Publicado no Jornal Cidade Viva em Setembro de 2010
DESCOBRIR O MUNDO
Será o mundo enorme ou apenas um pequeno ponto no nosso universo? Reflectindo sobre esta
mudança de perspectiva, o mundo tende a parecer-nos menor quanto maiores formos.
Enquanto crianças, o mundo começa por resumir-se à nossa casa, à nossa rua, e aos locais que
usualmente frequentamos. O que está para além disso é desconhecido e, por consequência,
traz medo e insegurança.
Se deixarmos uma criança a dois minutos de casa, mas num local diferente do habitual, ou
seja, sem referências conhecidas, esta ficará incapaz de se orientar e irá provavelmente
experimentar uma forte angústia. Se não reconhecemos o ambiente, este é inferido como
atacante porque se sabe que é imprevisível perante a nossa incapacidade de o controlar.
Esta noção de controlo provém também da experiência. Após diversas ocasiões imprevistas
nas quais conseguimos encontrar estratégias de sobrevivência, podemos acreditar mais em nós
e permitirmo-nos a novas aventuras.
No entanto, estes sentimentos são frequentes em alguns adultos. Assusta viajar, por exemplo,
porque surge o medo que algo não corra como planeado, de não saber falar a língua e de não
ser compreendido, de o avião ter um problema e ir parar a outro aeroporto, entre tantos outros.
O medo é mais intenso quando a noite se põe e quando as alturas são maiores (de uma ponte,
por exemplo). Quando se questionam do porquê de estas situações constituírem um problema
dramático, sentem-se pequeninos e com medo de não conseguirem voltar para casa, tal como
crianças lançadas no mundo sem maturação para o gerirem.
Urge pensar no seu passado e na riqueza vivencial das suas vidas. Curiosamente, na sua
maioria as suas infâncias decorreram num espaço físico muito limitado, consignado ao local
onde viviam ou a uma ou outra deslocação a casa de familiares, sempre pelo mesmo trajecto.
Faltou-lhes os passeios frequentes, as experiências diversas que fizessem emergir novos
sentimentos e sensações, a oportunidade de sair com amigos para outros locais e ambientes e
dinâmicas, a mente aberta curiosa por tudo. Ficou a sensação de que o que está para além do
conhecido é perigoso, desinteressante ou desnecessário. Fica deste modo a limitação para
sempre, assumida pela insegurança ou escondida pelo desprezo pelo do que está para além de
nós.
Não se trata, pois, de viajar apenas, porque essa poderá não ser uma possibilidade ao alcance
de todos, mas de tentar alargar os horizontes à criança e de a fazer ter vontade de ir descobrir
tudo o resto para além disso.
Se pensarmos na globalização crescente do mundo, como poderão estes adultos enfrentar os
desafios profissionais na sua totalidade, ou acompanhar o seu grupo social?
Aos que são pais importa reflectir hoje no que os seus filhos serão amanhã, e ajudá-los a
descobrir o mundo agora para que não o tenham que o fazer sozinhos e desamparados mais
tarde.
Paula Barbosa
Psicóloga Clínica
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