Psicologia Social e Identidade Humana: a militância social como luta emancipatória A militância social como luta emancipatória Conselho Editorial Av Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú – Jundiaí-SP – 13208-100 11 4521-6315 | 2449-0740 [email protected] Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt ©2014 Fernando César Paulino-Pereira Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. P328 Paulino-Pereira, Fernando César. Psicologia Social e Identidade Humana: A militância social como luta emancipatória/Fernando César Paulino-Pereira. Jundiaí, Paco Editorial: 2014. 176 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-8148-638-3 1. Psicologia Social 2. Emancipação religiosa 3. Militância social 4. Psicologia I. Paulino-Pereira, Fernando César. CDD: 150 Índices para catálogo sistemático: Psicologia religiosa Instituições religiosas IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal 200.19 306.6 Nilza Paulino da Silva (minha mãe) Maximiliano e Maria Fernanda (meus filhos) Sumário Apresentação 11 Introdução 17 Capítulo 1 Um Olhar da Psicologia sobre Experiência Religiosa e Teologia da Libertação 1. Psicologia e experiência religiosa 1.1. William James 1.2. Antônio da Costa Ciampa 1.3. Jürgen Habermas 23 24 26 28 2. Teologia e libertação na América Latina 2.1. O processo de libertação e a construção de uma identidade latinoamerica 2.2. Habermas e a Teologia 34 40 44 Capítulo 2 Ampliando a Discussão sobre a Teoria da Identidade e Emancipação Humana 1. Identidade: categoria psico-sócio-histórica 50 2. Identidade coletiva: sentido de continuidade aos indivíduos 58 3. Identidade política e política de identidade 65 Capítulo 3 Encontrando um Sentido Emancipatório na Experiência Religiosa e na Militância de Anita 1. Anita-mulher-de-fé 71 2. Anita-advogada-militante 75 3. Anita-mulher-mãe-de-família 84 Conclusão parcial 87 Capítulo 4 Encontrando um Sentido Emancipatório na Experiência Religiosa e na Militância de Luiz Carlos 1. “Luiz Carlos-filho” e a fé na família 89 2. Luiz Carlos e a Teologia da Libertação 93 3. “Luiz Carlos-militante” e a fé progressista 102 Conclusão parcial 110 Capítulo 5 Encontrando um Sentido Emancipatório na Experiência Religiosa e na Militância de Maria Olga 1. Maria Olga: família e vocação 111 2. “Maria Olga-convertida-à-fé-progressista” 117 3. “Maria Olga-em-crise” e a Igreja Metodista 120 4. “Maria Olga-teóloga-militante” 123 Conclusão parcial 130 Capítulo 6 Encontrando um Sentido Emancipatório na Experiência Religiosa e na Militância de Ernesto 1. Ernesto, infância e família 131 2. A conversão de Ernesto aos empobrecidos de Belém 135 3. “Ernesto-estudande-de-Teologia” 139 4. Cuba e a Teologia da Libertação 146 5. “Ernesto-educador-sociólogo” 149 6. Ernesto livre da igreja: uma nova identidade 151 Conclusão parcial 154 Conclusão 157 Referências 169 Apresentação A leitura desta obra de autoria do psicólogo social Fernando César Paulino-Pereira leva-nos a muitas conclusões, a principal delas que religião é um tema tão importante que, por isso, não deve ser deixado apenas aos cuidados de teólogos. Psicólogos, por exemplo, podem contribuir para estudos e pesquisas, de modo significativo, como fez este autor em seu trabalho. Questões muito bem discutidas por Paulino-Pereira certamente devem ser examinadas também por filósofos, juristas, cientistas em geral, ou melhor – e dizendo de forma diferente – crentes e não crentes, isto é, todos precisam discutir entre si questões relevantes que envolvem religião. O autor, para organizar a discussão envolvendo religião e psicologia, distingue inicialmente (a) Teologia tradicional, que centra seus esforços na salvação individual da pessoa (que tem uma experiência religiosa) e (b) Teologia da Libertação que parte de uma experiência religiosa que toma a forma de uma ação política e se propõe como tarefa a transformação social. De outro lado, distingue (c) uma Psicologia que entende a experiência