Emissões de CO2 evitadas na caatinga do
estado do Rio Grande do Norte a partir da
substituição da lenha por briquetes
vegetais
Rodrigo Augusto Bellezoni1
Alexandre Oliveira Filippo Lopes2
Alberto Arruda Villela3
Amaro Olímpio Pereira Junior4
Resumo: Dado que a Caatinga é um dos biomas menos protegidos e o mais vulnerável
aos efeitos das mudanças climáticas no Brasil, propor ações que minimizem sua
degradação são fundamentais. A extração ilegal de madeira nativa para geração de
energia é uma das principais forças motrizes do desmatamento na região. Neste contexto,
este trabalho estimou as emissões de dióxido de carbono (CO2) evitadas a partir da
substituição da lenha por briquetes vegetais. Estimou-se que 22,5 mil t/ano de resíduos
de coco estariam disponíveis para briquetagem na região da grande Natal. O uso de
briquetes promoveria a manutenção de 568 ha/ano de mata nativa, evitando a emissão de
15,4 ktCO2/ano, por conta das mudanças no uso do solo. A disposição dos resíduos de
coco em aterro sanitário resultam na emissão de 53,6 ktCO2e/ano; sua conversão em
briquetes resultaria na emissão de 60,3 tCO2e, por conta do consumo energético do
maquinário. A promoção do uso da biomassa na Caatinga proporcionaria avanços em
questões relacionadas à energia, emissões de GEE, desmatamento ilegal, desertificação,
geração de emprego e renda na região do estado do RN.
Palavras-chave: Mudança no uso da terra; mudanças climáticas; desmatamento;
desertificação.
1 - Rodrigo Augusto Bellezoni - Doutorando em Planejamento Energético – PPE/COPPE –UFRJ.
Fone: 3938-9972 Email: [email protected]
2 - Alexandre Oliveira Filippo Lopes – Mestre em Planejamento Energético – PPE/COPPE – UFRJ.
Fone: 3938-9972 Email: [email protected]
3 - Alberto Arruda Villela - Doutor em Planejamento Energético – PPE/COPPE – UFRJ.
Fone: 3938-9972 Email: [email protected]
4 - Amaro Olímpio Pereira Junior - Doutor em Planejamento Energético – PPE/COPPE – UFRJ .Fone:
3938-9972 Email: [email protected]
1. Introdução
A utilização de recursos florestais como fonte de energia é tão antiga quanto a
história da humanidade. Desde os primórdios da história da civilização, a vegetação se
constituiu como uma fonte energética, sendo utilizada em atividades domésticas e
posteriormente em atividades manufatureiras e industriais.
A mudança no uso do solo, uma das consequências provenientes de atividades
humanas voltadas ao uso de recursos naturais energéticos, como carvão, lenha, petróleo,
além de explorações florestais, causaram modificações na paisagem, com consequente
aumento das emissões de GEE na atmosfera, principalmente de dióxido de carbono (CO2)
(Cerri & Cerri, 2007). Adicionalmente, as emissões antrópicas de CO2, metano (CH4) e
outros gases do efeito estufa (GEE) suscitam questões que recebem crescente atenção da
comunidade internacional, devido à sua participação nas mudanças climáticas globais
(Carvalho et al., 2010).
IPCC (2013) constata ter havido um decréscimo global nas emissões de CO2
devido às mudanças de uso da terra (principalmente desflorestamento): entre 1980 e 1989,
este setor respondia por 20% das emissões mundiais de CO2; entre 2002-2011, a
participação foi reduzida a menos de 10%. Em larga medida, isto se deve ao esforço do
Brasil: estimativas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação indicam uma redução
de 85,1% nas emissões de CO2e do setor florestal brasileiro, entre 2005 (1,18 Mt CO2e)
e 2012 (0,17 Mt CO2e). A redução do desmatamento da Amazônia foi preponderante no
período, mas o fenômeno foi observado em todos os biomas.
