Psicologia Social e Identidade Humana:
a militância social como luta emancipatória
A militância social como luta emancipatória
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©2014 Fernando César Paulino-Pereira
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permissão da editora e/ou autor.
P328 Paulino-Pereira, Fernando César.
Psicologia Social e Identidade Humana: A militância social como luta
emancipatória/Fernando César Paulino-Pereira. Jundiaí, Paco Editorial:
2014.
176 p. Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-8148-638-3
1. Psicologia Social 2. Emancipação religiosa 3. Militância social 4. Psicologia
I. Paulino-Pereira, Fernando César.
CDD: 150
Índices para catálogo sistemático:
Psicologia religiosa
Instituições religiosas
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Foi feito Depósito Legal
200.19
306.6
Nilza Paulino da Silva
(minha mãe)
Maximiliano e Maria Fernanda
(meus filhos)
Sumário
Apresentação
11
Introdução
17
Capítulo 1
Um Olhar da Psicologia sobre Experiência
Religiosa e Teologia da Libertação
1. Psicologia e experiência religiosa
1.1. William James
1.2. Antônio da Costa Ciampa
1.3. Jürgen Habermas
23
24
26
28
2. Teologia e libertação na América Latina
2.1. O processo de libertação e a
construção de uma identidade latinoamerica
2.2. Habermas e a Teologia
34
40
44
Capítulo 2
Ampliando a Discussão sobre a Teoria
da Identidade e Emancipação Humana
1. Identidade: categoria psico-sócio-histórica
50
2. Identidade coletiva: sentido
de continuidade aos indivíduos
58
3. Identidade política e política de identidade
65
Capítulo 3
Encontrando um Sentido Emancipatório
na Experiência Religiosa e na Militância de Anita
1. Anita-mulher-de-fé
71
2. Anita-advogada-militante
75
3. Anita-mulher-mãe-de-família
84
Conclusão parcial
87
Capítulo 4
Encontrando um Sentido Emancipatório na
Experiência Religiosa e na Militância de Luiz Carlos
1. “Luiz Carlos-filho” e a fé na família
89
2. Luiz Carlos e a Teologia da Libertação
93
3. “Luiz Carlos-militante” e a fé progressista
102
Conclusão parcial
110
Capítulo 5
Encontrando um Sentido Emancipatório na
Experiência Religiosa e na Militância de Maria Olga
1. Maria Olga: família e vocação
111
2. “Maria Olga-convertida-à-fé-progressista”
117
3. “Maria Olga-em-crise” e a Igreja Metodista
120
4. “Maria Olga-teóloga-militante”
123
Conclusão parcial
130
Capítulo 6
Encontrando um Sentido Emancipatório na
Experiência Religiosa e na Militância de Ernesto
1. Ernesto, infância e família
131
2. A conversão de Ernesto aos empobrecidos de Belém
135
3. “Ernesto-estudande-de-Teologia”
139
4. Cuba e a Teologia da Libertação
146
5. “Ernesto-educador-sociólogo”
149
6. Ernesto livre da igreja: uma nova identidade
151
Conclusão parcial
154
Conclusão
157
Referências
169
Apresentação
A leitura desta obra de autoria do psicólogo social Fernando
César Paulino-Pereira leva-nos a muitas conclusões, a principal
delas que religião é um tema tão importante que, por isso, não
deve ser deixado apenas aos cuidados de teólogos. Psicólogos,
por exemplo, podem contribuir para estudos e pesquisas, de
modo significativo, como fez este autor em seu trabalho.
Questões muito bem discutidas por Paulino-Pereira certamente devem ser examinadas também por filósofos, juristas,
cientistas em geral, ou melhor – e dizendo de forma diferente
– crentes e não crentes, isto é, todos precisam discutir entre si
questões relevantes que envolvem religião.
