VIII - 006 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL ENGENHARIA AMBIENTAL: PERSPECTIVAS QUANTO À NOVA HABILITAÇÃO EM ENGENHARIA Thereza Christina de Almeida Rosso(1) Engenheira Civil. M.Sc. em Recursos Hídricos, Prog. Eng. Civil, COPPE / UFRJ. D.Sc. em Eng. Oceânica, Prog. Eng. Oceânica, COPPE / UFRJ. Profa Adjunta do DESMA / FEN / UERJ. Elisabeth Ritter Engenheira Civil. M.Sc. em Geotecnia, Dep. Eng. Civil, PUC - Rio. D.Sc. em Geotecnia Ambiental, COOPE / UFRJ. Profa. Visitante, DESMA / FEN / UERJ. Beatriz de Medeiros Tavares Graduanda do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental, DESMA / FEN / UERJ. Endereço(1): Av. Epitácio Pessoa, 3540 - apto.1201 - Lagoa - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 22471-000 - Brasil - Tel: (021) 587-7580 - Fax: (021) 587-7251 - e-mail: [email protected] RESUMO A degradação ambiental, a preservação dos recursos naturais e a globalização da economia criaram a necessidade de uma melhor harmonia das interferências do homem com o ambiente que o cerca. Dentro deste contexto, pela própria definição de Engenharia: arte de dirigir as grande fontes de energia da natureza para o uso e conveniência do homem (Institute of Civil Engineering, Londres, 1828), o papel do Engenheiro é fundamental. Entretanto, observa-se, através da análise curricular dos diversos cursos de Engenharia, a lacuna existente na formação de um profissional que seja capaz de encontrar soluções tecnológicas que vise atender as transformações e necessidades biológicas do homem adequadas à complexidade da vida atual, sem, entretanto, causar danos, muitas vezes irreversíveis, ao meio ambiente. Além disso, destacam-se hoje, no processo de municipalização das atividades de saneamento, bem como da responsabilidade sobre o meio ambiente através da Nova Lei de Crimes Ambientais e das Normas Ambientais NBR - ISO 14000, a necessidade da formação de tal profissional. Com o objetivo de suprir esta lacuna no ensino da Engenharia e uma demanda real de mercado, o Ministério de Educação e do Desporto, MEC, regulamentou a criação de uma nova habilitação na área tecnológica denominada Engenharia Ambiental. O presente trabalho visa contribuir para a definição do perfil e da área de competência do profissional formado por esta nova habilitação. Maior ênfase será dada no que tange aos aspectos acadêmicos do tema, analisando as características curriculares de alguns cursos no Brasil e no Exterior. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3050 VIII - 006 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL PALAVRAS-CHAVE: Engenharia Ambiental, Análise Curricular, Ensino de Graduação. INTRODUÇÃO Dentro das aceleradas mudanças ocorridas no mundo torna-se essencial, nos dias atuais, o desenvolvimento tecnológico visando não só atender às necessidades de adaptação do homem ao meio, mas também de proporcionar conforto. Entretanto, tais inovações, quando lançadas de modo desordenado, podem trazer inconvenientes para a própria vida humana. De forma geral, os problemas decorrentes de tais interferências só poderão ser minimizados através de um planejamento integrado do uso dos recursos naturais envolvidos. Esta é certamente a finalidade da Engenharia Ambiental. Através da análise das transformações e necessidades do homem, a Engenharia Ambiental deve ser capaz de encontrar soluções tecnológicas para a adequação deste à complexidade da atualidade, não perdendo de vista as carências básicas de alimentação, saúde, moradia e educação da população, de modo a proporcionar o bem estar da coletividade. Visando suprir uma real necessidade de mercado, o Ministério da Educação e Desporto, MEC, regulamentou a criação de uma nova habilitação na área tecnológica denominada Engenharia Ambiental. Esta regulamentação, apresentada pela Portaria No 1.693 de 05/12/94 e agregada à Resolução No 48/76 do antigo Conselho Federal de Educação, CFE, estabelece o currículo mínimo para o curso de graduação nesta nova área. Porém, no que se refere ao campo profissional, não foi realizada até o momento, nenhuma análise mais detalhada, que delimite e especifique o perfil do Engenheiro Ambiental e seu âmbito de atuação. Assim, surge a necessidade de se determinar as atribuições deste profissional, definindo claramente a sua área de competência, observando não somente o seu perfil acadêmico, mas também buscando conhecer perfeitamente o contexto político, social