Equilíbrio Químico O conceito de equilíbrio químico está relacionado sempre a uma reação reversível. Temos uma reação reversível quando os produtos, à medida que se formam, tornam a reagir entre si, regenerando, pelo processo inverso, as substâncias reagentes. Dessa forma, a reação é sempre parcial e jamais se completa. Nesses tipos de reação, aparecem duas velocidades em sentidos contrários; quando elas forem iguais, estabelece-se o equilíbrio químico ou equilíbrio dinâmico. Considere a reação genérica: O equilíbrio se estabelece quando as velocidades nos sentidos 1 e 2 se igualam as concentrações dos reagentes e produtos não se alteram. Exemplo: decomposição do tetróxido de dinitrogênio em dióxido de mononitrogênio realizada em um recipiente fechado. Como o recipiente é fechado, os gases não podem escapar. No equilíbrio, o N2O4 transforma-se continuamente em NO2 ao mesmo tempo em que este volta a se transformar no dímero N2O4. O equilíbrio químico fundamenta-se na lei da ação das massas ou lei de Guldberg-Waage: “A velocidade de uma reação é diretamente proporcional ao produto das concentrações dos reagentes, a uma dada temperatura.” Aplicando a lei à reação que se processa no sentido ①: 232 Capítulo 14 V1 = k1[A]a [B]b onde, [A]a é a concentração em mol/L de A; [B]b é a concentração em mol/L de B e a e b são os coeficientes dos reagentes A e B na equação. A velocidade no sentido 2 será: V2 = k2 [C]c [D]d onde, [C]c é a concentração em mol/L de C; [D]d é a concentração em mol/L de D, e c e d são coeficientes dos produtos C e D na equação. k1 e k2 são constantes de proporcionalidade. O equilíbrio se estabelece quando V1 = V2 . O qüociente de duas constantes é outra constante: Kc é a constante de equilíbrio, expressa em termos de concentração em mol/L. A seguir, temos alguns exemplos de reações com suas respectivas constantes de equilíbrio. 233 Capítulo 14 A constante de equilíbrio químico, Kc, aplica-se a quaisquer sistemas homogêneos líquidos ou gasosos. Para os sistemas gasosos, podemos ainda obter a constante de equilíbrio em termos de pressões parciais, Kp. Nos sistemas onde a quantidade de substância em mols dos reagentes é igual à quantidade de substância em mols dos produtos, Kp e Kc são numericamente iguais. 234 Capítulo 14 Quando uma reação for do tipo decomposição ou dissociação, o KC é chamado de constante de dissociação: Como o equilíbrio citado é uma reação de dissociação, o Kc é chamado de constante de dissociação do NH3. Grau de equilíbrio (α) É uma forma de expressar o quanto de uma reação já ocorreu. O grau de equilíbrio pode ser expresso por: O grau de dissociação é o próprio α aplicado às reações de dissociação. 235 Capítulo 14 Quadro comparativo Deslocamento de equilíbrio Dado um sistema em equilíbrio, entende-se por deslocamento qualquer alteração em uma das velocidades, provocando modificação nas concentrações molares das substâncias em equilíbrio. Quando se altera uma das velocidades das reações, o equilíbrio se desloca no sentido da maior velocidade. Alguns fatores podem provocar esse deslocamento: a- concentração dos participantes; b- pressão (lei de Robin); c- temperatura (lei de Vant’ Hoff); 236 Capítulo 14 Princípio de Le Chatelier ou princípio da fuga ante a força “Quando se altera um dos fatores que influencia um equilíbrio, este sempre se desloca no sentido de anular ou, pelo menos, atenuar o efeito da alteração provocada.” Obs.: Um catalisador não desloca um equilíbrio químico, apenas diminui o tempo necessário para que o mesmo seja atingido. Equilíbrio iônico Constante de ionização As soluções eletrolíticas são sistemas homogêneos em equilíbrio. Esse equilíbrio se estabelece entre as moléculas não-ionizadas e os íons resultantes da ionização, onde se distinguem dois processos inversos e simultâneos: ionização e reagregação. 