INTERVENÇÕES/PROJECTOS apoiados pelo FUNDO SOCIAL EUROPEU √ Artigo sobre o projecto “Oficina de Oportunidades” (IGFSE 2010) Oficina de Oportunidades ensina a organizar vidas Têm bebés nos braços, estão sem emprego, sem rendimentos e sem competências para reconstruir a vida. É na “Oficina de Oportunidades” que a Ajuda de Mãe tem preparado jovens mães e pais a construírem um futuro organizado, na vida e no trabalho Estava grávida da pequena Adelina quando chegou a Lisboa. Mariana tinha 25 anos e mudava-se com o marido para a capital depois de três anos a viver na ilha da Madeira, onde o marido trabalhou na hotelaria desde que ali chegaram, vindos da Moldávia. Convenceram-se de que em Lisboa seria mais fácil organizar a vida e pediu apoio à senhora que a atendeu quando foi tratar da documentação para fixar residência em Portugal. “Perguntei se conhecia alguma instituição que me pudesse dar algum apoio e a senhora mandou-me para o Centro Paroquial da Igreja dos Anjos. Foi lá que me falaram da Ajuda de Mãe”, recorda Mariana, hoje com 26 anos. É a primeira a reconhecer que quando chegou à sede da Associação Ajuda de Mãe, em Lisboa, não sabia nada. Contou a sua história e passou a ser seguida pela técnica Tânia Brito, com quem continua a encontrar-se todos os meses. Ainda grávida, inscreveu-se no curso de formação para o mercado de emprego. Foi ali que começou a descobrir como Portugal “funciona”. Aprendeu a fazer um currículo, a criar um e-mail, a apresentar-se numa entrevista de emprego e a tudo isto juntou outros conhecimentos na área do desenvolvimento pessoal, como a formação parental e os cuidados com o bebé. Adelina nasceu em Dezembro de 2009 e desde cedo começou a acompanhar a mãe nas visitas à instituição. Ficava na creche da Ajuda de Mãe durante os tempos de formação da progenitora. Mais tarde a mãe conseguiu inscrevê-la numa creche da Segurança Social da sua área de residência, e na Ajuda de Mãe conseguiu produtos para o enxoval do bebé; bens preciosos para uma família de rendimentos muito escassos. Todos os dias o marido de Mariana leva a bebé à creche de manhã e Mariana recolhe-a à tarde. Já respondeu a algumas entrevistas de emprego e espera vir a ser chamada para trabalhar numa unidade hoteleira. “UM CONSELHO NA HORA CERTA VALE OURO” Mariana reconhece que o apoio que encontrou na Ajuda de Mãe está longe de se traduzir em horas de formação e apoio material. “É a família que não tenho em Portugal”, lembrando as muitas vezes que telefonou para as técnicas da instituição a pedir conselhos para tratar da filha recém-nascida. “Um conselho ou uma palavra na IGFSE/NC 1/3 hora certa vale ouro!”, alega Mariana, que nem consegue imaginar as dificuldades que estaria a sentir neste momento se não tivesse sido encaminhada para a Ajuda de Mãe. “Esta instituição ajudou a minha família e a minha vida toda”, sublinha. A Mariana basta saber onde ir e procura resolver todas as situações. Já conseguiu a equivalência para os seus estudos – estudara Línguas Estrangeiras e Filologia – e por agora quer trabalhar na hotelaria. O marido inscreveu-se num curso de empregado de mesa e a entidade patronal está satisfeita com o seu trabalho. “Se estivermos informados tudo fica mais fácil. E aqui podemos encontrar tudo”, assume Mariana. FORMAR CIDADÃOS E TRABALHADORES “A Oficina de Oportunidades” foi pensada precisamente para casos como os de Mariana. Quando a Ajuda de Mãe concorreu ao apoio do Fundo Social Europeu, através do Programa Operacional do Potencial Humano para pôr de pé este projecto, pensou nas muitas mulheres grávidas ou recém-mamãs que procuram a instituição à procura de apoio. A maior parte pretende apoio imediato, sobretudo material, mas além deste a Ajuda de Mãe faz questão de proporcionar ferramentas para estruturar uma vida mais organizada e apoiar o acesso à qualificação