Brunno dos Passos Alves Redes Sociais Formadas no Fenômeno do Pânico em Multidão: uma Análise via Simulação Multiagentes Santo André, SP - Brasil Julho - 2011 Brunno dos Passos Alves Redes Sociais Formadas no Fenômeno do Pânico em Multidão: uma Análise via Simulação Multiagentes Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Engenharia da Informação da Universidade Federal do ABC, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia da Informação, Área Sistemas Inteligentes, Linha de Pesquisa Inteligência Artificial. Orientadora: Profa Dra Maria das Graças Bruno Marietto U NIVERSIDADE F EDERAL DO ABC Santo André, SP - Brasil Julho - 2011 Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em Engenharia da Informação da Universidade Federal do ABC, como requisito para obtenção do título de Mestre em Engenharia da Informação. Avaliado em julho de 2011 pela seguinte Banca Examinadora: Profa Dra Maria das Graças Bruno Marietto Orientadora Prof. Dr. Wagner Tanaka Botelho Universidade Federal do ABC Prof. Dr. Paulo Fernando Ferreira Rosa Instituto Militar de Engenharia Um corpo sem inteligência não ama. Um corpo sem saúde não desfruta do amor. Um gênio sem amor não tem saúde espiritual. Diante disso tudo, devemos a cada instante procurar a companhia das três virtudes, mesmo que alcancemos uma a uma. —– Paulo Baleki Dedico este trabalho aos meus pais e à minha esposa. Também ao meu avô, que desde graduando sempre me chamou de “doutô”. iii Agradecimentos Para concluir este trabalho agradeço: - A todos meus familiares, principalmente aos meus pais, Elcio e Elenir, por me apoiarem e trilharem pelos caminhos corretos durante a vida. - A minha esposa, Lívia, pela paciência e amor a mim dedicados. - Aos meus amigos pela compreensão e palavras de incentivo. - Professora e orientadora, Maria das Graças, pela confiança e por me guiar e auxiliar durante os trabalhos desenvolvidos. - Também à UFABC pelo ambiente acadêmico, infra-estrutura e a bolsa concedida que viabilizaram este trabalho. iv Resumo A utilização de Redes Complexas é feita por diversas áreas do saber. No campo da Sociologia uma notória área que concentra cada vez mais atenção devido a sua popularização são as Redes Sociais. Pouco se sabe sobre a estruturação destas redes em comportamentos não institucionalizados, denominados comportamentos coletivos. Este trabalho propõe um modelo conceitual baseado em simulação multiagentes e redes sociais relacionado ao fenômeno do pânico em multidão, trabalho até então inédito, aplicado a um incêndio. Tal modelo pode ser utilizado para: (i) obter um melhor entendimento dos fundamentos sociais que afetam o comportamento coletivo do pânico, (ii) propor novas estruturas ou alternativas para sistemas sociais, verificando a viabilidade de sua existência e funcionamento. O modelo conceitual elaborado foi implementado, gerando o modelo computacional relacionado a uma simulação multiagentes. Ao final foram executadas simulações e os dados resultantes destas foram analisados, sendo possível realizar uma validação dos modelos e concluir que quando os agentes possuem ciência de sua rede social eles se tornam mais envolvidos com o coletivo, se sentindo menos nervosos e ponderando mais antes de assumirem comportamentos não convencionais. Palavras-chave: Simulação Multiagentes, Redes Sociais, Comportamento Coletivo, Pânico em Multidão. v Abstract Complex Networks are used in several areas of knowledge. In Sociology, a notorious area which is increasingly attracting attention due to the popularity is the Social Networks. Not much is known about the structuring of these networks in a noninstitutionalizeds behaviors, called collectives behaviors. This paper proposes a conceptual model, which has not been studied before, based on simulation and multi-agent networks related to the social phenomenon of panic in the crowd in an applied fire. This model can be used to: (i) obtain a better understanding of the fundamentals that affect social behavior during collective panic, (ii) propose new structures or alternative social systems, checking the feasibility of its existence and operation. The conceptual model developed was implemented generating the computational model related to a multiagent simulation. In the end the simulations were performed and its data were analyzed, making possible to realize a validation of the models and conclude that, when agents are aware of their social network, they become more involved with the collective, feeling less nervous and being carefull before considering taking on unconventional behavior. Keywords: Multiagent Simulation, Social Network, Collective Behavior, Panic in Crowds. vi Sumário Lista de Figuras x Lista de Tabelas xiii 1 Introdução 1 1.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.2 Principais Contribuições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.3 Organização do Texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 2 Comportamento Coletivo e Simulação Multiagentes: Conceitos Fundamentais 6 2.1 Comportamento Coletivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2.2 Pânico em Multidão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 2.3 Simulação Multiagentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 2.3.1 Classificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 2.3.2 Subáreas da Simulação Multiagentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2.3.3 Modelos Clássicos de Simulações Multiagentes . . . . . . . . . . . . . 13 2.3.3.1 Schelling Segregation . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.3.3.2 Sugarscape . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 2.3.3.3 Cyber-Anasazi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Características de Implementação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 2.3.4 3 Redes Complexas e Redes Sociais: Arcabouço Teórico 3.1 Uma Visão Geral sobre Redes Complexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 23 vii Sumário 3.2 3.1.1 Breve Histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 3.1.2 Tipos de Redes Complexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3.1.3 Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3.1.4 Modelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Redes Sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 3.2.1 Elementos das Redes Sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 3.2.1.1 Atores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 3.2.1.2 Conexões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 3.2.1.3 Capital Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Tipos de Redes Sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 3.2.2.1 Redes Sociais Emergentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 3.2.2.2 Redes Sociais de Filiação, ou Redes Associativas . . . . . . 36 Análise de Redes Sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 3.3.1 Evolução Histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 3.3.2 Fundamentação Teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 3.3.3 Métricas de Análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 3.3.3.1 Medidas da Rede . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 3.3.3.2 Métricas do Ator . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 3.3.3.2.1 Centralidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3.2.2 3.3 4 Frentes de Pesquisa e Trabalhos Relacionados 50 4.1 Estudo da Formação e da Dinâmica das Redes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 4.2 Níveis Micro e Macro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 4.2.1 Nível Micro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 4.2.1.1 Análise de Atributos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 4.2.2 Nível Macro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 4.2.3 Influências Micro-Macro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 viii Sumário 4.3 Tipos de Relações nas Redes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.4 Simulação Multiagentes Modelando o Comportamento Coletivo de Pânico em 56 Multidões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 4.4.1 Ambientes do Modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 4.4.2 Arquitetura do Agente Pessoa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 4.4.2.1 Módulo Híbrido de Gerenciamento de Crenças e Conhecimento 59 4.4.2.1.1 Repositório de Informações e Regras . . . . . . . . . . . . . . . . 59 4.4.2.1.2 Base de Informação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 5 Redes Sociais e Sistemas Multiagentes Modelando o Pânico em Multidão 64 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 5.1.1 66 Arquitetura do Agente Pessoa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5.1.1.1 Módulo Híbrido de Gerenciamento de Crenças e Conhecimento 66 5.1.1.2 Representação Coletiva Micro e Representação de Informação 66 5.1.1.2.1 Base de Informação Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 5.1.1.2.2 Base de Regras para Relações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 5.1.2 Representação Coletiva Macro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 Modelagem Computacional e Análise dos Resultados 80 85 6.1 Modelo Computacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 6.2 Análise da Simulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 6.2.1 Configuração Técnica e Cenários da Simulação . . . . . . . . . . . . . 86 Análise dos Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 6.3.1 Análise Centrada nos Agentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 6.3.1.1 Análise do Cenário 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 6.3.1.1.1 Análise Comportamental dos Símbolos Significantes . . . . . . . 88 6.3.1.1.2 Análise do Estado Interno dos Agentes . . . . . . . . . . . . . . . 97 6.3 6.3.1.1.3 Análise dos Sobreviventes e dos Imobilizados . . . . . . . . . . . 112 ix Sumário 6.3.1.2 Análise dos Cenários 2 e 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 6.3.1.2.1 Análise Comportamental dos Símbolos Significantes . . . . . . . 114 6.3.1.2.2 Análise do Estado Interno dos Agentes . . . . . . . . . . . . . . . 118 6.3.1.2.3 Análise dos Sobreviventes e Imobilizados . . . . . . . . . . . . . 121 6.3.2 6.3.3 Análise da Representação Coletiva Micro . . . . . . . . . . . . . . . . 123 6.3.2.1 Análise do Estado dos Agentes Vizinhos . . . . . . . . . . . 123 6.3.2.2 Análise da Ameaça e da Saída . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 6.3.2.3 Análise da Rede Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 Análise da Representação Coletiva Macro . . . . . . . . . . . . . . . . 126 6.3.3.1 Representação Coletiva Macro Versus Representação Coletiva Micro: Algumas Lições Aprendidas . . . . . . . . . . . 129 6.4 Validação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 7 Conclusões 7.1 133 Trabalhos Futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 Referências Bibliográficas 137 x Lista de Figuras 1 Classificação Proposta por (MARIETTO et al., 2002). . . . . . . . . . . . . . . . 11 2 Execução de uma Simulação de Segregação. Fonte: (XJ, 2010). . . . . . . . . . 15 3 Execução de uma Simulação Sugarscape. Fonte: (TEAM, 2010). . . . . . . . . 16 4 Execução de uma Simulação Anasazi. Fonte: (TEAM, 2010). . . . . . . . . . . 18 5 Exemplo de uma Rede Complexa da Amizade (LISBOA, 2010). . . . . . . . . . 24 6 Exemplo de Rede Regular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 7 Rede Aleatória em Desenvolvimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 8 Escalas de p para o Desenvolvimento de uma Rede Small World. 30 9 Malha Aérea das Rotas Operadas por Empresas de Aviação Regional no Brasil . . . . . . . (CIVIL, 2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 10 Elementos de uma Rede Social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 11 Rede Social do Marketing Viral (MINHANO, 2008). . . . . . . . . . . . . . . . 43 12 Exemplo de Clique em uma Rede Social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 13 Fluxo Geral do Comportamento Coletivo do Pânico em Multidão. Fonte: (FRANçA, 2010). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 14 Ambiente Geral e seus Componentes. Fonte: (FRANçA, 2010). . . . . . . . . . 58 15 Visão Geral do Agente Pessoa. Fonte: (FRANçA, 2010). . . . . . . . . . . . . . 60 16 Expansão da R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ICRO. . . . . . . . . . . . . . . . 67 17 Representação Coletiva Micro: Sistema Matricial x Redes Sociais. . . . . . . . 67 18 Arquitetura da R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ICRO (RC OL M ICRO). . . . . 67 19 Pirâmide de Maslow. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 20 Exemplo do Cálculo do Peso da Relação de Contato. . . . . . . . . . . . . . . 77 Lista de Figuras xi 21 Expansão da Tomada de Decisão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 22 Exemplos da Visualização das Representações Coletivas. . . . . . . . . . . . . 81 23 Formação da Representação Coletiva Macro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 24 Arquitetura da R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ACRO (RC OL M ACRO). . . . . 82 25 Filtros a serem Aplicados na R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ACRO. . . . . . . 83 26 Exemplo de Filtro com Configuração 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 27 Exemplo de Filtro com Configuração 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 28 Visão Geral do Ambiente Físico e dos Agentes. . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 29 Estatisticas Gerais da Rede Social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 30 Rede Social de um Agente nos Passos 67 (a), 68 (b), 69 (c), 70 (d), 71 (e) e 72 (f). 91 31 Rede Social de um Agente nos Passos 217 (a), 218 (b), 219 (c), 220 (d), 221 (e) e 222 (f). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 32 Rede Social RC OL M ICRO de Agentes em AGITAÇÃO S OCIAL. . . . . . . . . . 93 33 Rede Social RC OL M ICRO DE AGENTES EM Milling. . . . . . . . . . . . . . . 94 34 Rede Social RC OL M ICRO de Agentes em E XCITAÇÃO C OLETIVA. . . . . . . 95 35 Rede Social RC OL M ICRO DE AGENTES EM C ONTÁGIO S OCIAL . . . . . . . . 96 36 Visão da Simulação no Ponto de Incêndio 10. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 37 Visão da RC OL M ACRO no Ponto de Incêndio 10. . . . . . . . . . . . . . . . . 99 38 Rede Social da RC OL M ICRO de um Agente em Situação Normal. . . . . . . . 101 39 Rede Social da RC OL M ICRO de um Agente no Estado AGITAÇÃO S OCIAL. . . 103 40 Rede Social da RC OL M ICRO de um Agente no Estado Milling. . . . . . . . . . 105 41 Rede Social da RC OL M ICRO de um Agente no Estado E XCITAÇÃO C OLETIVA. 107 42 Rede Social da RC OL M ICRO de um Agente em Comportamento Coletivo Elementar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 43 Imagem da Ativação do Ponto de Incêndio 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 44 Imagem da Ativação do Ponto de Incêndio 10. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 45 Imagem da Ativação do Ponto de Incêndio 25. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 Lista de Figuras xii 46 Evolução Rede. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 47 Evolução Rede (continuação). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 48 Filtro da RC OL M ACRO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 49 Métricas da RC OL M ACRO. 50 RC OL M ACRO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 51 RC OL M ACRO (continuação). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 xiii Lista de Tabelas 1 Tipos de Indicadores de Métricas (ALEJANDRO; NORMAN, 2005) . . . . . . . . 42 2 Integração entre os Símbolos Significantes. (FRANçA, 2010) . . . . . . . . . . 63 3 Relações da Rede Social Micro de Acordo com Estado do Comportamento do Agente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 4 Intervalos do Peso das Relações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 5 Influência dos Atributos no Cálculo do Peso da Relação. . . . . . . . . . . . . 75 6 Ações Conforme Estado e Rede Social do Agente. . . . . . . . . . . . . . . . . 79 7 Relação Estado e Cor do Agente P ESSOA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 8 Cenários Analisados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 9 Comparativo da Amostra da Análise Geral dos Símbolos Significantes para um Estado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 10 Média das Variáveis no Ponto de Incêndio 10 - Cenário 1. . . . . . . . . . . . . 99 11 Comparação da Análise dos Agentes Imobilizados e Sobreviventes - Cenário 1. 112 12 Agitação Social - Três Cenários. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114 13 Milling - Três Cenários. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 14 Excitação Coletiva - Três Cenários. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 15 Contágio Social - Três Cenários. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 16 Média das Variáveis dos Agentes P ESSOA no Ponto de Incêndio 2 - Cenários 2 e 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 17 Média das Variáveis dos Agentes P ESSOA no Ponto de Incêndio 10 - Cenários 2 e 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 18 Média das Variáveis dos Agentes P ESSOA no Ponto de Incêndio 25 - Cenários 2 e 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 Lista de Tabelas xiv 19 Análise dos Agentes Imobilizados e Sobreviventes - Cenário 2. . . . . . . . . . 122 20 Análise dos Agentes Imobilizados e Sobreviventes - Cenário 3. . . . . . . . . . 123 21 Amostra dos Dados do Estado Coletivo Micro Indexados. . . . . . . . . . . . . 124 22 Amostra dos Dados da Ameaça Indexados na Representação Coletiva Micro. . 124 23 Amostra dos Dados da Saída Indexados na Representação Coletiva Micro. . . . 124 1 1 Introdução Creio que onde há prazer, o conhecimento está próximo. —– Gabriela Llansol Nos campos das Ciências Sociais e Computação, uma área que está cada vez mais demandando estudos em pesquisas e desenvolvimento são os sistemas complexos. O termo “complexidade” vem do latim, complexus, que significa cercado, compreendido, abrangido e também de plecto, plexus que significa trançado, tecido, enlaçado. Sendo assim pode-se dizer que para se ter um sistema complexo é necessário dois ou mais componentes, e estes estarem interligados de forma a compor uma estrutura com um determinado nível de organização (HEYLIGHEN, 1989). (PALAZZO, 1999) reforça a idéia dizendo que a forte conexão dos componentes de um sistema complexo faz com que ele não possa ser separado em um conjunto de elementos independentes sem ser destruído. Nos sistemas complexos uma ordem global emerge espontaneamente a partir da interação local entre membros que são autônomos e ao mesmo tempo interdependentes, resultando em uma auto-organização. Sistemas sociais, como o pânico em multidão, podem ser vistos como sistemas complexos, dada a variedade de elementos sociais, culturais, psicológicos, antropológicos, dentre outros, que envolvem tal fenômeno. Estudos como (FRANçA, 2010; BANARJEE; GROSAN; ABRAHAM, 2005; SHARMA; SINGH; PRAKASH, 2008; JACOBSEN; HOUSE, 2001) inter- ligam os campos de Ciências Sociais e sistemas complexos. Enquanto a Sociologia lida com o comportamento institucionalizado, o Comportamento Coletivo trata do comportamento socialmente construído durante eventos que quebram a estabilidade do coletivo (desastres naturais, uma nova tendência da moda, torcidas organizadas, linchamentos, etc.). Esta linha de pesquisa teve início no século XIX com pesquisadores como Gabriel Tarde (TARDE, 1890), Émile Durkheim (DURKHEIM, 1895) e Gustave Le Bon (BON, 1896). Desde então tem-se desenvolvido estudos na área com diversas teorias e abordagens, dentre elas a teoria do contágio (TARDE, 1890; BON, 1896), da norma emergente (TURNER; KIL- 1 Introdução LIAN, 2 1957), do estruturalismo (SMELSER, 1962; PARSONS, 1937) e a abordagem construtivista (LUHMANN, 1996). Na literatura tem-se a classificação de diversos tipos de comportamentos coletivos, dentre eles: (i) a massa, um aglomerado de pessoas agindo ao mesmo tempo não estando no mesmo espaço físico; (ii) o público, grupo de pessoas separadas, geralmente sem interação física e discutindo algo em comum (por exemplo, opinião pública); (iii) e a multidão, onde há proximidade física entre os membros e uma ação coordenada para se atingir um objetivo, este definido durante o processo social. Este trabalho trata de um fenômeno manifestado em uma multidão: o pânico. O pânico pode ser desencadeado por diversos fatores, tais como ameaças naturais (terremotos e erupções vulcânicas, por exemplo) e ameaças provocadas pelo homem (como atentados terroristas e violência em movimentos sociais). Em uma situação de pânico sempre há um risco iminente e uma sensação de urgência em agir por parte dos indivíduos, já que estes passam a ser movidos pelo interesse individual da sobrevivência. O fluxo do comportamento coletivo do tipo pânico em multidão tem início com um evento inesperado, o que desencadeia uma sensação de incerteza e de insegurança nos indivíduos que o compõe. Conseqüentemente, eles trocam informações que comunicam suas impressões individuais sobre o ocorrido em um processo denominado milling. Com a comunicação, há o compartilhamento de idéias e sensações, assim viabilizando um consenso sobre a situação. Essas idéias e sensações tomam maiores proporções a medida em que um indivíduo nota que os demais envolvidos também sentem e pensam de forma semelhante a ele, causando uma reação circular, onde quanto mais pessoas compartilham dessas sensações e idéias, mais pessoas são motivadas a participar da coletividade (contágio social). Quando as idéias estão estabelecidas de forma social, ações são definidas e executadas (TURNER; KILLIAN, 1957; BLUMER, 1969; FRANçA, 2010). Como pode-se observar, a importância do contato social se manifesta desde o primeiro momento em que o indivíduo, após o evento inesperado, sente-se ameaçado e há o início da comunicação com a coletividade. Este fato faz com que o pânico em multidão se enquadre na definição de rede social. Uma rede social é um sistema complexo, onde há uma estrutura social composta por entidades que estão conectadas através de relações, podendo compartilhar de crenças, conhecimentos, etc. Neste caso as entidades são as pessoas envolvidas, as relações são as comunicações entre elas e a crença e conhecimento são as sensações e idéias constituídas durante o evento. Embora exista uma série de trabalhos abordando a simulação do pânico em multidão, (KA- 1 Introdução VAKLI, 3 2006; ULICNY; THALMANN, 2001; ALLUISI, 1991; MUSSE et al., 2005; FRANçA, 2010), não foi encontrado pelo autor algum que tratasse a questão da rede social implícita neste comportamento. Com isto, esta pesquisa propôs o estudo de como a análise de Redes Complexas, mais especificamente a teoria das Redes Sociais, pode ser utilizada na modelagem multiagentes do fenômeno do pânico em multidão. Um sistema social pode se manifestar de diversas formas, dentre elas através de uma rede social. Adventos de surgimento de sites como Orkut, Twitter, Facebook, MySpace entre outros popularizaram as redes sociais. Porém, mais do que entretenimento, as redes sociais podem trazer consigo inúmeras aplicações nas mais diversas áreas como observados nos trabalhos de (BARBOSA; BYINGTON; STRUCHINER, 2000) que utiliza modelos dinâmicos e redes sociais para o entendimento da epidemia do HIV, (TSVETOVAT; CARLEY; SYCARA, 2001) simulando a formação de grupos de investidores especializados em determinados nichos do mercado de ações, (BERRY et al., 2003) que aplica o conceito de redes sociais em um modelo de formação de gangues a fim de estudar o recrutamento de jovens para grupos terroristas, (AMORIM, ) que aborda estratégias para difusão de informações na Internet através do marketing viral e (RODRIGUES, 2008) analisando as redes sociais aplicadas à políticas de juventude. É possível extrair de uma rede social importantes informações, tanto que hoje em dia as próprias aplicações de redes sociais fornecem um conjunto de ferramentas para que seja possível estudar e utilizar tais dados. A extração de informações de uma rede social permite cruzar variáveis, testar hipóteses, analisar e detectar elementos críticos, e até predizer comportamentos e ações futuras. As técnicas de Análise de Redes Sociais podem auxiliar na modelagem de comportamentos dos agentes de modo que estes interajam de uma maneira mais social, sendo possível analisar questões tais como: liderança, propagação de informações, formação de alianças, relações de confiança, convenções sociais, etc. Este trabalho apresenta a modelagem conceitual de uma simulação multiagentes aplicada ao fenômeno do pânico em multidão, levando em consideração as redes sociais estabelecidas nas interações sociais. A proposta de junção destes três campos: Simulações Multiagentes, Pânico em Multidão e Redes Sociais é inédita. Com o desenvolvimento deste modelo teórico foi realizada a construção de um modelo computável. E a partir da implementação e posterior execução deste modelo computável, realizado neste trabalho, analisou-se o comportamento coletivo do pânico em multidão sob o viés das redes sociais formadas. O trabalho de (FRANçA, 2010) foi tomado de base para o desenvolvimento tanto do modelo conceitual quanto do computacional, dando continuidade e inserindo as redes sociais a este. 1.1 Motivação 4 Os limites da fundamentação teórica foram delineados pelo aspecto da computabilidade. Isto porque uma parte das teorias das Ciências Sociais pode ser considerada como fonte de parâmetros norteadores para a compreensão dos fenômenos sociais, mas não detêm as condições necessárias para sua implementação sob o ponto de vista computacional. 1.1 Motivação Há trabalhos que abordam diversos aspectos e ressaltam a importância da simulação. Por exemplo, em (KAVAKLI, 2006) analisa-se simulações de treinamento para avaliação do risco da criminalidade, no trabalho de (ULICNY; THALMANN, 2001) são apresentados os resultados sobre o desenvolvimento de uma simulação de multidão para ambientes virtuais interativos voltada para o treinamento em situações de emergência urbana, (ALLUISI, 1991) contribui para o desenvolvimento de tecnologias para o treinamento coletivo e em (MUSSE et al., 2005) simulase o comportamento do movimento das multidões. Já que pesquisadores da Sociologia buscam entender e construir teorias que expliquem episódios do comportamento coletivo, os modelos computacionais destas constituem uma importante ferramenta para sua análise e entendimento. Especialmente a abordagem multiagentes aliada com redes sociais, pois é possível não somente abstrair os elementos que constituem essas teorias, mas também executar a natureza complexa de sistemas sociais de modo a observar a formação do comportamento coletivo. Possibilitando aos cientistas sociais que trabalham no desenvolvimento ou aplicação de teorias sociais a fazer experimentos e analisar aspectos antes não percebidos. A construção de um modelo sistêmico e mais holístico para simular uma teoria social auxilia o aprimoramento do estado da arte das ferramentas computacionais que agreguem os estudos de teorias sociais, bem como também auxilia cientistas sociais a melhor entender a área. A modelagem baseada em agentes põe em prática a terceira forma de se fazer ciência, além da dedução e indução, e abre caminho para a descoberta de um novo estatuto epistêmico para as Ciências Sociais (AXELROD; AXELROD, 1997). 1.2 Principais Contribuições A escolha do tema comportamento coletivo do tipo pânico em multidão baseou-se na perspectiva de criar um campo interdisciplinar, envolvendo o uso de modelos teórico sóciocomunicativos da simulação computacional e redes sociais, para construir e aprimorar aborda- 1.3 Organização do Texto 5 gens de Inteligência Artificial Distribuída (IAD) e da área de Ciências Sociais. Embora tenham sido levantados trabalhos que integrem as áreas de Redes Sociais e Simulação Multiagentes como (MARTELETO, 2001; KO; BERRY; MODEL, 2004; RODRIGUES, 2008), não foi encontrado nenhum que também fizesse a junção com o pânico em multidão, e esta é uma das contribuições a ser destacada deste trabalho. Mais detalhadamente, a união dos campos de Simulação Multiagentes, Redes Sociais e Pânico em Multidão traz as seguintes contribuições: 1. O estudo interdisciplinar: contribuindo nas três áreas citadas; 2. A elaboração do modelo teórico envolvendo o pânico em multidão e redes sociais, consolidando os estudos realizados; 3. A construção do modelo computacional baseado no modelo teórico: modelos computacionais de teorias de comportamento tornam-se importantes na medida que fornecem uma ferramenta para análise e entendimento de teorias, como por exemplo, a construção e persistência de instituições e estruturas sociais; 4. A execução do modelo computacional: a união dos modelos teórico e computacional tem como resultante uma simulação multiagentes integrando as teorias, estudos e técnicas extraídas destas áreas. A aplicação desta simulação serve não somente para o entendimento e validação de teorias, mas também contribui para a aplicação na vida real, uma vez que a análise dos dados da execução do modelo computável viabiliza o melhor entendimento do fenômeno. Por exemplo, entendendo a formação social em um momento de pânico, podese definir quais atores e onde devem se localizar para que as informações fluam da melhor maneira, evitando a “irracionalidade social” por parte dos envolvidos e minimizando os prejuízos durante o evento de pânico em multidão. 1.3 Organização do Texto Este trabalho está dividido em sete capítulos. No Capítulo 2 é exposto de forma breve os conceitos de Comportamento Coletivo, mais especificamente o de Pânico em Multidão, e a área de Simulação Multiagentes, onde são descritos alguns exemplos clássicos. O Capítulo 3 trata dos estudos do campo de Redes Complexas, mostrando de forma detalhada o campo das Redes Sociais bem como seu histórico, características, tipos e parâmetros para sua análise. No Capítulo 4 há um levantamento e descrição de trabalhos relacionados ao realizado neste, ou seja, pesquisas que integram os campos de Simulação Multiagentes com Redes Sociais ou o Pânico em Multidão. 1.3 Organização do Texto 6 O modelo teórico desenvolvido para o pânico em multidão e redes sociais é descrito no Capítulo 5 e o respectivo modelo computacional e análise de sua execução no Capítulo 6. Por fim, no Capítulo 7 encontram-se as considerações finais deste trabalho. 7 2 Comportamento Coletivo e Simulação Multiagentes: Conceitos Fundamentais Toda unanimidade é burra. —– Nelson Rodrigues Segundo (MERTON, 1968), a Sociologia estuda grupos humanos e a formação das instituições. Inicialmente os estudos eram direcionados para grupos que seguem regras pré estabelecidas. Quando o comportamento desses fugiam da ordem eram consideradas anormais e instáveis, portanto não eram foco de estudos. Pesquisadores se opuseram à abordagem individualista do comportamento humano. Por exemplo, Comte (1798-1857) dizia que a mente humana só poderia se desenvolver em um ambiente social. Assim sendo, a Psicologia não satisfazia o estudo do comportamento social do ser humano, fazendo surgir em paralelo à Sociologia estudos sobre o comportamento coletivo (TURNER; KILLIAN, 1957). Uma rede social pode ser matéria prima, produto e também servir como guia para o comportamento coletivo. Isso fica claro pois ambos estão relacionados à interação de indivíduos. Diversas abordagens já foram desenvolvidas de acordo com a sua finalidade e aplicação. A seguir são apresentados conceitos fundamentais utilizados no desenvolvimento deste trabalho. 2.1 Comportamento Coletivo Existem diversas abordagens durante a evolução dos estudos do comportamento coletivo. Estas diferem pela finalidade e o contexto histórico e social que influenciaram no seu desenvolvimento. Também existem vários tipos de comportamento coletivo, dentre eles a massa, que pode ser entendida como um aglomerado de pessoas agindo no mesmo espaço físico ao mesmo 2.2 Pânico em Multidão 8 tempo; o público, que é um grupo de pessoas separadas, normalmente sem a ocorrência de interação física e discutindo algum tema específico (como a opinião pública); e a multidão, que precisa de uma proximidade física entre seus elementos e uma ação mais coordenada face a um objetivo definido durante o processo social. Segundo Emile Durkheim (DURKHEIM, 1893), o comportamento coletivo difere do comportamento dos indivíduos já que este não é a simples soma do comportamento individual em um grupo. Isto é, a compreensão do comportamento coletivo não se dá estudando apenas o comportamento dos indivíduos em si. O que existe é uma mentalidade coletiva cuja natureza, características e funcionamento devem ser considerados (KOENIG, 1962). Durkheim, em seus trabalhos, era influenciado por Gustave Le Bon (BON, 1896), primeiro a reconhecer o significado da multidão como um fenômeno social e precursor dos estudos sobre o comportamento coletivo. Segundo Le Bon, quando um indivíduo faz parte de uma multidão ele se torna anônimo, e os membros desta almejam um objetivo comum de forma coletiva. O anonimato inibe o senso de individualidade dos membros, com isso a responsabilidade pessoal do indivíduo é transmitida para o grupo. Os membros não consideram as conseqüências ao disporem a se empenhar em qualquer ação. Então, para Le Bon, a multidão possui uma personalidade com características próprias, com uma mente coletiva diferente das mentalidades individuais de seus componentes. 2.2 Pânico em Multidão Blumer classifica a multidão em quatro tipos (PARK; REUTER, 1946): Multidão Casual: Esse tipo de multidão é momentânea e possui organização e unidades fracas. Seus membros entram e saem, tendo atenção temporária para o objeto de interesse, e a interação entre esses membros não é intensa. Por exemplo, pessoas assistindo um artista em uma vitrine de loja (PARK; REUTER, 1946). Multidão Convencional: Semelhante à multidão casual, diferenciada por seu comportamento ser expresso e estabelecido regularmente. Por exemplo, espectadores de um evento esportivo. Multidão Ativa: Nesta há um objetivo que direciona as ações da multidão. Por exemplo, quando um grupo de linchadores frente a um crime procura punir o assassino, mediante a um só impulso caracterizado como um intenso sentimento coletivo. 2.2 Pânico em Multidão 9 Multidão Expressiva ou Dançante: A excitação dos seus membros é expressa por movimentos físicos como uma forma de liberação, em vez de um objeto direcionando as ações. Este tipo é encontrado nas seitas religiosas, por exemplo. Blumer ainda descreve a formação das multidões como um comportamento circular. Primeiro ocorre um evento escapista ou excitante (normalmente relacionado com a agitação social), chamando a atenção do indivíduo e o pressionando a agir. Os indivíduos se submetem ao evento, e inicia-se o desenvolvimento de uma multidão ativa. Em seguida há o processo de milling1 , tornando os indivíduos mais sensibilizados, compreensivos e se preocupando mais uns com os outros. Com menor foco entre si, os indivíduos respondem aos demais de forma rápida, direta e inconsciente, preparando a formação de um humor comum. No terceiro momento, o grupo reencontra um objeto comum de atenção, de modo que o humor, o imaginário e os sentimentos das pessoas fiquem focados. No quarto estágio, pela compreensão da situação obtida através do foco, surge uma excitação coletiva. O comportamento excitado interfere no processo de imaginário direcionado, diminuindo a capacidade de utilizar a linguagem ou o imaginário para criar imagens diferentes das formadas pela coletividade. Desta maneira, o indivíduo pode entrar em uma linha de conduta que não conseguiria conceber, e muito menos executar. Para ignorar tal comportamento excitado, o indivíduo precisa se auto-excluir do cenário onde a ação ocorre, ou direcionar a sua atenção para outro objeto. Por exemplo, em uma situação de emergência, enquanto alguns membros da coletividade buscam sair do ambiente, outros entram em um estado de negação e passam a rezar ou lamentar. A tendência natural dos indivíduos é lidar com o comportamento excitado e procurar algum interesse nele. Nesse estado, o indivíduo tende a guiar-se mais pelas emoções do que pela razão. Em um quinto momento, a excitação coletiva leva ao contágio social, que é a disseminação rápida e irracional de humor, impulso ou forma de conduta que ocorre, por exemplo, nos surtos coletivos. Em formas extremas, o contágio social se apresenta de forma epidêmica, como o pânico no mercado financeiro. A característica mais importante do contágio social é que ele atrai e influencia indivíduos que normalmente estão desvinculados da ação social. O pânico pode ser desencadeado por diversos fatores. O pânico em multidões é um tipo de comportamento coletivo, para este deve-se levar alguns fatores em consideração: 1 Park descreve o milling como um gesto coletivo que representa o desconforto ou medo, que podem ser amplificados de acordo com a sensação do indivíduo ou a agitação social. Há uma reação circular, por exemplo, um alarme provoca a agitação social e essa agitação ocasionará no aumento da tensão dentro do grupo, que irá amplificar e contagiar as sensações dos indivíduos (PARK; REUTER, 1946). 