e geográfico no qual esse profissional se insere. Este deverá corresponder às exigências do meio no qual irá exercer suas atividades, objetivando a sua real contribuição para a sociedade. A formação de profissionais competentes e conscientes da responsabilidade de participar em novo cenário mundial onde a preservação do Meio Ambiente seja respaldada por uma nova ética que integra homem e natureza, é de extrema relevância e plenamente justificável. Há um enorme público alvo e uma demanda real para tais profissionais, tanto no serviço público como na iniciativa privada. Destacam-se ainda o processo de municipalização das atividades de saneamento, bem como da responsabilidade sobre o meio ambiente através da Nova Lei de Crimes Ambientais e das Normas Ambientais NBR – ISO 14000, que ampliam significativamente o mercado de trabalho para os profissionais que se pretende formar. Neste trabalho busca-se contribuir para a definição do perfil do Engenheiro Ambiental analisando o seu mercado de trabalho e a grade curricular de alguns cursos já em andamento. Desta maneira, é possível traçar um mapa de atuação do Engenheiro Ambiental e a sua área de atuação. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3051 VIII - 006 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL IMPORTÂNCIA DO ENGENHEIRO AMBIENTAL Inúmeros ramos do conhecimento e do saber humano abordam aspectos da questão ambiental. Neste contexto, o papel do engenheiro é o de minimizar os impactos causados pelo homem à natureza, utilizando-se dos conhecimentos das ciências. Enquanto o cientista busca o conhecimento, o engenheiro é formado para buscar a solução. Outrossim, considerando somente o caso brasileiro, em uma breve análise da sua História, observa-se que desde a sua descoberta os processos de colonização, desenvolvimento e ocupação territorial estiveram associados à utilização direta e desordenada do meio ambiente e dos recursos naturais disponíveis. Para exemplificar tal afirmativa, pode-se citar Bueno, 1998: ..."Afinal, ao contrário do que a maior parte dos textos afirma, Martin Afonso não veio fundar cidades ou iniciar a colonização do Brasil. Sua principal missão, como se verá, era explorar o rio da Prata - considerado a porta de entrada para as extraordinárias riquezas do Império Inca". Inúmeros projetos de ocupação territorial, obras de engenharia e o desenvolvimento de novas tecnologias poderiam ser citados e que geraram sérios conflitos de uso dos recursos naturais provocando impactos sociais, econômicos e ambientais. A título de ilustração, mais especificamente, no caso do Estado do Rio de Janeiro, os seguintes dados são bastante representativos desta ocupação desordenada e suas conseqüências impactantes ao meio ambiente no entorno da região da Baía de Guanabara, segundo Amador, 1997: • Século 18 • Construção do primeiro grande aterro do Terreiro do Carmo, hoje Praça 15. Começaram vários aterros de lagunas, brejos e da Baía. Os Vice-reis promoveram o crescimento urbano, eliminando muitos ecossistemas. • Século 19 • Aterro da Praia do Catete, permitindo maior ocupação de Botafogo e da Glória durante o Ciclo do Café, com a chegada da família real ao país. • Aterro do Saco de São Diogo que ia da atual rodoviária, a Praça da República e a Tijuca (foram destruídos 3 Km2 de manguezais); • Século 20 • Aterro da orla do Cajú a Copacabana; • Aterro e loteamento da Enseada de Botafogo; • Aterro da enseada de São Lourenço e da praia Grande para a construção do cais do Porto de Niterói; • Aterro da Enseada de Manguinhos, com a destruição de 2 Km2 de manguezais; • Desmonte do Morro do Castelo, onde foi construído o aeroporto Santos Dumont; • Construção do aterro do Flamengo a partir do desmonte do morro Santo Antônio. A contribuição do Engenheiro Ambiental deverá ser orientada para uma concepção mais consciente de obras e soluções adequadas ao ecossistema, minimizando assim o impacto ao Meio Ambiente. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3052 VIII - 006 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL PERFIL ACADÊMICO DO ENGENHEIRO AMBIENTAL A diversidade de conhecimento técnico-científico que se pretende dar ao Engenheiro Ambiental, pode ser vista ainda pela Portaria Nº 1.693 de 05/12/94, MEC, que inclui as seguintes disciplinas como sendo do currículo mínimo: • • Formação Básica • Biologia, além das já oferecidas normalmente. Formação Geral • Geologia, • Climatologia, • Hidrologia, • Ecologia Geral e Aplicada, • Hidráulica, • Cartografia, • Recursos Naturais, • Poluição Ambiental, • Impactos Ambientais, • Sistemas de Tratamento de Água e de Resíduos, • Legislação e Direito Ambiental, • Saúde Ambiental, • Planejamento Ambiental, • Sistemas Hidráulicos e Sanitários A inclusão da disciplina de Biologia na Formação Básica do Engenheiro Ambiental é da maior importância, pois capacita o profissional com uma visão mais abrangente para as análises de impacto e poluição ambiental. A outra inserção importante é o conhecimento da Legislação e Direito Ambiental, que, nas próximas décadas nortearão as ações técnicas. REALIDADE ATUAL DO ENSINO DA ENGENHARIA AMBIENTAL No que diz respeito aos cursos de Graduação, os conceitos básicos da Engenharia Ambiental estão de uma certa forma incorporados em todas as habilitações da Engenharia. O currículo mínimo exige a obrigatoriedade de uma disciplina cujo conteúdo programático deve abordar os conceitos básicos de Ecologia e os princípios da problemática ambiental sobre o enfoque da Engenharia. De acordo com as instituições esta disciplina pode ter as seguintes denominações: Introdução à Engenharia Ambiental, Ciências do Ambiente, Ecologia, etc. Das habilitações que tratam as questões ambientais de uma forma mais específica, as habilitações em Engenharia Civil e Engenharia Química são as que mais se sobressaem. No âmbito da Engenharia Civil, as ênfases são voltadas para as áreas da Engenharia Sanitária, Saneamento, Recursos Hídricos, Hidráulica e Obras Hidráulicas. Fora das ênfases, ressalta-se que iniciativas isoladas vêm sendo realizadas por docentes incorporando aspectos ambientais em suas disciplinas, mesmo quando não incluídas no conteúdo programático. Entretanto, ressalta-se que possuem caráter variado devido ao fato ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3053 VIII - 006 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL de serem iniciativas isoladas, estando sempre sujeitas à experiência profissional de cada docente. No caso da Engenharia Química, o enfoque é dado para a grande problemática de industriais químicas analisando-se, principalmente, os aspectos relacionados aos processos de produção industrial, tratamento de despejos e controle da poluição. Observa-se ainda, que mesmos nas instituições que possuam ênfase em Engenharia Sanitária e Ambiental, como é o caso da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, os assuntos são tratados de forma bastante específica, com um número reduzido de créditos capaz de suprir o tocante à toda a complexidade de assuntos a serem abordados. Além disso, dentro da Engenharia, não são tratados de maneira satisfatória assuntos referentes aos aspectos biológicos, legislação, bem como os aspectos sociais da questão ambiental. NOVAS EXPERIÊNCIAS Algumas Instituições de Ensino Superior no Brasil já estão se adaptando à esta nova realidade, incluindo ênfases, criando novos departamentos e mesmo cursos de duração plena voltados especificamente para esta área. Entre as pesquisas realizadas, destacam-se as seguintes instituições: Instituto Moura Lacerda, Ribeirão Preto, SP, Universidade Luterana do Brasil, Canoas, RS, Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, MS, Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, RJ, e a Fundação Universidade do Tocantins. Uma análise mais detalhada das duas últimas instituições é a seguir apresentada. PUC - Rio Uma visão mais atualizada do ensino de Engenharia voltado para as questões ambientais é proposta pela Pontifícia Universidade Católica do Estado do Rio de Janeiro, PUC-Rio. Conforme apresentado por Vargas Jr., 1998, esta inovação vem sendo realizada em realizada em parceria com um convênio com universidades canadenses. A fim de melhor organizar o processo, em 1990 foi criada uma comissão encarregada da implantação de um Programa de Engenharia Ambiental Interdepartamental. Iniciado em 1994, junto ao Departamento de Engenharia Civil, teve como uma das suas principais metas o de formar um Engenheiro com bases mais base sólidas em questões ambientais, ou seja, com capacidade para solucionar problemas de engenharia relacionados ao Meio Ambiente. As principais áreas de concentração na Formação Básica foram com as disciplinas de Física, Química e Biologia. A inclusão da disciplina Biologia, foi um problema no momento inicial, visto que a instituição não possui curso