•LNEC
FAUL 2007
Materiais e Técnicas Construtivas Tradicionais
REVESTIMENTOS DE PAREDES ANTIGAS:
ARGAMASSAS, REBOCOS, ESTUQUES E PINTURAS
Maria do Rosário Veiga
Laboratório Nacional de Engenharia Civil - LNEC
[email protected]
FAUL 2007
1. Argamassas de paredes antigas: juntas, revestimentos
exteriores e interiores
Características funcionais
Soluções de revestimentos
2. Anomalias e mecanismos de degradação em revestimentos
de paredes antigas
Tipologias
Causas e mecanismos
Métodos de diagnóstico
Medidas preventivas
3. Intervenções em revestimentos de paredes antigas
Métodos de avaliação das condições de conservação
Estratégias de intervenção
Metodologias de reparação
Argamassas de substituição
Pinturas de substituição
•Título
•1
•LNEC
I - Argamassas de paredes antigas
Paredes Antigas
Características das paredes anteriores ao advento betão armado:
1. Função de protecção contra aos agentes climáticos e às acções
externas em geral + Função resistente
2. Materiais mais porosos e deformáveis que os actuais
3. Espessura elevada: resistência e protecção asseguradas pela
espessura
4. Protecção contra a humidade: espessas, porosas, sem cortes de
capilaridade. A água entra facilmente mas também sai facilmente
para o exterior (secagem)
5. Ascensão da água por capilaridade e secagem rápida por
evaporação.
•Título
•2
•LNEC
Paredes Antigas
Criptoflorescências
Eflorescências
Ascensão de água por
capilaridade
Argamassas antigas
Ruínas de Tróia (séc. I)
Conímbriga
Argamassas Romanas – Argamassas de cal muito bem executadas; uso
de pozolanas artificiais (pó de tijolo) e naturais
•Título
•3
•LNEC
Argamassas antigas
Rebocos em ruínas de Tróia - séc. I
Argamassas antigas
Reboco em Conímbriga
Mértola – Baptistério (séc. II)
•Título
•4
•LNEC
Argamassas antigas
Argamassas Árabes - Muralha de Tavira
(séc. VII)
Argamassas antigas
Argamassas Árabes – Igreja de Mértola
(antiga Mesquita)
(séc. XII)
•Título
•5
•LNEC
Argamassas antigas
Sé de Évora – Revestimentos
interiores (séc. XVI-XVII)
Argamassas antigas
Sé de Elvas (séc. XVII)
•Título
•6
•LNEC
Revestimentos exteriores de edifícios
antigos
Convento dos Capuchos
Fingidos de azulejo
(Almeida)
Argamassas antigas
Hospital M. Bombarda
(séc. XIX)
Parede Pombalina
(séc. XIX)
•Título
Argamassas de cal
em várias camadas
•7
•LNEC
Argamassas antigas
Edifício em Lisboa (Prémio Valmor
1944)
Edifício do
LNEC (1952)
Argamassas de cal aérea com
acabamentos muito cuidados
Argamassas recentes pouco duráveis
Lisboa, década de 90,
rebocos hidráulicos
•Título
•8
•LNEC
Argamassas antigas
Características
• Cal aérea como ligante, areias bem seleccionadas,
geralmente aditivos
• Várias camadas, cada
preparada e aplicada
uma
delas
cuidadosamente
• Grande resistência e durabilidade (exemplos com séculos
que chegaram aos nossos dias)
• Texturas e cores características
• Testemunho de materiais e tecnologias: objectos de estudo
• Funções de revestimento, aglomerante, colagem
• Bom funcionamento global das paredes gerado pela
compatibilidade de materiais e soluções construtivas
FAUL 2007
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Revestimentos exteriores de edifícios
antigos: materiais
CAL: Traços tradicionais variam entre 1:2 e 1:4
1:3
traço eficiente para boa granulometria
OUTROS LIGANTES: hidraulicidade (aluminatos e silicatos)
•Pozolanas naturais (produtos vulcânicos ricos em alumina e
em sílica amorfa reactiva)
•Pó de tijolo e outras pozolanas artificiais
•Cal hidráulica (< 1450ºC
•Cimento (> 1450ºC
•Título
C2S)
C3S)
•9
•LNEC
Revestimentos exteriores de edifícios
antigos: materiais
CAL
Obtida por calcinação, a temperaturas da ordem de 800 a 1000