Esta tendência de redução ocorre num contexto desfavorável: em geral, os biomas
brasileiros se mostram muito vulneráveis às pressões antrópicas, ainda que as 1940
Unidades de Conservação existentes ocupem atualmente 17 % do território nacional, com
área total de 1.411.834 km² (MMA, 2015a). Embora seja o quarto colocado mundial em
área protegida, ficando atrás somente dos Estados Unidos (2.607.132 km²), Rússia
(1.551.196 km²) e China (1.452.693 km²) (MMA, 2011a), o Brasil apresenta nos biomas
Caatinga e Cerrado, a sua maior vulnerabilidade.
De acordo com INPE (2015), a Caatinga é um bioma endêmico do Brasil,
ocupando a região semiárida mais biodiversa e mais densamente povoada do planeta,
abrigando cerca de 23,8 milhões de habitantes. Ocupando cerca de 844 mil km² (9,92%
do território nacional), este bioma se estende por dez estados brasileiros: Ceará (100% do
território), Rio Grande do Norte (95%), Pernambuco (83%), Paraíba (92%), Bahia (54%),
Piauí (63%), Alagoas (48%) e Sergipe (49%). Em menor escala, ocorre nos estados de
Minas Gerais (2%) e Maranhão (1%) (IBGE, 2004).
Resultados preliminares do monitoramento por satélite da Caatinga, cobrindo 90
mil km2, revelam 40% de Caatinga Preservada, 45% de Caatinga Degradada, 7,2% de
Solo Exposto, 6,5% de lavoura e 0,7% de corpos d’água (INPE, 2015).
A mudança no uso do solo atrelada ao uso de energéticos florestais, como a
exploração de lenha e carvão vegetal, é apontada como uma das principais forças motrizes
para o desmatamento na região da Caatinga. Há uma gama de atividades na região que
obtêm indiscriminadamente da floresta sua principal fonte de energia, a saber, lenha, por
meio da extração ilegal de madeira. Tais atividades abrangem iniciativas tanto para suprir
o uso doméstico, como atender às pequenas indústrias e comércio (queijeiras,
panificadoras, restaurantes e casas de farinha), como também atividades que utilizam a
lenha para suprir a energia necessária à secagem de grãos, fumos e frutos, além de
abastecer indústrias que possam estar fora dos seus limites geográficos, como as de ferrogusa, cimento, gesso, cal, cerâmicas, têxteis, tijolos, alimentos, entre outras (Silva, 2008;
MMA, 2004; MMA, 2011b).
A região também conta com um rebanho de 31,2 milhões de cabeças, sendo que
53% são bovinos. Desta forma, o superpastoreio é uma das principais causas da
degradação da cobertura vegetal (INPE, 2015). Não à toa, as duas citadas atividades são
as principais fontes de emissão de CO2 no bioma Caatinga (MMA, 2011b).
Mesmo assim, o bioma Caatinga, responsável por 3,6% das emissões totais do
setor, apresenta cenário de queda, conforme a figura 1 (MCTI, 2014). Em 2012, último
ano avaliado, as emissões brutas da Caatinga foram de 13,98 Mt CO2, ao passo que as
remoções (crescimento da vegetação, com a consequente transformação de CO2 em
carbono fixado) provenientes deste bioma foram estimadas 8,78 Mt CO2, resultando num
saldo líquido de emissões de 5,2 Mt CO2. As emissões de CH4 estimadas para o bioma
em 2010 foram de 24.000 t CO2. As emissões de N2O foram nulas.
Figura 1: Emissões Líquidas da Caatinga (Estimativa).
Fonte: MCTI - Estimativas anuais de emissões de gases de efeito estufa no Brasil (2014).
Entretanto, destaca-se que a Caatinga apresenta obstáculos mais complexos para
o combate ao desmatamento que os demais biomas, por apresentar um quadro mais
susceptível à desertificação, dado que 62% das áreas susceptíveis à desertificação do país
estão contidas nas delimitações geográficas do bioma (MMA, 2011b). Além de ser o mais
frágil e menos pesquisado bioma do país (IHU, 2012; Silva, 2008), enfrenta sérios riscos,
por permanecer um dos biomas nacionais menos protegidos, com menos de 1,5% de sua
área abrangida por unidades de proteção integral (como Parques, Reservas Biológicas e
Estações Ecológicas), que são as mais restritivas à intervenção humana (MMA, 2015b).
