UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA FEAU: FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA E URBANISMO CURSO: ENGENHARIA DOS MATERIAIS COMPOSTO BLINDADO FABRICAÇÃO A PARTIR DA COLAGEM DE PASTILHAS DE AÇO SINTERIZADO COM TECIDO DE ARAMIDA Autores: João Antônio Pontes Martins Marco Antônio de Elias ____________________________________________ Orientadora: Profª MSc. Erika Peterson Gonçalves ____________________________________________ Co - Orientador: Engª MSc. Juliana Machado da Mota São José dos Campos – SP Dezembro, 2012 1 JOÃO ANTONIO PONTES MARTINS MARCO ANTONIO DE ELIAS COMPOSTO BLINDADO FABRICAÇÃO A PARTIR DA COLAGEM DE PASTILHAS DE AÇO SINTERIZADO COM TECIDO DE ARAMIDA Relatório final apresentado como parte das exigências da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso à banca avaliadora do curso de Engenharia dos Materiais da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Paraíba. Orientadora: Gonçalves. Profª MSc. Erika Peterson Co - Orientador: Engª MSc. Juliana Machado da Mota. São José dos Campos, SP - 2012 FOLHA DE APROVAÇÃO JOÃO ANTONIO PONTES MARTINS MARCO ANTONIO DE ELIAS COMPOSTO BLINDADO FABRICAÇÃO A PARTIR DA COLAGEM DE PASTILHAS DE AÇO SINTERIZADO COM TECIDO DE ARAMIDA Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial a obtenção da Graduação de Engenheiro de Materiais do Curso de Engenharia dos Materiais da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Paraíba – São José dos Campos, SP, pela seguinte banca examinadora: Presidente da Banca: _________________ Orientadora (UniVap): Profª MSc. Erika P. Gonçalves _________________ Co – Orientador (externa): Engª MSc. Juliana M. da Mota _____________ Profº Doutor Diretor da FEAU – Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo - UNIVAP São José dos Campos, Dezembro, 2012. DEDICATÓRIA A nossa família, esposa e filhos pela compreensão e apoio durante todos os anos de duração do curso. AGRADECIMENTOS À ALLTEC Indústria de Componentes em Materiais Compostos LTDA, por ter proporcionado a oportunidade e condições da realização da fabricação do composto blindado. À BCA Têxtil LTDA, por ter proporcionado a realização de ensaio balístico. A UNIVAP – Universidade do Vale do Paraíba, pela realização do curso de Graduação em Engenharia de Materiais. À Profª. MSC Erika Peterson Gonçalves pela orientação técnica ao longo do trabalho. À Engª MSC Juliana Machado da Mota nossos sinceros agradecimentos pelo apoio, orientação e entusiasmo demonstrado ao longo do trabalho. ALLTEC, A Engª Juliana Mota, pelo apoio na execução da laminação manual do composto blindado, a Engº Liliana Nohara, pelas pesquisas bibliográficas e demais funcionários que colaboraram de alguma forma neste trabalho. BCA Têxtil, a Engª Joseana Betisa Vernini pelo apoio de viabilizar o ensaio balístico, ao Gerente de Qualidade Fábio Zangari pelo apoio e análise do ensaio balístico e ao Diretor André Nestor Bertin, pela autorização e confiança da realização do ensaio. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Principais formas geométricas dos pós ...................................................................... 6 Figura 2 – Principais formas de caracterizar o tamanho das partículas...................................... 6 Figura 3 - Esferas utilizadas para o processo de “Shot Peening”. ............................................. 7 Figura 4 - Detalhe da esfera utilizada no processo de “Shot Peening”. ..................................... 7 Figura 5 - Matriz utilizada para gerar as pastilhas pelo processo da metalurgia do pó. ............. 8 Figura 6 - Prensa hidráulica manual utilizada na fase de compactação a frio. ........................... 9 Figura 7 - Representação esquemática da influência da pressão X densidade a verde. ........... 10 Figura 8 - Representação esquemática de três esferas de sinterização ..................................... 12 Figura 9 - Figura mostrando a relação entre propriedade versus temperatura de sinterização 12 Figura 10 - Curva de sinterização utilizada para a pastilha metálica ....................................... 13 Figura 11 - Forno utilizado na sinterização das pastilhas......................................................... 14 Figura 12 - Pastilhas após a sinterização .................................................................................. 14 Figura 13 - Forno utilizado para o processo de tratamento térmico das pastilhas.................... 15 Figura 14 - Estufa utilizado na secagem das pastilhas ............................................................. 15 Figura 15 - Ilustração da estrutura da aramida ......................................................................... 16 Figura 16 - Esquema de montagem das camadas de aramida .................................................. 17 Figura 17 - Detalhe da aplicação do adesivo na manta de aramida .......................................... 18 Figura 18 - Adesivo a base de Poliuretano aplicado na manta de aramida .............................. 18 Figura 19 - Configuração do painel de composto blindado para ensaio balístico .................... 19 Figura 20 - Colagem das pastilhas de aço na placa de aramida ............................................... 19 Figura 21 - Placa balística após o envelopamento.................................................................... 20 Figura 22 - Estativa utilizada no ensaio.................................................................................... 21 Figura 23 - Cronografo Oehler utilizado para mensurar as velocidades de disparo................ 21 Figura 24 - Munição utilizada no ensaio – 9 mm FMJ............................................................. 22 Figura 25 - Detalhes da região da superfície da pastilha .......................................................... 24 Figura 26 - Disposição das pastilhas de aço na manta de aramida ........................................... 25 Figura 27 - Detalhe da placa e da face antes do impacto do projétil ........................................ 26 Figura 28 - Detalhe da placa e da face após o impacto do projétil. .......................................... 27 Figura 29 - Detalhe da placa e da face posterior após o impacto do projétil............................ 27 Figura 30 - Detalhe da localização dos impactos dos projéteis. ............................................... 28 Figura 31 - Detalhe do projétil alojado na placa blindada........................................................ 29 Figura 32 - massa residual do projétil calibre 9 mm FMJ ........................................................ 29 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Percentual de carbono nas esferas utilizadas para a compactação a frio................... 7 Tabela 2 - Temperatura e tempos de sinterização de diversos materiais.................................. 11 Tabela 3 - Dimensões das pastilhas após as fases de fabricação .............................................. 