Ano 17, no 3, jul./set. 2012 – www.sobecc.org.br – ISSN 14144425 tecnologia Cirurgia Robótica de Revascularização Miocárdica: em Busca de Evidência Científica no Uso da Tecnologia do Século XXI Em revista cial Ediç spe ão E humanização Humanização no Centro Cirúrgico: a Percepção do Técnico de Enfermagem infecção Controle de Infecção Hospitalar no Paraná: Facilidades e Dificuldades do Enfermeiro infecção Fatores Associados à Infecção de Sítio Cirúrgico em Um Hospital na Amazônia Ocidental Brasileira assistência Síndrome Compartimental Relacionada ao Posicionamento Cirúrgico E mais: Hospital em foco: Copa D’Or segue Protocolo Universal da OMS Agenda: Congressos, simpósios e cursos. Tudo isso e muito mais! Título de Especialista Revalidação 8º Simpósio Internacional de Esterilização e Controle de Infecção Hospitalar O evento reuniu 2.173 participantes e 64 empresas expositoras Foto cedida pela empresa H. Strattner & Cia. Ltda Intuitive Surgical Diretoria da SOBECC - Gestão 2011-2013 Presidente: Janete Akamine • Vice-presidente: Márcia Hitomi Takeiti • Primeirasecretária: Liraine Laura Farah • Segunda-secretária: Andrea Alfaya Acunã • Primeira-tesoureira: Simone Batista Neto Arza • Segunda-tesoureira: Zuleica Fazoni Souza • Diretora da Comissão de Assistência: Maria Lúcia Suriano • Membros da Comissão de Assistência: Mariângela Belmonte Ribeiro e Giovana Abrahão de Araújo Moriya • Diretora da Comissão de Educação: Márcia Cristina Pereira • Membros da Comissão de Educação: Aparecida de Cássia Giani Peniche e Tânia Regina Zeni • Diretora da Comissão de Publicação e Divulgação: Rachel de Carvalho • Membros da Comissão de Publicação e Divulgação: Raquel Machado Cavalca Coutinho e Eliane da Silva Grazziano • Diretor do Conselho Fiscal: Ernane de Sousa Almeida • Membros do Conselho Fiscal: Kátia Aparecida Ferreira de Almeida e Mara Lúcia Leite Ribeiro • Diretora da Comissão e Eventos Regionais: Lígia Garrido Calicchio. Revista SOBECC Órgão oficial da Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização. Comissão de Publicação e Divulgação - Diretora: Drª Rachel de Carvalho (Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein – FEHIAE) • Membros: Drª Eliane da Silva Grazziano (Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR) e Drª Raquel Machado Cavalca Coutinho (Universidade Paulista – UNIP). Conselho Editorial: Drª Ana Lúcia de Mattia (Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG), Drª Aparecida de Cássia Giani Peniche (Escola de Enfermagem da USP), Ms Dulcilene Pereira Jardim (Universidade Santo Amaro – UNISA), Drª Eliane da Silva Grazziano (Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR), Drª Estela Regina Ferraz Bianchi (Escola de Enfermagem da USP), Isabel Cristina Dauth (Universidade Luterana do Brasil – ULBRA), Ms Jacqueline Ramos de Andrade Antunes Gomes (Centro Universitário de Brasília – UniCEUB), Ms Márcia Wanderley de Moraes (Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein – FEHIAE), Drª Maria Belén Salazar Posso (Faculdade de Enfermagem da Fundação ABC), Drª Maria Clara Padovezze (Escola de Enfermagem da USP), Drª Maria Concepcion Pezo Silva (Universidade Nacional Pedro Ruiz Gallo – Peru), Drª Maria Helena Barbosa (Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM), Drª Maria Isabel Pedreira de Freitas (Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP), Drª Maria Lúcia Suriano (Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP), Drª Rachel de Carvalho (Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein – FEHIAE), Drª Raquel Machado Cavalca Coutinho (Universidade Paulista – UNIP), Drª Rita Catalina Aquino Caregnato (Universidade Luterana do Brasil – ULBRA), Ms Verônica Cecília Calbo de Medeiros (Centro Universitário São Camilo). Equipe Técnica – Revisão: Marcelo de Andrade • Coordenação: Sirlene Aparecida Negri Glasenapp • Administração: Veridiana Franco • Produção Gráfica: Solange Mattenhauer Candido • Secretária: Maria Elizabeth Jorgetti • Bibliotecária: Sônia Maria Gardim • Revisão em Espanhol: Drª Maria Belén Salazar Posso • Revisão em Inglês: Elaine Koda • Tiragem: 4.000 exemplares • Impressão: Editora Referência Ltda. SOBECC: Rua Vergueiro, 875, conj. 64, Liberdade (metrô Vergueiro), CEP 01504-001, São Paulo, SP • CGC: 67.185.215/0001-03 Tel.: (11) 3341-4044 • Fax: (11) 2501-4144. E-mail: [email protected] | Site: www.sobecc.org.br Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. A SOBECC está associada à Academia Brasileira de Especialistas de Enfermagem (ABESE) desde 2000, à International Federation Perioperative Nurses (IFPN) desde 1999 e ao Fórum Mundial de Esterilização (WFHSS) desde 2008. Além disso, mantém parceria constante com a Association Operating Room Nurses (AORN). Índice 4••• EDITORIAL 5••• agenda 6••• Acontece 28••• Hospital em foco 31••• revisão de literatura Cirurgia Robótica de Revascularização Miocárdica: em Busca de Evidência Científica no Uso da Tecnologia do Século XXI 43••• artigo original Humanização no Centro Cirúrgico: A Percepção do Técnico de Enfermagem 50••• artigo original Controle de Infecção Hospitalar no Paraná: Facilidades e Dificuldades do Enfermeiro 60••• artigo original Fatores Associados à Infecção de Sítio Cirúrgico em um Hospital na Amazônia Ocidental Brasileira 71••• revisão de literatura Síndrome