I I Simpósio de Iniciação Científica - SICFIC' 2015 O CANTAR DO IDOSO: DIÁLOGOS ENTRE A INFÂNCIA E A MATURIDADE PEREIRA, D, P. (IC)1;PAREJO, E.(O)2 1. Acadêmica de Licenciatura em Música -FIC. Bolsista PIBIC/CNPq. 2. Profª Doutora, PUC/SP. RESUMO: Realizou-se neste trabalho a análise de relatos obtidos de dois idosos que quando na infância, participaram do programa Canto Orfeônico. Idealizado e instituído por Villa-Lobos na década de trinta, o programa Canto Orfeônico musicalizou crianças e adolescentes do Brasil e é conhecido como “Educação Getulista” por ter se consolidado no Governo de Getúlio Vargas. Os relatos descrevem as experiências individuais dos dois idosos bem como o significado que as mesmas tiveram ao longo de suas vidas. INTRODUÇÃO: A intenção desse projeto foi realizar um estudo sobre um casal de alunos, hoje idosos, que participaram do Programa Canto Orfeônico implantado na década de 1930, por Heitor Villa-Lobos, no governo Vargas a fim de contribuir para a reflexão e fundamentação teórica sobre a importância da musicalização desde a infância na escola regular. Desta forma, pretende-se compreender a importância da educação musical na infância para um desenvolvimento cognitivo e musical levado por toda vida do casal. MATERIAL E MÉTODOS: Para esta pesquisa, foi escolhida a abordagem qualitativa na modalidade história de vida. Por meio dessa abordagem se conhecerá a história dos sujeitos contada de uma maneira particular pelos mesmos, se trará seu mundo subjetivo que se relaciona permanente e concomitantemente com os fatos sociais, e se possibilitará o resgate que os sujeitos farão de sua própria história. RESULTADOS: Na abordagem inicial dos sujeitos, expliquei-lhes que realizaria uma pesquisa sobre o Canto Orfeônico, que teria por foco compreender como haviam vivenciado essa experiência, em suas respectivas infâncias. Depois dessa primeira abordagem, solicitei que falassem sobre a relação que estabeleceram entre sua experiência no Canto Orfeônico e suas participações em corais no decorrer de suas vidas. Os relatos foram gravados e redigidos para então serem analisados com foco nos seguintes aspectos: - Comparação sobre os diferentes tipos de auto-estima dos dois sujeitos; Ligia e Milton mostram diferenças em suas visões sobre suas experiências como orfeonistas. As sensações que as vivências musicais causaram marcaram Lígia significativamente, pois, os fatos relatados são carregados de afetividade, quase sem comentários sobre a prática musical teórica; enquanto Milton diz não ter muitas recordações e considera pouco relevante aquilo do que se lembra. - Influência que a experiência com o Canto Orfeônico teve ao longo de suas vidas; O Canto Orfeônico teve graus de influência na iniciação musical e digo até mesmo iniciação cultural e social de Lígia e Milton. Vemos isso no relato de ambos quando nos dizem sobre a emoção e a motivação que a música executada nas aulas de Canto Orfeônico lhes trazia. Para Lígia, a experiência como orfeonista a iniciou na música e Milton chama essa iniciação de motivação. Para ele, o mais importante foi manter a vontade de aprender música e seu desejo de desafiar seus limites o engajou a continuar. Logo, cada um tem sua relação sobre a forma de incentivo que a educação musical deixou ao longo de suas vidas. - Como Villa-Lobos foi visto por eles durante a experiência do canto orfeônico. I I Simpósio de Iniciação Científica - SICFIC' 2015 Lígia e Milton relataram que não tinham conhecimento, quando estudantes, de que o projeto Canto Orfeônico consolidou-se a partir de Villa-Lobos. Milton diz em seu relato que não se comentava política e não se falava em nacionalismo, mas atribui a falta de politização a talvez uma política de Estado, onde não se percebia estar sendo direcionado ou manipulado, por não haver lados opostos como partidos de direita ou esquerda. Lígia e Milton relataram não haver envolvimento político nem mesmo de forma subliminar, a fim de fazê-los escolherem uma posição política de direita ou esquerda. Ambos contaram que não se comentava política em seu meio social. “Não se falava em nacionalismo e não se percebia nada politizado.” (Milton em relato) CONCLUSÕES: Nos relatos notamos que os sujeitos atribuem diferentes significados à experiência. Ambos deram sua visão de acordo com suas experiências atreladas a suas emoções. A visão que têm de si mesmos, também tem influência sobre o julgamento que fazem do aproveitamento da época de estudantes. O levantamento bibliográfico do Canto Orfeônico e da vida de Villa-Lobos, foi apresentado para esclarecer e embasar a visão política e sociocultural do período, bem como as possíveis relações entre o programa Canto Orfeônico e os relatos colhidos dos sujeitos desta pesquisa. A hipótese desta pesquisa fica confirmada uma vez que, com a análise dos relatos dos sujeitos, notamos o incentivo à expressão artística através de suas experiências como orfeonistas e ainda pelas experiências artísticas com as quais se mantiveram em contato ao longo de suas vidas. Para Lígia, a experiência como orfeonista a iniciou na música e Milton chama essa iniciação de motivação. Para ele, o mais importante foi manter a vontade de aprender música e seu desejo de desafiar seus limites o engajaram a continuar. Logo, cada um tem sua relação sobre a forma de incentivo que a educação musical deixou ao longo de suas vidas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -BEAUVOIR, S. de. A Velhice. 3. Ed. Tradução de: Maria Helena Franco Monteiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. -BECKER, H. S. Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo: Ed. Pioneira, 1999. -BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 3. ED. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. -CAMPOS, F. A. 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