23 Tabela 4 - Dimensões do composto blindado........................................................................... 25 Tabela 5 - Massas específicas de diversos materiais ................................................................ 25 Tabela 6 - Referência do método utilizado no ensaio balístico ................................................ 26 Tabela 7 - Distância entre os impactos dos projéteis ............................................................... 27 Tabela 8 - Identificação do projétil x velocidades dos impactos .............................................. 28 SIMBOLOGIA E ABREVIATURAS HRC Dureza Rockweell (kgf/mm²) HB Dureza Brinell (kgf/mm²) NIJ National Institute of Justice FMJ Full Metal Jacket NEB Norma do Exército Brasileiro M/P Metalurgia do Pó Q/T Qualquer Terreno RESUMO O desenvolvimento que se tem verificado nas últimas décadas, em decorrência da aplicação de novos materiais, vem impulsionando as empresas de projeto e aplicação de compostos blindados a diversificar cada vez mais sua utilização em todos os seguimentos da sociedade. A avaliação do desempenho de uma blindagem composta depende da interação do projetil (munição) com o alvo e consiste, basicamente, na verificação qualitativa dos níveis de penetração e do dano causados pelo impacto. A combinação dos materiais e espessura envolvidos no composto é um fator fundamental para o bom desempenho da placa, bem como a busca por compostos cada vez mais leves e mais resistentes. Este trabalho teve como principal objetivo contribuir para o desenvolvimento de um composto blindado a partir do reaproveitamento de esferas de aço provenientes do tratamento mecânico chamado “shot peening”, onde foi transformada em pastilhas de aço, mediante a utilização do processo de “Metalurgia do Pó”. A fabricação do composto foi conseguida através da laminação manual de mantas de aramida, utilizando o adesivo “Sikaflex 252” para a união das mantas e das pastilhas de aço. O trabalho foi baseado em pesquisas bibliográficas e de resultados práticos conseguidos em ensaios de laboratórios. O nível de proteção balística requerida foi baseado na norma NBR ABNT 15000:2005 equivalente à norma NIJ (National Institute of Justice) Nível II – munição tipo 9 mm FMJ. Palavras-Chave: Composto Blindado; Metalurgia do Pó; Esferas de Aço; Aramida; Resistência Balística. ABSTRACT The development that has occurred in recent decades, due to the application of new materials, has been pushing companies of design and application of armored compounds diversify, more and more their use in all segments of society. Performance evaluation of a composite armor depends on the interaction of the projectile (ammunition) with the target and basically consists in verifying qualitative levels of penetration and the damage caused by the impact. The combination of material and thickness involved in the compound is a key factor to the performance of the board, as well as the search for compounds more lighter and stronger. This work aimed to contribute to the development of a armored compounds from the reuse of steel balls from the mechanical treatment called "shot peening", which was transformed into tablets steel, using the process of "Powder Metallurgy ". The manufacture of the compound was achieved by manual lamination webs aramid, using the adhesive "Sikaflex 252" for joining the webs and tablets of steel. The work was based on library research and practical results achieved in laboratory tests. The level of ballistic protection required was based on the standard ABNT NBR 15000:2005 equivalent to NIJ (National Institute of Justice) Level II – 9 mm FMJ ammunition type. Keywords: Armored compounds; Powder Metallurgy; Steel Balls; Aramid; Ballistic Resistance. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 1 MATERIAIS E MÉTODOS....................................................................................................... 4 Materiais ................................................................................................................................. 4 Processo da metalurgia do pó e a seleção dos pós metálicos.................................................. 4 Preparação para a prensagem a frio..................................................................................... 6 Compactação. ...................................................................................................................... 7 Sinterização. ...................................................................................................................... 10 Aramida ............................................................................................................................. 15 Fabricação da manta de material composto. ..................................................................... 16 Blindagem Composta: Montagem e Caracterização ............................................................. 18 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................. 23 CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 32 ANEXO 1 – TABELAS DE PROTEÇÃO BALÍSTICA ......................................................... 32 ANEXO 2 – PROPRIEDADES DO ADESIVO Sikaflex®-252 ............................................. 34 INTRODUÇÃO Mesmo antes da Idade do Bronze, o homem já utilizava armaduras durante as guerras. O escudo era sua principal peça de proteção, e era confeccionado em madeira revestida com couro. As armas utilizadas nessa época eram pedras, lanças, dardos, clavas ou flechas lançadas por arcos. Os demais itens de proteção utilizados por esses antigos guerreiros eram feitos de couro, vime, tecidos acolchoados ou madeira. [1] Na Idade do Bronze, o homem aprendeu a confeccionar punhais, machados e flechas com pontas metálicas, tornando obrigatória a utilização do metal em blindagens. Surgem então capacetes, proteções para o peito e pernas inteiramente feitos de metal. Devido à sua grande flexibilidade, o couro continuou sendo utilizado juntamente com o metal, marcando o início das armaduras mistas. Os sumérios usavam uma couraça cravejada com discos metálicos, enquanto os gregos combinavam bronze com revestimento de couro, conforme descrito na ilíada. [1] Na idade do ferro, as armaduras de bronze deram lugar ao novo metal, e as longas espadas foram substituídas pelo punhal. Por volta de 1000 A.C., as armas, carruagens e armaduras do exército assírio foram completamente confeccionados em aço. As falanges gregas vestiam pesadas armaduras para proteção peitoral e carregavam um escudo redondo. Seus exércitos obtinham grandes vitórias nos campos de batalha, mas por razões táticas e econômicas a heroica Grécia possuía tropas que utilizavam apenas armaduras leves e práticas. Em 400 A.C., o general grego Xenofontes teve que convencer seu exército de 10.000 homens a retirar suas pesadas armaduras para acelerar o deslocamento através do terreno montanhoso da Armênia. [1] Durante a conquista do México, os espanhóis utilizavam espessas armaduras de algodão capazes de proteger contra flechas e