Ciência Florestal
ISSN: 0103-9954
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Universidade Federal de Santa Maria
Brasil
Sutili Jaques, Fabrício; Durlo Antão, Miguel; Bressan, Delmar Antonio
Potencial biotécnico do sarandi-branco (Phyllanthus sellowianus Müll. Arg.) e vime (Salix viminalis L.)
para revegetação de margens de cursos de água
Ciência Florestal, vol. 14, núm. 1, 2004, pp. 13-20
Universidade Federal de Santa Maria
Santa Maria, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=53414103
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Ciência Florestal, Santa Maria, v. 14, n. 1, p. 13-20
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ISSN 0103-9954
POTENCIAL BIOTÉCNICO DO SARANDI-BRANCO (Phyllanthus sellowianus Müll. Arg.) E VIME
(Salix viminalis L.) PARA REVEGETAÇÃO DE MARGENS DE CURSOS DE ÁGUA
BIOTECHNICAL CAPABILITY OF ‘SARANDI-BRANCO’ (Phyllanthus sellowianus Müll. Arg.) AND
‘VIME’ (Salix viminalis L.) FOR REVEGETATION WATER COURSES EDGES
Fabrício Jaques Sutili1
Miguel Antão Durlo2
Delmar Antonio Bressan2
RESUMO
Mesmo com planejamento e trabalho cuidadoso no uso dos recursos naturais, em particular dos cursos
de água, é inevitável que algumas áreas sejam modificadas negativamente, que partes de margens ou encostas
percam sua estabilidade e que ocorram erosões e deslizamentos. Quando isso acontece é necessária a
recomposição e a estabilização física das áreas atingidas. Algumas técnicas de natureza biológica, capazes de
proporcionar soluções baratas e de fácil implementação já são conhecidas, restando que se investigue a
disponibilidade e aplicabilidade de materiais construtivos de cada região, bem como o potencial biotécnico das
espécies vegetais de ocorrência local. No presente trabalho, procurou-se investigar – em situação prática de
campo – a capacidade de pega por estacas, de duas espécies abundantes em beiras de cursos de água: sarandibranco (Phyllanthus sellowianus Müll. Arg.) e vime (Salix viminalis L.). O plantio experimental foi realizado
em uma margem com problemas de corrosão, localizada no arroio Guarda-mor na região central do estado do
Rio Grande do Sul. Foram utilizadas estacas retiradas de diferentes porções do ramo (base, meio e ponta).
Com uma verificação feita 60 dias após o plantio, pode-se concluir que as duas espécies se mostraram
potencialmente aptas para a recomposição vegetativa de margens. Em média, o sarandi-branco mostrou um
percentual de pega de 78%, que foi significativamente superior ao do vime (69%). Para as duas espécies,
observou-se que quanto maior a proximidade com o nível da água e quanto maior o diâmetro das estacas,
(base > meio > ponta), tanto maior foi o percentual de pega.
Palavras-chave: bioengenharia; biotécnicas; recuperação de áreas degradadas; cursos de água.
ABSTRACT
Even with planning and careful use of natural resources, and specially in the case of water courses,
some areas are negatively modified, due to losing of margin or hillside stability, leading to erosions and slides.
On this way, revegetation and stabilization techniques are imposing tasks to these areas. Some non expensive
and easy biological techniques are already known, resting to investigate the applicability of adequate materials
to each area, as well as biotechnical value of local native species. This works deals with investigating, on field
situation, the rooting stick capability of two different species, that are common on water courses edges of the
studied region: ‘sarandi-branco’ (Phyllanthus sellowianus Müll. Arg.) and ‘vime’ (Salix viminalis L.). The
experiment was developed on eroded margin of ‘Guarda-mor’ stream, in central area of ‘Rio Grande do Sul’
State, Brazil. The sticks used were from different parts of branches (base, half and tip). Sixty day after
planting, the rooting was evaluated, being found a good revegetation capability of both species. On ‘sarandibranco’ sticks, the rooting reached 78%, being significantly higher than on ‘vime’ sticks (69%). To both
species, the rooting rose up with the proximity of water level and with increasing diameter of sticks (base >
half > tip).
Key words: bioengineering; slope protection; erosion control.
