j) ferramenta o direciona ao setor de atendimento preferencial. Cada mesa de atendimento possui uma ordenação de senhas própria, que são chamadas em sistema FIFO (first in, first out – atendimento respeita a ordem de chegada); Espera chamada da senha: após recebida a senha gerada pelo GAT, o cliente aguarda a sua chamada, que é realizada pelo painel de senhas; Cliente é chamado pelo atendente disponível: quando o recurso (genericamente, atendente – podendo ser Gerente, Assistente, Escriturário 1 ou Escriturário 2) estiver disponível, este chama o próximo cliente (se houver) aguardando atendimento naquela mesa por meio do sistema Gerenciamento do Ambiente de Agência (GAA). Ao registrar o início do atendimento, o sistema automaticamente comunica ao cliente, por meio do painel de senhas, qual a mesa do seu atendimento; Cliente demanda serviço: o atendente inicia o atendimento na mesa e identifica qual a demanda do cliente; Atendente apto para o serviço requisitado?: após o cliente solicitar o serviço, o atendente identifica se está apto ou não à execução deste atendimento. Caso esteja apto, prossegue o atendimento; caso não, o atendente indica ao cliente qual o recurso (outro atendente) que pode atender a sua demanda. O cliente, então, aguarda liberação (estar disponível) do atendente habilitado ao serviço, ou seja, se dirige para uma fila de espera intermediária (e sem senha) de outro atendente onde realizará novamente os passos f) e g); Realiza serviço: o atendente habilitado realiza o serviço demandado; Necessita de confirmação superior: alguns serviços necessitam de confirmação de um superior hierárquico. Caso não seja necessária a confirmação, o atendimento é finalizado. Caso seja necessária, o atendente deve encaminhar o processo para a verificação de superior e, após a confirmação deste, o atendente realiza a tarefa ou serviço solicitado e finaliza o atendimento; Fim: o cliente sai da agência. Após o entendimento das interações que ocorrem dentro do processo de atendimento, foco deste estudo, partiu-se para a construção do modelo de Simulação Computacional. Inicialmente, construiu-se o modelo conceitual, que serviu de base para o planejamento da coleta dos dados necessários para alimentar o modelo de simulação. Nas definições referentes a construção do modelo conceitual, realizaram-se simplificações. Isto se faz necessário, pois, conforme Pidd (1998): “um modelo é uma representação externa e explícita de parte da realidade vista pela pessoa que deseja usar aquele modelo para entender, mudar, gerenciar e controlar parte daquela realidade”. As principais simplificações adotadas foram: a) Criaram-se seis grupos de tipos de atendimento (pelo potencial de consumo dos produtos, necessidade de confirmação superior e características de atendimento) representadas nos grupos A (com potencial e necessidade de confirmação superior), B (sem potencial e necessidade de confirmação superior), C (com potencial e sem necessidade de confirmação superior), D (com potencial, necessidade de confirmação superior e sendo atendimento mais rápido), E (sem potencial e sem necessidade de confirmação superior) e G (sem potencial, sem necessidade de confirmação superior e sendo atendimento rápido); b) Criou-se uma relação de funcionários (funções) e suas habilidades, sendo que os atendentes foram divididos em três grupos (Escriturário, Assistente e Gerente) conforme a capacidade de realizar as tarefas e as suas responsabilidades do cargo; c) Criou-se um marcador para desistência: após 30 minutos de espera o cliente desistia de aguardar atendimento. 