lanças [1]. Mas com o advento das armas de fogo, essas armaduras foram imediatamente abandonadas, tornando obrigatório o retorno do metal. Porém, o excessivo peso das blindagens metálicas tornou-se incompatível com a mobilidade exigida pelas guerras modernas, inviabilizando sua utilização como elemento de proteção. Um novo tipo de combate começou a ser colocado em prática a partir da 1ª Guerra Mundial. A utilização de trincheiras protegiam os soldados dos projéteis disparados por armas de fogo. Logo, com a entrada nos tanques de guerra no cenário das guerras, iniciou-se então uma corrida tecnológica entre blindagem dos carros de combate e o poder penetrante dos armamentos. [1] 1 Como visto, desde os antigos tempos até os dias atuais, as blindagens vêm sendo modificadas de acordo com o armamento, as táticas, processos de fabricação e os fatores econômicos. Quando as armas utilizadas são capazes de destruir a blindagem, ela é aperfeiçoada para derrotar o armamento, ou então é abandonada para melhorar a mobilidade da tropa. O aperfeiçoamento da precisão e do poder de fogo das armas modernas têm aumentado a probabilidade e a severidade dos impactos contra pessoas e equipamentos em situação de combate. [1] O termo blindagem composta é utilizado quando o produto final é formado pela combinação de dois ou mais materiais com propriedades diferentes que atuam de forma conjunta, de forma a complementar a deficiência do outro material durante o impacto e o processo de penetração do projétil. A blindagem deve assegurar proteção balística para cada nível requerido, submetidos a impactos aceitáveis e sem a ocorrência de perfuração. [2] Durante o impacto balístico num alvo, a carga varia de compressão para tração e cisalhamento e, nenhum material possui uma resistência máxima para essa combinação de cargas [3]. Em sua grande maioria, um determinado material possui uma determinada característica mecânica elevada, como por exemplo, compressão, mas, o mesmo material pode apresentar uma baixa propriedade á tração. A solução para este impasse é aliar a um composto blindado as propriedades que combinam e explorar as vantagens mecânicas dos dois materiais aplicados à resistência balística. Os projetos atuais de proteção balística estão voltados para a relação nível de proteção / peso. Outro fator importante aplicado a veículos blindados terrestres é a relação peso/potência. Essa relação é fundamental para a mobilidade do veículo em QT (Qualquer Terreno). Atualmente existem muitos estudos e novas propostas de materiais e compostos blindados, visando, a redução da massa e, tornando as proteções mais leves, favorecendo a mobilidade e redução da energia gasta. A aplicação de compostos blindados iniciou-se no século XX, mas teve uma grande evolução a partir do início do século XXI com a introdução dos tecidos na composição das blindagens. Os principais tecidos utilizados são; a fibra de vidro, depois o nylon, a aramida e mais recentemente, as fibras de polietileno de ultra peso molecular. Existem muitas combinações de materiais utilizados como composto blindado, mas, os principais são; a. Placa metálica mais a adição de placa cerâmica; b. Placa metálica mais a adição de placa polimérica; 2 c. Placa cerâmica mais a adição de placa polimérica. A escolha dos compostos blindados são realizados de acordo com o nível de proteção requerida, custos, densidade e o processo de fabricação do composto, processo de montagem do composto e facilidade de reparos em caso de avarias. Um dos métodos de fabricação que se pode utilizar para a geração de pastilhas metálicas para a aplicação em compostos blindados é o processo de Metalurgia do Pó. A Metalurgia do Pó consiste de dois processos principais; a compactação e a sinterização. As matérias primas para este processo na sua grande maioria são pós-metálicos em forma de esferas, acicular, irregular, dendrítica, arredondado, poroso e andular. A origem da matéria prima para a fabricação das pastilhas de aço utilizando a Metalurgia do Pó será de um processo mecânico onde são utilizados esferas de aço (Steel Shot) denominado “Shot Peening”. Este processo que gera uma tensão residual de compressão na superfície de peças metálicas provocada pelo bombardeamento de esferas metálicas a velocidades relativamente elevadas (20 a 100 m/s), provocando uma conformação mecânica a frio. O processo pode ser aplicado em todos os tipos de metais, podendo compreender toda superfície da peça ou concentrado em uma área especificada. Pode ser aplicado também a peças de formatos uniformes ou irregulares. As esferas metálicas atuam como um pequeno martelo, gerando assim uma tensão residual na superfície tratada. [4] O presente trabalho tem por objetivo propor a fabricação de um composto blindado, utilizando-se de pastilhas de aço produzidos pelo processo de Metalurgia do Pó coladas com adesivo a base de poliuretano “SIKAFLEX 252” contra uma placa de Aramida Estrutural. Os pós-metálicos utilizados serão de origem de um reaproveitamento a partir de esferas de aço carbono do processo de jateamento denominado “Shot Peening” que são consideradas rejeitos (sucata) após algumas utilizações. Também irá indicar as principais aplicações do composto e sugestões de trabalhos futuros. 3 MATERIAIS E MÉTODOS Materiais Neste trabalho foram utilizados como material metálico básico, esferas de aço provenientes do processo de “shot peening”, placa de material polimérico a partir de tecido de aramida estrutural e adesivo tipo “SIKAFLEX 252” para a colagem das pastilhas metálicas à placa de aramida. Processo da metalurgia do pó e a seleção dos pós-metálicos Metalurgia do pó é um processo de fabricação que produz peças tendo como matériaprima pó metálico ou não. O processo consiste em compactar e/ou modelar a mistura e aquecê-la (etapa chamada de sinterização), com o objetivo de melhorar a coesão da estrutura interna do material. A característica específica do processo é que a temperatura permanece abaixo da temperatura de fusão do elemento constituinte principal. A metalurgia do pó é um processo em que a economia de material é levada ao extremo, com mínimas perdas de matéria-prima (as perdas na usinagem convencional, por exemplo, podem chegar a 50%). Certas ligas podem ser obtidas pela metalurgia do pó a custos várias vezes inferiores do que se fossem produzidas pela metalurgia convencional. A possibilidade de conjugar peças simples e partes sinterizadas também representa um importante fator de economia de custos, com preservação de qualidade do produto final. O controle exato da composição química desejada do produto final, a redução ou eliminação das operações de usinagem, o bom acabamento de superfície, a pureza dos produtos obtidos e a facilidade de automação do processo produtivo são alguns dos motivos que tornam a Metalurgia do Pó uma fonte produtora de peças para praticamente todos os ramos da indústria, como o automobilístico, de informática, aeroespacial, de material eletroeletrônico, de equipamentos e implementos agrícolas, têxtil