INTRODUÇÃO
Dentre as inúmeras variáveis das quais depende o comportamento de um curso de água, Durlo (2001)
destaca os fatores físicos como tamanho, forma, declividade e cobertura vegetal da bacia de captação. De
acordo com o mesmo autor, o comportamento é determinado também por fatores meteorológicos como
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1. Engenheiro Florestal, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal, Centro de Ciências
Rurais, Universidade Federal de Santa Maria, CEP 97105-900, Santa Maria (RS).
2. Engenheiro Florestal, Dr., Professor do Departamento de Ciências Florestais, Centro de Ciências Rurais,
Universidade Federal de Santa Maria, CEP 97105-900, Santa Maria (RS).
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Sutili, F.J.; Durlo, M.A.; Bressan, D.A.
quantidade, intensidade e duração das precipitações; é influenciado ainda por fatores edáficos como tipo de
solo, sua profundidade e teor de umidade em determinado momento. Interagindo com esses fatores, estão as
ações antrópicas pregressas e as hoje praticadas.
Considerando esse grande número de variáveis que influenciam e determinam o comportamento de um
curso de água, a resolução definitiva de um problema simples e pontual como a erosão marginal em um
pequeno trecho do curso, muitas vezes requer, além de medidas corretivas locais, intervenções em outros
pontos do leito ou, até mesmo, em toda a bacia de recepção ou em grande parte desta.
Para que se consiga, por exemplo, a estabilidade de encostas marginais e se impeça a dinâmica de
erosão e sedimentação, comuns e indesejáveis em cursos de água, deve-se buscar soluções simples que,
associadas com uma visão mais abrangente da bacia hidrográfica, rendam melhorias estéticas, ecológicas e de
produção dessas áreas. Soluções baratas, de fácil implementação e corretas do ponto de vista ecológico, são
buscadas pela bioengenharia, ramo da ciência que usa as características biológicas e técnicas da vegetação,
combinadas à construção de pequenas obras de engenharia, com o objetivo de controlar torrentes e focos
erosivos (Gray e Leiser, 1982; Begemann e Schiechtl, 1994; Morgan e Rickson, 1995; Florineth e Gerstgraser,
2000; Durlo, 2001). Segundo Schiechtl e Stern (1994), a bioengenharia, também conhecida como ‘construção
verde’ ou ‘construção viva’, engloba um conjunto de técnicas de construção e serve-se de conhecimentos
biológicos para a estabilização de encostas de terrenos e margens de cursos de água.
Sutili (2001) menciona que as técnicas ou modelos capazes de controlar os processos erosivos e de
sedimentação de cursos de água – as obras de bioengenharia – têm seus princípios físicos conhecidos, restando
que se investiguem a disponibilidade e a aplicabilidade de materiais construtivos da região, bem como as
características biotécnicas das espécies vegetais de ocorrência local.
Como características biotécnicas adequadas entende-se: a possibilidade de reprodução vegetativa,
capacidade de suportar condições extremas (como a submersão por períodos relativamente longos, o
aterramento e a exposição parcial de suas raízes), enraizamento denso, forte e profundo, entre outras. Entre as
espécies de ocorrência local que, em um primeiro momento, parecem apresentar as características citadas
estão o sarandi-branco (Phyllanthus sellowianus Müll. Arg.) e o vime (Salix viminalis L.).
No presente trabalho, procurou-se investigar – em situação prática de campo – as características
biotécnicas dessas duas espécies potenciais, a primeira nativa e a segunda exótica.
MATERIAIS E MÉTODOS
Localização
O trecho escolhido para se testar as características das espécies citadas pertence ao arroio Guardamor cuja bacia hidrográfica é de 9.300 ha. Na sua porção final, o arroio Guarda-mor descreve seu curso
sinuoso pela localidade de Santos Anjos, distrito do município de Faxinal do Soturno-RS, cerca de 2 km antes
do seu deságüe no Rio Mello, ao qual se une pouco mais de 600 metros antes de encontrar o Rio Soturno
(Figura 1). Este, por sua vez, é tributário do Rio Jacuí, principal curso de água contribuinte da bacia
hidrográfica do Guaíba.