ºC, de rochas carbonatadas, constituídas predominantemente
por carbonato de cálcio (calcário) ou por carbonato de cálcio e
magnésio (calcário dolomítico)
Cal viva:
CaCO3 + calor
Hidratação:
CaO + H2O
Endurecimento:
Ca (OH)2 + CO2
CaO + CO2
Ca (OH)2 +calor
CaCO3 + H2O
Revestimentos exteriores de edifícios
antigos
Constituição
• Camadas de regularização e protecção: Emboço;
Reboco, Esboço
– argamassas de cal e areia, com adições minerais e
orgânicas, aplicadas em várias subcamadas
– com granulometria decrescente das camadas mais
internas para as mais externas
– com deformabilidade e porosidade crescentes das
camadas mais internas para as mais externas
•Título
•10
•LNEC
Revestimentos exteriores de edifícios
antigos
Constituição
• Camadas de protecção, acabamento e decoração:
Barramento; Pintura mineral; Ornamentação
– barramentos: massas finas de pasta de cal aplicadas em
várias subcamadas, com grande importância para a
protecção do reboco
– coloração com pigmentos minerais ou com pintura
mineral
– ornamentação com stuccos, fingidos, esgrafitos,
pinturas a seco ou a fresco
Revestimentos exteriores de edifícios
antigos: técnicas
Quando as alvenarias eram de pedra irregular ou não eram novas:
i) escovagem e lavagem do paramento; ii) enchimento, ou
“encasque” das reentrâncias, com casquilho de tijolo ou telha ou
com cascalho envolvidos em argamassa.
Depois das argamassas de preparação do suporte estarem bem
secas iniciavam-se as operações de aplicação dos revestimentos
propriamente ditos, do interior para o exterior e de cima para baixo:
i) desempoeiramento do paramento; ii) humedecimento da
superfície; iii) aplicação do emboço, “chapado” contra o suporte
com a trolha e a ajuda da colher de pedreiro; iv) após secagem do
emboço, era aplicado reboco.
•Título
•11
•LNEC
Revestimentos exteriores de edifícios
antigos: técnicas
Nas construções mais cuidadas era muito usada a técnica de pontos e
mestras: porções de gesso em fiadas verticais (pontos), afastados cerca
de 2 m na horizontal e na vertical, com a espessura aproximada que se
pretendia para o revestimento; os pontos eram depois unidos com faixas
verticais de argamassa (mestras), bem apertadas à colher, fazendo a
espessura exacta pretendida; aplicava-se depois o reboco com a colher
entre as mestras, retirando a massa excedente; os revestimentos que
deviam garantir boa impermeabilização eram batidos e apertados para
compactação.
Os rebocos, aplicados em várias subcamadas, podiam receber logo o
acabamento final, segundo técnicas muito diversas e dando origem a
texturas muito diversificadas, ou receber um barramento ou
guarnecimento, também em várias camadas aplicadas à talocha.
Revestimentos exteriores de edifícios
antigos: acabamentos
a) Acabamento liso talochado
b ) Acabamento raspado
c) Acabamento riscado ou estriado
d) Acabamento áspero ou crespo (tirolês)
e) Acabamento escocês
f) Acabamento picado
g) Acabamento imitando pedra
h) Esgrafitos
i) Ornamentos e alto-relevos (stuccos)
j) Pinturas
•Título
•12
•LNEC
Revestimentos exteriores de edifícios
antigos: acabamentos por pintura
a) Pintura de cal
b) Pintura com tintas de silicato
c) Pintura de fingidos (no exterior)
d) Pintura mural exterior
Quadro síntese das técnicas tradicionais de revestimentos exteriores
•Título
Camada
Função
Técnica
Emboço
Camada de protecção e
regularização. Primeira camada
constituída por argamassa de cal
e areia.
Apertada à
colher ou à
talocha
Áspero
Acabamento
Reboco
Camada de protecção e
regularização é a camada base
para outras, constituída por
argamassa de cal e areia, com
aditivos ou não.