e tantos outros. Entretanto, algumas limitações ainda não superadas tornam a Metalurgia do Pó uma solução inviável em algumas situações. Por exemplo, a peça tem que ser extraída de uma matriz, o que dificulta a produção de componentes com certas características geométricas (furos, rasgos etc.), que devem ser obtidas por processo de usinagem posterior. Vantagens: o Perda mínima de matéria-prima; o Controle rigoroso da composição química; 4 o Boa tolerância dimensional, dispensando operações posteriores de usinagem; o Homogeneidade estrutural e de propriedades; o Bom acabamento superficial; o Uso mais eficiente de energia; o Processo de fácil automação. Desvantagens: o Alto custo inicial do ferramental, sendo necessárias grandes produções para compensar o investimento; o Tamanho e formato limitado das peças; o Impede processo posterior de soldagem, devido ao comprometimento das propriedades físicas e químicas devido à porosidade da peça. O processo da Metalurgia do Pó utiliza pós-metálicos que podem ser conseguidos por vários processos, sendo que sua escolha depende do conjunto de propriedades do material e das características que se quer para o componente final, em função da aplicação pretendida. Os principais são: o Métodos mecânicos - quebra e moagem; o Cold-stream; o Atomização; o Processo de redução química; o Processo de eletrólise. Uma das características mais importantes e que influenciam as propriedades mecânicas finais do componente é a forma e o tamanho das partículas individuais. Para o projeto de uma peça sinterizada, a distribuição granulométrica das partículas é outra informação importante. Os vários métodos de obtenção de pó metálicos conduzem a diversas formas, tamanhos, distribuição e outras características dos pós, sendo imprescindível o domínio do processo de obtenção e caracterização dos pós para se chegar a uma peça final que atenda os requisitos para que foi projetado o componente. Quanto à forma geométrica, as mais comuns são; acicular, dendrítica, angular, fibrosa, granular, porosa, nodular, irregular ou esférica, mostradas na figura 1. [5] 5 Figura 1 - Principais formas geométricas dos pós. [5] Quanto ao tamanho, o diâmetro médio das partículas influencia algumas características do produto final. Por exemplo, uma partícula maior permite maior compactação, enquanto uma menor permite uma superfície com menor rugosidade. A figura 2 mostra algumas formas de caracterizar o tamanho das partículas. [6] Figura 2 – Principais formas de caracterizar o tamanho das partículas. [6] Preparação para a prensagem a frio A esfera de aço carbono utilizada é proveniente do processo de jateamento denominado “Shot Peening”. O diâmetro das esferas utilizadas este trabalho foram as denominadas “S70”, com granulometria nominal de 0,007 de polegadas (0,1778 mm), e dureza inicial de 55/62 HRC. As figuras 3 e 4, mostra de uma forma geral as esferas utilizadas no processo de jateamento “Shot Peening”. 6 Figura 3 - Esferas utilizadas para o processo de “Shot Peening” (Ampliação 100X). Figura 4 - Detalhe da esfera utilizada no processo de “Shot Peening”(Ampliação 200X). A análise química das esferas apresentaram os valores conforme a tabela 1. Tabela 1 – Percentual de carbono nas esferas utilizadas para a compactação a frio. Carbono Enxofre (%) (%) Análise 1 0,763 0,0137 Análise 2 0,764 0,0099 As esferas utilizadas possuem um alto percentual de carbono que influência na dureza do material e na compactação. Foi utilizado o tratamento térmico de normalização, que tem como objetivo principal, refinar a granulação e conferir ao aço, estruturas uniformes e, para se reduzir a dureza do material, tornando-os mais dúcteis e facilitar a compactação a frio [7]. As esferas foram aquecidas a uma temperatura de 900 °C e mantidas em neste patamar por 1 hora, seguida de resfriamento ao ar. Após a normalização, a dureza das esferas reduziram para 22 HRC. Compactação Nesta etapa, uma quantidade calculada de pó é colocada na cavidade de uma matriz montada em uma prensa de compressão, que pode ser mecânica ou hidráulica. A compactação 7 ocorre por deslocamentos simultâneos ou não dos punções superior e inferior, à temperatura ambiente. A figura 5 mostra a matriz utilizada no processo da compactação das pastilhas. Figura 5 - Matriz utilizada para gerar as pastilhas pelo processo da metalurgia do pó. A matriz utilizada fornece pastilhas com diâmetro de 2 cm e, é de propriedade da UNIVAP. Nos primeiros movimentos do punção, a compactação causa apenas o adensamento do pó, sem deformação das partículas e sem produzir adesão entre elas. Com o aumento da pressão aplicada nas pastilhas de aço sinterizado, que varia de 1600 a 9300 kg/cm² ocorre deformação plástica das partículas, formando uma espécie de “solda fria”. A compactação gera uma peça com formato final ou aproximado à peça a ser fabricada, chamada de compactado verde. É muito frágil, e o manuseio inadequado pode “esfarelar” a peça. Outros objetivos da compactação: o Conferir dimensões finais, considerando as variações causadas pela etapa de sinterização; o Conferir densidade a verde adequada; o Conferir resistência a verde suficiente para o manuseio cuidadoso; o Otimizar o contato entre as partículas para que a sinterização tenha boa eficiência; o Dar ao pó a forma final da peça. O projeto da peça é muito importante, porque pode acarretar nessa etapa a formação da zona neutra, apresentando uma região em que as partículas sofreram menores pressões de compactação, gerando uma peça final heterogênea, com zonas de propriedades diferentes em relação a outras partes da peça. Certos tipos de geometria de peça são inviáveis justamente devido à formação de zonas neutras. A figura 6 mostra a prensa hidráulica de acionamento manual marca Marcon modelo PHS 15T utilizada na compactação a frio. 8 Figura 6 - Prensa hidráulica manual utilizada na fase de compactação a frio. O princípio da compactação apresenta três estágios distintos quando os pós são comprimidos: o Primeiro Estágio: As partículas de pó são remontadas e ou rearranjadas, de modo a eliminar parcialmente a formação de vazios, formação essa que sempre acontece quando se empilha a esmo partículas de pó. o Segundo Estágio: Envolve a deformação plástica das partículas. A profundidade da formação plástica depende da ductilidade do pó e de outras características do material. A deformação é mais profunda em metais dúcteis. o Terceiro Estágio: As partículas de pó que ficaram frágeis devido ao encruamento dos estágios anteriores, quebram e formam fragmentos menores. Um fator importante no processo da compactação é que, se aumentar a pressão, a densidade da massa de pó aumenta e a porosidade diminui. A figura 7 mostra a relação entre a pressão de compactação com a densidade a verde, levando em consideração fatores como, o tamanho da partícula, a dureza e a velocidade da compactação. 