De fato, o agravamento da desertificação projetada por IPCC (2013), leva a
Caatinga a ser considerada como “o bioma brasileiro mais vulnerável às mudanças
climáticas”, ao se reduzir as áreas aptas às atividades agropecuárias, bem como a
capacidade de manutenção de serviços ecossistêmicos, com consequências severas
também sobre a disponibilidade e qualidade de recursos hídricos na região (BNB, 2012).
Especificamente, o estado do Rio Grande do Norte, onde a Caatinga ocupa 95%
do território, possuía, em 2004, 24,7 mil km² (46,6% do estado), com cobertura vegetal
nativa (MMA, 2004; Giulietti et al., s/d). Segundo INPE (2015), dados mais recentes de
desmatamento deverão estar disponíveis no final de 2015. Dados preliminares indicam a
predominância de Caatinga preservada no estado, mas cabe frisar que o monitoramento
se restringiu à região oeste do RN.
Dos 167 municípios do estado do RN, 158 (95%) encontram-se em áreas
susceptíveis à desertificação (MMA, 2005). Assim, o modo predatório como tem sido
realizada a extração de madeira nativa para fins energéticos na região tem contribuído
significativamente para o processo de desertificação no estado (Silva, 2008). Segundo
dados do Projeto Caatinga Viva (EMBRAPA), o estado exibe uma forte dependência
socioeconômica do recurso florestal, mais forte em locais com parques industriais
cerâmicos. Esse energético florestal, geralmente extraído de mata nativa, abastece de
energia 35% do parque industrial estadual e representa sua segunda maior fonte de
energia, com uma participação de 30% da matriz energética potiguar (EMBRAPA, s/d).
O desmatamento da Caatinga a partir de técnicas rudimentares e, por vezes, pouco
conscientes ambientalmente, tem colocado em risco a biodiversidade do bioma e a
sobrevivência de camadas da população que dependem exclusivamente do potencial de
seus recursos naturais para a sobrevivência. Particularmente, existe um quadro de forte
dependência social e econômica em relação ao recurso florestal nas microrregiões do
Seridó e Baixo-Açu, que possuem parques industriais cerâmicos.
Neste sentido, torna-se necessário o desenvolvimento de ações que auxiliem a
redução das emissões oriundas das atividades antrópicas neste bioma, tais como o
desmatamento e queima de madeira ilegal, entre outras (MCT, 2010; Cerri & Cerri, 2007).
Assim, a substituição do uso da lenha como fonte energética se apresenta como uma das
ações fundamentais para tal fim.
A densificação da biomassa é um processo utilizado para tornar resíduos de
biomassa em combustível para modernas aplicações industriais e residenciais. Insumos
normalmente empregados incluem pó de serra, cavacos de madeira, cascas de arroz,
bagaço de cana e gramíneas altas (Rosillo-Calle, 2007). A biomassa densificada pode ser
dividida em duas categorias principais (LIPPEL, 2015):

Pellets – peças de biomassa comprimida em formato cilíndrico,
geralmente com diâmetro entre 6 mm e 16 mm. Demanda processo de
extrusão mais exigente e seleção mais rigorosa de resíduos utilizados.

Briquetes – peças em qualquer formato, geralmente com diâmetro a partir
de 50 mm. O tamanho final varia de acordo com o equipamento utilizado
na compactação, mas idealmente se situa entre 70 e 100 mm de diâmetro
e 250 mm a 400 mm de comprimento.
No processo de briquetagem, os resíduos são compactados a elevadas pressões
(200 Mpa), provocando um incremento térmico da ordem de 100 a 150 ºC. Este aumento
provoca a “plastificação” da lignina, substância presente nos materiais vegetais e que atua
como um aglomerante entre as partículas (LIPPEL, 2015). Especificamente, testes
testemunhados pelos autores indicam que não há necessidade de utilizar um material
aglomerante, como resinas e ceras, na compactação de resíduos de coco.