237 Capítulo 14 Ionização: moléculas de HCN se chocam com moléculas H2O originando ânions CN e cátions H3O+. Reagregação: os ânions CN- e os cátions H3O+, por apresentarem cargas de sinais opostos, atraem-se e chocam-se, regenerando as moléculas HCN e H2O. Representando os dois processos em uma só equação: Como se trata de um sistema em equilíbrio, pode-se escrever a fórmula da constante Kc: 238 Capítulo 14 A concentração de água é praticamente invariável; por isso não entra no cálculo da constante. Para representar-se a constante de ionização de um ácido, pode-se escrever a letra K acompanhada da fórmula do ácido como índice (KHCN) ou simplesmente Ka. Generalizando: Já os poliácidos (HnA), ionizam-se em etapas e cada etapa constitui um equilíbrio ao qual está associado uma constante de ionização e um grau de ionização. Por exemplo, para o H2S: Assim como os ácidos, as bases também têm suas constantes de dissociação iônica e seus graus de dissociação iônica. Exemplo: Não confunda constante de ionização com grau de ionização. α = quantidade de substância em mols ionizada quantidade de substância em mols inicial As constantes de dissociação iônica medem a força dos ácidos e das bases. Para os ácidos fortes, a ionização pode ser considerada total em soluções diluídas, situação à qual o conceito de equilíbrio não se aplica. Lei da diluição de Ostwald O cientista Ostwald exprimiu as concentrações que aparecem na constante de ionização em termos do grau de ionização, relacionando o grau de ionização com o volume da solução ou com a diluição da solução. 239 Capítulo 14 Conclusão: quanto mais se dilui uma solução, maior será o número de moléculas ionizadas. Efeito do íon comum Chama-se efeito do íon comum à alteração da posição de equilíbrio pela adição de um íon comum ao equilíbrio e à solução do eletrólito forte adicionado. Trata-se da aplicação do princípio de Le Chatelier aos equilíbrios iônicos. Observando o equilíbrio da ionização do ácido HA: Dissolvendo o sal B+A- na solução do ácido HA, estamos introduzindo mais íons A- nessa solução. O equilíbrio será deslocado para a esquerda ou para o lado do HA não-ionizado. 240 Capítulo 14 Conclusão: a dissolução de um sal B+A- numa solução aquosa de um ácido HA produz: • diminuição da concentração dos íons H+ na solução; • diminuição do grau de ionização do ácido; • enfraquecimento do ácido. Equilíbrio iônico da água A água é um eletrólito muito fraco, possuindo baixa condutibilidade elétrica. A ionização da água ocorre segundo a reação. Produto iônico da água A constante de ionização no equilíbrio anterior é: Como o grau de ionização da água é muito pequeno, a concentração molar da água [H2O], é praticamente constante. Como [H2O] é constante, o produto Ki [H2O]2 também é constante e será chamado Kw (produto iônico da água). A mudança de temperatura faz variar o valor numérico do Kw. 241 Capítulo 14 Nota: para facilitar o estudo, a ionização da água costuma ser representada de maneira simplificada: A expressão do Kw fica: Potencial hidrogeniônico (pH) e potencial hidroxiliônico (pOH) O valor da concentração dos íons H+ de uma solução constitui um critério para a determinação da acidez, basicidade ou neutralidade do meio. Para