2.3 Simulação Multiagentes 10 • Em situações de pânico as pessoas geralmente percebem que sua sobrevivência é produto de tomadas de decisões rápidas; • A personalidade individual é enfraquecida. Desta forma há uma alteração dos sistemas de valores e uma diminuição da responsabilidade, o que acarreta no comportamento imitativo, presente nos grupos; • Pode haver a presença de palavras de ordem, emblemas, uniformes, manifestações sonoras ou rítmicas que reforçam a identidade grupal, em detrimento da individual; • As pessoas manifestam um alto grau de irracionalidade, preocupando-se com a idéia de fugir e não considerando as conseqüências de seus atos. É importante ressaltar que o pânico é resultado da interação social e este surge de forma emergente, produto da interação entre os membros da multidão. Também é válido o estudo de Quarantelli (QUARANTELLI, 1975) que contradiz teorias do comportamento coletivo que pregam que o indivíduo tende a agir de forma irracional e instintiva, como as de Le Bon. Segundo Quarantelli, o comportamento humano perante crises não é impulsivo, mas sim controlado, utilizando-se de meios apropriados para atingir os seus objetivos de modo organizado e funcional. A experiência e o conhecimento do indivíduo podem afetar o seu comportamento em situações de pânico, havendo o controle das emoções mesmo com medo e diante de situações perigosas. Isto não significa a ausência do comportamento tido como irracional, porém sua freqüência é menor, prevalecendo a racionalidade e a sociabilidade. 2.3 Simulação Multiagentes Sistemas sociais englobam seres humanos vivendo em grupos e compartilhando um ambiente. A possibilidade de experimentá-los, testando estes sistemas com variáveis manipuláveis é útil para as Ciências Sociais, pois barreiras morais e/ou físicas podem impossibilitar estes experimentos com seres-humanos, sistemas e organizações. A complexidade das numerosas situações interrelacionadas de causa e efeito destaca a importância dos modelos de simulação relacionados à área de Ciências Sociais (BERENDS; ROMME, 1999). As simulações permitem a percepção de efeitos não intencionais de ações dos indivíduos, ou estratégias que podem ser contra-intuitivas. E é do escopo deste projeto a Simulação Multiagentes (SM), um ramo de estudo da Inteligência Artificial Distribuída (IAD). A área de IAD já progrediu consideravelmente em suas teorias, metodologias e técnicas se comparada ao início de sua estruturação na década de 70, onde conceitos como blackboards 11 2.3 Simulação Multiagentes (FENNELL; LESSER, 1977) e actors (HEWITT, 1977) eram estudados. (DURFEE; ROSENSCHEIN, 1994) em 1994 dividia a IAD em duas classes: Resolução Distribuída de Problemas (RDP) e Sistemas Multiagentes (SMA). Porém novas áreas estão sendo estruturadas e ganham atenção, por exemplo a área de Simulação Baseada em Multiagentes (CONTE; GILBERT; SICHMAN, 1998), onde a modelagem é constituída por agentes que possuem autonomia para decidir e executar ações a fim de simular um determinado sistema. Em (BERENDS; ROMME, 1999) mostra que até a década de 90, pesquisadores da área de Ciências Sociais pouco utilizavam ferramentas da área de Simulação Computacional. Nesta época, apenas 5% dos artigos publicados nos dez mais notórios periódicos utilizavam métodos de Simulação Computacional. A partir de então aumenta o número de cientistas sociais que utilizam simulações para explorar comportamentos resultantes das iterações dos agentes. Visto que a classificação precisava ser reformulada devido a novas vertentes e foco mais específico em algumas áreas, uma nova classificação da IAD para se adequar com os dias de hoje é proposta em (MARIETTO et al., 2002). Um dos campos propostos nessa nova classificação atende à necessidade de simulações computacionais por parte dos cientistas sociais e utiliza recursos da IAD, a Simulação Multiagentes. No trabalho de (MARIETTO et al., 2002) são expostas as várias vertentes que a Simulação Multiagentes pode assumir. O campo de estudo da Simulação Multiagentes oferece infraestrutura para modelagem e entendimento de processos como as interações sociais, por exemplo, a coordenação, cooperação, formação de grupos, resolução de conflitos, etc. Por permitir relacionar comportamentos locais com os globais, possibilita analisar como os agentes podem influenciar o comportamento de uma determinada agência, e vice-versa (causa e efeito). Na Seção 2.3.2 são detalhadas as subáreas de Simulação Multiagentes. 2.3.1 Classificação Na Figura 1 é exposta a classificação para a IAD proposta em (MARIETTO et al., 2002). Como pode-se observar existem duas vertentes principais que seguem a classificação de (DURFEE; ROSENSCHEIN, 1994): Resolução Distribuída de Problemas (RDP) e Sistemas Multiagentes (SMA). A RDP modela o problema alvo em uma abordagem top-down. A solução deste é previamente estruturada e os agentes são desenvolvidos para atuarem conforme o esquema proposto para a solução. Desta forma uma parcela do raciocínio para a solução do problema deve ser inserida pelo projetista do sistema, o que acarreta no desenvolvimento de controles hierárquicos 2.3 Simulação Multiagentes 12 Figura 1: Classificação Proposta por (MARIETTO et al., 2002). e centralizados (MARIETTO et al., 2002). Nos SMAs a atenção é maior na modelagem dos agentes, e não mais na estruturação do problema. O projetista foca nas arquiteturas dos agentes para que estes trabalhem de forma autônoma e social, e nos sistemas de comunicação e coordenação para que a solução emirja das interações, ou seja, uma abordagem bottom-up (MARIETTO et al., 2002). Em (MARIETTO et al., 2002) a área de SMA é dividida em duas classes: Simulação Multiagentes (SM), onde o conceito de SMA é utilizado para simular computacionalmente fenômenos; e a Resolução Multiagentes, que cerca as atividades inerentes à construção de SMAs. Como o foco deste trabalho é do escopo de SM, a seguir são apresentados alguns aspectos desta. 2.3.2 Subáreas da Simulação Multiagentes Um modelo de simulação representa um sistema alvo. O que o torna um tipo particular de modelo é a possibilidade de estudar como o sistema modelado se comporta quando submetido a determinadas condições, e avaliar as conseqüências no comportamento geral do sistema quando efetuadas alterações internas (GILBERT; TROITZSCH, 2005). (FERBER, 1996) define que o modelo de SM é baseado no relacionamento de um indivíduo com um programa, assim simulando um mundo real através de entidades computacionais inte- 2.3 Simulação Multiagentes 13 rativas. A simulação multiagentes é a transposição da população de um sistema para um modelo conceitual equivalente, então é feita a codificação deste modelo para um modelo computacional (BERENDS; ROMME, 1999). Em uma simulação multiagentes um agente representa uma entidade do mundo real, ou um grupo delas, podendo ser de diferentes naturezas e com granularidades variadas. Por exemplo, um agente pode equivaler a seres humanos, robôs, programas computacionais, objetos inanimados e organizações (FERBER, 1996). Nas simulações é importante que o modelo computacional represente de forma mais fiel possível o sistema alvo. Para isto deve-se efetuar a verificação para garantir que o modelo conceitual foi devidamente representado computacionalmente, e a validação para garantir que o modelo computacional simule o sistema alvo com um aceitável grau de aderência (GILBERT; TROITZSCH, 2005). Segundo a classificação de (MARIETTO et al., 2002) a área de SM pode ser dividida em três subáreas: Análise de Sociedades Artificiais, Análise de Sistemas Sociais e Prototipagem para Resolução. Estas classes são interdependentes e diferenciadas pelo tipo de sistema alvo e o nível da abstração usada para representar este sistema. A seguir se é detalhada cada umas destas subáreas. Análise de Sociedades Artificiais Na Análise de Sociedades abstrai-se as relações físicas, sociais, psicológicas e econômicas, não se restringindo a modelos reais de sociedades e de ambientes físicos. Porém a abstração deve seguir teorias e hipóteses para que estas auxiliem na construção do modelo conceitual da simulação. A análise de Sociedades Artificiais são usadas para questões específicas como explorar fenômenos particulares, por exemplo (MARIETTO et al., 2002). (MARIETTO et al., 2002) expõe que a modelagem de sociedades artificiais são aplicadas a quaisquer sociedades de agentes. Porém quando estas representam sociedades humanas, se considera cenários não diretamente observáveis, uma perspectiva aberta possibilitando teorizar e hipotetizar sociedades. Argumenta-se que este tipo de abordagem fica distante da realidade e os resultados da simulação não sejam relevantes. Este tipo de questionamento em relação à construção de modelos sociais contribuem com a área de SM e são muito abordados em Ciências como Biologia, Sociologia e Economia. Por exemplo, a interdisciplinaridade entre SM, Ciências Socais e Biológicas leva à estruturação de uma subárea da SM, a Análise de Sistemas Sociais, que é apresentada na próxima seção. 2.3 Simulação Multiagentes 14 Análise de Sistemas Sociais Segundo (MARIETTO et al., 2002) na Análise de Sistemas Sociais as simulações multiagentes baseiam-se em teorias das Ciências Sociais e/ou Biologia para modelar fenômenos sociais. Os sistemas alvo são sistemas sociais existentes ou aqueles que já existiram, como por exemplo algumas sociedades desaparecidas. As simulações baseadas nas Ciências Sociais são geralmente classificadas como Simulação Social Baseada em Agentes. (MARIETTO et al., 2002) usa uma única classificação para simulações que tem como arcabouço as Ciências Sociais e as Ciências Biológicas, pois características de sistemas sociais também são encontradas nas Ciências Biológicas. Por exemplo, a utilização de algoritmos genéticos e redes neurais em estudos de adaptação a ambientes específicos, e a teoria da evolução na modelagem de sistemas econômicos (LANSING, 2002). As simulações desta área podem ser direcionadas de duas maneiras: (i) Abordagem Fundacional: Nesta, as simulações possuem uma visão formal e abstrata, construindo e representando fundamentos da teoria social. Ou seja, são propostas novas estruturas ou alternativas para sistemas sociais, verificando a viabilidade de sua existência e funcionamento, ou para obter um melhor entendimento dos fundamentos sociais, antropológicos, psicológicos, etc, que subsidiam e direcionam sistemas sociais; (ii) Abordagem Representacional: Possui uma visão pragmática da experimentação, enfatizando a análise e representação de modelos e processos sociais já existentes. Assim sendo, utiliza modelos teóricos já existentes para modelar processos sociais e institucionais. Esta abordagem procura obter um melhor entendimento de fenômenos sociais. Prototipagem para Resolução Segundo (MARIETTO et al., 2002) no ramo de Prototipagem para Resolução a modelagem é voltada para sistemas reais. Nesta, os agentes, humanos ou não, interagem com ambientes reais, por exemplo construções inteligentes (DAVIDSSON; BOMAN, 2000) e fenômenos naturais (MOSS; PAHL-WOSTL, 2000). Os principais objetivos das simulações na Prototipagem para Resolução são práticos. (DAVIDSSON, 2001) cita como objetivos: (i) Avaliação dos sistemas modelados, para futura aplicação real; (ii) Treinamento de usuários do sistema; (iii) Auxílio na tomada de decisão, utilizando predição de comportamentos e de ações. 2.3.3 Modelos Clássicos de Simulações Multiagentes No campo de Simulação Multiagentes há modelos clássicos que servem de base para extensões, novas modelagens e implementações nos mais diversos campos do saber. A contribuição destas simulações vêm em diversas formas, podendo ser utilizados os conceitos e teorias, a 2.3 Simulação Multiagentes 15 arquitetura dos agentes ou o próprio código fonte da implementação do modelo computacional. Em geral os modelos clássicos na área de SM estão representados na forma de Autômatos Celulares (AC). Um AC é um sistema dinâmico formado por muitas unidades modeladas como células, interagindo umas com as outras. As entradas de uma célula são os estados das células da sua vizinhança. A evolução do AC se dá com a mudança dos estados das células no decorrer do tempo tendo como base suas regras internas, que estão relacionadas aos estados de suas células vizinhas. Os modelos de SM tornam-se mais reais à medida que os agentes não possuem visão inteira do mundo e o acesso às informações é limitado. A visão dos agentes é definida pelo raio da vizinhança que ele tem acesso, já o conhecimento limitado é equivalente a dizer que os agentes só podem analisar o que acontece ao seu redor. Um exemplo de abordagem para limitar e restringir o acesso às informações pelos agentes é inserir uma única rede social na modelagem de forma que os agentes tenham acesso a um conhecimento exclusivo após ser filtrado pela rede. Por exemplo, o agente tem acesso aos seus amigos e amigos de amigos, agentes que não fazem parte deste grupo são desconhecidos por ele. A seguir são listados alguns modelos clássicos da área de Simulação Multiagentes. 2.3.3.1 Schelling Segregation Inspirado no trabalho do economista Thomas Schelling sobre sistemas sociais (SCHELLING, 1971), este é um dos modelos que trata da auto-organização e afinidade entre agentes. Schelling mostrou que a preferência por vizinhos que pertençam a um mesmo grupo pode levar a situação de segregação. Ele utilizou moedas e um papel quadriculado para demonstrar sua teoria, colocando moedas de dois tipos diferentes sobre o papel e movendo-as uma a uma. Caso uma moeda estivesse cercada por um determinado número de moedas diferentes, então ela era movida. Schelling observou que o sistema evoluiu para um padrão de localização segregado. Resumidamente, o funcionamento do modelo se dá da seguinte forma. Há dois grupos em uma sociedade, por exemplo, duas espécies diferentes de tartarugas, meninos e meninas, etc. Os agentes da simulação pertencem a um destes dois grupos e são alocados de forma aleatória em um ambiente (uma grade de duas dimensões). Além do grupo a qual pertence, o agente pode se encontrar em dois estados, feliz ou infeliz. A infelicidade do agente é o que motiva sua movimentação no cenário. Um agente se locomove quando seu estado é infeliz. Alcançando o estado feliz, o agente permanece no mesmo lugar até que volte a estar infeliz. A transição do estado, que indica a 2.3 Simulação Multiagentes 16 felicidade do agente, ocorre de infeliz para feliz quando a localização do agente proporciona uma porcentagem de vizinhos do mesmo tipo superior ou igual a um limiar que este gostaria de ter. E de feliz para infeliz quando a porcentagem de vizinhos do mesmo tipo está abaixo do limiar que o agente em questão gostaria de possuir. A locomoção dos agentes é feita para as células vizinhas livres, indo para o local onde sua mudança proporcionará a maior porcentagem de vizinhos do mesmo tipo. Na Figura 2 é possível observar o padrão formado com a execução da simulação do modelo Schelling Segregation. Os pontos pretos e vermelhos representam agentes, a cor diferencia os grupos a quais eles pertencem. Os pontos em branco são os espaços livres nos quais os agentes podem se movimentar, e com a execução acabam formando fronteiras entre os grupos de agentes. Figura 2: Execução de uma Simulação de Segregação. Fonte: (XJ, 2010). O curioso deste modelo é que ele mostra que com um limiar relativamente baixo para um agente se considerar feliz, alcança-se uma segregação global significativa. Por exemplo, definindo em 30% o limiar de vizinhos do mesmo tipo para que um agente se considere feliz, ao final da simulação os agentes possuem em média 70% de vizinhos do mesmo tipo que o seu. O ajuste de outros parâmetros da simulação permitem mais conclusões: quanto maior a densidade de agentes, a separação dos grupos fica mais definida, e o aumento do limiar de felicidade faz com que a fronteira entre os grupos seja maior, assim os isolando. Um exemplo onde o modelo Schelling Segregation foi aplicado é no trabalho (CLARK, 2.3 Simulação Multiagentes 17 1991). Neste são estudados os padrões de habitação nas cidades, mostrando que a segregação racial cria zonas de preferência em bairros residenciais. Uma contribuição para o modelo Schelling Segregation é a integração de Redes Sociais. Com isso, por exemplo, os agentes podem decidir sobre uma nova localização com base em informações sobre bairros de outros agentes de sua rede, assim orientando sua locomoção. 2.3.3.2 Sugarscape No modelo Sugarscape (AXTELL; EPSTEIN, 1996) agentes nascem, se movem pelo cenário, consomem e armazenam recursos, se reproduzem e morrem, isso em um mundo virtual. O Sugarscape usa regras simples para criar uma sociedade virtual onde as interações entre os agentes formam complicadas estruturas sociais. É um modelo conceitual simples, mas capaz de interpretações amplas. Diferente do modelo Schelling Segregation, onde os agentes eram iguais somente diferenciados pelo grupo a qual pertenciam, no Sugarscape a característica central é que seus agentes são heterogêneos, ou seja, os agentes que modelam pessoas reais são diferentes uns dos outros. Cada um tem seu próprio “código genético”, representado pela combinação distinta de taxa metabólica (quanto açúcar cada agente precisa para se manter vivo), visão (a distância que o agente pode “enxergar” para buscar o açúcar), e assim por diante (RAUCH, 2007). Cada agente tem as propriedades de metabolismo e de visão herdadas de seus pais. Eles precisam encontrar açúcar para sobreviver, para isso usam o atributo visão que determina o raio de visão que o agente possui para encontrar o açúcar e ir em direção dele. A busca frustrada pelo açúcar pode levá-los à morte por inanição. Durante a simulação os agentes podem se reproduzir. Com este conjunto de regras, ao longo da simulação é possível observar a teoria da evolução que diz que os mais fortes sobrevivem. Aqueles com melhor visão e metabolismo, ou o melhor equilíbrio entre estas características, permanecerão mais tempo vivos durante a simulação e com isso também gerarão maior número de descendentes. Na Figura 3 observa-se a execução do modelo de simulação Sugarscape. Os pontos em vermelho são os agentes, as linhas pretas que os ligam representam os laços sociais entre eles (hereditariedade). Ao final da execução da simulação do modelo Sugarscape é possível perceber que há uma distribuição desigual de açúcar, e os agentes caminham ao mesmo tempo em direção ao açúcar. Apesar de a sociedade simulada ser rudimentar, este resultado final se assemelha com a distribuição desigual de riqueza nas sociedades humanas. Chegando-se à conclusão que as regras simples dos agentes podem produzir fenômenos sociais complexos, como o fenômeno 2.3 Simulação Multiagentes 18 Figura 3: Execução de uma Simulação Sugarscape. Fonte: (TEAM, 2010). das migrações, onde os agentes durante a simulação caminham para região em que há recursos disponíveis. 2.3.3.3 Cyber-Anasazi Um exemplo de como modelos mais elaborados são desenvolvidos, tendo como base modelos anteriores, é o caso do Cyber-Anasazi, que se baseou no modelo Sugarscape. Anasazi foi uma sociedade indígena norte americana que habitou o que hoje é o Four Corners, em Long Valley House no nordeste do Arizona, entre 1200 a.C. até o final do século XIII. Tem-se muitos dados sobre esta civilização, porém os motivos os quais levaram sua extinção é muito discutido. Hipotetiza-se que a sociedade teve fim devido a sua cultura e guerras. Há aqueles que acreditam em epidemias ou saqueadores, outros defendem uma possível migração. Por exemplo, há estudiosos que dizem que a migração da sociedade Anasazi foi motivada pela seca na região, porém esta já havia enfrentado secas piores, o rio que era fonte de sua agricultura não secou e o período de estiagem acabou logo depois do período que se acredita que houve a migração (RAUCH, 2007). O modelo de simulação Cyber-Anasazi visa modelar o comportamento da cultura e o declínio da sociedade Anasazi até seu desaparecimento, isto para que sejam encontrados os motivos da extinção deste povoado. Favorecem esta simulação os seguintes fatos: (i) o povoado se concentrava em uma região delimitada, ou seja, o ambiente pode ser representado por uma grade de duas dimensões; (ii) há uma grande quantidade de dados levantados em estudos e pesquisas sobre a sociedade Anasazi, que permitem definir tanto o comportamento de seus indivíduos como regras para a agricultura, movimento e acasalamento, quanto números ligados à produção agrícola, dados meteorológicos daquela região no período em questão, condições ambientais, 2.3 Simulação Multiagentes 19 padrões de assentamento, etc. (RAUCH, 2007). A simulação consiste em criar uma réplica computadorizada do Long Valley House e simular o período 800 d.C. a 1350 d.C. A modelagem dos agentes conta com um número maior de atributos do que as simulações apresentadas nas seções anteriores. Um agente neste modelo representa uma família e possui informações como idade, tempo de vida, visão, habilidade para locomoção, necessidade nutricional, consumo, etc. O conjunto de regras que regem o comportamento dos agentes permitem eles interagirem tanto com outros agentes, quanto com o ambiente que estão inseridos. Resumidamente, o comportamento de um agente família se dá da seguinte forma. Todos os anos cada família realiza colheitas de milho em suas terras para se alimentar, e armazena o que excede para que possa consumir e garantir sua existência no inverno. Se a produção é suficiente para a alimentação neste ciclo, então a família permanece nas terras para o plantio do ano seguinte. Se o rendimento for insuficiente, a família se muda para o próximo lote disponível que pareça promissor para então realizar o mesmo ciclo. Se mesmo assim a família ainda não puder se sustentar, então ela é retirada da simulação, como se tivesse morrido. Demais regras permitem a formação de novas famílias, o nascimento de filhos, e assim por diante. As regras são bastante simples, basicamente orientam os agentes Anasazis a acompanhar a colheita, migrar se necessário, se reproduzir, formar novas famílias e morrerem (RAUCH, 2007). Durante a execução da simulação Cyber-Anasazi pode-se observar que no período de 855 a 1021 a população artificial cresce e se espalha com atraso em relação ao modelo real, mas assim como no modelo real procuram habitar as zonas férteis, onde há mais água disponível para a agricultura. Em 1130 as características do real e a simulação continuam semelhante, exceto que na simulação os agentes deixam de ocupar uma pequena quantidade de terras férteis durante sua expansão. Até 1257 a população artificial sofre seu declínio, confirmando os dados da sociedade Anasazi real. Porém ao final da simulação algumas famílias se mantêm na região, já na história real todas desaparecem. Na Figura 4 está ilustrado um passo da execução do modelo de simulação Cyber-Anasazi. A área em azul representa as regiões férteis, os círculos em vermelho representam os assentamentos. Devido ao modelo estar bem simplificado não se pode chegar a uma conclusão definitiva sobre o real motivo do desaparecimento Anasazi. As diferenças entre a realidade e a simulação são muitas, dada a relativa simplicidade das regras e grande parte dos fatores ambientais serem excluídos. Mas mesmo assim é importante ressaltar o quanto a simulação consegue se assimilar com o mundo real. Com a simulação conclui-se que as condições ambientais explicam muito do que é sabido sobre a população Anasazi e seus padrões de assentamento, bem como a queda 2.3 Simulação Multiagentes 20 Figura 4: Execução de uma Simulação Anasazi. Fonte: (TEAM, 2010). acentuada da população, mas não explica o desaparecimento final. Talvez alguma outra motivação tenha feito com que as poucas famílias que restaram na região migrassem, ou ainda há um ponto que este modelo não abordou. Mesmo que as simulações não consigam explicar por que os Anasazi desapareceram, elas têm demonstrado que as sociedades artificiais podem servir para replicar a evolução das sociedades reais, e até predizer algumas tendências. Podendo também servir como base de estudos de comportamentos e até prevenção para evitar mais desaparecimentos. Um trabalho interessante também a se agregar neste modelo é fazer com que os agentes reconheçam as instituições sociais ou direitos de propriedade, por exemplo regras de herança de terras, já que os agentes somente agem respondendo a estímulos ambientais. 2.3.4 Características de Implementação Ao se implementar um sistema multiagentes, mais especificamente uma simulação, existem algumas características que devem ser tomadas como pontos de atenção. Algumas armadilhas que podem passar desatentas por quem modela podem afetar o resultado final no momento da execução do modelo computacional. De acordo com (AXTELL, 2001) os efeitos de algumas especificações dos modelos de simulação multiagentes podem alterar os resultados da simulação. Questões como a configuração da forma geométrica da célula (quadrada, triangular, hexagonal, etc.), a quantidade de dimensões 2.3 Simulação Multiagentes 21 da grade (1d, 2d ou 3d), o tipo de vizinhança (Neumann, Moore ou aleatória) e valor de seu raio, as fronteiras do mundo e a utilização de tipos de limites (valores fixos, reflexivo ou periódico), e os parâmetros e estados iniciais da simulação afetam diretamente os resultados da simulação. Em particular, (AXTELL, 2001) destaca duas especificações: as interconexões entre os agentes (a topologia da interação) e as estruturas de atuação (escalonamento). A interação dos agentes e as estruturas de ativação podem desempenhar um papel importante no SMA. Quando estruturas de interação e ativação são sistematicamente alteradas, as estatísticas produzidas por tais modelos podem variar substancialmente. Detalhes arquitetônicos do SMA, incluindo o estudo de como as mudanças podem afetar a saída do modelo é a chave para a análise robusta de SMAs (AXTELL, 2001). Por exemplo, redes sociais têm um papel crítico como um meio no qual seres humanos estão socialmente situados e no qual interações entre indivíduos ocorrem. Elas estão representadas em modelos de simulação multiagentes. O que é destacado por (AXTELL, 2001) é que pequenas mudanças na estrutura das redes sociais pode levar a grandes mudanças nos resultados macrossociais. Quanto ao regime de ativação dos agentes, que é a ordem e a freqüência da ação dos agentes, (AXTELL, 2001) estudou dois tipos de ativação: uniforme e aleatório. Mostrou-se que a diferença na adoção destes dois regimes resultou, estatisticamente, em resultados diferentes. 22 3 Redes Complexas e Redes Sociais: Arcabouço Teórico O homem não teceu a teia da vida; ele é apenas um fio dela. Tudo que ele faz à teia, ele faz a si mesmo. —– Ted Perry A área de Redes Complexas é recente e interdisciplinar e envolve o formalismo matemático da Teoria dos Grafos. Uma rede complexa é uma estrutura matemática formada por vértices que se unem através de conexões baseadas em alguma regra, essas ligações se dão por meio de arestas. Com isso, redes complexas fazem parte do escopo da Teoria dos Grafos, que estuda objetos combinatórios, os grafos, que são um bom modelo para muitos problemas em vários ramos da matemática, informática, engenharia e indústria (PEREIRA; CâMARA, 2008). Uma das bases teóricas deste trabalho são as Redes Sociais, um tipo de rede complexa. Por inferência, o campo de Redes Sociais também utiliza o escopo teórico e técnico da Teoria dos Grafos. Porém estas redes possuem características que trazem mais informações que um simples grafo. Isto ocorre porque a concentração das informações se encontra nas relações entre os nós, e destas ligações podem ser retiradas um grande número de informações se comparado ao número de informações que o vértice pode oferecer com os dados de seus atributos. Uma rede social pode ser definida como um conjunto finito de nós conectados por relações de forma social (WASSERMAN; FAUST, 1994). Ou seja, as redes sociais são formadas por pessoas, organizações, países, grupos, etc. com algum padrão de contato ou interação entre si, mapeando relacionamentos pessoais de diversas conotações como afetivo, profissional, dentre outros. Os atores são membros da rede e são representados como os nós, que através das interações moldam a estrutura da rede. Já as conexões (links) são produto do fluxo da interação entre os atores, estas são representadas por arestas e assumem diversos tipos de relações de cunho social existentes entre eles. 3 Redes Complexas e Redes Sociais: Arcabouço Teórico 23 As redes sociais são tidas como emergentes, pois são formadas a partir das interações de seus membros. Nas redes deste tipo, as conexões entre os nós emergem das trocas sociais realizadas na interação, e o registro desses relacionamentos são utilizados na construção de seus modelos. A emergência se configura na estrutura bottom-up, caracterizada pela construção do grupo através de suas interações. Tendo uma rede social formada, o próximo passo consiste na análise dos dados que esta possui. Para a análise das redes sociais há um campo de estudos denominado Análise de Redes Sociais (ARS). A ARS teve seu início no final do século XIX com Émile Durkeim (DURKHEIM, 1895) dizendo que os fenômenos sociais são frutos da interação de indivíduos, e que estes fenômenos não podem ser explicados unicamente pelas propriedades dos indivíduos envolvidos. A ARS consiste no mapeamento e na medição de relações e fluxos entre os membros de uma rede, fornecendo uma análise visual e matemática. O maior foco nas relações e não nos atores pode ser entendido através de um exemplo: quando tenta-se predizer a performance de indivíduos em uma comunidade científica através de alguma medida. Uma abordagem tradicional, via Ciências Sociais, recomendaria que os atributos a serem investigados fossem: a quantidade de bolsas, idade, etc. Após isso, uma análise estatística tentaria relacionar estes atributos com algum resultado, por exemplo, o número de publicações (MIKA, 2007). A ARS, por outro lado, utiliza uma abordagem diferente quanto ao fenômeno social. Assim, requer um novo conjunto de conceitos e métodos para coletar os dados e analisá-los. Por exemplo, identificar os grupos a que um indivíduo pertence e estudá-los para conhecer quais são as preferências deste, ou analisar a forma que demais membros da comunidade científica se relacionam (citações, participação conjunta em projetos e eventos, etc.) com um determinado indivíduo a fim de se descobrir o grau de importância e participação dele ou de um grupo no ambiente. A análise da rede ao longo do tempo seria outra abordagem para a análise de uma determinada rede social. O estudo da dinâmica da rede, considerando a importância e o tipo do relacionamento entre os atores, permite a compreensão da evolução da reputação de um determinado membro, podendo também ser analisados como os relacionamentos são construídos e destruídos com o passar do tempo. Este capítulo está estruturado da seguinte forma. Na Seção 3.1 é apresentada uma síntese sobre Redes Complexas com um breve histórico, seus tipos, algumas propriedades e modelagens utilizadas para representá-las. Já na Seção 3.2 as Redes Sociais e seus elementos são detalhados, também é descrito o conceito de capital social e os tipos de redes sociais existen- 3.1 Uma Visão Geral sobre Redes Complexas 24 tes. Na Seção 3.3 há um resumo histórico sobre a Análise de Redes Sociais, são apresentadas as estruturas existentes em uma rede social, os conceitos referentes às métricas para análise, a avaliação e classificação dessas. 3.1 Uma Visão Geral sobre Redes Complexas Um sistema é complexo se suas propriedades não são diretamente resultantes de seus elementos vistos isoladamente. As características emergentes de um sistema complexo geralmente são produto da relação não-linear entre seus elementos constituintes. A máxima para a área de sistemas complexos é que “o todo é maior que a soma das partes”. A figura da rede é bastante utilizada para representar ou qualificar sistemas, estruturas ou desenhos organizacionais caracterizados por uma grande quantidade de elementos (pessoas, pontos-de-venda, entidades, equipamentos, etc.) dispersos espacialmente e que mantém alguma ligação entre si. Por exemplo, o cérebro é uma rede de células nervosas (neurônios) conectadas, comunicando-se por meio de reações químicas e sinais biofísicos. Estas células também são redes, porém são constituídas de moléculas ligadas por rotas metabólicas. Diversos são os aspectos do mundo real que podem ser representados e estudados por meio de redes complexas. São exemplos: a Internet e o conteúdo de suas páginas, a rede de contatos humanos, relações sociais entre grupos de pessoas, redes organizacionais ou de negócios entre companhias, redes ecológicas (cadeia alimentar, por exemplo), redes de telefonia, redes de citações científicas, redes lingüísticas, redes de neurônios, redes de interação de proteínas, redes metabólicas, colônias de insetos, clima, difusão de informação, dentre outros (BARABASI, ; METZ et al., 2007; GASTON; DESJARDINS, 2005). A Figura 5 ilustra a rede complexa de uma escola secundária americana, onde os nós são os alunos e as ligações representam as relações de amizade entre eles. As cores dos nós diferenciam as etnias, sendo os nós amarelos representativos de caucasianos, afro-americanos são os verdes e cor-de-rosa representam as demais etnias. 