SOCIEDADE DE EDUCAÇÃO DO VALE DO IPOJUCA FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA- FAVIP / DeVry COORDENAÇÃO DE ARQUITETURA E URBANISMO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO Luciene de Almeida Tenório CARUARU NOS TRILHOS: Intervenção no Conjunto Arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru para implantação de uma cinemateca. CARUARU 2011 Luciene de Almeida Tenório CARUARU NOS TRILHOS: Intervenção no Conjunto Arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru para implantação de uma cinemateca. Trabalho de conclusão de curso apresentado á Faculdade do Vale do Ipojuca, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: MSc. Aline de Figueirôa Silva CARUARU 2011 Catalogação na fonte Biblioteca da Faculdade do Vale do Ipojuca, Caruaru/PE T312iTenório,Luciene de Almeida. Intervenção no conjunto arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru para implantação de cinemateca/ Luciene de Almeida Tenório. – Caruaru: FAVIP, 2014. 82f.: il. Orientador(a) :Aline de Figueirôa Silva. Trabalho de Conclusão de Curso (Arquitetura e Urbanismo) -Faculdade doVale do Ipojuca. 1. Ferrovia. 2.Patrimônio. 3. Memória. I. Tenório, Luciene de Almeida. II. Título CDU72[14.1] Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário: Jadinilson Afonso CRB-4/136 EPÍGRAFE “A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente” SorenKierkegaard, filósofo dinamarquês AGRADECIMENTOS A Deus, Pela força espiritual para a realização desse trabalho. Aos meus pais Rizolene e Gercílio, Pelo eterno orgulho de nossa caminhada, pelo apoio, compreensão, ajuda, e, em especial, por todo carinho ao longo deste percurso. Aos meus irmãos e meus amigos, Pelo carinho, compreensão e pela grande ajuda. Aos meus colegas de curso, Pela cumplicidade, ajuda e amizade. À professora Aline de Figueirôa, Pela orientação deste trabalho. Ao IPHAN em MS e PE pela colaboração na pesquisa. RESUMO O Conjunto Arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru compõe o patrimônio da extinta RFFSA, um importante exemplar do desenvolvimento de Caruaru já no final do séc.XIX. Pois a chegada do primeiro trem a Caruaru significou um avanço político e comercial, em virtude disso desenvolveu-se toda uma configuração urbano-espacial em torno desse edifício. A estrutura física dos prédios que compõe o acervo arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru é bem tombado na esfera estadual com valores históricos e artísticos. Ainda assim o conjunto arquitetônico da Estação Ferroviária encontra-se atualmente em estado de conservação e uso questionáveis, sendo subutilizado, sem haver valorização enquanto bem arquitetônico e histórico, tendo papel secundário em eventos financiados pelo poder público. Visto isso o projeto objetiva atualizar dados históricos e arquitetônicos dos edifícios que compõe a Estação Ferroviária da Cidade de Caruaru, seu papel na formação da Cidade e até que ponto ainda pode representar um potencial sócio-cultural em benefício da população. Com essas referências será possível desenvolver um projeto de intervenção e requalificação de uso a fim de promover a preservação desse bem de forma que possibilite sua manutenção e ofereça uma opção de cultura e lazer para Caruaru. Palavras chave: Ferrovia, Patrimônio, Memória. ABSTRACT The architectural complex of Caruaru Railway Station makes up the heritage of the extinct RFFSA, an important example of the development of Caruaru at the end of the XIX century . Since the arrival of the first train Caruaru meant a political and commercial breakthrough, because it has developed an entire urban- spatial configuration around that building. The physical structure of the buildings that make up the architectural heritage of Caruaru Railway Station is well overturned at the state level with historical and artistic values . Yet the architectural ensemble of the Railway Station is currently under repair and questionable use, being underutilized, with no recovery as well as architectural and historical, taking a secondary role in events funded by the government. Since this project aims to upgrade the historical and architectural data of the buildings that make up the City of Caruaru Railway Station, its role in the formation of the City and to what extent can still represent a socio- cultural potential to benefit the population . With these references will be possible to develop an intervention project and upgrading of use to promote the preservation of this right of way that will enable its maintenance and offer a choice of culture and leisure for Caruaru. Keywords:Train,Heritage,Memory. SUMÁRIO 1 Introdução............................................................................................................08 2 Objetivos...............................................................................................................11 2.1 Objetivo Geral.....................................................................................................11 2.2 Objetivos Específicos...........................................................................................11 3 História da Linha Férrea no Brasil......................................................................12 3.1 A Rede Ferroviária Sociedade Anônima (RFFSA)..............................................14 3.2 Inventariança do Patrimônio da Extinta RFFSA..................................................15 3.3 Programa de Destinação do Patrimônio da Extinta RFFSA ................................15 3.4 A Linha Férrea em Pernambuco.........................................................................16 3.5 A Linha Férrea em Caruaru.................................................................................17 4 Marcos Teóricos e Legais...................................................................................21 4.1 Carta de NizhnyTagil Sobre o Patrimônio Industrial, 2003...............................21 4.2 Manual de Preservação de Edificações Ferroviárias Antigas, 2004..................23 4.3 Lei da Memória Ferroviária, 2007.......................................................................25 4.4 Inventário do Patrimônio Ferroviário em Pernambuco, 2009.............................27 5 Estudos de Casos ..............................................................................................29 5.1 Conceito de cinemateca.....................................................................................29 5.2 Cinemateca Capitólio – Porto Alegre – Brasil.....................................................30 5.3 Cinemateca Brasileira – São Paulo – Brasil......................................................37 5.4 Estação Campo Grande – MS – Brasil..............................................................40 5.5 Contribuição dos Estudos de Caso para o anteprojeto de intervenção..............44 7 6 Conjunto Arquitetônico Estação Ferroviária de Caruaru.................................45 6.1 Análise arquitetônica...........................................................................................46 6.2 Análise do entorno...............................................................................................52 6.3 Diagnóstico do estado de conservação...............................................................55 7 Memorial de Intervenção no Conjunto Arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru.................................................................................................................73 7.1 Conceituação........................................................................................................73 7.2 Definição do Uso..................................................................................................74 7.3 Detalhamento do Programa de Intervenção........................................................75 7.4 Viabilidade Técnica .............................................................................................76 7.5 Especificação dos Materiais e Serviços...............................................................77 8 Bibliografia............................................................................................................81 8 1 INTRODUÇÃO O objeto de estudo do trabalho é o Conjunto Arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru, parte do Patrimônio da extinta Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA). A RFFSA foi uma empresa estatal brasileira de transporte ferroviário que cobria grande parte do território brasileiro, com sede na cidade do Rio de Janeiro-RJ. De acordo com o Inventário de Conhecimento do Patrimônio Ferroviário em Pernambuco,coordenado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2008, o acervo é composto por: estação ferroviária, armazém e esplanada. A Estação Ferroviária originalmente construída no estilo eclético e concluída no ano de 1895, por volta de 1940,foi demolida, e construída outra no local, com características estilísticas do Art Déco. O Complexo Ferroviário é tombado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (FUNDARPE). Segundo a equipe do IPHAN, o Diagnóstico de Conservação do Conjunto Arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru é bom, visto que pouco foi mudado esteticamente desde a última grande reforma em 1940. O Complexo é administrado pela Prefeitura de Caruaru desde 2001, quando o trem jánão passava mais pela Cidade. Desde então, houve algumas intervenções internas no edifício da Estação para abrigar a Biblioteca Municipal, mas hoje está sem uso. O Armazém sofreu intervenção a fim de possibilitar o armazenamento de obras de arte popular. Além disso, artistas locais promovem uma vez por semana feiras de artesanato na área da Esplanada. Para viabilizar o atual uso do espaço foram feitas algumas alterações internas e ampliação do programa, incluindo sanitários e portões laterais. A Esplanada, por sua vez, foi totalmente cimentada para possibilitar instalações temporárias em períodos festivos, desde 2001, e atualmente acolhe o Pólo Cultural de Caruaru, espaço temático com o papel de abrigar “cenário” fixo para eventos financiados pelo poder público. Com apoio da Secretaria do Desenvolvimento, Secretaria do Patrimônio da União (SPU) e o PAC Cidades Históricas, o Programa de Destinação Imobiliária que tem como objetivo principal apoiar ações locais nas áreas de desenvolvimento 9 social, urbano e ambiental mediante a regularização, cessão ou compartilhamento da gestão de imóveis da União oriundos da extinta Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), visando, por sua vez, assegurar o cumprimento da função socioambiental desse importante patrimônio público. Visto isso, o presente TCC objetiva atualizar o levantamento históricoarquitetônico dos edifícios que compõem a Estação Ferroviária da Cidade de Caruaru, apontar seu papel na formação da Cidade e mostrar até que ponto ainda pode representar um potencial sócio-cultural em benefício da população. Com essas referências será possível desenvolver um anteprojeto de intervenção no sítio composto pela estação ferroviária, armazém e esplanada, a fim de promover a preservação desse bem, de forma que possibilite sua manutenção e ofereça uma opção de cultura e lazer para Caruaru. O Conjunto Arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru tem valor cultural para a cidade, pois sua chegada está ligada ao desenvolvimento da Cidade de Caruaru e foi significativo para a manutenção do posto de “Cidade Pólo” do Agreste Pernambucano,facilitando o acesso e comunicação com as cidades circunvizinhas. Além disso, a preservação dos bens ligados à ferrovia e seu valor enquanto patrimônio industrial é bastante relevante e vai além da qualidade arquitetônica, que, muitas vezes, a exemplo da Estação Caruaru, embora tenha um volume singelo,apresenta valor histórico e cultural. Em razão da necessidade de preservar esses bens industriais, foi produzida, na Cidade de NizhnyTagil, na Rússia, a Carta sobre o Patrimônio Industrial, que traça diretrizes para a manutenção da memória industrial, incluindo a memória férrea. Essa iniciativa está prevista e orientada no Art 9º da Lei da Memória Férrea nº11483/2007 que atribui ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), entre outras demandas,a tarefa de dar destinaçãoaos bens oriundos da extinta Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), instalando museus, centros de cultura e eventos, a fim de promover a preservação da memória ferroviária. A proposta de intervenção no Conjunto Arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru, objetiva a implantação de uma cinemateca, com um conceito dinâmico que integra a sala de exibição áudio visual, um memorial da ferrovia em Caruaru, 10 arquivamento fílmico e iconográfico, além de oficinas didáticas que promovam a propagação da cultura cinematográfica em Caruaru e região, considerando que em Recife já existem iniciativas dessa classe. O benefício que esse equipamento podegerar para os estudantes das escolas públicas e população em geral é considerável, mas o benefício para o próprio Conjunto da Estação Ferroviária é ainda maior, poisgerar um fluxo permanente direcionado ao equipamento, garante sua preservação, e contribui para com um novo espaço destinado ao lazer e educação na Cidade. 