obtermos essa classificação, comparamos a solução com água pura. A água pura, convencionada como meio neutro, apresenta: Já uma solução ácida apresenta maior concentração de íons H e, conseqüentemente, haverá uma diminuição da concentração dos íons OH. Porém, se em uma solução a concentração de OH for maior que a de H+, teremos uma solução básica. + 242 Capítulo 14 Por não ser muito prático trabalhar-se com valores muito pequenos, isto é, potências com expoentes negativos, o cientista Sorensen introduziu o uso de uma grandeza chamada potencial. Potencial hidrogeniônico: é o logaritmo decimal do inverso da concentração molar dos íons H+ de um meio aquoso. Representa-se por pH. Potencial hidroxiliônico: é o logaritmo decimal do inverso da concentração molar dos íons OH de um meio aquoso. Representa-se por pOH. pH e o pOH para os diferentes meios: a) meio neutro: b) meio ácido: c) meio básico: 243 Capítulo 14 A soma do pH e do pOH é sempre igual a 14. Indicadores São ácidos fracos utilizados para se coI I nhecer o pH do meio. Em solução aquosa, esses ácidos ionizam-se e, dependendo do meio em que são colocados, assumem uma cor diferente. Em meio ácido, predomina a forma não-ionizada e, portanto, o indicador assume a cor A. Já em meio básico, predomina o íon In- que possui a cor B. Veja algumas substâncias que servem para indicar o pH do meio e suas respectivas cores: Indicadores diferentes mudam de cor em diferentes valores de pH. 244 Capítulo 14 Produto de solubilidade (Kps, P.S. ou Ks) Observando-se um sistema constituído por uma solução saturada de CaSO4 com corpo de chão ou corpo de fundo, nota-se o estabelecimento de um equilíbrio entre a solução saturada e o corpo de fundo, ou seja, o CaSO4 está continuamente passando para a solução mas, como esta já está saturada, igual quantidade de CaSO4 precipita-se e passa para o corpo de fundo. Em um equilíbrio heterogêneo, a concentração do sólido não aparece na expressão final da constante de equilíbrio. Observando as tabelas, note que quanto maior o Ks de uma substância, maior será sua solubilidade (s) e que o Ks aumenta em função do aumento da temperatura. 245 Capítulo 14 Exemplo: Temos uma solução saturada de brometo de prata (AgBr). Passando-se uma corrente de brometo de hidrogênio (HBr) por essa solução o que ocorre? Resolução: Como a solução está saturada de brometo de prata, temos: Ao se introduzir o brometo de hidrogênio, ocorre: Haverá um aumento da concentração dos íons Br. Esse aumento provocará um deslocamento do equilíbrio do brometo de prata na solução para a esquerda. Com esse deslocamento, haverá a formação de AgBr não-dissociado. Como a solução está saturada este AgBr formado pelo deslocamento se depositará no fundo do recipiente (precipitação). Veja que, com o deslocamento, houve diminuição da concentração dos íons Ag+, o que garante a constância do Ks. 246 Capítulo 14 Resposta: Ocorre precipitação de AgBr. AVALIE SEUS CONHECIMENTOS EXERCÍCIOS 1. Escreva a fórmula da constante de equilíbrio para os seguintes sistemas: b) N2(g) + 3H2(g) A 2NH3(g) a) H2(g) + I2(g) A 2HI2(g) 2. Na dissociação térmica do trióxido de enxofre gasoso (SO3), o equilíbrio é alcançado quando se acham em presença 10 mols de trióxido de enxofre gasoso, 15 mols de dióxido de enxofre gasoso (SO2) e 10 mols de oxigênio gasoso (O2) encerrados num recipiente de 5 L de capacidade. Qual é o valor da constante de equilíbrio? 3. 