FIGURA 1: Mapa de localização do arroio Guarda-mor – fragmento adaptado de Brasil (1976 e 1996).
FIGURE 1: Map showing the location of the Guarda-mor stream.
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Potencial biotécnico do sarandi-branco (Phyllanthus sellowianus Müll. Arg.) e vime (Salix viminalis L.)... 15
O clima da região é subtropical do tipo ‘Cfa 2’, segundo a classificação de Köppen, caracterizado por
temperaturas anuais médias entre 17,9 – 19,2 Co, com precipitações de 1400 a 1800mm (Moreno, 1961).
O trecho em estudo compreende uma pequena porção do curso de água antecedida por uma curva, à
direita, vinda do sentido sul-norte que passa a correr no sentido oeste-leste, formando posteriormente uma
segunda curva – agora à esquerda – retomando o sentido original (Figura 2).
FIGURA 2: Detalhe do trecho do curso de água onde foi realizado o experimento.
FIGURE 2: Water course where the experiment was undertaken.
O solo da área é constituído por depósitos fluviais, predominantemente arenosos, e forma nesse trecho
um barranco de 5 metros de altura com extensão de 30 metros e com inclinação média de 75°. Em razão do
processo corrosivo contínuo resulta um trabalho de desmoronamento e posterior transporte desse material
(Figura 2).
No raio externo da primeira curva, inicia-se um processo de corrosão que se estende por parte do
trecho entre a primeira e segunda curva, ocorrendo também deposição de material no raio interno da primeira e
segunda curva. Tais situações repetem-se com freqüência nessa porção mais plana da bacia onde os cursos de
água, adquirindo um típico comportamento torrencial de planície, cavam no raio externo e, simultaneamente,
depositam material no raio interno dos trechos curvos.
Instalação do Experimento
O trabalho compreendeu dois tipos de ações complementares e indissociáveis:
a) Adequação da barranca, operação que consiste em dar um gradiente adequado para a margem,
cerca de 45°, de modo que esta possa receber o tratamento vegetativo.
b) Revegetação da barranca, objeto principal do estudo. Consistiu em realizar o plantio de estacas
(propagação vegetativa) de forma sistemática sobre a barranca (talude e coroamento), utilizando-se diferentes
partes dos ramos das espécies citadas.
Adequação da barranca
Chanframento
Com o auxílio de uma retroescavadeira foi produzida sobre a margem original uma inclinação
constante de ± 45° (ângulo β), conforme a Figura 3. Essa atenuação da declividade teve como objetivo
equilibrar as forças que influenciam na estabilidade do talude.
Coroamento
Para o coroamento, que corresponde a um arredondamento da parte superior da nova margem, foi
adotado um raio de 5 metros. Da mesma forma que o chanframento, o coroamento pretende minimizar o
potencial físico de erosão, típico dessa região, com a atenuação do ângulo vivo formado entre a linha do
chanframento e o nível do terreno (Figura 3, angulo α).
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Sutili, F.J.; Durlo, M.A.; Bressan, D.A.
β
FIGURA 3: Chanframento e coroamento do barranco.
FIGURE 3: Modelling of the stream banks.
Revegetação da barranca
Obtenção do material
As estacas, com 30 cm de comprimento, foram produzidas com base em porções da base, do meio e da
ponta (ápice) dos ramos das referidas espécies.
Para isso, selecionaram-se ramos longos de tamanho parecido (1 a 1,5 metros), facilmente obtidos no
caso dessas duas espécies. Em seguida, foram retiradas da sua base as estacas de maior diâmetro (acima de 2
cm). Da sua parte central, retirou-se uma ou, por vezes, duas estacas com diâmetro intermediário de 1 a 2
cm, separando-se os últimos 30 a 40 cm do ramo para constituírem as estacas provenientes do ápice do ramo,
com diâmetro menor que 1 cm em sua base.
Plantio
As duas espécies (sarandi-branco e vime) foram, portanto, plantadas na forma de estacas simples. O
plantio foi realizado observando-se um espaçamento de 0,5 × 0,5 m, e as estacas enterradas até 2/3 do seu
comprimento.