11 2 Objetivos 2.1. Objetivos Gerais O trabalho objetiva realizar uma intervenção, em nível de anteprojeto de arquitetura, no conjunto de prédios que compõem o acervo da Estação Ferroviária de Caruaru para implantação de uma cinemateca. 2.2. Objetivos específicos Promover a manutenção e salvaguarda do patrimônio físico e histórico do conjunto de prédios que compõem o acervo arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru. Oferecer uma opção de lazer e cultura à população de Caruaru. Sistematizar dados e valores históricos e culturais sobre o acervo arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru, que fundamentem o anteprojeto de intervenção e sua futura gestão. 12 3 História da Linha Férrea no Brasil O transporte de mercadoria no Brasilera feito de maneira bastante provinciana por meio de muares. Havia bastante interesse por parte do Império de que o Brasil iniciasse seu transporte por linha férrea. A partir de 1828 houve medidas de incentivo à construção de ferrovias nas principais capitais do país, porém não houve nenhuma manifestação concreta de investimentos com capital independente nessa empreitada. Foi só em 1840 que o então empresário Irineu Evangelista de Souza, futuro Barão de Mauá, empolgado com o avanço da industrialização amparada pela ferrovia na Europa, volta de viagem decidido a investir nesse negócio. Em 29 de Maio de 1852, fundou a Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis, com um capital de 2 mil contos de réis. Imagem 01: Inauguração daLocomotiva Baronesa, 1940. Disponível em: www.cbtu.gov.br/galeria/.../locbaroneza2_jpg.htm A viagem inaugural da Ferrovia no Brasil data de 30 de abril de 1854. A expansão da rede ferroviária ocorreu de forma gradativa, a partir de iniciativas privadas com capital estrangeiro. Até o ano de 1884 a Linha Férrea já atingia diversos estados do Brasil. O avanço gerado com a chegada e expansão da linha férrea era notável e, com isso,houve investimentos em tecnologia, inclusive com importação de locomotivas a diesel da Inglaterra. 13 Imagem 02: Locomotiva a vapor. Imagem 03: Locomotiva diesel- elétrica Disponível em: http://www.fotosearch.com.br/fotos-imagens/locomotivas.html O avanço do sistema rodoviário no Brasil e as deficiências no sistema ferroviário contribuíram para que a rede ferroviária entrasse em crise. Com isso, e em decorrência de falhas nas linhas, a estatização foi inevitável para tentar manter o padrão no serviço. Em 1957,inicia a era estatal da rede ferroviária no Brasil, com a criação da RFFSA para administrar as concessionárias. Com isso,alguns trechos foram desativados e outros receberam retificação. Porém, os investimentos diminuíram drasticamente durante crises econômicas no governo,ocasionando o sucateamento de alguns trechos da linha férrea e em decorrência disso a privatização da RFFSA foi a medida escolhida em 1992. Em 2007, a RFFSA já estava oficialmente extinta. 14 Figura 01: Linha do Tempo História da Rede Ferroviária no Brasil. Fonte: Elaborada pela autora, 2011. 3.1.A Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA) A Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA) foi uma corporação de capital conjunto vinculada ao Governo Federal gerida pelo Ministério dos Transportes. “A RFFSA foi criada mediante autorização da Lei nº 3.115, de 16 de março de 1957, pela consolidação de 18 ferrovias regionais, com o objetivo principal de promover e gerir os interesses da União no setor de transportes ferroviários. Durante 40 anos prestou serviços de transporte ferroviário, atendendo diretamente a 19 unidades da Federação, em quatro das cinco grandes regiões do País, operando uma malha que, em 1996, compreendia cerca de 22 mil quilômetros de linhas (73% do total nacional).” REDE FERROVIÁRIA FEDERAL S.A – RFFSA. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria do Patrimônio da União. Disponível em: <http://patrimoniodetodos.gov.br/gerencias-regionais/spu-pe>. Acesso em: Março de 2011. A estatização da linha férrea se deu com o intuito de manter a qualidade do serviço prestado e impedir o sucateamento da rede. Porém, essa manutenção gerava um custo muito elevado sem o devido retorno. Assim, diante da primeira crise econômica, o financiamento foi cortado e ocorreu o declínio da rede. Logo, em 1992, a RFFSA foi lançada em leilão para privatização. Esse processo foi efetivado em 1996 e, oficialmente a, RFFSA foi extinta em 22 de janeiro de 2007. 15 3.2. Inventariança do Patrimônio da Extinta RFFSA Com a extinção da RFFSA em 2007, foram estabelecidos trabalhos de inventariança dos bens e obrigações para a gestão do patrimônio ferroviário, na intenção de cortar os custos públicos para sua manutenção. De maneira sucinta, a União torna-se responsável pelos bens e tem como tarefa direcioná-los para programas sócio-ambientais financiados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal. Dessa forma, os bens oriundos da extinta RFFSA, como estações desativadas, armazéns, residências, terão utilidade e seus custos de manutenção ficarão a cargo dos governos locais. Essa medida do governo é um importante passo para a preservação do acervo histórico e arquitetônico da ferrovia brasileira além de promover o resgate da memória da linha férrea no Brasil. 3.3.Programa de Destinação do Patrimônio da Extinta RFFSA para o apoio ao Desenvolvimento Local O Programa de Destinação do Patrimônio oriundo da Extinta RFFSA tem objetivo de apoiar ações locais para desenvolvimento social, urbano e cultural por meio de utilização dos seus edifícios e terrenos diante de um projeto que comporte a memória ferroviária e promova a qualidade de vida da população carente. O foco desse programa é justamente apoiar os municípios e organizações filantrópicas que tenham interesse de desenvolver projetos com foco no avanço social, urbano e ambiental. Para tanto, é preciso averiguar a disponibilidade do bem de interesse histórico e elaborar um projeto de acordo com as normas de adesão ao Programa, bem como de utilização de bens com valor histórico-cultural. A prioridade, porém, é a destinação de imóveis para habitação popular e preservação da memória ferroviária. Esse Programa e amparado pelo Programa “Minha Casa, Minha Vida” do Governo Federal e financiado pelo Programa de Aceleração do Crescimento(PAC). As principais finalidades do Programa de Destinação do Patrimônio da Extinta RFFSA são: “Estimular e promover a proteção e a preservação dos bens oriundos da extinta RFFSA; 16 Promover o intercâmbio de informações sobre o patrimônio imobiliário da extinta RFFSA e as respectivas ações a ele relacionadas; Viabilizar proteção e ações estratégicas do Governo Federal; Promover a renegociação das dívidas vinculadas aos contratos de compra e venda celebrados pela extinta RFFSA; Agilizar e viabilizar regularização jurídico-patrimonial dos imóveis herdados por meio de ações conjuntas de identificação, levantamento e avaliação desses bens.” REDE FERROVIÁRIA FEDERAL S.A – RFFSA. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria do Patrimônio da União. Disponível em: <http://patrimoniodetodos.gov.br/gerencias-regionais/spupe>. Acesso em: Março de 2011. 3.4. A Linha Férrea em Pernambuco A origem da Linha Férreaem Pernambuco se deu em 1885,com a inauguração da Estrada de Ferro Central de Pernambuco, que ligava Recife a Jaboatão.Essa linha foi se expandindo gradativamente até o ano de 1957, quando chegou à cidade de Serra Talhada. De acordo com o Inventário do Patrimônio Ferroviário em Pernambuco coordenado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e concluído em 2008, a Linha Férrea Pernambucana é distribuída por: 1. Linha Tronco Norte – LTN; 2. Linha Tronco Centro – LTC; 3. Linha Tronco Sul – LTS; 4. Estrada de Ferro Paulo Afonso – EFPA; 5. Viação Ferroviária Federal Leste Brasileira – VFFLB. Ao longo dos anos, a expansão da rede ferroviária foi levando progresso e facilitando as operações comerciais e encurtando as distâncias, sendo assim um marco no desenvolvimento do estado e nos municípios por onde passou. Em especial para vislumbrar o contexto do objeto de estudo ao percurso da Linha Tronco Centro de Pernambuco. Que por sua vez percorre 24 Municípios dentre eles Caruaru. 17 Figura 02: Estações da Linha Tronco Centro de Pernambuco. Fonte: Elaborado pela autora, 2011. Figura 03: Linha do Tempo Linha Tronco Centro de Pernambuco. Fonte: Elaborado pela autora, 2011. 3.5. A Linha Férrea em Caruaru Em 1895, na cidade de Caruaru, a empresa Estrada de Ferro Central de Pernambuco inaugurou três estações ferroviárias, foram elas Estação de Caruaru, Estação Gonçalves Ferreira e Estação Barra de Taquara, todas no percurso Linha 18 Tronco Centro. Destas,a única que ainda se mantém de pé é a Estação de Caruaru, que compreende o prédio da estação, o armazém e a esplanada. O Conjunto Arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru é parte do Patrimônio da extinta Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA). A RFFSA foi uma empresa estatal brasileira de transporte ferroviário que cobria grande parte do território brasileiro com sede na cidade do Rio de Janeiro-RJ. De acordo com o Inventário de Conhecimento do Patrimônio Ferroviário em Pernambuco, a Estação Ferroviária originalmente construída no estilo eclético e concluída no ano de 1895, por volta de 1940,passou por uma reforma, assumindo então características estilísticas do Art Déco. O Complexo Ferroviário é tombado pela Fundação do Patrimônio Histórico e ArtístísticoPernambuco (FUNDARPE). Imagem 04: Estação Ferroviária de Caruaru. Década de 1930. Fonte: Acervo pessoal Francisco Lira. 19 Imagem 05: Estação Ferroviária de Caruaru. Década de 1960. Fonte: Acervo pessoal Francisco Lira. Imagem 06: Estação Ferroviária de Caruaru. 2002 Fonte: Acervo pessoal Francisco Lira. 20 Figura 04: Linha do Tempo História da Rede Ferroviária em Caruaru. Fonte: Elaborado pela autora, 2011. 