III Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais 12 a 14 de março de 2013 – São Pedro - SP EMISSÕES DE CO2 E CH4 DURANTE COMPOSTAGEM AUTOMATIZADA DE DEJETOS LÍQUIDOS DE SUÍNOS 1* 1 2 Guilherme Felipe Milanesi Callegaro ; Géssica Gaboardi De Bastiani ; Celso Aita ; 3 3 3 1 Alexandre Doneda ; Rafael Ricardo Cantú Stefen Barbosa Pujol Adônis Vicente Blasi ; 1 Indiara Cáceres Jacques . (1) Acadêmico do Curso de Agronomia, Departamento de Solos, UFSM, [email protected], (2) Av. Roraima 1000, Santa Maria-RS-Brasil, CEP 97105-900; Professor Associado, Departamento de Solos, (3) UFSM; Aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo, Departamento de Solos, UFSM [email protected]. RESUMO: A criação intensiva de suínos possui elevado potencial poluidor do ambiente, em função do grande volume de dejetos gerados, os quais possuem substâncias que afetam direta ou indiretamente a qualidade do ambiente e, por isso, necessitam de tratamento adequado. No entanto, mesmo durante o tratamento dos dejetos ocorre geração de poluentes, como as emissões de gases de efeito estufa (GEE), cuja magnitude depende do sistema de tratamento empregado. Alternativas como a compostagem aeróbica dos dejetos podem ajudar na diminuição dessas emissões, além de gerar um produto final possível de ser utilizado na agricultura e com mínimo impacto ambiental. O objetivo deste trabalho foi quantificar as emissões de dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4) durante a compostagem automatizada de dejetos líquidos de suínos (DLS), com e sem adição de ácido fosfórico (H3PO4). O experimento foi conduzido em ambiente protegido, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A acidificação dos dejetos não afetou as emissões de CO 2, porém mostrou-se eficiente em reduzir a emissão de CH4. Palavras-chave: gases de efeito estufa, tratamento de dejetos, ácido fosfórico. CO2 AND CH4 EMISSION IN AUTOMATED COMPOSTING OF PIG SLURRY ABSTRACT: Pig farming has rapidly developed into an industry. However, pig rearing produces large amounts of liquid and solid waste that has potential to threat environment in the form of greenhouse gases (GHG) emissions. One of the possibilities to reduce GHGs emission from this pig waste is its treatment i.e. aerobic composting. Aerobic composting not only help in reducing gas emissions but it also provide a product that can be used for growing crops with minimal environmental impact. The objective of this research was to quantify the emissions of carbon dioxide (CO 2) and methane (CH4) during automated composting of pig slurry (PS), with and without phosphoric acid (H3PO4) application. The study was conducted at the Federal University of Santa Maria (UFSM), Brazil. The addition of H3PO4 were not affected CO2 emissions however, decreased CH4 emissions. INTRODUÇÃO O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de suínos, com a maior concentração de animais (47,9 %) na região sul (IBGE, 2010). O sistema de criação intensivo é característico dessa região e a produção de um grande volume de dejetos na forma líquida (DLS) tornou-se um entrave para a expansão sustentável da suinocultura. Um dos problemas decorrentes do uso e manejo dos dejetos de suínos, sem critérios técnicos, resulta na poluição da atmosfera com gases de efeito estufa (GEE). Para reduzir esse efeito, sistemas adequados para o tratamento dos DLS devem ser empregados, especialmente onde o metabolismo aeróbico de microrganismos atue, o III Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais 12 a 14 de março de 2013 – São Pedro - SP que evitaria a emissão de gases oriundos do metabolismo anaeróbio, como óxido nitroso e metano. A compostagem aeróbica dos dejetos, por sua vez, tem apresentado melhores resultados do que o simples armazenamento dos DLS em esterqueiras anaeróbicas, tanto na redução de tais emissões, principalmente de metano (CH4), quanto também do mau cheiro. (Vanotti et al., 2008; Sardá et al., 2010). A compostagem dos dejetos necessita de substratos com alta relação carbono/nitrogênio (C/N), como serragem (Fukumoto et al., 2011) e maravalha (Guardia et al., 2010). Além disso, os materiais devem ter grande capacidade de absorção de líquidos e possuírem baixo custo. Contudo, o processo de compostagem pode apresentar um problema ambiental decorrente da elevada concentração de N amoniacal dos dejetos de suínos, a perda de N por volatilização de amônia (NH3). A acidificação dos dejetos, antes de adicioná-los nas leiras de compostagem, é uma estratégia que deve resultar na redução da volatilização de NH3 em função da diminuição do pH.. Contudo, pouco se conhece sobre os efeitos da acidificação dos DLS sobre as emissões de GEE. O presente trabalho teve por objetivo avaliar as emissões de CO2 e CH4 em um sistema de compostagem automatizada de dejetos líquidos de suínos, com e sem adição de ácido fosfórico (H3PO4). MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em uma casa de vegetação do Departamento de Solos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), RS, Brasil, por um período de 157 dias. Para a execução do trabalho foi desenvolvido um protótipo de uma plataforma de compostagem, contendo duas leiras para avaliação simultânea de dois tratamentos. Para o revolvimento do composto, foi construída uma máquina com dois helicóides, que eram acionados por um motor elétrico. As leiras possuíam 4,0 m de comprimento, 1,0 m de largura e 1,0 m de altura. O material usado como substrato foi uma mistura de serragem (233 kg) e maravalha (233 kg) . Foram avaliados dois tratamentos, sendo um apenas com dejetos líquidos de suínos (DLS) e outro com DLS + H3PO4, este último na quantidade de 