3.1.1 Breve Histórico Por volta de 1930 se iniciaram os estudos das redes complexas, onde estas eram utilizadas para compreender o comportamento da sociedade e as relações entre os indivíduos. Em 1967 nos Estados Unidos, o psicólogo Stanley Milgram (MILGRAM, 1967) realizou uma das experiências mais conhecidas de mapeamento das redes sociais. Esta deu origem à teoria dos seis 3.1 Uma Visão Geral sobre Redes Complexas 25 Figura 5: Exemplo de uma Rede Complexa da Amizade (LISBOA, 2010). graus de separação, pois chegou-se à conclusão que qualquer pessoa está a apenas seis graus de separação de qualquer outra pessoa. A experiência envolveu 160 pessoas que viviam em Boston e Omaha (Nebraska), nos EUA. Para cada um dos participantes foi enviada uma correspondência com instruções para que a mesma chegasse a uma pessoa alvo, originária de Sharon, Massachussets, mas que trabalhava em Boston. Caso as pessoas não conhecessem o destinatário, deveriam buscar contatos que o conhecessem pessoalmente ou que pudessem ajudar na entrega da correspondência. Cada pessoa deveria escrever o seu nome na correspondência de modo que fosse possível monitorar o caminho percorrido até o seu destino final. Milgram constatou que o número médio de intermediários entre a origem e o destinatário eram de 6 pessoas. Ou seja, a carta passou por seis pessoas em média antes de chegar à pessoa alvo. O experimento de Milgram deu origem à teoria do “mundo pequeno” (small-world). Através dele mostrou-se que determinadas redes apresentam uma característica onde as distâncias médias, em número de ligações, entre duas pessoas tende a crescer mais lentamente que a rede. Isto é, a separação entre os indivíduos é pequena, mesmo para redes de grande porte (ANGELIS, 2010). O avanço da tecnologia de informação e a disponibilidade de computadores e redes de comunicação permitiram a análise de grandes volumes de dados, acarretando uma mudança significativa na área. Se antes as pesquisas focavam em pequenas redes e as propriedades de 3.1 Uma Visão Geral sobre Redes Complexas 26 vértices ou arestas individualmente, agora passam a considerar propriedades estatísticas em larga escala. Hoje o estudo de redes com milhões ou bilhões de vértices é comum, sendo que anteriormente as redes estudadas possuíam dezenas ou centenas. Esta mudança de paradigma mostrou várias características que diferem as redes do mundo real das redes aleatórias (ver Seção 3.1.4), consideradas por muitos anos como o principal modelo de redes. Tendo esta visão, as redes passaram a ser chamadas de redes complexas (METZ et al., 2007). Com o passar dos anos novas áreas surgiram (por exemplo, sistemas não lineares, redes neurais, caos e sistemas auto organizáveis) para pesquisa de sistemas complexos específicos. Cada qual especificava características e dava foco às redes inerentes ao seu campo. Por exemplo, nos anos 90 pesquisadores perceberam que muitas estruturas naturais são auto similares como os fractais (MANDELBROT, 1983). Em 1999, Albert, Jeong e Barabási realizaram uma descoberta, baseada em estudos de Milgram. Ao invés das cartas, o estudo agora foi aplicado à rede mundial de computadores, a Internet, a fim de encontrar o número médio de hiperlinks que separavam duas páginas escolhidas aleatoriamente. Provou-se que em média, as páginas da Internet estão separadas por menos de vinte cliques do mouse, confirmando assim os estudos sobre o efeito small world (MILGRAM, 1967; VIANA, 2007). 3.1.2 Tipos de Redes Complexas As redes complexas são classificadas em quatro tipos distinguindo-se pela sua fonte de dados, perspectiva de análise e entendimento do fenômeno estudado (BARABASI, ). Estes tipos não são mutuamente exclusivos entre si, assim sendo possuem aspectos em comum. São os tipos de redes complexas: redes tecnológicas, redes biológicas, redes de informação e redes sociais. Redes tecnológicas são construídas pelo ser humano, projetadas tipicamente para distribuição de serviços ou recurso, por exemplo eletricidade, água, rotas dos meios de transporte, distribuição, circuitos eletrônicos e Internet. Exemplo de estudo voltado a estas redes podem ser encontrado no trabalho (PEREIRA et al., 2006). Muitos processos biológicos podem ser representados através de redes complexas, essa representação é denominada de rede biológica (WARDIL, ). Para essas redes geralmente cita-se exemplos como as cadeias alimentares, o sistema nervoso ou vascular e redes no metabolismo dos seres vivos. As redes de informação estão presentes em bases de conhecimento formal, como a Internet, 3.1 Uma Visão Geral sobre Redes Complexas 27 registros de patentes e estrutura das linguagens. Um exemplo é a modelagem de uma rede de citações de artigos científicos, que é feita através de um grafo direcionado, onde publicações mais recentes citam aquelas mais antigas. Há também as redes de preferência, muito utilizada comercialmente em sistemas de recomendação, onde softwares sugerem ao cliente um produto baseado na comparação das preferências de outras pessoas. As redes sociais são aquelas formadas por pessoas, grupos e/ou organizações com algum padrão de contato ou interação social entre si. Este tipo de rede é o foco deste projeto e na Seção 3.2 tem-se sua apresentação detalhada. 3.1.3 Propriedades As redes complexas apresentam características, sendo importante identificá-las e analisálas visando o seu entendimento e, caso seja necessário, realizar intervenções da melhor forma. Nas subseções seguintes são apresentadas algumas das principais características das redes complexas. Coeficiente de Aglomeração Para qualificar os agrupamentos que constam nas redes, utiliza-se o coeficiente de aglomeração, também conhecido como fenômeno de transitividade (METZ et al., 2007). Quando um vértice A está conectado a um vértice B, e o vértice B a um vértice C, aumenta-se as chances do vértice A também estar conectado ao vértice C. Ou seja, a transitividade indica a presença de um número de conjuntos de três vértices conectados entre si (triângulos). Por exemplo, em uma rede social se A conhece B e B conhece C, a probabilidade de A e C se conhecerem é grande. Distribuição de Graus O número de arestas que se conectam a um vértice definem o seu grau. Assim sendo, a distribuição de graus é uma função de distribuição que indica a probabilidade de um vértice ter grau fixo. Isto se uma rede for criada, caso já exista, esse valor pode ser calculado. Robustez ou Resistência O conceito de robustez (resistência) é associado ao impacto que a retirada de alguns vértices causaria à rede. A capacidade de robustez é conseqüência da distribuição de graus dos nós. A remoção de vértices pode ocasionar na perda de conexão entre pares de nós, podendo aumentar o caminho de um vértice a outro (METZ et al., 2007). O trabalho de (JUNIOR; SALLES, 2009) propõe um método de se calcular a robustez com base nas medidas de centralidade utilizadas em redes sociais, ele compara sua proposta com outras propostas apresentadas em (BEYGELZIMER 3.1 Uma Visão Geral sobre Redes Complexas et al., 28 2005). A robustez pode ser um índice para avaliação de uma rede de computadores. Por exemplo, se houver algum problema em um roteador o ideal é que não haja perda da funcionalidade e, detectando o seu nível de resistência, pode-se projetar a rede de maneira melhor, evitando vulnerabilidades. Mistura de Padrões Em alguns tipos de redes há uma mistura de padrões, onde os vértices podem representar tipos diferentes de objetos. Por exemplo, nas redes de cadeias alimentares os vértices podem representar plantas, animais herbívoros ou animais carnívoros. Sendo que a probabilidade de ligação entre vértices é dependente do seu tipo. Para a cadeia alimentar existiriam arestas conectando os herbívoros às plantas e os carnívoros aos herbívoros. As chances de haver um carnívoro ligado a uma planta são baixas (METZ et al., 2007). Nas redes sociais isto também pode acontecer. Um exemplo é uma rede constituída por vértices que representam pessoas de diferentes etnias. A probabilidade de existir relações entre vértices do mesmo tipo é maior, já para as etnias diferentes a probabilidade é mais baixa (NEWMAN, 2003). Correlação de Graus A correlação de graus indica se as associações de uma rede ligam vértices com graus semelhantes. Esta propriedade é usada, principalmente, em redes com variações de padrões, assim torna-se possível a investigação da probabilidade de conexão de vértices de tipos diferentes (METZ et al., 2007). 3.1.4 Modelos Existem muitos modelos de redes complexas (METZ et al., 2007; COSTA et al., 2007; ROCHA, 2007; VIANA, 2007), dentre eles as redes regulares, aleatórias, small world e scale-free. Esses surgiram com a evolução dos estudos de redes complexas e o foco dado às redes inerentes de cada área do conhecimento (Ciências Sociais, Física, Biologia, etc.). A seguir são apresentados estes modelos clássicos e suas características. Redes Regulares Também conhecidas como redes geográficas, estas se caracterizam por possuir vértices situados em posições bem definidas no espaço euclidiano, e as conexões são distribuídas somente entre os vizinhos topológicos de cada vértice. A Figura 6 mostra um exemplo de uma rede 3.1 Uma Visão Geral sobre Redes Complexas 29 regular, onde cada um dos vértices está conectado aos seus primeiros 6 vizinhos topológicos. Figura 6: Exemplo de Rede Regular. Na Teoria dos Grafos, um grafo regular é aquele que cada vértice tem o mesmo número de adjacências, isto vale também para redes regulares e por isso levam este nome. Redes Aleatórias As redes aleatórias também são conhecidas como rede de Erdös e Rény (ER). Segundo (BARABASI, ), o trabalho de Erdös e Réyni é o primeiro trabalho a relacionar grafos com redes sociais e a tentar aplicar suas propriedades e características para grupos humanos. Supondo o modo de como se formariam as redes sociais, eles demonstraram que com apenas uma conexão entre cada um dos convidados de uma festa, todos estariam conectados ao final dela (BARABASI, ). Ainda foi notado que ao adicionar links, a probabilidade de se gerar clusters aumenta, ou seja, grupos de nós mais conectados. Assim sendo uma festa poderia ser um conjunto de clusters de pessoas que, de tempos em tempos, estabeleciam relações com outros grupos, formando uma rede. Para solucionar o problema de como os nós se conectavam foi definida que a formação dos grafos era aleatória. Desta forma Erdös e Rényi chegaram à conclusão que todos os nós, em uma determinada rede deveriam ter em média a mesma quantidade de conexões, ou as mesmas chances de possuir novos links, constituindo as redes igualitárias (BARABASI, ). Sendo assim, as redes aleatórias são aquelas em que arestas não direcionadas são adicionadas aleatoriamente entre um número fixo de n vértices. No modelo ER não existe critério que privilegie ligações, sendo assim igualitária. Portanto fica caracterizado pelo número de nós n e pela probabilidade p de que uma ligação qualquer dentre todas possíveis seja estabelecida. Quanto mais próximo p estiver de 0 a rede fica mais 3.1 Uma Visão Geral sobre Redes Complexas 30 fragmentada, já quanto mais próximo de 1 a rede fica mais conectada aumentando o coeficiente de aglomeração. Outra forma de construir uma rede aleatória é definir o número máximo de arestas e conectar pares de vértices escolhidos aleatoriamente até que esse número máximo seja alcançado. A Figura 7 mostra uma rede aleatória com o aumento do valor de p. Figura 7: Rede Aleatória em Desenvolvimento. A aleatoriedade quebra a simetria da rede e torna o caminho médio entre dois nós menor se comparado ao tamanho da rede, fazendo assim o efeito small world. Porém este modelo não se aplica em alguns casos devido à ausência de estrutura local. Vide as redes sociais, a probabilidade de quaisquer dois amigos de uma pessoa se conhecerem é superior à de duas pessoas escolhidas ao acaso. Enquanto em uma rede aleatória os valores do coeficiente de aglomeração c e a probabilidade p são iguais, pois não há ligações privilegiadas, para muitas redes reais, c é maior que p, o que mostra uma importante característica: o efeito de vizinhança. Redes SmallWorld ou Mundo Pequeno Após o experimento de Milgram (MILGRAM, 1967), outra importante contribuição para o problema da estruturação das redes complexas, e de grande valia para redes sociais, foi dada pelo sociólogo Mark Granovetter (GRANOVETTER, 1973). Em seus estudos ele descobriu que laços fracos (weak ties) eram mais importantes na manutenção da rede social do que os laços fortes (strong ties), os quais os sociólogos davam mais importância. Isto pois, enquanto os laços fortes conectam pessoas dentro de um determinado grupo, os laços fracos conectam pessoas de grupos diferentes, assim viabilizando a conexão entre grupos distintos. A força do laço pode ser representada por um valor dado à aresta, podendo esse ser chamado de peso. Quanto mais forte um laço, maior é seu peso. Fazendo um paralelo aos relacionamentos humanos, o laço forte seria caracterizado por um parente ou um amigo próximo, enquanto o laço fraco é representado por um colega de trabalho ou um conhecido, por exemplo. 3.1 Uma Visão Geral sobre Redes Complexas 31 Granovetter mostrou que pessoas que compartilham laços fortes em geral participam de um mesmo círculo social, já a função das pessoas com laços fracos era de conectar vários grupos sociais. Sem as relações fracas, os clusters seriam isolados uns dos outros não formando uma rede (RECUERO, 2004). Granovetter também ressalta a importância das tríades (triângulos) nas redes sociais. Essas características fazem com que uma rede social não seja aleatória, já que existe uma ordem. Baseados em Milgram e Granovetter, Ducan Watts e Steven Strogatz (WATTS, 1999) identificaram padrões altamente conectados nessas redes, formando algumas conexões entre indivíduos e criaram um modelo semelhante ao da rede aleatória, mas neste as ligações eram feitas entre pessoas mais próximas e algumas aleatoriamente, o que resultava em uma rede mundo pequeno (WATTS, 1999; RECUERO, 2004). Deste modo se identificava nas redes padrões altamente conectados, com poucas conexões em cada vértice. O que acarreta na distância média entre vértices de uma rede muito grande ser pequena, bastando estabelecer algumas conexões aleatórias. Figura 8: Escalas de p para o Desenvolvimento de uma Rede Small World. Este modelo (Figura 8) é capaz de reproduzir as principais características de muitas redes sociais. Por exemplo, uma pessoa tem amigos em vários lugares do mundo, esses amigos também possuem outros amigos. Essas conexões resultam em pouca separação entre as pessoas no planeta, mostrando que com poucos links entre vários clusters pode-se formar um mundo pequeno em uma grande rede, transformando a rede em um grande cluster (RECUERO, 2004). Redes de Barabási e Albert ou Scale-Free Com o aprofundamento nos estudos das redes complexas inerentes às Ciências Sociais, abriu-se um novo campo de estudos, os das Redes Sociais, que foi evoluindo independentemente das redes aleatórias e tomou maior impulso nas últimas décadas. Mesmo apresentando algumas 3.2 Redes Sociais 32 propriedades das redes aleatórias (como o efeito small world), as redes sociais não apresentam uma distribuição de conexões aleatória, tornando o mecanismo de construção aleatório irreal. Com isso o modelo de Watts, abordado anteriormente, não se diferencia muito do modelo de Erdös e Rényi, de redes aleatórias. No modelo de Watts ele trata as redes sociais como redes aleatórias, pois as conexões entre os indivíduos são alteradas e estabelecidas aleatoriamente. Em 1999 um grupo da Universidade de Notre Dame (BARABáSI; ALBERT; JEONG, 1999) estudou a estrutura da Internet e encontrou vários hubs, constatando que a distribuição de probabilidades para os graus dos nós segue uma lei de potência (power law). Diferente das redes aleatórias e de mundo pequeno, os nós não tem grau comum, e sim representantes de todos os graus. Ainda em 1999 Barabási e Price propuseram um modelo de construção de rede para explicar a estrutura de ponteiros entre páginas da Internet. Este modelo se diferencia da rede aleatória e regular por introduzir um crescimento e conexão preferencial (ROCHA, 2007). O mecanismo para a criação de redes scale-free proposto por Barabási e Albert é dinâmico e gera nós altamente conectados. As redes não são construídas de uma só vez, e sim ao longo do tempo, e mesmo havendo a aleatoriedade em sua construção, elas seguem algumas regras. Durante a formação da rede, onde novos nós são acrescentados, estes tem maior probabilidade de se conectar aos nós de maior grau. Esta preferência em estabelecer ligações com os nós mais conectados gera uma rede que se assemelha com grandes redes do mundo real (ROCHA, 2007). Diferentemente dos outros modelos, essas redes não possuem um valor de grau (uma escala) característico e por isso do nome Rede Livre de Escala (ou sem escala - scale-free). Essa distribuição mostra que enquanto alguns vértices possuem um grande número de vizinhos, a grande maioria possuem poucos. A presença desses hubs, ou concentradores, de conexões faz com que o caminho médio em quaisquer dois vértices da rede seja pequeno. O processo de crescimento e conexão preferencial também resulta em um baixo índice de conectividade na vizinhança, porém com o valor maior que o índice da rede aleatória (ROCHA, 2007). A Figura 9 mostra uma rede scale-free, representando conexões aéreas do Brasil. 3.2 Redes Sociais As sociedades humanas também são redes, por exemplo, aquelas que o ser humano interage através de amizades, laços familiares e profissionais. Assim as Redes Sociais enquadram as teorias sociais em redes complexas, e vale para esta as bases teóricas vindas da Teoria dos Grafos. Redes Sociais podem ser entendidas como um conjunto de nós conectados por uma ou 3.2 Redes Sociais 33 Figura 9: Malha Aérea das Rotas Operadas por Empresas de Aviação Regional no Brasil (CIVIL, 2011). mais relações seguindo alguns padrões. Estes nós, também conhecidos como membros da rede, geralmente representam pessoas ou organizações. De forma sucinta, uma rede social consiste de um conjunto finito de atores e as relações definidas entre eles que proporcionam uma maneira de compreender e analisar a interação e a organização social de um grupo (WASSERMAN; FAUST, 1994). Se observada de forma macro, as redes sociais são interdependentes umas das outras, pois todas as pessoas estariam interligadas umas às outras em algum nível. 3.2.1 Elementos das Redes Sociais As redes sociais, sejam elas virtuais ou não, possuem elementos mais complexos que uma rede comum, e identificá-los não é uma tarefa trivial. Para a definição de uma rede social uma série de perguntas devem ser respondidas, dentre elas: (i) Como definir os atores sociais? (ii) Quais tipos de relações considerar entre os atores? (iii) O que influencia na dinâmica do conteúdo dessa rede? (iv) Quais os tipos de dados que melhor exemplificam e modelam essas redes? Uma rede social é composta por elementos e as próximas seções descrevem os principais, traçando um paralelo de como estes são representados computacionalmente. 3.2 Redes Sociais 3.2.1.1 34 Atores Um dos principais elementos das redes sociais são os atores, representados pelos nós da rede. Estes atuam de forma a moldar as estruturas sociais através da interação e da constituição de laços sociais. No entanto os atores podem assumir papéis diferentes. Por exemplo, quando se foca em redes sociais da Internet os atores podem representar um weblog ou fotolog, sendo mantido por um ou vários autores (RECUERO, 2009). Em uma simulação multiagentes os agentes podem assumir o papel de ator na rede social caso estas representem um ser humano. 3.2.1.2 Conexões As conexões entre os nós das redes sociais são as suas relações. Nas redes estas são representadas como as arestas, que podem ter diversas conotações. As conexões em uma rede social são constituídas dos laços sociais, que são formados através da interação social entre os atores (RECUERO, 2009). Por determinar as alterações dentro das estruturas das redes sociais, as conexões são o foco de estudos e análises, por isso a importância de armazenar os seus registros. Manter os “rastros sociais” dos indivíduos permite a análise das trocas sociais realizadas. Por exemplo, na Internet um comentário em um weblog é um registro da interação social, este se mantém até que alguém o apague ou o weblog saia do ar. Em uma simulação multiagentes registrar a comunicação entre os agentes, seja em arquivos ou banco de dados, por exemplo, permite que a rede social implícita que emerge com a execução da simulação seja posteriormente estudada. Para distinguir os diferentes tipos de conexões especificam-se as conexões de acordo com suas principais características. As interações, relações e os laços sociais são os tipos de conexões. Resumidamente pode-se dizer que um conjunto de conexões de um tipo, quando agregado compõe o outro. Assim sendo, um conjunto de interações sociais pode potencialmente se tornar uma relação social, já os laços sociais são constituídos a partir de relações sociais. A seguir são detalhados e exemplificados cada um dos tipos. Interações A interação pode ser vista como a matéria prima das relações e dos laços sociais, ou seja, o ponto de partida para estes outros dois tipos de conexões. Deste modo, o estudo da interação social compreende o estudo da comunicação entre os atores. As interações podem ser classificadas como (RECUERO, 2009): • Síncrona: é feita em tempo real, uma fala em uma conversa ou uma mensagem em um 3.2 Redes Sociais 35 chat, por exemplo; • Assíncrona: é aquela que não possui expectativa de resposta imediata, como um aviso ou um e-mail. Segundo (PRIMO, 2003) existem duas formas de interação que se distinguem pelo relacionamento mantido entre os agentes envolvidos. São elas: • Interação Mútua: caracterizada por conexões interdependentes e processos de negociação, em que cada integrante participa da construção inventiva e cooperada da relação, afetando-se mutuamente; • Interação Reativa: limitada por relações determinísticas de estímulo e resposta. Para exemplificar, em um grafo a interação mútua seria representada por uma aresta bidirecional, como exemplo pode-se citar um questionamento de uma pessoa dado a um argumento de outra durante uma discussão onde pretende-se alcançar um senso comum dentro de um grupo. Já a interação reativa caracteriza um fluxo com origem-destino, sendo representada por uma aresta orientada, por exemplo um comunicado impresso colocado em uma parede. Relações O conjunto de interações sociais formam relações sociais. Segundo (WASSERMAN; FAUST, 1994), são os padrões de interação que definem uma relação social, que envolve dois ou mais agentes que se comunicam. A relação é considerada a unidade básica de análise em uma rede social. Entretanto, uma relação sempre envolve uma quantidade grande de interações. Por exemplo, dar suporte pode acontecer através de uma troca de mensagens em um software de conversação, ou mesmo de um comentário, ou de ambos. Receber suporte também é resultado dessas interações. No entanto, as relações não precisam ser compostas apenas de interações capazes de construir, ou acrescentar algo. Elas também podem ser conflituosas ou compreender ações que diminuam a força do laço social (RECUERO, 2009). A idéia de relação social não dependente do seu conteúdo, mas sim o conteúdo de uma ou várias interações, estas auxiliam a definir o tipo de relação social que existe entre dois integrantes. Uma relação social pode surgir entre membros de um grupo durante uma conversa ou debate, desta forma o que engajou a relação foi, respectivamente, a convergência ou a divergência de opiniões. Por exemplo, as interações sociais podem configurar relação social do tipo profissional, entre atores dentro de uma rede social. Laços 3.2 Redes Sociais 36 Segundo (WELLMAN, 2001) laços consistem em uma ou mais relações específicas, tais como proximidade, contato freqüente, fluxos de informação, conflito, suporte emocional, etc. Também conhecidos como laços relacionais são a efetiva conexão entre os atores que são envolvidos nas interações. Laços são formas mais institucionalizadas de conexão entre atores, constituídos no tempo e através da interação social (RECUERO, 2009). Breiger (BREIGER, ) prega que os laços podem ter outra constituição, através da associação. Para ele as relações sociais constituem a conexão entre os indivíduos. Entretanto, a conexão entre um indivíduo e uma instituição, ou grupo, torna-se um laço de outra ordem, representado unicamente por um sentimento de pertencer. Essa característica representa um laço associativo. Assim sendo os laços relacionais não dependem apenas das interações, mas também das relações sociais, como exemplo pode-se citar um laço familiar ou de amizade entre dois atores. Laços associativos independem das relações sociais, sendo necessário apenas um “pertencimento” a um determinado local, instituição ou grupo, por exemplo ser sócio de um clube. Ainda é possível classificar os laços em mais dois tipos: • Laços Fortes: caracterizados pela intimidade, proximidade, intencionalidade em criar e manter uma conexão entre duas pessoas. Ou seja, esses laços caracterizam as relações duradouras entre amigos, por exemplo; • Laços Fracos: caracterizados por relações esparsas, as quais não são íntimas ou próximas. É possível observar esse tipo de relação quando se faz referência a amigos de pessoas conhecidas. Nesses tipos de laços as trocas sociais são mais difusas. Laços fracos são fundamentais, pois conectam os clusters nas redes sociais. Tanto laços fortes quanto fracos são relacionais pois são consequência da interação que, através do conteúdo e das mensagens, constituem uma conexão entre os atores envolvidos. A força dos laços nem sempre é recíproca, por exemplo, considere um ator A que tem como melhor amigo outro ator B (laço forte) e que B, em retorno, não considera A como uma pessoa íntima (laço fraco). Isso mostra que os laços que conectam esses dois indivíduos podem possuir forças diferentes dependendo do fluxo, tratando-se de laços assimétricos. Os laços são considerados simétricos quando possuem a mesma força em ambos os sentidos da conexão (RECUERO, 2009). Laços multiplexos são caracterizados por possuírem diversos tipos de relações sociais. Por exemplo, um mesmo grupo de amigos interage entre si dentro do ambiente de trabalho, na academia e em momentos de lazer. Laços multiplexos refletem interações que acontecem em diversos espaços e sistemas (RECUERO, 2009). 3.2 Redes Sociais 3.2.1.3 37 Capital Social O capital social representa a qualidade das conexões de uma rede social. A definição precisa de capital social é alvo de discussões, a maioria dos autores recorre a definições relacionadas com suas funções ressaltando ora aspectos da estrutura social, ora o uso desse recurso por indivíduos. Segundo (PUTNAM, 2000) o capital social refere-se à conexão entre indivíduos em redes sociais e normas de reciprocidade e confiança que emergem dela. 3.2.2 Tipos de Redes Sociais As redes sociais podem ser divididas em dois tipos, se caracterizadas pela sua formação: as redes emergentes e as redes de filiação ou associação. Os dois tipos podem estar presentes em uma mesma rede, porém dependendo da forma que se observa percebe-se aspectos diferentes. 3.2.2.1 Redes Sociais Emergentes As redes sociais emergentes são aquelas formadas pelas interações entre os atores. As conexões entre os nós surgem através das trocas sociais realizadas pela interação social e comunicação. Essas redes surgem de acordo com uma estrutura bottom-up, caracterizada pela construção do grupo através da interação. Esse tipo de interação proporcionaria a criação de laços sociais dialógicos, que eventualmente possuem capacidade de gerar laços mais fortes. Por exemplo, ao analisar um site de relacionamentos observa-se que através dos comentários trocados entre os atores uma rede emerge. Isso porque tem-se, constantemente, sua rede sendo construída e reconstruída através das trocas sociais (RECUERO, 2009). Essas redes são mais visíveis em espaço de maior interação, como sites de redes sociais (PRIMO, 2003). Outro exemplo de rede emergente pode ser visto no trabalho de (FRANçA, 2010). Embora o autor não se preocupe com a formação das redes sociais durante a execução de seu modelo de simulação multiagentes, a cada passo em que há comunicação entre os agentes é um link que os liga. Com o passar do tempo e a execução de diversos passos da simulação, os links criados através da interação dos agentes vão formando uma rede social. Nesse tipo de rede os atores são responsáveis por manter um certo fluxo de dados para que as associações não acabem e a rede não seja esquecida, e assim o ator preserve seu valor e contribuição para a rede como um todo. Devido ao investimento, comprometimento e tempo necessário que o ator deve empreender para que as trocas sociais aconteçam e o laço ganhe força essas conexões se concentram em poucos nós. 3.3 Análise de Redes Sociais 3.2.2.2 38 Redes Sociais de Filiação, ou Redes Associativas Segundo Watts (WATTS, 2003), a rede de filiação é uma estrutura de grupo que não parte de laços sociais entre seus membros, mas que permite que as pessoas interajam e que eles sejam construídos. A relação que define uma rede de filiação é de indivíduo ser membro de algo. Essas redes permitem a inferência de laços sociais, já que quanto maior o número de contextos divididos pelos atores maior a possibilidade de que eles tenham algum tipo de relação social. As redes de filiação são estudadas de acordo com as conexões que são construídas. Diferentemente das redes emergentes, estas representam uma rede mais estável e estática, propiciando um ambiente não tão dinâmico. Analisando a lista de amigos de um site de relacionamento de um ator qualquer, ela não pressupõe interação social do tipo mútuo. Pois uma vez adicionado, o ator permanece lá independente da interação para que se mantenha o laço social ativo. As redes desse tipo mostram que não há alterações em sua estrutura pelo acréscimo ou decréscimo das interações e valores trocados (RECUERO, 2009). Outro exemplo pode ser visto no trabalho de (BERRY et al., 2003), onde é modelada uma simulação multiagentes para simular o recrutamento de jovens para grupos terroristas. Quando um agente Pessoa se associa a um agente Grupo Terrorista a relação é de “pertencimento”, não sendo feita nenhuma troca entre tipos distintos de agentes, a troca é feita somente entre agentes do tipo Pessoa. Por não possuírem custos para os atores, redes dessa espécie costumam ser muito grandes e os laços que a constituem são fracos. Ao contrário das redes emergentes, nesse tipo de rede não é necessário que os atores interajam para manter a conexão, podendo conter até conexões não recíprocas, como os hiperlinks. 3.3 Análise de Redes Sociais A Análise de Redes Sociais (ARS) é um campo derivado da Sociologia, Psicologia Social e Antropologia (CORDEIRO, 2009). Tal abordagem estuda as ligações relacionais (relational tie) entre atores sociais. Os atores podem ser analisados como unidades individuais ou unidades sociais coletivas, por exemplo, departamentos dentro de uma organização, agências de serviço público de uma cidade, estados-nações de um continente, dentre outras. Assim ela visa realizar o mapeamento e a medição de relações e fluxos entre as entidades de informação/conhecimento, fornecendo uma análise visual e matemática das relações humanas (GOULD, 1980). As redes sociais trazem consigo uma gama de informações e características, e para a ex- 3.3 Análise de Redes Sociais 39 tração e análise destas existem diversas técnicas. Até então as redes foram apresentadas por desenhos, mas dados como freqüência de ocorrências e valores específicos são difíceis de serem visualizados nesta forma. Para o cálculo e análise destas informações a Sociometria trabalha com matrizes, denominadas sócio-matrizes. Com isso, a Sociometria vêm complementar a Teoria de Grafos, servindo como base matemática para análises de redes sociais. A maior contribuição dada pela ARS é a importância atribuída às relações entre os membros da rede. Normalmente os estudos das redes eram focados em seus participantes e suas ações, com pouca ênfase aos relacionamentos. Um exemplo que deixa visível esta importância são as relações comerciais, em especial as negociações. Em tais situações os tipos e formas de como os relacionamentos se concretizam são fundamentais (MIKA, 2007). A análise de redes engloba uma visão geral das estruturas sociais baseadas na crença que os tipos e padrões das relações emergem da conectividade do indivíduo, sendo que a presença, ou ausência, de tais tipos e padrões acarretam efeitos na rede e seus constituintes. Estipular qual o conjunto de nós deve ser incluído dentro da análise da rede é um desafio. Por exemplo, um estudioso que deseja analisar pesquisas médicas sobre doenças do coração precisa definir quais indivíduos considerar para tal. Segundo (MIKA, 2007) a ARS fornece um vocabulário para descrever as estruturas sociais, modelos formais que capturam as propriedades comuns de todas as redes sociais e um conjunto de métodos aplicáveis à análise de redes em geral. Os conceitos e métodos para análise de redes são baseados em uma descrição formal de redes como grafos. Métodos de análise essencialmente originados da Teoria dos Grafos são aplicados à representação gráfica de dados das redes sociais. A análise de redes também aplica modelos estatísticos e probabilísticos numa proporção menor que técnicas algébricas (quantidade de conexões, nós, etc). Nas análises são usadas algumas métricas e estas fornecem mecanismos matemáticos para o estudo de uma determinada sociedade ou grupo, que com os conceitos de Sociologia auxiliam a explorar os resultados obtidos. 3.3.1 Evolução Histórica Os primeiros passos da ARS são dados por Émile Durkheim, no final do século XIX. Em seus trabalhos são abordados dois tipos de solidariedade social: a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica. A primeira é típica das sociedades pré-capitalistas, onde os indivíduos se identificam através da família, religião, tradição, costumes, etc. Trata-se de uma sociedade que tem coerência porque os indivíduos ainda não se diferenciam. Reconhecem os mesmos valores, 3.3 Análise de Redes Sociais 40 sentimentos, objetos sagrados, porque pertencem a uma coletividade (DURKHEIM, 1893). Já na solidariedade orgânica é considerada característica das sociedades capitalistas, os indivíduos são interdependentes não mais pelos costumes e tradições em comum, mas sim pela divisão do trabalho social garantindo assim, por exemplo, a união social. Assim os membros não necessitam ser semelhantes, em sua maioria são diferentes e necessários, como os órgãos de um ser vivo (WELLMAN, 1997; RECUERO, 2004). O psiquiatra Jacob Levy Moreno, em 1934 (MORENO; JENNINGS, 1934), desenvolveu um registro sistemático para a análise da interação social em pequenos grupos, tais como salas de aulas e grupos de trabalho, foi ele quem introduziu o termo Sociometria, ciência que buscava levantar dados de comportamentos sociais e analisá-los. Em 1935 Ferdinand Tönnies (TöNNIES, 1935) formulou uma distinção que se tornaria clássica. São dois tipos básicos de organização social: comunidade e sociedade. As relações de comunidade, típicas de grupos de caçadores/coletores e hordas1 (grupos relativamente pequenos e pré-industriais) baseiam-se na coesão nascida do parentesco, das práticas herdadas dos antepassados e dos fortes sentimentos religiosos que unem o grupo. Já as relações de sociedade são típicas de grupos que vivem vida urbana desenvolvida, organizam-se em estados e possuem uma complexa divisão de trabalho (WELLMAN, 1997; RECUERO, 2004). A expressão “redes sociais” foi utilizada pela primeira vez pelo cientista social Alfred Radcliffe-Brown em 1940 (RADCLIFFE-BROWN, 1940). E foi com a incorporação de ferramentas matemáticas, e mais tarde com a Computação, que a ARS pode evoluir. A colaboração matemática, que fundamenta as análises das redes, proveio da teoria de grafos, probabilidade, estatística e modelos algébricos. Dessas teorias derivam muitos dos conceitos utilizados na ARS buscando investigar, modelar e mensurar as estruturas, papéis sociais e relações de poder. 3.3.2 Fundamentação Teórica Os elementos básicos a serem considerados para as técnica de ARS estão ilustrados na Figura 10, quais sejam: ator, ligação, díade, tríade, sub-grupo, grupo e ponte. Cada um destes elementos será explicado nas subseções seguintes. Ator Para a ARS um ator é uma unidade discreta que pode ser de diferentes tipos: uma pessoa ou um conjunto discreto de pessoas agregados em uma unidade social coletiva, como subgrupos, 1 Hordas denominam o primeiro tipo de organização humana, estes agrupamentos se manifestaram pela primeira vez no período paleolítico pela necessidade de se proteger mutuamente. 