Para a compactação, é necessária uma quantidade de água entre 8% e 15%, e as
partículas devem ter um tamanho entre 5 mm e 10 mm, para facilitar a adesão durante a
prensagem. Segundo Quirino (1991), existem três tipos de prensas (prensa extrusora de
pistão mecânico, prensa extrusora de rosca sem fim e prensa hidráulica) utilizadas na
compactação de resíduos. Do silo de armazenagem (aéreo ou subterrâneo) os resíduos são
transferidos para um dosador e então briquetados na forma cilíndrica.
No geral, briquetes vegetais possuem elevado poder calorífico (PCI em torno de
4.800 kcal/kg - 20,1 MJ/kg), cerca de três vezes maior que a lenha, devido à maior
densidade (1.000 a 1.300 kg/m ) e menor teor de umidade (7 a 12%) (EMBRAPA, s/d).
Do ponto de vista volumétrico, Quirino (1991) afirma que 1 m3 de briquetes contém pelo
menos cinco vezes mais energia do que o mesmo volume de lenha, viabilizando seu
comércio em grandes distâncias.
De fato, segundo REN21 (2015), em 2014, houve um comércio global de 7,1
milhões de toneladas (Mt) de pellets e briquetes, volume 10% maior do que no ano
anterior. Exportações dos EUA e Canadá para a União Europeia representaram 72% do
fluxo total, indicando a economicidade no comércio de longa distância destas densas
fontes de biomassa.
Além das vantagens logísticas relacionadas ao transporte e armazenamento, a
produção de briquetes pode contribuir para a redução de emissões de GEE, quando
produzidos a partir de resíduos e em substituição à lenha oriunda de desmatamento
(considerando a não regeneração da vegetação original). Por fim, existe tendência
inevitável de se obter lenha nativa a distâncias crescentes, uma vez que sua exploração
não sustentável exige um deslocamento cada vez maior por parte de seus fornecedores
(EMBRAPA, s/d).
Como potencial insumo de briquetes, destaca-se a elevada geração de resíduos de
coco no estado do RN, um dos principais produtores de coco do país, bem como grande
polo turístico, receptor de elevada demanda por este produto. As cascas de coco,
atualmente inutilizadas, poderiam constituir matéria prima para a produção de briquetes
vegetais, com posterior emprego energético em atividades que atualmente demandam
lenha em seu processo produtivo.
Em Natal, capital e principal cidade do estado, as cascas de coco são direcionadas
ao aterro sanitário de sua região metropolitana, onde se decompõem e se tornam fonte de
emissões de CH4, devido ao processo de decomposição anaeróbica de resíduos orgânicos
em aterros sanitários. Destaca-se que o referido aterro não possui, até o presente
momento, estrutura instalada com drenos de gases voltados à captação de biogás, seja
para queima em flare ou para posterior geração de energia elétrica.
O uso do briquete vegetal no estado do RN constitui potencial oportunidade para
alterações na matriz energética estadual, gerando emprego e renda para a população local;
ao mesmo tempo, oferece às indústrias e residências uma alternativa à lenha como
combustível convencional. A redução das emissões de GEE é provida pela substituição
da lenha, além das emissões evitadas provenientes dos resíduos de coco destinados ao
aterro sanitário da região. Dado o exposto, o objetivo deste trabalho é de estimar as
emissões de CO2 evitadas a partir da substituição da lenha nativa por briquetes vegetais,
como fonte de energia para o bioma Caatinga e, em particular, o estado do RN.