1,00 mol de H2(g) e 4,00 mols de CO2(g) são colocados num recipiente fechado e aquecido à temperatura constante de 1500°C . Estabelecido o equilíbrio: H2(g) + CO2(g) A H2O(g) + CO(g) verifica-se que no sistema sobraram 3,20 mols de CO2(g). Calcule Kc desse equilíbrio a 1500°C 4. 0,200 mol de SO3 são aquecidos num tubo fechado de capacidade igual a 10,0 L, a uma temperatura constante de 1000°C. Estabelecido o equilíbrio, verifica-se que o grau de dissociação do SO3 a 1000°C. 5. Com relação ao equilíbrio H2(g) + CI2(g) A 2HCI(g) Para que ocorra deslocamento para a direita, deve-se: b) retirar CI2(g) a) adicionar H2(g) c) adicionar HCI(g) d) retirar H2(g) 6. Escreva a expressão da constante de ionização das seguintes substâncias: H2S, H2CO3 e H3PO4 247 Capítulo 14 O QUE É ISOMERIA? Quando se substitui um átomo de hidrogênio do etano por um átomo de cloro, podese obter somente uma substância, pois, qualquer que seja o hidrogênio substituído, a estrutura obtida será sempre a mesma: ⇒ Porém, quando se substituem dois átomos de hidrogênio por dois átomos de cloro, obtêm-se duas substâncias diferentes, pois podem ocorrer duas possibilidades: a) os dois hidrogênios substituídos estão ligados ao mesmo carbono: b) os dois hidrogênios substituídos estão ligados a carbonos diferentes: C2H4Cl2 1-1-dicloroetano 1-2-dicloroetano Os dois compostos diferentes possuem os mesmos átomos, na mesma quantidade, mas apresentam estruturas diferentes. Esse é um exemplo do fenômeno denominado isomeria. Isomeria: fenômeno caracterizado pela ocorrência de duas ou mais substâncias diferentes, que apresentam a mesma fórmula molecular mas diferentes fórmulas estruturais. O estudo da isomeria será dividido em duas partes: plana e espacial (estereoisomeria). 552 PARTE 3 — QUÍMICA ORGÂNICA ISOMERIA PLANA Nesse tipo de isomeria, verifica-se a diferença entre os isômeros através do estudo de suas fórmulas estruturais planas. A seguir, vamos estudar os cinco casos de isomeria plana. Isomeria de função: os isômeros pertencem a funções diferentes. Fórmula molecular Isômeros Função e fórmula estrutural Função e fórmula estrutural álcool C2H6O H3C éter CH2 H3C OH aldeído O cetona O C3H6O H3C CH2 O C H3C H C ácido H3C CH2 O C OH H3C C O álcool CH3 fenol CH2 C7H8O CH3 éster O C3H6O2 CH3 OH OH CH3 Isomeria de cadeia ou núcleo: os isômeros pertencem à mesma função, mas apresentam diferentes tipos de cadeia. Fórmula molecular Isômeros Função e fórmula estrutural Função e fórmula estrutural aldeído aldeído O C4H8O H3C CH2 CH2 C H3C CH H C3H6 CH3 (reta) (ramificada) hidrocarboneto hidrocarboneto H2C CH (aberta) CH3 CH2 H2C CH2 (fechada) O C H 553 Unidade 24 — Isomeria Isomeria de posição: os isômeros pertencem à mesma função e têm o mesmo tipo de cadeia, mas apresentam diferença na posição de um grupo funcional, de uma ramificação ou insaturação. Isômeros Fórmula molecular Função e fórmula estrutural Função e fórmula estrutural álcool álcool OH C3H8O H3C CH2 OH CH2 H3C hidrocarboneto H3C C4H6 CH2 C CH CH3 hidrocarboneto H3C CH C C CH3 Isomeria de compensação ou metameria: os isômeros pertencem à mesma função e apresentam o mesmo tipo de cadeia, mas apresentam diferença na posição de um heteroátomo. Isômeros Fórmula molecular Função e fórmula estrutural Função e fórmula estrutural amina amina H3C NH CH2 CH2 CH3 C4H11N H3C éster O H3C C CH2 NH HC CH3 CH2 CH3 éster O O C4H8O2 CH2 C O CH2 CH2 CH3 Isomeria dinâmica ou tautomeria: esse é um caso particular de isomeria de função, no qual os isômeros coexistem em equilíbrio dinâmico em solução. Os principais casos de tautomeria (tautos = dois de si mesmo) envolvem