3.3 Análise de Redes Sociais 41 Figura 10: Elementos de uma Rede Social. organizações e outras coletividades. Na Figura 10 um ator é representado por um nó no grafo (A, B, C, D, E, F, G, H e I). Ligação As ligações são as relações entre pares de atores, feitas por laços relacionais, também denominados linkages. Os tipos mais comuns de ligações são (SILVA et al., 2006): • Avaliação individual (por exemplo, amizade ou respeito); • Transação de recursos materiais (por exemplo, uma transação de compra e venda entre duas empresas); • Transferência de recursos materiais ou não materiais (por exemplo, a troca de mensagens eletrônicas); • Associação ou filiação que ocorre quando os atores participam de eventos em comum (festas, por exemplo); • Interação (por exemplo, sentar-se próximo a outra pessoa); • Ligações entre papéis formais (por exemplo, laço de autoridade chefe-subordinado em uma empresa); • Relações biológicas (pai e filho, por exemplo). Na Figura 10 as ligações são as arestas do grafo, por exemplo a ligação entre os nós E e G. Díade A díade é a rede mais simples que existe, formada por apenas dois atores e as possíveis ligações entre estes, a ligação é uma propriedade do par. Por exemplo, um ator A é amigo do 3.3 Análise de Redes Sociais 42 ator B (SILVA et al., 2006). Na Figura 10 uma das díades está representada pelos nós A e C e a aresta que os relaciona. Tríade Uma rede formada por três atores e as ligações entre todos eles é denominada tríade. Esta traz alguns conceitos importantes como a transitividade, propriedade de redes complexas. Potencialmente em uma tríade há três díades. Nas relações comerciais, isso pode ser um importante fator, pois se o ator A mantém relações com o ator B, e este com o ator C, há um caminho possível passando pelo ator B para o ator A realizar transações com o ator C. Ou seja, é mais fácil de os atores A e C serem amigos se ambos manterem relações com o ator B (SILVA et al., 2006). Na Figura 10 uma das tríades está representada pelos nós A, B e C e suas relações. Subgrupo Um subgrupo de atores é um conjunto de atores e suas relações. Isto pode ser importante no estudo de redes sociais complexas e extensas, com a análise de subgrupos específicos, delimitados dentro do grupo. As díades e tríades podem definir inúmeros sub-grupos (SILVA et al., 2006). Na Figura 10 um possível sub-grupo está representado pelos nós E, F, G, H e I e as ligações entre eles. Grupo De modo a melhorar o nível de análise de redes sociais, define-se o conceito de grupo. Um grupo é um conjunto finito que engloba todos os atores para os quais os laços de determinado tipo foram mensurados (SILVA et al., 2006). Ou seja, um grupo pode ser considerado um subgrupo com a arbitrariedade do tipo de suas ligações. Por exemplo, dada uma rede social, extrair o grupo de pessoas que se relacionam por trabalhar em uma determinada empresa, tem-se então todos os membros de uma empresa que possuem colegas de trabalho. Ator Ponte Como foi dito na Seção 3.1.4 é importante a existência de laços fracos nas redes sociais, uma vez que estes apresentam a função de ligar partes de uma rede social que não são ligadas diretamente através de laços fortes. Esta idéia dá origem ao conceito de ator ponte. Também conhecidos como pontos de articulação, são atores que interligam grupos, e que se retirados a rede ficará fragmentada e os grupos, antes ligados, isolados. Na Teoria dos Grafos ponte se refere à aresta, neste caso o ator ponte é o ponto de articulação2 de um grafo. Na Figura 10 o nó D representa o conceito de ator ponte. 2 Pela definição da Teoria dos Grafos um ponto de articulação é um vértice que sua remoção desconecta o grafo (DAMAS, 2003). 3.3 Análise de Redes Sociais 3.3.3 43 Métricas de Análise A ARS é um método para melhorar a partilha de conhecimento através da análise da posição e estrutura entre atores, ou seja, seus relacionamentos. De acordo com (WELLMAN, 2001), a análise de redes considera duas perspectivas analíticas que se complementam: 1. Egocentrada: nesse tipo de análise a atenção está voltada para determinado ator (ego) e outros atores da rede com os quais este mantenha relações. Logo, o número, a magnitude e a diversidade das conexões estabelecidas direta ou indiretamente com o ego definem os demais nós da rede; 2. Rede Completa: nesse tipo de análise, a informação sobre o padrão de laços entre todos os atores na rede é usada, geralmente, para identificar subgrupos reticulares com maior grau de coesão interna e os nós que ocupam posições similares na rede. A interpretação dos resultados obtidos com as métricas de ARS pode ser feita sob três pontos de vista: 1. Interpretação de Posições Individuais: sob o ponto de vista dos atores; 2. Interpretação da Rede como um Todo: sob o ponto de vista do conjunto de relações que formam a rede; 3. Interpretação de Clusters e Componentes: sob o ponto de vista dos agrupamentos formados devido às relações. Na Tabela 1 tem-se a apresentação das principais métricas utilizadas, o que contemplam e uma breve descrição. Existem softwares que auxiliam a análise das redes. Dentre eles destaca-se o UCINET (BORGATTI; EVERETT; FREEMAN, 2010), mas existem demais ferramentas como por exemplo Pajek (BATAGELJ; MRVAR, 2010) e SoNIA (MCFARLAND; BENDER-DEMOLL, 2010). Estas são ferramentas úteis quando o foco não é realizar cálculos e executar algoritmos manualmente, mas sim para o entendimento das características de uma rede. Uma visualização da rede social formada com base no trabalho de (MINHANO, 2008) gerada pelo visualizador de redes do UCINET, o NetDraw, pode ser visualizada na Figura 11. 44 3.3 Análise de Redes Sociais Tabela 1: Tipos de Indicadores de Métricas (ALEJANDRO; NORMAN, 2005) Tipo de Indicador Ator Rede Completa Densidade Sim Sim Centralidade Sim Não Centralização Não Sim Intermediação Sim Sim Proximidade Sim Sim 3.3.3.1 Descrição Indica o valor em percentagem da densidade da rede, mostrando se a rede possui alta ou baixa conectividade. É o quociente entre o número de relações existentes com as possíveis. Número de atores que o ator em questão se relaciona. Por estar altamente conectado a rede, o ator exerce um papel central. São os atores ponte. A possibilidade que um ator tem para intermediar a comunicação entre dois nós. A capacidade de alcançar todos os nós da rede. Medidas da Rede As métricas que avaliam a rede visam quantificar e qualificar características globais de uma rede social (seu tamanho, formação de sub-estruturas, identificação de pontos críticos, etc.). A seguir serão apresentados tais conceitos. Tamanho Esta é a quantidade de membros (atores) da rede. Trata-se de uma propriedade básica e pode indicar o nível de dificuldade de se fazer a análise da rede. Número de Ligações Uma unidade básica de medida da rede é o número de ligações mantidas pelos indivíduos com os outros, através da rede como um todo. O número de ligações mantidas pelos indivíduos pode mostrar a comunicação e a carga de contatos da rede. No entanto, porque as redes diferem em tamanho, uma estatística mais padronizada é necessária para compará-las (MIKA, 2007). Para redes direcionadas, o número de possíveis ligações é n ∗ (n − 1), onde n é o número de nós da rede. Já para redes não direcionadas, o número de possíveis ligações é dado por n∗(n−1) . 2 Com o aumento linear no número de atores da rede, o número de possíveis relações cresce exponencialmente, aumentando a complexidade da rede. Densidade A densidade representa a interconexão da rede, esta métrica é utilizada para demais medidas como a taxa de câmbio de informação, grau de conhecimento comum, dentre outras (MIKA, 3.3 Análise de Redes Sociais 45 Figura 11: Rede Social do Marketing Viral (MINHANO, 2008). 2007). Ela é uma das métricas mais utilizadas para avaliar conectividade da rede, ou seja, quão integrados estão os atores. Ela é calculada pela proporção do número de ligações atuais em relação ao número total de possíveis ligações. Distância Geodésica A distância geodésica é o menor caminho entre dois atores, ou seja, é o menor número de relações em um caminho possível de um ator para outro na rede. Outras informações importantes também são baseadas na distância geodésica, como a distância geodésica média, índice de coesão (proximidade entre os atores) e freqüência das distâncias geradas (quantidade de vezes que um valor de distância consta na tabela de adjacência dos atores). Quanto maior a freqüência de distâncias geodésicas entre os atores com valores baixos, mais coesa é a rede (MIKA, 2007). Diâmetro O diâmetro da rede está relacionado com o conceito de distância geodésica. Este é a maior distância geodésica da rede social. Cliques Outra métrica importante para redes é a formação de clusters, ou componentes, pelos seus membros. As configurações dos laços podem revelar quem está ligado a quem nos subgrupos da rede. Isto pode parecer evidente, mas com uma análise detalhada podem aparecer relações antes não perceptíveis com base em critérios inesperados. Essas características são úteis para 3.3 Análise de Redes Sociais 46 entender como uma rede está operando (MIKA, 2007). A definição matemática para clique é “subgrafo máximo completo”, ou seja, os nós que possuem entre si todos os vínculos possíveis. Desta maneira, uma clique é um subconjunto de uma rede onde os atores são mais próximos entre si comparados a demais membros da rede. Por exemplo, em grupos humanos há a formação de cliques em laços de amizade baseados em idade, interesses, etnia, etc. (MIKA, 2007). Os membros de uma clique possuem comportamentos homogêneos e grande proximidade, aumentando a velocidade da troca de informações. Com isso, informações que chegam a uma clique são propagadas pelos seus membros rapidamente, que tendem a interpretá-las de forma similar. Esta característica pode ser importante, por exemplo, em estratégias de segmentação. Com informações das cliques é possível iniciar o estudo de como subgrupos interagem. É interessante observar a quantidade de cliques às quais um ator pertence, o compartilhamento de cliques entre atores e a freqüência que isto ocorre, a quantidade de membros compartilhados entre as cliques e a proporção de adjacência de um nó em relação as cliques. Esta última é útil no estudo tanto egocêntrico (popularidade, influência, poder de um ator, etc.) como no estudo de como os subgrupos interagem entre si para formar a rede global. Porém, às vezes a definição de clique é muito rígida para a ARS. Pode ser interessante em uma análise identificar um grupo fortemente ligado, mas que alguns de seus membros não estejam conectados com todos os demais integrantes. Métricas como o n-clique e o n-clan tornam a definição de clique mais flexível permitindo fazer este tipo de análise (HANNEMAN; RIDDLE, 2005). No n-clique o cluster é formado por atores que estão conectados com todos os membros do grupo a uma distância não maior que n, sendo que para o cálculo da distância pode-se utilizar nós que não farão parte do grupo. Assim sendo, para n = 1 (distância igual a 1) tem-se a definição de clique, mas para n = 2, são incluídos no grupo os "amigos dos amigos". N-clique é uma métrica mais inclusiva do que a clique, diminuindo o número de agrupamentos. Por isso, a escolha do valor de n deve ser rigorosa para que a análise não perca o sentido. Surgem mais atores “centrais”, pois um ator pode fazer parte de um clique no qual não se relaciona diretamente com todos os seus membros, mas por se relacionar com um ator da clique em questão acaba “herdando” de forma indireta os relacionamentos diretos deste. Para evitar a explosão de compartilhamentos é comum o uso da medida n-clan. Em um 2-clan os membros ainda seriam compostos também por “amigos de amigos”, porém isto deve ser válido para todos os membros da clique. Matematicamente, um n-clan é um n-clique, no 3.3 Análise de Redes Sociais 47 qual a distância geodésica, d(i, j), entre todos os nós do subgrafo não é maior que n. Figura 12: Exemplo de Clique em uma Rede Social. Assim sendo, a definição de n-clique está inclusa na de n-clan, mas na n-clan há formação de clusters mais coesos. Como pode ser observado na Figura 12, o conjunto {A, B,C, E, F} é um exemplo de 2-clique, pois a distância máxima de um membro para todos os demais é 2. Nota-se que C e E pertencem a 2-clique, e estão distantes por duas ligações (intermediados pelo ator D) que não fazem parte do grupo. Com a definição de 2-clan, o grupo passa a ser mais coeso já que todo nó deverá estar a distância máxima 2 de todos os demais. Neste caso, o 2-clan é formado por {B,C, D, E, F}. Pontos de Corte Se um nó é retirado juntamente com suas ligações e a rede ficar desconectada, se dividindo em diferentes componentes isolados, este nó é denominado ponto de corte (cutpoint) ou ator ponte. Os pontos de corte são atores importantes na rede já que se retirados podem dividir a rede em partes diferentes e incomunicáveis, fazendo com que ela enfraqueça. O estudo destes pontos pode ser de grande utilidade, por exemplo em redes terroristas ou de crime organizado. A retirada dos pontos de corte mais importantes é capaz de promover o enfraquecimento da organização. Pontes A definição de ponte é similar à do ponto de corte, mas enquanto o ponto de corte se refere ao ator, a ponte diz respeito ao relacionamento. Ou seja, é a ligação que se retirada de uma rede fará com que a divida em diferentes componentes, assim a desconectando. Alcançabilidade 3.3 Análise de Redes Sociais 48 Este conceito é relacionado aos atores. Um ator A é alcançado por um ator B se existem caminhos entre A e B. Centralização da Rede A centralização da rede é o grau para o qual as relações estão focadas em um ou poucos atores centrais, ou seja, é medida da centralidade global. Uma alta centralização indica que as informações que fluem na rede são dependentes destes poucos membros, a remoção destes atores podem provocar a ruptura do fluxo. 3.3.3.2 Métricas do Ator Geralmente os estudos se concentram nos atores centrais de uma rede, pois é através deles que há o maior fluxo de informações. Assim esses assumem o papel de reguladores de informação, líderes de opinião, fontes de informação, etc. Porém, atores não-centrais também são importantes, existem casos que deve-se identificá-los e direcionar o estudo sobre estes. Mesmo que os atores isolados, e outros periféricos não participem do fluxo central (“mainstream") de atividades da rede, recebendo recursos com atraso e as vezes até depois de seu conteúdo não ter mais utilidade ou validade, são estes que geralmente estão insatisfeitos com seu papel na rede e estão propensos a saírem da mesma (MIKA, 2007). Dependendo do viés da análise este pode ser um ponto importante a ser levado em conta. A seguir são apresentadas as métricas do ator. 3.3.3.2.1 Centralidade A centralidade é uma métrica aplicada ao indivíduo, esta indica quão central um ator é em sua rede. Para análise da rede, essa métrica mostra como a organização está em torno de atores-chave. O valor da centralidade pode indicar o papel do ator na rede, ou seja, quem são os conectores, líderes, pontes, isolados, ou até mesmo identificar onde estão os clusters, quem faz parte dele, quem está no núcleo da rede, ou quem está em sua periferia. Existem duas categorias de métricas para a centralidade, a local e a global. Quando um ator possui um maior número de conexões com os outros ele está localmente centralizado, já se ele ocupa uma posição estratégica será globalmente centralizado. As três métricas mais usadas na ARS para determinar a centralidade são: grau de centralidade (degree); centralidade de intermediação (betweeness); e centralidade de proximidade (closeness). Grau de Centralidade 3.3 Análise de Redes Sociais 49 O grau de centralidade proporciona um modo de calcular a importância de um ator na rede através do número de relações (degree centrality) que este possui, sendo que a direção da ligação deve ser levada em conta para interpretar o papel desse indivíduo. Assim sendo, podese generalizar que membros com baixo grau de centralidade são atores periféricos na rede, e com um alto grau, assumem uma posição importante na rede. Mas esse não é o único atributo utilizado para determinar o poder de um indivíduo na rede (MIKA, 2007). Sendo assim, o grau de centralidade de um ator em uma rede indica o prestígio e poder que este possui. Ou seja, a dimensão de poder é diretamente relacional a quantidade de ligações, quanto maior o número de relações, maior será o seu poder. Para medir o grau de participação (atividade) de um ator na rede pode-se usar o conceito de grau do ator (degree), ou seja, o número de conexões diretas que este possui. Atores mais centrais controlam a maior quantidade de informação na rede, assim a centralidade pode ser considerada uma medida do índice de acesso à informação que circula pela rede. Por exemplo, caso haja rumores dentro da rede, os atores com um maior grau de centralidade terão maior probabilidade de escutá-los e difundir-los. É interessante saber quantas ligações um ator possui como origem e quantas como destino. Determina-se que um alto número de ligações que referenciam ao ator (in-degree) significa uma grande quantidade de indivíduos que o escolheram para se relacionar, assim o ator em questão possui bom prestígio. Um alto nível de ligações em que o ator se associa a outro (out-degree) indica que o indivíduo se relaciona muito com os outros, então uma possível interpretação é que este indivíduo possui alta influência nos outros. Outra interpretação para estas métricas são que o out-degree pode indicar a capacidade de expansão de um determinado ator, enquanto o in-degree pode representar sua popularidade. Por exemplo, a medida do in-degree é um dos fatores que determina o status de um determinado site da Internet quando utiliza-se o algoritmo Page Rank do motor de buscas Google. Com estas métricas é possível fazer algumas análises. Sendo o in-degree representado por gi e o out-degree por go então: • A é um ator isolado se gi (A) = go (A) = 0. Ou seja, o ator não é destino nem origem de ligações; • A é um ator transmissor se gi (A) = 0 e go (A) ≥ 1. Assim sendo, o ator não é destino de ligações, mas é origem delas; • A é um ator receptor se go (A) = 0 e gi (A) ≥ 1. Isto é, o ator é destino de ligações, mas não é origem delas; 3.3 Análise de Redes Sociais 50 • A é um ator portador se gi (A) ≥ 1 e go (A) ≥ 1. Dessa forma, o ator é destino e origem das ligações. Centralidade de Intermediação Não importa a métrica usada, atores que ocupam posições centrais nas redes desempenham papéis importantes nelas. Deste modo, outra centralidade a se calcular é a de intermediação. Posições estratégicas dão aos indivíduos poder de controlar o fluxo de recursos na rede, e calcular quanto um ator permanece frente a outros na rede (betweenness) e como eles estão posicionados para se tornarem caminhos de recursos e informações que circulam a rede é de grande valia. Por exemplo, um indivíduo com alto grau de intermediação pode operar como gestor de contatos na rede. Esta centralidade mede o grau de intermediação, que é o número de vezes que um ator aparece na contagem da distância geodésica, ou seja, no caminho mais curto de todos os possíveis pares de nós da rede. Um ator é um intermediário se este conecta outros atores que não se relacionam diretamente. Assim sendo, o grau de betweenness indica o controle que os atores, que atuam como intermediários, possuem sobre atores que dependem localmente deles. Desta forma, a capacidade de interação de alguns atores participantes da rede é dependente do nível de centralidade de intermediação dos intermediários (WASSERMAN; FAUST, 1994). Centralidade de Proximidade A centralidade de proximidade indica a proximidade aos demais atores na rede, podendo ser interpretada como o acesso a recursos circulando baseado na avaliação do caminho mais curto dentro da rede. Esta métrica mostra os atores que estão mais próximos de todos os outros atores da rede, isto é, quais atores possuem relacionamentos menos indiretos. O calculo da centralidade de proximidade é o inverso da soma da distância geodésica do nó em questão em relação a todos os demais, já que quanto maior o caminho menor a proximidade. A soma das distâncias geodésicas é denominada farness, closeness é o inverso. Quanto maior closeness de um nó significa que este possui maior capacidade de se comunicar com os demais atores da rede, assim tendo a capacidade de acessar informação rapidamente. Vale ressaltar que os resultados não são iguais aos obtidos com as outras medidas. Isto pois, no caso da proximidade, não importa apenas o número de atores que um indivíduo se relaciona na rede, e sim quais são os atores que este se relaciona, levando em conta os valores de seus graus de conexão. Ou seja, dependendo do cenário mais vale se relacionar com atores que possuam maior grau de proximidade da rede, assim a probabilidade de comunicação com outros membros da rede é maior. Outro exemplo, em uma rede de disseminação de doenças, os atores com os 3.3 Análise de Redes Sociais maiores graus de proximidade serão, provavelmente, os primeiros a serem contaminados. 51 52 4 Frentes de Pesquisa e Trabalhos Relacionados Se queres conhecer o passado, examina o presente que é o resultado; se queres conhecer o futuro, examina o presente que é a causa. —– Confúcio Neste capítulo tem-se a apresentação de trabalhos de pesquisa relacionados com os referenciais teóricos deste projeto, quais sejam: Simulação Multiagentes, Redes Sociais e o Pânico em Multidão. Para tal feito foi levantado uma série de trabalhos destas áreas, procurando sempre que possível verificar o uso destes conceitos em conjunto. Analisando a literatura, pôde-se observar que a grande maioria dos trabalhos que aborda simulações através de SMAs não citam Redes Sociais, mas sua existência está implícita. Também foram procuradas publicações sobre Redes Sociais, Pânico em Multidão e SMA em conjunto, sendo que não foi encontrado algum projeto que propusesse a junção dos três campos. Sendo assim, tem-se o reforço que a proposta deste projeto é inovadora. Um fator importante que justifica a abordagem destes três campos em conjunto (Pânico em Multidão, Simulação Multiagentes e Redes Sociais) é o benefício que testes destes sistemas podem trazer para a vida real. Por exemplo, em uma situação de incêndio é interessante que brigadistas estejam inseridos de que forma na comunidade? Com quem, ou com quantas pessoas, esse brigadista deve interagir para difundir sua experiência? Estas perguntas são importantes pois suas respostas podem colaborar com o mundo real. Este capítulo está organizado como se segue. Com a análise de publicações, foi possível detectar algumas frentes de pesquisa, que estão relacionadas e são mutuamente dependentes, orientando e servindo de apoio para o desenvolvimento deste projeto. Estas frentes identificadas são apresentadas nas Seções 4.1, 4.2 e 4.3. Por último, na Seção 4.4 são abordados os pontos do trabalho de (FRANçA, 2010), no qual esta pesquisa toma como base. 4.1 Estudo da Formação e da Dinâmica das Redes 4.1 53 Estudo da Formação e da Dinâmica das Redes A utilização de redes sociais, em estudos que antes eram feitos por modelos matemáticos, abre novos campos de pesquisa, bem como possibilita uma representação mais real dependendo do contexto que se estuda. Muito tem sido feito para identificar e explorar a estrutura das redes do mundo real, mas os esforços para analisar os efeitos que estas estruturas têm sobre a dinâmica do sistema são poucos (WATTS; STROGATZ, 1998; STROGATZ, 2001). O que configura as interações sociais como uma rede é a topologia que esta assume quando conecta os atores membros da sociedade envolvidos nas interações. Ao estudar o comportamento dinâmico de processos artificiais ou naturais dos sistemas sociais, um elemento chave é a topologia da estrutura da rede social (GASTON; DESJARDINS, 2005). A topologia é o que caracteriza a rede, e o estudo de sua formação se divide em duas vertentes: (i) a formação das redes sociais, ou seja, como elas se iniciam, e sua (ii) dinâmica, observando como os atores constituem, desfazem e realizam a manutenção de suas ligações. O estudo da formação das redes visa a escolha do modelo de rede complexa que configura a topologia da rede, e dita o comportamento social dos agentes durante a simulação; e a dinâmica da topologia, analisa como a topologia se comporta no decorrer do tempo, ao longo das interações. Ou seja, não há uma configuração inicial da rede, os agentes interagem e a rede se forma, com isto o próximo passo é analisar a estrutura da rede que emergiu. Encontrar estruturas adequadas de rede para um domínio de aplicação particular é fundamental para a modelagem de sistemas sociais artificiais e sua implementação em sistemas multiagentes. No trabalho de (GASTON; DESJARDINS, 2005) é avaliado o impacto da escolha do modelo de rede complexa (ver Seção 3.1.4) utilizado para a configuração inicial da rede social em uma simulação multiagentes, sobre os resultados finais. Ao final é qualificado o melhor modelo para cada uma das abordagens avaliadas. São testados quatro modelos de redes, são eles: grafos regulares, grafos aleatórios, redes small-world, e redes scale-free. Aplicados a três cenários diferentes: difusão de inovações, formadores de opinião e a formação de equipes. Estes cenários são baseados em trabalhos anteriores que utilizaram de um único tipo de rede para a modelagem do problema. A outra vertente é a dinâmica da rede. Para este tipo de análise leva-se em consideração as questões inerentes ao tipo das relações (ver Seção 4.3). Por exemplo, em (BERRY et al., 2003) é pressuposto que a rede já está formada, porém ela se constituiu por uma afinidade entre os agentes. Neste trabalho é estudado como se dá o recrutamento de jovens para grupos terroristas. Baseado em (DUKES; MARTINEZ; STEIN, 1997), que aborda a formação das gangues 4.2 Níveis Micro e Macro 54 urbanas americanas, a rede em questão é iniciada com a topologia formada pela homophily1 dos membros, e limitada por uma quantidade máxima de conexões que um ator pode possuir. Para exemplificar a dinâmica em relação à formação e remoção de laços nas redes sociais, pode-se observar o trabalho (PUJOL; SANGüESA; DELGADO, 2002). Neste é verificado em tempo real a reputação dos agentes envolvidos durante a simulação. A hipótese aqui é considerar como medida para a constituição, ou a remoção, de uma relação entre agentes o nível de reputação que um determinado agente possui dentro da rede. Desta forma, agentes com baixa reputação tendem a possuir menos “ouvintes” que agentes com uma reputação mais alta. Este trabalho pode ser utilizado como base para estudos de propagação de boatos ou qualificar a veracidade e confiabilidade de uma informação, por exemplo. A formação e/ou dissolução de laços em tempo real permite observar a dinâmica dos clusters da rede, acompanhando o seu início, aumento, decrescimento e fim. 4.2 Níveis Micro e Macro Para trabalhos que integrem as Redes Sociais e a Simulação Multiagentes, um dos pontos de atenção são os níveis das abordagens. Uma simulação multiagentes parte da especificação da menor entidade, o agente. O comportamento e as estruturas emergentes são conseqüências das interações destes: o mesmo acontece para Redes Sociais. A interação dos atores resulta na emergência da estrutura da rede social. Com isto pode-se perceber nos trabalhos analisados na literatura duas preocupações. A primeira seria o nível micro, onde o foco são os agentes que representam os atores e interagirão durante a simulação. A outra preocupação é o nível macro, ou seja, a rede social formada, mais especificamente as métricas que definem as características das relações sociais durante a simulação e a estrutura da rede, podendo estas influenciar durante a simulação. Em (BERRY et al., 2003) são considerados os níveis micro e macro. Há agentes que representam adolescentes do sexo masculino e agentes que representam gangues e escolas. Estes interagem a fim de simular a forma que se dá o recrutamento de jovens para grupos terroristas. Cada agente possui uma pré-disposição a faltar às aulas na escola. Quando este opta em um determinado dia a não ir para aula, ele está propício a freqüentar o ambiente de uma gangue. Agentes que participam do ambiente escola com mais freqüência possuem menos chances de 1 Homophily é o grau de similaridade de um par de indivíduos que se comunicam. Há um alto grau de homophily entre indivíduos que pertencem aos mesmos grupos, círculos sociais, participam do mesmo clube, ou seja, compartilham dos mesmos interesses, crenças ou tem algo em comum que os une. Quando a homophily está presente, provavelmente a comunicação será compensadora para ambos os lados (AMORIM, ). 4.2 Níveis Micro e Macro 55 participar das gangues, e também influenciam os demais a não participar das gangues ou até mesmo persuadi-los a deixar de freqüentá-las. O mesmo é válido para jovens que participam das gangues com mais freqüência com que vão as escolas, estes podem influenciar um agente e recrutá-lo ao grupo. Um agente pode freqüentar os dois ambientes, porém em dias diferentes. Assim, no trabalho de (BERRY et al., 2003) o nível básico são as pessoas, um nível acima se encontram os clusters nos quais os atores irão se tornar membros durante a simulação. Neste trabalho tanto os clusters quanto os atores são agentes da simulação. Esta abordagem se faz útil para que os agentes possam recuperar as informações inerentes à estrutura social a qual estão inseridos. Uma limitação no trabalho de (BERRY et al., 2003) é que deixa a formação da rede social e seus grupos pré-definidos, perdendo parte da característica de emergência. Assim, ao agente é possível somente a decisão de qual grupo quer participar, impossibilitando a formação de novos clusters. 4.2.1 Nível Micro Como foi exposto anteriormente, no nível micro são considerados os agentes. Para a implementação de agentes que trabalhem com redes sociais duas abordagens são encontradas na literatura. A primeira constitui em tratar a existência da rede social de forma implícita, como são modeladas a maioria das simulações multiagentes da literatura. Como exemplo tem-se o trabalho de (FRANçA, 2010). Para obter dados da rede nessa abordagem é necessário registrar as informações referentes às interações realizadas por cada agente, assim permitindo uma futura análise delas para a construção e análise da rede social formada. Embora o agente utilize conceitos de redes sociais, como por exemplo analisar sua vizinhança e comunicar com os agentes vizinhos, ele não explora de forma explícita a rede em sua tomada de decisão. A outra forma é cada agente ter conhecimento de sua rede social e utilizar isto para guiar seu comportamento e tomada de decisões. Este conhecimento pode ser inserido em forma de atributos, estruturas de dados tais como lista, variáveis, grafos, onde se tem uma coleção com os demais agentes que o agente em questão se relaciona, como no trabalho de (TSVETOVAT; CARLEY; SYCARA, 2001). Neste trabalho, estuda-se a formação da segmentação e especialização de investidores em diferentes setores da economia na bolsa de valores. Em (TSVETOVAT; CARLEY; SYCARA, 2001), durante a simulação cada agente delibera e executa a inclusão ou exclusão de outros agentes investidores de sua lista de contatos, baseado em quem investe no mesmo segmento que o seu. A exclusão e inclusão da lista de contatos faz com que, respectivamente, o agente negocie e deixe de negociar ações com o investidor em questão. Isto permite a formação de clusters de investidores especialistas em determinado segmento do mercado. 4.2 Níveis Micro e Macro 56 Partindo desta outra forma de se modelar os agentes, isto é, ele conhecendo suas relações, permite-se uma série de abordagens a fim de potencializar e aproximar a simulação do evento real estudado. Por exemplo, os agentes conhecerem, total ou parcialmente, os dados dos amigos de amigos ou até mesmo da rede toda. Outra informação que pode agregar nos atributos do agente são os papéis que estes possuem, podendo influenciar a estrutura da rede social, por exemplo, no caso da hierarquia funcional dentro de uma empresa. Os funcionários de um determinado setor conhecerão seus superiores imediatos. 4.2.1.1 Análise de Atributos Ainda exemplificando possíveis atributos dos atores, e tendo como base a idéia de (PUJOL; SANGüESA; DELGADO, 2002), que determina a reputação de um agente, inserir atributos que quantifiquem a reputação de um agente pode servir para qualificá-los. Ou ainda determinar se outros agentes devem manter, iniciar ou terminar um determinado tipo de relação com ele ou então ponderar uma informação oriunda deste. Como pode ser visto, os atributos dos agentes podem ser de grande importância para uma simulação agregada a rede social. Um ponto a se considerar, além da implementação do agente, é a análise deste em conjunto com as técnicas da ARS (ver Seção 3.3). Embora a ARS concentre seus esforços na análise da rede como um todo e não em seus membros individualmente, realizar uma análise dos atributos individuais de cada agente, em conjunto com informações oriundas da ARS, pode trazer justificativas de como um comportamento da rede, ou como sua estrutura se constituiu. Por exemplo, concluir que a presença de pessoas que possuem experiência em combate ao fogo dentro de um círculo social, como de uma empresa, pode ser útil em uma situação de perigo de incêndio. Dada esta relevância, outro foco dos pesquisadores, porém encontrada com menor freqüência na literatura, são os atributos dos atores da rede. Em geral estes são levados em conta de maneira superficial, sendo considerados para justificar uma aglomeração ou uma relação entre membros da rede e utilizando somente o conceito da homophily. Quando trabalhos abordam atributos dos agentes, o não aprofundamento nesta frente fica evidente. Por exemplo, o trabalho (BERRY et al., 2003) estuda o recrutamento de membros para grupos terroristas e as relações também são expressas pela semelhança de atributos, assim justificando o uso da homophily. Porém, o autor deixa explícito que todos os agentes representam adolescentes do sexo masculino e possuem dois atributos binários que os diferenciam. Estes atributos são genéricos podendo representar qualquer informação, como por exemplo características como religião, fatores socioeconômicos ou etnia (BERRY et al., 2003), ressaltando a falta 4.2 Níveis Micro e Macro 57 de ênfase dada para as características individuais do agente. Levando em conta estes atributos, são possíveis formar cliques de quatro tipos diferentes apenas. Em (NAGEL; ZURICH; MARCHAL, 2003) se estuda a formação de grupos de viagem. Agentes interagem e cruzam informações como destinos, datas e horários. Havendo similaridade destas variáveis entre os agentes, determina-se a homophily, e desta forma é que se estabelecem as cliques da rede social para a realização de viagens em grupos. Com estes pontos citados, em grande parte dos trabalhos encontrados na literatura o entendimento dos papéis dos atores dentro da rede, ou o comportamento desempenhado por estes, são designados somente pela análise das métricas da rede e não pelos atributos do mesmo. E generalizar a modelagem dos agentes a ponto de considerar somente a homophily entre eles limita a abrangência da análise. Uma forma de se relacionar a estrutura da rede e os atributos de seus membros é aplicar técnicas de mineração de dados, onde os atributos individuais de um ator seriam confrontados com as métricas da rede, assim permitindo entender o porquê de uma métrica, ou uma estrutura ter se estabelecido. Por exemplo, concluir que seres humanos em uma determinada faixa etária e do sexo masculino possuem propensão a participar de gangues, ou agentes que optam em uma escolha específica tendem a participar de certas cliques. 4.2.2 Nível Macro Para o nível macro é levado em consideração a rede social de toda a simulação. A ARS se encontra em desenvolvimento, mas já fornece uma série de métricas para a análise de redes sociais (ver Seção 3.3). Tais métricas possibilitam chegar a conclusões sobre parte de seus atores e a forma que se organizam. A maioria dos trabalhos estudados dá foco para os valores encontrados através da aplicação dos cálculos das métricas da rede. Medidas como a centralidade, densidade e quantidade de cliques auxiliam o entendimento da rede e do fenômeno estudado através da simulação multiagentes. Trabalhos como (MARTELETO, 2001; RODRIGUES, 2008) aplicam técnicas da ARS para entender e justificar fenômenos inerentes às suas áreas. Outro ponto que deve ser levado em consideração é a maneira que a rede social é construída. Baseado no trabalho de (BERRY et al., 2003), que utiliza agentes para representar ambientes da rede, uma idéia válida é a utilização de agentes dentro da simulação para abordar a questão da rede social. Agentes responsáveis pela rede tem a função de adquirir dados dos atores e supervisionar a simulação como um todo, a fim de construir a rede social que emerge das interações. 