Literatura Brasileira Professora: Pollyanna Mattos RECORDAÇÕES DO ESCRIVÃO ISAÍAS CAMINHA Lima Barreto Sobre o Autor Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881. Morreu na mesma cidade, em 1922. Mulato de família pobre, aluno brilhante, foi constantemente vítima de preconceito social e racial. Foi um homem polemico e teve sérios problemas com alcoolismo. Estilo de Época de Lima Barreto PRÉ-MODERNISMO Mas o que é o PRÉ-MODERNISMO? A Literatura Brasileira viveu, no início do século XX, um período de transição. As tendências artísticas da segunda metade do séc. XIX ainda figuravam; por outro lado, uma renovação modernista já dava sinais de existência. Os primeiros vinte anos do séc. XX constituem tal transição. Tal período, que não chega a ser considerado movimento literário, é chamado de Pré-Modernismo (o período que recebe o nome de Modernismo propriamente dito começou em 1922). Esse nome, o Pré-Modernismo, foi dato porque o período foi como um embrião para as tendências artísticas revolucionárias desenvolvidas no Modernismo. Nos primeiro anos do séc. XX, o Brasil passou por transformações políticas e sociais. Politicamente, vivia-se o período de estabilização do regime republicano e a chamada “política do cafécom-leite”, com a hegemonia do estado de São Paulo (em razão de seu poder econômico) e de Minas Gerais (era o maior colégio eleitoral do país). Muitos imigrantes chegaram ao Brasil para trabalhar na lavoura do café e na indústria. Os imigrantes que trabalhavam na indústria trouxeram idéias socialistas, que levaram às greves, às crises políticas e à formação de sindicatos. Era tempo de os escritores saírem de suas redomas e de enfrentarem o desafio de construir uma literatura que estivesse em sintonia com o momento em que era produzida. Os modelos literários do Realismo/Naturalismo eram universalizantes. Na poesia do Parnasianismo e do Simbolismo não havia interesse em analisar a realidade brasileira. A preocupação dos autores desses movimentos literários era a abordagem do homem universal, sua condição e seus anseios. Já aos escritores pré-modernistas interessavam assuntos do cotidiano brasileiro, originando-se, assim, obras que mostravam uma visão crítica da realidade brasileira. O Pré-Modernismo se inicia em 1902 com a publicação de Os sertões, de Euclides da Cunha, e se estende até 1922, ano da Semana de Arte Moderna. Os principais nomes desse período foram: Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto, Graça Aranha e Augusto dos Anjos. Todos esses autores, com exceção de Augusto dos Anjos, voltam-se para a realidade brasileira. Apesar de não constituir “escola literária”, é possível perceber traços comuns às principais obras desse período, a saber: Características do Pré-Modernismo Ruptura com o passado, com o academicismo (embora algumas posturas sejam consideradas conservadoras, há esse caráter inovador em algumas obras) – a linguagem de Augusto dos Anjos, por exemplo, ponteada de palavras “não-poéticas” (com cuspe, vômito, escarro, vermes) era uma afronta à poesia parnasiana em vigor. Lima Barreto ironiza tanto os escritores “importantes” que utilizavam uma linguagem pomposa quanto os leitores que se deixavam impressionar. Denúncia da realidade brasileira – nega-se o Brasil literário herdado do Romantismo e do Parnasianismo; o Brasil não-oficial do sertão nordestino, dos caboclos interioranos, dos subúrbios é o grande tema do Pré-Modernismo. Regionalismo – monta-se um vasto painel brasileiro: o Norte e o Nordeste com Euclides da Cunha; o Vale do Paraíba e o interior paulista com Monteiro Lobato; o Espírito Santo com Graça Aranha; o subúrbio carioca com Lima Barreto. Tipos humanos marginalizados – o sertanejo nordestino, o caipira, os funcionários públicos, os mulatos tornam-se personagens. Ligação com fatos políticos, econômicos e sociais contemporâneos – a distância entre a realidade e a ficção fica menor. A Literatura de Lima Barreto Lima Barreto estreou na literatura em 1909 com a publicação de Recordações do escrivão Isaías Caminha. Seu estilo é simples e provém muito de sua experiência como jornalista. Com linguagem objetiva e informal, descreve com clareza e simplicidade, as miudezas e o cotidiano das classes suburbanas e desprivilegiadas do Rio de Janeiro. Também denuncia os problemas de seu tempo – a desigualdade entre as classes sociais, os preconceitos racial e social sofridos por negros e mestiços, os desmandos políticos da República. Sua