Apertada à
colher ou à
talocha
Liso
Raspado
Riscado ou estriado
Áspero ou crespo
Escocês
Picado
Imitando pedra
Esgrafitado
Esboço
Camada de preparação para o
acabamento.
Apertada à
colher ou à
talocha
Geralmente liso
Barramento
Camada de protecção,
acabamento e decoração.
Constituída por até três camadas
de espessura fina por uma
argamassa de cal e areia, com
aditivos ou não.
Apertada à
colher ou à
talocha
Liso com adição de pigmento
ou não.
Pintura
Camada de protecção e
decoração
Com trincha
pincel ou rolo
Lisa: a cal - a seco ou a fresco
Silicato
Manchada
Decorada - Fingido: cunhal,
tijolo, mármore, madeira,
azulejo
Pintura Mural
•13
•LNEC
Revestimentos interiores de edifícios
antigos: materiais
GESSO
O gesso natural é uma rocha sedimentar de estrutura
cristalina, constituída fundamentalmente por sulfato de cálcio
bi-hidratado (Ca SO4 2H2O).
O gesso usado como ligante em estuques e argamassas de
gesso é obtido por cozedura a temperaturas que variam entre
130ºC e 170ºC da pedra de gesso e é constituído,
fundamentalmente, por sulfato de cálcio hemi-hidratado:
Ca SO4 2H2O + calor
Ca SO4 1/2 H2O + 3/2 H2O
FAUL 2007
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Revestimentos interiores de edifícios
antigos
Estuque com frescos
com alteração de cor
Restauro incorrecto com
argamassas de cimento
Reabilitação de um
tecto em estuque
•Título
Fotos de Hélder
Cotrim
•14
•LNEC
Revestimentos interiores de edifícios
antigos: técnicas
Os revestimentos interiores das paredes antigas tinham, em geral,
constituição básica semelhante aos exteriores, mas mais
permeáveis. A partir do séc. XVIII diferiam essencialmente na
composição das camadas de acabamento.
Camadas principais, com diferentes funções:
Camadas de regularização: emboço, reboco e esboço ou massa de
esboçar.
Camadas de protecção, acabamento e decoração: barramento (ou
guarnecimento); estuque ou massa de estender ou dobrar; massa
de polir ou brunir; pintura (em geral mineral) simples ou de
ornamentação.
Revestimentos interiores de edifícios
antigos: técnicas
A massa de estender ou dobrar ou estuque propriamente dito era uma
massa de gesso ou de gesso e cal em pasta, podendo incorporar
pigmentos, cuja constituição podia variar muito: só gesso e água;
gesso, água de cola, pigmentos; 1 (gesso) : 1 a 4 (cal e areia fina) +
água de cola (por vezes); 1 (gesso) : 1 a 3 (cal) : 0 a 1 de areia fina.
A massa de polir ou brunir era usada para acabar os estuques que se
pretendiam mais delicados e elaborados. Era aplicada sobre estuques
particularmente compactos e finos e consistia numa mistura de gesso
e óleo de linho, podendo também levar água de cola, água de sabão,
terebintina e cera.
•Título
•15
•LNEC
Revestimentos interiores de edifícios
antigos: técnicas
estuques lisos: composições com base em cal e gesso, variando a
inclusão de outros componentes conforme o resultado e a técnica
pretendida. O estuque é aplicado com talocha sobre o esboço já bem
seco, e é em seguida alisado à colher. O acabamento brilhante e liso
obtém-se depois, brunindo ou polindo com pedra-pomes, ou passando
uma boneca embebida em talco ou pó de jaspe.
estuques rendados: executados através de uma armação de ferro ou
verguinha, que posteriormente é coberta pela massa na qual os
desenhos são moldados.
estuques em relevo: executados no caso dos frisos, com moldes de
madeira e lâminas metálicas recortadas com o negativo do perfil
pretendido.
estuque ornamental: obtido por técnicas de pintura mural ou de
escultura decorativa.