4.3 Tipos de Relações nas Redes 58 Esta abordagem para se construir a rede social em uma simulação multiagentes se constitui de inserir um agente ou um grupo deles, para monitorar os demais agentes da simulação e registrar em tempo real a interação entres eles. Este SMA inserido na simulação é responsável por analisar e apresentar visualmente a estrutura da rede social de forma dinâmica. Mas para tal feito também é importante atentar-se com os tipos de relacionamento, pois nem toda interação pode ser caracterizada como uma relação, ou as relações podem perder a força e serem desfeitas com o passar do tempo e a dedicação empregada pelos agentes para sua manutenção. As considerações acerca dos tipos de relações são expostas na Seção 4.3. 4.2.3 Influências Micro-Macro As seções anteriores (Seção 4.2.1 e Seção 4.2.2) mostraram os níveis existentes e abordados nos trabalhos encontrados. Estes dois níveis, micro e macro, estão fortemente ligados já que a interação dos agentes constituem a topologia da rede social, assim sendo, o micro gera o macro. E a forma que a rede social estruturou-se pode influenciar nas decisões e comunicação dos agentes, desta forma o macro afeta o micro. Desta maneira, para a realização deste projeto, tem-se em mente estes dois níveis e a influência que um exerce sobre o outro. Assim sendo, o agente influencia sua rede e a rede influencia o agente. Assim como na compreensão do fenômeno social, que existem dois tipos de abordagens: micro-para-macro e macro-para-micro. Estas representam, respectivamente, a análise do micro para o entendimento do macro e o estudo do macro para compreender o micro. Fazendo um paralelo com SMA pode-se dizer que o primeiro parte do agente para a formação do fenômeno, já o segundo inicia o estudo no fenômeno para a entendimento do agente. 4.3 Tipos de Relações nas Redes Como foi visto na Seção 3.2.1.2 existem tipos de conexões, e na Seção 3.3.2 foi listada uma série de conotações que uma ligação pode ter. Baseado nesta ampla gama de características que a aresta da rede social pode possuir, outra frente de trabalho se destaca: a análise e o tipo das relações entre os atores que participam da rede. Um exemplo de trabalho que se baseia nas relações dos agentes é visto em (PUJOL; SANGüESA; DELGADO, 2002). O objetivo deste é determinar a reputação de um ator dentro da rede social a qual pertence. A abordagem utilizada para tal classificação é a posição que este ocupa na rede. Em suma, é analisada a topologia da rede, e a classificação da reputação de um agente é 4.4 Simulação Multiagentes Modelando o Comportamento Coletivo de Pânico em Multidões 59 proporcional à quantidade de relações que este possui com os demais. Assim sendo, os atores mais centrais são o de maior reputação, ou seja, aqueles com maior grau de centralidade. Esta análise é feita em tempo real, dinamicamente com as mudanças da topologia da rede. O trabalho de (PUJOL; SANGüESA; DELGADO, 2002) leva em consideração somente a quantidade de relações e não o que elas significam. Como foi exposto na Seção 4.2.1.1, as ligações entre atores geralmente são determinadas pelo grau de homophily. De fato este é um ponto relevante. Tal importância dentro das redes sociais é apresentada no trabalho de (MCPHERSON; SMITH-LOVIN; COOK, 2003). É válido dizer que uma grande parte das relações humanas se baseiam na homophily, mas em casos de parentesco ou mesmo em um ambiente profissional, pessoas de gostos e propósitos diferentes precisam se relacionar. Com estas abordagens apresentadas acerca das relações, o foco para elas é de grande importância, pois a escolha do viés a se adotar pode influenciar nos resultados. Os links podem ser “simples”, por exemplo, se for adotado que todos os relacionamentos da rede serão compostos por atores nos quais um determinado ator já se comunicou, ou trabalhos em que um colaborador já prestou serviços. Ou então os links podem ser “fortes”, assim assumindo papéis mais sociais ou possuindo estratégias mais elaboradas. Por exemplo, para analisar a situação onde é necessário confiança entre os atores que se relacionam, vários parâmetros e atributos deverão ser considerados. Ou então, para haver um link, deve-se levar em conta a freqüência e o valor das trocas sociais entre os agentes. Desta maneira se garante que os atores que se conectam não se relacionam somente por terem se comunicado de forma irrelevante uma única vez. 4.4 Simulação Multiagentes Modelando o Comportamento Coletivo de Pânico em Multidões O modelo teórico computável para a simulação de pânico em multidão de (FRANçA, 2010) se baseia nos conceitos de teorias de Comportamento Coletivo. O modelo contempla a proposta interacionista apresentada por autores como Blumer (MCPHAIL, 1989), e define que o fenômeno do pânico em multidão está estruturado com os seguintes estados: S ITUAÇÃO N ORMAL, AGI TAÇÃO S OCIAL, Milling, E XCITAÇÃO C OLETIVA, C ONTÁGIO S OCIAL e C OMPORTAMENTO C OLETIVO E LEMENTAR (veja Figura 13). O fluxo tem início com um evento que tira os membros da S ITUAÇÃO N ORMAL. Pressionados a agir os indivíduos se submetem ao evento entrando em AGITAÇÃO S OCIAL. Em seguida, no Milling os indivíduos se preocupam com os outros e começam a se comunicar, iniciando 4.4 Simulação Multiagentes Modelando o Comportamento Coletivo de Pânico em Multidões 60 a conversão das idéias. Esta conversão começa a se tornar mais intensa, o que não permite imagens diferentes das formadas pela coletividade, e seus membros entram em E XCITAÇÃO C OLETIVA. Os indivíduos não engajados na ação passam a se envolver rapidamente então há o C ONTÁGIO S OCIAL. Com o pânico instaurado, no estado de C OMPORTAMENTO C OLETIVO E LEMENTAR, há irracionalidade e ações não convencionais são executadas pelos agentes para que haja a preservação de suas vidas. Embora os estágios estejam seguindo uma ordem seqüencial, é possível que um indivíduo siga uma ordem diferente, não executando algumas etapas, retrocedendo-as ou repetindo outras, por exemplo. A descrição breve de cada estágio é descrito na Seção 2.2. 1.Situação Normal 5.Excitação Coletiva 2.Agitação Social ? ? ? ? ? ? ? 6.Contágio Social 4.Formação da Repres. Coletiva Micro Milling 3.Início da Comunicação 7.Comportamento Coletivo Elementar Figura 13: Fluxo Geral do Comportamento Coletivo do Pânico em Multidão. Fonte: (FRANçA, Figura 14: Ambiente Geral e seus Componentes. Fonte: (FRANçA, 2010). 2010). Na construção do modelo conceitual proposto por (FRANçA, 2010) os elementos que se destacam aos interesses deste projeto são: os ambientes onde os aspectos principais das interações entre os agentes ocorrem, e a arquitetura do agente que representa uma pessoa dentro de uma situação de pânico, estes elementos estão apresentados a seguir. Na Seção 4.4.1 são expostos os ambientes do modelo. A arquitetura do agente P ESSOA é apresentada na Seção 4.4.2. 4.4.1 Ambientes do Modelo O A MBIENTE G ERAL é onde as interações entre os agentes ocorrem. É composto pelos A MBIENTE F ÍSICO, A MBIENTE DE C OMUNICAÇÃO e pela M ENTE C OLETIVA, e descreve os limites de escopo dos demais ambientes e os pontos de correlação entre eles (ver Figura 14). O A MBIENTE F ÍSICO representa o espaço onde ocorrem as interações físicas entre os agentes, e entre os agentes e os objetos. Sob o ponto de vista computacional, este ambiente é modelado como um autômato celular, onde cada agente ocupa uma única célula quadrada. 4.4 Simulação Multiagentes Modelando o Comportamento Coletivo de Pânico em Multidões No A MBIENTE DE 61 C OMUNICAÇÃO ocorre a comunicação entre os agentes, sejam estas indiretas (deixadas no ambiente e captadas) ou diretas (com destinatário). Neste circulam os dados da interação entre os agentes. A M ENTE C OLETIVA gerencia as redes de expectativas socialmente construídas. 4.4.2 Arquitetura do Agente Pessoa Em (FRANçA, 2010) o agente P ESSOA representa uma pessoa com comportamento relacionado à situação de pânico coletivo. Uma visão geral da arquitetura desse agente pode ser vista na Figura 15. O agente P ESSOA é composto pelos M ÓDULO DE R ECEPÇÃO E C OLETA DE DA DOS (MRCD), M ÓDULO H ÍBRIDO DE G ERENCIAMENTO DE (MHGCC), M ÓDULO S ÓCIO -C OGNITIVO (MSC) e M ÓDULO C RENÇAS DE E E MISSÃO C ONHECIMENTO DE M ENSAGENS (MEM). O fluxo de informações pela arquitetura do agente pode ser simplificado da forma a seguir. Após a captura de dados pelo MRCD, o MHGCC trata tais informações e infere regras. No modelo de (FRANçA, 2010) o MHGCC qualifica as informações em crença ou conhecimento, baseando-se na forma como o agente percebe o fato. Se uma informação necessitar de evidências físicas para ser comprovada, mas caso o agente não consiga obter tais evidências por sua própria percepção, então esta informação será considerada uma crença. Caso contrário, se as informações consideradas forem consolidadas e comprovadas diretamente pelo agente através de evidências físicas, então esta informação é considerada um conhecimento. A qualificação da informação é oriunda da quantificação relacionada a sua confiabilidade. O MEM é chamado caso o agente necessite mandar uma mensagem para os demais agentes. Fica a cargo do MSC coordenar os demais módulos dos agente P ESSOA, gerenciando os seus processos autônomos. 4.4.2.1 Módulo Híbrido de Gerenciamento de Crenças e Conhecimento O M ÓDULO H ÍBRIDO DE G ERENCIAMENTO DE C RENÇAS E C ONHECIMENTO (MHGCC) é responsável pelo gerenciamento das bases de informação e regras do agente P ESSOA. Para modelar computacionalmente a estrutura mental de um ser humano, que é baseada em suposições, aproximações e simplificações, e com a imprecisão e a incerteza relacionadas com os eventos sociais, (FRANçA, 2010) utilizou a lógica fuzzy. Este módulo é composto pelo R EPOSITÓRIO C RENÇA, que serão descritos a seguir. DE I NFORMAÇÕES E R EGRAS e a BASE DE UDel () () MQE % UASit NCC %() MSC %() NCom %() () Base de Regras Interface de Defuzzificação () % () FM MEM Selecionador de Dados %: Informação +: Dados (): Operação % MSC: Módulo Sócio-Cognitivo MRCD: Módulo de Recepção e Execução Contínua Coleta de Dados MEM: Módulo de Emissão de Mensagens NCog: Núcleo Cognitivo NCom: Núcleo de Comunicações NCC: Núcleo de Comportamento Coletivo UDel: Unidade Deliberativa UASit: Unidade de Análise da Situação FM: Formatador de Mensagens MHGCC: Módulo Híbrido de Gerenciamento de Crenças e Conhecimento MQE: Máquina de Estados %() Analisador de Informação MRCD Figura 15: Visão Geral do Agente Pessoa. Fonte: (FRANçA, 2010). %() Interface de Acesso Máquina de Inferência NCog Base de Crenças Representação Coletiva Micro Base de Conhecimento Base de Informação % Interface de Fuzzyficação % MHGCC % Repositório de Informações e Regras + Emissão + Recepção 4.4 Simulação Multiagentes Modelando o Comportamento Coletivo de Pânico em Multidões 62 4.4 Simulação Multiagentes Modelando o Comportamento Coletivo de Pânico em Multidões 4.4.2.1.1 63 Repositório de Informações e Regras O R EPOSITÓRIO DE I NFORMAÇÃO , DE I NFORMAÇÕES E R EGRAS (R EP I NF R EG) é o agrupamento da BASE responsável pelas crenças, pelo conhecimento e pela representação coletiva micro, e a BASE DE R EGRAS, que possui as regras gerais de comportamento do agente P ESSOA. Tais bases serão descritas nas subseções seguintes. 4.4.2.1.2 Base de Informação A BASE DE I NFORMAÇÃO (BI NF) armazena informações obtidas. Em (FRANçA, 2010) a informação é classificada em três classes: (i) características pessoais do agente, (ii) informações sobre o ambiente e (iii) informações sócio-cognitivas. Variáveis do Agente P ESSOA O agente P ESSOA possui atributos que auxiliam na definição e análise do estado do comportamento coletivo que este assume. Estas variáveis possuem valores entre zero e um e quantificam uma característica do agente, por exemplo: • EXP E VT é o nível de experiência que o agente possui em relação ao tipo de evento, no caso o incêndio. Por exemplo, se o valor entre 0 ` 0, 2 então o agente é inexperiente, já se 0, 75 ` 1 seu nível de experiência é alto; • NERVOSISMO indica o grau de nervosismo do agente naquela situação. Por exemplo, se seu valor for 0 ` 0, 2 então o agente está tranqüilo, para o NERVOSISMO variando entre 0, 75 ` 1 o agente encontra-se em excitação nervosa; • PERICULOSIDADE expressa o grau de periculosidade da situação definido pelo agente em cada passo da simulação. Por exemplo, com um valor entre 0 ` 0, 2 o agente se considera seguro, se 0, 75 ` 1 o risco de vida é iminente; • PERMISSIVIDADE é utilizada para quantificar o quanto o agente está disposto a realizar atividades inaceitáveis ou socialmente não toleradas. Ou seja, é o grau de aceitação do indivíduo em relação a certas ações que, em condições normais (fora do contexto do evento excitante), são consideradas como socialmente inaceitáveis. Por exemplo, se o valor da PERMISSIVIDADE estiver entre 0 ` 0, 2 o agente em questão não aceita ações inadequadas, já para a variação entre 0, 75 ` 1 a aceitação é quase total; • SAUDE mostra o nível de saúde do agente P ESSOA. Por exemplo, o agente é considerado 4.4 Simulação Multiagentes Modelando o Comportamento Coletivo de Pânico em Multidões 64 saudável se este valor estiver entre 0, 75 ` 1, para estar inconsciente sua saúde varia entre 0 ` 0, 2; • SEG I NFO é empregada para identificar quando uma informação recebida é considerada uma crença ou um conhecimento. Por exemplo, é crença se a SEG I NFO estiver entre 0, ` 0, 2, para ser considerada conhecimento seu valor deve variar entre 0, 75 ` 1; • SUSCEPTIBILIDADE relaciona quanto o agente é receptivo às informações passadas por outros agentes. Por exemplo, se o valor entre 0 ` 0, 2 então o agente é fechado às idéias externas, já se 0, 75 ` 1 é totalmente receptivo às idéias externas. Representação Coletiva Micro A R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ICRO (RC OL M ICRO) armazena a rede de expectativas da situação atual formada pelo próprio agente. O conjunto dessas expectativas compõem um sistema complexo cuja ação do todo é mais do que a soma das ações parciais. Assim, a representação coletiva da situação atual (que é uma das propriedades emergentes do pânico coletivo) é uma informação qualitativamente nova e emergente que não pode ser identificada apenas pelas suas unidades formadoras (as redes de expectativas individuais). Aqui se forma a linha de ação que o agente irá executar de acordo com seu estado e atributos, ou seja, o comportamento que ele irá assumir em um passo. Este comportamento é composto por Estado, Objetivo e Objeto (veja Tabela 2). Por exemplo, dado que o estado de um agente é “Excitação Coletiva”, seu objetivo pode ser “buscar informações a respeito da saída” sobre o objeto “demais agentes”, isto pois sua linha de ação é “buscar informações de forma indireta”, desta maneira, perguntando para seus agentes vizinhos. Caso a linha de ação fosse “buscar informações de forma direta”, seu objeto seria a “saída”, pois o mesmo procuraria informações de forma física, visualmente. Base de Regras A BASE DE R EGRAS (BR EG) armazena o conjunto de regras internas do agente, que es- tabelece se determinadas operações serão executadas, e como estas serão executadas durante o ciclo de vida do agente. As regras estão classificadas em reativas, funcionais e dinâmicas. Essa classificação está relacionada com o propósito da regra e de que forma a sua aplicação afeta o comportamento do agente P ESSOA. Comportamento Coletivo Elementar Contágio Social Excitação Coletiva Milling Agitação Social Estado Situação Normal Movimentar-se em direção à Saída Formar a Representação Coletiva Micro Alertar os demais agentes a respeito da Ameaça Movimentar-se em direção à Saída Formar a Representação Coletiva Micro Alertar os demais agentes a respeito da Ameaça Alertar os demais agentes a respeito da Saída Movimentar-se em direção à Saída Buscar informações a respeito da Saída Buscar informações a respeito da Ameaça Formar a Representação Coletiva Micro Buscar informações no Ambiente Físico Buscar informações a respeito da Ameaça Buscar informações a respeito da Ameaça Objetivo Andar no ambiente Ameaça Demais Agentes Demais Agentes Ameaça Ameaça Demais Agentes Saída Demais Agentes Ambiente Físico Demais Agentes Demais Agentes Demais Agentes Ameaça Saída Ambiente Físico Demais Agentes Demais Agentes Ameaça Saída Ambiente Físico Objeto Ambiente Físico Ambiente Físico Ameaça Enviar mensagem para os agentes vizinhos com dados da Ameaça Ponderar as informações para a representação dos símbolos significantes Estruturar a Ameaça Estruturar a Saída Mover-se Enviar mensagem para os agentes vizinhos com dados da Ameaça. Mover-se Enviar mensagem para os agentes vizinhos com dados da Saída. Mover-se Ponderar as informações para a representação dos símbolos significantes Estruturar a Ameaça Estruturar a Saída Mover-se Mover-se de acordo com a permissividade Buscar informações de forma direta. Mover-se Buscar informações de forma indireta. Mover-se Ponderar as informações para a representação dos símbolos significantes Estruturar a Ameaça Buscar informações de forma direta. Mover-se Buscar informações de forma indireta. Mover-se Buscar informações de forma direta. Mover-se Buscar informações de forma indireta. Mover-se Buscar informações de forma direta. Mover-se Buscar informações de forma direta. Mover-se Linha de Ação Andar de forma ordeira e aleatória Tabela 2: Integração entre os Símbolos Significantes. (FRANçA, 2010) 4.4 Simulação Multiagentes Modelando o Comportamento Coletivo de Pânico em Multidões 65 66 5 Redes Sociais e Sistemas Multiagentes Modelando o Pânico em Multidão O fato de milhões de criaturas compartilharem os mesmos vícios não os transforma em virtudes, o fato de elas praticarem os mesmos erros não os transforma em verdades e o fato de milhões de criaturas compartilharem a mesma forma de patologia mental não torna essas criaturas mentalmente sadias. —– Erich Fromm Como foi visto no Capítulo 4 as redes sociais estão implícitas na maioria das simulações multiagentes. Isto se deve ao fato de tais simulações serem sistemas complexos, onde os agentes interagem entre si de diversas formas. Interações como um aviso, troca de mensagens, contato físico ou visual e hereditariedade podem se configurar como relações entre atores e assim formar uma rede social. O estudo das redes sociais dentro das simulações multiagentes se faz útil já que estas não somente são influenciadas pelos atores (agentes), como também eles podem ser influenciados pelas estruturas sociais que estas representam. Muitas das métricas da ARS podem ser utilizadas em um cenário multiagentes a fim de se extrair argumentos explicativos às características apresentadas pelo sistema, ou ainda explicar o comportamento de um agente. Entender o porquê destes comportamentos pode ser útil para validar e aperfeiçoar teorias sociais. Por exemplo, em uma situação de pânico, os envolvidos passam a seguir padrões não usuais de comportamento. Com isso pessoas podem se relacionar com outras antes improváveis e sem algo em comum, e isto seria percebido através da análise da rede social. Neste contexto, uma pessoa com uma conduta violenta pode ser tida como líder de um grupo em uma situação de perigo, mesmo que seus membros reprovem este tipo de comportamento e antes não se relacionavam com o mesmo. 67 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes Tendo como base essas contribuições da área de Redes Sociais para a área de Simulação Multiagentes, a proposta desta pesquisa consiste em: (i) modelar agentes para a extração de redes sociais que emergem através da interação na agência; e (ii) analisar as redes sociais formadas para servir de base no entendimento e validação das simulações. Para o alcance destas metas o trabalho de (FRANçA, 2010) será considerado como base. Neste trabalho é proposto um modelo conceitual do comportamento coletivo do tipo pânico em multidão, baseado em simulação multiagentes e lógica nebulosa. Tal modelo conceitual é do tipo sócio-cognitivo, e a simulação foi configurada para representar uma situação de incêndio em um ambiente fechado. Deste serão aproveitados os conceitos e o código fonte da implementação, adaptando-os de forma a contemplar os objetivos da presente dissertação. Como a modelagem conceitual e computacional exposta em (FRANçA, 2010) é um protótipo geral, este trabalho será adaptado de forma a contemplar a proposta de que a rede social que emerge durante a simulação seja registrada para o melhor entendimento do fenômeno do pânico em multidão. Vale ressaltar que nesta situação a rede social convencional se rompe e começam a se formar outras redes com características diferenciadas. 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes No trabalho de (FRANçA, 2010), ponto de partida para este projeto, o agente está desenvolvido tendo como base o conceito modular, sendo estes módulos distintos quanto as suas funcionalidades. É proposto o conceito de representação coletiva, e é em torno desta que circula as principais contribuições a este trabalho. Essa representação coletiva se dá de duas formas, a mente coletiva micro e a rede de expectativas macro. A idéia desses conceitos de percepções coletivas se encaixa no conceito de redes sociais, isto é, relacionamentos mútuos entre um grupo devido a algo em comum. Nas subseções seguintes são apresentados os pontos do trabalho de (FRANçA, 2010) que foram ampliados. Na Seção 5.1.1 são expostos os novos conceitos que serão adicionados na arquitetura do agente. Mais especificamente as contribuições relacionadas ao nível micro no M ÓDULO H ÍBRIDO DE G ERENCIAMENTO DE C RENÇAS E C ONHECIMENTO do agente de (FRANçA, 2010), estas provêm das adaptações e extensões realizadas para inserir o conceito de rede social. Na Seção 5.1.2 é descrita a contribuição realizada ao modelo da R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ACRO envolvendo a rede social da simulação como um todo, ou seja, considerando todos os agentes e as métricas relacionadas a ela. 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes 5.1.1 68 Arquitetura do Agente Pessoa Neste trabalho a arquitetura do agente P ESSOA proposta em (FRANçA, 2010) é alterada de forma a modelar a criação das redes sociais de cada agente da simulação. Cada agente terá sua própria rede formada de acordo com o estado do comportamento coletivo em que se encontra, e com a a configuração atual da simulação. 5.1.1.1 Módulo Híbrido de Gerenciamento de Crenças e Conhecimento Adaptações ao módulo MHGCC propostas em (FRANçA, 2010) são feitas e apresentadas nas próximas subseções a fim de contemplar a rede social na R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ICRO dos agentes. 5.1.1.2 Representação Coletiva Micro e Representação de Informação A R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ICRO (RC OL M ICRO) consiste na formação da rede social local, ou seja, a rede social própria do ator, composta pelos seus vizinhos. Em um nível micro, esta abordagem pode auxiliar na tomada de decisões do agente, e em um nível macro, auxiliar na formação da R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ACRO (veja Seção 5.1.2). A modelagem conceitual de (FRANçA, 2010) propõe que a RC OL M ICRO seja representada através de tabelas. Estas tabelas representam informações como símbolos significantes (englobando objetivo, objeto e linha de ação), estado coletivo micro, localização da ameaça e da saída e a média dos atributos PERICULOSIDADE e NERVOSISMO dos agentes vizinhos a ele. A Figura 16 apresenta a RC OL M ICRO expandida indicando o local em que a arquitetura de (FRANçA, 2010) foi incrementada. Neste trabalho é proposta uma extensão desta abordagem por uma que envolva redes sociais, objetivando aproximar o modelo computacional ao cenário real. O acréscimo das redes sociais à RC OL M ICRO está ilustrado na Figura 17. Ao invés de apenas valores, agora o agente em questão saberá com quais agentes ele está se relacionando, potencializando assim seu processo de raciocínio e tomada de decisão. Na estruturação da rede social do agente, deve ser considerado o estado do comportamento coletivo em que ele se encontra. São eles: situação normal, agitação social, milling, excitação coletiva, contágio social e comportamento coletivo elementar (veja Seção 2.2). Vale ressaltar que um agente pode transitar do estado que se encontra para qualquer outro. As redes sociais formadas em cada estado apresentam características específicas, pois os tipos de interações e 69 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes Figura 16: Expansão da R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ICRO. Figura 17: Representação Coletiva Micro: Sistema Matricial x Redes So- Figura 18: Arquitetura da R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA ciais. M ICRO (RC OL M ICRO). relações diferem dependendo dos contextos interno e externo a cada agente. A rede social local está adicionada à arquitetura do agente de (FRANçA, 2010) no módulo de R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ICRO através de dois componentes: BASE ÇÃO S OCIAL e a BASE DE R EGRAS PARA DE I NFORMA - R ELAÇÕES. A Figura 18 ilustra a arquitetura da RC OL M ICRO estendida. Estes novos elementos são parâmetros para a definição da rede social do agente. A BASE DE I NFORMAÇÃO S OCIAL armazena dados tais como o grafo dos agentes vizinhos e os tipos de relação que podem ser estabelecidos entre os agentes. A BASE GRAS PARA DE RE- R ELAÇÕES define as condições que regem o tipo de relação, seu peso e os atores que compõem a rede do agente. 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes 5.1.1.2.1 70 Base de Informação Social Como visto na Seção 4.4.2, em (FRANçA, 2010) há dois tipos de informações: crenças e conhecimentos. A BASE DE I NFORMAÇÃO S OCIAL da RC OL M ICRO é composta pelos seguintes conhecimentos: os papéis que um agente pode assumir, o grafo da rede social e os possíveis tipos de relações entre os membros da rede. Papel Na sociedade as pessoas assumem papéis. Isto garante uma boa dinâmica e clareza no que diz respeito a trabalhar de forma ativa e colaborativa em direção ao objetivo comum de uma organização. Por exemplo, no mundo dos negócios, para uma pessoa assumir o papel de gerente ela necessita ter conhecimentos, habilidades e hábitos qualificados. O êxito em assumir uma determinada posição depende dos seus atributos e até de cargos anteriormente ocupados pela pessoa. Papéis podem ser formais, como uma condição de hierarquia empresarial onde subalternos respondem aos seus superiores, ou então surgirem de maneira dinâmica, por exemplo, uma pessoa que mediante uma situação de caos em um grupo procura organizá-lo, assumindo assim a condição de líder. Em trabalhos como (BOELLA et al., 2007; ZHU, 2007) a idéia do papel é aplicada a SMAs, onde os agentes assumem papéis baseados em suas funções e estes interferem na dinâmica dos agentes, não somente em como a agência o considera, mas também em seus comportamentos internos. Assim sendo um papel influencia a dinâmica de uma sociedade podendo conduzir o comportamento de uma pessoa ou alterar a forma de como a sociedade a enxerga. O estudo do papel nas estruturas sociais dentro do fenômeno do comportamento coletivo se faz de grande importância, pois estes podem afetar diretamente a coletividade. Dentre os papéis que uma pessoa pode assumir em grande parte das estruturas sociais estão os líderes. Em geral o líder tem uma grande reputação social, se comporta de acordo com as normas sociais do sistema, está bem integrado e é um dos nós centrais nos sistemas sociais. Eles servem como modelos para os membros do sistema (ROGERS, 2003). Neste trabalho os agentes podem assumir o papel de líder, chamado de B RIGADISTA, ou P ESSOA C OMUM. Para o brigadista, o valor de seu atributo EXP E VT é maior que o dos demais agentes, assim justificando seu treinamento para situações de incêndio. A distribuição desse tipo de agente é dada de forma aleatória, seguindo a média das tabelas de proporção utilizadas em instituições para brigadas de incêndio, apresentada em (BOMBEIROS, 2004). Esta porcentagem é de 10% do total de agentes da simulação. Grafo da Rede Social 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes 71 Como ponto em comum, em todos os estados do comportamento coletivo para a estruturação da rede social de um agente consideram-se todos os agentes que ocupam sua vizinhança física. Assim sendo, será utilizada a estrutura de um grafo onde o nó de referência é um determinado agente, e os nós que se ligam a ele são seus vizinhos. Diferentemente de uma rede de contatos sociais, onde atores são adicionados e/ou removidos em situações nas quais não há perigo de vida, na rede social do pânico agentes são excluídos e adicionados tendo como parâmetro a possibilidade, ou não, de sobrevivência em tal situação. Esta volatilidade dos relacionamentos de um agente na formação do pânico ocorre devido a estes se movimentarem de forma autônoma, fazendo com que sua vizinhança seja inconstante. Assim sendo, para cada iteração da simulação, a rede social do agente será redefinida, caracterizando assim uma “reconstrução” da rede a cada passo. A representação visual da rede social será feita através de um grafo. Para a representação visual da rede social da RC OL M ICRO os seguintes elementos serão diferenciados: • A distância física de um agente para os membros de sua rede será demonstrada através do tamanho das arestas; • O estado dos atores da rede serão diferenciados por cores, assim como agentes que se encontrem imobilizados; • Os tipos de relação e seus pesos estarão identificados. Tipos de Relação Seguindo a frente de pesquisa da Seção 4.3, Tipos de Relação, os seguintes tipos serão considerados na formação de redes sociais em situação de pânico: contato, influência por informação e influência por perigo. Estes tipos de relações foram definidos baseados na hierarquia de necessidades de Maslow (MASLOW; FRAGER; FADIMAN, 1970). Este conceito é apresentado em uma pirâmide (veja Figura 19), que em sua base estão as necessidades mais prioritárias, quando estas são satisfeitas evolui-se em direção às hierarquias mais altas. Para Maslow o comportamento do ser humano pode ser explicado pelas suas necessidades e pelos seus desejos. Quando um destes é considerado importante, o indivíduo sente-se estimulado e impulsionado a realizar atividades para satisfazê-lo. Ou seja, a necessidade e o desejo determinam o que é importante para o indivíduo e guiam seu comportamento, sendo estas suas fontes de motivação. Embora a necessidade seja o grande motor da decisão racional, o desejo, de cunho emocional, também desempenha um papel importante no processo de priorização. 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes 72 Figura 19: Pirâmide de Maslow. Na base da pirâmide estão as necessidades mais básicas contemplando os interesses fisiológicos e de sobrevivência. Geralmente, referem-se a requisitos para a sobrevivência do indivíduo ou da sua espécie, como por exemplo alimentação, respiração, reprodução, descanso, abrigo, vestimenta e homeostase. Pode-se dizer que estas necessidades estimulam comportamentos caracterizados pelo verbo ter. O segundo nível é constituído por necessidades de segurança. Uma vez atendidas as necessidades fisiológicas, a tendência natural do ser humano será a de manter. Ou seja, as necessidades de segurança referem-se à estabilidade ou manutenção do que se tem. Por exemplo, segurança física pessoal, financeira, saúde e bem-estar e rede de proteção contra imprevistos (HUITT, ). Atendidas as necessidades fisiológicas e de segurança, surgem as necessidades sociais. Aqui o indivíduo sente necessidade de pertencer a grupos, associar-se a outras pessoas, ou seja, de se igualar. Também chamadas de necessidade de associação, estas incluem aspectos que envolvem relacionamentos baseados na emoção, pois seres humanos precisam sentir-se aceitos e fazendo parte de algo. São exemplos de necessidades sociais: amizade, intimidade (amigos íntimos, mentores, confidentes) e convivência social (círculos de convivência variados), família, organizações (clubes, entidades de classe, torcidas, gangues). O passo seguinte na escala de necessidades é o da auto-estima ou de status, quando o indivíduo procura manifestar ações para se diferenciar dentro de seu grupo. Neste nível ele busca destaque, proeminência, admiração, respeito, reconhecimento para que haja auto-estima e auto-respeito. A estima é um desejo humano de ser aceito e valorizado por si e pelos outros, não apenas a busca de uma aceitação de um grupo, mas sim do reconhecimento pessoal e do 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes 73 grupo de sua contribuição e importância dentro dele (BUTLER-BOWDON, 2007). Superadas todas as necessidade anteriores, no nível mais alto da hierarquia, está a autorealização. Isso ocorre quando o indivíduo explora seu potencial máximo e se sente realizado, podendo ser considerada a motivação satisfatória para a natureza humana. Mesmo não sendo possível afirmar que exista uma hierarquia de necessidades1 , a pirâmide de Maslow ajuda a entender que as necessidades são fatores de motivação, e neste trabalho ela auxilia a categorizar as relações entre os agentes. Para tal são considerados os níveis de necessidades fisiológicas, de segurança, sociais e necessidades de auto-estima. Tendo como base os níveis da pirâmide de Maslow, neste trabalho os tipos de relações estabelecidas entre os agentes podem ser Contato, influência por Informação e influência por Perigo. Também pode ser abordada a relação de Liderança, onde um agente assume a posição de líder devido à atribuição a priori de um papel, ou então esta condição pode emergir diante de uma situação. Para a relação do tipo liderança, os agentes P ESSOA que assumem o papel de B RIGADISTA seriam líderes e possuiriam seguidores. Neste caso pode-se dizer que o B RIGA DISTA encontra-se no quarto nível da pirâmide de Maslow, pois dentro do grupo assume uma posição de destaque devido a sua experiência e treinamento. Isto o diferencia do grupo, fortalecendo sua identidade e auto-estima. Por sua vez o agente P ESSOA C OMUM procura, dentre outras necessidades, o sentimento de segurança ao adotá-lo como líder. Com um relacionamento do tipo Contato, o agente apenas interage com o outro, não influenciando diretamente a tomada de decisão do agente em questão. A relação por Contato se faz presente no terceiro nível da pirâmide de Maslow, onde não havendo necessidades de segurança e fisiológica, o indivíduo procura se associar com os demais e pertencer a grupos para suprir suas necessidades sociais. A relação de influência é caracterizada quando os atores da rede social de um agente exercem de forma direta algum tipo de influência sobre o indivíduo em questão. Este tipo de relação pode ser exercida por dois fatores: (i) a influência com o viés da informação e (ii) a relação de periculosidade. A relação por Informação é baseada nos dados que os agentes obtêm através da comunicação na agência, seja essa visual ou por troca de mensagens. Esta comunicação é estabelecida a fim de se obter informações para que o agente se sinta seguro ou passe a buscar segurança. Assim sendo, este relacionamento está motivado pelo segundo nível da pirâmide de Maslow. 1 Por exemplo, uma parcela de indivíduos de uma sociedade pode priorizar a necessidade de participar de um grupo social em detrimento à segurança financeira, ou então, atividades referentes à realização de necessidades de níveis diferentes serem executadas em paralelo. 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes 74 Já a relação de periculosidade deve-se ao fato de um agente ameaçar a vida de outro. Por exemplo, caso um agente exerça uma pressão física forte sobre outro, ou se encontre imobilizado, impedindo a passagem para o salvamento dos demais. Esse tipo de relação é motivado pela sobrevivência do agente, se adequando às necessidades fisiológicas da base da pirâmide de Maslow. 