O autor, para organizar a discussão envolvendo religião e psicologia, distingue inicialmente (a) Teologia tradicional, que centra seus esforços na salvação individual da pessoa (que tem uma
experiência religiosa) e (b) Teologia da Libertação que parte de
uma experiência religiosa que toma a forma de uma ação política e se propõe como tarefa a transformação social. De outro
lado, distingue (c) uma Psicologia que entende a experiência religiosa como alienação (com valor negativo), generalizando isso a
qualquer experiência mística e (d) uma outra Psicologia em que a
experiência religiosa é associada à Teoria da Libertação e é assim
apresentada: “O presente estudo propõe-se a enveredar por um
caminho em que a experiência religiosa é entendida como um
marco fundante de uma reestruturação de vida e valores, em que
‘há uma mudança no quadro de referência ou reestruturação do
material biográfico experiencial’.”
Assumindo (b) e (d) e também assumindo a exigência de
uma sociedade realmente democrática, o autor evidencia que
se tem que garantir, na esfera particular, a liberdade religiosa de
cada um, como individuo, ao mesmo tempo em que se garante,
na esfera pública, a liberdade política de cada um, como cidadão.
11
Fernando César Paulino-Pereira
Como bem mostra o autor na pesquisa que realizou, “a experiência religiosa torna-se elemento fundamental da constituição
identitária do sujeito”. As políticas de identidade exercidas por
instituições e organizações religiosas, quando hegemônicas, podem exercer um grande poder sobre indivíduos e coletividades,
por vezes de forma sutil e dissimulada.
Para ilustrar essa questão da hegemonia vou me permitir dar
um exemplo de grande abrangência e, por isso, difícil de visualizar no contexto de apenas um grupo religioso, neste caso onde
foi feita esta pesquisa. Vamos então exemplificar algo mundial,
afirmando o ano em que estamos. Estamos no ano 2014, certo?
Contudo, em vez de falar de 2014, eu poderia afirmar que estamos no ano 1392. Também poderia dizer que o ano é 5774. Ou
ainda que é 4650.
Como assim? Alguns leitores, provavelmente esperariam
uma explicação, para continuar sua leitura. A final, em que ano
estamos? Pode ser qualquer um dos quatro, além de outros eventuais, desde que fique claro a que calendário estamos nos referindo, como muitos já podem ter percebido.
Assim, a primeira data obviamente se refere ao calendário
cristão, segundo o qual estamos no ano 2014 d.C.; o segundo
exemplo de calendário refere-se ao muçulmano, cujo começo é
na hégira, a fuga de Maomé de Meca para Medina, ocorrida em
20 de setembro de 622 d.C., que marca o ano inicial do calendário
islâmico, segundo o qual estamos no ano 1392 d.h.; a terceira data
refere-se ao calendário judaico, que tem 3.760 anos mais do que
o cristão; a quarta se refere ao calendário chinês que tem aproximadamente 2.636 anos mais do que o cristão.
Isto pode nos fazer pensar em pelo menos dois pontos.
Um a abrangência e a diversidade de definições da realidade, ou
melhor, das convenções que pretendem normatizar a realidade.
Outro a hegemonia conquistada pelo cristianismo ao longo do
tempo, já que cada vez mais se generaliza ou se globaliza o calendário cristão. Para todos os efeitos, vivemos no inicio do terceiro
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Psicologia Social e Identidade Humana: a militância social como luta emancipatória
milênio, a despeito de isso poder nada significar para muçulmanos, judeus e chineses, além de outros.
Essas considerações ajudam reconhecer como a hegemonia
do cristianismo relaciona-se com determinados interesses que
certamente se pretende preservar. Na pesquisa de Paulino-Pereira, torna-se possível compreender o contexto em que se deu
a difusão e a posterior repressão de movimentos sociais orientados pela Teologia da Libertação no Brasil, nas ultimas décadas.
Isto se deu tanto na Igreja Católica como em igrejas protestantes, sendo que nesta obra se focalizou a Igreja Metodista, para a
realização dessa pesquisa, por Fernando César Paulino-Pereira,
Ph.D. em Psicologia Social, que tive a oportunidade de acompanhar em seu doutorado na PUCSP.