Compartimental Relacionada ao Posicionamento Cirúrgico: um Inimigo Silencioso 81••• Normas de Publicação da Revista SOBECC ISSN 14144425 Revista indexada nas bases de dados LILACS, CUIDEN e CINAHAL INFORMATION SYSTEMS Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 3 Editorial – Revista SOBECC Julho/setembro 2012 Simpósio Internacional reúne mais de 2 mil participantes No evento também foram apresentados 123 trabalhos científicos, sob a forma de pôsteres. As novidades da programação ficaram por conta das Oficinas Temáticas, apresentadas no pré-simpósio (dia 25 de julho), da Sala Acadêmica Profa Dra Silma Pinheiro, dos Testes de Funcionalidade e das apresentações, em plenária, dos trabalhos premiados na sessão pôster. Destacamos e agradecemos a fundamental participação de cada pessoa que abrilhantou o 8º Simpósio Internacional. A Revista SOBECC deste trimestre traz, na sessão Hospital em Foco, a história do Copa D’Or, do Rio de Janeiro (RJ), uma rede de assistência à saúde em franca expansão no País. Quanto aos cinco trabalhos aqui publicados, destacamse três estudos de campo e duas revisões sistemáticas de literatura, procedentes de autores das mais diversas regiões. Aliás, uma constante nas publicações da Revista SOBECC tem sido a autoria de trabalhos enviados pelos nossos associados de todas as regiões do Brasil e sobre os mais diversos assuntos, que tanto conhecimento e experiência agregam à Enfermagem Perioperatória. Colegas do Rio Grande do Sul discutem aspectos relacionados à humanização da assistência no Centro Cirúrgico, segundo a percepção de técnicos de Enfermagem, que estão em constante interação com o cliente e relatam suas experiências, por meio de uma pesquisa de campo qualitativa. A pesquisa Controle de Infecção hospitalar no Paraná: Faci Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 4 lidades e Dificuldades do Enfermeiro é um estudo de campo multiprofissional, realizado por duas enfermeiras e uma médica, que identificaram as peculiaridades do trabalho de enfermeiros atuantes no serviço de controle de infecção. Partindo do sul, em direção ao norte do País, um grupo de enfermeiros do Acre realizou o estudo de campo Fatores Associados à Infecção de Sítio Cirúrgico em um Hospital na Amazônia Ocidental Brasileira, que revelou fatores predisponentes ao desenvolvimento de infecções em mais de 2.200 pacientes de um Hospital de Ensino de Rio Branco e identificou as intervenções pertinentes à equipe cirúrgica. Síndrome Compartimental Relacionada ao Posicionamento Cirúrgico: um Inimigo Silencioso é uma revisão de literatura, realizada por enfermeiras cariocas, que traçam uma relação da evolução desta síndrome com a posição do paciente durante a cirurgia, por meio de discussão da fisiopatologia, apresentação dos posicionamentos de risco e dos mecanismos de prevenção, controle e intervenção. Finalmente, a tecnologia da cirurgia robótica é destacada, por meio de revisão sistemática da literatura, no trabalho Cirurgia Robótica de Revascularização Miocárdica: em Busca de Evidência Científica no Uso da Tecnologia do Século XXI. O artigo é repleto de bibliografia atual e internacional e também uma homenagem emocionante à primeira autora. Confira, ainda nesta edição, as notícias do Acontece, em especial a entrevista com a presidente do COFEN, Márcia Cristina Krempel,comentando a atualíssima Resolução 424/2012, que “normatiza as atribuições dos profissionais de Enfermagem em Centro de Material e Esterilização e em empresas reprocessadoras de produtos para saúde”. Aproveite a leitura, adquira novas informações, recicle seus conhecimentos! Afinal, a SOBECC acredita que “ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar” (Esopo, escritor grego 620-550 a.C.). Receba nosso abraço! www.sobecc.org.br Iniciamos este editorial comentando sobre o sucesso de mais um importante evento científico promovido pela SOBECC. Trata-se da oitava edição do Simpósio Internacional de Esterilização e Controle de Infecção Hospitalar, que aconteceu entre os dias 26 e 28 de julho, no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo (SP), com o tema Estratégias e Boas Práticas em Saúde Focadas na Sustentabilidade. O evento reuniu 2.173 participantes e 64 empresas na Exposição Tecnológica, que foi visitada por 1.722 profissionais, entre representantes de vendas, gerentes e empresários. Agenda III Jornada de Estudos sobre Processamento de Produtos para Saúde Data: 26 de outubro de 2012 Local: Hotel Plaza São Rafael, Av. Alberto Bins, 514, Centro - Porto Alegre (RS) Informações: (51) 3333-2428 Site: www.sindihospa.com.br/3jornada III Encontro Internacional de Pesquisa em Enfermagem Data: 29 a 31 de outubro de 2012 Local: Centro de Convenções Rebouças, Av. Dr. Enéas Carvalho Aguiar, 23, São Paulo (SP) Informações: (11) 3061-7548 Site: www.ee.usp.br/evento/2012/encontro E-mail: [email protected] XII Congresso Brasileiro de Controle de Infecção e Epidemiologia Hospitalar Data: 7 a 10 de novembro de 2012 Local: Mendes Convention Center, Avenida Francisco Glicério, 206, Santos (SP) Site: www.cih2012.com.br E-mail: [email protected] V Congresso Latino-Americano de Enfermagem Oncológica Data: 10 a 12 de abril de 2013 Local: Centro de Convenções Rebouças, Av. Dr. Enéas Carvalho Aguiar, 23, São Paulo (SP) Site: www.sbeonet.com.br E-mail: [email protected] 