5.1.1.2.2 Base de Regras para Relações A BASE DE R EGRAS PARA R ELAÇÕES guia a estrutura da rede social do agente, definindo com quais agentes este se relaciona, e qual o tipo deste relacionamento. A seguir serão apresentados os conceitos utilizados para agregar redes sociais à simulação. Primeiramente, são apresentados os tipos de relações definidos de acordo com os estados do agente e de seu vizinho e as justificativas para tais. Em seguida detalha-se o conceito de peso e como ele é calculado nas relações. Por fim, apresenta-se como a estrutura da rede social de um agente influencia em seu comportamento. Estados do Pânico em Multidão e Relações Sociais Para o agente decidir qual o tipo de relação unidirecional estabelecerá com cada um de seus vizinhos, ele leva em consideração as seguintes informações (veja Tabela 3): seu próprio estado e o estado de seu vizinho. Por exemplo: caso o agente esteja no estado S ITUAÇÃO N ORMAL e seu vizinho esteja em AGITAÇÃO S OCIAL, então a relação estabelecida entre eles será do tipo Contato. Situação Normal Neste estado o agente prioriza suas necessidades sociais, procurando se relacionar com todos à sua volta. A rede social de cada agente é composta por todos seus vizinhos, e as relações do tipo Contato são as que prevalecem devido ao agente neste momento não estar ciente da ocorrência do evento excitante. Entretanto, quando um vizinho estiver no estado de E XCITAÇÃO C OLETIVA ou C ON TÁGIO S OCIAL a relação será de Informação, já que o agente observado se encontra perturbado, o que chamará a atenção do agente em questão para algo que possa estar acontecendo. Para os agentes vizinhos em C OMPORTAMENTO C OLETIVO E LEMENTAR a relação estabelecida será do tipo Perigo. Isto porque o agente em questão priorizará sua necessidade de segurança já que tal vizinho em C OMPORTAMENTO C OLETIVO E LE MENTAR está suscetível a ter comportamentos que quebrem a norma social vigente. Agitação Social Com a ocorrência de um evento excitante, neste caso, o início do incêndio, 75 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes Tabela 3: Relações da Rede Social Micro de Acordo com Estado do Comportamento do Agente. Estado do Agente Situação Normal Agitação Social Milling Excitação Coletiva Contágio Social Comportamento Coletivo Elementar Estado do Vizinho Situação Normal Agitação Social Milling Excitação Coletiva Contágio Social Comportamento Coletivo Elementar Situação Normal Agitação Social Milling Excitação Coletiva Contágio Social Comportamento Coletivo Elementar Situação Normal Agitação Social Milling Excitação Coletiva Contágio Social Comportamento Coletivo Elementar Situação Normal Agitação Social Milling Excitação Coletiva Contágio Social Comportamento Coletivo Elementar Situação Normal Agitação Social Milling Excitação Coletiva Contágio Social Comportamento Coletivo Elementar Situação Normal Agitação Social Milling Excitação Coletiva Contágio Social Comportamento Coletivo Elementar Tipo de Relação Contato Contato Contato Informação Informação Perigo Contato Contato Informação Informação Perigo Perigo Contato Informação Informação Informação Perigo Perigo Informação Informação Informação Perigo Perigo Perigo Informação Informação Perigo Perigo Perigo Perigo Perigo Perigo Perigo Perigo Perigo Perigo 76 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes e com um nível baixo de PERICULOSIDADE e NERVOSISMO , o estado do agente é de AGITAÇÃO S OCIAL. Neste estado os agentes procuram se situar em relação ao ocorrido. Ainda não há comunicação entre os agentes e as necessidades sociais continuam vigentes, com isso ele se relaciona por Contato como os agentes em S ITUAÇÃO N ORMAL. Porém, agentes em AGITAÇÃO S OCIAL ficam alertas ao A MBIENTE F ÍSICO procurando buscar informações e se proteger. Assim sendo, este agente se relaciona com seus vizinhos nos estados de M ILLING ou E XCITAÇÃO C OLETIVA pela relação de Informação. E com seus vizinhos nos estados de C ONTÁGIO S OCIAL ou C OMPORTAMENTO C OLETIVO E LEMENTAR se relaciona pela relação de Perigo. Milling Conforme os agentes estabelecem comunicação na agência para se informar sobre o evento excitante, começam a analisar os fatos formando grupos para entender melhor a situação. Neste momento é de grande importância saber com quais agentes um determinado agente em questão interage, e para isto a representação visual da rede social local de cada agente vem a contribuir ao trabalho de (FRANçA, 2010). Baseado em seus vizinhos o agente passa a considerar parte de seus contatos como relação de Informação, sendo este o tipo de relacionamento predominante. Excitação Coletiva No estado de E XCITAÇÃO C OLETIVA os agentes continuam se comunicando e começam a equalizar as percepções coletivas micro, dando início à formação da percepção coletiva macro. Agentes vizinhos no estado de S ITUAÇÃO N ORMAL, AGI TAÇÃO S OCIAL e M ILLING promovem o tipo de relação de Informação. Diferente dos estados anteriores, na E XCITAÇÃO C OLETIVA deixam de existir as relações de Contato e começa a aumentar os vizinhos a serem considerados como Perigo, neste caso agentes em E XCITAÇÃO C OLETIVA, C ONTÁGIO S OCIAL e C OMPORTAMENTO C OLETIVO E LEMENTAR. Contágio Social Quando o agente encontra-se no estado de C ONTÁGIO S OCIAL ele passa a se preocupar com sua sobrevivência. As percepções coletivas micro convergem para a percepção coletiva macro, e a comunicação ocorre a fim de identificar a localização da saída. Nesse estado, os agentes passam a se preocupar não mais em entender a ameaça, e sim em garantir sua sobrevivência. Por isso a quantidade de estados utilizados para a definição do critério para relações de influência por Informação diminui e por Perigo aumenta. Comportamento Coletivo Elementar No C OMPORTAMENTO C OLETIVO E LEMENTAR os agentes já não se preocupam mais com seus vizinhos. Zelando por suas vidas, tentam a todo 77 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes custo alcançar a saída para ficarem em segurança, assumindo comportamentos não aceitos socialmente, como por exemplo o pisoteamento. Formam-se relações tendo como base o perigo que os membros de sua rede apresentam a ele. Assim sendo, o tipo de relação neste estado é o de influência por Perigo, pois quem estiver ao seu redor o estará pressionado para fugir ou impossibilitando sua passagem para a saída. Peso das Relações Para as relações de Contato, Informação e Perigo pesos são considerados, levando em consideração os valores dos atributos do agente em questão e de seus vizinhos. Este peso dado à relação faz-se útil para que seja possível qualificar o relacionamento entre dois agentes. Dessa forma, é possível quantificar, por exemplo, a relação de Perigo, definindo o grau de ameaça aos agentes envolvidos. O peso quantifica a força da relação, e seu valor está entre zero e um. A Tabela 4 apresenta faixas de intensidade de peso de uma relação e suas respectivas classificações. Com isso tanto as relações de Contato, influência por Informação ou por Perigo poderão ser fracas, moderadas, intensas ou fortes. Tabela 4: Intervalos do Peso das Relações. Intervalo do Peso [0 ; 0,2[ [0,2 ; 0,5[ [0,5 ; 0,8[ [0,8 ; 1] Peso da Relação Fraco Moderado Intenso Forte Cálculo dos Pesos A Tabela 5 mostra (i) os atributos do agente em questão e de seus vizinhos utilizados para calcular os pesos das relações, e (ii) o quanto esses atributos influenciam no cálculo dos pesos das relações entre os agentes. A seguir, tem-se a apresentação de como os pesos das relações são calculados. O peso de uma relação de Contato é calculado pela Equação 5.1. pesoContato = 0.8(−1(permissividade − 1)) + 0.1(expEvt) + 0.1(−1(nervVizinhos − 1)) (5.1) A permissividade do agente vizinho quantifica o quão propenso está o vizinho para quebrar 78 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes Tabela 5: Influência dos Atributos no Cálculo do Peso da Relação. Tipo de Relação Contato Influência por Informação Influência por Perigo Agente Atributo nervVizinhos Influência 10% nervosismo susceptibilidade expEvt 50% 10% 30% Vizinho Atributo permissividade expEvt expEvt periculosidade periculosidade permissividade Influência 80% 10% 20% 20% 60% 10% normas sociais. Este é o principal fator para motivar a necessidade social do agente, contribuindo com 80% do total do peso da relação de Contato. Uma vez que o agente não procurará manter uma relação de contato com um indivíduo que não siga as convenções sociais, utiliza-se o inverso do valor desse atributo. Assim, quanto maior a permissividade do vizinho, menor é o peso da relação. Os atributos expEvt e nervVizinhos podem acentuar a relação de Contato, e cada um destes atributos influencia em 10% no total do peso da relação. A variável expEvt indica a experiência do vizinho, e nervVizinhos quantifica a tensão física em torno do agente. Desta forma, quanto maior a experiência do vizinho, maior será o acréscimo dada à relação, e quanto maior o nervosismo detectado pelo agente ao seu redor, menor será o acréscimo dado ao peso da relação de Contato. Em uma relação de influência por Informação o peso é obtido com o cálculo dos valores dos atributos NERVOSISMO e SUSCEPTIBILIDADE, do agente em questão, e as variáveis de seus vizinhos: expEvt e periculosidade. O cálculo que define o peso da influência por Informação é apresentado na Equação 5.2. pesoIn f o = 0.5(−1(nervosismo−1))+0.1(suscetibilidade)+0.2(expEvt)+0.2(periculosidade) (5.2) O princípio da relação de Informação definida neste trabalho considera que, quanto menor o nervosismo do agente, maior será o peso da relação. Isto porque o agente menos nervoso ponderará mais sobre as informações provenientes de seus vizinhos. Este é o principal atributo contribuindo com 50% do valor do peso da relação. A susceptibilidade tem influência de 10% no cálculo, indicando que quanto mais suscetível às informações o agente está, maior será o peso dado a sua relação do tipo Informação. A relação de Informação também é influenciada pelo agente vizinho, e neste caso considera- 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes 79 se que o peso da relação é diretamente proporcional (i) à experiência que o vizinho tem na situação de incêndio, e (ii) ao grau de periculosidade que o agente vizinho atribui ao incêndio. Cada uma desta variáveis, expEvt e periculosidade, assume a influência de 20% cada no total do peso da relação de Informação. Já a força de uma relação de influência por Perigo será quantificada tendo como base as variáveis do vizinho periculosidade e permissividade, bem como a variável do agente em questão expEvt. O cálculo do peso da influência por Perigo pode ser visto na Equação 5.3. pesoPerigo = 0.6(periculosidade) + 0.1(permissividade) + 0.3(−1(expEvt − 1)) (5.3) Para o cálculo do peso da relação de Perigo o principal atributo a se considerar é a periculosidade do vizinho, contribuindo com 60% do total do peso da relação. Ou seja, quanto maior a periculosidade que o vizinho atribuir à situação, maior será o peso da relação de Perigo. A permissividade do vizinho indica quão propenso a quebrar as normas sociais ele está. Esta variável entra como um intensificador da relação, acrescendo em 10% seu valor. Trinta por cento (30%) do peso da relação de Perigo é representada pelo “inverso” da experiência do agente. Este atributo indica o quão preparado para aquela situação ele está. Desta maneira, a variável expEvt entra como um atenuante, ou seja, quanto maior a sua experiência, menos o agente irá considerar o perigo oriundo de seu vizinho, isso devido a seu treinamento para esta situação. A Figura 20 ilustra como se dá o cálculo do peso da relação de Contato para um agente em S ITUAÇÃO N ORMAL. Primeiramente é verificado o estado do agente em questão e de seus vizinhos. Caso este agente esteja em S ITUAÇÃO N ORMAL e seu vizinho em S ITUAÇÃO N ORMAL, AGITAÇÃO S OCIAL ou M ILLING, a relação estabelecida será do tipo Contato. Assim sendo, o peso da relação será calculado pela soma de 10% do valor do atributo nervVizinhos do agente em questão e 10% e 80% dos valores dos atributos expEvt e permissividade de seu vizinho, respectivamente. Como as Relações Influenciam os Agentes Assim como o estado e o comportamento de cada agente influenciam na formação de sua rede social (ligação micro-para-macro), a rede social do agente também pode afetar o seu comportamento (ligação macro-para-micro). De fato, as relações da rede social de um agente (fenômenos macro-estruturais) podem afetar em sua tomada de decisão. Para analisar este tipo de relação macro-para-micro, neste trabalho considera-se para cada agente: 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes 80 Figura 20: Exemplo do Cálculo do Peso da Relação de Contato. 1. Os tipos de relação de sua rede social; 2. Tendo como base tais relações, procura-se determinar as influências das mesmas no comportamento do agente. A Tabela 6 apresenta uma proposta de como agentes, em um determinado estado do pânico em multidão e com uma determinada configuração de sua rede social, são influenciados na escolha da ação que irão executar. Para tal foi feita uma intervenção no trabalho de (FRANçA, 2010) apresentada na Tabela 2, modificando a linha de ação em alguns casos específicos. No trabalho de (FRANçA, 2010) o agente pode seguir uma linha de ação de acordo com o estado e atributos seus e de seus vizinhos, tendo um objetivo e atuando sobre um objeto. As mudanças realizadas visam fazer com que a rede social de um agente, em um cenário de formação de pânico em multidão, influencie na sua tomada de decisão. Desta forma, dado o estado do agente e as características de sua rede social, as regras que definem a linha de ação escolhida no trabalho de (FRANçA, 2010) podem ser substituídas pelas propostas. Caso estas novas condições da rede do agente não sejam satisfeitas, as regras para definição da linha de ação de (FRANçA, 2010) permanecerão. Na Tabela 6 tem-se um detalhamento desta proposta. Caso um agente encontre-se em S ITUAÇÃO N ORMAL ele espera que suas relações sejam do tipo Contato ou Informação, pois não pressupõe cenários anormais no ambiente, ou comportamentos que infrinjam as normas sociais por parte dos atores de sua rede social. Porém, se ele 81 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes Tabela 6: Ações Conforme Estado e Rede Social do Agente. Estado S ITUAÇÃO N ORMAL AGITAÇÃO S OCIAL M ILLING E XCITAÇÃO C OLETIVA C ONTÁGIO S OCIAL C OMPORTAMENTO C OLETIVO Condição Se possui ao menos uma relação de Perigo Se a maioria das relações é de Contato Se a maioria das relações é de Perigo Se a maioria das relações é de Contato Se a maioria das relações é de Perigo Se a maioria das relações é de Informação Se a maioria das relações é de Informação Não se Aplica Ação Estado é alterado para AGITAÇÃO S OCIAL Busca informação de forma direta sobre o A MBIENTE F ÍSICO Busca informação de forma direta sobre a Ameaça Busca informação de forma indireta sobre a Ameaça Busca informação de forma direta sobre a Ameaça Busca informação de forma indireta sobre a Ameaça Alerta os demais agentes sobre a Ameaça Mantém o comportamento de movimentar-se em direção à saída possuir ao menos um relacionamento do tipo Perigo, que apresenta ameaça à sua vida, então ele altera seu estado para AGITAÇÃO S OCIAL, assim caracterizando um alerta e despertando sua atenção a um provável acontecimento. No estado de AGITAÇÃO S OCIAL, um agente começa a buscar relações de Informação para informar-se de um possível evento que possa vir a abalar a estrutura social. Assim sendo, se a maioria das relações de sua rede social for do tipo Contato ele irá buscar de forma direta informações sobre o A MBIENTE F ÍSICO, já que seus vizinhos não estão a par do ocorrido. Caso a maioria de seus relacionamentos seja do tipo Perigo, então este agente irá buscar informações de forma direta sobre a A MEAÇA. Tal ação objetiva a auxiliar o agente a se situar com relação a um provável evento excitante. Se o agente estiver em M ILLING significa que começou a priorizar as informações de sua rede social. Desta forma, mesmo que a maioria de suas relações seja do tipo Contato, caracterizando que sua rede não está rigorosamente abalada com o ocorrido, ele ainda assim irá questioná-la sobre a A MEAÇA. Já se sua rede é uma ameaça a sua saúde, possuindo maior número de atores com relação do tipo Perigo, então ele desconsiderará a informação oriunda destes e procurará saber de forma direta informações a respeito da A MEAÇA. Para os agentes em estado de E XCITAÇÃO C OLETIVA uma imagem coletiva convergente da situação começa a se estabelecer e o pânico começa a se tornar evidente. Se a rede social é composta em sua maioria por relações do tipo Informação, o agente coleta informações de forma indireta sobre a A MEAÇA através de sua rede. Já para o estado de C ONTÁGIO S OCIAL, 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes 82 o pânico é iminente e a grande maioria de suas relações são de Perigo. Caso a rede do agente possua maioria dos relacionamentos do tipo Informação, ele procurará alertar os demais agentes sobre a A MEAÇA, assim deixando quem estiver ao seu redor ciente do ocorrido. Por fim, no estado de C OMPORTAMENTO C OLETIVO E LEMENTAR o agente continua com o mesmo comportamento, ou seja, zelar por sua vida e mover-se em direção à saída. Por exemplo, um agente em S ITUAÇÃO N ORMAL na modelagem de (FRANçA, 2010) andaria de forma aleatória pelo ambiente independente das circunstâncias de seu ambiente e vizinhos. Já na modelagem proposta, caso a rede social deste agente possua ao menos uma relação de Perigo, ou seja, pelo menos um agente em C OMPORTAMENTO C OLETIVO E LEMENTAR, seu estado será alterado para AGITAÇÃO S OCIAL, como pode ser observado na Figura 21. Figura 21: Expansão da Tomada de Decisão. 5.1.2 Representação Coletiva Macro A rede social de cada agente, armazenada em sua R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ICRO, serve como dado de entrada para a formação da Representação Coletiva Macro (RC OL M ACRO). Na Figura 22 tem-se a ilustração da relação entre a RC OL M ACRO (Figura 22 a) e RC OL M ICRO (Figura 22 b) através de redes sociais. A idéia motivadora da RC OL M ACRO vem do conceito de mente coletiva/grupal do pesquisador francês Emile Durkheim (1858-1917). Para Durkheim a cultura de uma sociedade é 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes 83 Figura 22: Exemplos da Visualização das Representações Coletivas. construída pela combinação de mentes individuais, e não simplesmente por imitações de um indivíduo pelos demais. Como as idéias individuais passam por uma transformação e síntese pelo grupo, elas fazem parte de uma representação coletiva. Devido a essas concepções, Durkheim é visto como um dos precursores do conceito da mente coletiva, uma entidade supra-individual com existência independente dos indivíduos que constituem o grupo. Neste trabalho a estrutura da RC OL M ACRO é a rede social de toda agência formada na simulação, retratando a mente coletiva formada pelos agentes. A formação da RC OL M ACRO a partir das RC OL M ICRO fica mais clara na Figura 23. Vale ressaltar que como este é um sistema complexo, então o todo é maior que a soma das partes. Sendo assim, a RC OL M ACRO não é simplesmente a soma de todas as RC OL M ICRO. Em sua essência esta mente coletiva define pensamentos e ações que são diferentes daqueles que o indivíduo teria isoladamente. Há algumas idéias e ações que somente são possíveis quando os indivíduos fazem parte de uma multidão, e a multidão pode ser entendida como um ser transitório constituído de elementos heterogêneos. Entretanto, neste trabalho, como primeira proposta de formação da RC OL M ACRO, sua composição será baseada na agregação das redes sociais de cada agente. Com isto, em cada passo da simulação, a RC OL M ACRO armazena todas as redes sociais formadas naquele momento. Esta agregação permite uma análise pormenorizada na execução da simulação, sendo possível detectar diversas situações, por exemplo, agentes isolados ou grandes agrupamentos. Na Figura 24 tem-se a arquitetura da RC OL M ACRO, formada pelos seguintes elementos: BASE DE R EDES S OCIAIS, BASE DE F ILTROS e BASE DE M ÉTRICAS. 84 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes Figura 23: Formação da Representação Figura 24: Arquitetura da R EPRESENTAÇÃO C OLE Coletiva Macro. TIVA M ACRO (RC OL M ACRO ). Base de Redes Sociais Em cada passo da simulação os agentes atualizam suas redes sociais (RC OL M ICRO) na BASE DE R EDES S OCIAIS. Tal estrutura de armazenamento manterá a rede social coletiva, sendo possível a aplicação de técnicas de mineração de dados para, por exemplo, a detecção de padrões de comportamento e identificação de variáveis relevantes. Base de Filtros Como visto anteriormente, na BASE DE R EDES S OCIAIS estão armazenadas as redes so- ciais dos agentes, formadas em cada passo da simulação. Nesta base de dados há informações importantes a respeito de como ocorre o fenômeno do pânico em multidão, que muitas vezes não são facilmente interpretáveis de forma a gerar conhecimento sobre tal fenômeno. Mas quando obtidas e identificadas, estas informações podem ser utilizadas para um melhor entendimento da estrutura teórica das etapas do pânico em multidão, em análises de perfil dos agentes da simulação e em ações de controle em situações de pânico. A BASE DE F ILTROS tem por objetivo fornecer mecanismos de acesso a tais informações através de filtros de dados. Com este processo de filtragem é possível restringir o conjunto de resultados, obtendo apenas elementos que satisfaçam as condições especificadas. Desta forma, a BASE DE F ILTROS fornece um sistema de seleção que possibilita maior autonomia ao usuário do sistema. Os filtros são aplicados na rede social da RC OL M ACRO para reduzir a área de análise, a fim de considerar seus aspectos mais importantes e, desta forma, direcionar o uso da RC OL M ACRO na análise do fenômeno do pânico em multidão. Os seguintes filtros apresentados na Figura 25 podem ser selecionados, em uma combinação de operadores lógicos E e OU: • Quais agentes serão analisados, considerando seus estados; • O tipo de relação a ser analisada; • Para cada tipo de relação analisada, as relações dentro de um determinado intervalo de 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes 85 peso. Figura 25: Filtros a serem Aplicados na R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ACRO. Por exemplo, pode-se definir que a RC OL M ACRO da simulação é composta por agentes nos estados de AGITAÇÃO S OCIAL, M ILLING, E XCITAÇÃO C OLETIVA e C ONTÁGIO S OCIAL, e que possuam relações do tipo Informação e Perigo com peso maior que 0,5. Na visualização da RC OL M ACRO os agentes assumem as posições físicas que ocupam no cenário da simulação para orientar a análise, uma vez que a rede individual do agente é composta pelos seus vizinhos. As relações possuem direção e peso. As diferentes formas de aplicação dos filtros afetam na perspectiva de análise da rede social formada pela agência em um determinado passo da simulação. Como exemplo, a Figura 26 ilustra uma parte da rede social formada no passo 23, com o seguinte filtro: visualização dos agentes nos estados S ITUAÇÃO N ORMAL e AGITAÇÃO S OCIAL, com relações do tipo Informação ou Perigo com peso entre 0,5 a 1,0. Já a Figura 27 apresenta a rede social com o seguinte filtro: agentes nos estados S ITUAÇÃO N ORMAL e AGITAÇÃO S OCIAL, com relações do tipo Informação ou Perigo com peso entre 0,0 a 1,0. É possível perceber que no primeiro cenário menos relações são visualizadas, pois o filtro no peso das relações foi estabelecido entre 0,5 e 1,0. Já no segundo cenário mais relações foram consideradas, pois não houve filtro nos pesos das relações de Informação e Perigo. Desta forma, nesse “recorte”, observa-se que foram exibidas mais 4 relações envolvendo 3 agentes. Base de Métricas Na Seção 3.3.3 foram apresentadas uma série de métricas aplicadas às redes sociais, que podem ser calculadas tanto para a rede como um todo quanto para cada um dos atores da rede. A 5.1 Modelagem Conceitual Multiagentes 86 Figura 26: Exemplo de Filtro com Configura- Figura 27: Exemplo de Filtro com Configuração 1. ção 2. BASE DE M ÉTRICAS tem por objetivo calcular as métricas da rede social como um todo, gerada na RC OL M ACRO. São elas: (i) centralidade de intermediação, (ii) centralidade de proximidade, (iii) tamanho, (iv) diâmetro, (v) quantidade de relações, (vi) densidade e (vii) o número de clusters. Tais métricas possibilitam mensurar características da rede. Por exemplo, no cenário da Figura 26 as seguintes métricas de rede foram obtidas: tamanho da rede igual a 122, número de ligações igual a 12, densidade igual a zero, diâmetro igual a infinito e número de clusters igual a seis. Também é possível, quando selecionado um agente, verificar sua centralidade de proximidade e de intermediação dentro da rede, permitindo qualificar sua importância na rede. 87 6 Modelagem Computacional e Análise dos Resultados Os nossos resultados são equivalentes ao tamanho da nossa ousadia. —– Naiara Amorim Este capítulo apresenta os resultados da implementação da integração do fenômeno do pânico em multidão e redes sociais. A execução deste modelo computacional possibilitou a análise dos dados gerados nas simulações e a comparação com os resultados obtidos no trabalho de (FRANçA, 2010). Também há uma discussão sobre a validação do modelo conceitual. Os resultados das simulações são vistos de três formas. A duas primeiras se referem à R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ICRO e à tomada de decisões de cada agente com a inserção da rede social comparado ao modelo original. A terceira abordagem foca na observação da R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ACRO em uma análise geral, verificando como se constituem as redes sociais em um ambiente de formação de pânico em multidão. 6.1 Modelo Computacional A codificação do modelo conceitual gerou o modelo computacional relacionado ao fenômeno do pânico em multidões, agregando redes sociais. Foram feitas expansões no código fonte do trabalho de (FRANçA, 2010) de modo a acrescentar a rede social do agente em sua RC OL M ICRO, e implementar a RC OL M ACRO. Os agentes são implementados na linguagem Java, e para o gerenciamento desses tevese como base o framework para simulação multiagentes Swarm (SWARMTEAM, 2008). Para a exibição da rede e auxílio para o cálculo das métricas foi utilizada a biblioteca de manipulação de grafos JUNG (JUNGTEAM, 2011). 88 6.2 Análise da Simulação O armazenamento das informações referentes à simulação para futura coleta e análise é realizado através do banco de dados HSQLDB (GROUP, 2009). 6.2 Análise da Simulação A análise das redes sociais formadas durante a execução da simulação é importante não somente para formular conclusões, mas também para orientar mudanças nos parâmetros da simulação de forma a verificar suas conseqüências. A seguir são apresentadas as análises da execução da simulação, comparando com a análise realizada em (FRANçA, 2010). Isso para que seja possível o melhor entendimento do que caracteriza uma rede social na situação de pânico em multidão, e como elas influenciam no comportamento do agente. A relação entre o estado do agente e sua cor encontra-se descrita na Tabela 7. Tabela 7: Relação Estado e Cor do Agente P ESSOA. Estado Situação Normal Agitação Social Milling Excitação Coletiva Contágio Social Comportamento Coletivo Elementar 6.2.1 Cor Azul Verde Amarelo Vermelho Laranja Branco Configuração Técnica e Cenários da Simulação Seguiu-se os mesmos parâmetros definidos na análise de (FRANçA, 2010), assim sendo, o estudo de caso deste trabalho busca representar um ambiente fechado na forma quadrada, com 36 metros de lado, conforme ilustrado na Figura 28. Cada simulação é considerada encerrada quando não há mais agentes ativos, ou seja, quando um agente é imobilizado ou é um sobrevivente que conseguiu escapar do A MBIENTE F ÍSICO por ter passado pela S AÍDA. Uma simulação é constituída de passos, e cada passo corresponde à passagem de tempo de aproximadamente dois segundos na vida real. Desta forma, caso uma rodada tenha sido concluída após 360 passos, significa que a rodada representou um período de doze minutos (360 * 2 / 60), que foi o tempo médio de evacuação observado. 89 6.3 Análise dos Resultados N L O S Ameaça Saída Obstáculo Agente Pessoa Marco Figura 28: Visão Geral do Ambiente Físico e dos Agentes. Neste trabalho três cenários foram estabelecidos, sendo que a principal distinção entre estes é o tamanho da S AÍDA, de acordo com a Tabela 8. Cada uma dessas configurações pode afetar, positiva ou negativamente, as expectativas de cada agente escapar da situação de perigo de vida. Tabela 8: Cenários Analisados. Cenário 1 2 3 Tamanho da Saída (células) 1 2 4 Cada cenário foi executado dez vezes, resultando em trinta simulações. Informações foram coletadas durante e ao final de cada simulação. 6.3 Análise dos Resultados A análise dos dados será feita para cada um dos três cenários definidos. Serão consideradas três frentes: análise centrada nos agentes, a análise da representação coletiva micro, estas duas comparando com os resultados obtidos pela análise de (FRANçA, 2010), e a análise da representação coletiva macro. 6.3 Análise dos Resultados 6.3.1 Análise Centrada nos Agentes 6.3.1.1 Análise do Cenário 1 90 De modo a analisar o comportamento dos agentes e a emergência de padrões de comportamento resultantes da interação entre eles, dados foram coletados no decorrer das simulações. Os resultados da análise estão apresentados nas próximas subseções. 6.3.1.1.1 Análise Comportamental dos Símbolos Significantes Os símbolos significantes descrevem o objetivo do agente em um determinado momento da simulação, o objeto que irá sofrer a ação desse agente e a linha de ação que determina como o agente irá atuar naquele objeto. As triplas formadas por Objetivo, Objeto e Linha de Ação representam o comportamento do agente P ESSOA e são definidas de acordo com o estado do agente. Estas são apresentadas na Tabela 2, separadas pelos estados que os agentes podem assumir. Na modelagem proposta, estas ações podem ser substituídas de acordo com o estado do agente e a configuração de sua rede social, conforme descrito na Tabela 6. Os estados coletivos S ITUAÇÃO N ORMAL e C OMPORTAMENTO C OLETIVO E LEMENTAR foram desconsiderados por possuírem, cada um, apenas uma tripla. As escolhas das triplas dos demais estados pelos agentes foram contadas em cada passo da simulação, e essa contagem foi separada de acordo com o nível de sua experiência (ALTO, MODERADO, MÉDIO e BAIXO). De modo a comparar e classificar essas escolhas, uma porcentagem é calculada tendo como referência o total de escolhas efetuadas pelos agentes que se encontram no mesmo estado coletivo. A contagem das triplas foi realizada de duas maneiras, apresentadas a seguir. Escolha dos Agentes com Relação à Tripla Objetivo-Objeto-Linha de Ação Na Tabela 9 encontra-se a comparação com o modelo proposto em (FRANçA, 2010) da análise geral dos símbolos significantes, apresentando os dados do estado AGITAÇÃO S OCIAL. Esta análise é dita geral porque contabilizou todas as escolhas realizadas durante toda a simulação. A finalidade desta contagem é demonstrar o quanto os resultados dos modelos computacionais são semelhantes e se aproximam do modelo conceitual, e qual a influência dos cenários propostos nas ações dos agentes. Analisando os dados gerados no Cenário 1, relacionados à Tabela 9, é possível classificar as ações executadas pelos agentes, das mais executadas às menos executadas, de acordo com 91 6.3 Análise dos Resultados Tabela 9: Estado. Comparativo da Amostra da Análise Geral dos Símbolos Significantes para um SemRede(%) 76,48 ComRede(%) 81,38 10,88 11,37 8,47 3,74 2,21 2,62 1,24 0,54 0,72 0,35 AGITAÇÃO SOCIAL Objetivo (Objeto) → Linha De Ação Buscar informações no Ambiente Físico (Ambiente Físico) -> Buscar informações de forma direta, Mover-se Buscar informações no Ambiente Físico (Ambiente Físico) -> Buscar informações de forma direta, Mover-se Buscar informações a respeito da Ameaça (Ameaça) -> Buscar informações de forma direta, Mover-se Buscar informações no Ambiente Físico (Ambiente Físico) -> Buscar informações de forma direta, Mover-se Buscar informações a respeito da Ameaça (Ameaça) -> Buscar informações de forma direta, Mover-se Buscar informações a respeito da Ameaça (Ameaça) -> Buscar informações de forma direta, Mover-se Exp. BAIXA MEDIA BAIXA MODERADA MEDIA MODERADA seu estado durante a simulação. Percebe-se que houve uma pequena alteração dos valores entre os dois modelos, porém o ranking das linhas de ação mais executadas permanece o mesmo. No estado de AGITAÇÃO S OCIAL tem-se que os agentes procuram, na maior parte das situações, buscar por informações diretamente do A MBIENTE F ÍSICO (antes de 89,57% → 76,48% + 10,88% + 2,21%, agora em 95,37% dos casos → 81,38% + 11,37% + 2,62%). E buscam informações sobre a ameaça, também de forma direta, em menor intensidade (antes 10,43% → 8,47% + 1,24% + 0,72%, agora 4,63% → 3,74% + 0,54% + 0,35%). Esta mudança mostra que o agente está mais tranqüilo em relação ao evento e permanece coerente com o modelo original, pois na AGITAÇÃO S OCIAL as pessoas estão procurando entender o que está ocorrendo observando ao redor, sem tentar uma comunicação direta com os demais agentes. Além disso, o número de agentes com pouca experiência é expressivamente maior que os agentes experientes, fazendo com que mais agentes escolham buscar informações do A MBIENTE F ÍSICO. Os dados da tabela da Figura 29 apresentam, para cada estado possível em uma situação de pânico, a porcentagem das relações estabelecidas pelos agentes. Observando o estado AGI TAÇÃO S OCIAL percebe-se que o uso do conhecimento das redes sociais formadas durante a simulação reforçou esta decisão. Isto porque 88,5% das relações foram do tipo Contato, reforçando o fato de que neste contexto os agentes encontram-se em uma situação de normalidade, o que justifica a escolha das ações de busca direta no A MBIENTE F ÍSICO. As relações de Informação e Perigo para os agentes durante este estado não são relevantes, respectivamente 5,9% e 5,5%. Durante o Milling, os agentes buscam por informações a respeito da ameaça diretamente no ambiente (antes 84,71%, agora 69,69%). A maioria dos agentes que decidiram por esta ação tem experiência BAIXA ou MÉDIA. Pode-se entender que, neste caso, as pessoas com pouca experiência irão observar o ambiente para tentar localizar a ameaça, pois a falta de conheci- 6.3 Análise dos Resultados 92 Figura 29: Estatisticas Gerais da Rede Social. mento e experiência os direciona para uma observação mais imediata e não muito elaborada. O acréscimo das redes sociais na tomada de decisão do agente proporcionou um aumento expressivo na quantidade de agentes que procuram informações a respeito da ameaça através dos demais agentes (de 15,29% para 30,31%). Isto mostra que o agente, tendo ciência de sua rede social quando está em Milling, se comunica com seus integrantes para informar-se. Evidenciase assim a principal característica deste estado, a comunicação. Analisando os dados da Figura 29 verifica-se que 94,22% das relações dos agentes no estado de Milling são do tipo Informação, fazendo com que os agentes procurem se comunicar mais com sua rede social. A rede social local do agente ainda pode auxiliar a entender o comportamento dos agentes no estado de Milling. Para tanto, na Figura 30 tem-se as redes sociais de um agente, formadas durante passos consecutivos de uma simulação. Pode-se perceber que o agente mantém-se em Milling em quase todos os passos, e de forma coerente as relações estabelecidas com seus vizinhos são na maioria do tipo Informação. Assim, a rede social do agente configura-se como poderosa ferramenta no entendimento de seus comportamentos durante sua participação em situações de pânico em multidão. Já no estado E XCITAÇÃO C OLETIVA tem-se que a escolha de ação mais comum entre os agentes (antes 46%, agora 37,11%) é a de se movimentar em direção à saída. Isto se justifica porque, neste estado, já há uma noção maior do perigo da situação sendo que, em alguns casos, a posição da ameaça está bem definida para os agentes. Há também uma busca por informações de maneira social através dos outros agentes. Sendo assim, há um indicativo de que a troca de mensagens entre os agentes está ocorrendo, que comparado com o modelo de (FRANçA, 2010) houve um ligeiro aumento. As outras linhas de ação são: buscar informação sobre a saída (antes de 24,67%, agora 93 6.3 Análise dos Resultados (a) (b) (c) (d) (e) (f) Figura 30: Rede Social de um Agente nos Passos 67 (a), 68 (b), 69 (c), 70 (d), 71 (e) e 72 (f). 