de graduação nesta área específica. Esta dificuldade foi sanada através da criação da disciplina no próprio departamento. Atualmente, os cursos de Engenharia Civil e Mecânica possuem a ênfase em Engenharia Ambiental. Fundação Universidade do Tocantins O primeiro curso de graduação voltado totalmente para a Engenharia Ambiental foi autorizado através do Parecer No 118/91 do Conselho Estadual de Educação do Estado de ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3054 VIII - 006 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL Tocantins. Este Parecer autoriza o funcionamento do curso na Fundação Universidade do Tocantins, em seguida ao Decreto Presidencial, expedido em 20 de abril de 1993, publicado no Diário Oficial da União de 22 de abril de 1993. Em 4 de junho 1998 o Decreto No 611, expedido pelo Governador do Estado do Tocantins, que à luz do que dispõe a Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional, reconhece pelo prazo de cinco anos, o curso de Engenharia Ambiental ministrado por esta Universidade. Como, nos outros cursos, o curso de Engenharia Ambiental da Universidade do Tocantins, teve sua origem no curso de Engenharia Civil, inclusive em razão da inserção de diversas disciplinas desta habilitação, dentre elas: Teoria das Estruturas, Materiais de Construção Civil, Topografia, Mecânica dos Solos, Hidráulica, Hidrologia Aplicada, Transportes, Saneamento Básico, etc, totalizando 975 horas. Possui ainda, outras disciplinas de Formação Básica, visando possibilitar ao Engenheiro Ambiental adquirir conhecimentos dos fundamentos científico e tecnológicos da modalidade Engenharia, dentre elas: Cálculos, Mecânica Geral, Resistência dos Materiais, Eletricidade, etc., totalizando 1815 horas. Dentre as disciplinas de Formação Específica do Ciclo Profissional, destacam-se as disciplinas: Química Analítica e Ambiental, Conservação de Energia, Climatologia, Sensoriamento Remoto, Defesa Civil, Planejamento Físico - Ambiental, Preservação e Recuperação de Ecossistemas, Biodiversidade, Urbanismo, Desenvolvimento Regional Sustentado, etc., totalizando 1095 horas. ANÁLISE COMPARATIVA DO CASO BRASILEIRO COM OUTROS PAÍSES A título de ilustração, uma análise comparativa entre alguns cursos de Engenharia Ambiental no Brasil e no Exterior foi realizada. Através de uma pesquisa realizada via Internet, foram observados os currículos da Universidad Autonoma Metropolitana, Tamaulipas, México, Universidade de Trás os Montes e Alto Douro, Portugal. O currículo da Universidade de Alberta Canadá também foi analisado, baseado na pesquisa feita por Schimidt, 1997. Observa-se que na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro em Portugal, não há um curso básico semelhante ao que ocorre nas outras engenharias, estando as disciplinas do curso de Engenharia Ambiental fundamentalmente ligadas às áreas de Biologia e Geologia, formando um profissional mais voltado para essas áreas. Destaca-se ainda, a existência de disciplinas ligadas à área da Engenharia Genética. Já a Universidade do México possui maior concentração em Matemática e Física e de maneira bem equilibrada incluindo ainda Química, Biologia e Sociologia. Apesar do rol de disciplinas ser bastante semelhante ao apresentado pela Universidade de Tocantins, destaca-se o fato de que o aluno pode optar pelas ênfases em Água ou Ar. A Universidade de Alberta, Canadá, além de oferecer um curso de Engenharia Civil com áreas de concentração incluindo: Engenharia Ambiental e Engenharia de Recursos Hídricos, oferece uma opção separada para Engenharia Ambiental. Ainda ligado à Engenharia Civil, o curso tem como objetivo o projeto, construção, operação e manutenção do desenvolvimento minimizando os impactos ambientais e preservando a saúde pública em todos os aspectos da biosfera. A habilidade para incorporar os princípios da Química, Biologia, Microbiologia, Matemática, das Engenharias Química e Civil são fundamentais para as análises de projetos, desenvolvimentos de soluções tecnológicas, análises de riscos, minimização de impactos e gerenciamento ambiental, consideradas fundamentais para o perfil do Engenheiro Ambiental. As principais áreas de atuação deste Engenheiro são: Abastecimento de Água para Consumo, Controle de ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3055 VIII - 006 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL Poluição das Águas, Disposição e Reciclagem de Efluentes