e ao emprego, permitindo ajudar a construir um futuro. É assim com esta “Oficina de Oportunidades”, que vai já na segunda edição. A maior parte dos formandos são do sexo feminino, mas pode incluir outros membros do agregado pois toda a família é chamada a beneficiar do projecto. Recebem formação parental, formação para a cidadania e formação para a qualificação e emprego. O desenvolvimento de competências sociais e pessoais integra, igualmente, o leque de conteúdos ministrados, assim como a sensibilização ambiental e a igualdade de oportunidades. Os bebés podem vir com as mães ou pais para a instituição e ali ficam na creche enquanto decorrem as formações. As mães que amamentam fazem pausas na formação para alimentar os bebés e depois regressam. Em sala de aula recebem formação teórica, que muitas vezes é complementada com formação prática no exterior. “Chegámos a levar os formandos ao supermercado para eles aprenderem a gerir o dinheiro nas compras para o lar. Dávamos 20 euros a cada um para definir o seu cabaz de bens essenciais e muitas delas acabam por ir direitinhas para a marca mais cara, mas que dava na televisão. É este tipo de atitudes que temos de corrigir. A maior parte não tinha qualquer noção de economia doméstica”, relata Fátima Silva, psicóloga e uma das mentoras do projecto. Com ela trabalha outra psicóloga, uma educadora social, uma assistente social e um técnico informático. É esta equipa que assumiu o desafio de preparar rapazes e raparigas, dos 18 aos 30 anos, para a vida em sociedade. “Temos jovens provenientes de famílias desestruturadas, com percursos familiares e escolares instáveis, que nunca souberam organizar uma casa ou gerir um orçamento familiar, que nunca souberam assumir compromissos e não têm noções claras de responsabilidade. E o seu passado laboral está geralmente associado a trabalhos precários, que rapidamente eram abandonados, muitas vezes por falta de assiduidade ou por comportamentos inadequados”, explica a psicóloga. “Foi preciso muito trabalho para incutir-lhes noções IGFSE/NC 2/3 claras de responsabilidade, sobretudo aplicada ao trabalho e ao superior hierárquico”, acrescenta. “E tem sido também necessário trabalhar outros aspectos da vida em sociedade, como a comunicação, a atitude perante o outro, a auto-estima, a discriminação e a violência”. Além das visitas ao supermercado, as formadoras foram pessoalmente com os jovens abrir contas bancárias, que para muitos era uma estreia. Aprenderam também a preencher a declaração do IRS e receberam noções elementares de cidadania. CONHECIMENTOS MAIS VALORIZADOS Apesar de estar visivelmente satisfeita com o impacto do projecto junto das formandas, que hoje reconhecem estar melhor preparadas para enfrentar o mercado de trabalho e seguir com as suas vidas. Cada formando recebe uma bolsa, que pode chegar aos 250 euros, além de subsídio de alimentação e de transporte. A formação prolonga-se durante 360 horas, o que ocupa três meses. “Ainda assim, muitos não quiseram esperar e aceitaram de imediato o primeiro trabalho que lhes apareceu”, lamenta Fátima Silva, que, ainda assim, tem notado uma postura diferente na segunda edição do projecto. “Nesta edição já conseguimos seleccionar pessoas que valorizam mais as competências que aqui lhes proporcionamos e que sabemos que lhes serão de grande utilidade. E até já temos pessoas com vontade de abrir o seu próprio negócio”, revela Fátima Silva, que não tem qualquer dúvida de que esta formação de três meses pode ditar a diferença o resto das suas vidas. “Saem daqui jovens mais preparadas para organizar as suas contas, para organizar a sua casa, para lidar melhor com os seus filhos e para assumirem uma postura responsável nos seus empregos. E isso é bom para eles, para as suas famílias, para os seus empregadores e para toda a sociedade”. IGFSE/NC 3/3