11º Congresso Brasileiro de Enfermagem em Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização Data: 24 a 27 de julho de 2013 Local: Palácio das Convenções do Anhembi, Av. Olavo Fontoura, 1.209, Anhembi Parque, Santana, São Paulo (SP) Informações: (11) 3341-4044 Site: www.sobecc.org.br E-mail: [email protected] Curso de Pós-Graduação em Enfermagem: Clínica e Cirúrgica; Cardiologia e Hemodinâmica; Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização; Nefrologia e Urologia; Terapia Intensiva; Urgência e Emergência; Obstetrícia e Ginecológica; Pediátrica e Neonatal I Encontro do Polo de Enfermagem para Segurança do Paciente de São Carlos e I Jornada Científica de Segurança em Cirurgia da Informações: (11) 2151-1001 SOBECC Site: www.einstein.br/pos Data: 1º de dezembro de 2012 Local: a confirmar Informações: (11) 3341- 4044 E-mail: [email protected] Programe-se para o Congresso da SOBECC em 2013 A 11ª edição do Congresso Brasileiro de Enfermagem em Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização já está com data marcada: será de 24 a 27 de julho de 2013, no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo (SP). Trata-se de mais um encontro com o objetivo de promover o aperfeiçoamento e a troca de experiências entre os profissionais do Brasil e de outros países acerca das ações de Enfermagem Perioperatória. Mais informações nas próximas edições da Revista SOBECC e no site www.sobecc.org.br. Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 5 Acontece SOBECC Presidente do COFEN tira dúvidas sobre a Resolução 424/2012 Márcia Cristina Krempel, presidente do COFEN SOBECC - Qual é a visão do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) em relação às atribuições dos profissionais de Enfermagem em Centro de Material e Esterilização (CME)? Márcia Cristina Krempel: A Enfermagem sempre foi a detentora do trabalho em Centro de Material e Esterilização (CME). O enfermeiro, na grade curricular, quando em formação, possui uma gama de disciplinas que o habilita a planejar, coordenar, executar, supervisionar e avaliar todas as etapas relacionadas ao processamento de produtos para saúde, seja recepção, limpeza, secagem, avaliação da integridade e da funcionalidade, preparo, desinfecção ou esterilização, armazenamento e distribuição para as unidades consumidoras. A Central de Materiais e Esterilização é um dos setores decisivos para a manutenção do baixo índice de infecção hospitalar e, nesse sentido, podemos afirmar que a qualidade da assistência está intimamente relacionada à qualidade do material utilizado, como foi processado, embalado e armazenado. Considero que a CME é o coração de uma instituição de saúde, pois consiste em prestar um serviço com maior nível de segurança no processamento dos artigos hospitalares, garantindo a qualidade e proporcionando condições seguras de assistência ao paciente e na prevenção e controle da infecção hospitalar. SOBECC - Como se deu o processo de ela Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 boração da Resolução COFEN nº 424/2012? Márcia: A minuta da Resolução, elaborada pela Câmara Técnica de Legislação e Normas do COFEN (CTLN), foi fruto de grande pesquisa junto às matérias que discorrem sobre o tema. Considerou-se ainda a RDC da ANVISA nº 15/2012, que “dispõe sobre os requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde”, e na Lei do Exercício Profissional da Enfermagem no 7.498/86. SOBECC - Em quais aspectos o COFEN pode contribuir para a realização das boas práticas relacionadas ao processamento de produtos para a saúde nos CMEs do Brasil? Márcia: A Contribuição do COFEN é com a normatização e a fiscalização do exercício profissional nos serviços, visando a observância e ao cumprimento da legislação vigente. É necessário, ainda, estimular cada vez mais a educação continuada em função do avanço tecnológico nesta área de atuação, assim como dos equipamentos hospitalares sofisticados que, consequentemente, chegam para limpeza, desinfecção e esterilização. SOBECC - O fato de a Resolução COFEN nº 424/2012 normatizar as atribuições dos profissionais de Enfermagem em CME e em empresas processadoras de produtos para saúde garante a responsabilidade técnica desta área somente ao enfermeiro? Márcia: Não, tal atribuição não é privativa do enfermeiro. No entanto, como já afirmei no início, his- toricamente a Enfermagem encontra-se à frente do CME. Inclusive, pela sua importância, há especialização em Centro de Material e Esterilização e uma Associação que congrega estes especialistas. Referendo, ainda, inúmeras pesquisas na área realizada por enfermeiros, assim como publicações que contribuem para o avanço do CME. Lei do Exercício Profissional da Enfermagem, que trata como competência privativa do Enfermeiro a supervisão dos profissionais de Enfermagem. Portanto, onde houver técnicos e auxiliares de Enfermagem executando ações, mesmo que no Centro de Material e Esterilização, torna-se obrigatória a presença do profissional enfermeiro. SOBECC - Com esta resolução em vigor, há alguma posição de irregularidade legal nos CMEs que estão sob coordenação de outro profissional que não o enfermeiro? Em caso afirmativo, o hospital ou a empresa pode ser autuado? Qual é a penalidade a ser imposta? Quando a instituição contrariar a Lei, os serviços de saúde podem e devem