compostos carbonílicos. Ao preparar uma solução de aldeído acético, uma pequena parte se transforma em etenol, o qual, por sua vez, regenera o aldeído, estabelecendo um equilíbrio químico em que o aldeído, por ser mais estável, está presente em maior concentração. Observe os exemplos: H aldeído H C H OH O H C H C H C H enol 554 PARTE 3 — QUÍMICA ORGÂNICA H cetona H O C C OH H2C CH3 C CH3 enol H A solução que contém os dois tautômeros é denominada alelotrópica, e ambos os equilíbrios são genericamente denominados cetoenólicos. Exercícios de classe 1. Construa as fórmulas estruturais de: I — dois alcanos de fórmula molecular C4H10. II — dois alquinos e dois dienos de fórmula molecular C4H6. III — três diclorobenzenos. IV — dois aldeídos e uma cetona de fórmula molecular C4H8O. V — dois álcoois e um éter de fórmula molecular C3H8O. 2. (UFRS) A fórmula molecular C2H6O pode representar compostos pertencentes às funções: a) hidrocarboneto, álcool e aldeído. b) álcool e éter. c) aldeído e cetona. d) ácido carboxílico, aldeído e álcool. e) éter, cetona e éster. 3. (UERJ) Na tentativa de conter o tráfico de drogas, a Polícia Federal passou a controlar a aquisição de solventes com elevado grau de pureza, como o éter (etóxi-etano) e a acetona (propanona). Hoje, mesmo as universidades só adquirem esses produtos com a devida autorização daquele órgão. A alternativa que apresenta, respectivamente, isômeros funcionais dessas substâncias é: a) butanal e propanal. b) 1-butanol e propanal. c) butanal e 1-propanol. d) 1-butanol e 1-propanol. O O H3C H3C C CH2 I OH 5. (UFPel-RS) As formigas, principalmente as cortadeiras, apresentam uma sofisticada rede de comunicações, entre as quais a química, baseada na transmissão de sinais por meio de substâncias voláteis, chamadas feromônios, variáveis em composição, de acordo com a espécie. O feromônio de alarme é empregado, primeiramente, na orientação de ataque ao inimigo, sendo constituído, em maior proporção, pela 4-metil-3-heptanona, além de outros componentes secundários já identificados, tais como: 2-heptanona, 3-octanona, 3-octanol e 4-metil-3-heptanol. (Ciência Hoje. n. 35. v. 6.) a) Qual o nome dos grupos funcionais presentes na estrutura da 2-heptanona e do 3-octanol, respectivamente? b) Quais as funções orgânicas representadas pelos compostos 4-metil-3-heptanona e 4-metil-3-heptanol, respectivamente? c) Identifique um par de isômeros de cadeia, relacionados no texto. 6. (UFRJ) As cetonas se caracterizam por apresentar o grupo funcional carbonila em carbono secundário e são largamente utilizadas como solventes orgânicos. 4. (UFRS) A respeito dos seguintes compostos, pode-se afirmar que: CH2 a) são isômeros de posição. b) são metâmeros. c) são isômeros funcionais. d) ambos são ácidos carboxílicos. e) o composto I é um ácido carboxílico, e o composto II é um éter. C CH2 CH3 O II a) Apresente a fórmula estrutural do isômero de cadeia da 3-pentanona. b) As cetonas apresentam isomeria de função com os aldeídos. Escreva a fórmula estrutural da única cetona que apresenta apenas um aldeído isômero. 555 Unidade 24 — Isomeria ISOMERIA ESPACIAL Nesse tipo de isomeria, a diferença entre os isômeros só é perceptível pela análise da fórmula estrutural espacial. Existem dois tipos de isomeria espacial: geométrica (cis-trans ou Z-E) e óptica. ISOMERIA GEOMÉTRICA Quando dois hidrogênios, um de cada carbono do etileno, são substituídos por dois átomos de cloro, formam-se duas estruturas diferentes com a mesma fórmula molecular: C2H2Cl2. H Cl H C C C plano imaginário H etileno Cl H H 1, 2-dicloroetileno H C H Cl C C Cl H 1, 2-dicloroetileno As fórmulas estruturais podem ser feitas da seguinte forma: C C H H Cl H H C C Cl Note que os 2 átomos de H estão do mesmo lado do plano imaginário, sendo esta disposição denominada cis: cis-1, 2-dicloroetileno. 