3,5 mL L-1 de dejeto. Os dejetos utilizados na compostagem tiveram como origem animais em fase de terminação criados no sistema de confinamento total. A aplicação dos dejetos às leiras foi realizada uma vez por semana, onde a dose total foi adicionada em dois momentos: no primeiro, aplicava-se a metade do DLS e , a máquina de revolvimento percorria toda a leira. Em seguida, era adicionado o restante dos DLS e a máquina voltava revolvendo a leira em sentido contrário. Na leira com DLS + H3PO4, o procedimento foi o mesmo, porém o ácido era adicionado ao DLS logo antes da aplicação. O volume total de DLS adicionado às leiras durante os primeiros 106 dias de compostagem foi de 3.936 L. No período entre 106 e 157 dias cessou a adição de dejetos e as leiras foram apenas revolvidas semanalmente.. Dois dias após a aplicação do DLS realizava-se o revolvimento da massa de compostagem, para a oxigenação e a redução de umidade do material. As emissões de CO2 e CH4 foram avaliadas através de câmaras estáticas com 0,245 m de diâmetro e 0,21 m de altura. As coletas eram realizadas imediatamente antes e após cada adição de DLS e do revolvimento das leiras, em três repetições por leira. A coleta de GEE no interior das câmaras foi feita com seringas de polipropileno em quatro tempos (0, 3, 6 e 9 minutos) após a colocação das câmaras sobre a leira. A determinação das concentrações de CO2 e CH4 foi realizada em um cromatógrafo específico à análise de GEE (SHIMADZU, modelo GC-2014 Greenhouse). III Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais 12 a 14 de março de 2013 – São Pedro - SP RESULTADOS E DISCUSSÃO Nos primeiros 15 dias os fluxos de CH4 foram próximos a zero e similares em ambos os tratamentos. Após esse período e até aproximadamente 70 dias, os fluxos de CH4 aumentaram e foram mais intensos no tratamento em que não houve adição de H3PO4 (Figura 1). As menores emissões de CH4 no tratamento com acidificação podem ser atribuídas à redução na atividade das bactérias metanogênicas causada pela redução do pH, conforme relatado por Ottosen et al. (2009). Após 100 dias de compostagem, a emissão de CH 4 baixou para próximo a zero, novamente, em ambos os tratamentos (Figura 1). Tal resultado coincidiu com o momento em que cessou a adição dos dejetos nas leiras, indicando que, pelo menos uma parte significativa do CH4 emitido durante o período anterior era oriundo dos próprios dejetos.. Essa hipótese é reforçada pelo fato de que os maiores picos de emissão de CH4 ocorreram sempre logo após a aplicação dos dejetos, com rápida diminuição até a aplicação seguinte (Figura 1). Contrariamente ao CH4, as emissões de CO2 aumentaram dede o início da compostagem (Figura 1), devido a adição de dejetos ao composto, sendo que os maiores picos eram observados logo após o revolvimento e a consequente oxigenação das leiras. Entre os 70 e 90 dias, as emissões de CO 2 foram superiores no tratamento sem a utilização de ácido (Figura 1). É provável que a acidificação tenha prejudicado a atividade microbiana na massa de compostagem neste período. No restante do experimento, as emissões, em ambos os tratamentos, mantiveram-se próximas. A redução gradativa das emissões de CO2 partir do 100º dia, indica a diminuição da atividade microbiana e a estabilização do composto orgânico, fruto da diminuição do carbono (C) disponível aos microrganismos e da humificação do composto . CONCLUSÃO A adição de ácido fosfórico (H3PO4) durante a compostagem automatizada de dejetos líquidos de suínos mostrou-se eficiente na redução das emissões de CH4 durante o processo, tendo pouco efeito na emissão de CO2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CERRI, C. C.; CERRI, C. E. P. Agricultura e aquecimento global. Boletim da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, v.32, n.1, p. 40-44, 2007. FUKUMOTO, Y. et. al. Effects of struvite formation and nitratation promotion on nitrogenous emissions such as NH3, N2O and NO during swine manure composting. Bioresource Technology, v. 102, n.2, p.1468-74, 2011. GUARDIA, A. de. et. al. Comparison of five organic wastes regarding their behavior during composting: part 2, nitrogen dynamic. Waste Management, v. 30, p. 415-425, 2010. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Produção da Pecuária Municipal 2010. Rio de Janeiro, v. 38, p. 1-65, 2010. Disponível em <http//:www.ibge.gov.br> Acesso em: 19 de setembro de 2012. OTTOSEN, L. D. M. ET AL. Observations on microbial activity in acidified pig slurry. Biosystems Engineering, 102: 291-297, 2009. III Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais 12 a 14 de março de 2013 – São Pedro - SP PAILLAT, J. M. et. al. Predicting ammonia and carbon dioxide emissions from carbon and nitrogen biodegradability during animal waste composting. Atmospheric Environment, v.29, p.6833-6842, 2005. SARDÁ, L. G. et. al. Redução da emissão de CO2, CH4 e H2S através da compostagem de dejetos suínos. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 14, n. 9, p. 1008-1013, 2010. VANOTTI, M. B.; SZOGI, A. A.; VIVES, C. A. Greenhouse gas emission reduction and environmental quality improvement from implementation of aerobic waste treatment systems in swine farms. Waste Management, v. 28, p. 759-766, 2008. 1600 DLS DLS + H3PO4 Fluxo CH4, mg m-2 h-1 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 70000 DLS DLS + H3PO4 Fluxo CO2, mg m-2 h-1 60000 50000 40000 30000 20000 10000 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 Tempo (dias) Figura 1. Emissões de metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), sem e com adição de ácido fosfórico (H3PO4) às leiras de compostagem dos dejetos líquidos de suínos (DLS).