9 Figura 7 - Representação esquemática da influência da pressão X densidade a verde. [8] Neste trabalho, foi utilizada uma força de 12000 kgf para a compactação a frio com uma pressão sobre a superfície da pastilha na ordem de 3819,7 kgf/cm², conforme equação 1. Força aplicada: 12000 kgf. Área: Ø da pastilha de 2 cm ∴ A = 3,1416 cm². Pressão: P = F/A = equação 1 Sinterização É a etapa mais importante do processo de fabricação de uma peça metálica por Metalurgia do Pó, pois é neste estágio que ocorrem importantes mudanças que determinam as propriedades mecânicas, elétricas, magnéticas e óticas do produto final. O perfeito processamento do pó antes da sinterização é fundamental para o sucesso desta etapa. [1] A sinterização consiste no aquecimento dos compactados verde, obtidos na operação de compactação, a temperaturas elevadas, porém abaixo do ponto de fusão do metal ou do principal constituinte da liga metálica considerada, sob condições controladas de tempo, temperatura e meio ambiente. [8] O compactado a verde, dentro ou fora da matriz, é aquecido a temperaturas altas, mas que permanecem abaixo da temperatura de fusão do metal base. O tempo de aquecimento 10 melhora o mecanismo de coesão do compactado para uma determinada temperatura. Em contrapartida, temperaturas próximas às de fusão do metal, geram obtenção da força coesiva máxima em um curto espaço de tempo, geralmente segundos. Normalmente, a temperatura especificada de sinterização é da ordem de 2/3 a 3/4 da temperatura de fusão da liga considerada [8]. A tabela 2 mostra as temperaturas e os tempos usuais de diversos materiais empregadas em Metalurgia do Pó. Os tempos se referem à permanência do material no interior do forno. Tabela 2 - Temperatura e tempos de sinterização de diversos materiais. [8] O controle da atmosfera do forno também influência nas propriedades finais da peça. São quatro as funções do controle da atmosfera: previne ou minimiza reações químicas entre o compactado verde e os gases da atmosfera; evita oxidação; remove impurezas superficiais e internas existentes; e eventualmente, fornece um ou mais elementos químicos para se ligarem com o compactado verde. A sinterização é feita, normalmente, em fornos contínuos, caracterizados por três zonas de operação: pré-aquecimento, manutenção da temperatura e resfriamento. Durante a sinterização ocorrem reações químicas e físicas entre as partículas, reduzindo e em alguns casos até eliminando a porosidade existente no compactado verde. A contração do compactado verde, em comparação com a peça final, chega a ser de 40% do volume, sendo uma redução linear de cerca de 16%. Os fenômenos que ocorrem na sinterização são os seguintes: ligação inicial entre partículas; crescimento da ligação; fechamento dos canais que interligam os poros; arredondamento dos poros; densificação ou contração dos poros; crescimento eventual dos poros. A figura 8 mostra a sequência do efeito da temperatura de sinterização na ligação entre as partículas. 11 Figura 8 - Representação esquemática de três esferas de sinterização. (a) pontos originais de contato; (b) crescimento do pescoço; (c) e (d) arredondamento dos poros. [8] O processo de sinterização também é responsável por atribuir as propriedades físicas e mecânicas da peça em relação a temperatura de sinterização. A figura 9 mostra a relação das propriedades da peça em relação a temperatura de sinterização. Pr op rie da de Temperatura 12 Figura 9 - Figura mostrando a relação entre propriedade versus temperatura de sinterização [8]. Para a sinterização, os corpos de prova em forma de pastilhas cilíndricas foram colocados em uma placa de material refratário e sinterizadas a uma temperatura de 1200 °C por uma hora na região de patamar. A curva de sinterização utilizada foi: até a temperatura de 600 °C com uma taxa de 2 °C/min, de 600 a 1200 °C a uma taxa de 5 °C/min, permanência no patamar de 1200 °C por 1 hora, resfriamento a uma taxa de 10 °C/min até a temperatura de 600 °C, o forno é desligado automaticamente e, os CDP’s resfriam-se dentro do forno, conforme ilustrado na figura 10. O forno utilizado para a sinterização foi da marca/ modelo Lindberg – Blue para queimas de até 1700 °C, conforme mostrado á figura 11. Figura 10 - Curva de sinterização utilizada para a pastilha metálica. 13 Figura 11 - Forno utilizado na sinterização das pastilhas. A figura 12 mostra as pastilhas já sinterizadas e prontas para a fase seguinte de tratamento térmico. Figura 12 - Pastilhas após a sinterização. Após a sinterização, as pastilhas foram submetidas a tratamentos térmicos convencionais para melhoria das propriedades mecânicas. Neste caso foi aplicado o tratamento térmico chamado têmpera para obter a constituinte estrutural acicular (em forma de agulhas) chamado de martensita [7]. A têmpera consiste no aquecimento do aço até sua transformação austenítica, seguindo da maior velocidade de resfriamento, ou seja, resfriamento na velocidade crítica de têmpera. A estrutura Martensita é a solução de ferro alfa supersaturada de carbono, sendo a cementita, o constituinte mais duro e frágil dos aços. A obtenção da martensita visa o aumento do limite de resistência à tração e da dureza do aço [7]. A figura 13 mostra o forno marca Tecnal modelo EDGcon 5P – 1800, utilizado para o processo de têmpera das pastilhas. 14 Figura 13 - Forno utilizado para o processo de tratamento térmico das pastilhas. O tratamento térmico aplicado foi a têmpera. A temperatura utilizada foi a de 850 °C e resfriado na água. Após o tratamento térmico das pastilhas, as mesmas foram encaminhadas a uma estufa marca Quimis modelo Q–317 B252, para a eliminação da umidade, visando a redução de pontos de oxidação devido á água. A figura 14 mostra a estufa utilizada para e secagem das pastilhas após o tratamento térmico. Figura 14 - Estufa utilizada na secagem das pastilhas. Aramida O outro material utilizado para a fabricação do composto blindado foi o tecido de aramida, que inicialmente foram introduzidas em 1971 nos produtos comerciais, como reforços em pneus, cintos e outros produtos relacionados a borracha. Depois de alguns anos foram amplamente usadas em proteções balísticas e como reforço para compósitos de alto 15 desempenho. A Aramida também é conhecida como Kevlar®, que é o nome que a empresa DuPont® designou para o material feito de fibra sintética poli(parafenileno tereftalamida) construído de fibras p-aramida, cuja estrutura está apresentada na figura 15 [9]. Segundo informações da companhia, é cinco vezes mais resistente se comparado com o mesmo peso em aço. Figura 15 - Ilustração da estrutura da aramida. A resistência ao impacto da fibra de aramida é bem conhecida e justifica sua utilização como material de blindagem em automóveis e em dispositivos de proteção pessoal [10]. Para compósitos balísticos, o desempenho das fibras depende da taxa de absorção de energia e dos mecanismos de fratura dinâmica durante o impacto. Normalmente, os compósitos avançados podem absorver uma energia muito maior do que os materiais metálicos convencionais. Muitas vezes empregam-se tecidos com a finalidade de evitar propagação das linhas de ruptura e