123 Cl 123 Cl Note que os 2 átomos de H estão em lados opostos do plano imaginário, sendo esta disposição denominada trans: trans-1, 2-dicloroetileno. As diferentes disposições espaciais dos átomos provocam alterações nas propriedades físicas desses compostos, como, por exemplo, na temperatura de ebulição, isso porque tais mudanças acarretam diferença de polaridade das moléculas. Cl Cl C H C C H H cis = molécula polar TE = 60,3 ºC Cl C Cl H trans = molécula apolar TE = 47,5 ºC 556 PARTE 3 — QUÍMICA ORGÂNICA Ocorrência de isomeria geométrica Compostos acíclicos Os compostos acíclicos devem apresentar pelo menos uma dupla ligação entre carbonos, e cada um dos carbonos da dupla deve apresentar grupos ligantes diferentes. De acordo com o esquema: C C X B A , em que 123 Y Y : obrigatoriamente diferente de X e A : obrigatoriamente diferente de B Vejamos alguns exemplos: • 2-penteno Diferentes Diferentes CH3 H H H3C H C C C C CH2CH3 H Diferentes Cis-2-penteno cis CH2CH3 trans Diferentes Trans-2-penteno Representação simplificada da diferença na estrutura dos isômeros geométricos. • 2-bromo-1-cloropropeno H Br Cl Cl H C C C C CH3 Br CH3 Neste caso, os dois isômeros geométricos não podem ser identificados pelos prefixos cis e trans, pois não apresentam nenhum ligante igual nos dois carbonos da dupla ligação. Em tais casos, devemos utilizar as designações E e Z. O isômero Z é aquele que apresenta dois ligantes de cada C da C C com os maiores números atômicos; o outro isômero será o E. No exemplo dado, temos: * Z=1 Z=6 H CH3 C Cl Z = 17 C Br * H * Br C Cl * C H3C Z = 35 Z-2-bromo-1-cloropropeno E-2-bromo-1-cloropropeno Observação: Em alguns exames vestibulares, o critério de ligantes com maior número atômico do mesmo lado do plano é usado para caracterizar o isômero cis, sendo o outro isômero considerado trans. 557 Unidade 24 — Isomeria Compostos cíclicos Os compostos cíclicos devem apresentar grupos ligantes diferentes em pelo menos dois carbonos do ciclo. De acordo com o esquema: X C C Y A , em que B 123 H2 C Y : obrigatoriamente diferente de X e A : obrigatoriamente diferente de B Vejamos um exemplo: H2 C H C C cis-1, 2-diclorociclopropano Cl H Cl Cl trans-1, 2-diclorociclopropano Cl Cl Cl 1, 2-diclorociclopropano Exercícios de classe 1. Considere as fórmulas planas dos seguintes compostos: a) H2C C CH2 g) CH2 C C C H H H d) H C CH2 Br H C CH3 H H h) H2C CH3 C C CH3 CH2 H CH3 C CH3 H C H3C e) H3C C Cl Br H C C C H2 C H2C CH3 H c) H3C H3C CH3 CH3 b) H3C f) C CH3 H CH3 Resolva: a) Quais compostos apresentam isomeria geométrica? b) Faça a representação espacial dos isômeros de cada composto que apresenta isomeria geométrica. 558 PARTE 3 — QUÍMICA ORGÂNICA 2. Considere os hidrocarbonetos a seguir: a) 1-penteno; b) 2-penteno; c) 3-hexeno; d) 2-metil-1-penteno; e) 2-metil-2-penteno; f) 2-metil-3-hexeno; g) 1, 1-dimetil-ciclopentano; h) 1, 2-dimetil-ciclopentano. Resolva: a) Quais apresentam isomeria geométrica? b) Escreva as fórmulas espaciais dos compostos que apresentam isomeria geométrica. 3. (UFOP-MG) Considere o alqueno de menor massa molecular que apresenta isomeria geométrica. a) Represente as fórmulas estruturais (cis e trans) desse alqueno. b) Calcule as percentagens de carbono e hidrogênio desse alqueno. (Dados: massas atômicas: C = 12, H = 1) c) Represente os isômeros estruturais possíveis a partir da fórmula molecular desse alqueno. 