21 4 Marcos Teóricos e Legais 4.1.Carta de NizhnyTagil Sobre o Patrimônio Industrial, 2003 Muitas internacional, cartas, recomendações e chamadas de Cartas declarações, Patrimoniais, elaboradas no propõem plano procedimentos específicos em relação aos bens patrimoniais, enfatizam a necessidade de analisar os conceitos nelas contidos para um procedimento consciente na aplicação de políticas preservacionistas. As Cartas Patrimoniais são complementadas por novas normas e recomendações para casos específicos e atualizados na preservação do patrimônio cultural. As estações ferroviárias compõem o patrimônio industrial, pois além de serem fruto das novas tecnologias e materiais disponíveis na era da máquina, foi através do transporte da linha férrea que a indústria pôde atingir os lugares mais longínquos, contribuindo diretamente para o avanço da industrialização. A Revolução Industrial e, conseqüentemente, as mudanças nas configurações sociais e econômicas que ocorreram são um marco importante na história da humanidade. Nesse período, o desenho urbano foi drasticamente alterado, surgiram novas necessidades e novas tecnologias para supri-las. Sendo assim, toda edificação ou objeto que sirva de registro dessa época é digno de preservação. Para que essa preservação ocorra, é necessário que haja diretrizes e meios para catalogar esses bens industriais em especial. Atualmente, esta é uma preocupação mundialno campo da preservação do patrimônio histórico e cultural. E foi para que essas medidas de preservação tomassem forma que o (TICCIH) The Internacional Committee for theConservationofthe Industrial Heritage (Comissão Internacional para a Conservação do Patrimônio Industrial),em uma conferência que se realizou em NizhnyTagil, na Rússia, em 17 de julho de 2003, foi produzida um documento com parâmetros atualizados da Carta de Veneza (1964) e da Carta de Burra (1980), porém com tópicos diretamente relacionados ao patrimônio industrial.Segundo os membros do TICCIH na Carta de NizhnyTagil a definição de patrimônio Industrial é composta por: 22 “(...) edifícios e as estruturas construídas para as atividades industriais, os processos e os utensílios utilizados, as localidades e as paisagens nas quais se localizavam, assim como todas as outras manifestações, tangíveis e intangíveis, são de uma importância fundamental (...) O patrimônio industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico.” (Os delegados reunidos na Rússia por ocasião da Conferência 2003 do TICCIH) E o valor desse patrimônio está ligado justamente a essa importância em se preservar um marco da mudança social e cultural e sua relação com as cidades onde foram inseridas. Está posta, então, a importância de identificar, inventariar e investigar a legitimidade desses bens a fim de possibilitar seu reconhecimento e preservação. Sendo assim, é indispensável que se tome registro desse patrimônio, seja de forma iconográfica, ou através de relatos e levantamentos de campo. Enfim, todo e qualquer tipo de dado recolhido é importante. Essas ressalvas já mencionadas na Carta de Burra (1980) foram enfatizadas na Carta do Patrimônio Industrial. “Todas as coletividades territoriais devem identificar, inventariar e proteger os vestígios industriais que pretendem preservar para as gerações futuras.(...) Os levantamentos de campo e a elaboração de tipologias industriais devem permitir conhecer a amplitude do patrimônio industrial. Utilizando estas informações, devem ser realizados inventários de todos os sítios identificados... “(Carta do Patrimônio Industrial –NizhnyTagil, Julho de 2003) Os aspectos legais também são correlacionados na Carta, levando à tona a particularidade do bem industrial apesar de ser integrante do patrimônio cultural como um todo. “O patrimônio industrial deve ser considerado como uma parte integrante do patrimônio cultural em geral. Contudo, a sua proteção legal deve ter em consideração a sua natureza específica. Ela deve ser capaz de proteger as fábricas e as suas máquinas, os seus elementos subterrâneos e as suas estruturas no solo, os complexos e os conjuntos de edifícios, assim como as paisagens industriais.” (Carta do Patrimônio Industrial – NizhnyTagil, Julho de 2003) A Carta também levanta a questão da importância de medidas de incentivo e financiamento público a programas de preservação e desenvolvimento social integrados aos bens industriais. Alerta para a importância da população local, muitas vezes testemunha ocular da história do bem industrial, como atuante direto em sua preservação. 23 “Devem ser desenvolvidos todos os esforços para assegurar a consulta e a participação das comunidades locais na proteção e conservação do seu patrimônio industrial...As associações e os grupos de voluntários desempenham um papel importante na inventariação dos sítios, promovendo a participação pública na sua conservação, difundindo a informação e a investigação, e como tal constituem parceiros indispensáveis no domínio do patrimônio industrial.“ (Carta do Patrimônio Industrial – NizhnyTagil, Julho de 2003) Com relação à manutenção e preservação do bem industrial, a Carta indica que os bens industriais podem ter papel importante em estratégias de sustentabilidade aliadas a políticas públicas de incentivo ao desenvolvimento social. “Adaptar e continuar a utilizar edifícios industriais evita o desperdício de energia e contribui para o desenvolvimento econômico sustentado. O patrimônio industrial pode desempenhar um papel importante na regeneração econômica de regiões deprimidas ou em declínio. A continuidade que esta reutilização implica pode proporcionar um equilíbrio psicológico às comunidades confrontadas com a perda súbita de uma fonte de trabalho de muitos anos“ (Carta do Patrimônio Industrial –NizhnyTagil, Julho de 2003) Contudo, para que esse interesse da população se manifeste, é preciso que exista um processo de educação que atente para a importância da preservação desses bens e da sua autenticidade enquanto registro da história de formação da sociedade atual. “Os museus industriais e técnicos, assim como os sítios industriais preservados, constituem meios importantes de proteção e interpretação do patrimônio industrial.” (Carta do Patrimônio Industrial – NizhnyTagil, Julho de 2003) 4.2.Manual de Preservação de Edificações Ferroviárias Antigas, 2004 No intuito de salvaguardar o Patrimônio Ferroviário Brasileiro e sua história oMinistério dos Transportes desenvolveu um Manual com diretrizes e normas técnicas que auxiliam os profissionais na manutenção, intervenção ou restauro nos prédios que compõem o patrimônio ferroviário. Essas ações com objetivo de preservação histórica fazem parte do Programa de Preservação do Patrimônio 24 Histórico do antigo Ministério dos Transportes (PRESERFE). Desde 1980 foram criados pelo país núcleos históricos a fim de disseminar a memória da ferrovia. Esses núcleos e acervos foram implantados em edifícios do patrimônio ferroviário.Para tanto, esses bens foram restaurados e seu uso adaptado. Essa experiência de campo é vital no momento de orientar trabalhos futuros. O manual foi desenvolvido por um corpo de profissionais composto por arquitetos, engenheiros, museólogos, de forma interdisciplinar, aliado ao conhecimento de técnicos que trabalham na manutenção diária desses prédios (estações, armazéns, edifícios administrativos, residências, etc.). O manual é apresentado de forma objetiva e inteligível com regras gerais que possibilitem a confecção de futuros projetos de intervenção. - Princípios básicos de preservação de bens culturais Preservar um bem de valor cultural é antes de tudo garantir a permanência de sua memória ao longo do tempo, e seus futuros projetos de restauração ou intervenção. Deve-se levar em consideração sua história e relação com o entorno, cultura e aspectos sócio-econômicos. - Como restaurar, recuperar ou adaptar um prédio ferroviário antigo O Manual de Preservação de Edificações Ferroviárias Antigas de 2004 desenvolvido pela PRESERFE orienta que a restauração, recuperação ou adaptação deve seguir critérios e etapas de pesquisa e projeto para que o processo seja eficiente. Para tanto, é indispensável a participação de engenheiros e arquitetos na equipe responsável pelo trabalho. As etapas descritas no Manual de Preservação de Edificações Ferroviárias Antigas pautam questões já trabalhadas na Carta de NizhnyTagil, de 2003. Discorrendo sobre a importância do diagnóstico do edifício objeto da intervenção, restauração ou adaptação, afirma: “O diagnóstico consiste na análise do prédio, procurando-se extrair todas as informações da construção através da observação local sobre sua execução e transformações posteriores. Nessa análise deve-se levantar o máximo de informações possíveis com relação aos dados de planta e 25 imagens coletadas.” (PRESERFE–Manual de Preservação de Edificações Ferroviárias Antigas) Outro ponto discutido no Manual é a importância de consultar os órgãos responsáveis em caso de bens tombados. Além disso, é dissertado sobre alguns aspectos construtivos da edificação que devem ser ou não obrigatoriamente mantidos em caso de restauração. A segunda etapa recomenda em catalogar e observar os cuidados com os materiais utilizados no processo de restauração ou manutenção do prédio.Para esquadrias de madeira, é orientado se ater à sua conservação por meio de matérias orgânicos, para que não percam sua característica, nem utilizando pintura, ou verniz. O mesmo se aplica a mão francesa, lambrequins, beirais, estruturas e telhados.Com relação ao acabamento das fachadas, orienta-se sobre o cuidado com as cores utilizadas, atentando para aspectos como uso de contraste. Deve-se buscar o máximo a fidelidade às cores originais do prédio. No item “instalações” do Manual é lembrado que na época em que os prédios ferroviários surgiram não existiam instalações como: redes elétricas, telefônicas ou ar condicionado. É necessário então que no momento da adaptação ao novo uso seja respeitada a integridade dos edifícios. Em todo caso é orientado que a PRESERFE seja consultada. 4.3. Lei da Memória Ferroviária, 2007 Em maio de 2007, foi sancionada a Lei nº 11.483, que decretou o fim do processo de liquidação da Rede Ferroviária Federal S.A (RFFSA). Com a extinção da Rede Ferroviária Federal S.A (RFFSA), o patrimônio ferroviário passou a ser administrado pela União. O acervo oriundo da extinta RFFSA é imenso e bastante diversificado, sendo de relevante importância, ficando sob a responsabilidade do Ministério dos Transportes, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), da Secretaria de Patrimônio da União (SPU), e do Instituto do 26 Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A essas instituições foi legada uma atribuição comum: a destinação de todo o sistema ferroviário nacional advindo da RFFSA. O Art 9º da Lei 11.483 trata da Memória Ferroviária e intitula o IPHAN como órgão responsável pela salvaguarda e administração dos bens móveis e imóveis de valor artístico, histórico e cultural, oriundos da extinta RFFSA. “Caberá ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN receber e administrar os bens móveis e imóveis de valor artístico, histórico e cultural, oriundos da extinta RFFSA, bem como zelar pela sua guarda e manutenção. § 1º Caso o bem seja classificado como operacional, o IPHAN deverá garantir seu compartilhamento para uso ferroviário. § 2º A preservação e a difusão da Memória Ferroviária constituída pelo patrimônio artístico, cultural e histórico do setor ferroviário serão promovidas mediante: I - construção, formação, organização, manutenção, ampliação e equipamento de museus, bibliotecas, arquivos e outras organizações culturais, bem como de suas coleções e acervos; II - conservação e restauração de prédios, monumentos, logradouros, sítios e demais espaços oriundos da extinta RFFSA. § 3º As atividades previstas no § 2º deste artigo serão financiadas, dentre outras formas, por meio de recursos captados e canalizados pelo Programa Nacional de Apoio à Cultura - PRONAC, instituído pela Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991.” Art 9º da Lei 11.483/2007. Disponível em: http://anfip.datalegis.inf.br/ Além da salvaguarda e administração desses, o IPHAN ficou responsável pela difusão e preservação da memória ferroviária, através da construção, formação, organização, manutenção, ampliação e equipamento de museus, bibliotecas, arquivos e outras organizações culturais, bem como de seus conjuntos e acervos, conservação e restauração de prédios, monumentos, logradouros, sítios e demais espaços oriundos da extinta RFFSA. Segundo José Rodrigues Cavalcanti Neto, Coordenador Técnico do Patrimônio Ferroviário do IPHAN, diante dessa responsabilidade, o primeiro passo do IPHAN foi conhecer esse universo, realizando um mapeamento de varredura para estabelecer as melhores estratégias e dar o destino adequado a esses bens. A 27 RFFSA tinha uma planilha em que constavam mais de 50 mil imóveis. As superintendências do IPHAN espalhadas pelo país estão fazendo esse reconhecimento dos bens imóveis para ter um primeiro panorama. Nessa varredura também estão sendo recolhidas informações sobre os bens móveis.A importância de preservar a memória ferroviária está diretamente ligada à sua singularidade enquanto patrimônio histórico, artístico e cultural. Dessa forma,os bens ferroviários possuem valor material e imaterial. 