ser denunciados aos Conselhos Regionais de Enfermagem para as providências que se fizerem necessárias. Márcia: Não, o serviço não pode ser autuado desde que tenha profissionais com a competência técnica e legal. No entanto, aqui merece destaque a A questão da exclusividade do enfermeiro firma-se devido ao seu conhecimento detalhado das ações de cuidado de Enfermagem e na capacidade de visualizar as necessidades do trabalho de outros profissionais de saúde. A SOBECC agradece a disponibilidade da Dra Márcia Cristina Krempel, presidente do COFEN, pela concessão desta entrevista. Máxima proteção e conforto aos pacientes e à equipe cirúrgica $YHQWDO%9%%DUUHLUD9LUDOH5HVSLUiYHO .LWVHDYHQWDLVFLU~UJLFRV &DPSRVLPSHUPHiYHLVSDUDPHVDGHLQVWUXPHQWDO &DPSRVSDUDFREHUWXUDGHSDFLHQWH 5XD$OEXTXHUTXH6RX]D0XQL]__6mR3DXOR63 )RQH)D[_FRPHUFLDO#OLIHPHGFRPEU_ZZZOLIHPHGFRPEU Acontece SOBECC SOBECC representada no VII Congresso Panamericano de Esterilização A diretora da Comissão de Educação da SOBECC, Márcia Cristina de Pereira de Oliveira, ministrou as palestras O Futuro das Centrais de Esterilização nos Hospitais e Estratégias para Melhorar as Relações entre Centro Cirúrgico e CME no VII Congresso Panamericano de Esterilização, entre 18 e 20 de julho, em Guayaquil (Equador). Além dos equatorianos, o congresso reuniu cerca de 700 participantes de vários países da América Latina, como Chile, Argentina, Bolívia, Colômbia, Costa Rica, México, Guatemala, Uruguai, Peru, Venezuela e Brasil. Maria Helena Yeckle, presidente da Associação Peruana de Enfermeiros de Esterilização, e Marcia Cristina Pereira de Oliveira, diretora da Comissão de Educação da SOBECC “As palestras foram de alto nível e houve uma grande oportunidade de troca de conhecimentos entre os países latino-americanos”, explica Márcia Cristina. “O intercâmbio cultural nos traz a percepção de que o Brasil hoje está em um patamar de qualidade e busca pela excelência no nível dos melhores países da America Latina.” Da esquerda para direita (frente): Guatemala, Equador, Peru, Chile e Argentina. Em pé: Bolívia, Colômbia, Brasil, Uruguai, Venezuela, México, Costa Rica Eleições Em 2013 haverá eleição da Diretoria da SOBECC Nacional para a gestão 2013-2015. Em breve, você poderá conferir pela internet as condições para a elegibilidade dos candidatos. Acompanhe e participe! Práticas Recomendadas Em 2013, a SOBECC lançará a 6ª edição revisada e ampliada de suas Práticas Recomendadas. Aguarde! Errata No trabalho nº 139 – Lesões de Pele Decorrentes do Posicionamento Cirúrgico do Paciente Idoso, publicado na edição abril/junho 2012, faltou citar o mini currículo da autora Maria Célia Kirchner Sundfeld, Enfermeira, graduada em Enfermagem pela Universidade Camilo Castelo Branco (UNICASTELO), Campus Descalvado (SP). E-mail: [email protected]. Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 Título de especialista Revalidação de Título Em 2013, será realizada a prova para obtenção de Título de Especialista pela SOBECC. Vale lembrar que os candidatos precisam ser sócios da SOBECC por dois anos consecutivos, além de terem, no mínimo, cinco anos de experiência comprovadas nas áreas de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização (Bloco Operatório). Os associados que obtiveram o Título de Especialista em 2007 e os que revalidaram no mesmo ano, durante o Congresso Brasileiro realizado pela SOBECC em São Paulo (SP), terão a oportunidade de revalidá-lo. A próxima edição da Revista SOBECC apresentará mais informações sobre a prova. Acompanhe também pelo site www.sobecc.org.br. Para os títulos que serão revalidados em 2013, será necessária a apresentação dos três últimos comprovantes da anuidade SOBECC. A partir de 2015, será necessário a apresentação dos cincos último comprovantes. Rev. SOBECC, São Paulo. abr./jun. 2012; 17(2): 6-10 Acontece SOBECC Hospitais e sistemas de saúde começam a contribuir para uma economia verde Em sua 8ª edição, o Simpósio Internacional de Esterilização e Controle de Infecção Hospitalar abordou como tema central Estratégias e Boas Práticas em Saúde Focadas na Sustentabilidade, reunindo, de 26 a 28 de julho, na capital paulista, cerca de 2.200 profissionais, entre enfermeiros e técnicos de Enfermagem, que puderam aprimorar o conhecimento para uma atuação mais competente na CME, além de debater assuntos relacionados à saúde do planeta. Da esquerda para direita: Dr. Luis Carlos Fonseca e Silva (ANVISA), Dr. Win Renders (WFHSS), Janete Akamine (SOBECC), Valeska Stempliuk (OPAS) e Mauro Antonio Pires Dias da Silva (COREN – SP) Renomados palestrantes nacionais e especialistas convidados dos Estados Unidos, Chile, Portugal, Alemanha e Bélgica compartilharam experiências a respeito das melhores práticas no reprocessamento de material e controle de infecção hospitalar. Assuntos como novas tecnologias, leis e resoluções que normatizam os processos da CME, ações sustentáveis, métodos e recomendações de limpeza e liderança na assistência hospitalar, entre outros temas, contemplaram uma extensa programação, com mais de 20 palestras, além de simpósios-satélites e mostra tecnológica, com mais de 60 expositores. “O número de participantes comprova o sucesso do evento, caracterizando-se como um encontro produtivo, contribuindo, assim, 10 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 