1357 As particularidades do processo de rualização: os desafios para garantia de direitos no SUAS V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação Simone Araújo Machado1, Jane Cruz Prates2 (orientador) Faculdade de Serviço Social, PUCRS, Programa de Pós-Graduação, Grupo de Estudos sobre Teoria Marxiana, Ensino e Políticas Públicas, vinculado ao Núcleo de Pesquisa em Demandas e Políticas Sociais Resumo A existência de populações que habitam as ruas das cidades ultrapassa os séculos. A presença de sujeitos que fazem da rua seu espaço de sobrevivência e existência foi gradativamente aumentando e se transformando ao longo da historia, sendo esse processo agudizado, em razão do desenvolvimento do modo de produção capitalista que avançou junto aos países centrais e periféricos traçando rumos perversos e desiguais para a humanidade. A exclusão está dada e se faz presente intrinsecamente ao modo de produção capitalista maduro na qual vivemos, onde produz e reproduz mecanismos para manutenção de concentração de renda, gerando imensas desigualdades sociais, tendo no ápice do capital fetiche inerente ao processo de acumulação capitalista, adensando novas determinações e relações sociais historicamente produzidas (IAMAMOTO, 2007, p.107). A tentativa histórica de transformar o olhar em relação a essa população é um desafio constante. A proposta de pesquisa que ora se apresenta intenciona desvelar como se dá a atuação da Política de Assistência Social a luz da implantação do SUAS (Sistema Único de Assistência Social) no âmbito do município de Porto Alegre (RS), a partir do atendimento realizado junto aos sujeitos adultos e famílias em processo de rualização, a fim de contribuir 1 Assistente Social, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da FSS/PUCRS, Bolsista parcial CAPES, supervisora da rede serviços de população adulta de rua-cre/fasc/pmpa. E-mail: [email protected]. 2 Assistente Social, Professora da FSS/PUCRS, Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da FSS/PUCRS, Pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Demandas e Políticas Sociais – NEDEPS e do Laboratório Internacional de Estudos Sociais – Labinter. E-mail: [email protected] e [email protected]. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 1358 para ampliação da inserção/inclusão dos mesmos nos diferentes níveis de proteção social, garantindo direitos. O método utilizado para a realização da pesquisa aqui proposta está referendado no referencial teórico materialismo histórico dialético, tendo em vista que este se propõe a buscar durante todo processo de investigação “[...] o equilíbrio entre condições subjetivas e objetivas, o movimento contraditório de constituição dos fenômenos sociais contextualizados e interconectados à luz da totalidade e a articulação entre dados quantitativos e qualitativos, forma e conteúdo, razão e sensibilidade” (PRATES, 2010, p. 05). A metodologia pauta-se pela abordagem quanti-qualitativa, pois, parte-se do entendimento, que toda pesquisa social, neste caso a pesquisa avaliativa, deve primar pela integração da abordagem quantitativa e qualitativa ou a abordagem mista, que se configura num processo em que se “[...] recolhe, analisa e relaciona dados quantitativos e qualitativos em um único estudo ou uma série de investigações em resposta a uma aproximação do problema” (SAMPIERI; FERNÁNDEZ-COLLADO; LUCIO, 2006, p. 755, tradução nossa). Desta forma, ensejo realizar a coleta de dados na FASC (Fundação de Assistência Social e Cidadania), junto aos serviços da rede de Proteção Social Básica, especificamente no serviço desenvolvido pelo Módulo Centro, assim como nos serviços da rede de Proteção Social Especial, através dos serviços de média e alta complexidade, como Casa de Convivência, Abrigo Marlene, Albergue Municipal e Abrigo Casa Lilás. O estudo será realizado através dos seguintes procedimentos: 1) Realização de entrevistas com assistentes sociais, a serem convidados para a participação a partir do Termo de Consentimento; 2) Realização de entrevistas com os usuários localizados nos serviços acima citados conforme disponibilidade para participação no estudo, assim como o esclarecimento e assinatura do Termo de Consentimento; 3) Realização de Grupo Focal com equipe multiprofissional que participam do Grupo de Trabalho Institucional responsável pela elaboração de projetos da implantação do SUAS, conforme disponibilidade para a participação no estudo. O SUAS define e organiza os elementos essenciais para a execução da política pública de assistência social. Integra uma política pactuada nacionalmente, que prevê uma organização participativa e descentralizada da assistência social, em todo o território nacional, a partir da gestão compartilhada e do co-financiamento da política pelas três esferas de governo e com a participação e mobilização da sociedade civil, devendo priorizar ações que tenham como foco prioritário a atenção às famílias e aos membros que a compõem. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 1359 É na relação do cotidiano vivido, que as inquietações como assistente social se apresentam, incluindo as indagações relativas à população adulta e famílias em processo de rualização. Pretende-se, portanto, buscar compreender de que forma vem sendo realizada a implantação do Sistema Único de Assistência Social no município de Porto Alegre, a intervenção da política e a inserção/inclusão dos sujeitos adultos e famílias em processo de rualização a partir do olhar dos serviços de proteção social com ênfase nos serviços da proteção social especial de alta complexidade, uma vez que o ingresso nesse nível de proteção se dá muitas vezes em primeira instância. Considera-se, a partir dos apontamentos da PNAS/SUAS que o nível de proteção especial corresponde a: Modalidade de atendimento assistencial destinadas a famílias e indivíduos que se encontra em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substancia psicoativa, cumprimento de medidas sócio educativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras (BRASIL, 2004, p.31). Portanto prioriza a criação “de serviços que possibilitem a organização de um novo projeto de vida, visando criar condições para adquirirem referencias na sociedade brasileira, enquanto sujeitos de direitos” (BRASIL, 2004 p.31). Entretanto os estigmas já denunciados e as formas históricas de intervir no “problema” permanecem e as inquietações de quem hoje compõem a rede social de atendimento a essa população, transbordam nos limite do cotidiano de trabalho. Referências BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome-MDS. : Política Nacional de Assistência Social - Brasília, novembro de 2004. PRATES, Jane Cruz. O Ciclo de investigação e o processo de planejamento da pesquisa social. Síntese produzida para fins didáticos. Porto Alegre, 2010, mimeo. SAMPIERI, Roberto Hernández; FERNÁNDEZ-COLLADO, Carlos; LUCIO, Pilar Baptista. Metodología de La Investigación. 4 ed. México: McGraw-Hill Interamericana: 2006. IAMAMOTO, M.V. Serviço Social em tempos de Capital Fetiche: Capital Financeiro, Trabalho e Questão Social – São Paulo: Cortez 2007. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010