7 Com base no modelo conceitual e nos dados coletados e tratados, construiu-se o modelo apresentado na Figura 4, o qual retrata o sistema atual, que foi verificado e validado. Figura 4 - Modelo de Simulação construído no Micro Saint Sharp 3.0 da realidade atual 5. Cenários construídos Seguindo-se os passos descritos por Law e Kelton (1982), após a verificação e validação do modelo do sistema atual, propõem-se alternativas por meio do planejamento de experimentos. Nesta etapa foi realizada a análise dos dados gerados pelo sistema atual e foram apresentadas alternativas a este, com posterior verificação dos resultados destas alternativas por meio da análise dos resultados gerados pela simulação dos cenários propostos. Com base nos objetivos deste estudo, realizaram-se propostas de estabelecer um fluxo lógico dos clientes dentro da unidade de negócios estudada e, a partir deste melhor fluxo, realizar um direcionamento visando potencializar os negócios dos clientes com o banco. Neste artigo, são apresentados apenas o cenário atual e dois cenários alternativos (Cenários A e B). Para a realização da análise comparativa dos diferentes cenários foram construídos quatro indicadores: número de clientes atendidos, número de clientes que desistem do atendimento, tempo médio de espera e taxa de utilização dos recursos. O cenário atual (cuja estrutura está representada na Figura 4) apresentou para estes indicadores os seguintes resultados: a) b) c) d) e) f) g) Tempo médio de espera: 8,14 minutos; Número de clientes atendidos: 63; Número de clientes que desistiram do atendimento: 10; Taxa de ocupação do recurso “Gerente”: 21,0%; Taxa de ocupação do recurso “Assistente”: 58,5%; Taxa de ocupação do recurso “Escriturário 1”: 63,8%; Taxa de ocupação do recurso “Escriturário 2”: 16,9%; 5.1. Cenário A A primeira proposta de melhoria a ser simulada neste cenário é que ingressem na agência apenas os clientes que de fato necessitem de atendimento pessoal e que a senha fornecida encaminhe o cliente para um atendente que possa executar o atendimento, excluindo-se a etapa “Atendente apto para o serviço requisitado?”. Esta alteração implica em que um dos recursos (Escriturário 2) esteja acompanhando a ferramenta GAT, bem como que a mesma se situe na sala de auto-atendimento, ou seja, antes da entrada na agência. Esta medida pretende eliminar atendimentos dentro da agência que possam ser realizados por outros meios, como internet, terminais de auto-atendimento e central telefônica de atendimento - estes casos seriam direcionados pelo atendente acompanhando a ferramenta 8 GAT. Os dados de ganhos com a migração de atendimento para meios alternativos não puderam ser mensurados e, portanto, não fazem parte deste estudo. A partir da melhoria proposta, construiu-se um fluxograma dos processos e então partiu-se para a alteração do modelo no software. Esta consistiu-se na alteração da informação dos grupos de atendimento, ou seja, o recurso irá atender primeiramente o grupo que somente ele executa (por exemplo, o “Assistente” eliminará a fila de “Op_C” que somente ele executa) para depois atender as demais filas. A outra alteração está na tarefa “Senha” que passa a ser recurso e, portanto utiliza o recurso “Escriturário 1”, o que diminui em um o recurso disponível no atendimento. Esta alteração fez com que o tempo para retirada de senha também seja reduzida, pois a mesma será executada pelo atendente que possui experiência com a ferramenta. Após a construção do modelo desta proposta passa-se para a etapa de “rodar” o modelo. Da mesma forma que o modelo da realidade atual, realizou-se 30 rodadas, representando um mês. Após as rodadas, efetuou-se a extração dos dados de saída para os indicadores já citados. Calculou-se, então, o tamanho da amostra de rodadas para um nível de significância de 5%, que resultou na necessidade de 92 rodadas do modelo. Os dados de saída das 92 rodadas foram registrados para análise, que é apresentada na seção 6. 5.2. Cenário B O cenário B agrega algumas alterações à proposta do cenário A. Neste cenário, pretende-se verificar a possibilidade de privilegiar atendimentos que dêem maior resultado financeiro à empresa, segregando-se atendimentos que não agregam ganho, os quais, em sua maioria, são rápidos e não necessitam de entrada na agência. Visando focar no cliente que tem propensão ao consumo de produtos e serviços bancários, ou seja, que traz receita à unidade de negócios, diferenciou-se a lógica de atendimento: as operações que não agregam ganho à empresa e que não necessitam confirmação superior são executadas pelo recurso “Escriturário 2” que opera junto a ferramenta GAT e que também fornece a senha para atendimento dentro da agência. Realizaram-se as alterações no modelo de simulação computacional, considerando-se que haverá formação