Por uma CME mais sustentável para a melhoria da qualidade da assistência da Enfermagem especializada em CME. A programação trouxe novos conhecimentos e desafios para profissionais da área”, assinala a presidente da SOBECC, Janete Akamine. Janete Akamine, presidente da SOBECC Sustentabilidade O desenvolvimento da economia verde é uma missão de todos os organismos nas próximas décadas. Diminuir os impactos causados no ambiente pelas instituições de saúde é uma preocupação da SOBECC. Nesse sentido, o simpósio colocou em discussão as contribuições dos hospitais para a chamada economia verde, por meio de iniciativas que podem fazer a diferença para um futuro mais sustentável. “Todos sonham com um mundo melhor, mas com o padrão de consumo atual em que vivemos, não teremos condições de manter o planeta por muito tempo. Precisamos repensar tudo que estamos fazendo e como agir de forma difeDr. Gonzalo Vecina Neto, rente em prol do planeta”, Hospital Sírio-Libanês disse o superintendente do Hospital Sírio-Libanês e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Dr. Gonzalo Vecina Neto, durante a sua apresentação, com título do tema central do simpósio. Gonzalo alertou sobre a importância de ter uma agenda de sustentabilidade na área da saúde. “Questões sobre reprocessamento de material devem continuar em pauta por muito tempo. Sustentabilidade é um conceito novo nas instituições de saúde, e ainda falta a cultura de preservação no ambiente hospitalar”, disse, complementando que: “a preocupação da SOBECC com o impacto das CMEs no meio ambiente leva uma nova perspectiva para os profissionais, gerando uma mobilização do setor para um ambiente mais sustentável”. Para ele, o grande desafio na área da saúde é ter uma agenda de sustentabilidade. “Temos que ser pró-ativos na adoção de uma agenda em favor de hospitais verdes e saudáveis, e medir o que estamos fazendo. Poucos hospitais avaliam os impactos gerados no meio ambiente. E já existe um modelo de relatório para isso”, ressalta Gonzalo. e a quantidade de participantes. A capacidade de mobilização dos profissionais reflete a vontade de melhorar e de aprender mais. Este é o caminho”, conclui Gonzalo. Hospitais saudáveis Entre os pontos que devem ser adotados na agenda estão: substituir o uso de produtos químicos perigosos no reprocessamento; segregar melhor os resíduos gerados, aumentando a capacidade de reciclagem; implantar iniciativas para o uso de energia renovável; reduzir o consumo de água; utilizar veículos que emitam menos carbono na atmosfera; promover nutrição segura ao paciente, com alimentos mais saudáveis; dar o destino correto dos produtos farmacêuticos; construir empreendimentos de saúde verdes, com mínimo de agressão ao meio ambiente; e exigir certificação de fornecedores para tratamento adequado dos materiais. Em sua palestra Políticas Institucionais que Integram o Tripé da Sustentabilidade, a coordenadora de Meio Ambiente do Hospital Israelita Albert Einstein Marcia Galluci Pinter, ressaltou: “A sustentabilidade está conectada com a inter-relação dos aspectos econôMarcia Galluci Pinter, Hospital Israelita Albert micos, sociais e ambienEinstein tais, cujo principal objetivo é prover o melhor para as pessoas e para o ambiente, tanto agora quanto no futuro. Para um empreendimento ser sustentável são necessários três requisitos básicos: ser ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável”. “A área da saúde pode contribuir significativamente para uma vida melhor na terra. Dentro desse propósito, muito me encanta o alto nível deste simpósio Marcia apontou que, no Brasil, as instituições de saúde geram cerca de 6.500 toneladas de resíduos por dia. “Os hospitais produzem resíduos tóxicos, Secretaria do evento Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 11 Acontece SOBECC infecciosos, radioativos, entre outros potenciais poluidores do ar e da água”, exemplificou. As instituições de saúde também são responsáveis por despenderem uma alta utilização de água, ficando em segundo lugar no ranking das maiores consumidoras de energia elétrica entre os edifícios comerciais por metro quadrado, o que representa 10,6% do consumo total nacional de energia comercial no Brasil. “Há emissões substanciais de gases de efeito estufa (GEEs) pelos hospitais decorrentes de combustíveis fósseis, de energia e resíduos orgânicos”, alerta a palestrante. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública, os serviços de saúde no Brasil geram cerca de 2,7 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano. Desse total, 35% são incinerados, gerando dioxinas, entre outros gases tóxicos; 13% são descartados nos lixões e menos de 15% passam por processos de micro-ondas e autoclave. Na avaliação de Márcia: “qualquer que seja o sistema, a liderança e o comprometimento são a chave para implantar iniciativas corretivas e de melhorias em sustentabilidade”. Garrafas PET como fonte de geração de energia Segundo o pesquisador do Centro de Energias Renováveis da Universidade do Estado de São Paulo (UNESP), Teófilo Miguel de Souza, no País há cerca de 7.000 hospitais, sendo 70% da iniciativa privada e 30% do setor público, contabilizan- Teófilo Miguel de Souza, do aproximadamen UNESP te 440.000 leitos. Ele apresentou em sua palestra um estudo apontando que o consumo de água quente de