Sólidos e Industriais além do Controle de Qualidade do Ar, tanto nos aspectos industriais como o controle da poluição do ar nos municípios. Observa-se que a proposta das outras duas universidade da América está em consonância com o projeto brasileiro. Destaca-se ainda, que os objetivos delimitados pela Universidade de Alberta, incluindo as disciplinas de Biologia e Microbiologia, enfatizam a atuação transformadora do Engenheiro Ambiental. No entanto, outro aspecto a ser considerado na proposta brasileira, seria o da inclusão de disciplinas que apresentem ao Engenheiro a importância da participação da sociedade nos grandes projetos, principalmente os relacionados ao Saneamento Ambiental. A Educação Ambiental e a Mobilização Social são hoje fundamentais para o bom desempenho nesta área. Iniciativas neste sentido podem ser observadas através de projetos em andamento realizados pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Rio de Janeiro com outras instituições, podendo citar como exemplo a Oficialização de Centros de Referência do Movimento de Cidadania pelas Águas em várias cidades do Estado do Rio de Janeiro. Outro exemplo a ser citado é, dentro do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara, a componente de Educação Ambiental que visa a formação de professores do 1o e 2o Graus da rede pública estadual no que diz respeito às interferências realizadas na Bacia Hidrográfica da Baía de Guanabara. Este está sendo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. ATRIBUIÇÕES DO ENGENHEIRO AMBIENTAL Talvez, uma das questões mais polêmicas sobre o tema aqui abordado, seja exatamente especificar, sem ferir a suscetibilidade e a reserva de mercado de cada habilitação, as atribuições do Engenheiro Ambiental. Dentre outras, o profissional deverá ser capaz de: • • • • • • • • • • • • • avaliar a dimensão das alterações ambientais causadas pelo Homem; participar dos estudos de caracterização ambiental, na proposição, implementação e monitoramento de medidas ou ações ambientais, tanto na área urbana quanto rural; desenvolver sistemas de saneamento básico (água, esgoto, lixo e drenagem urbana); participar na elaboração do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto ao Meio Ambiente, ao nível de projetos, decisões políticas e ações realizadas. atender à legislação vigente, dentro do processo de municipalização das atividades de saneamento, Lei de Crimes Ambientais e Normas Ambientais - NBR ISO 14.000; identificar, compreender, enunciar e resolver os problemas ambientais, preservando e restabelecendo o meio ambiente sobre modelos ecológicos e economicamente sustentáveis. controlar a poluição e aplicar e desenvolver programas de monitoramento; atuar no planejamento ambiental; atuar na preservação, uso e recuperação dos recursos naturais e do meio ambiente; propor soluções através da busca e seleção de alternativas, de recuperação, adaptação e melhoramento das técnicas já existentes; analisar, sintetizar e vincular a teoria com a prática; possuir mentalidade crítica e objetiva no que tange a problemática ambiental; trabalhar multidisciplinarmente; ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3056 VIII - 006 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL • avaliar e aproveitar as experiências externas com um critério de seleção e adequação dessas experiências à realidade brasileira, evitando-se assim a transferência indiscriminada de experiências que freqüentemente respondem a situações históricas e sociais diferentes; • participar de atividades de pesquisa e docências neste campo de atuação. ANTE-PROJETO DE RESOLUÇÃO DO CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA, ARQUITURA E AGRONOMIA SOBRE O TEMA EM QUESTÃO Visando regulamentar o exercício profissional do Engenheiro Ambiental, bem como definir as atribuições profissionais deste engenheiro, a Universidade de Tocantins, seguindo todos os trâmites legais, solicitou aos órgãos competentes o registro dos profissionais oriundos do curso por ela formados. Esta solicitação, deu origem ao Ante-Projeto de Resolução que dispõe sobre o registro profissional do Engenheiro Ambiental e discrimina suas atribuições profissionais, do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Este Ante-Projeto, encontra-se atualmente em discussão junto aos órgãos competentes tendo sido encaminhado à Entidades de Ensino para conhecimento e manifestação. O texto do Ante-Projeto