literatura é, portanto, militante, engajada. A condição de mulato pobre desenvolveu em Lima Barreto uma especial sensibilidade para os problemas sociais. O preconceito e a opressão são temas frequentes em suas obras, revelando traços autobiográficos, como se observa em Recordações do escrivão Isaías Caminha. Sinopse da obra Recordações do escrivão Isaías Caminha é uma eficiente denúncia do preconceito racial e social e também uma apresentação dos interesses que governam o mundo da política e do jornalismo. A obra é narrada em 1ª pessoa: é o próprio Isaías que conta sua história e ele é o personagem principal. O espaço é a cidade do Rio de Janeiro, onde Isaías foi morar. O enredo se trata da história de um jovem que deixa sua cidadezinha do interior e parte para o Rio de Janeiro com idéias de se tornar um “doutor”. Isaías inicia seu relato mostrando seu círculo familiar desde a infância, sempre retrocedendo, para enfatizar sua inteligência, destacando a sabedoria do pai e a humildade da mãe. Saiu do liceu com um ótimo currículo, pois sempre fora excelente aluno. O tio Valentim recorreu ao coronel Belmiro para que este escrevesse uma carta de recomendação ao deputado Dr. Castro. Dessa forma, Isaías vai para o Rio acreditando no sucesso. Ao chegar à cidade grande, Isaías descobre um mundo de hipocrisia e preconceito. O deputado Castro, a quem fora recomendado, trata-o com indiferença. Sem dinheiro, é obrigado a sair do hotel e passa a ser considerado suspeito de um furto ali ocorrido – suspeita-se dele por ser “mulatinho”. Na delegacia, desentende-se com o delegado e é preso. Consegue se livrar da cadeia graças a uma amizade casual que havia feito com um jornalista que era temido pelo delegado. E é justamente esse jornalista, o russo Ivã Gregoróvitch, quem o leva para trabalhar como contínuo (office-boy) na redação do jornal O Globo. Ali, no ambiente da redação, Isaías conhece o mundo da imprensa, as vaidades e interesses que dele fazem parte. Conhece, principalmente, o poder de manipulação de comportamentos e consciências que possui a palavra imprensa. Um incidente muda a vida do contínuo: Floc, o crítico literário do jornal, suicida-se em plena redação; como não encontravam o diretor do jornal, Isaías foi enviado para procurá-lo e lhe comunicar o fato. Surpreende-o em uma rodada de orgia. Para não ser desmoralizado, Loberant passa a protegê-lo e, pela primeira vez, Isaías tem a oportunidade de mostrar seus dons jornalísticos. Algum tempo depois, Isaías toma consciência de que passou a fazer parte da mediocridade do ambiente do jornal. Manifesta vontade de deixar o Rio de Janeiro, vai para Caxambi, no Espírito Santo, onde passa a trabalhar como escrivão. Um dia, ao ler, num artigo de revista, que negros e mulatos, apesar de manifestarem inteligência na infância, raramente continuam a fazê-lo quando adultos, resolve escrever suas memórias para, de algum modo, mostrar ao tal autor do artigo, que, nas suas palavras: “sendo verdadeiras suas observações, a sentença geral que tirava não estava em nós, na nossa carne e nosso sangue, mas fora de nós, na sociedade que nos cercava, as causas de tão feios fins de tão belos começos”. Principais Personagens • Ricardo Loberant – diretor do jornal, tipo alto e magro que soube trabalhar para fazer valer sua vontade de ver crescer o jornal. O jornal onde trabalhava “trazia novidade: além de desabrimento de linguagem e um franco ataque aos dominantes, uma afetação de absoluta austeridade e independência (...) O Globo levantou a crítica, ergueu-a aos graúdos, ao presidente, aos ministros, aos capitalistas, aos juízes, e nunca houve tão cínicos e tão ladrões.” Dirigia o jornal mais polêmico do Rio de Janeiro na época e, sem dúvida, um dos mais vendidos devido à frieza e ao senso crítico que desenvolvia. Sua autoridade deixava marcas profundas em seus subalternos. • Leporace – arrogante secretário do jornal. “sumidade em literatura e jornalismo, árbitro do mérito, distribuidor de gênios e talentos”. • Frederico Lourenço do Couto – assinava artigos com o pseudônimo de Floc. Era respeitado por entender de literatura e assuntos internacionais, por isso era considerado a alta intelectualidade do jornal. Não se metia em polêmicas ou em escândalos. Isaías comparava-o a uma águia. • Gregoróvitch – esse russo era a artilharia do jornal. Em estilo arrojado e violento, tecia críticas aos adversários. Bons estudos e boa prova! Professora Pollyanna Mattos