A FACULDADE DE ECONOMIA DO PORTO: 50 ANOS AO SERVIÇO DO FUTURO Fernando Teixeira dos Santos A Faculdade de Economia do Porto celebra este ano o seu cinquentenário. Tendo cerca de dois terços da minha vida ligados a esta instituição, não posso ficar indiferente à efeméride. Com efeito, este testemunho justifica-se tanto pela importância que a FEP tem desempenhado na minha vida como pela relevância da instituição para o país. Entrei como aluno da FEP em 1968, ano de mudança no contexto nacional e internacional. Mudança pelo avizinhar do fim de uma ordem internacional marcada pelo colonialismo e pela guerra fria, e de um regime político que para além de temer e perseguir a “liberdade”, nas suas várias expressões, castrou a iniciativa, a inovação, a crítica e a criatividade. Vivia-se a ilusão da chamada primavera marcelista que fez renascer em alguns a esperança da mudança a qual, com o estertor moribundo de um regime anacrónico e caduco, rapidamente se transformou em desilusão. Os tempos conturbados que a universidade então viveu na sequência do Maio de 68 e da crise académica iniciada em Coimbra aprofundaram a consciência cívica e política da minha geração tal como o futuro acabou por comprovar. Mas a Faculdade, para além de estímulo à nossa consciência cívica e política, foi factor de formação marcante dotando-nos do saber, do saber fazer, do saber estar e, além do mais, do saber aprender que nos preparou para um mercado de trabalho com exigências crescentes face aos desafios que a sociedade e a economia portuguesa iriam enfrentar num contexto internacional de crescente liberalização, concorrência, inovação, progresso tecnológico e globalização. Com efeito, o plano de estudos da Faculdade, apesar das alterações registadas ao longo destas cinco décadas, tem-se revelado como um dos melhores trunfos da escola. Apesar de reflectir os momentos históricopolíticos vividos, o referido plano tem sido capaz de combinar várias valências técnico-científicas importantes para o sucesso profissional dos licenciados da FEP. Inicialmente, apostou, com sucesso, numa forte 1 formação em finanças e contabilidade, apoiada numa sólida formação base em economia e em direito, esta inspirada nos cânones adoptados nas faculdades de direito, designadamente de Coimbra. Contou para isso com o contributo de prestigiados profissionais que ainda hoje são referências incontornáveis da escola. Dispenso-me de citar nomes bem conhecidos guardados na memória de sucessivas gerações sob pena de cometer a injustiça de esquecer alguns. Nem os tempos mais conturbados que se seguiram ao 25 de Abril, com manifestas “idiosincrassias” nos planos de estudo então vigentes, foram capazes de destruir este figurino de formação que tem subsistido no essencial até agora. Com efeito, o grande sucesso da FEP tem sido a aposta numa formação base polivalente capaz de dotar os alunos com uma formação geral sólida susceptível de lhe permitir ingressar, ajustar e especializar num mercado de trabalho altamente mutável nas suas exigências específicas. Atenta à mutação e à evolução do mercado de trabalho e às suas exigências, a FEP começou a apostar, na década de 80, na especialização e na formação pós licenciatura desenvolvendo, para o efeito, um enorme esforço na formação e qualificação do seu pessoal docente. Assim, os planos de estudo passaram a incluir disciplinas em áreas mais especializadas da economia, das finanças, do direito e disciplinas instrumentais como os métodos quantitativos. O número crescente de professores doutorados e de mestres permitiu um salto considerável na melhoria dos conteúdos das disciplinas e da sua permanente actualização. Mas as apostas mais fortes foram, sem dúvida, a criação dos mestrados em Economia e posteriormente em Estudos Empresariais, o lançamento da licenciatura em Gestão e, mais recentemente, os cursos de doutoramento e de pós-graduação cobrindo áreas que permitem à Faculdade uma presença forte e prestigiada no mercado de trabalho. A actividade da FEP desenvolve-se hoje em dia num claro contexto de concorrência com outras instituições, públicas ou privadas, que também oferecem graus e formação nas mesmas áreas ou afins. Desenrola-se igualmente num contexto em que os alunos tenderão a ter que participar cada vez mais no seu financiamento. Tais factos constituem condicionantes que obrigam a uma maior eficiência no seu funcionamento. Eficiência a vários 2 níveis. Eficiência na afectação e uso dos recursos materiais e humanos necessários ao seu funcionamento. Eficiência quanto à qualidade do seu output, isto é, dos seus licenciados, mestres ou doutorados bem como dos trabalhos, científicos e outros, que promove e efectua. Eficiência nos métodos de ensino utilizados que devem assegurar qualidade pedagógica, actualidade dos materiais, incentivar a participação, estimular a inovação e promover a interacção/comunicação entre docentes e discentes. Eficiência na sua relação com o meio exterior, base do seu mercado de trabalho alvo. A prestação de serviços, sendo importante, não pode esgotar os termos em que essa relação com o exterior deve assentar. O desenvolvimento de parcerias e de outros relacionamentos institucionais permitem à FEP auscultar o pulsar do meio económico, financeiro e social em que se insere, antever os desafios vindouros e antecipar as exigências que esse mesmo meio tenderá a colocar-lhe. A FEP venceu já grandes desafios no passado e 50 anos dão-lhe concerteza a necessária sabedoria para continuar a enfrentar o futuro com visão estratégica, espírito inovador e, se necessário, imaginação e ousadia. Fernando Teixeira dos Santos (Outubro de 2003) 3