4.4.Inventário do Patrimônio Ferroviário em Pernambuco, 2009 Com a extinção da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), as responsabilidades com relação à identificação, catalogação, identificação e filtragem de informações referentes aos bens culturais e arquitetônicos da extinta RFFSA ficam a cargo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).Com isso, o IPHAN desenvolveu um trabalho em âmbito nacional de inventariança desse acervo histórico-cultural. “O Inventário de Conhecimento do Patrimônio Ferroviário em Pernambuco cumpre os objetivos determinados pelo Contrato 004/2007, da 5ª Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, para a execução dos serviços de arrolamento da documentação bibliográfica e arquivística, do inventário de conhecimento dos bens imóveis (esplanadas e edificações) e o arrolamento dos bens móveis e integrados existentes nos conjuntos ferroviários que constituem a malha férrea no Estado de Pernambuco.” Inventário do Patrimônio Ferroviário em Pernambuco coordenado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)- 2008. Esse tipo de ação é de grande importância enquanto medida de preservação, e em alguns casos possibilita medidas de acautelamento em tempo hábil para a salvaguarda patrimonial desses bens. “No estado de Pernambuco não existe bem imóvel ou móvel do acervo ferroviário protegido em âmbito federal, mesmo considerando que Pernambuco foi o primeiro Estado do Nordeste, e o segundo do Brasil, a ter uma estrada de ferro. A "Estrada de Ferro do Recife ao São Francisco", inaugurada em 08.09.1855, foi criada para ligar a localidade de Cinco Pontas, no Recife, ao município do Cabo de Santo Agostinho, ao sul da capital do Estado.” Inventário do Patrimônio Ferroviário em Pernambuco coordenado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)- 2008. 28 Para otimização do trabalho de pesquisa e catalogação do patrimônio ferroviário em Pernambuco, o inventário foi dividido em 2 eixos de coleta de dados: Parte 1, com o levantamento dos conjuntos ferroviários, que compreendem as esplanadas e as edificações que as configuram, sejam estações, oficinas, armazéns, vilas ferroviárias, caixas d’água e outras tipologias; o arrolamento dos bens móveis e integrados que compõem o acervo dos edifícios ao longo da linha, da Sede do Escritório Regional Recife e o acervo museográfico, em especial o acervo existente no Museu do Trem, em Recife; e o arrolamento da documentação bibliográfica e arquivística. Parte 2, será destinado ao levantamento e pesquisa das obras de arte (pontes, pontilhões, viadutos, túneis, giradouro, dentre outros); os trechos ferroviários preservados e o material rodante (locomotivas, vagões, carros passageiros, troller mecânico e manual, auto de linha e outros), concluindo assim, o arrolamento do patrimônio material ferroviário em Pernambuco. 29 5 Estudos de Caso 5.1. Conceito de Cinemateca Com base em análises dos programas de cinematecas projetadas atualmente, conclui-se que oconceito de cinemateca vem se moldando às necessidades contemporâneas, cada vez mais aliando seu caráter arquivístico a formação e renovação de técnicos, cineastas, críticos, realizadores, além de reunir junto ao seu acervo fílmico, locais de exposição da memória cinematográfica e em diversas ocasiões, associando ao conjunto documental arquivos iconográficos que salvaguardem a memória do local onde a cinemateca se instala. Esse interesse didático da cinemateca pode ter um papel importante no surgimento ou consolidação de produção da cultura local. Essas novas possibilidades atribuídas à cinemateca não diminui em seu processo curatorial, de pesquisa e arquivismo, apenas, dinamiza suas atividades, com oficinas educativas de recuperação de títulos, arquivismo e produção cinematográfica. Até mesmo o processo de exibição áudio visual de uma cinemateca é pensado de forma diferente deuma sala de cinema convencional. Na cinemateca são exibidos filmes fora do circuito comercial, obras independentes, filmes que tenham sofrido censura ou produção local. A cinemateca vem a ser uma opção de uso para o Conjunto Arquitetônico Estação Caruaru compatível com o intuito desse trabalho, embora em Caruaru não haja uma cultura cinematográfica em processo de maturação com uma classe cinematográfica, torna-se viável dentro desse conceito didático do formato de cinemateca contemporânea integrar ao processo de arquivamento e exibição áudio visual, atividades de aprendizado cultural, voltados para a produção cinematográfica que possibilitem essa arrancada e venha a tornar Caruaru referência da produção fílmica na região, aliado ao trabalho que já vem sendo feito na capital do estado. A proximidade da cidade de Caruaru com a capital Recife também é um ponto bastante positivo para o projeto, visto que em Recife o cenário cinematográfico já é bastante evoluído. Segundo o professor do curso de cinema da Universidade 30 Federal de Pernambuco (UFPE), Leonardo Falcão, vem sendo ofertado o curso de graduação em cinema na UFPE e em mais duas graduações em cinema de animação em faculdades particulares. Além disso, a produção cinematográfica em Recife já é bastante madura, com festivais anuais como o MIMO Festival que tem exibições gratuitas e o CINE PE. 5.2. Cinemateca Capitólio - Porto Alegre –RS O Cine Theatro Capitólio é monumento da época em que a cidade de Porto Alegre vivia um momento de grande desenvolvimento, mas ainda contava com uma atmosfera intimista. O ano de 1928, seria o primeiro de muitos anos com o glamour dos bailes de carnaval, peças de teatro e filmes exibidos do Theatro Capitólio. E dessa forma o Capitólio fez parteda história da cidade de Porto Alegre, pois muitos dos principais eventos se davam lá. Imagem 07: Cine Capitólio, 1933. Imagem 08: Cine Capitólio, 1962. Fonte: Fundacine, 2007. Entretanto, essa forte relação entre os usuários e o edifício não foi suficiente para que o Theatro Capitólio resistisse às mudanças na configuração de lazer e serviços que chegaram à cidade nas últimas décadas. Com os cinemas em Shoppings com segurança reforçada, a facilidade dos serviços multiuso, como a possibilidade de fazer compras, pagar as contas e se alimentam no mesmo local, os cinemas de calçada foram aos poucos saindo do dia-a-dia da população.O TheatroCapitólio fechou no ano de 1994, após resistir firmemente às dificuldades 31 financeiras, ter passado por reformas para sua modernização na tentativa de se manter em funcionamento. Por seus valores culturais e sua relação com a história de Porto Alegre, em 1995 a Prefeitura tombou o Cine-Theatro Capitólio como Patrimônio Histórico e Cultural. Essa iniciativa fez parte de uma ação que contemplava todo o centro histórico da cidade, com o intuito de promover um resgate da cultura local, bem como possibilitar a segurança da população, já que, com a decadência dos prédios históricos, o entorno era vítima de vandalismo e criminalidade. As ações de reconhecimento do valor histórico e cultural já vinham acontecendo nos prédios do centro. O primeiro prédio a receber restauração foi o Majestic, transformado na Casa de Cultura Mário Quintana em 1990.Logo depois,em 1993, o Solar dos Câmara, que abrigava um Centro de Cultura, foi restaurado; e três anos depois, em 1996, o antigo prédio dos Correios e Telégrafos, tombado em 1980 pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, tornou-se o Memorial do Rio Grande do Sul.E em 1997, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Margs) foi restaurado. Mais tarde, em 2001 o edifício-sede do Santander Cultural tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico estadual passou a contar com galeria de arte, espaço para shows e cinema. Em 2002, no antigo prédio Força e Luz, tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do estado, foi restaurado e passou a abrigar o Centro Cultural Erico Veríssimo (CCCEV) com o Memorial Erico Veríssimo e Museu da Eletricidade do Rio Grande do Sul. Com essa arrancada cultural no centro histórico de Porto Alegre,a restauração do Capitólio seria conseqüência natural e somaria muito ao projeto de resgate do centro histórico de Porto Alegre.A primeira tentativa de restauração do Capitólio foi iniciada em 1995 após seu tombamento. A Prefeitura, aliada ao Serviço Social do Rio Grande do Sul (Sesc/RS), desenvolveu um projeto de restauração que previa duas salas de exibição para 300 pessoas, preservando o palco original para apresentações teatrais e outra sala com 350 lugares, equipada com recursos de multimídia. Porém, após 4 anos, o projeto não avançou, degradando ainda mais o edifício. 32 Imagens 09,10 e 11: Cine Capitólio antes da reforma. Fonte: Fundacine, 2007. Foi então que, em dezembro de 2000, os moradorese comerciantes locais se movimentaram em favor da recuperação do prédio. Organizaram-se na Associação dos Amigos do Cinema Capitólio (AAMICA),fecharam parceria com a Prefeitura de Porto Alegre e iniciaram o esboço do novo projeto de restauração. A criação de uma cinemateca era um desejo esboçado pela classe cinematográfica gaúcha desde muito tempo, que sentia deficiência em salvaguardar e difundir a produção do cinema local. Paralelo a isso, a população queria a reforma do Cine-Theatro. Diante disso a idéia de unir os dois propósitos foi providencial. Contudo, o projeto do Cinema e Arquivo audiovisual era bastante complexo.Por isso, foi amplamente discutido e tornou-se pauta de congressos e fóruns do setor audiovisual. Em outubro de 2002,criou-se um grupo de trabalho formado por representantes da FUNDACINE e da APTC/RS e por profissionais da área.Assim, em 2003, o grupo apresentou à Prefeitura a proposta concreta da restauração do Cine-Theatro a fim de abrigar a futura Cinemateca Capitólio. A iniciativa gerou um convênio entre Fundacine e Prefeitura para coordenar o preito para que o Capitólio voltasse a ser espaço de cultura, memória e entretenimento. 