4. (Fuvest-SP) Quantos isômeros estruturais e geométricos, considerando também os cíclicos, são previstos com a fórmula molecular C3H5Cl? a) 2. b) 3. c) 4. d) 5. e) 7. 5. Qual é o nome e a fórmula estrutural do aldeído de menor massa molar que apresenta isomeria geométrica? ISOMERIA ÓPTICA A isomeria óptica está associada ao comportamento das substâncias submetidas a um feixe de luz polarizada (um só plano de vibração) obtida quando a luz natural, nãopolarizada (infinitos planos de vibração), atravessa um polarizador. plano de polarização polarizador polarizador não-polarizada polarizada Algumas substâncias têm a propriedade de desviar o plano de vibração da luz polarizada e são denominadas opticamente ativas. Essa propriedade caracteriza os compostos que apresentam isomeria óptica. O desvio do plano de vibração pode ocorrer em dois sentidos: a) desvio para o lado direito = isômero dextrogiro (d); b) desvio para o lado esquerdo = isômero levogiro (ll). Esse desvio é determinado experimentalmente por um aparelho denominado polarímetro, esquematizado a seguir: 559 Unidade 24 — Isomeria substância opticamente ativa Isomeria óptica e assimetria molecular A condição necessária para a ocorrência de isomeria óptica é que a substância apresente assimetria. Christof Gunkel Conceito de simetria Dizemos que uma estrutura é simétrica quando ela apresenta pelo menos um plano de simetria, isto é, quando pode ser dividida em duas metades idênticas. Uma estrutura simétrica, quando colocada diante de um espelho plano, produz uma imagem idêntica a ela. Observe o exemplo ao lado: Christof Gunkel CEDOC Estruturas que não admitem nenhum plano de simetria são denominadas assimétricas. Quando colocadas diante de um espelho plano, as estruturas assimétricas produzem imagens diferentes de si próprias. Uma característica importante dessas estruturas é que elas não são sobreponíveis. Quando colocamos a mão direita diante de um espelho plano, a imagem obtida é revertida e corresponde, então, à mão esquerda. O caso mais importante de assimetria molecular ocorre quando existir, na estrutura da molécula, pelo menos um carbono assimétrico ou quiral (do grego cheir = mão). Para que um átomo de carbono seja assimétrico, deve apresentar quatro grupos ligantes diferentes entre si. Na fórmula estrutural, o carbono quiral é indicado por um asterisco (*). Genericamente, temos: G 3 G3 G4 C * G2 em que: G1 ≠ G2 ≠ G3 ≠ G4 G1 fórmula estrutural plana C* G4 G2 G1 560 PARTE 3 — QUÍMICA ORGÂNICA O ácido láctico, encontrado tanto no leite azedo quanto nos músculos, apresenta a seguinte fórmula estrutural. OH H3C C* OH OH C* C O C OH H H3C ácido láctico ou ácido 2-hidroxipropanóico HOOC COOH H CH3 H objeto espelho plano imagem A presença de 1 carbono assimétrico (1 C*) determina a existência de dois isômeros opticamente ativos: o ácido d-láctico e o l-láctico, que são química e fisicamente iguais e fisiologicamente diferentes, provocando o mesmo desvio angular, porém em sentidos opostos. Um par de isômeros opticamente ativos [(d) e (l)], os quais apresentam o mesmo ângulo de desvio, são denominados antípodas ópticos ou enantiomorfos. Sua mistura em quantidades eqüimolares resulta numa mistura opticamente inativa, denominada mistura racêmica, conhecida também como isômero racêmico [(dl) ou (r)]. Observação: A única maneira de saber se um