22,88%), buscar informação sobre a ameaça (ante 23,30%, agora de 36,36%) e alertar os demais agentes (antes 6,03%, agora 3,65%). Pode-se perceber que esta prioridade de ações indica que o agente está procurando se proteger do perigo, mas ainda se comunicando e observando. O ligeiro aumento na quantidade de tomadas de decisão de buscar informações sobre a ameaça mostra que a rede social do agente permanece influenciando o agente a compreender mais a situação antes de se exaltar. Percebe-se pelos dados da Figura 29 que no estado de E XCITAÇÃO C OLETIVA as relações estabelecidas refletem a preocupação do agente perante a situação de perigo. Tem-se que 68,654% de suas relações são do tipo Perigo, e 31,346% são do tipo Informação. Tais informações indicam que o agente não se interessa mais em manter relações que não contribuam para sua proteção, por isso o término das relações de Contato, e que o foco na busca por uma solução começa a se evidenciar. Por fim, no C ONTÁGIO S OCIAL o agente procura de forma mais freqüente (antes de 98,23%, agora 92,31%), se movimentar para a saída e, em um número reduzido de ocasiões, procura alertar os demais agentes (antes 1,77%, agora 7,69%). O aumento de agentes que alertam os demais mostra a consciência que o agente tem do coletivo, uma vez que agora reconhece sua rede social, e procura avisar os demais sobre o fato. 94 6.3 Análise dos Resultados Prosseguindo na análise da Figura 29, verifica-se que no estado C ONTÁGIO S OCIAL o agente mantém 85,834% de relações de Perigo com seus vizinhos, e 14,166% de relações do tipo Informação. Isto indica que a sua rede social esta em alerta para a necessidade de preservar a sua sobrevivência, isto pois a ação de buscar a saída evidencia-se no seu comportamento. Reforçando esta análise, na Figura 31 tem-se a rede social formada por um determinado agente, durante uma seqüência de passos da simulação. Quando no estado C ONTÁGIO S OCIAL as relações do agente foram de Perigo, mesmo quando seus vizinhos estavam no estado AGITAÇÃO S OCIAL. Isto porque o nível de insegurança detectado por tal agente o mantém em alerta em relação ao atual contexto social e físico, priorizando assim a busca pela saída. (a) (b) (c) (d) (e) (f) Figura 31: Rede Social de um Agente nos Passos 217 (a), 218 (b), 219 (c), 220 (d), 221 (e) e 222 (f). Os resultados obtidos por esta classificação das linhas de ação mostra que os agentes se comportaram de forma coerente com o modelo conceitual e próximo à análise de (FRANçA, 2010). Tais resultados foram obtidos de forma emergente, tendo como base a especificação do comportamento dos agentes e a interação entre eles. A análise da escolha dos agentes com relação à tripla Objetivo-Objeto-Linha de Ação agora é feita com o auxílio de gráficos. A seguir, tem-se a comparação entre as análises de (FRANçA, 2010) e a realizada neste trabalho das triplas escolhidas pelos agentes, levando em consideração seus estados e agrupando estas escolhas a cada dez (10) passos. Isto significa que a cada passo 95 6.3 Análise dos Resultados da simulação, os símbolos significantes foram computados e, após dez passos, obteve-se a média dessa contagem. Esta análise possibilita responder à seguinte questão: o comportamento médio dos agentes muda conforme o tempo da simulação e de acordo com os estados? A resposta está baseada nos seguintes gráficos que ilustram as ações realizadas pelos agentes em intervalos da simulação. De forma geral, percebe-se que o comportamento dos agentes passa por variações durante a simulação decorrentes da mudança na configuração do A MBIENTE F ÍSICO, da noção de RICULOSIDADE , do NERVOSISMO PE - e outras informações. A seguir tem-se uma análise mais pormenorizada de cada estado. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 1: Símbolos Significantes (Agitação Social). AS1: Buscar informações no Ambiente Físico de forma direta, Mover-se. AS2: Buscar informações a respeito da Ameaça de forma direta, Mover-se. Figura 32: Rede Social RC OL M ICRO de Agentes em AGITAÇÃO S OCIAL. Analisando os gráficos do estado AGITAÇÃO S OCIAL (veja Gráfico 1) percebe-se que o comportamento das ações nos dois modelos são semelhantes. Os agentes nesse estado ainda procuram se situar do ocorrido, tendo como principal linha de ação buscar informações do A MBIENTE F ÍSICO de forma direta. Poucos agentes procuram saber da ameaça, pois a maioria não está a par do início do incêndio. A rede social da RC OL M ICRO dos agentes que se encontram em Agitação Social (veja Figura 32) mostra que a grande maioria de suas relações são de Contato, salvo agentes em 96 6.3 Análise dos Resultados estágios mais avançados do pânico em multidão, que este se relaciona como Perigo. As relações do tipo Contato são resultado do desconhecimento da situação por parte dos agentes, assim esses agentes estão priorizando suas relações sociais. As relações de Perigo se justificam pois os vizinhos em um estágio avançado estão propensos a executar ações fora das normas sociais, causando então um certo receio no agente em questão e o mesmo tendo tal vizinho como um perigo iminente à sua segurança física. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 2: Símbolos Significantes (Milling). ML1: Buscar informações a respeito da Ameaça de forma direta, Mover-se. ML2: Buscar informações a respeito da Ameaça de forma indireta, Mover-se. Figura 33: Rede Social RC OL M ICRO DE AGENTES EM Milling. Quando os agentes se encontram em Milling (veja Gráfico 2) nota-se que, em ambos modelos, estes dispararam de forma majoritária ações de busca de forma direta (em detrimento da forma indireta). Porém, ainda que este tipo de ação individual seja a maioria, no comparativo com a inclusão da rede social, a quantidade de ações de buscar informações de forma indireta obteve um aumento substancial. Mesmo que em grande parte os agentes busquem informação de forma direta, suas relações são de Informação, pois este já começa a se questionar sobre o que está acontecendo, como pode ser visto na Figura 33 que exibe a rede social da RC OL M ICRO de agentes em Milling. Neste estado ainda podem existir relações de Contato, mas esses são raros já que o agente anseia por informações. As relações do tipo Perigo ocorrem pelo mesmo motivo citado anteriormente, os 97 6.3 Análise dos Resultados agentes neste estado ainda não têm ciência do ocorrido, e ao observarem seus vizinhos mais permissivos os considera como Perigo. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 3: Símbolos Significantes (Excitação Coletiva). EC1: Buscar informações a respeito da Ameaça de forma direta. Mover-se. EC2: Buscar informações a respeito da Ameaça de forma indireta. Mover-se. EC3: Buscar informações a respeito da Saída de forma direta. Mover-se. EC4: Buscar informações a respeito da Saída de forma indireta. Mover-se. EC5: Movimentar-se em direção à Saída. EC6: Alertar os demais agentes a respeito da Ameaça. Mover-se. EC7: Alertar os demais agentes a respeito da Saída. Mover-se. Figura 34: Rede Social RC OL M ICRO de Agentes em E XCITAÇÃO C OLETIVA. Tanto na modelagem de (FRANçA, 2010), quanto na proposta deste trabalho, na E XCITA ÇÃO C OLETIVA (veja Gráfico 3) há uma variação das linhas de ação executadas pelos agentes. Isso devido ao contexto de perigo e ao aumento de sua permissividade. As variáveis SIVIDADE e SUSCEPTIBILIDADE PERMIS - influenciam diretamente na escolha da ação a ser tomada e, em determinados momentos da simulação, tais variáveis direcionam a ação imediata do agente, independente de sua experiência. De fato, a sugestionabilidade é contagiosa em aglomeraçõees humanas e facilitada pelo estado de atenção e pela expectativa da multidão. Um aspecto importante na questão da sugestionabilidade é a antecedência, ou seja, a primeira sugestão levantada é implantada na multidão pelo contágio, que leva a um direcionamento nos comportamentos dos indivíduos da multidão. Por meio da sugestão uma idéia se transforma em ação, e essa ação (como empurrar pessoas para chegar mais rápido à saída) tenderá a ser repetida pelos demais 98 6.3 Análise dos Resultados indivíduos em uma reação circular. Porém, ainda que a ação de buscar informações sobre a saída de maneira direta seja a mais executada, no comparativo com a inclusão da rede social, a quantidade de ações que envolvem os demais agentes, como buscar informações de forma indireta e alertar os demais agentes, obtiveram um aumento considerável. Observando a Figura 34 é possível visualizar algumas redes sociais da RC OL M ICRO de agentes que se encontram em E XCITAÇÃO C OLETIVA. O agente em questão já começa a se exaltar e a se tornar parte da multidão. As relações de Informação e de Perigo se equilibram, sendo que vizinhos em estágios mais avançados do pânico em multidão serão considerados como Perigo, e agentes menos nervosos se relacionarão por Informação. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 4: Símbolos Significantes (Contágio Social). CS1: Movimentar-se em direção à Saída. CS2: Alertar os demais agentes a respeito da Ameaça. CS3: Alertar os demais agentes a respeito da Saída. Figura 35: Rede Social RC OL M ICRO DE AGENTES EM C ONTÁGIO S OCIAL . Em todos os estados, com exceção do C ONTÁGIO S OCIAL (veja Gráfico 4), em um determinado ponto da simulação (aproximadamente no passo de número 250) há uma certa estabilidade provocada pelo processo de evacuação e da formação do arco de fuga dos agentes. Nesse momento, os agentes já possuem todas as informações que precisam e o objetivo central deles é a 6.3 Análise dos Resultados 99 saída do ambiente. Com a inserção da rede social há uma pequena parcela dos agentes que opta em avisar seus vizinhos, ora sobre a ameaça, ora sobre a saída. O baixo número de relações de Informação e o elevado número de relações de Perigo mostram que, embora a rede social do agente em C ONTÁGIO S OCIAL tenha influenciado para alertar seus vizinhos com relação ao perigo, ainda assim este agente prioriza sua sobrevivência, considerando a maior parte dos seus vizinhos como Perigo (veja Figura 35). Isso pois todos os agentes neste momento da simulação se preocupam em salvar suas vidas se movimentando em direção à saída. Assim sendo, ou um vizinho o pressionará para alcançar a saída, ou então representará um obstáculo, pois encontra-se no caminho entre o próprio e a saída. Tal comportamento pode ser parcialmente explicado pelo fato de que uma multidão não está preparada para admitir que qualquer coisa fique entre seu desejo e sua realização. Sendo assim, no caso do pânico em multidão os indivíduos não aceitam obstáculos na realização de sua intenção de sobrevivência. 6.3.1.1.2 Análise do Estado Interno dos Agentes A observação do valor das variáveis dos agentes é de grande valia para o entendimento da simulação, pois são estas que determinam o estado de cada agente. Aqui as variáveis são analisadas de duas formas. Primeiramente, a média aritmética do valor das variáveis é coletada cada vez que um ponto de incêndio chega a uma temperatura acima de 80 graus Celsius. Um ponto de incêndio pode ser considerado como um alarme com um sensor de calor ou fumaça, estes determinam o quanto a ameaça avançou dentro do ambiente. Quando um ponto de incêndio é acionado a percepção dos agentes é perturbada e isto provoca a resposta dos agentes, como se estivessem reagindo a um alarme sonoro ou visual. Quando isso ocorre, a coleta ocorre dois passos após esse evento. Assim, torna-se possível analisar a influência do ponto de incêndio no estado interno dos agentes. Após a coleta da média, estes valores são separados pela localização do agente P ESSOA dentro das faixas, conforme os marcos definidos. Desta forma pode-se observar o estado interno dos agentes em cada faixa e, combinando essa informação com a do ponto de incêndio, analisar a condição interna dos agentes em pontos específicos da simulação. A Figura 36 (a) apresenta uma visão da simulação quando o foco de incêndio no ponto 10 alcançou a temperatura acima de 80 graus Celsius. Na Figura 36 (b) é apresentada a nova configuração dos agentes dois passos após o foco de incêndio no ponto 10 tenha chegado à temperatura de 80 graus Celsius. E respectivamente, a RC OL M ACRO na mesma situação nas 100 6.3 Análise dos Resultados Figuras 37 (a) e 37 (b). Não houve grandes alterações nas variáveis em comparação à análise de (FRANçA, 2010). A Tabela 10 descreve a situação média das variáveis em cada faixa de influência dos marcos comparando as duas simulações. (a) Antes. (b) Depois. Figura 36: Visão da Simulação no Ponto de Incêndio 10. Antes a maioria dos agentes encontrava-se em AGITAÇÃO S OCIAL, se movimentando sem um objetivo muito claro. Com o acionamento do ponto 10, a grande maioria dos agentes passa para a E XCITAÇÃO C OLETIVA e para o C ONTÁGIO S OCIAL, com um incremento na periculosidade e no nervosismo. Na Figura 37 percebe-se que antes do incêndio exercer forte influência no ponto 10, as relações eram em sua grande maioria de Contato. Após a propagação do incêndio próximo a este ponto há uma pequena quantidade de relações de Contato, e as relações de Perigo e Informação passam a ser as majoritárias. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 5: Média da Variável Periculosidade do Agente P ESSOA no Estado S ITUAÇÃO N OR MAL . Observando os valores das variáveis dos agentes em S ITUAÇÃO N ORMAL (veja gráficos 5, 6, 7 e 8) percebe-se a sensação de calma e a ausência de sinais de perigo, especialmente 101 6.3 Análise dos Resultados (a) Antes. (b) Depois. Figura 37: Visão da RC OL M ACRO no Ponto de Incêndio 10. Tabela 10: Média das Variáveis no Ponto de Incêndio 10 - Cenário 1. Faixa x < 25 x < 25 x < 25 x < 25 x < 25 x < 25 25 <= x < 35 25 <= x < 35 25 <= x < 35 25 <= x < 35 25 <= x < 35 25 <= x < 35 35 <= x < 52 35 <= x < 52 35 <= x < 52 35 <= x < 52 35 <= x < 52 35 <= x < 52 Variável Nervosismo Periculosidade Permissividade Susceptibilidade VelocidadeIdeal VelocidadeReal Nervosismo Periculosidade Permissividade Susceptibilidade VelocidadeIdeal VelocidadeReal Nervosismo Periculosidade Permissividade Susceptibilidade VelocidadeIdeal VelocidadeReal Valor Sem Rede 0,30 0,55 0,41 0,47 1,54 0,82 0,26 0,38 0,28 0,26 1,30 0,76 0,10 0,09 0,11 0,12 0,95 0,86 Valor Com Rede 0,23 0,52 0,33 0,41 1,49 1,00 0,21 0,35 0,26 0,20 1,25 0,88 0,11 0,08 0,10 0,09 0,96 0,85 102 6.3 Análise dos Resultados (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 6: Média da Variável Permissividade do Agente P ESSOA no Estado S ITUAÇÃO N OR MAL . (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 7: Média da Variável Susceptibilidade do Agente P ESSOA no Estado S ITUAÇÃO N OR MAL . (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 8: Média da Variável Nervosismo do Agente P ESSOA no Estado S ITUAÇÃO N ORMAL. 103 6.3 Análise dos Resultados Figura 38: Rede Social da RC OL M ICRO de um Agente em Situação Normal. nas regiões distantes do foco de incêndio. Nas simulações onde os agentes trabalham com redes sociais, observa-se pelo gráfico 5 que o valor da variável PERICULOSIDADE diminui. Isto pode ser explicado pelo fato de que, neste estado, o tipo de relação predominante é de Contato conforme ilustra a Figura 38. Sendo assim, os agentes tendem a formar uma expectativa de ausência de perigo, pois seus vizinhos em sua maioria não a demonstram. Em média, os valores da variável ÇÃO PERMISSIVIDADE aumentaram nos agentes em S ITUA - N ORMAL (veja Gráfico 6), quando da inserção de redes sociais no modelo. Tal ocorrência pode ser explicada pelo fato de que a permissividade indica o quanto o agente está disposto a quebrar as normas sociais em determinadas situações de risco. Como cada agente consegue detectar, para cada uma de suas relações o tipo e grau de importância, isto permite que o mesmo analise casos isolados, mas que podem afetá-lo. Por exemplo, se um agente que está em S I TUAÇÃO N ORMAL manter uma relação de Perigo com ao menos um vizinho, então este agente irá alterar para o estado de AGITAÇÃO S OCIAL. E quanto mais um agente ascende na escala dos estados de pânico, mais sua permissividade tende a aumentar. Este mesmo raciocínio pode ser aplicado para a variável SUSCEPTIBILIDADE (veja Gráfico 7), que indica a tendência de um agente em aceitar opiniões externas. Ainda considerando os agentes no estado S ITUAÇÃO N ORMAL, o nervosismo dos agentes na região do fogo indica que os agentes buscam se deslocar em direções aleatórias, mas os demais agentes que tem noção do perigo (e se encontram em outros estados coletivos) passam a ter uma movimentação direcionada, ou em direção à ameaça (para entender melhor o que está ocorrendo) ou em direção à saída (caso sintam a necessidade de fugir). Em ambos os casos, esses agentes limitam ligeiramente a movimentação dos que estão em situação normal, o que os leva a um certo grau de nervosismo. No estado AGITAÇÃO S OCIAL as variáveis dos agentes não estão tão uniformes e baixas como na S ITUAÇÃO N ORMAL. A PERICULOSIDADE (Gráfico 9) começa a se acentuar, bem 104 6.3 Análise dos Resultados (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 9: Média da Variável Periculosidade do Agente P ESSOA no Estado AGITAÇÃO S O CIAL. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 10: Média da Variável Permissividade do Agente P ESSOA no Estado AGITAÇÃO S O CIAL. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 11: Média da Variável Susceptibilidade do Agente P ESSOA no Estado AGITAÇÃO S OCIAL. 105 6.3 Análise dos Resultados (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 12: Média da Variável Nervosismo do Agente P ESSOA no Estado AGITAÇÃO S OCIAL. Figura 39: Rede Social da RC OL M ICRO de um Agente no Estado AGITAÇÃO S OCIAL. 106 6.3 Análise dos Resultados como a PERMISSIVIDADE a variável NERVOSISMO (Gráfico 10) e a SUSCEPTIBILIDADE (Gráfico 11). Por sua vez, não apresenta variações significativas (veja Gráfico 12). Diferente da situação normal, onde os agentes se locomoviam de forma aleatória, agora seus movimentos são direcionados e tendem a ser mais rápidos, para poder averiguar o A MBIENTE F ÍSICO com maior agilidade. Como neste caso as ações que o agente pode executar são de buscar informações de forma direta, não envolvendo sua rede social, o valor de suas variáveis mantiveram-se no mesmo patamar da análise de (FRANçA, 2010). Começam a aparecer algumas relações de Informação (veja Figura 39), já que o agente percebe algo diferente no ambiente e alguns vizinhos já fazem perguntas sobre o que está acontecendo. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 13: Média da Variável Periculosidade do Agente P ESSOA no Estado Milling. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 14: Média da Variável Permissividade do Agente P ESSOA no Estado Milling. O M ILLING é caracterizado pelo início da comunicação entre os agentes. Isto pode ser observado pelas variáveis dos agentes nesse estado, que se configuram de maneira próxima ao estado de AGITAÇÃO S OCIAL, com flutuações na PERMISSIVIDADE (Gráfico 14). Para a SUSCEPTIBILIDADE PERMISSIVIDADE , (Gráfico 15) e na percebe-se que o acréscimo das redes sociais na RC OL M ICRO faz com que o agente perceba o coletivo e com isso respeite mais as normas sociais, sendo menos permissivos. Quanto à rede social, as relações são na maioria 107 6.3 Análise dos Resultados (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 15: Média da Variável Susceptibilidade do Agente P ESSOA no Estado Milling. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 16: Média da Variável Nervosismo do Agente P ESSOA no Estado Milling. Figura 40: Rede Social da RC OL M ICRO de um Agente no Estado Milling. 108 6.3 Análise dos Resultados de Informação (veja Figura 40), característica principal do Milling, podendo existir relações de Contato e Perigo em menor número. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 17: Média da Variável Periculosidade do Agente P ESSOA no Estado E XCITAÇÃO C OLETIVA. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 18: Média da Variável Permissividade do Agente P ESSOA no Estado E XCITAÇÃO C OLETIVA. Os agentes que se encontram em E XCITAÇÃO C OLETIVA possuem NERVOSISMO (Gráfico 20) e PERICULOSIDADE (Gráfico 17) maiores, com valores próximos aos da PERMISSIVIDADE (Gráfico 18). A SUSCEPTIBILIDADE também se encontra em um valor mediano (Gráfico 19), o que caracteriza a comunicação e a tendência em buscar informações sobre a saída ou alertar os demais sobre a ameaça, uma ação que pode ou não ser comunicativa (caso o agente não se encontre próximo o bastante da saída) e outra ação eminentemente comunicativa (informar os demais agentes a respeito da ameaça). A inserção da rede social torna o agente menos permissivo e suscetível, e a grande maioria de suas relações são de Informação, embora comecem a surgir relações de Perigo (veja Figura 41). Isso mostra que, embora o agente ainda procure se informar e avisar os demais sobre a situação, ele começa a se preocupar com sua segurança física. 109 6.3 Análise dos Resultados (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 19: Média da Variável Susceptibilidade do Agente P ESSOA no Estado E XCITAÇÃO C OLETIVA. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 20: Média da Variável Nervosismo do Agente P ESSOA no Estado E XCITAÇÃO C OLE TIVA . Figura 41: Rede Social da RC OL M ICRO de um Agente no Estado E XCITAÇÃO C OLETIVA. 110 6.3 Análise dos Resultados (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 21: Média da Variável Periculosidade do Agente P ESSOA no Estado C ONTÁGIO S O CIAL. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 22: Média da Variável Permissividade do Agente P ESSOA no Estado C ONTÁGIO S O CIAL. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 23: Média da Variável Susceptibilidade do Agente P ESSOA no Estado C ONTÁGIO S OCIAL. 111 6.3 Análise dos Resultados (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 24: Média da Variável Nervosismo do Agente P ESSOA no Estado C ONTÁGIO S OCIAL. Os agentes no estado de C ONTÁGIO S OCIAL apresentam altos índices de DADE PERICULOSI - (Gráfico 21). Nesse estado, um agente está conectado à maioria de seus vizinhos por uma relação de Perigo. Sendo assim, a questão numérica da multidão começa a adquirir novas características em dois sentidos: (i) os vizinhos que estejam em seu raio de ação, com potencial de impedir seu plano de fuga, tornam-se um obstáculo, e (ii) com um grupo de indivíduos formando volume, cada indivíduo tem uma sensação de poder que o habilita a seguir os seus instintos, que em outras situações seriam inibidos por ele. A SUSCEPTIBILIDADE e a PERMISSIVIDADE (Gráfico 23 22) também aumentaram no C ONTÁGIO S OCIAL, pois a participação em uma multidão tende a criar uma coletividade aberta a influências. A tendência dos agentes no C ONTÁGIO S OCIAL é pensarem por imagens, que se chamam umas às outras por associação, e cuja concordância com a realidade não é conferida tendo por base a razão. Vale ressaltar que a inserção da rede social no modelo do pânico em multidão fez como que o agente respeitasse mais as normas sociais, possuindo um valor de permissividade menor que a obtida no modelo de (FRANçA, 2010). A velocidade ideal aumenta, mas a velocidade real não cresce na mesma proporção, o que leva a um certo nível de nervosismo (Gráfico 24). Quando há a formação do arco de fuga, a maioria dos agentes encontra-se em C OMPOR TAMENTO C OLETIVO E LEMENTAR. A inserção da rede social reduziu os valores de algumas variáveis, mas mesmo assim essas continuam caracterizando esse estado: (i) o NERVOSISMO (Gráfico 28) é maior na região da saída, devido à dificuldade de movimentação nas proximidades do arco de fuga, (ii) a PERICULOSIDADE se mantém em patamar elevado (Gráfico 25), não pela proximidade do fogo, mas pela redução do espaço livre, já que todos buscam sair do ambiente, e (iii) as velocidades ideal e real estão em uma proporção de 3 para 1 na região da saída, o que justifica o alto nervosismo. Neste estado todas as relações do agente são de Perigo (veja Figura 42) já que todos agentes ao seu redor representam uma ameaça à sua segurança 112 6.3 Análise dos Resultados (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 25: Média da Variável Periculosidade do Agente P ESSOA no Comportamento Coletivo Elementar. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 26: Média da Variável Permissividade do Agente P ESSOA no Comportamento Coletivo Elementar. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 27: Média da Variável Susceptibilidade do Agente P ESSOA no Comportamento Coletivo Elementar. 113 6.3 Análise dos Resultados (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 28: Média da Variável Nervosismo do Agente P ESSOA no Comportamento Coletivo Elementar. Figura 42: Rede Social da RC OL M ICRO de um Agente em Comportamento Coletivo Elementar. 114 6.3 Análise dos Resultados física. O comportamento dos agentes é compatível com o modelo conceitual proposto e isto também reflete nas variáveis, pois os seus valores variam segundo a lógica descrita no modelo conceitual, e também estão próximos aos de (FRANçA, 2010). A rede social do agente também reflete as características de cada estado e os valores das variáveis. Pode-se observar que a inserção da rede social do agente na RC OL M ICRO influenciando sua tomada de decisão tornou o agente menos exaltado, mas não descaracterizou o comportamento do pânico em multidão. 6.3.1.1.3 Análise dos Sobreviventes e dos Imobilizados Os agentes que conseguem sair do A MBIENTE F ÍSICO sem entrar em contato com a A ME AÇA são tratados como sobreviventes. Por sua vez, os agentes que não conseguem sair do ambiente e são tocados pela A MEAÇA tornam-se imobilizados. Tabela 11: Comparação da Análise dos Agentes Imobilizados e Sobreviventes - Cenário 1. Sem Rede Tempo Qtd 251,98 59 275,76 10 281,98 3 360 1 350,19 2 343 1 362,61 16 371,7 2 364,5 1 264 1 341 1 350,06 94 360,75 8 363,15 2 264 1 Com Rede Tempo Qtd 251,21 61 271,14 57 264,6 4 171,13 1 274,8 1 70,6 0 363,57 16 298,5 15 238,52 1 350,54 61 361,6 57 250,65 4 - Tipo Estado Exp Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Imob. Imob. Imob. Sobrev. Situação Normal Situação Normal Situação Normal Agitação Social Agitação Social Agitação Social Milling Milling Milling Excitação Coletiva Excitação Coletiva Comportamento Coletivo Comportamento Coletivo Comportamento Coletivo Comportamento Coletivo Baixa Média Moderada Baixa Média Moderada Baixa Média Moderada Baixa Moderada Baixa Média Moderada Moderada O tamanho menor da saída no Cenário 1 faz com que haja uma contenção do fluxo de pessoas que tentam sair do ambiente. Desta forma há um grande número de agentes imobilizados no estado C OMPORTAMENTO C OLETIVO E LEMENTAR, indicando que os agentes conhecem a A MEAÇA e a S AÍDA. Porém, como não conseguem sair do A MBIENTE F ÍSICO, o fogo consegue alcançá-los e assim imobilizá-los. A informação da quantidade de agentes imobilizados e sobreviventes é a mais dependente do cenário. Isso porque, mesmo com comportamentos semelhantes durante a simulação, nos 6.3 Análise dos Resultados 115 passos finais após a formação do arco e no início da evacuação a S AÍDA passa a ser um fator chave para a sobrevivência dos agentes. Ao observar os resultados acima descritos, pode-se levantar as seguintes questões: • O que significa o grande número de agentes sobreviventes em S ITUAÇÃO N ORMAL que saíram inicialmente do ambiente? E os agentes que foram imobilizados em C OMPORTA MENTO C OLETIVO E LEMENTAR próximo ao final da simulação? Os agentes que sobreviveram inicialmente não tinham intenção de fugir do ambiente, pois seu movimento era de natureza aleatória. Porém, conforme o espaço físico diminui devido à aproximação da ameaça, a tendência é que esses agentes sejam “empurrados” para fora do ambiente, escolhendo a única direção que conseguem se movimentar, a saída. Os agentes em C OMPORTAMENTO C OLETIVO E LEMENTAR, mesmo desejando sair e sabendo onde se localizava a saída, não conseguiram se movimentar em maior velocidade devido à retenção do fluxo ocasionado pelo tamanho reduzido da saída. Assim, esses agentes não conseguem se deslocar e ficam parados ou andam devagar. Este fenômeno é denominado “Resfriamento por Aquecimento” (Freezing by Heating); • É possível determinar se a fuga do ambiente foi acidental? Os agentes em estados que não possuem uma ação de mover-se em direção à saída (S I TUAÇÃO N ORMAL e AGITAÇÃO S OCIAL) podem sair do ambiente pela influência dos agentes próximos, que limitam as escolhas de direções de movimento. E assim, tomam esta ação de forma indireta. • O que a rede social influenciou? Percebe-se que embora o número total de agentes sobreviventes e imobilizados sejam próximos nas diferentes modelagens de simulação, nas que incluíam a rede social, os agentes possuem um maior nível de experiência. Assim sendo, a rede social viabilizou uma maior comunicação entre os agentes, proporcionando um aprendizado mais rápido adquirido durante o evento devido ao compartilhamento de experiências. 6.3.1.2 Análise dos Cenários 2 e 3 Antes da análise dos cenários 2 e 3, uma hipótese subjacente é proposta por este trabalho: • Os agentes mantém seu padrão de comportamento previsto para o estado em que se encontram, mesmo com diferentes configurações físicas do ambiente? 116 6.3 Análise dos Resultados A diferença entre os cenários é o tamanho da saída. No primeiro cenário, o tamanho da saída é de apenas 1 célula, o que significa que apenas uma pessoa pode sair do ambiente por vez. No cenário 2, a saída tem seu tamanho duplicado e, portanto, é possível que até duas pessoas saiam do ambiente simultaneamente. No cenário 3, a saída é quatro vezes maior que a saída do cenário 1. Para entender como essa mudança na saída pode afetar a simulação, faz-se necessário analisar os símbolos significantes, o estado interno dos agentes nos três cenários, e como os agentes saíram do ambiente (sobreviventes) ou foram tocados pela ameaça (imobilizados). 6.3.1.2.1 Análise Comportamental dos Símbolos Significantes A classificação dos símbolos significantes pela opção não sofreu grandes mudanças do Cenário 1 para os Cenários 2 e 3 de ambas as modelagens. Isto ocorreu porque a mudança de cenário e a inclusão das redes sociais não implicou em uma mudança profunda no comportamento dos agentes. As escolhas das ações, por estado, resultaram em rankings semelhantes. O que observa-se com a inserção das redes, são agentes com comportamentos menos hesitados e optando por ações que envolvam o coletivo, mas ainda sim prezando pela própria sobrevivência. Uma comparação dos três cenários em relação à Agitação Social pode ser vista na Tabela 12. Há uma variação mínima nos valores encontrados, e a posição no ranking sofre poucas flutuações, quando isso ocorre. A inserção da rede social reforça a escolha do agente em buscar informações sobre o ocorrido e não sobre como escapar. Tabela 12: Agitação Social - Três Cenários. Objetivo (Objeto) → Linha de Ação Buscar informações no Ambiente Físico (Ambiente Físico) → Buscar informações de forma direta, Mover-se Buscar informações a respeito da Ameaça (Ameaça) → Buscar informações de forma direta, Mover-se Cenário 1 (%) Sem Com 89,57 95,37 Cenário 2 (%) Sem Com 89,55 95,34 Cenário 3 (%) Sem Com 89,54 95,37 10,43 10,45 10,46 4,63 4,66 4,63 Deve-se atentar para o fato de que as porcentagens das ações seguem (de maneira aproximada) o que foi estabelecido no modelo conceitual de (FRANçA, 2010). A Tabela 13 traz uma análise comparativa dos três cenários em relação às escolhas dos agentes que se encontram no estado de Milling. Assim como ocorreu na AGITAÇÃO S OCIAL, a comunicação (busca da informação de forma indireta) se fez um pouco mais presente no primeiro e no terceiro cenários. A rede social fez com que tais ações fossem escolhidas mais vezes. 117 6.3 Análise dos Resultados Tabela 13: Milling - Três Cenários. Objetivo (Objeto) → Linha de Ação Buscar informações a respeito da Ameaça (Ameaça) → Buscar informações de forma direta, Mover-se Buscar informações a respeito da Ameaça (Demais Agentes) → Buscar informações de forma indireta, Mover-se Cenário 1 (%) Sem Com 89,11 69,69 Cenário 2 (%) Sem Com 89,56 69,97 Cenário 3 (%) Sem Com 88,24 69,77 10,89 10,44 11,76 30,31 30,03 30,23 A Tabela 14 exibe as ações executadas pelos agentes em E XCITAÇÃO C OLETIVA, classificadas em forma de ranking. Tabela 14: Excitação Coletiva - Três Cenários. Objetivo (Objeto) → Linha de Ação Movimentar-se em direção à Saída (Ambiente Físico) → Mover-se Buscar informações a respeito da Saída (Saída) → Buscar informações de forma direta. Moverse Buscar informações a respeito da Ameaça (Ameaça) → Buscar informações de forma direta. Mover-se Buscar informações a respeito da Ameaça (Demais Agentes) → Buscar informações de forma indireta. Mover-se Alertar os demais agentes a respeito da Saída (Demais Agentes) → Enviar mensagem para os agentes vizinhos com dados da Saída. Mover-se Buscar informações a respeito da Saída (Demais Agentes) → Buscar informações de forma indireta. Mover-se Alertar os demais agentes a respeito da Ameaça (Demais Agentes) → Enviar mensagem para os agentes vizinhos com dados da Ameaça. Moverse Cenário 1 (%) Sem Com 45,96 37,11 Cenário 2 (%) Sem Com 46,73 36,36 Cenário 3 (%) Sem Com 45,63 35,39 24,49 22, 25 24,01 23,19 24,75 23,44 17,39 15,75 16,69 15,03 16,93 15,14 5,99 20,61 6,35 21,00 6,18 21,53 4,90 3,64 4,83 3,74 5,42 3,93 1,27 0,63 1,19 0,63 1,10 0,55 0,00 0,01 0,19 0,05 0,00 0,02 O ato de buscar informações de forma indireta ocorre com uma freqüência ligeiramente maior nos cenários 2 e 3 e mais na modelagem com rede social, pois a situação não se apresenta tão perigosa como no cenário 1, o que reduz a urgência e permite que os agentes se comuniquem um pouco mais. No cenário 1, a necessidade da informação faz com que o agente busque as informações da ameaça da forma direta. Com as redes sociais, menos agentes optam por sair do ambiente. A Tabela 15 apresenta o ranking do Contágio Social nos três cenários. 118 6.3 Análise dos Resultados Tabela 15: Contágio Social - Três Cenários. Objetivo (Objeto) → Linha de Ação Movimentar-se em direção à Saída (Ambiente Físico) → Mover-se Alertar os demais agentes a respeito da Saída (Demais Agentes) → Enviar mensagem para os agentes vizinhos com dados da Saída Alertar os demais agentes a respeito da Ameaça (Demais Agentes) → Enviar mensagem para os agentes vizinhos com dados da Ameaça Cenário 1 (%) Sem Com 98,25 92,32 Cenário 2 (%) Sem Com 97,93 91,90 Cenário 3 (%) Sem Com 97,39 90,59 1,19 2,11 1,39 2,35 1,77 2,77 0,56 5,57 0,69 5,75 0,84 6,64 A maior parte das ações no C ONTÁGIO S OCIAL se refere a se movimentar em direção à saída. Como nos cenários 2 e 3 a noção de emergência não é tão grave como no primeiro cenário, os agentes se comunicam mais, relatando a S AÍDA e a A MEAÇA para os demais, e mais ainda na simulação que envolviam redes sociais. Quando os símbolos significantes são analisados de forma pormenorizada em todos os cenários, nota-se uma proximidade na quantidade de escolhas dos símbolos entre os cenários e modelos. Isto pode ser observado e comparado nos Gráficos 29, 30, 31 e 32, com as triplas mais selecionadas em cada estado coletivo, cenário e modelagem. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 29: Análise das Escolhas de Símbolos Significantes na Agitação Social por Cenário. As duas simulações apresentam curvas semelhantes, porém com valores diferentes, tendo as ações que envolvem o social e que caracterizam menor nervosismo dos agentes ocorrendo em maiores quantidades. Sob o ponto de vista dinâmico, devido à restrição no ato de sair, mesmo quando todos os agentes decidem evacuar o ambiente (mover-se em direção à saída) e sabem onde está localizada a saída, nem todos conseguem sair. O comportamento dos agentes teve poucas variações em função dos cenários porque esses possuem linhas de ação definidas de acordo com seu estado, que após definido de acordo com informações internas e externas faz 119 6.3 Análise dos Resultados (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 30: Análise das Escolhas de Símbolos Significantes no Milling por Cenário. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 31: Análise das Escolhas de Símbolos Significantes na Excitação Coletiva por Cenário. (a) Sem Rede. (b) Com Rede. Gráfico 32: Análise das Escolhas de Símbolos Significantes no Contágio Social por Cenário. 120 6.3 Análise dos Resultados com que as escolhas das ações se mantenham, pois o agente detectou situações similares. 6.3.1.2.2 Análise do Estado Interno dos Agentes Para a análise do estado interno dos agentes nos três cenários, inicialmente considera-se os agentes dentro de um mesmo estado coletivo. Observando-os por faixa delimitada pelos marcos de incêndio e elegendo uma variável (ou conjunto de variáveis) por sua relevância dentro desse contexto, alguns aspectos interessantes do comportamento dos agentes podem ser destacados. As variáveis escolhidas para esta análise são: CEPTIBILIDADE, NERVOSISMO , VEL I DEAL PERICULOSIDADE , PERMISSIVIDADE , SUS - e VEL R EAL. Estas variáveis foram escolhidas por serem variáveis complexas cujo valor é obtido pela análise e avaliação de outras variáveis. Isto significa que, ao analisar uma dessas variáveis complexas, as demais variáveis constituintes são analisadas de forma indireta. Inicialmente, a primeira análise possível do estado interno dos agentes entre os cenários pode ser feita com uma inspeção visual da simulação no momento em que alguns pontos de incêndio são acionados em cada cenário. As Figuras 43 (a) e (b) exibem, respectivamente, a visualização da simulação nos cenários 2 e 3 no momento em que o ponto de incêndio 2 é ativado. Por sua vez, a Tabela 16 demonstra que os valores das variáveis nesse passo da simulação em ambos os cenários e modelos são bastante parecidos. (a) Imagem da Ativação do Ponto de Incêndio 2 - Cenário 2 (b) Imagem da Ativação do Ponto de Incêndio 2 - Cenário 3 Figura 43: Imagem da Ativação do Ponto de Incêndio 2. 121 6.3 Análise dos Resultados Tabela 16: Média das Variáveis dos Agentes P ESSOA no Ponto de Incêndio 2 - Cenários 2 e 3 Variável Faixa Nervosismo Periculosidade Permissividade Susceptibilidade Nervosismo Periculosidade Permissividade Susceptibilidade Nervosismo Periculosidade Permissividade Susceptibilidade x < 25 x < 25 x < 25 x < 25 25 <= x < 35 25 <= x < 35 25 <= x < 35 25 <= x < 35 35 <= x < 52 35 <= x < 52 35 <= x < 52 35 <= x < 52 Cenário 2 Sem Rede Com Rede 0,21 0,18 0,55 0,53 0,37 0,28 0,41 0,34 0,15 0,16 0,16 0,21 0,08 0,07 0,19 0,15 0,09 0,11 0,00 0,00 0,00 0,00 0,11 0,07 Cenário 3 Sem Rede Com Rede 0,20 0,18 0,54 0,52 0,36 0,28 0,40 0,33 0,14 0,16 0,15 0,19 0,08 0,07 0,18 0,14 0,09 0,11 0,00 0,00 0,00 0,00 0,11 0,07 Para acompanhar a transição do ponto de incêndio 2 para o ponto de incêndio 10, devese consultar a Figura 44 (a) e (b), bem como a Tabela 17. Não há grandes variações entre os modelos e seus respectivos cenários. (a) Imagem da Ativação do Ponto de Incêndio 10 - Cenário 2 (b) Imagem da Ativação do Ponto de Incêndio 10 - Cenário 3 Figura 44: Imagem da Ativação do Ponto de Incêndio 10. A Figura 45 apresenta a configuração da simulação no momento em que o arco de fuga é formado. Por sua vez, a Tabela 18 trata das variáveis nos dois cenários e no ponto de incêndio 25. Percebe-se que na última faixa a rede social proporcionou maior “tranqüilidade” aos agentes, pois os valores de suas variáveis são menores. 122 6.3 Análise dos Resultados Tabela 17: Média das Variáveis dos Agentes P ESSOA no Ponto de Incêndio 10 - Cenários 2 e 3 Variável Faixa Nervosismo Periculosidade Permissividade Susceptibilidade Nervosismo Periculosidade Permissividade Susceptibilidade Nervosismo Periculosidade Permissividade Susceptibilidade x < 25 x < 25 x < 25 x < 25 25 <= x < 35 25 <= x < 35 25 <= x < 35 25 <= x < 35 35 <= x < 52 35 <= x < 52 35 <= x < 52 35 <= x < 52 (a) Imagem da Ativação do Ponto de Incêndio 25 - Cenário 2 Cenário 2 Sem Rede Com Rede 0,31 0,23 0,54 0,52 0,45 0,35 0,46 0,44 0,28 0,22 0,39 0,36 0,28 0,27 0,29 0,23 0,10 0,12 0,13 0.09 0,13 0,09 0,13 0,09 Cenário 3 Sem Rede Com Rede 0,29 0,26 0,52 0,53 0,38 0,37 0,43 0,42 0,28 0,24 0,40 0,38 0,31 0,28 0,30 0,25 0,09 0,10 0,11 0,09 0,11 0,10 0,11 0,09 (b) Imagem da Ativação do Ponto de Incêndio 25 - Cenário 3 Figura 45: Imagem da Ativação do Ponto de Incêndio 25. 123 6.3 Análise dos Resultados Tabela 18: Média das Variáveis dos Agentes P ESSOA no Ponto de Incêndio 25 - Cenários 2 e 3 Variável Faixa Nervosismo Periculosidade Permissividade Susceptibilidade Nervosismo Periculosidade Permissividade Susceptibilidade Nervosismo Periculosidade Permissividade Susceptibilidade x < 25 x < 25 x < 25 x < 25 25 <= x < 35 25 <= x < 35 25 <= x < 35 25 <= x < 35 35 <= x < 52 35 <= x < 52 35 <= x < 52 35 <= x < 52 6.3.1.2.3 Cenário 2 Sem Rede Com Rede 0,42 0,75 0,85 0,85 0,3 0,3 0,63 0,77 0,33 0,40 0,85 0,77 0,30 0,30 0,63 0,52 0,80 0,36 0,77 0,44 0,48 0,29 0,71 0,37 Cenário 3 Sem Rede Com Rede 0,35 0,71 1,00 0,85 0,3 0,3 0,63 0,77 0,57 0,30 0,73 0,85 0,30 0,30 0,63 0,63 0,77 0,38 0,77 0,44 0,50 0,32 0,78 0,43 Análise dos Sobreviventes e Imobilizados Os dados referentes aos agentes sobreviventes e imobilizados dos Cenários 2 e 3 diferem bastante dos resultados encontrados no Cenário 1. A Tabela 19 apresenta os dados referentes ao Cenário 2. Já é possível destacar pelo menos dois elementos distintos deste cenário em relação ao primeiro: • O número de sobreviventes é de cerca de 60% maior do que sobreviventes do Cenário 1; • A maioria dos sobreviventes encontravam-se em E XCITAÇÃO C OLETIVA. Isto significa que eles não saíram ocasionalmente ou pela pressão dos demais agentes; Um elemento comum entre os Cenários 1 e 2 em ambas modelagens é o grande número de agentes imobilizados em C OMPORTAMENTO C OLETIVO E LEMENTAR. Assim como no Cenário 1, nota-se pelo tempo médio de imobilização que estes agentes não sobreviveram porque a saída não permitia uma vazão adequada do ambiente. Os valores nas duas modelagens são próximos. A Tabela 20 fornece um quadro geral da situação da simulação no Cenário 3. Há uma certa semelhança entre este cenário e o Cenário 2. A principal diferença deste cenário para os Cenários 1 e 2 é que a maioria dos sobreviventes estão em M ILLING e possuem um nível de experiência BAIXO, isto para as duas modelagens. Houve menos agentes imobilizados na modelagem com redes, isto mostra que a consciência da rede social do agente no pânico em multidão os ajuda. 124 6.3 Análise dos Resultados Tabela 19: Análise dos Agentes Imobilizados e Sobreviventes - Cenário 2. Sem Rede Tempo Qtd 176,50 21 202,68 2 248,40 1 277,22 14 282,31 4 295,94 2 285,85 40 290,36 7 279,82 2 185,00 1 311,43 46 308,98 7 326,42 1 352,14 13 336,90 1 369,00 1 353,00 26 306,30 9 357,25 1 291,94 1 363,00 1 234,00 1 Com Rede Tempo Qtd 166,31 20 193,16 3 227,50 2 263,43 19 274,66 6 314,58 1 189,12 44 292,50 9 279,65 3 202,00 1 314,88 49 319,35 4 299,36 1 342,40 11 371,00 2 358,00 1 355,02 21 309,43 6 274,87 1 254,67 1 Tipo Estado Exp Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Imob. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Imob. Sobrev. Imob. Sobrev. Imob. Sobrev. Situação Normal Situação Normal Situação Normal Agitação Social Agitação Social Agitação Social Milling Milling Milling Excitação Coletiva Excitação Coletiva Excitação Coletiva Excitação Coletiva Contágio Social Contágio Social Contágio Social Comportamento Coletivo Elementar Comportamento Coletivo Elementar Comportamento Coletivo Elementar Comportamento Coletivo Elementar Comportamento Coletivo Elementar Comportamento Coletivo Elementar BAIXA MEDIA MODERADA BAIXA MEDIA MODERADA BAIXA MEDIA MODERADA BAIXA BAIXA MEDIA MODERADA BAIXA MEDIA MODERADA BAIXA BAIXA MEDIA MEDIA MODERADA MODERADA 125 6.3 Análise dos Resultados Tabela 20: Análise dos Agentes Imobilizados e Sobreviventes - Cenário 3. Sem Rede Tempo Qtd 176,93 26 201,69 4 168,92 1 261,64 31 263,08 6 260,14 2 267,63 61 262,44 7 261,87 2 204,00 1 268,35 37 263,93 3 261,25 1 274,32 5 241,00 1 142,00 1 267,30 8 271,08 1 260,50 2 6.3.2 Com Rede Tempo Qtd 177,08 28 197,37 4 166,46 2 257,37 38 255,72 7 248,68 2 265,31 59 261,28 8 259,63 3 185,00 1 267,89 36 269,21 3 271,50 1 264,99 4 242,00 1 234,00 1 31 1 266,01 7 248,01 1 - Tipo Estado Exp Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Imob. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Imob. Sobrev. Sobrev. Sobrev. Situação Normal Situação Normal Situação Normal Agitação Social Agitação Social Agitação Social Milling Milling Milling Excitação Coletiva Excitação Coletiva Excitação Coletiva Excitação Coletiva Contágio Social Contágio Social Contágio Social Comportamento Coletivo Elementar Comportamento Coletivo Elementar Comportamento Coletivo Elementar Comportamento Coletivo Elementar BAIXA MEDIA MODERADA BAIXA MEDIA MODERADA BAIXA MEDIA MODERADA BAIXA BAIXA MEDIA MODERADA BAIXA MEDIA MODERADA BAIXA BAIXA MEDIA MODERADA Análise da Representação Coletiva Micro De modo a analisar a formação da Representação Coletiva Micro os dados referentes a essa construção foram armazenados em uma base de dados cada vez que um agente realizasse uma das ações de formação da RC OL M ICRO. Devido ao grande volume de informações a serem coletadas, 2 agentes foram selecionados durante os últimos passos da simulação, quando já há o arco de fuga. Serão analisados três aspectos da Representação Coletiva Micro: o estado dos agentes vizinhos, as informações referentes à ameaça e saída, e a rede social do agente. 6.3.2.1 Análise do Estado dos Agentes Vizinhos Para realizar esta análise serão utilizados os dados da Tabela 21, construída como na análise de (FRANçA, 2010). Neste caso, serão exibidos alguns valores coletados dos agentes selecionados. Isto foi feito devido ao grande número de entradas geradas para cada agente. Da análise de todos os valores calculados da R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ICRO é possível chegar às seguintes conclusões: 126 6.3 Análise dos Resultados Tabela 21: Amostra dos Dados do Estado Coletivo Micro Indexados. p. Estado 282 Comportamento Coletivo Elementar 322 Comportamento Coletivo Elementar núm. agentes 4 periculosidade min max méd 0,45 0,60 0,53 nervosismo min max méd 0,67 0,91 0,79 4 0,68 0,38 0,90 0,85 0,47 0,44 • O estado dos agentes vizinhos, em sua maioria, é próximo ao do agente que forma a representação; • Os valores de PERICULOSIDADE e de NERVOSISMO aumentam com o avanço da simulação, principalmente no Cenário 1. Para os Cenários 2 e 3, a periculosidade continua alta, mas o nervosismo se mantém em um patamar intermediário devido ao tamanho da saída; 6.3.2.2 Análise da Ameaça e da Saída O objetivo desta análise é verificar qual informação referente à ameaça/saída os agentes obteriam ao formarem a representação coletiva micro. Uma amostra desses valores pode ser vista nas Tabelas 22 e 23. Tabela 22: Amostra dos Dados da Ameaça Indexados na Representação Coletiva Micro. núm agentes 179 2 200 15 322 5 p. Distância Direção segInfo ALTA ALTA ALTA Oeste Oeste Oeste ALTA ALTA ALTA periculosidade min max méd 0,44 0,55 0,49 0,00 0,50 0,21 0,68 0,90 0,85 nervosismo min max méd 0,21 0,37 0,29 0,08 1,00 0,74 0,38 0,47 0,44 Tabela 23: Amostra dos Dados da Saída Indexados na Representação Coletiva Micro. núm agentes 153 5 187 5 p. Distância Direção segInfo ALTA MODERADA Leste Leste BAIXA ALTA periculosidade min max méd 0,00 0,55 0,24 0,00 0,00 0,00 nervosismo min max méd 0,06 0,48 0,28 0,35 0,88 0,64 A análise da A MEAÇA e da S AÍDA obtidos pela R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ICRO chegou aos seguintes resultados: • A maioria dos agentes, nos três cenários, tinham amplo conhecimento (SEG I NFO ALTA) da localização da ameaça, o que pode indicar que os agentes próximos aos agentes selecionados para análise já estiveram bem perto dela, e conseguiram se afastar o suficiente para informar aos demais agentes a seu respeito; 127 6.3 Análise dos Resultados • Em relação à saída, a maioria sabia que a direção da saída era Leste. Entretanto, houve algumas divergências; • Os índices de periculosidade e nervosismo variavam de valores baixos/médios para valores elevados durante a simulação, no caso da representação da ameaça. Por outro lado, os índices de periculosidade variavam para valores abaixo de 0,7. 6.3.2.3 Análise da Rede Social O objetivo desta análise é verificar como que a rede social de um agente na formação do pânico em multidão se comporta. Um exemplo da dinâmica da rede seguindo a evolução dos estados pode ser visto nas Figuras 46 e 47. (a) Situação Normal (b) Agitação Social (c) Milling Figura 46: Evolução Rede. (a) Excitação Coletiva (b) Contágio Social (c) Comportamento Coletivo Elementar Figura 47: Evolução Rede (continuação). Com a análise da rede social da R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ICRO chega-se aos seguintes resultados: 6.3 Análise dos Resultados 128 • Os agentes vizinhos em geral estão no mesmo estado que o agente em questão; • As relações de um agente com seus vizinhos em um determinado passo geralmente são do mesmo tipo, ou há pouca variação; • As relações que um agente tem em um determinado passo podem ser diferentes, mas em sua maioria são do mesmo tipo dependendo do estado que seu agente vizinho se encontre; • Os agentes terminaram a simulação com maior experiência comparados a modelagem sem a rede social. 6.3.3 Análise da Representação Coletiva Macro Especificamente em situações de pânico em multidão, a importância do estudo das redes sociais evidencia-se pois a situação que gera e mantém o pânico é ambígua e desestruturada. Os participantes não compartilham expectativas tradicionais quanto à maneira de como devem se comportar, e os resultados são incertos. Há ainda uma sensação de urgência de que algo deve ser feito imediatamente. O imaginário e a concepção de uma ação não são apenas comunicados dentro da multidão, eles se tornam normas que os membros da multidão pressionam os demais para que sejam cumpridas. Para o grupo estas normas surgem de forma emergente, individualmente há uma sugestionabilidade focada, voltada às sugestões definidas pelo imaginário e pela concepção da ação apropriada a ser executada. Objetivando contribuir na análise de como redes sociais podem auxiliar no entendimento da formação, desenvolvimento e término de situações de pânico em multidão, neste trabalho a rede social de todos os agentes é formada dinamicamente durante a simulação e é representada visualmente no decorrer de sua execução, abordando assim um ramo da frente de pesquisa levantada na Seção 4.1, a formação da rede social emergente das interações dos agentes. Esta abordagem permite a observação da característica autopoiética1 e a auto-organização dos sistemas sociais através das redes sociais. Os pontos discutidos e trabalhos apresentados na Seção 4.2.1 servem como norteadores para este quesito. Baseado nos conceitos de Redes Sociais apresentados na Seção 3.2 pode-se concluir que a rede social da RC OL M ACRO é emergente e sua topologia é moldada a cada passo. A alta volatilidade das relações é devido a seus atores se movimentarem e estas serem por interação, assim sendo as relações são constituídas quando há proximidade física entre os agentes, ou seja, 1 Na abordagem analítica a observação científica de um objeto propunha a análise isolada de seus elementos, não eram avaliadas as relações entre os elementos e sim suas condições e papéis dentro da estrutura. A teoria autopoiética contraria a analítica, a observação de um objeto é feita pela interação de seus elementos, assim baseiase nas relações entre os elementos e as funções exercidas no todo comunicativo dos sistemas. 6.3 Análise dos Resultados 129 quando esses são vizinhos. As interações entre os agentes ocorrem de forma reativa e mútua, representadas respectivamente quando os agentes avisam ou pressionam os demais, e quando fazem perguntas uns aos outros para se informarem. As relações são assimétricas, pois um agente pode possuir relação de tipo e peso diferente da relação que seu vizinho o considera. Como foi dito anteriormente na Seção 3.3, Análise de Redes Sociais, a grande dificuldade em mensurar as redes sociais é saber quais atores e relações devem ser considerados para tal. Com isso, todos os agentes e suas relações são armazenados durante cada passo da simulação. Isso permite uma análise mais detalhada da RC OL M ACRO após seu término. Para tal é possível aplicar filtros para melhor análise (veja Figura 48). Em um primeiro momento é difícil observar padrões na rede social formada, mas aplicando um filtro é possível verificar a existência de clusters e em alguns casos identificar atores pontes. Figura 48: Filtro da RC OL M ACRO. Figura 49: Métricas da RC OL M A CRO . Por exemplo, na Figura 50 (a) é possível observar a RC OL M ACRO contendo todos os agentes e todas as relações em um determinado passo da simulação. Na Figura 50 (b) está a mesma situação, porém só são exibidas as relações com peso acima de 0,5. E na Figura 50 (c) somente os agentes em AGITAÇÃO S OCIAL, M ILLING, E XCITAÇÃO C OLETIVA e C ONTÁGIO S OCIAL. O mesmo acontece para as Figuras 51 (a), 51 (b) e 51 (c) que ilustram os grupos da rede, ou seja, somente as relações de um determinado tipo, assim sendo respectivamente, as relações de Contato, Informação e Perigo. Com a filtragem realizada e com o auxílio da visualização das métricas de análise (veja Figura 49) da rede social da R EPRESENTAÇÃO C OLETIVA M ACRO chega-se aos seguintes re- 130 6.3 Análise dos Resultados (a) RC OL M ACRO sem Filtro (b) RC OL M ACRO com as Relações (c) RC OL M ACRO sem os Agencom Peso entre 0,5 e 1,0 tes em Situação Normal e Comportamento Coletivo Elementar Figura 50: RC OL M ACRO. (a) RC OL M ACRO com Relações de (b) RC OL M ACRO com Relações de (c) RC OL M ACRO com Relações de Contato Informação Perigo Figura 51: RC OL M ACRO (continuação). 6.3 Análise dos Resultados 131 sultados: • Os agentes vizinhos em geral estão no mesmo estado que o agente em questão, formando agrupamentos se considerado este parâmetro para a formação da RC OL M ACRO; • As relações não são recíprocas. Por exemplo, um agente pode se relacionar com outro por Informação, mas seu vizinho o tem como uma relação de Perigo; • Embora as relações não sejam recíprocas, no início da simulação a maioria dos agentes se correspondem por relações de Contato e Informação. Quando os agentes começam a se exaltar, então as relações entre os agentes passam a ser discrepantes conforme o sentido adotado. Isso mostra que com a percepção do risco, estes agentes pensam mais em si que no coletivo; • Vizinhos de vizinhos em partes apresentam o mesmo tipo de relação, o que possibilita a formação de clusters se a filtragem for feita pelo tipo de relação; • Devido à alta conectividade entre os agentes a rede formada é do tipo small world. • Os agentes se encontram mais conectados quando há a formação do arco de fuga, porém as relações que os ligam é a de Perigo. Neste caso a densidade da rede aumenta e a quantidade de clusters diminui. • Com o acionamento dos Pontos de Incêndio as relações mudam de Contato para Informação ou Perigo, ou de Informação para Perigo. 6.3.3.1 Representação Coletiva Macro Versus Representação Coletiva Micro: Algumas Lições Aprendidas Alguns dilemas são encontrados na literatura quando do estudo da área de Comportamento Coletivo, decorrentes de conceitos pré-estabelecidos e não revistos. Nesta seção tem-se a apresentação destes falsos dilemas, desmistificados sob a luz da teoria e dos experimentos realizados neste trabalho. Mente Coletiva Versus Individualismo Um dilema inicial encontrado na literatura é se existe uma mente coletiva, ou se apenas pode-se desenvolver os comportamentos individuais. Caso considere-se apenas a mente coletiva, pode-se ficar preso a qualquer diversidade do comportamento individual, não levando em consideração o fato que uma coletividade é formada por ações individuais e pela totalidade. Por 6.4 Validação 132 outro lado, caso se considere que apenas os membros individuais podem ser descritos, a tendência é atribuir aos indivíduos os motivos e atitudes que explicam a ação da coletividade. Neste contexto, a explicação de uma guerra seria baseada apenas pelas atitudes hostis dos membros das nações. Mas este argumento não é suficiente para explicar o fenômeno da guerra, pois há fatores geográficos, políticos, econômicos, culturais que influenciam tal situação. Em ambos os casos a melhor solução é a descrição dos dois elementos, como proposto e realizado neste trabalho: o indivíduo e a coletividade, pois as duas descrições se completam. A diferença está em qual descrição priorizar conforme o caso. Comportamento do Indivíduo Versus Comportamento Estabelecido pelo Grupo Um segundo dilema envolvido no tema grupo-versus-indivíduo diz respeito se o indivíduo se comporta de maneira distinta quando se encontra inserido em um grupo. Há visões extremadas quanto a este tema, mas atualmente as respostas não estão indo para estes extremos. Muitas das discrepâncias entre estes pontos de vista desaparecem quando certas observações são feitas. Primeiro, qualquer indivíduo pode encontrar suporte para uma variedade de cursos de ação com relação a um objeto em particular. Em uma situação de grupo certas situações são clareadas e reforçadas, de tal forma que indivíduos podem agir de acordo com atitudes que não necessariamente seriam dominantes se estivessem agindo isoladamente. Além disso, o indivíduo amplia a sua percepção pensando no objetivo, no grupo, em si mesmo e nos outros indivíduos. Assim, ambos os processos de tomada de decisão, em grupo e atitudes individuais, devem ser levados em consideração. O indivíduo em grupo, de fato, age diferente da forma que agiria se estivesse sozinho, mas sempre tendo como base suas próprias convicções. 6.4 Validação Em sistemas de simulação um ponto fundamental a ser considerado é a garantia de que o modelo computacional represente de forma mais fiel possível o sistema alvo. Para tal, dois processos são considerados: verificação e validação. O processo de verificação objetiva assegurar que o modelo conceitual tenha sido transcrito corretamente para o ambiente computacional. Já a validação visa assegurar que o modelo computacional represente o sistema alvo com um aceitável grau de aderência. Para este trabalho a verificação foi realizada seguindo técnicas tradicionais de Engenharia de Software, como: testes unitários, análise dos componentes e bibliotecas de maneira isolada, testes de integração e ferramentas de depuração em tempo de execução. 6.4 Validação 133 Devido ao modelo utilizado ser do tipo sócio-cognitivo, o processo de validação foi do tipo estática-estrutural. Neste caso o foco da modelagem e da simulação está na análise de uma teoria social (comportamento coletivo do tipo pânico em multidão), procurando entender melhor o funcionamento lógico e estrutural do corpo teórico escolhido. O processo de validação de um modelo sócio-cognitivo envolve questões complexas e ainda em aberto. A questão deste tipo de validação não consiste somente em analisar a confiabilidade e realizar a correção, pois a comparação com dados empíricos torna-se impossível. Isto pois os dados obtidos em fenômenos de pânico coletivo não são coletados durante o fenômeno, mas sim gerados através de relatos de participantes do fenômeno. Levando em consideração este fato é possível levantar três problemas: (i) a não-especialização do participante do fenômeno, podendo acarretar em resultados imprecisos e subjetivos; (ii) a falta de informações de todos os participantes, já que em geral o processo de coleta é feito de forma amostral, podendo omitir alguns participantes e também não se considera os participantes que não sobreviveram; e (iii) o fato de coletar as informações após o fenômeno também reduz a precisão e eficácia dos dados. Outro fator que dificulta a validação por dados empíricos de um modelo sócio-cognitivo é a contextualização espacial, temporal e cultural do fenômeno. Um incêndio ocorrido no Japão em 1960 terá informações distintas de um incêndio no Brasil em 1960 ou 1970. E mesmo considerando o mesmo ponto físico, a cultura e as informações sobre incêndios mudam após situações de pânico, como o incêndio no Edifício Joelma por exemplo. Uma situação de pânico não pode ser recriada ou gerada fisicamente por questões logísticas (infra-estrutura e custos operacionais) e por questões éticas, diferentemente de outros processos simulados. Assim sendo, torna-se impraticável a validação deste modelo se adotadas as mesmas metodologias utilizadas em modelos de situações normais de organização social, já que estes fenômenos podem ser recriados sem as limitações citadas e podem ser repetidos. Também, por ser baseado em expectativas, papéis sociais e marcos de referência comuns entre os participantes, há uma margem menor para subjetividade e os participantes exercem seus papéis espontaneamente, reduzindo vícios nos dados coletados. Um problema enfrentado na análise dos resultados e sua validação é diferenciar resultados inesperados daqueles originados por falhas ou imprecisões oriundas da modelagem. Esta indefinição pode ser agravada quando, por exemplo, efeitos estocásticos são considerados (SILVA, 2008). Esse tipo de problema é agravado quando o processo simulado é complexo por natureza, pois uma das conseqüências de um sistema complexo é o surgimento de comportamentos emergentes e, em alguns casos, são exatamente esses comportamentos os necessários para o entendimento da dinâmica do processo real. Desta forma, além da necessidade de descrever 6.4 Validação 134 adequadamente o modelo, a rede de expectativas criada para analisar a simulação proposta deve contemplar esses desvios aparentes. A validação foi feita comparando os dados e comportamentos obtidos da execução do modelo elaborado neste trabalho com o de (FRANçA, 2010). Verificou-se que houve uma ligeira flutuação que fez com que os agentes se comunicassem mais devido ao fato de terem o conhecimento de sua rede, em consequência também aumentando suas experiências. Como não houve grandes mudanças nos resultados, todas as validações realizadas em (FRANçA, 2010): (i) Análise de Caminhos, (ii) Comparação com Trabalhos Semelhantes e (iii) Análise dos Arquivos de Log, também se aplicam a este trabalho. Quanto à validação da rede social em si, devido ao trabalho ser inédito e a teoria de uma rede social na situação de pânico ser uma proposta, não é possível comparar os resultados com outros ou teorias que contemplem esta situação. Assim sendo, o sistema é considerado validado através da observação de que os agentes se comportaram de forma explicável e coerente com a inserção das redes sociais no modelo original. 135 7 Conclusões A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para a frente. —– Soren Kierkegaard O estudo de simulações computacionais do pânico em multidão é importante no auxilio do entendimento das teorias sociais e na criação e aperfeiçoamento de algoritmos que abordem tal área. Além disso, os resultados de tais estudos apontam informações acerca da dinâmica social que ocorrem em tais eventos, podendo servir na prevenção e/ou controle do pânico em multidão na vida real. Visto esses benefícios, a proposta desta pesquisa consiste em: (i) modelar agentes para a extração de redes sociais que emergem através da interação na agência; e (ii) analisar as redes sociais formadas para servir de base no entendimento e validação das simulações. Agregando aos estudos deste tipo, este trabalho propôs um modelo conceitual multiagentes para o fenômeno do pânico em multidão. Esta modelagem integrou diferentes teorias de forma a tornar tal modelo computável. Levou-se em consideração as redes sociais estabelecidas nas interações sociais, permitindo entender melhor a dinâmica do fenômeno do pânico, como indivíduos em uma coletividade influenciam-se entre si, como estes comportamentos individuais interferem na estrutura macro, e como o nível macro influencia de forma dialética os indivíduos. A construção deste modelo permitiu uma integração inédita nos estudos da área de Comportamento Coletivo, aliando as abordagens da teoria do contágio, teoria do interacionismo simbólico, teoria da norma-emergente, pirâmide de Maslow e conceitos de redes Sociais. Além da contribuição do modelo computável implementado a partir do modelo teórico, sua posterior execução e análise dos resultados possibilitou verificar que mesmo sendo um sistema complexo, o que torna os comportamentos não previsíveis a longo prazo, é possível a formulação de cadeias explicativas de causa e efeito. Assim permitindo a análise do que acontece para entender os resultados, melhor entendimento da dinâmica e validação não só da 7.1 Trabalhos Futuros 136 modelagem realizada, mas também da teoria utilizada. O modelo computável por si só permitiu a integração de diversas tecnologias: o arcabouço multiagentes (Swarm), gerenciando o ciclo de vida dos agentes e a execução dos passos da simulação; uma biblioteca para a avaliação de regras (Jess); um complemento para a utilização de lógica nebulosa (FuzzyJ); e um conjunto de ferramentas para a manipulação e exibição de grafos (JUNG). Outro ponto de destaque deste trabalho é que os modelos conceitual e computacional permitem o desenvolvimento de novos trabalhos na área, também dando continuidade às pesquisas do grupo de trabalho da UFABC. Vale ressaltar que esta pesquisa é interdisciplinar, pois propõe a junção da área de sistemas sociais e da área de sistemas inteligentes. Sendo que uma fornece os subsídios teóricos para o estudo do fenômeno do pânico em multidões, e a outra provê a infraestrutura tecnológica e os instrumentos computacionais necessários para um novo olhar sobre o tema proposto. Com a análise dos resultados pode-se perceber a proposta é válida e que uma pequena mudança no nível micro, incluindo a rede social ao modelo proposto em (FRANçA, 2010), resultou em agentes mais preocupados e interessados no coletivo. Esta expansão tornou os agentes mais envolvidos com sua sociedade, procurando se envolver com os demais. Este comportamento fica evidenciado nas ações que os agentes tem em alertar seus vizinhos e também em perguntar mais a eles sobre os fatos. Esta troca de informação, ao final da simulação, permitiu aos agentes níveis maiores de experiências. E conseqüentemente, tal comunicação fez com que os agentes sentissem menos nervosismo, ponderando mais antes de tomar atitudes não convencionais. 7.1 Trabalhos Futuros Grandes metrópoles estão espalhadas por todas as nações, e nos países emergentes elas surgem e estão em constante crescimento. Com milhões de habitantes interagindo socialmente, essas metrópoles possuem problemas a serem superados. Para isto o planejamento urbano e as políticas públicas enfrentam problemas sociais de natureza complexa, e a simulação de ambientes com aspectos específicos, como o pânico em multidão, pode ser de grande valia para a mobilidade urbana, segurança pública, edificações, intervenção em regiões degradadas, concentração urbana e políticas públicas de prevenção. Um trabalho futuro para dar continuidade a esta pesquisa seria a validação estrutural por patrocinadores (stakeholders), especialistas que conhecem a fundo o sistema real, o que os capacita a avaliar os resultados da simulação com base em seus conhecimentos e sua experiência 7.1 Trabalhos Futuros 137 no assunto em questão. Bombeiros ou profissionais da área de segurança poderiam atuar identificando resultados incoerentes ou fornecendo feedback para o ajuste de parâmetros, e assim tal simulação ser empregada para a prevenção de situações reais. Ou então, uma simulação física ser executada com o auxílio da robótica, onde robôs representariam os agentes e seus sensores detectariam calor e estes buscariam sair do ambiente para preservarem sua integridade. Outro fato é que a execução do modelo computacional de simulação deste trabalho gerou uma grande massa de dados, o que viabiliza outra frente para dar continuidade aos esforços desta pesquisa. É possível aplicar técnicas de mineração de dados e identificar padrões para que sejam estudados os motivos destes. Por exemplo, verificar a influência que a posição dos agentes e a proximidade física entre eles na grade durante a simulação influencia na rede social. Ou então se agrupamentos se dão por alguma semelhança de atributo entre os agentes, por exemplo, nível de experiência. Desta forma, possibilitando averiguar a estruturação da rede, atividade destacada na frente de pesquisa abordada na Seção 4.1 sobre a motivação da estrutura da rede social formada. Considerando a Teoria das Redes Sociais como uma maneira de compreender e analisar a interação e a organização social de um grupo, informações do tipo coeficiente de aglomeração, distribuição de graus e resistência podem ser mais profundamente analisadas e auxiliarem na compreensão da dinâmica do pânico. A análise da rede também possibilita a detecção dos agentes pontes. Esses atores controlam o fluxo de informações na rede durante o início da formação do pânico na multidão. Se estrategicamente manipulados, os atores ponte podem evitar a formação do pânico, assim a evacuação de um ambiente pode ser feita de forma ordeira evitando pisoteamentos, por exemplo. Outro exemplo é que se levado em consideração a confiabilidade das mensagens trocadas entre os agentes pode-se qualificá-los dentro de uma perspectiva de reputação. Assim, a questão de liderança e seguidores por parte dos agentes é outro ponto que pode ser estudado, seguindo as teorias de difusão de informação. O trabalho de (FRANçA, 2010) contempla a experiência que um agente tem e adquire em situações de incêndio. Os agentes com as maior experiência podem assumir papéis de líderes dentro da comunidade, possuindo relações com agentes com experiência baixa, os seguidores. Esta característica abre possibilidades para a exploração da Difusão de Inovações, para tal, os trabalhos de Rogers (ROGERS, 2003; ROGERS et al., 2005) podem ser usados como base. Pode-se também explorar a questão dos papéis dos indivíduos durante tal evento. Como foi abordado, mas não o foco deste trabalho, um brigadista pode assumir o papel de líder dentro da rede social, e eventualmente podem emergir líderes por ocasião, agentes que por algum 7.1 Trabalhos Futuros 138 motivo passam a ser tidos como líderes mesmo estes não sendo brigadistas. Um agente com características permissivas pode assumir uma liderança uma vez que este “abre caminho” até a saída para os demais, mesmo este agente, em uma situação normal, não tendo relações sociais exatamente por esta sua característica não convencional. A força das relações também pode ser um tema para aprofundamento. Neste trabalho o peso da relação não foi muito explorado. Este aspecto pode auxiliar a definir melhor a Representação Coletiva Macro, bem como outros pontos a serem levantados em conta para a definição de tal, por exemplo, novos tipos de relação e a questão dos papéis. 139 Referências Bibliográficas O. ALEJANDRO, V. Álvarez; NORMAN, A. G. Manual Introdutório à Análise de Redes Sociais. [S.l.], 2005. Exemplos Práticos com UCINET 6.109 e NETDRAW 2.28. ALLUISI, E. A. The development of technology for collective training: Simnet, a case history. Human Factors, v. 33, p. 343–362, 1991. AMORIM, G. 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