religiosa como alienação (com valor negativo), generalizando isso a qualquer experiência mística e (d) uma outra Psicologia em que a experiência religiosa é associada à Teoria da Libertação e é assim apresentada: “O presente estudo propõe-se a enveredar por um caminho em que a experiência religiosa é entendida como um marco fundante de uma reestruturação de vida e valores, em que ‘há uma mudança no quadro de referência ou reestruturação do material biográfico experiencial’.” Assumindo (b) e (d) e também assumindo a exigência de uma sociedade realmente democrática, o autor evidencia que se tem que garantir, na esfera particular, a liberdade religiosa de cada um, como individuo, ao mesmo tempo em que se garante, na esfera pública, a liberdade política de cada um, como cidadão. 11 Fernando César Paulino-Pereira Como bem mostra o autor na pesquisa que realizou, “a experiência religiosa torna-se elemento fundamental da constituição identitária do sujeito”. As políticas de identidade exercidas por instituições e organizações religiosas, quando hegemônicas, podem exercer um grande poder sobre indivíduos e coletividades, por vezes de forma sutil e dissimulada. Para ilustrar essa questão da hegemonia vou me permitir dar um exemplo de grande abrangência e, por isso, difícil de visualizar no contexto de apenas um grupo religioso, neste caso onde foi feita esta pesquisa. Vamos então exemplificar algo mundial, afirmando o ano em que estamos. Estamos no ano 2014, certo? Contudo, em vez de falar de 2014, eu poderia afirmar que estamos no ano 1392. Também poderia dizer que o ano é 5774. Ou ainda que é 4650. Como assim? Alguns leitores, provavelmente esperariam uma explicação, para continuar sua leitura. A final, em que ano estamos? Pode ser qualquer um dos quatro, além de outros eventuais, desde que fique claro a que calendário estamos nos referindo, como muitos já podem ter percebido. Assim, a primeira data obviamente se refere ao calendário cristão, segundo o qual estamos no ano 2014 d.C.; o segundo exemplo de calendário refere-se ao muçulmano, cujo começo é na hégira, a fuga de Maomé de Meca para Medina, ocorrida em 20 de setembro de 622 d.C., que marca o ano inicial do calendário islâmico, segundo o qual estamos no ano 1392 d.h.; a terceira data refere-se ao calendário judaico, que tem 3.760 anos mais do que o cristão; a quarta se refere ao calendário chinês que tem aproximadamente 2.636 anos mais do que o cristão. Isto pode nos fazer pensar em pelo menos dois pontos. Um a abrangência e a diversidade de definições da realidade, ou melhor, das convenções que pretendem normatizar a realidade. Outro a hegemonia conquistada pelo cristianismo ao longo do tempo, já que cada vez mais se generaliza ou se globaliza o calendário cristão. Para todos os efeitos, vivemos no inicio do terceiro 12 Psicologia Social e Identidade Humana: a militância social como luta emancipatória milênio, a despeito de isso poder nada significar para muçulmanos, judeus e chineses, além de outros. Essas considerações ajudam reconhecer como a hegemonia do cristianismo relaciona-se com determinados interesses que certamente se pretende preservar. Na pesquisa de Paulino-Pereira, torna-se possível compreender o contexto em que se deu a difusão e a posterior repressão de movimentos sociais orientados pela Teologia da Libertação no Brasil, nas ultimas décadas. Isto se deu tanto na Igreja Católica como em igrejas protestantes, sendo que nesta obra se focalizou a Igreja Metodista, para a realização dessa pesquisa, por Fernando César Paulino-Pereira, Ph.D. em Psicologia Social, que tive a oportunidade de acompanhar em seu doutorado na PUCSP. A pesquisa se propôs discutir experiência religiosa e emancipação focalizando três eixos: 1) Compreender a experiência religiosa como movimento que contribui para formação e/ou transformação da identidade humana, com sentido de emancipação (ou não); 2) Estudar o permanente processo de metamorfose da identidade, os