desempenhar uma função estrutural e de proteção aos compósitos. [11] Karahan [11] investigou o desempenho balístico e a absorção de energia das fibras de aramida. No painel balístico foram avaliadas as propriedades balísticas em diferentes números de camadas de fibras de aramida do tipo Twaron CT710. A geometria do trauma causado pelo impacto do projétil está relacionado com a energia transmitida para a parte posterior do painel. O número de camadas é o parâmetro mais importante para a avaliação da profundidade do diâmetro do trauma dos painéis. [11] Fabricação da manta de material composto A fabricação da placa de material composto foi realizada com a junção de mantas de aramida e de pastilhas cilíndricas de aço, utilizando a moldagem manual (hand lay-up). O 16 processo de moldagem manual foi realizado nas instalações da empresa Alltec – Indústria de Componentes em Materiais Compostos. O processo de laminação manual se caracteriza pela simplicidade de procedimentos de manufatura de compósitos, não envolvendo nenhum investimento em equipamentos de processo para a manufatura [12]. O processo de laminação manual foi realizado por uma sobreposição de camadas de aramida. As camadas foram empilhadas conforme mostrado na figura 16, subsequentemente, compactadas umas as outras manualmente, de tal modo que a orientação da direção varia de acordo com cada camada. As camadas são montadas manualmente, sobre uma placa metálica plana e compactadas com auxílio de uma espátula plástica, para eliminação de rugas, desalinhamento das fibras e retenção de ar. Foram utilizadas 20 camadas do tecido de aramida estrutural para a fabricação da placa de aramida. CAMADAS DE TECIDOS PLACA METÁLICA (MESA) Figura 16 - Esquema de montagem das camadas de aramida. O processo inicia-se pelo tratamento da superfície da placa metálica (base de apoio), com a aplicação de um desmoldante, que servirá de mesa de apoio e de molde para a laminação manual. O produto desmoldante serve para facilitar a remoção da placa após o processo de cura. Sobre as camadas de aramida são colocadas sucessivamente filmes de adesivo a base de poliuretano “SIKAFLEX 252” e prensados manualmente. A figura 17 mostra o aplicador manual utilizado para depositar o adesivo na manta de aramida. 17 Figura 17 - Detalhe da aplicação do adesivo na manta de aramida. Desta forma, haverá sempre uma camada de aramida intercalada com uma camada de adesivo. As figuras 18 mostram a sequência da laminação da manta de aramida. (a) Aplicação do adesivo (b) distribuição do adesivo (c) Final da aplicação do adesivo Figura 18 - Adesivo a base de Poliuretano aplicado na manta de aramida. Blindagem Composta: Montagem e Caracterização Após a fabricação do painel de aramida através da laminação manual, as pastilhas de aço, foram coladas sobre o painel de aramida utilizando adesivo “SIKAFLEX 252” e, posteriormente, foram curadas a temperatura ambiente [13]. O tempo total de cura para este processo foi de 48 horas. A configuração do painel para a caracterização do desempenho balístico esta apresentada na figura 19, onde: 18 Figura 19 - Configuração do painel de composto blindado para ensaio balístico. A disposição adotada para a fabricação do composto blindado é mostrada na figura 20, pois, como a pastilha gerada possue a forma cilindrica em decorrência da matriz utilizada na compactação.A disposição adotada foi devido a reduzir os espaços vazios entes as pastilhas devido a forma cilindrica, de modo a proteger a placa de aramida do impacto direto do projétil. (a) (b) (c) Figura 20 - Colagem das pastilhas de aço na placa de aramida. (a) Início da colagem (b) fase intermediária da colagem (c) fim da colagem. Após a colagem das pastilhas de aço na manta de aramida o composto foi cortado e envolopado utilizando uma manta de aramida colado à placa com o adesivo “SIKAFLEX – 252”. A figura 21, mostra a placa blindada após o envelopamento. 19 (a) Vista frontal da placa (b) vista lateral Figura 21 - Placa blindada após o envelopamento. Os ensaios balísticos foram conduzidos de acordo com a norma NBR 15000 nível II cartucho calibre 9 mm FMJ [14], que é utilizada pelo Exército Brasileiro, para procedimentos, equipamentos, condições físicas e terminologia utilizadas na determinação da resistência balística de blindagens metálicas, não metálicas e híbridas. Além disso, a norma é utilizada para fins de pesquisa e desenvolvimento de novos materiais e é aplicável aos seguintes tipos de blindagem: blindagem pessoal, assentos blindados para aeronaves e veículos terrestres; estações blindadas para tripulantes de aeronaves militares; blindagem externa e interna para aeronaves; blindagem transparente, tais como janelas, para-brisas de aeronaves e veículos terrestres; anteparos blindados para uso naval; blindagem estrutural para uso em navios; blindagem para abrigos táticos militares; visores para proteção dos olhos e da face; blindagem para aplicações espaciais; blindagem para veículos leves e pesados de combate. O ensaio balístico foi realizado nas dependências da empresa BCA Téxtil de São José dos Campos. O equipamento básico utilizado para o ensaio incluem, uma estativa de precisão, de onde é disparado o projétil, cronógrafo Oehler e suporte para fixação da blindagem. A distância entre a boca do provete e o alvo é de 10 m e o cronógrafo é o equipamento utilizado para medir a velocidade do projétil que é sensibilizado no instante em que o projétil ultrapassa o primeiro vão, disparando o cronômetro. Quando o projétil ultrapassa o segundo vão o cronômetro é travado, obtendo-se assim uma medida de tempo que é convertida em velocidade. A velocidade inicial do projétil calibre 9 mm FMJ segundo norma NBR 15000 é de (358 ± 15) m/s e sua massa é de (8,0 ± 0,1) g e a energia de impacto é de 512,66 J [14]. A 20 norma equivalente a NBR 15000 para um mesmo nível de proteção balística e amplamente utilizada no mundo todo é a NIJ 0108.01. [15] Após o ensaio balístico o painel foi analisado sobre a perfuração ou não do composto blindado e a forma do cone da fratura. As figuras 22, 23 e 24 mostram os equipamentos e a munição utilizados para o ensaio do composto blindado. Figura 22 - Estativa utilizada no ensaio. Figura 23 - Cronografo Oehler utilizado para mensurar as velocidades de disparo. 