apenas um leito é de 125 litros por dia. Já o refeitório e departamentos similares são responsáveis pelo gasto diário de 15 litros por pessoa e a lavanderia, por 15 litros de água quente por quilo de roupa seca. 12 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 Ainda de acordo com Teófilo, medidas para substituição nos procedimentos diários garantem a diminuição expressiva de custos nas redes de saúde. Uma das iniciativas indicadas nas pesquisas feitas pela universidade mostra que a utilização de lâmpadas LED em vez de incandescentes gera uma redução de 15 vezes nos custos com energia. Outro estudo feito pela UNESP aponta que a geração de energia por paineis solares é uma alternativa para a diminuição de gastos com eletricidade dos hospitais, mas ainda não é uma opção financeiramente viável. “Há resistência dos hospitais quanto ao investimento inicial, que pode chegar a R$ 840 mil. Porém, este projeto gera uma economia anual no custo da eletricidade de R$ 168 mil, amortizando o investimento inicial em apenas cinco anos”, afirmou Teófilo. Na busca por alternativas mais baratas para utilização de paineis solares, a Universidade encontrou uma forma de transformar garrafas PET em fontes de geração de energia solar. “O Brasil é produtor de 14 bilhões de garrafas PET por ano, fator preocupante para o meio ambiente. Pensando nisso, criamos um painel feito com garrafas PET para 200 litros de água quente entre 50oC e 64oC que, após 5 horas de exposição ao Sol, gera de 900 a 1.000 W/m2. No painel de 100W foram investidos apenas R$ 1.000,00”, explicou Teófilo. Cada metro quadrado de coletor solar, equivale a 50 litros de água quente a 50oC. Ideal para tomar banho, lavar roupas e louças, além de cozinhar alimentos. Cada coletor solar (capacidade para 5 pessoas) com garrafas PETs evita: • 216 garrafas de refrigerantes sem uso no ambiente; • 200 metros quadrados de inundação de água para gerar energia elétrica que seriam para a agricultura. ISO 14.001 A busca pela certificação ISO 14.001 – norma mundial que especifica os requisitos e os processos de um sistema de gestão ambiental – é um movimento que começa a ser estimulado no setor da saúde. Isso ocorre porque à medida em que a sociedade valoriza a sustentabilidade, os hospitais e os sistemas de saúde sentem a necessidade de adequação. “Aderir à ISO 14.001 demonstra o comprometimento da instituição de saúde com as práticas sustentáveis e traz também benefícios de melhoria contínua nos resultados operacionais, como o desperdício de água e energia elétrica, possibilitando aos gestores realocar investimentos”, enfatiza a presidente da SOBECC, Janete Akamine. De acordo com dados do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), no Brasil existem 267 certificações ISO 14.001 validadas e, desse total, São Paulo corresponde a 124 certificações concedidas. Já nos hospitais e demais sistemas de saúde, a ISO 14.001 está implantada em apenas seis instituições. A enfermeira especialista em Acreditação Hospitalar do Hospital Santa Cecília (SP), Elaine Malizia Ribeiro, destacou em sua palestra Certificação pela Norma ISO 14001: Meio Ambiente em Empresas de Saúde: “o profissional de Enfermagem precisa Elaine Malízia Ribeiro, Hospital Santa Cecília desenvolver uma visão ampla e atualizada daquilo que acontece no mundo e perceber a importância da correlação entre a assistência ao paciente, a preservação e a racionalização do uso dos recursos naturais e disponíveis. Compreender a importância de ações que trazem como resultado a preservação do meio ambiente melhora a qualidade de vida de toda a comunidade”. Na avaliação de Elaine, a ISO 14.001, na prática, promove uma melhor gestão de uso e disposição de recursos, reduz os riscos e melhora o desempenho de uma organização, além de ser reconhecida mundialmente como um meio de controlar os custos. RDC 15/2012: uma grande conquista da classe Outro assunto em destaque durante o 8º Simpósio Internacional foi a RDC 15/2012, publicada em março pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que dispõe sobre requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde no CME. “Antes existiam normas. Agora, os CMEs precisam seguir uma lei. A resolução oferece o respaldo legal para o procedimento operacional padrão, qualificando as condições organizacionais, o processamento adequado de produtos, a estrutura física, o armazenamento e o transporte, a segurança e a saúde no trabalho, além de regulamentar as atribuições do profissional de CME. Foi, sem dúvida, uma grande conquista da classe”, destaca a presidente da SOBECC, Janete Akamine. Os serviços da saúde e as empresas processadoras abrangidas pela resolução terão 24 meses, contados a partir da data de publicação da lei, para promover as adequações necessárias estabelecidas pelo regulamento técnico. Ou seja, o prazo acaba em 15 de março de 2014. “É um processo de mudança cultural, que envolve o comprometimento dos gestores para o êxito da implantação”, assinala Janete. A arquiteta especializada em projetos para a área da saúde, Célia Bertazzoli, ressaltou em sua palestra que “os processos devem seguir o fluxo unidirecional, da área suja, passando pela área limpa, de modo a evitar o cruzamento de materiais não processaCélia Bertazzoli, CABE Arquitetura dos com outros desconta minados, desinfectados ou esterilizados, bem como evitar o cruzamento do profissional da área contaminada com o da área limpa”, afirmou. “Para facilitar a adequação dos procedimentos e orientar o processamento dos materiais, adotou-se a classificação, que leva em consideração o risco potencial de transmissão de infecção aos pacientes. Os artigos são classificados em críticos, semicríticos e não críticos. A RDC nº15/2012 foi elaborada com base em referencial científico”, acrescentou. Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 13 Acontece SOBECC “As leis e resoluções balizam as boas práticas no CME, orientando os profissionais a seguir os procedimentos seguros. As publicações que tratam dessas regulamentações devem ser livros de cabeceira de todo profissional Dr. Luis Carlos Fonseca e de enfermagem. Em serSilva, ANVISA viços de saúde, qualidade e risco são indissociáveis”, comenta o gerente geral de Tecnologia de Produtos para Saúde da ANVISA, Dr. Luiz Carlos da Fonseca e Silva. “Os brasileiros estão trazendo as mais modernas técnicas de esterilização”, afirma o arquiteto e consultor independente em processos, projetos e documentação habilitada de Esterilização e Controle de Contaminação, Fernando Bustamante. Segundo o Fernando Bustamante, consultor, o Brasil está in- ABNT serido em vários Grupos de Trabalho (GTs) mundiais para discussão de normas de padrão de qualidade em saúde, por exemplo, o CE 26:090.01 – esterilização de produtos para saúde. Brasil evolui no conceito de esterilização Os debates durante os três dias de simpósio apontaram para uma evolução no cenário de esterilização no Brasil, principalmente, com o respaldo das normas e leis que padronizam e qualificam o processo operacional do CME. O envolvimento da ANVISA, do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e dos Conselhos Regionais de Enfermagem (COREN) tem contribuído com a busca pela excelência do CME junto aos profissionais em todo o país. “Assim que a lei RDC 15/2012 for totalmente implantada, o País terá mais ganhos na área da saúde”, afirmou a enfermeira da Divisão de Prevenção de Infecção do Departamento Técnico da 3M (EUA), Mary Kundus. Nesse sentido, o CME do século XXI exerce um papel fundamental na prevenção e no controle de infecção hospitalar, garantindo, ainda, a segurança do paciente cirúrgico e a qualidade da saúde em geral. “O principal objetivo do profissional de CME é reduzir a propagação de doenças infecciosas. O CME foi criado para reduzir o índice de infecção hospitalar”, enfatizou a palestrante especialista em Controle de Infecção Intra-Hospitalar da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS – EUA), Valeska Stempliuk, explicando que “a contaminação microbiana do local cirúrgico precede a infecção”. Curiosidade A atividade do CME, como uma ciência, tem menos de 200 anos. Até 1940, o processo de esterilização era descentralizado e realizado por enfermeiros das próprias UHs. Já na década de 1950, o CME foi parcialmente centralizado, tendo parte dos instrumentos e artigos preparados e esterilizados no CME. Somente nas últimas décadas do século XX, o CME tornou-se centralizado e passou a ser definido como Unidade de Apoio Técnico, sendo subordinado ao serviço de Enfermagem e dirigido por enfermeiro. Nesse período, houve uma evolução da tecnologia, das técnicas cirúrgicas e dos edifícios hospitalares, resultando no aprimoramento dos processos de esterilização. Auditório Celso Furtado 14 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 Valeska ressaltou que a vigilância na prevenção e no controle de infecção é, sim, uma atribuição do CME. “O profissional precisa ficar atento aos processos para assegurar a esterilidade dos artigos”, alertou, complementando com a dica: “um checklist Valeska Stempliuk, OPAS bem feito melhora as condições para uma cirurgia segura”. A especialista avalia que o Brasil tem um bom nível técnico e acesso tecnológico bastante privilegiado em relação a outros países que já visitou. “Na maioria dos CMEs que visitei, constatei mais problemas nos processos do que na infraestrutura. Esterilização é um tema de vanguarda e o Brasil se encontra em um nível avançado de discussão. Por exemplo, temos a realização deste simpósio, com uma grande participação de profissionais interessados no assunto, e também a RDC 15/2012”, disse. A palestrante fez uma reflexão sobre o cenário no Brasil. “O País tem um longo caminho a percorrer em algumas regiões, pois a realidade dos CMEs em alguns Estados não é homogênea. Dentro desse contexto, a RDC 15/2012 é uma legislação moderna e que culmina em um processo de evolução de esterilização no Brasil. Ou seja, agora, o profissional que deseja melhorar a qualidade em sua CME tem um instrumento legal e técnico de bata- lha. É lei! É assim que evoluímos, tendo como base boas legislações. Para os países que não têm suas próprias normas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) disponibiliza um manual de esterilização”. Considerações finais O CME nasce a partir da necessidade de evitar infecção do cliente, e sua centralização teve a finalidade de realizar o processo de forma efetiva e em grande escala. E, assim, garantir, garantindo a qualidade e a segurança dos processos que se realizam no setor. A qualidade do trabalho do CME repercute diretamente nos índices de infecção hospitalar. “Cada vez mais as doenças infecciosas constituem uma séria ameaça à saúde das pessoas. A esterilização adequada desempenha um papel essencial na tentativa de reduzir a propagação de doenças no serviço de saúde.