2. Metodologia
A briquetagem consiste em um processo de compactação do material vegetal,
concentrando a energia da biomassa e aumentando sua eficiência de queima, podendo
superar a densidade energética da lenha em até três vezes (Quirino & Brito, 1991). Por
esse motivo, são chamados de lenha ou carvão ecológico e, de acordo com Rodrigues et
al. (2002), o uso de briquetes apresenta tanto vantagens logísticas quanto energéticas,
devido às dimensões uniformes, alta densidade, baixa umidade e alto poder calorífico
inferior (PCI) da biomassa. Segundo Gentil (2008), a lenha possui PCI médio de 2.200
Kcal/Kg, considerando 30% de umidade (refletindo a natureza seca do semiárido) ao
passo que o briquete possui PCI de 4.065 Kcal/Kg, com 12% de umidade. Para fins
comparativos, estes dados foram adotados por este trabalho.
A partir do PCI médio da lenha e da produtividade na extração de lenha nativa
(kg/ha) na Caatinga, foi calculada a quantidade de energia passível de extração por
hectare, em kcal/ha. A seguir, foi calculada a massa (t) de briquetes que corresponde ao
montante de energia encontrado para a lenha (em 1 ha).
Em princípio, apresentam-se duas alternativas de cálculo de remoção de
carbono (t C/ha) na retirada de lenha:

Calcular o carbono fixo da lenha removida em cada hectare de vegetação
desmatada, com posterior conversão para CO2.

Calcular as emissões líquidas de CO2 por hectare de Caatinga, conforme MCTI
(2014). Considera-se aqui um amplo conjunto de tipologias nas mudanças de uso
da terra e o saldo líquido dos mesmos, considerando os dados de desmatamento
bruto, obtidos por meio do “Projeto de Monitoramento do Desmatamento dos
Biomas Brasileiros por Satélite”.
Neste trabalho, optou-se pela segunda alternativa, pois esta considera emissões indiretas
(raízes, folhas, carbono no solo), além da remoção resultante do crescimento da vegetação
remanescente. Com isso, é possível estimar quanto a queima de uma tonelada de briquetes
vegetais poderia evitar em termos de emissões de CO2, em detrimento à queima convencional de
lenha nativa.
Por fim, foram estimadas as emissões evitadas e a área de mata nativa preservada no
estado do RN a partir da substituição da lenha nativa convencional por briquetes vegetais
produzidos a partir de resíduos de coco verde gerados na região metropolitana de Natal, que
atualmente são destinados ao Aterro Sanitário de Ceará-Mirim.
Cabe observar que, para uma estimativa de balanço de emissões de GEE mais acurada,
foram consideradas as emissões de CO2 no uso de energia elétrica utilizada nos sistemas de
processamento de biomassa para conversão em briquetes. Segundo BIOMAX (2015), para
conversão de cascas de coco verde em briquetes, são necessários picadores, secadores e a
briquetadeira.
3. Resultados e Discussão
Segundo Jacomine (1996), são retiradas entre 20 – 30 t/ha de lenha na Caatinga,
em estágio de sucessão vegetal arbustiva-arbórea. Para efeitos de estimativas, foi
considerada a média ponderada deste resultado, admitindo-se o valor de 25 t/ha de lenha,
corroborando com dados sobre o volume de lenha por hectare (48,39 m³/ha) encontrado
por Alvarez et al. (2011). Ou seja, estima-se que cada tonelada de lenha na catinga
apresente um volume aproximado de 0,5 m3.
Multiplicando-se a produtividade da lenha por seu PCI (25 t/ha x 2.200 Kcal/Kg),
estima-se que a oferta de energia a partir da lenha nativa da Caatinga seja de 55 Gcal/ha.
Considerando o PCI do briquete vegetal (4.065 Kcal/Kg), verifica-se que são necessárias
13,5 t deste biocombustível para se evitar a exploração de cada hectare de lenha nativa da
Caatinga, em base energética.
Segundo MCTI (2014), foram desmatados 192,1 mil hectares de Caatinga, entre
os anos 2011 e 2012, resultando em emissões líquidas de 5,2 Mt CO2, ou seja, 27,1
tCO2/ha. Desta forma, estima-se que, para cada tonelada de briquete ofertada para
substituir o uso da lenha nativa da Caatinga como energético, deixariam de ser emitidas
2,01 tCO2, caso a biomassa utilizada para a sua produção tivessem origem renovável (p.
ex., resíduos de coco).