33 Imagem 12: Fachada Cine Capitólio, 2000 Imagem 13: Membros da Fundacine e AAMICA. Fonte: Fundacine, 2007. A elaboração do projeto de restauração do Cine-Theatro Capitólio foi supervisionada pela equipe do Patrimônio Histórico e Cultural da Secretaria Municipal da Cultura (SMC) e do Escritório de Projetos e Obras da Secretaria Municipal de Obras e Viação (SMOV). Planta 01: Pavimento Térreo Cinemateca Capitólio. Fonte: Fundacine. Disponível em: http://www.capitolio.org.br/ 34 Planta 02: Segundo pavimento Cinemateca Capitólio. Fonte: Fundacine Disponível em: http://www.capitolio.org.br/ Planta 03: Terceiro pavimento Cinemateca Capitólio. Fonte: Fundacine. Disponível em: http://www.capitolio.org.br/ 35 Planta 04: Quarto pavimento Cinemateca Capitólio. Fonte: Fundacine. Disponível em: http://www.capitolio.org.br/ No relatório do projeto de intervenção da Cinemateca Capitólio, consta que, o projeto compreendeu espaço para conservação do acervo e área de convivência para o público. A estrutura do empreendimento é composta por espaços para equipamentos, acervo áudio visual e documentos, pesquisa e informação, exibição, formação de público e difusão. Imagens 14, 14, 16,17,18 e 19: 1ªEtapa da intervenção no Cine Capitólio. Fonte: Fundacine, 2007. 36 Imagens 20, 21, 22, 23, 24 e 25: 2ª Etapa da intervenção no Cine Capitólio. Fonte: Fundacine, 2007. Cinemateca Capitólio - Perspectivas Imagem 26: Biblioteca especializada Imagem 27: Área de convivência Fonte: Fundacine, 2007. 37 Imagem 28: Sala de exibição principal Imagem 29: Sala de exibição multimídia Fonte: Fundacine, 2007 Imagem 30: Foyer Imagem 31: Fachada Cinemateca Capitólio Fonte: Fundacine, 2007. 5.3.Cinemateca Brasileira (antigo Matadouro Municipal de São Paulo-SP) O Matadouro Municipal foi construído em 1884, pelo engenheiro Alberto Kuhlman e funcionou até 1927, é bem tombado como patrimônio histórico nas esferas municipal pela Condephaat e estadual pela Conpresp. O conjunto arquitetônico do Matadouro Municipal foi cedido em 1990 à Cinemateca Brasileira, instituição vinculada ao Ministério da Cultura, responsável pela preservação e divulgação da produção áudio visual brasileira. 38 Imagens 32, 33 e 34: Cinemateca Brasileira Fonte: Nelson Dupré Arquitetos Assosciados. Disponível em: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/nelson-dupre-centro-cultural-17-03-2009.html A proposta de intervenção não foi restaurar a edificação para deixá-la com aparência original.Segundo o arquiteto Nelson Dupréa opção foi por marcar no tempo a intervenção com elementos construtivos contemporâneos, sem que as alterações entrassem em conflito com o edifício histórico. Nesse intuito, o material amplamente utilizado foi o vidro e a estrutura metálica para adaptar elementos necessários ao novo uso. 39 Imagens 35 e 36: Interior da Cinemateca Brasileira. Fonte: Nelson Dupré Arquitetos Assosciados. Disponível em: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/nelson-dupre-centro-cultural-17-03-2009.html O projeto privilegiou o aproveitamento da iluminação natural proporcionada pelo uso do vidro em boa parte do projeto, com exceção apenas para a Sala Petrobrás, que recebeu cortinas, a fim de garantir a mínima luminosidade para proporcionar clareza de informações na tela de exibição. O piso original de cimento queimado foi mantido em todos os ambientes. As paredes em tijolo aparente também correspondem ao projeto original. Onde não foi possível a recuperação, o arquiteto realizou pesquisas e redesenhou para fabricação de alguns elementos. Entre esses pontos estão os perfis metálicos na fachada frontal que apóiam as tesouras para a cerâmica francesa que compõe a coberta. Imagem 37: Sala de exibição Cinemateca Brasileira Fonte: Nelsn Dupré Arquitetos Associados Disponível em: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/nelson-dupre-centro-cultural-17-03-2009.html 40 Segundo o arquiteto Nelson Dupré, em virtude dos galpões possuírem aberturas laterais que foram vedadas com vidro, mantendo a luminosidade natural, nas salas de exibição áudio visual foi necessária a instalação de cortinas que são acionadas por um dispositivo proporcionando condições ideais para a exibição dos filmes. 5.4. Intervenção na Estação Ferroviária de Campo Grande – MS Campo Grande teve seu desenvolvimento marcado pela chegada, em 1914, da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (EFNOB), que induziu sua urbanização, influenciou o desenho da malha urbana e a ocupação do espaço nas proximidades da linha férrea. O Complexo Ferroviário, com diversos tipos de edificações só foram totalmente concluídos em 1935. A Estação Ferroviária de Campo Grande por muitos anos foi responsável pelo transporte de passageiros e carga entre São Paulo e Mato Grosso do Sul. Imagem 38e 39: Fachada e Plataforma de embarque da Estação Ferroviária de Campo Grande. Fonte: Superintendência do IPHAN em MS. 41 Imagem 40: Plataforma de embarque da Estação Ferroviária de Campo Grande. Fonte: Superintendência do IPHAN em MS. Segundo a Superintendência do IPHAN em MS a restauração do Complexo da Estação Ferroviária de Campo Grande é parte do Plano de Revitalização da Zona Especial de Interesse Cultural (ZEIC) Centro, que tem como diretrizes a revitalização e integração das principais ruas do centro com projetos urbanísticos que vão percorrer o trajeto do trem, promovendo valorização e o resgate da memória ferroviária e da história da cidade. A proposta da intervenção ainda prevê uma participação ativa da população local e dos antigos funcionários da ferrovia na gestão do bem, que podem fornecer informações que auxiliem na pesquisa que subsidiará o memorial da linha férrea, realizando palestras após a inauguração, ou até mesmo como guias dos trajetos. 42 Imagem 41: Fachada da Estação de Campo Grande em 2010. Fonte: Divisão Técnica do IPHAN-MS Outro aspecto do projeto de intervenção é a necessidade de adequar um uso que possibilite a permanência do edifício ao longo do tempo. Segundo a superintendência do IPHAN-MS, em virtude dessas características citadas, o projeto foi pensado de maneira a setorizar os espaços, uma forma de aliar o caráter documental à vida contemporânea. Dessa forma, o intuito é abrigar a Casa da Memória da Ferrovia, espaço de lazer cultural, serviços e a área administrativa dentro do complexo. A pesquisa documental, cartográfica, pictórica, iconográfica e material desenvolvida pelo IPHAN que possibilitou o tombamento e também o projeto de intervenção será usada no acervo da Casa da Memória Férrea, além disso, será exibido documentário com depoimentos dos ex-funcionários e também será feita uma campanha de conscientização da importância da história da ferrovia para a cidade.Espera-se que sejam doados quaisquer tipo de documento que se refiram a tal história. A área de acervo também contará com espaço para oficinas de restauração documental e arquivamento. 43 Imagem 42 e 43: Início dos trabalhos de destelhamento do prédio da Estação. Fonte: Superintendência doIPHAN em MS. O espaço destinado ao lazer cultural contará com um centro de atendimento ao turista, lanchonete, espaço para exposições e manifestações da cultura local, loja de conveniência, espaço para feira de artesanato, além de bilheteria para passeios de trem da Estação até o Espaço de Belas Artes no centro de Campo Grande. Imagem 44: Perspectiva externa da intervenção na Estação de Campo Grande Fonte: Superintendência do IPHAN em MS. A solução da intervenção não deve ser marcada pela extravagância nem pelo caráter simplório, ambas consideradas prejudiciais ao monumento. Buscou-se uma síntese entre preservação do passado e atendimento às necessidades contemporâneas.A partir desse estudo, recorreu-se, no projeto, à utilização de 44 materiais contemporâneos, como o vidro temperado, nas novas aberturas, que, devido à transparência, ainda é de pouca interferência visual. 5.5. Contribuição dos Estudos de Caso para o anteprojeto de intervenção. A contribuição de cada estudo de caso realizado para o anteprojeto de intervenção arquitetônicanesse trabalho de graduação é analisado de forma individual e coletivo, pois embora cada um apresente suas particularidades espaciais, históricas e culturais, conseguem representa de forma conjunta o propósito dessa intervenção, que é a adequação de um edifício histórico a um programa contemporâneo e para tanto existem necessidades que venham a interferir no partido arquitetônico. A Cinemateca Capitólio e a Cinemateca Brasileira representam um subsídio técnico e teórico ao programa específico do uso escolhido para a intervenção no Conjunto Arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru. Nelas os processos curatorial, arquivístico, exibição áudio visual foram amplamente analisados e adaptados dentro de suas especificidades para atender aos critérios mínimos de conforto e eficiência. A intervenção na Estação Ferroviária de Campo Grande–MS significou a oportunidade de vivenciar o processo de revitalização de um edifício de mesma tipologia do objeto de estudo, embora em escala maior. Foram identificadas muitas semelhanças com relação à importância das duas estações na formação de suas respectivas cidades, seu enlace com a história, sua localização privilegiada dentro no centro urbano, além do próprio direcionamento do novo uso, que gera fluxo educacional, lúdico e cultural para a cidade. Nesse enfoque cada estudo de caso teve seu papel importante na formação do partido arquitetônico, bem como da fundamentação técnico e teórico básico para o desenvolvimento do anteprojeto de intervenção proposto. 45 6 Conjunto Arquitetônico Estação Ferroviária de Caruaru O Conjunto Arquitetônico Estação Ferroviária de Caruaru foi inaugurado no ano de 1895com a chegada da Linha Tronco Centro a Caruaru. Inicialmente foi construído em estilo eclético, permanecendo com essas características até sua reforma em 1940,quando passou a exibir traços do ArtDéco. Trata-se de um importante remanescente do ArtDéco no interior de Pernambuco. O presente capítulo objetiva fundamentar e possibilitar o entendimento das características da Estação Ferroviária de Caruaru, gerando informações condizentes com seu contexto, que servirão de suporte para o posterior anteprojeto de intervenção.Para tanto, foi feita uma análise seqüencial do entorno, de seu contexto histórico e cultural, da relação com o desenvolvimento da cidade de Caruaru e seus aspectos arquitetônicos característicos do Art Déco. A transformação da antiga Fazenda Caruaru em meados do século XVIII em ponto de apoio e de pernoite de boiadeiros e, em seguida, de tropeiros e mascates que percorriam o agreste pernambucano, permitiu o surgimento do pequeno comércio de itens e serviços ligados à lida com o gado, que deu origem à Feira de Caruaru. Foi em torno desta Feira que se desenvolveu a Cidade de Caruaru. Outro ponto importante para o crescimento aconteceu no final do século XVIII, a construção de uma capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição, o que tornou a região ainda mais atrativa para os habitantes dos arredores. Assim, as festas religiosas, especialmente as realizadas em homenagem à padroeira, tornaram um fator impulsionante da Feira e do desenvolvimento da Cidade. 46 Imagem 45: Feira de Caruaru, 1930 Fonte: Acervo pessoal de Francisco Além destes fatores citados, ao longo dos séculos XIX e XX, a acessibilidade reforçada pela estrada de ferro da Rede Ferroviária do Norte e, mais tarde, pelas rodovias estaduais e federais, que a conectaram com várias outras localidades e estados do Nordeste, favoreceram o rápido crescimento da Feira de Caruaru, que, por sua vez, impulsionou o comércio formal e informal. Por isso, Caruaru se tornou o pólo comercial mais importante da Região Agreste de Pernambuco. No século XXI, esse pólo mantém sua importância, atraindo produtos de outras regiões do país e até de outras partes do mundo. Esse avanço gerou desenvolvimento para a cidade, possibilitando seu crescimento e gerando outros pólos de renda, como o setor de serviços. Dessa forma, Caruaru, ao longo do tempo se mantém em constante evidência dentro do cenário nacional. Nesse contexto, o Conjunto Arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru merece destaque por sua importância enquanto bem edificado na história da formação da Cidade de Caruaru, além de se tratar de um importante registro da arquitetura déco no Agreste e da memória da Linha Férrea Brasileira. 