isômero óptico é dextrogiro (d) ou levogiro (l) consiste em utilizar um polarímetro. É impossível obter tal informação mediante a simples análise da fórmula estrutural do isômero. Assim, tomando-se o exemplo do ácido láctico, temos: C* C H ácido láctico OH 1 C* d l (dl) = r 123 123 H3C O 14243 OH isômeros opticamente ativos (IOA) (enantiomorfos) isômero opticamente inativo (IOI) Quantidade de carbonos assimétricos e número de isômeros ópticos Moléculas com um carbono quiral (C*) O exemplo dado permite concluir que para um carbono assimétrico ou quiral temos: • 2 isômeros opticamente ativos (IOA) • 1 isômero opticamente inativo (IOI) Moléculas com vários carbonos assimétricos diferentes A maneira mais prática de determinar a quantidade de isômeros opticamente ativos e inativos de uma substância é utilizar as expressões matemáticas propostas por Van’t Hoff e Le Bel: 561 Unidade 24 — Isomeria • quantidade de isômeros opticamente ativos (IOA) IOA = 2n • quantidade de isômeros opticamente inativos (IOI) (misturas racêmicas) 2n 2 em que n = número de carbonos assimétricos diferentes. IOI = Veja o exemplo: OH H C* C* CH2 H3C H CH3 CH3 n = número de carbonos assimétricos diferentes = 2 n IOI = 2 = 2 22 = 2 2 123 123 IOA = 2n = 22 = 4 d1 e l1 = antípodas ópticos d2 e l2 = antípodas ópticos d d2 + l2 1 + l1 123 e 123 r1 r2 Quaisquer outros pares (d1 e d2; d1 e l2; d2 e l1; l1 e l2) são denominados diastereoisômeros. Moléculas cíclicas A isomeria óptica ocorre também em compostos cíclicos, em função da assimetria molecular. Embora nessas moléculas não existam carbonos assimétricos (C*), para determinar o número de isômeros, deve-se considerar sua existência. Para isso, devemos levar em conta os ligantes fora do anel e considerar como ligantes as seqüências no sentido horário e anti-horário no anel. Vejamos um exemplo: H H C 3 H3C C C H H 2 1 OH O carbono (C3) não pode ser considerado um carbono assimétrico, pois apresenta ligantes iguais. Ligantes fora do anel Sentido do percurso no anel Horário CH C(1) C(2) H H OH CH3 CH3 CH2 CH2 Anti-horário CH2 CH CH CH CH3 CH2 OH OH 562 PARTE 3 — QUÍMICA ORGÂNICA Logo, pode-se considerar que essa molécula apresenta 2 C* diferentes. Em compostos cíclicos, após determinar o número de carbonos que funcionam como C*, podese determinar o número de isômeros ópticos, como nos compostos alifáticos, usando expressões matemáticas. Neste exemplo, temos: IOA = 2n = 22 = 4 2n 22 IOI = = = 2 2 2 Observação: Em algumas moléculas, como a do ácido tartárico (2, 3-dihidroxibutanodióico), temos dois carbonos n assimétricos iguais (mesmos ligantes). Neste caso, não podemos utilizar as expressões 2n e 2 . 2 O C HO OH OH C* bC* C a H H O OH Os carbonos a e b apresentam o mesmo ângulo de desvio (experimentalmente 6º). Assim, temos as seguintes possibilidades: Desvios dos C* Os 2 para a direita Os 2 para a esquerda 1 para a direita, outro para a esquerda Valor do desvio +12º –12º 0º Tipo de isômero l d 14243 meso racêmico(dl) O isômero meso é opticamente inativo por uma compensação de desvios no interior da molécula. Moléculas assimétricas O C2H5 LSD = Foto do autor Na maioria dos processos biológicos, somente um dos isômeros ópticos é ativo. Por exemplo, o isômero dextrogiro do LSD causa alucinações, ao passo que o isômero levogiro não produz nenhum efeito. N C * NH C2H5 N * CH3 Morning Glory. Observação: Existem outros casos de isomeria óptica que envolvem estudos particularizados das suas estruturas e que não são considerados importantes para o nosso curso.