21 Figura 24 - Munição utilizada no ensaio – 9 mm FMJ. 22 RESULTADOS E DISCUSSÃO Nesta seção estaremos discutindo os resultados apurados neste trabalho e comparando com propostas similares de composto blindado. As pastilhas fabricadas a partir do reaproveitamento de esferas de aço do processo “shot peening” apresentaram as seguintes dimensões conforme mostrado na tabela 3. Essas dimensões referem-se às seguintes fases: • Pastilhas a “verde” - que é o resultado do processo da compactação a frio; • Pastilhas Sinterizadas – que é o resultado do processo de sinterização. Processo este realizado após a compactação a frio; • Pastilhas com Tratamento Térmico – que é resultado do processo da aplicação da têmpera realizada nas pastilhas com a intenção de aumentar a dureza superficial da pastilha. Esta fase foi realizada a pós a sinterização. • Tabela 3 - Dimensões das pastilhas após as fases de fabricação. Pastilhas a Verde Altura (mm) Diâmetro (mm) Peso (g) Massa Específica (g/cm³) 5,74 20 9,075 Pastilhas Sinterizadas 5,89 21,16 7,8 Pastilhas T. Térmico 5,89 21,16 7,8 5,033 3,766 3,766 Verificamos que os resultados apresentados entre as dimensões do diâmetro das fases “a verde” e “sinterização”, mostraram que houve um aumento das dimensões de diâmetro e altura, com diminuição do peso e massa específica. Outro ponto verificado foi à dureza do material após o tratamento superficial “têmpera”. O valor da dureza é um fator importante para servir de primeira camada em compostos blindados. Quanto maior a dureza melhores resultados serão obtidos em relação a erodir a ponta do projétil. O valor obtido de dureza após o tratamento térmico foi de 240 HB. O resultado apresentado mostra que a placa formada pelas pastilhas de aço, deveriam apresentar um valor maior de dureza para que seja mais efetiva como primeira camada em composto blindados. Verificamos que a dureza é uma propriedade que é tratada com muito cuidado, quando se aplica a metalurgia do pó. Os produtos proveniente da metalurgia do pó, possuem um grau de porosidade elevada, o que dificulta conseguir um alto valor de dureza. 23 Portanto o controle da homogeneização e da porosidade são fatores primordiais para o sucesso da fabricação de pastilhas para a aplicação em compostos blindados. A figura 25 mostra o detalhe da pastilha sinterizada, identificando a região do núcleo e a região de oxidação. (a) (b) Figura 25 - Detalhes da região da superfície da pastilha. (a) Região do núcleo, (b) região da oxidação. (Ampliação 10x). Verificamos que a região de oxidação poderia ser menor, com um controle efetivo da atmosfera do forno. As atmosferas podem reagir com o pó, causando reações químicas no sinterizado, formando carepas e aumentando a as camadas de óxidos durante o processo de sinterização. [16] A disposição adotada para a fabricação do composto blindado é mostrada na figura 26, onde a pastilha gerada tem a forma cilíndrica devido á matriz utilizada na compactação. A placa possui a dimensão de 31,1 x 31,5 cm. A disposição adotada foi devido a reduzir os espaços vazios entes as pastilhas devido a forma cilíndrica delas. Desta forma, reduz-se a probabilidade do projétil perfurar a placa. 24 Figura 26 - Disposição das pastilhas de aço na manta de aramida. As dimensões finais do composto após a fase de acabamento estão mostradas na Tabela 4. Tabela 4 - Dimensões do composto blindado. COMPOSTO BLINDADO Largura 31,1 cm Altura 31,5 cm Espessura 13,0 cm Peso 2666 g Peso Específico 2,09 g/cm3 Conforme mostrado na tabela 4, a massa específica da placa blindada mostrou-se viável para aplicação em produtos que visam a redução de peso final. Pois o resultado final, ficou menor que material similares aplicados em proteções balísticas. A tabela 5, mostra alguns materiais com suas respectivas massas específicas para servir de comparação com o resultado verificado pela placa blindada fabricada para este trabalho. Tabela 5 -Massas específicas de diversos materiais. MATERIAL Liga de aço SAE 1020 Liga de aço SAE 4340 Liga inoxidável 304 Liga de alumínio 2024 Inconel 625 Sílica MASSA ESPECÍFICA (g/cm³) 7,85 7,85 8,00 2,77 8,44 2,20 25 Carbeto de sílicio Sinterizado Polietileno de alta densidade Aramida Pastilha aço sinterizado (esfera aço “shot peening”) Composto blindado (pastilha + aramida) 2,40 0,959 1,44 3,766 2,09 O ensaio balístico foi realizado conforme a norma NBR ABNT 15000, conforme resumo na tabela 6. Tabela 6 - Referência do método utilizado no ensaio balístico. Calibre 9 mm FMJ Norma NBR 15000 Nível II Disparos por amostra 3 Após o impacto causado por três projéteis, o resultado verificado foi que a placa se comportou de forma adequada, ou seja, foi capaz de não permitir a perfuração pelo projétil. A figura 27 mostra a face de impacto antes dos projéteis serem disparados. Figura 27 - Detalhe da placa e da face antes do impacto do projétil. A figura 28 mostra a face da placa após o impacto dos projéteis de 9 mm FMJ. 26 Figura 28 - Detalhe da placa e da face após o impacto do projétil. A figura 29 mostra a face posterior da placa após o impacto dos projéteis. Figura 29 - Detalhe da placa e da face posterior após o impacto do projétil. Como pode ser observado na figura 29, o projétil não perfurou a placa blindada e, não houve danos à camada de aramida que serviu para envelopar o composto. Isso comprova que a placa blindada foi efetiva para a munição de 9 mm FMJ, segundo a norma ABNT NBR 15000:2005 – Nível II. A seguir, é apresentado na tabela 7 a distância entre os impactos dos projéteis na placa de composto balístico. Tabela 7 - Distância entre os impactos dos projéteis. Disparos Distância (mm) Entre o 1º e 2º Entre o 1º e 3º Entre o 2º e 3º 126 131 118 27 A figura 30 mostra a localização dos impactos dos projéteis 9 mm. Figura 30 - Detalhe da localização dos impactos dos projéteis. Tabela 8 - Identificação do projétil x velocidades dos impactos. Impactos Velocidades (m/s) 1 2 3 354 362 358 Os resultados apresentados na tabela 8, mostraram que as velocidades de impacto ficaram dentro da norma ABNT NBR 15000: 2005, que padroniza a velocidade em 358 ± 15 m/s, ou seja, as velocidades utilizadas estão em conformidade com a norma. Após a retirada da camada do tecido de aramida da região do primeiro impacto, verificamos que o projétil ficou totalmente deformado pelo impacto contra as pastilhas metálicas fabricadas pelo processo de metalurgia do pó. Verificamos também que as pastilhas ao redor do ponto de impacto não sofreram deformação, o que indica que o cone de fratura afetou somente a região do impacto. A figura 31, mostra a região do “impacto 1” e o detalhe ao redor da pastilha afetada. Região do primeiro impacto. Detalhe do projétil e das pastilhas ao redor do impacto. 28 (a) Detalhe do projétil (b) Projétil alojado nas pastilhas (2X) (c) Detalhe ampliado do Projétil (4X) Figura 31 - Detalhe do projétil alojado na placa blindada. Após a remoção do projétil da placa blindada, verificamos que o mesmo ficou totalmente deformado e destruído, o que mostra que, a primeira camada utilizada de aço sinterizado foi efetiva, contribuindo para erodir a ponta e o restante da energia cinética proveniente do impacto ser dissipada pela camada de aramida. A figura 32 mostra a massa residual do projétil após o impacto e remoção da placa blindada. Figura 32 - Massa residual do projétil calibre 9 mm FMJ (Ampliação 6X). 