de fila também no recurso que retira senha e que realiza um atendimento expresso. Não será discutido neste artigo o período de espera nesta fila, pois não é objetivo deste estudo. Da mesma forma como o cenário A, há diferenciação na entrega de senha aos grupos de atendimento, pois os mesmos são direcionados diretamente para um funcionário apto a atendê-los. As tarefas “Op_E” e “Op_G” serão realizadas pelo recurso “Escriturário 1” que também realiza a distribuição das senhas e direcionamento ao atendimento correto. Da mesma forma que no cenário anterior, o modelo foi rodado inicialmente 30 vezes e, com base nos dados de saída obtidos, calculou-se o tamanho da amostra de rodadas para um nível de significância de 5%, que resultou na necessidade de 49 rodadas do modelo. 6. Análise dos cenários Os dados de saída gerados em cada cenário foram analisados com o auxílio do software de estatística PASW. A partir da análise ANOVA e do teste estatístico Tukey HSD, obteve-se a informação de que os dados de número de atendimentos, número de desistências, tempo médio de espera e taxa de utilização dos recursos não possuem médias iguais aos dados gerados na realidade, portanto os cenários construídos geraram resultados diferentes da situação atual, como pode-se verificar na Tabela 1. Assim, com base no teste estatístico Tukey 9 HSD, verificou-se a melhora ou piora dos indicadores analisados, ocasionada pelas alterações no processo estudado. atendido desiste espera ef_a ef_e1 ef_e2 ef_g Soma dos quadrados Grau de liberdade Média dos quadrados Entre 13477,632 2 6738,816 Dentro 21226,242 179 118,582 Total 34703,874 181 - Entre 14352,009 2 7176,005 Dentro 11152,364 179 62,304 Total 25504,374 181 - Entre 6304,674 2 3152,337 Dentro 2483,625 179 13,875 Total 8788,299 181 - Entre 49276,769 2 24638,385 Dentro 25453,646 179 142,199 Total 74730,416 181 - Entre 328637,516 2 164318,758 Dentro 5678,149 179 31,722 Total 334315,665 181 - Entre 45333,691 2 22666,845 Dentro 24255,097 179 135,503 Total 69588,788 181 - Entre 4070,282 2 2035,141 Dentro 1353,147 179 7,559 Total 5423,429 181 - Estatística F Significância 56,828 ,000 115,178 ,000 227,195 ,000 173,267 ,000 5180,043 ,000 167,279 ,000 269,217 ,000 Estatística F = indica o tamanho da diferença entre grupos, em função do tamanho da variação dentro de cada grupo Tabela 1 – Análise de variâncias pelo método ANOVA Analisam-se, a seguir, os dados de cada indicador e apresentam-se na Tabela 2 os valores dos indicadores nos diversos cenários. a) Número de clientes atendidos (atendido): Cenário A: o número de clientes atendidos foi de 48 clientes, este número teve uma diminuição comparada ao processo atual devido o aumento do número de clientes que desistiram do atendimento ocasionado pelo aumento do tempo de espera; Cenário B: este indicador obtém melhora se comparado ao processo atual e ao Cenário A, num total de 67 clientes atendidos. Este número tem elevação devido à diminuição do número de clientes desistentes; b) Número de clientes que desistem do atendimento (desiste): Cenário A: o número de clientes que desistiram do atendimento elevou-se para 22 clientes. Este aumento ocorreu pela elevação do tempo de espera; Cenário B: o número de clientes que desistiram do atendimento reduziu-se para uma média de 1,49 clientes. Esta redução deve-se à considerável redução do tempo de espera do processo; c) Tempo médio de espera (espera): 10 Cenário A: apresentou elevação para 15,02 minutos de espera média, número 85% superior ao ocorrido no processo atual; Cenário B: este é o indicador que apresentou a mais importante variação, reduziu para um tempo médio de 1,12 minutos. Comparado ao processo atual há uma redução de 86%, neste que é o principal indicador deste estudo. É importante frisar que este tempo de espera não leva em conta o tempo de espera no processo de retirada de senha, onde o cliente também será atendido pelo recurso se o seu processo não agregar valor ou não tiver potencial de comercialização de produtos e serviços bancários, bem como não necessitar confirmação superior; d) Taxa de utilização dos recursos (ef_g: taxa de utilização do recurso gerente; ef_a: taxa de utilização do recurso assistente; ef_e1: taxa de utilização do recurso escriturário 1; ef_e2: taxa de utilização do recurso escriturário 2): Cenário A: com o remanejo do recurso “Escriturário 2” para a retirada de senhas houve um sobre carregamento dos demais recursos, onde em termos de atendimento o recurso “Escriturário 2” apresentou taxa de utilização zero, para contrapor, o recurso “Gerente” elevou sua utilização para 25,96%, o “Assistente” para 70,11%, este valor atenuado pela maior direcionamento de atendimento para ele (pois este recurso possui habilidades para todos atendimentos), e o “Escriturário 1” para 80,85%; Cenário B: com o remanejo do recurso “Escriturário 2” para a retirada de senhas e atendimento de determinados grupos de atendimento houve uma elevação de utilização deste recurso para 87,8% de utilização, já os demais recursos reduziram sua utilização, o recurso “Gerente” para 7,84%, o recurso “Assistente” para 30,9% e o “Escriturário 1” para 44,2%. Indicadores Situação atual Cenário A Cenário B Tempo médio de espera 8,14 minutos 15,02 minutos 1,12 minutos Clientes atendidos 63 clientes 48 clientes Clientes que desistiram 10 clientes 22 clientes Taxa de ocupação gerente 21,00% 25,90% Taxa de ocupação 58,50% 70,10% assistente Taxa de ocupação 63,80% 80,80% escriturário 1 Taxa de ocupação 16,90% escriturário 2 Tabela 2 – Indicadores dos cenários Resultados 67 clientes 1,49 clientes 7,80% 30,90% 44,20% 87,80% Globalmente, com relação ao cenário A, pode-se evidenciar a piora dentro dos objetivos propostos, visto que houve elevação substancial dos tempos de espera e de clientes desistindo de atendimento. Isto ocorreu devido à utilização de um recurso apenas para o direcionamento do atendimento, o que gerou uma redução da capacidade de atendimento instalada. Entretanto, dentro do propósito de direcionar o correto atendimento e evitar filas intermediárias nos recursos, a proposta pode ser considerada como satisfatória. Já com relação ao Cenário B, evidencia-se uma melhora substancial nos indicadores importantes para este estudo. Observa-se um grande aumento da utilização do recurso “Escriturário 2” o que indica a existência de tempos de espera no processo que foi retirado de dentro da agência. Este número não foi mensurado, mas é importante ressaltar que números de desistências e tempos de espera neste processo não são relevantes para o estudo, pois são 11 serviços (processos) que não geram valor para a unidade de negócio estudada, pois não envolvem a comercialização de produtos e serviços bancários. Esta proposta mostrou-se como um complemento à proposta do cenário A e reduziu o tempo de espera médio e o número de desistentes entre os clientes que têm potencial de consumo de produtos e serviços que tragam ganhos para a empresa. Com base nas análises e resultados obtidos constata-se um resultado expressivamente positivo do Cenário B. Nesta etapa do projeto de simulação realizou-se a análise da viabilidade da proposta a partir do estabelecimento de etapas de implementação na prática. O cenário B proposto tem como necessidade de estrutura na agência o deslocamento do terminal GAT e de uma estação de trabalho (computador) para a sala de auto-atendimento. A instalação destes equipamentos é simples, mas há cuidados necessários, principalmente, quando não for horário de atendimento ao público. Assim, adotou-se como sugestão o uso de estação de trabalho móvel com rodas, permitindo a disponibilização desta na sala de auto-atendimento somente no horário de seu uso. Da mesma maneira o cabeamento de rede e eletricidade são simples de serem disponibilizados. Do ponto de vista de colaboradores, necessita-se, para a execução das atividades na sala de auto-atendimento, de pessoas dinâmicas, pró-ativas, que estejam comprometidas com o correto desempenho das atividades, bem como tenham conhecimento das atividades a executar, e dos meios alternativos disponibilizados pelo banco. Faz-se necessário, devido à elevada carga de serviço demandado, uma rotatividade entre funcionários para a ocupação deste posto, a qual deve ser estabelecida. Outro ponto a ser levado em consideração quanto à implementação da proposta é a definição clara das atividades que não serão encaminhadas