Dada a expressiva representatividade do bioma Caatinga no estado do RN, a
substituição do uso da lenha por briquetes vegetais pode ser ainda mais determinante para
a redução do desmatamento ilegal e da desertificação, além de melhorar a conservação
dos serviços ambientais no território potiguar. Visando exemplificar esta substituição,
foram utilizados os dados de Lopes (2005), que calculou a quantidade de resíduos de coco
gerados no “Polo Turístico Costa das Dunas - PTCD”, no estado do RN, com
possibilidades para reciclagem. Foi estimado que estariam disponíveis cerca de 70 t/dia
(25,5 mil t/ano) de resíduos de coco na região do PTCD, onde a produção de briquetes
foi uma das opções de beneficiamento identificada para resíduos de coco (Lopes, 2005).
De acordo com Aragão et al. (2007) apud Martins e Alves (2011), da quantidade
total de resíduos, apenas a massa seca (30%) serve como matéria prima para a
briquetagem. Dessa maneira, descontados os percentuais de aproveitamento do resíduo e
de umidade da biomassa, poderiam ser disponibilizadas para briquetagem,
aproximadamente 21 t/dia de resíduo de coco, o que representa uma oferta de 7,6 mil
t/ano de briquetes de coco.
A oferta energética de 7,6 mil t/ano de briquetes equivale a uma área total
potencial de 568 ha de vegetação da Caatinga que poderia ser anualmente poupada. A não
derrubada desta área evitaria ainda a emissão de aproximadamente 15,39 mil tCO2/ano
no estado do Rio Grande do Norte.
Considerando o maquinário com porte necessário para processar a totalidade dos
resíduos de coco gerados diariamente no PTCD, além das dimensões dos ditos resíduos,
verifica-se que um sistema elétrico que converta resíduos de biomassa em 1 t de briquete
demanda a seguinte energia (BIOMAX, 2015): i) picador: 8,8 kWh; secador: 13 kWh;
briquetadeira: 36,8 kWh. Total: 58,6 kWh / t briquete produzido. Este valor está em
acordo com Nogueira e Lora (2003), Mande (2009) e LIPPEL (2015).
Segundo MCTI (2015), o fator de emissão calculado pelo despacho de energia
elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN) em 2014 foi 0,1355 tCO2/MWh. Ou seja,
as emissões associadas à energia consumida no processo de produção de briquete
equivalem a 0,008 tCO2/ t briquete. Logo, a produção de 7,6 mil t/ano de briquetes, em
2014, acarretaria na emissão de 60,35 t CO2, por conta do uso de eletricidade no processo
produtivo.
Cabe frisar que, entre os anos 2009 e 2012, o fator calculado para emissão do SIN
foi menos de 50% daquele observado no ano de 2014, quando as usinas termelétricas
foram continuamente acionadas, por conta da estiagem prolongada observada em boa
parte do território nacional (MCTI, 2015)
Segundo EPA (2010), considera-se que aproximadamente 50% do carbono
orgânico degradado em aterros sanitários são convertidos em CH4 e os demais 50% em
CO2. Assim, considerando 70% de teor de umidade e 50% de teor de C na massa seca das
cascas de coco, a destinação de 25,5 mil t/ano destes ao Aterro Sanitário de Ceará-Mirim
promoveria a produção de 2550 t de CH4. Do ponto de vista de potencial global de
aquecimento da atmosfera, isto equivale a 53.550 t CO2e (considerando GWP CH4 =21).
Em suma, a conversão dos resíduos de cocos gerados no PTCD Natal em
briquetes, poderia promover a redução de 15.393 tCO2/ano, por conta do desmatamento
de Caatinga evitado. Adicionalmente, as emissões evitadas pelo não destino das cascas
de coco ao aterro sanitário somariam 53.550 t CO2e. Por fim, a produção das 7,6 mil
toneladas de briquetes produzidos com os referidos resíduos demandaria energia elétrica
(58,6 KWh/t de briquete), que como resultado, emitiria 60 t CO2, tendo como referência
o ano de 2014. No total, a remoção líquida de 68.883 tCO2e poderia ser obtida com tal
ação no estado do Rio Grande do Norte.