encontra-se em anexo. CONCLUSÕES É inegável que hoje, não somente dentro da área ambiental o Ensino de Graduação em Engenharia necessita de reformulações na sua grade curricular de forma a melhor adaptar o profissional formado com as novas necessidades do mercado. A globalização da economia, o avanço tecnológico, notadamente as facilidades de comunicação e as disponibilidades computacionais, exigem que o engenheiro tenha uma formação mais diversificada. Dentro do trinômio: Engenharia-Meio Ambiente-Sustentabilidade, inicia-se este processo e como toda nova experiência, geram-se conflitos. O mais importante é que esses conflitos possam ser sanados visando principalmente o bem estar das populações e uma melhor convivência humana. A experiência de instituições de outros países podem e devem ser aproveitadas, estando, naturalmente adaptadas à realidade brasileira. A proposição brasileira para a Engenharia Ambiental está adequada à nossa realidade, ressentindo-se no entanto da inclusão de temas ligados à Educação Ambiental e Mobilização Social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. AMADOR, E., Baía de Guanabara e Ecossistemas Periféricos: Homem e Natureza, Edição do Autor, 537 p., 1997. BRANCO, S M, ROCHA, A.A., Elementos de Ciências do Ambiente, 2ª Edição, Editora CETESB, São Paulo, 203 p., 1987. BUENO, E., Náufragos, Traficantes e Degradados: As Primeiras Expedições ao Brasil, Editora Objetiva, 200 p., 1998. Constituição Federal do Brasil, 1998. Lei de Diretrizes e Bases da Educação do Conselho Federal de Educação, Brasília. Manual do Estudante, Publicação do CREA-RJ, 1997. SCHMIDT, C. A. B., A Faculdade de Engenharia da Universidade de Alberta, Relatório de Visita, Departamento de Estruturas e Fundações, Faculdade de Engenharia, UERJ, 16 p. 1997. VARGAS Jr,, Engenharia Ambiental, Nova Habilitação em Engenharia, I Seminário de Engenharia Ambiental da UERJ, 16 a 19 de novembro, Rio de Janeiro, 1998. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3057 VIII - 006 o 20 CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL ANEXO "RESOLUÇÃO Nº _____/_____ Dispõe sobre o registro profissional do Engenheiro Ambiental e discrimina suas atribuições profissionais O Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 27 da Lei Nº 5.194, de 24 DEZ 1966, CONSIDERANDO que o artigo 7º da Lei Nnº 5.194/66 refere-se às atividades profissionais do Engenheiro, do Arquiteto e do Engenheiro Agrônomo em termos genéricos; CONSIDERANDO a necessidade de discriminar atividades das diferentes modalidades profissionais da Engenharia, Arquitetura e Agronomia, para fins de fiscalização de seu exercício profissional; CONSIDERANDO que o curso de Engenharia Ambiental, ministrado pela Universidade do Tocantins, teve seu currículo fixado com base no disposto na Resolução nº48/76 do antigo Conselho Federal de Educação, bem como encontra-se o mesmo em perfeita consonância com a citada Resolução, conforme a Portaria Nº 1693/94 do Mistério da Educação e do Desporto, publicada no D.O.U. de 12 DEZ 1994, RESOLVE: Art. 1º- Os CREAs devem proceder o competente registro dos profissionais oriundos do Curso de Engenharia Ambiental, anotando em suas carteiras profissionais o respectivo título profissional, de acordo com o constante nos diplomas expedidos, desde que devidamente registrados. Art. 2 º- Compete ao Engenheiro Ambiental o desempenho das atividades 01 a 14 e 18 do artigo 1º da Resolução Nº 218/73, de 29 JUN 1973, referentes a formulação, evolução e administração de projetos, obras e serviços pertinentes aos aspectos ambientais, envolvendo: gestão ambiental; elaboração, implantação e controle de planos de ordenamento ambiental; descontaminação; investigação, adaptação, implementação e operação de sistemas de produção, mitigação e monitoramento relativos as impactos ambientais, seus serviços e correlatos. Art. 3º - aplicam-se à presente resolução as disposições constantes do artigo 25 e parágrafo único da resolução nº 218, de 29 JUN 1973. Art. 4º - Os Engenheiros ambientais integrarão o grupo ou categoria da Engenharia, Modalidades Civil e Química, prevista no artigo 8º da Resolução 335, de 27 de OUT 1989. Art. 5º - A presente Resolução entrará e m vigor na data de sua publicação. Art. 6º - revogam-se as disposições em contrário. Brasília, ___ de ___________________de 19_______ Presidente Vice-Presidente" ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3058