Revestimentos interiores de edifícios
antigos: técnicas
a) Fingido de pedra ou Stucolustro
b) Fingido de mármore ou Stucomármore
c) Escaiolas (Scagliola)
d) Pintura Mural
f) Pintura a encáustica (ou a cera)
g) Pintura a óleo
h) Pintura de fingidos
i) Pintura ilusionista ou de trompe l’oeil
•Título
•16
•LNEC
Quadro síntese das técnicas tradicionais de revestimentos interiores
Camada
Função
Técnica
Emboço
Camada de protecção e
regularização. Primeira camada
constituída por argamassa de
cal e areia.
Apertada à colher
ou à talocha
Áspero
Acabamento
Reboco
Camada de protecção e
regularização é a camada base
para outras, constituída por
argamassa de cal e areia, com
aditivos ou não.
Apertada à colher
ou à talocha
Geralmente liso
Esboço
Camada de preparação para o
acabamento. Pode ser
acrescentado gesso.
Apertada à colher
ou à talocha
Geralmente liso
Barramento
Camada de protecção,
acabamento e decoração.
Constituída por até três
camadas de espessura fina por
uma argamassa de cal, areia,
pode ser usado gesso e ainda
aditivos ou não.
Apertada à colher
ou à talocha
Liso com adição de pigmento
ou não.
Estuque
Camada de acabamento
composta por uma argamassa
de cal e gesso.
Apertada à colher ou
à talocha
Liso ou decorativo com
adição de pigmento ou não.
Fingido de pedra de mármore
e Escaiola
Pintura
Camada de protecção e
decorção
Com trincha, pincel,
ou rolo
Pintura mural
Pintura a fresco
Pintura a cola ou têmpera
Pintura a encáustica
Pintura a óleo
Revestimentos de edifícios antigos
Características
• Cuidadosamente executados e aplicados
• Várias camadas, cada uma delas cuidadosamente
preparada e aplicada
• Texturas e cores características
• Deformabilidade, permeabilidade ao vapor,
durabilidade
• Bom funcionamento global das paredes gerado
pela compatibilidade de materiais e soluções
construtivas
•Título
•17
•LNEC
Revestimentos de edifícios antigos
Importância na conservação do Património:
• Função de protecção da alvenaria antiga contra acções
climáticas, choques mecânicos, contaminação ambiental,
acções externas em geral
• Influência decisiva no aspecto final do edifício
(ornamentação, decoração, expressão arquitectónica)
• Devido à grande exposição a agentes destrutivos são dos
primeiros elementos a mostrar degradação
• Por isso e pelo impacto na imagem do edifício, fazem quase
sempre parte dos planos de intervenção
• Existe uma grande tendência para os extrair totalmente e
substituir por outros novos
Bibliografia
AGUIAR, José – Estudos cromáticos nas intervenções de
conservação em Centros Históricos. Base para a sua aplicação à
realidade portuguesa. Tese desenvolvida no LNEC e apresentada à
Universidade de Évora para a obtenção do grau de Doutor em
Conservação do Património Arquitectónico. Évora, EU-LNEC, 1999.
MATEUS, João Mascarenhas – Técnicas tradicionais de construção
de alvenarias, Lisboa, Livros Horizontes, 2002.
SILVEIRA Paulo Malta da - Estuques antigos: caracterização
construtiva e análise patológica; Dissertação para obtenção de grau
de Mestre em Construção, Universidade Técnica de Lisboa, IST,
Lisboa, 2000.
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•Título
•18
•LNEC
Bibliografia
VEIGA, M. Rosário; AGUIAR, José – Definição de estratégias de
intervenção em revestimentos de edifícios antigos. Proceedings do
1º Encontro Nacional sobre Patologia e Reabilitação de Edifícios,
Porto, FEUP, Março de 2003.
VEIGA, M. Rosário – As argamassas na conservação. In Actas das
1ªs Jornadas de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro.
Avaliação e Reabilitação das Construções existentes. Aveiro, 26 de
Novembro de 2003. Conferência convidada. Colecção
Comunicações, COM 103, LNEC, Lisboa 2003.
VEIGA, M. Rosário; AGUIAR, José e outros – Conservação e
renovação de revestimentos de paredes de edifícios antigos. Lisboa,
LNEC, Julho 2004. Colecção Edifícios, CED 9.
Ver também http://conservarcal.lnec.pt/
37
•Título
•19
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