4. Conclusão
O briquete vegetal se apresenta como excelente substituto da lenha,
proporcionando maior eficiência energética e densidade, fazendo com que a demanda
energética, em peso, se torne menor (Rodrigues et al., 2002).
O estado do RN apresenta forte dependência da lenha como fonte de energia. Esta
representou, em 2005, 35% da energia ofertada para as indústrias e 30% da matriz
energética do estado (EMBRAPA, s/d). Por este fato, a utilização de briquetes como
substitutos à lenha como energético na Caatinga apresenta certa viabilidade ao se
considerar as emissões evitadas.
Considerando apenas a geração de resíduos de coco no Polo Turístico Costa das
Dunas – PTCD, as 7,6 mil t de briquetes produzidas poderiam preservar mais de 560 ha
de Caatinga/ano, evitando a emissão de aproximadamente 15,4 ktCO2/ano por meio da
manutenção de sua vegetação nativa. Destaca-se que as mudanças indiretas no uso do
solo não foram contabilizadas por este trabalho, sendo tema de pesquisas futuras.
Ao considerar a redução de 53.550 t CO2e emitidas por resíduos de coco
destinados ao Aterro Sanitário da Região Metropolitana de Natal, não foram
contabilizadas ainda as emissões provenientes da queima de combustíveis fósseis que
deixariam de ser utilizados para a coleta destes resíduos dispersos. Ainda, também não
foram contabilizadas as emissões necessárias ao transporte dos briquetes para regiões
consumidoras, sendo esta considerada como um valor aproximado às emissões geradas
atualmente durante a coleta dos resíduos de coco. Adicionalmente, destaca-se o aumento
da capacidade em receber resíduos e a extensão da vida útil do Aterro Sanitário de CearáMirim, visto que as 22,5 mil toneladas de resíduos de coco deixariam de ser destinadas
no local.
Somadas, as emissões evitadas contabilizam aproximadamente 68,9 ktCO2e/ano,
o que pode representar avanços quanto aos objetivos nacionais para o combate às
mudanças climáticas e à desertificação de regiões semiáridas. Além disso, medidas de
incentivo e fomento à utilização da biomassa como fonte energética são fundamentais à
diversificação da matriz energética nacional, principalmente em regiões com elevada
dependência de energéticos primários como a lenha, como o estado do RN.
Uma vez instalada, a usina de briquetagem pode apresentar outras vantagens que
podem tornar o empreendimento ainda mais atrativo, sendo possível utilizar outras formas
de biomassa para a produção de briquetes vegetais, como o bagaço de cana, resíduos de
serragem, entre outros resíduos agroflorestais (Silveira, 2008).
Segundo Mande (2009), a matéria prima compõe 57,1% dos custos de fabricação
de briquetes (sistema com capacidade de 1 t/hora), cabendo à energia elétrica (24,7%),
custos de capital (9,7%), custos operacionais (4,4%) e reparo e manutenção (4,1%) os
demais custos. Estas estimativas foram efetuadas para o mercado da Índia, daí se faz
necessário um estudo específico para a realidade brasileira. Embora Quirino (1991)
apresente alguns elementos para análise, utilizando índice de equivalência ao óleo
combustível para efeitos comparativos, a atualização dos custos de produção de briquetes
vegetais irá determinar a viabilidade para este mercado energético.
De toda forma, existe clara indicação de que o uso de biomassa residual, de valor
econômico irrisório, possibilita a produção de briquetes em caráter competitivo. Ao
agregar valor a um resíduo, o aproveitamento da biomassa pode gerar emprego e renda
local, além de combater a extração ilegal de madeira, contribuindo para a preservação
deste frágil bioma e garantindo a manutenção de serviços ambientais ofertados pela
Caatinga.
5. Referências Bibliográficas
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Emissões de CO2 evitadas na caatinga do estado do Rio Grande do