29 CONCLUSÃO Este trabalho teve a intenção de mostrar que a blindagem composta formada por aramida e pastilhas metálicas em aço carbono provenientes do processo de metalurgia do pó é viável e aplicável em proteções blindadas. A conclusão deste trabalho pode ser dividida em três partes. A primeira, a opção da utilização de esferas de aço provenientes do processo “Shot Peening”, que foi uma aposta na reutilização de um material que incialmente é tratado como refugo industrial. A fabricação das pastilhas cilíndricas pelo processo da metalurgia do pó vem de acordo com o aprendizado e colocado em pratica com o conhecimento adquirido ao longo do curso. A aposta mostrou-se viável, mas alguns cuidados devem ser observados em trabalhos futuros como, por exemplo, o controle da atmosfera do forno em meios inertes, uniformização dos grãos por peneiramento, melhor controle da porosidade e o resfriamento por óleo do tratamento térmico têmpera, pois estes controles favorecem a dureza superficial da pastilha o que auxilia a deformação da ponta do projétil. A segunda, validar a laminação manual das mantas de aramida e união das pastilhas de aço, utilizando o adesivo à base de poliuretano marca SIKAFLEX® 252. A fabricação do composto mostrou-se satisfatória, visto que, o resultado final foi uma placa com bom controle dimensional e baixa densidade (2,09 g/cm³) em comparação a outros compostos fabricados a partir de chapa de aço e aramida. A terceira, conforme os resultados apresentados do ensaio balístico provaram que, com a pastilha de aço sinterizada na face frontal do composto e a camada de aramida na face posterior foram efetivas para deter o projétil calibre 9 mm FMJ com velocidade média de 358 m/s padrão ABNT NBR 15000:2005. No todo, o trabalho conseguiu atender o objetivo inicial que a proposta de fabricação de um composto balístico a partir do processamento de pastilhas de aço geradas pelo processo de metalurgia do pó, utilizando granalhas de aço e, a união à placa de aramida através de adesivo a base de poliuretano. Os seguintes tópicos podem ser pesquisados em prosseguimento ao presente trabalho: • Redução da espessura do composto blindado (pastilha + aramida); • Utilização da aramida balística como ponto de redução da espessura e massa especifica final do composto blindado; • Analisar experimentalmente os impactos oblíquos; 30 • Atmosfera de sinterização; • Investimento em novas matrizes com maior dimensão para aumentar a produtividade da fabricação das pastilhas; • Aplicação e controle do processo do tratamento térmico; • Ensaio visando validar o composto blindado para o nível III da ABNT NBR 15000:2005; • Verificar a redução da eficiência da blindagem quando um disparo atinge os pontos de junções entre as placas de aço sinterizado e aramida; • Controle da porosidade do aço sinterizado. • Gerar um plano de negócios para o produto. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] GONÇALVES, Diniz Pereira- Maj. Av. Análise e investigação de impactos em blindagem composta cerâmica/metal, São José dos Campos, 2000, 14 f. Mestrado acadêmico. ITA.1 [2] NEB/T E-316 – Proteção Balística de Carros de passeio, CTEX,2003. 15 [3] XAVIER, C. e COSTA, CRC Estudo do Comportamento Mecânico de Placas de Alumina Sob Impacto Balístico. 28º Congresso Brasileiro de Cerâmica, Belo Horizonte, MG, 1984.2 [4] BRASIL, 2012A. http://www.ikkdobrasil.com.br/index.php?pg=univers&uni_id=4, acessado em 24/10/2012. [5] BRASIL, 2012B. http://pt.scribd.com/doc/40068262/Metalurgia-do-Po-Aplicacao-Estudode-Casos-e-Viabilidade), acessado em 26/10/2012. [6] BRASIL, 2012C. http://www.norbertocefetsc.pro.br/metalurgiadopo.pdf, acessado em 27/10/2012. [7] HOLTZ, Oddone A. Noções de Tratamento térmicos- 2ed. : Porto Alegre : Sagra-DC Luzzatto, 1992. [8] CHIAVERINI, Vicente. Metalurgia do pó: técnica e produtos – 4ª ed. – São Paulo: Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais, 2001. [9] CORDEBELO,F.S. Polímeros do futuro: Tendências e oportunidades. Polímeros: Ciência e tecnologia. Associação Brasileira de Polímeros, V.12, n.4, p. 4-25, Out.-Dez.2002. [10] BRENT, S.A. Fundamentals of composites manufacturing: materials, methods and applications. Dearbom: Society of Manufacturing Engineering, 2008. [11] KARAHAN, M.; KUS, A.; EREN, R. An investigation into ballistic performance and energy absorption capabilities of woven aramid fabrics. International Journal of Impact Engemeering, v.35, n.6, p. 499-510, November,2012. [12] LEVY, N.Flamínio, PARDINI, L.Cláudio. Compósito estruturais: ciência e tecnologia – 1 edº São Paulo: Edgard Blucher; 2006.3 [13] BRASIL, 2012D. http://br01.webdms.sika.com/fileshow.do?documentID=398, acessado em 17/11/2012. [14] ABNT NBR 15000:2005, Blindagens para impactos balísticos - Classificação e critérios de avaliação. [15] http://www.ballisticedge.com.au/NIJ0108.htm, acessado em 23/11/2012. [16] A Metalurgia do pó: alternativa econômica com menor impacto ambiental, Grupo setorial de metalurgia do pó, São Paulo – SP, 2009. ANEXO 1 – TABELAS DE PROTEÇÃO BALÍSTICA 32 Considerações: Norma alemã que está sendo implantada no mercado comum europeu como ERPN 52.290 como sendo mais rigorosa e mais qualitativa que a norma NIJ STD – 0108.01 utilizada nos USA e Brasil. Fazendo uma rápida comparação, um material aprovado pela norma DIN 52.290, suporta mais disparos em uma menor área de um mesmo calibre em comparação com um material aprovado pela norma NIJ STD – 0108.01. 33 Considerações: Norma brasileira que substituiu a NBR 14923/2003 e foi baseada principalmente na norma NIJ americana. Tabela III.3 – Norma NIJ Considerações: Norma americana (U.S.A) que serve como referência para qualquer país da America Latina, inclusive para o DFPC (Departamento de Fiscalização de Produtos Controlados) do Exercito Brasileiro, o órgão que regulamenta os produtos balísticos produzidos e comercializados no Brasil. ANEXO 2 – PROPRIEDADES DO ADESIVO Sikaflex®-252 O Sikaflex-252 é um adesivo de poliuretano monocomponente, denso e de consistência pastosa, resistente ao escorrimento, que cura ao entrar em contato com a umidade atmosférica, formando um elastômero durável, o Sikaflex-252 é produzido de acordo com as normas de qualidade e meio ambiente ISO 9001/14001. Utilizações O Sikaflex-252 é recomendado para aplicação em uniões estruturais que serão submetidas às tensões dinâmicas. É apropriado para substratos como madeira, metais, particularmente alumínio (incluindo componentes anodizados), chapa de aço (incluindo chapa zincada, cromada, ou fosfatizada), metais com primer ou sistemas de pintura (duas 34 camadas), materiais cerâmicos e plásticos. Consulte o fabricante antes de utilizá-lo em materiais transparentes ou pigmentados propensos à fissura por tensões internas. Este produto é recomendado para uso somente por profissionais experientes. Testes com substratos nas condições atuais devem ser realizados para assegurar a compatibilidade e adesão com o material. Caracteristicas Monocomponente Elástico Pode ser pintado Boa capacidade de preenchimento de juntas Resistente às elevadas tensões dinâmicas Absorve ruídos e vibrações Não é corrosivo Não é condutivo Boa adesividade a diversos materiais Cor Preto e branco. 35 Mecanismo de Cura: O Sikaflex -252 cura pela reação com a umidade atmosférica. Em baixas temperaturas, o teor de água existente no ar é mais baixo e a reação de cura processa-se de forma mais lenta (veja o diagrama). 36