Foram plantados quatro conjuntos (de 5 m de largura cada) formados por duas colunas iguais de 2,5
m, cada uma plantada com uma das duas espécies, formando filas paralelas ao nível da água. A soma de 3
filas forma uma faixa que contém todos os tratamentos, isto é, as duas espécies e as três partes do ramo
(Figura 4). A ordem sorteada das espécies e das partes do ramo utilizadas em cada conjunto é a seguinte
(Figura 5):
1o Conjunto – vime e sarandi-branco, da esquerda para direita, com a seguinte ordem das partes do
ramo utilizadas para as filas: base, ponta e meio, de baixo para cima.
2o Conjunto – vime, sarandi-branco (ponta, meio e base).
3o Conjunto – sarandi-branco, vime (base, meio e ponta).
4o Conjunto – sarandi-branco, vime (meio, ponta e base).
Os conjuntos lembram blocos de um delineamento do tipo ‘blocos ao acaso’, no entanto, por causa das
características da área do experimento e da variável em questão (pegamento de estacas), as análises dar-se-ão
mediante testes não-paramétricos pela comparação das porcentagens observadas. por isso, evitou-se o termo
blocos para que não houvesse confusão.
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Potencial biotécnico do sarandi-branco (Phyllanthus sellowianus Müll. Arg.) e vime (Salix viminalis L.)... 17
FIGURA 4: Exemplo da distribuição espacial do 1o conjunto.
FIGURE 4: Distribution of the 1st group.
A margem tratada possui em alguns pontos mais de 7 metros (14 filas) em relação ao nível normal da
água (início do tratamento); no entanto, tomou-se uma faixa de 6 m (12 filas) partindo da linha de água, pois
se trata da largura máxima possível de se contar em toda a extensão tratada.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
De modo geral, o pegamento de estacas (porcentagem de estacas vivas), o tempo médio necessário
para a brotação, o enraizamento (massa de raízes) e o grau de fechamento superficial (porcentagem da área
coberta pelo volume aéreo das plantas) são características biotécnicas importantes a serem avaliadas em
material vegetal. Neste momento, estão disponíveis apenas os resultados da primeira avaliação, feita após 60
dias da implantação. As características importantes, passíveis de serem avaliadas, foram a porcentagem de
pega e o surgimento de focos de erosão, além de algumas observações gerais.
A visualização, em planta, da área tratada é mostrada na Figura 5. As estacas que brotaram 60 dias
após a implantação estão hachuradas.
faixa-1 faixa-2 faixa-3 faixa-4
o
o
o
o
1 CONJUNTO
2 CONJUNTO
3 CONJUNTO
4 CONJUNTO
Vime
Sarandi
Vime
Sarandi
Sarandi
Vime
Sarandi
Vime
MMMMMMMMMM B B B B B B B B B B P P P P P P P P P P B B B B B B B B B B
P P P P P P P P P P MMMMMMMMMMMMMMMMMMMM P P P P P P P P P P
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MMMMMMMMMM B B B B B B B B B B P P P P P P P P P P B B B B B B B B B B
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B B B B B B B B B B P P P P P P P P P P B B B B B B B B B B MMMMMMMMMM
MMMMMMMMMM B B B B B B B B B B P P P P P P P P P P B B B B B B B B B B
P P P P P P P P P P MMMMMMMMMMMMMMMMMMMM P P P P P P P P P P
B B B B B B B B B B P P P P P P P P P P B B B B B B B B B B MMMMMMMMMM
MMMMMMMMMM B B B B B B B B B B P P P P P P P P P P B B B B B B B B B B
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B B B B B B B B B B P P P P P P P P P P B B B B B B B B B B MMMMMMMMMM
FIGURA 5: Distribuição espacial do experimento considerando as espécies e as porções do ramo (P = ponta,
M = meio, B = base). As porções não hachuradas correspondem a perdas.
FIGURE 5: Experiment design: P = tip, M = half, B = base. The portions non hachured correspond to losses.
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Sutili, F.J.; Durlo, M.A.; Bressan, D.A.
