Resumo: No decorrer da obra filosófica de Bergson, o misticismo aparece e vai adquirindo várias cores e tonalidades até ser pintado por completo em seu último livro. A importância do misticismo para a Filosofia reside no fato de que os místicos não pensam em termos de superação de obstáculos. Para os místicos, os obstáculos simplesmente não existem. Em seu primeiro trabalho, Bergson faz uma crítica à Filosofia onde não se arrisca a sair do terreno estritamente filosófico. Assim, afora esta estreia na Filosofia, em apenas um livro Bergson passa longe do misticismo – pois o misticismo é verdadeiramente como uma sombra de alguma coisa da qual ele vai tratando até não poder mais evitar que ela se revele inteiramente e por si própria. Bergson fala da sua “duração” já na sua segunda obra, e de um modo que não deixa dúvidas quanto ao fato de que o misticismo em breve surgirá em sua filosofia – se é que já não surge com a própria “duração”, pois tal “duração” é também “memória” e “impulso” ou “elã vital”. Além do quê, esta “duração” só pode ser encontrada pela “intuição”, e nunca pela “inteligência”. Há um caminho muito sutil e movente – e que não é o “espaço” – através do qual a “intuição” encontra a “duração”. Tal caminho é o que Bergson chama de “extensivo”. Entretanto, em As duas fontes da moral e da religião, Bergson, ao invés de fazer uso de suas já tradicionais noções há pouco citadas aqui, e tão carregadas de conteúdo místico, praticamente as abandona ao fazer o uso – e sem a menor cerimônia – do próprio linguajar da misticidade plenamente assumida. Assim, ele fala da “vontade de Deus” e do ganho que o “místico completo” adquire ao se unir com Deus – ainda em vida, é claro – e perdendo sua própria “vontade”. O “místico completo” de Bergson possui a mesma “vontade” que Deus, entretanto, o que diferencia este místico do “místico incompleto” é que ele não só é êxtase, mas ação que não conhece obstáculos.