6.1.Análise arquitetônica Na primeira metade do século XX, com a consolidação da industrialização, o surgimento de novos materiais, como o ferro, o alumínio, o vidro e o cimento; a 47 arquitetura conseguiu subsídios para execução de novas formas que até o momento eram apenas vislumbradas. A sociedade industrializada gerou novas demandas para a Arquitetura Moderna tem como base novos programas. Dessa forma, os edifícios modernos eram, em sua maioria, corporativos, equipamentos de lazer e cultura. Os pioneiros do desenho moderno na arquitetura foram Mies Van Der Rohe, Frank Lloyd Wright e Le Corbusier. A escola Bauhaus também foi bastante relevante nesse processo de modernização da arquitetura com as novas possibilidades construtivas. Pode-se destacar alguns estilos e vertentes que surgiram no decorrer do Movimento da Arquitetura Moderna. Entre estes é possível apontar o Construtivismo, o Organicismo, o Racionalismo e o Art Déco, esse último em especial, pois, foi bastante difundida no século XX, chegando ao Brasil rapidamente, foi amplamente utilizada em equipamentos de lazer como cinemas, correios, rádios, prédios institucionais e até residências como forma de transmitir avanço tecnológico às mais diversas localidades do país. A Estação Ferroviária de Caruaru foi reconstruída na década de 1940, recebendo assim características marcantes do Art Déco. A entrada é diferenciada pela marquise, pórtico e escalonamento provocado pelo jogo de reentrâncias e saliências entre janelas e pilares, que dinamizam a fachada. (...). As janelas basculantes inovam no sistema de abertura e na transparência do vidro, distinguindo-se das tradicionais e opacas esquadrias coloniais e mesmo dos vitrais coloridos do ecletismo e dos antigos caixilhos em madeira, substituídos pela estrutura em ferro (...). Os frisos verticais justapostos nas bilheterias, idênticos às fachadas laterais do CineTeatro de Goiânia (...) comparecem no design industrial de luminárias, pianos, cafeteiras, lanternas, aparelhos de rádio e até retroprojetor (...). Os caracteres tipográficos da fachada foram outra novidade (...) além da sinalização nas bilheterias (1ª classe, 2ª classe, telegrama), nome do município, altitude e distância até o Recife. (...). A marquise em balanço na fachada voltada para a via pública e o sistema de laje, vigas e pilares da plataforma, na fachada oposta, representam um avanço tecnológico e conferem ares modernos e certo arrojo estrutural, comparativamente à feição predominantemente eclética da cidade nos anos 20 (SILVA, 2009, p. 7-11). 48 Figura 05: Esplanada Caruaru Fonte: Inventário do Patrimônio Ferroviário em Pernambuco coordenado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)2008. Tornando-se importante remanescente desse período de avanço tecnológico e mudança na configuração social e na mobilidade da população local por se tratar de um edifício da Rede Ferroviária de Pernambuco. É de suma importância ressaltar a necessidade de preservar um edifício que, após várias décadas de sua construção, ainda apresenta de forma qualitativa características que rememorem um estilo arquitetônico tão característico da mudança na configuração sociocultural, da chegada das novas tecnologias e métodos construtivos, que constitui o Art Déco. Imagem 47: Estação Caruaru, 1920 Fonte: Acervo pessoal de Francisco Lira 49 Imagem 48: Estação Caruaru, 1901. Imagem 49: Estação Caruaru, 1904. Fonte: Acervo Pessoal Francisco Lira. Imagens 50 e 51: Estação Caruaru, setembro de 2000. Inventário do Patrimônio Ferroviário em Pernambuco coordenado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),2008. Imagens 52 e 53: Estação Caruaru, 2008. Inventário do Patrimônio Ferroviário em Pernambuco coordenado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), 2008. 50 O conjunto arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru composto pelo edifício da estação, armazém e esplanada trata-se de uma estação de médio porte segundo os critérios da PRESERFE, pois seu programa inclui os elementos básicos para uma instalação do gênero (sala do agente, telégrafo, sala de espera com bilheteria) e ainda bagageiro, pavimento superior com casa do agente e escritório, armazém com prédio independente, cozinha e copa. - A Esplanada O Pátio Ferroviário de Caruaru é bastante extenso e tem uma topografia planificada com poucas árvores. Seu estado de conservação é frágil com relação às edificações que compõem o Conjunto Arquitetônico, pois seu entorno é composto por edificações de uso comercial e paradas de ônibus urbano voltadas para a fachada sul da estação, existindo então uma constante pressão para que ocorra uma ocupação dessa área considerada “ociosa”. Além disso, em virtude de obras para melhoria viária, o poder público mutilou parte da esplanada para possibilitar a passagem de uma via de carros, assim como diversos trechos da murada/peitoril ao longo da Esplanada foram retirados, ainda resistindo atualmente a murada que segue a fachada sul do terreno. O poder público também pavimentou todo o leito da ferrovia cobrindo inclusive a antiga linha do trem em toda a esplanada. Imagens 54 e 55: Esplanada, estação e armazém, 2011. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. 51 -A Estação Ferroviária O prédio da Estação Ferroviária de Caruaru foi construído em alvenaria de tijolos para as vedações, sua estrutura em concreto armado, coberta com duas água em zinco ou fibrocimento com platibanda, esquadrias em madeira, ferro e vidro. Nos revestimentos de pisoforam usados ladrilhos hidráulicos, cerâmica e tábuas corridas.A fachada frontal mantém as características da construção em 1940, como o escalonamento do edifício, a marcação do cunhal, a cimalhascontornando o prédio. São elementos do art déco o guarda-corpo em ferro nos janelões do pavimento superior, pórtico de entrada também em ferro, janelas basculantes do pavimento térreo. A plataforma de embarque possui uma marquise em “T” e pilastras em toda sua extensão com luminárias em ferro. Imagens 56 e 57: Estação Caruaru, 2011. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. - O Armazém O armazém construído em um prédio independente à estação, ainda possui características de sua construção em 1895, embora tenha perdido alguns ornamentos típicos do ecletismo em sua reforma no ano de 1940, pois diferente do prédio da estação que foi totalmente demolido, com base nos arquivos fotográficos aparentemente foi feita apenas uma reformano armazém. Suas fachadas são marcadas por vergas em forma de arco, esquadrias em madeira, não possui elementos em ferro e vidro como a estação, o beiral tem mão-francesa em madeira e o piso é em pedra. Sua coberta em duas águas revestida por fibrocimento. 52 Imagem 58: Armazém, 2011. Fonte: Acervo da autora. 6.2. Análise do entorno O entorno do objeto de estudo consiste em uma área abrangente, que exerce influência no contexto do equipamento em questão. Entende-se por marcos os elementos da paisagem que servem como ponto referencial, os quais se destacam por razões específicas. Neste contexto, podemos citar: 01. Banco do Brasil | Exemplar da Arquitetura Moderna 02. Av. Rio Branco | Fluxo intenso - concentração de comércio 03. Grande Hotel | Exemplar da Arquitetura Moderna 04. Parada de ônibus Urbano 05. Supermercado ASSAÍ 06.Praça Prabhuapãda 07.Supermercado Balcão de Caruaru 08. Tiro de Guerra 09. Estação Shopping 10. Av. Agamenon Magalhães | Fluxo intenso - concentração de comércio 11. SENAC Caruaru 53 Figura 06: Mapa de Marcos Existentes Fonte: Elaborado pela autora, 2011. - Usos do entorno Foi realizado um levantamento de campo com o intuito de conhecer as atividades da área de entorno, gerando fundamento e argumentação para a proposta de intervenção que será desenvolvida mais adiante.A primeira análise foi em relação ao uso, sendo dividido de acordo com a figura 07, apresentado adiante. Neste levantamento, conclui-se primeiramente, foi observado que o uso predominante na área de influência delimitada equivale ao comércio. Além disso, também foi observado que ainda existe um número considerável de edificações residenciais ou mistas. Outro ponto relevante é a proximidade com instituições de ensino, que vêm a favorecer um equipamento que promova o conhecimento. 54 Figura 07: Mapa de Usos do Entorno Fonte: Elaborado pela autora, 2011. -Tipologia do entorno A fim de traçar um perfil edilício do entorno imediato do objeto de estudo foi realizado um levantamento de dados que quantificou o número de pavimentos das edificações de cada lote. De acordo com a análise realizada como apresentado na figura 08, observase que existe uma predominância de edificações de baixo gabarito no entorno, a maioria de atividade comercial. Os prédios de uso misto geralmente têm entre 2 a 4 pavimentos, os prédios de até 6 pavimentos são residenciais. 55 Figura 08: Mapa de Tipologias do Entorno Imediato Fonte: Elaborado pela autora, 2011. 6.3. Diagnóstico do Estado de Conservação - Esplanada Caruaru A Esplanada da Estação Caruaru é parcialmente ocupada hoje por um cenário fixo que abriga as festividades promovidas pelo poder público da cidade. As áreas ociosas são utilizadas como estacionamento irregular, apoio para feiras de artesanato que ocorrem regularmente. No entorno do leito da ferrovia ficam instaladas seis paradas de ônibus urbanos e quiosques de alimentação que movimentam bastante a área. 56 Imagens 58 e 59: Pórtico de entrada da Esplanada. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. Imagens 59 e 60: Murada/peitoril na lateral da Esplanada evista da Av. Agamenon. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. Imagens 61 e 62: Muro na lateral da Esplanada. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. Alguns trechos da Esplanada foram adequados para viabilizarem a acessibilidade, porém a execução foi irregular e fora dos padrões da ABNT. 57 Ainclinação para pedestres de, no máximo 8,33% e instalação de piso direcional e piso alerta, além de peitoril e corrimão, não foram realizados. Imagens 63 e 64: Rampas de acesso à Esplanada e Estação. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. A Esplanada é utilizada como estacionamento, sem que exista nenhuma delimitação de passagem para pedestres e veículos, o que pode ocasionar acidente. Imagens 65 e 66: Estacionamentos irregulares ao longo da Esplanada. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. O final da Esplanada, onde foi aberta a passagem da via é ocupado por um coreto de madeira de construção recente que é utilizado como apoio para as feiras de artesanato. Também se encontram no local algumas traves que auxiliam na 58 montagem dos cenários para as festividades, além de restaurantes que também compõem esse cenário fixo, ficando sem uso o resto do ano. Imagens 67 e 68: Espaço usado para abrigar feiras de artesanato na Esplanada. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. Em frente à Estação Ferroviária localizam-se as paradas de ônibus urbanos e quiosque de alimentação que geram um fluxo elevado na área. Embora sua instalação ocorra em um espaço que não faz parte do terreno da Esplanada, essas operações compõem o entorno imediato do leito da ferrovia e, sendo assim, interferem diretamente em intervenções futuras. Imagens 69 e 70: Paradas de ônibus público urbano no entorno da Esplanada. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. 59 Imagens 71 e 72: Quiosques de alimentação ao lado das paradas de ônibus. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. - Estação Ferroviária de Caruaru O prédio da Estação Ferroviária de Caruaru encontra-se em um bom estado de conservação nos aspectos construtivos, considerando que pouco foi alterado espacialmente desde a construção do novo prédio em 1940, suas características estilísticas do art déco continuam perceptíveis. Na fachada é possível identificar que os elementos de madeira e ferro estão em bom estado de conservação, com relação à pintura encontra-se em péssimo estado, com áreas com acabamentocom decalques e inúmeras marcas de vandalismo. As esquadrias em madeira, bem como as esquadrias metálicas foram mantidas e permanecem em bom estado de conservação, assim como as luminárias ao longo da plataforma em perfil “T” de embarque. - Estação Ferroviária de Caruaru(Pavimento Térreo) É possível encontrar ainda as esquadrias provavelmente originais da construção do prédio datado em 1940, portas de correr, portas com abertura em dois vãos, as portas e janelas de madeira e as grades em ferro. A pintura é em cor branca na face externa é amarelo na face interna das esquadrias de madeira. O estado de conservação das esquadrias no pavimento térreo é regular, pois a maioria 60 encontra-se com corrosões no ferro e pintura descascando. As portas de correr deslizam com dificuldade e os vidros de algumas janelas estão quebrados. Imagens 73 e 74: Esquadrias pavimento térreo da Estação. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora Imagens 75,76 e 77: Esquadrias pavimento térreo da Estação. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora O forro dos espaços no pavimento térreo encontra-se em um estado de conservação regular, pois existem alguns focos de deterioração, porém a maior parte dele esta em bom estado, provavelmente porque não há infiltração nesse pavimento. Porém é possível detectar diversas falhas ao longo do forro do 61 pavimento térreo, segundo relatos da zeladoria, as falhas decorrem da fixação de estruturas na montagem das freqüentes exposições sediadas no espaço. Imagens 78 e 79: Forro das salas do térreo da Estação Ferroviária. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora O revestimento dos espaços no pavimento térreo é composto basicamente por pintura comum em diversas cores, às vezes até três cores diferentes em cada área, exceto pelos banheiros que recebem revestimento cerâmico. Todos os revestimentos estão em um estado de conservação bom, a última pintura data de aproximadamente seis meses atrás. Imagens 80 e 81: Variedade de cores no revestimento interno do térreo. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. 62 Imagens 82 e 83: Variedade de cores no revestimento interno do térreo. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora No térreo da Estação o piso das salas é revestido por cerâmica na cor vermelha em bom estado de conservação. Já a área de refeitório tem seu piso em cimento queimado e possui diversas falhas. Imagem84: revestimento em cerâmica nas salas e de cimento queimado no refeitório. Fonte: Acervo da autora. A iluminação dos espaços é com lâmpadas fluorescentes em luminárias tubulares na maioria dos espaços, porém existem lustres na área das salas provavelmente originais da construção do prédio em estado de funcionamento satisfatório. Na plataforma encontram-seluminárias também originais em bom estado de conservação. O pavimento térreo do prédio da Estação Ferroviária de Caruaru atualmente tem seu uso parcelado entre a Guarda Municipal que tem seu posto do espaço onde 63 ficava localizado o refeitório quando a estação ainda operava; as salas são aproveitadas para eventuais exposições e feiras do município e os banheiros do são utilizados como apoio para os funcionários das companhias de transporte público que ficam estacionadas no entorno imediato da esplanada. Imagens 85 e 86: Posto da Guarda Municipal que ocupa a antiga área de refeitório da Estação. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora Imagens 87 e 88: Exposição na área interna da Estação Caruaru, 2011. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora - Estação Ferroviária de Caruaru (Pavimento 1º andar) As salas internas do 1º Pavimento da Estação Caruaru hoje sediam reuniões mensais do Conselho Consultivo do Patrimônio Histórico de Caruaru liderado pelo ex-prefeito da cidade Anastácio Pereira. O pavimento se encontra em uma situação preocupante, pois, em virtude de problemas com a manutenção da coberta, vários 64 pontos de vazamentos ocasionam a deterioração da pintura interna e danificam as esquadrias. Imagens89, 90 e 91: Salas do 1º Pavimento da Estação. Fonte: Acervo da autora. Imagens 92 e 93: Salas do 1º Pavimento da Estação. Fonte: Acervo da autora. 65 Imagens94 e 95: Forro das salas do pavimento superior do prédio da Estação. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. Imagens96 e 97: Esquadria das salas e banheiro do pavimento superior do prédio da Estação. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. Com relação aos revestimentos de piso, ainda é possível encontrar em quase todos os ambientes o piso original da construção em 1940, encontra-se o piso em ladrilho hidráulico de dois tipos, ou de tacos de madeira em outros ambientes. Nos banheiros, o piso sofreu alteração possivelmente na reforma de 2008 para sediar a Biblioteca Pública Municipal. Hoje, o revestimento é em cerâmica cinza, também aplicada em meia-parede. As luminárias nos pavimentos ainda são originais. 66 Imagens98 e 99: Revestimento em cerâmica nos banheiros reformados. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. Imagens100 e 101: Revestimento original em tacos de madeira e cerâmica. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. Imagens 102 e 103: Revestimento original em ladrilho hidráulico. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. 67 - Armazém Imagem 104: Armazém e Estação Caruaru. Fonte: Acervo da autora. Imagem 105: Armazém. Fonte: Acervo da autora. 68 Imagens105 e 106: Esquadrias na fachada. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. Imagens107 e 108: Detalhe mão-francesa em madeira. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. 69 Imagens109 e 110: Porta de correr em madeira vista externa e interna. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. Imagens111 e 112: Banheiros no interior do Armazém. Fonte: Acervo da autora. Fonte: Acervo da autora. 70 Imagem 113: Piso de pedra. Fonte: Acervo da autora. - Estação Ferroviária (Ficha Estado de Conservação) Coberta: Telhamento: [X]telha francesa [X]telha canal [ ]ardósia [ ]amianto[ ]metálica [ ]vidro [ ]outro: Estado de conservação: [ ]bom [x ]regular [ ]precário [ ]ruínas Estrutura: [X]madeira [ ]metálica [X]concreto armado [ ]outro: Paredes: [X]alvenaria [ ]pedra [ ]madeira [ ]taipa [ ]metálico [ ]outro: Estado de conservação: [X]bom [ ]regular [ ]precário [ ]ruínas Esquadrias : [X]madeira [X]vidro [X]metálica [ ]outro: Estado de conservação: []bom [ ]regular [x ]precário [ ]ruínas Piso: [X]cerâmico [X]madeira [ ]pedra/rocha [ ]tábua corrida [X]ladrilho [ ]cimentado [ ]concreto [ ]metálico [ ]outro: 71 Estado de conservação: [X]bom [ ]regular [ ]precário [ ]ruínas Componente estrutural (da edificação): [X]alvenaria portante [ ]madeira [ ]pedra/rocha [X]concreto armado[ ]metálico [ ]outro: Estado de conservação: [X]bom [ ]regular [ ]precário [ ]ruínas Revestimento: [X]reboco e tinta [ ]pedra aparente [ ]tijolo aparente [ ]cerâmica [ ]outro: Estado de conservação: [X]bom [ ]regular [ ]precário [ ]ruínas - Armazém (Ficha Estado de Conservação) Coberta: Telhamento: [ ]telha francesa [ ]telha canal [ ]ardósia [X]amianto [ ]metálica [ ]vidro [ ]outro: Estado de conservação: [X]bom [ ]regular [ ]precário [ ]ruínas Estrutura: [X]madeira [ ]metálica [ ]concreto armado [ ]outro: Paredes: [X]alvenaria [ ]pedra [ ]madeira [ ]taipa [ ]metálico [ ]outro: Estado de conservação: [X]bom [ ]regular [ ]precário [ ]ruínas Esquadrias: [X]madeira [ ]vidro [ ]metálica [ ]outro: Estado de conservação: []bom [ ]regular [x ]precário [ ]ruínas Piso: [ ]cerâmico [ ]madeira [X]pedra/rocha [ ]tábua corrida [ ]ladrilho[ ]cimentado [ ]concreto [ ]metálico [ ]outro: Estado de conservação: [ ]bom []regular [x ]precário [ ]ruínas Componente estrutural (da edificação): [X]alvenaria portante [ ]madeira [ ]pedra/rocha [ ]concreto armado[ ]metálico [ ]outro: 72 Estado de conservação: [X]bom [ ]regular [ ]precário [ ]ruínas Revestimento: [X]reboco e tinta [ ]pedra aparente [ ]tijolo aparente [ ]cerâmica[ ]outro: Estado de conservação: [x]bom [ ]regular [ ]precário [ ]ruínas 73 7 Memorial de Intervenção no Conjunto Arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru. 7.1 Conceituação A intervenção equivale a uma modificação, maior ou menor na forma arquitetônica de uma obra histórica, isto é, interfere de maneira direta na sua estética. O que vai definir o grau de interferência do projeto de intervenção é a vertente a qual o arquiteto define, seja conservadora ou liberal. Dessa forma, o contraste entre o novo e o antigo pode variar de acordo com esses preceitos. No presente anteprojeto de intervenção foi utilizado o conceito de intervenção encabeçado pelo teórico Camillo Boito, onde a importância histórica e artística do bem é considerada, privilegiando sua conservação, porém ressaltando a necessidade de marcar no tempo a intervenção, usando elementos e materiais característicos da arquitetura atual. De forma que, para intervir em um edifício com um grau de interesse histórico, como o Conjunto Arquitetônico da Estação Ferroviária de Caruaru é preciso que o projeto esteja afinado com os conceitos de preservação do patrimônio. No entanto, também deve se preocupar com questões atuais como atendimento aos normativos de acessibilidade, conforto, além de adequar o programa ao novo uso. O desafio é intervir de maneira que o patrimônio edificado não caia no simplismo. Então, optar por camuflar materiais contemporâneos seria negar o período de produção arquitetônica atual e ferir o edifício histórico com o pastiche. Haja vista os itens considerados, o anteprojeto de intervenção pretende buscar uma solução arquitetônica que tenha compromisso com a preservação do bem edificado. Trata-se de um espaço já consolidado na cidade, com características próprias de ocupação, por isso precisa de uma intervenção que compreenda seu papel cultural. Trata-se de uma intervenção contemporânea em edifício histórico existente, onde o viés de alteração do espaço resulta da maneira que o novo uso vai se moldar ao edifício antigo. Intervindo-se com sensibilidade e respeito ao projeto original, adequando-o as novas demandas para o qual não foi planejado anteriormente. 74 7.2 Definição do uso Analisam-se as características do entorno do objeto de intervenção, sua proximidade com unidades de ensino público e privado,a centralidade do leito com relação à cidade, até mesmo o serviço de transporte público urbano que tem paradas com partida de diversos bairros com destino final em frente à Estação e as feiras de artesanato que ocorrem na área. Esses aspectos foram norteando a busca por um uso que se adequasseà vocação do Conjunto Arquitetônico. Outro ponto preponderante na escolha do novo uso é a importância de aliar a memória férrea ao equipamento. Sendo assim, uma opção se adequou aos critérios, aliando o memorial da ferrovia, lazer e educação preparatória: a implantação de uma cinemateca. Seguindo as novas premissas de espaços culturais, com exposições fixas e itinerantes, salas com oficinas para conhecimento e produção fílmica, áreas para exibição audiovisual, café, quiosques na esplanada para abrigar as feiras de artesanato. Dessa forma, um ponto importante para a partida inicial do projeto é a readequação do armazém, edifício construído ao lado da estação, onde será implantada a sala de exibição áudio visual da Cinemateca. Com isso, é necessária uma valorização do prédio, com o uso de materiais e estrutura da arquitetura atual na área interna, que, além de atender ao proposto no programa obrigatório para o fim de exibição fílmica, proporcione uma qualidade estética e o coloque em um patamar de equivalência com o prédio da Estação Ferroviária, edifício executado de maneira mais planejada, com uso de materiais que marcam a arquitetura da época conferindo ao mesmo um status de requinte que o armazém não possui. Já o prédio da estação será minimamente reformado, recebendo tratamento conforme as especificações de manutenção, tendo os seus ambientes redistribuídos conforme o programa do memorial da cinemateca. Além disso, o entorno do conjunto arquitetônico precisa ser readequado, de forma que proporcione melhor acesso e visibilidade aos serviços didáticos e de lazer que serão oferecidos no mesmo. 