papéis assumidos pelo sujeito dentro dos movimentos sociais e da sociedade em geral, bem como as personagens encarnadas por ele; 3) Elaborar fundamentação científico-psicológica para a práxis do psicólogo social, visando à superação de preconceitos e abordagens reducionistas sobre a experiência religiosa, de forma a verificar se e como essa experiência pode ter sentido emancipatório na história de vida do sujeito. Talvez mais relevante do que analisar uma hegemonia religiosa (no caso do cristianismo), no momento, talvez seja importante considerar a acirrada disputa entre diferentes “ortodoxias religiosas” por essa hegemonia. A mídia imprensa e falada quase diariamente noticia conflitos entre muçulmanos e cristãos, entre judeus e palestinos, de grupos islâmicos entre si etc. A pesquisa de Paulino-Pereira, ainda que não se refira a conflitos entre “ortodoxias religiosas”, refere-se a conflitos dentro da própria igreja, pois considera o contexto em que se deu ini13 Fernando César Paulino-Pereira cialmente a difusão e posteriormente a repressão de movimentos sociais orientados pela Teologia da Libertação, sugerindo que isso pode ser comparado a uma forma de fundamentalismo, se considerarmos que o fundamentalista acredita – e sua fé exige que outros acreditem – que é dele a última palavra Quanto mais fundamentalista for um grupo religioso, maior a probabilidade de disputas para ser o portador da voz divina, ou seja, o fundamentalista sempre quer ter a ultima palavra. Isto é muito provável numa orientação de Teologia tradicional e pouco provável numa orientação de Teologia da Libertação, que dialoga com o marxismo. Isto pode ser confirmado nos estudos de caso apresentados na pesquisa, Assim, na medida em que o ateísmo também é uma experiência religiosa, há uma prescrição da parte de ateus que defendem a ideia de que devemos preservar a noção de uma igualdade universal dos seres humanos Por isso, a noção de um criador exige que seu lugar (ainda que vazio para o ateu) nunca seja ocupado por qualquer criatura. O diálogo da Teologia da Libertação com o marxismo, também permitiu analisar o que Habermas chama de “colonização do mundo da vida”, ou a “religião do mercado” nas palavras de outros autores, em que a própria vida é posta a serviço dos interesses sistêmicos”, decorrendo isso da inversão de meios (ordem sistêmica) que se tornam fins e de fins (mundo da vida) que se tornam meios, configurando a forma mais perversa e sofisticada de colonialismo universal, sem limites de territórios ou de etnias, que nos afeta a todos. Como disse anteriormente, as questões discutidas nesta obra de Paulino-Pereira certamente interessam a filósofos, juristas, cientistas em geral, ou melhor, a crentes e não crentes. Os casos estudados na pesquisa são apresentados com muita competência, trazendo uma grande riqueza de dados, muito bem analisados. Vou finalizar esta apresentação repetindo e endossando o que o autor diz depois de analisar e apresentar os casos estudados nesta pesquisa: 14 Psicologia Social e Identidade Humana: a militância social como luta emancipatória Nesse processo de militância e da movimentação da identidade, enquanto metamorfose, em busca de emancipação, percebemos que esses sujeitos concretizam identidades políticas ao se libertarem da burocracia da instituição religiosa caminhando rumo à individualização. Podemos afirmar que ao se apropriarem e superarem políticas de identidade é na individualização que desenvolvem suas identidades políticas e se tornam mais plenamente sujeitos políticos. Só esta afirmação já mostraria a grande contribuição que esta obra pode significar para aqueles que buscam a autonomia para lutar pela igualdade e pela liberdade dentro de uma sociedade efetivamente democrática. Mas, há mais, pois a postura critica e a determinação que se percebe ao longo da escrita desta obra, pode ser traduzido por uma opção de “ceticismo não derrotista”. Antonio da Costa Ciampa PUC-SP 15