A primeira evidência é a de que no 1o e 2o conjuntos, na sua 4o faixa, a mais distante do nível da água,
ocorreu a maior mortalidade. isso resulta, sobretudo, da construção da nova margem, que objetivou dar ao
barranco uma inclinação adequada. para isso, foi necessário realizar um corte (retirada do solo) da parte
superior. já nos 3o e 4o conjuntos, ao contrário, houve necessidade de aterrar o local, portanto, a menor
qualidade do solo fértil na região de cortes somada à menor umidade deste local, mais distante do curso de
água, resultaram em maior mortalidade, especialmente nos dois primeiros conjuntos, na parte superior (faixa
4).
Na faixa 1, a perda de estacas se deu especialmente por terem sido levadas pela ação erosiva do curso
de água, característica inerente a esse ponto. Essa região é reconhecidamente a mais exposta à ação da água,
sendo, por isso, vista de forma singular pela bioengenharia que busca formas especiais de proteção para o
local, de modo a favorecer o pegamento das estacas ou o desenvolvimento da vegetação nesse ponto.
A resposta das duas espécies foi bastante parecida, embora o sarandi-branco tenha apresentado um
número total de estacas pegas (vivas), após 60 dias, ligeiramente maior que o do vime. A fim de se verificar
essa diferença é significativa, executou-se o teste de X2 (qui-quadrado), seguindo as sugestões de Gomes
(1990). Na Tabela 1, são demonstrados os números de estacas vivas e perdidas (mortas ou ausentes), após 60
dias do plantio, para as duas espécies. Na Tabela 1, ao lado dos valores encontrados, estão, entre parênteses,
os números que seriam esperados ao admitir-se que o total de 128 perdas se mantivesse de forma proporcional
para ambas as espécies, não demonstrando, assim, diferença entre o pegamento das estacas das diferentes
espécies. Os valores observados (75 e 53), no entanto, são significativamente diferentes ao nível de 5% de
probabilidade de erro. O potencial de pega do sarandi-branco é, para esse caso, significativamente maior do
que o do vime.
TABELA 1: Número de estacas vivas e perdidas (mortas ou ausentes) após 60 dias do plantio, para as duas
espécies.
TABLE 1: Number of living and lost sticks (died or absent) after 60 days of planting, for the two species.
Espécie
N. de Estacas
Total
Perdidas
Vivas
Vime
75 (64)
165 (176)
240
Sarandi-branco
53 (64)
187 (176)
480
Total
128
352
480
A Tabela 2 mostra o percentual de pega das diferentes partes dos ramos das duas espécies, segregando
ainda pela posição em que foram plantadas, em relação à margem.
TABELAS 2: Porcentagem de pega das estacas, segregadas por espécie, parte do ramo e posição de plantio
em relação à margem.
TABLES 2: Percentage of survival for different parts of branch and position in the margin, for the two
species.
Faixas
Vime
Sarandi-branco
Ponta
Meio
Base
Média
Ponta
Meio
Base
Média
4º
20
55
40
38
65
60
50
58
3º
65
60
85
70
75
80
100
85
2º
75
70
90
78
80
90
100
90
1º
90
80
95
88
60
80
95
78
Média
63
66
78
69
70
78
86
78
Ambas as espécies tiveram, até o momento, um desenvolvimento mais adequado quando se utilizara
estacas produzidas partindo da base dos ramos, portanto, mais grossas.
Quanto à posição relativa ao nível da água independentemente da origem (base, meio ou ponta) do
material vegetal, nota-se que, para o vime, a proximidade com a linha de água teve influência positiva para o
índice de pega. Para o sarandi-branco a tendência parece ser a mesma chegando a 90% de pega na segunda
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Potencial biotécnico do sarandi-branco (Phyllanthus sellowianus Müll. Arg.) e vime (Salix viminalis L.)... 19
faixa, porém reduzindo para 78% na faixa 1. Esse fato aparentemente contraditório, é apenas o resultado das
características especiais que a porção mais próxima ao nível da água possui. Dito de outra forma: a menor
porcentagem de estacas vivas presentes após 60 dias nesta faixa, não se deve à mortalidade ‘natural’, mas ao
fato de terem sido arrancadas por ocasião das cheias ocorridas no período.
O sarandi-branco, cujas características ecológicas podem ser evidenciadas pela simples observação do
seu desenvolvimento natural, já ocorre de forma espontânea nas áreas mais próximas da linha de água. Sendo
assim, pode-se dizer que também essa espécie encontra, nos locais com maior umidade, ou seja, junto ao nível
da água, o seu melhor desenvolvimento.