75 7.3 Detalhamento do Programa de Intervenção - Esplanada Estacionamento Passeio Público Quiosques - Estação Ferroviária Memorial da Ferrovia (térreo) Salão de Exposições (térreo) Administração (térreo) Reserva Técnica (térreo) Cozinha (térreo) Café (térreo) Loja (térreo) Auditório (1º pavimento) Salas para Oficinas Técnicas (1º pavimento) Sala para Arquivamento Fílmico e Iconográfico (1º pavimento) Estúdio(1º pavimento) Banheiros (térreo e 1º pavimento) - Armazém Depósito Apoio Técnico Apoio de Acervo Sala de Projeção (mezanino) Sala de Exibição Áudio Visual Foyer Banheiros 76 7.4 Viabilidade técnica Estação Ferroviária - Pavimento térreo Na fachada norte foi necessário remover uma porta de madeira e um gradil para possibilitar a implantação de um elevador.Na fachada leste também foi retirada uma porta de madeira a fim de restringir o acesso à reserva técnica. No salão do térreo foram removidas as paredes dos antigos depósitos e de parte da bilheteria, ficando apenas a parede frontal em forma de semicírculo que possui três janelas. Essas remoções foram necessárias para possibilitar uma melhor integração dos dois espaços destinados a exposições, bem como para gerar acessibilidade à chegada do elevador. Com a remoção das paredes de construção original foi necessário gerar uma alternativa estrutural para compensar. Dessa forma, foram inseridos dois pilares seguindo o padrão dos existentes de acordo com a orientação das vigas estruturais encontradas. Foram detectados cinco banheiros no pavimento térreo da Estação, sendo todos reformados para atender as normas de acessibilidade. Algumas paredes que, segundo relatos e comprovados através das espessuras, não são da construção original, foram removidas ou sofreram readequação para atender as especificidades do programa de intervenção. No antigo espaço do refeitório, foram fechadas as aberturas para dois depósitos com acesso através do banheiro, e nessa área instalada a cozinha para atender o Café, bem como uma loja de conveniência. Estação Ferroviária – 1º Pavimento Foram encontradas paredes divisórias, que, com base em relatos e seguindo orientação pela espessura menor que as paredes originais, são oriundas de reformas no espaço, essas paredes impossibilitavam o acesso independente aos ambientes. Sendo assim, foram propostas na intervenção a remoção parcial ou total de algumas dessas paredes, para fins de adequação ao novo programa de uso. Dos três banheiros do pavimento, um foi removido para possibilitar a instalação do elevador, um foi reformado para atender às necessidades de acessibilidade e o último,localizado dentro do auditório, permaneceu com suas características anteriores. 77 Armazém No prédio do armazém a remoção de paredes foi mínima, houve apenas uma reforma nos banheiros existentes para adequar às necessidades de layoutjá que ambos já atendiam às normas de acessibilidade.Foram encontrados nos levantamentos de campo quatro banheiros na área leste do prédio, sendo aproveitados no programa de intervenção apenas dois para atender a parte técnica da cinemateca. Na área de Foyer foram instalados mais quatro banheiros acessíveis para atender ao público. Na área destinada à sala de exibição audiovisual foi necessário instalar dutos de ar condicionado que vem de uma central suspensa localizada no depósito. Outra adição importante na sala de exibição audiovisual foi a instalação das placas acústicas, simulando um forro em material de gesso acartonado.Foi necessário também construir um mezanino para abrigar a sala de projeção, assim atendendo ao normativo específico às salas de cinema que determinam que a projeção seja feita em um patamar acima da projeção de poltronas. Tornando-se assim, possível a angulação entre projetor/público/tela dentro nas normas. 7.5 Especificação de materiais e serviços Restauração e recuperação dos prédios que compõem a antiga estação ferroviária de Caruaru/PE, garantindo suas integridades físicas e funcionais e oferecendo condições para a instalação de novo programa de necessidades relativo à Cinemateca. - Resultados esperados Execução de serviços de restauração, recuperação, climatização e readequação do edifício consistentes em: - retirada de aparelhos sanitários, de cobertura cerâmica; - recuperação e substituição de cobertura, com limpeza, conservação e impermeabilização; 78 - recuperação de lambrequins de madeira; - recuperação de esquadrias de madeira e ferro; - instalação de acessórios (maçanetas, fixadores, corrimão etc); - execução de revestimentos de paredes e tetos (azulejos, rejuntes, argamassa, forros de gesso); - recuperação e execução de pisos (cerâmica, ladrilhos hidráulicos, piso tátil, calçada de tijolos, granito etc); - pintura a látex e esmalte, selador, emassamento, verniz; - Critérios de similaridade A execução de todos os serviços será norteada de acordo com as indicações constantes dos seguintes documentos consultados durante a pesquisa: Manual de Preservação de Edificações Ferroviárias Antigas (PRESERFE); Manual de Preservação Preventiva de Edificações Ferroviárias. Em caso de substituição de material na obra de intervenção e restauração só será aceito material idêntico aos encontrados no levantamento de campo ou similar em caso da produção do mesmo não existir sob consulta dos órgãos competentes. As adições de materiais serão de características da arquitetura contemporânea, marcando no tempo a intervenção proposta. - Acessos São três acessos para o público: o acesso principal, onde serão implantadas rampas para entrar no saguão; o acesso eventual seguindo pela plataforma e o acesso pelo estacionamento. Já o acesso de serviço, para o funcionário, haverá um acesso na plataforma da Estação e no caso do Armazém a entrada será na fachada Sul da edificação. 79 - Acabamento Geral Paredes internas: argamassa comum, com maior adição de cal do que cimento, em traço a ser determinado e pintura em cores neutras de acordo com análises em fotografias antigas dos edifícios que compõem o estudo. Pisos internos: cerâmica vermelha, taco de madeira, ladrilho hidráulico, conforme projeto. Forros internos: lajes pintadas com látex acrílico na cor branca. - Especificações Gerais Esquadrias: as janelas seguirão o modelo existente e terão pintura em esmalte sintético fosco, bem como as portas de madeira. Ferragens: seguirão de acordo com o existente. Coberturas: o madeiramento do telhado será trocado por novo bem como as telhas cerâmica na Estação. No Armazém as telhas de fibrocimento atuais, serão substituídas por telhas cerâmicas com isolamento acústico. Fachada:será restaurada e pintada em cores neutras, conforme estudo das fotografias antigas. - Telhas Cerâmicas Especificação: Para a cobertura da edificação será utilizada telha cerâmica tipo francesa conforme encontrado no local. As inclinações dos telhados deverão respeitar o projeto arquitetônico. - Revestimentos Executar reparos no reboco interno, na fachada frontal e nas platibandas observando a presença de umidade, seguir orientações e mapeamento do projeto, posteriormente aplicar argamassa na mesma proporção e/ou traço encontrado no local das remoções, com uma maior adição de cal do que cimento. 80 - Esquadrias Madeira Especificações: Executar revisão geral das portas e ferragens, em caso extremo de deterioração, na impossibilidade de restauração, as peças deverão ser substituídas, e adequadas ao uso, os vidros faltantes ou quebrados deverão ser substituídos por peças novas e nas mesmas dimensões dos originais. Concluindo a adequação da esquadria com uma pintura a base de tinta esmalte sintético. Aplicação: As portas serão recompostas ou substituídas nos ambientes, conforme demonstrado nas plantas baixas de arquitetura. Ferro Especificações: Executar revisão geral das portas e ferragens, em caso extremo de deterioração, na impossibilidade de restauração, as peças deverão ser substituídas, e adequadas ao uso, os vidros faltantes ou quebrados deverão ser substituídos por peças novas e nas mesmas dimensões dos originais. Concluindo a adequação da esquadria com uma pintura a base de tinta esmalte sintético.As partes metálicas das esquadrias deverão ser tratadas com tinta anticorrosiva, antes da pintura de acabamento. 81 8 Referências CARTA DO PATRIMÔNIO INDUSTRIAL– NizhnyTagil, Julho de 2003) CINE THEATRO CAPITÓLIO: Um olhar em transformação /Fundacine; GunterAxt. Porto Alegre: Fundacine, 2007.84 p.: il.; l x h cm.ISBN: 85-99078-02-X. CHOAY, Françoise. O urbanismo: utopias e realidades, uma antologia. Tradução Dafne nascimento Rodrigues. São Paulo: Perspectiva, 2007. INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO FERROVIÁRIO EM PERNAMBUCO EM PERNAMBUCO. coordenado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN)- 2008. INVENTARIANÇA DA EXTINTA REDE FERROVIÁRIA FEDERAL S.A RFFSA. República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.rffsa.gov.br/>. Acesso em: Março de 2011. HISTÓRICO DA EXTINTA RFFSA. República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.rffsa.gov.br/principal/historico.htm>. Acesso em: Março de 2011. KÜUHL, Beatriz Mugayar. História e Ética na Conservação e na Restauração de Monumentos Históricos. Revista CPC, 2005, v.1, n.25. Disponível em: <www.revistasup.sibi.usp.br/pdf/cpc/n1/a03n1.pdf>. Acesso em: Março de 2011. LEI DA MEMÓRIA FERROVIÁRIA 11.846/2007 PRESERFE – Manual de Preservação de Edificações Ferroviárias Antigas, 2004 IPHAN- Manual de Conservação Preventiva. CULLEN, Gordon. Paisagem urbana. São Paulo: Martins Fontes, 1983. REDE FERROVIÁRIA FEDERAL S.A – RFFSA. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria do Patrimônio da União. Disponível em: <http://patrimoniodetodos.gov.br/gerencias-regionais/spu-pe>. Acesso em: Março de 2011. 82 SILVA, Aline de Figueirôa. Comunicação, diversão e oração: Os espaços do Art Déco e o patrimônio moderno de Caruaru-PE. In: Anais do 8º Seminário Docomomo Brasil. Cidade Moderna e Contemporânea – Síntese e Paradoxo das Artes. Rio de Janeiro: UFRJ: UFF, 2009. (CD-ROM). SILVA, Aline de Figueirôa; SANTOS, A. Z.; ALVES, D. J. A.; SOUZA, G. J. de; JORGE, J. L. do N. Comunicação, diversão e oração: documentação e conservação do acervo Art Déco no interior de Pernambuco. In: Anais do 3º Seminário Docomomo Norte Nordeste: Morte e Vida Severinas – das ressureições e conservações (im)possíveis do patrimônio moderno no Norte e Nordeste do Brasil. João Pessoa: UFPB, 2010.(CD-ROM). SILVA, Aline de Figueirôa; NASLAVSKY, Guilah. Da capital ao interior de Pernambuco: critérios para documentação da Arquitetura Moderna no Nordeste, 1930-1980. In: Anais do 9º Seminário Docomomo Brasil – interdisciplinaridade e experiências de documentação e preservação do patrimônio recente. Brasília: UnBFAU, 2011.(CD-ROM).