A pesquisa se propôs discutir experiência religiosa e emancipação focalizando três eixos: 1) Compreender a experiência religiosa como movimento que contribui para formação e/ou transformação da identidade humana, com sentido de emancipação
(ou não); 2) Estudar o permanente processo de metamorfose da
identidade, os papéis assumidos pelo sujeito dentro dos movimentos sociais e da sociedade em geral, bem como as personagens encarnadas por ele; 3) Elaborar fundamentação científico-psicológica para a práxis do psicólogo social, visando à superação
de preconceitos e abordagens reducionistas sobre a experiência
religiosa, de forma a verificar se e como essa experiência pode ter
sentido emancipatório na história de vida do sujeito.
Talvez mais relevante do que analisar uma hegemonia religiosa (no caso do cristianismo), no momento, talvez seja importante considerar a acirrada disputa entre diferentes “ortodoxias
religiosas” por essa hegemonia. A mídia imprensa e falada quase
diariamente noticia conflitos entre muçulmanos e cristãos, entre
judeus e palestinos, de grupos islâmicos entre si etc.
A pesquisa de Paulino-Pereira, ainda que não se refira a conflitos entre “ortodoxias religiosas”, refere-se a conflitos dentro
da própria igreja, pois considera o contexto em que se deu ini13
Fernando César Paulino-Pereira
cialmente a difusão e posteriormente a repressão de movimentos sociais orientados pela Teologia da Libertação, sugerindo que
isso pode ser comparado a uma forma de fundamentalismo, se
considerarmos que o fundamentalista acredita – e sua fé exige
que outros acreditem – que é dele a última palavra
Quanto mais fundamentalista for um grupo religioso, maior
a probabilidade de disputas para ser o portador da voz divina, ou
seja, o fundamentalista sempre quer ter a ultima palavra. Isto é
muito provável numa orientação de Teologia tradicional e pouco
provável numa orientação de Teologia da Libertação, que dialoga com o marxismo. Isto pode ser confirmado nos estudos de
caso apresentados na pesquisa,
Assim, na medida em que o ateísmo também é uma experiência religiosa, há uma prescrição da parte de ateus que defendem a ideia de que devemos preservar a noção de uma igualdade
universal dos seres humanos Por isso, a noção de um criador
exige que seu lugar (ainda que vazio para o ateu) nunca seja ocupado por qualquer criatura.
O diálogo da Teologia da Libertação com o marxismo, também
permitiu analisar o que Habermas chama de “colonização do mundo
da vida”, ou a “religião do mercado” nas palavras de outros autores,
em que a própria vida é posta a serviço dos interesses sistêmicos”,
decorrendo isso da inversão de meios (ordem sistêmica) que se tornam fins e de fins (mundo da vida) que se tornam meios, configurando a forma mais perversa e sofisticada de colonialismo universal,
sem limites de territórios ou de etnias, que nos afeta a todos.
Como disse anteriormente, as questões discutidas nesta obra
de Paulino-Pereira certamente interessam a filósofos, juristas,
cientistas em geral, ou melhor, a crentes e não crentes. Os casos
estudados na pesquisa são apresentados com muita competência,
trazendo uma grande riqueza de dados, muito bem analisados.
Vou finalizar esta apresentação repetindo e endossando o
que o autor diz depois de analisar e apresentar os casos estudados nesta pesquisa:
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Psicologia Social e Identidade Humana: a militância social como luta emancipatória
Nesse processo de militância e da movimentação da identidade, enquanto metamorfose, em busca de emancipação,
percebemos que esses sujeitos concretizam identidades políticas ao se libertarem da burocracia da instituição religiosa caminhando rumo à individualização. Podemos afirmar
que ao se apropriarem e superarem políticas de identidade é
na individualização que desenvolvem suas identidades políticas e se tornam mais plenamente sujeitos políticos.
Só esta afirmação já mostraria a grande contribuição que esta
obra pode significar para aqueles que buscam a autonomia para
lutar pela igualdade e pela liberdade dentro de uma sociedade efetivamente democrática. Mas, há mais, pois a postura critica e a
determinação que se percebe ao longo da escrita desta obra, pode
ser traduzido por uma opção de “ceticismo não derrotista”.
Antonio da Costa Ciampa
PUC-SP
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