No entanto, o experimento permitiu inferir que devem ser usadas formas especiais de plantio, como já
recomenda a bibliografia, para que o material vegetal possa se fixar e desenvolver-se nestes locais mais
próximos ao nível da água. Segundo Begemann e Schiechtl (1994), formas especiais de proteção dessa área
podem ser conseguidas com o uso de tranças vivas, feixes vivos ou com o uso de madeira e composições com
pedras e telas.
Quando foram utilizadas estacas provenientes da base e do meio dos ramos, para as faixas 1 e 2, ou
seja, até a primeira metade em relação ao nível da água no local do experimento, os índices médios de pega
atingiram percentagens de 84% para o vime e de 91% para o sarandi-branco. Para a metade mais distante do
nível da água, notadamente na faixa 4 dos dois primeiros conjuntos, os resultados não foram tão altos,
possivelmente pela falta de umidade e pelas más características (físicas e químicas) do solo, resultante do corte
da margem, com conseqüente retirada dos horizontes superficiais. Isso indica que, para tratamentos futuros,
deve-se tentar uma reposição de solo com melhores características, quando possível, nas áreas onde os cortes
para a remodelagem da barranca resultarem em exposição de horizontes mais profundos.
Além da maior mortalidade e de brotação menos vigorosa, as estacas mais finas provenientes da ponta
dos ramos mostraram, no momento da implantação, características que dificultavam o seu plantio, entre elas,
maior dificuldade em introduzi-las no solo (plantio) e quebras constantes, sendo por vezes necessário que se
produzisse o orifício de plantio com uma estaca mais resistente para depois plantá-las. Isso faz com que a
revegetação utilizando ramos muito finos, além de mais difícil e demorada, produza resultados menos
satisfatórios, o que a torna não-recomendável.
Todas as estacas consideradas vivas haviam brotado ao final de dois meses. Na ocasião, percebeu-se
um sério ataque de formigas, fato que permitiu observar melhor resposta ao ataque nas estacas mais grossas –
da base e do meio do ramo – que, por possuírem uma brotação mais vigorosa, suportaram melhor as injúrias.
As estacas produzidas partindo da ponta dos ramos, mostraram-se mais suscetíveis à decepa pelas formigas,
perdendo-se a muda por completo. Nas brotações mais vigorosas o ataque, mesmo ocasionando a perda de boa
parte das folhas e ramos novos, não resultava na morte da estaca, dando a chance de que o combate às
formigas, mesmo neste momento, ainda fosse eficaz para salvar as mudas. Visualmente, as formigas parecem
preferir o sarandi-branco ao vime.
Para as estacas provenientes da base e do meio do ramo, a perda deu-se em maior grau pela ação
erosiva, seja pelos sulcos que desenterravam as estacas ou pelo efeito de corrosão ao nível normal da água,
que juntamente com o solo cavado levava também as estacas. As estacas mais finas sucumbiam com maior
facilidade, tanto por falta de umidade como pelo ataque das formigas.
A obtenção de ramos de sarandi-branco, – mesmo sendo essa uma arvoreta freqüentemente
encontrada à margem dos cursos de água da região – é mais difícil do que no caso do vime. Nessa espécie, foi
possível retirar todo o material necessário partindo de um ou de poucos indivíduos.
A remodelagem da barranca, proporcionou, até o momento, o equilíbrio pretendido. Espera-se, agora,
que o desenvolvimento da vegetação consolide tais condições.
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Sutili, F.J.; Durlo, M.A.; Bressan, D.A.
CONCLUSÕES
As duas espécies se mostraram potencialmente aptas para a revegetação das margens de cursos de
água, a julgar pelo seu percentual de pega. Em média, o sarandi-branco mostrou um percentual de pega
significativamente superior ao vime, respectivamente, 78% e 69%.
As duas espécies apresentaram características singulares: quanto maior a proximidade com o nível da
água, maior o percentual de pega das estacas, independentemente da porção do ramo utilizada.
Quanto maior o diâmetro do material utilizado, (base > meio > ponta) tanto maior o percentual de
pega, independente da espécie e da posição em relação à margem.
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