para dentro da agência, bem como de indicadores locais para medir a eficiência desta alteração. De maneira geral, analisando-se os cenários propostos comparados à situação atual, verificase que no cenário A apenas o estabelecimento de um fluxo lógico não foi o suficiente para atingir os objetivos de melhoria, visto que eliminou filas intermediárias, porém elevou a carga sobre os recursos que realizam no atendimento e aumentou a espera. Já o cenário B, com uma proposta mais abrangente, realizou uma segregação dos atendimentos, focando naqueles com potencial de ganho para a organização, assim potencializando novos negócios. Neste cenário é verificada também, a ocorrência de filas de atendimento, que não foram mensuradas, na parte externa da agência sendo este um ponto a ser quantificado, isto porque estas filas podem congestionar e prejudicar o uso dos terminais de auto-atendimento da agência. Porém esta questão não foi o foco da discussão deste trabalho, portanto sua análise pode ser efetuada em outros estudos futuros ou quando da implementação da proposta. 7. Considerações finais O presente artigo buscou demonstrar a aplicabilidade e importância de estudos de Simulação Computacional no setor bancário, produção acadêmica ainda incipiente no país. Este trabalho teve o objetivo de analisar propostas de melhoria que agilizem o processo de atendimento a clientes, isto para permitir uma elevação da rentabilidade e comercialização de produtos e serviços bancários da unidade de negócio estudada. Para isso buscou-se maneiras de compreender o processo e de realizar este objetivo, a partir de ferramentas como mapeamento de processos, com foco no setor bancário e suas variações de demanda, e Simulação Computacional, que permitiu analisar alternativas de fluxo de processo e testá-las sem os problemas e riscos de experimentar no sistema real, e forneceu informações para a tomada de decisão sobre este processo. 12 Ao analisar-se o conjunto de processos envolvidos no atendimento de uma agência bancária, assumiu-se como pressuposto a necessidade de foco nas atividades que geram valor a empresa, ou seja, que agreguem valor à unidade de negócio. Para isso é preciso segregar e priorizar os diferentes tipos de atendimento, mas também é importante destacar que atendimentos que não agregam valor são necessários, pois possuem regulamentações quanto a tempos de espera e prestação de serviços. Para tanto, é importante que o grupo de colaboradores envolvidos possua características como flexibilidade, agilidade, multifuncionalidade e comprometimento. Sendo que, para a realização do objetivo, é necessário agir sobre o problema, ou seja, melhorar o fluxo dos clientes dentro da agência, de maneira que clientes com potencial de novos negócios sejam atendidos com o mínimo de espera, e os processos de baixo valor agregado sejam minimizados ou eliminados da área interna da agência, ficando limitados à área de auto-atendimento. A comparação do cenário atual com os cenários propostos demonstrou possibilidades de melhoria, obtendo-se ganhos expressivos em termos de redução de espera e de número de clientes que desistem do serviço. Enfim neste artigo buscou-se demonstrar como é possível unir agilidade, fluxo lógico e correto dos clientes, menor tempo de espera, maior número de clientes atendidos e satisfeitos de forma a contribuir para que estes consumam mais produtos e serviços bancários e conseqüentemente elevem a rentabilidade do negócio. Referências BALCI, O. Guidelines for successful simulation studies (tutorial session), Proceedings of the 22nd conference of Winter simulationa. New Orleans, 1990. CARLSON, J. A Hora da Verdade. São Paulo: Sextante, 2005. FEBRABAN. Estudo sobre a estrutura da taxa de juros no Brasil Apuração do spread da indústria bancária. Disponível em http://www.febraban.org.br/Arquivo/Destaques/Fipecafi_GDE.pdf. Acesso em 06/04/2010. FITZSIMMONS, J. & FITZSIMMONS, M. Administração de serviços: Operações, estratégias e tecnologia da informação. 4. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. GOGG, T. J. & MOTT, J. R. A. Improve Quality e Productivity with Simulation. 3. Ed. 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