“ World Forum for Hospital Sterile Supply área exposição tecnológica Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 15 Acontece SOBECC Vencedores dos temas livres na categoria pôster Foram apresentados 123 trabalhos na forma de pôsteres durante o 8º Simpósio Internacional de Esterilização e Controle de Infecção Hospitalar, com temas atuais na temática de controle de infecção hospitalar. entre todos os trabalhos, quatro foram premiados. Confira abaixo os vencedores: Primeiro lugar Pôster 101 - O Desconhecimento do Enfermeiro sobre os Processos de Limpeza e Desinfecção de Material no Hospital Público de Emergência de Belo Horizonte. Autores: Danielle Gonçalves Abrantes, Maria Lúcia Silva e Sales, Pedro Adalberto Aguiar Castro. Janete Akamine, presidente da SOBECC, e Maria Lúcia Silva e Sales Terceiro lugar Pôster 40 - Segurança na Esterilização: um Relato na Selva Amazônica. Autoras: Lia Jeronimo Romero, Zaida Aurora Soler, Sandra Savi Almeida. Márcia Hitomi Takeiti, vice-presidente da SOBECC, e Lia Jeronimo Romero 16 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 Segundo lugar Pôster 52 - Processamento de Micronebulizadores: é Possível Oferecer Maior Segurança com Menor Custo. Autoras: Larissa de Siqueira Gutierres, Simone Garcia Lopes. Andréa Alfaya Acunã, segunda-secretária da SOBECC, e Larissa de Siqueira Gutierres Quarto lugar Pôster 93 - Processamento de Cateteres Diagnóstico/ Terapêutico em Óxido de Etileno: Experiência de Uma Empresa Processadora do Rio Grande do Sul. Autores: Daniela Silva dos Santos, Ronaldo Torma Bernardo. Ligia Garrido Calicchio, diretora de Eventos Regionais da SOBECC, e Daniela Silva dos Santos área Exposição dos Pôsteres Menção honrosa O nível de trabalhos enviados foi alto. Por isso, a Comissão de Premiação resolveu agraciar o trabalho abaixo pela relevância apresentada. Pôster 120 - Prazo de Validade de Esterilização de Materiais Utilizados na Assistência à Saúde: um Estudo Experimental. Da esquerda para a direita: Tânia Regina Zeni Diniz, coordenadora da Comissão de Premiação; Lia Jeronimo Romero (3º lugar); Daniela Silva dos Santos(4º lugar); Larissa de Siqueira Gutierres (2º lugar); Maria Lúcia Silva e Sales (1º lugar); Giovana Abrahão de Araujo Moriya (menção honrosa) Autoras: Giovana Abrahão de Araújo Moriya, Kazuko Uchikawa Graziano. Sorteio William Pesinato (Fami) entrega o tablet à Daniele Barros, do Amapá Além da bagagem de conhecimento, alguns congressistas sócios da SOBECC também levaram prêmios sorteados durante o evento. Ao todo, foram distribuídos, mediante sorteio, os seguintes presentes: dois home theaters; dois microsystems; uma TV LCD, oferecida pela Empresa Brasuture; um tablet oferecido pela empresa Fami. A coordenadora de marketing da Brasuture, Ana Gabriela Cardoso, e o gerente de Vendas, José Carlos Portas, entregam a TV LCD sorteada à enfermeira Marilene de Camargo, da Unicamp Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 17 Acontece SOBECC Sala Acadêmica apresenta pesquisas de três universidades A orientadora Kazuko Uchikawa Graziano e a pesquisadora Giovana Abrahão de Araújo Moriya. coletânea de pesquisas foi sucesso de público A cada ano, a SOBECC busca inovar nos eventos que realiza. No 8º Simpósio, a Profa Dra Kazuko Uchikawa Graziano, professora titular do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, coordenou a Sala Acadêmica, uma atividade que apresentou pesquisas da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Goiás (UFG) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A iniciativa foi um sucesso de público. Vale lembrar também que a Sala Acadêmica tomou emprestado o nome da Profa Dra Silma Pinheiro, uma homenagem da SOBECC a esta grande profissional que tanto se dedicou à Enfermagem. Sala Acadêmica Profª Drª Silma Pinheiro Teste de Funcionalidade A programação científica do Congresso também promoveu oficina para o Teste de Funcionalidade do instrumental de alguns materiais utilizados em procedimentos cirúrgicos. O conteúdo foi ministrado em aulas teóricas e práticas, coordenadas pela enfermeira mestre e doutora Giovana Abrahão de Araújo Moriya, com a colaboração do grupo de monitores, que saíram satisfeitos com o interesse dos participantes em aprender. A coordenadora Giovana Moriya e monitores da oficina de Teste de Funcionalidade 18 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 Aula prática: alunos verificam materiais da rotina cirúrgica Happy hour julino Representantes das empresas patrocinadoras do happy hour e membros da Diretoria da SOBECC dão boasvindas aos participantes de mais uma animada e descontraída festa. Neste ano, o tema foi festa julina, com carrinho de pipoca, algodão doce e animada quadrilha. Da esquerda para direita: Oswaldo Araujo (Wolf Comercial), Maria Cristina Silva Cruz Garcia (Comercial 3 Albe), Gislene Reis (Mack Medical), Marcia Takeiti e Ligia Garrido Calicchio (SOBECC), Bruno Sotero (B|Braun), Humerto Isidoro (Steris) e Marcus Vinicius (Wolf Comercial) Jantar de Confraternização revive anos 70 Mais de mil pessoas compareceram ao Jantar de Confraternização no Hall do Palácio de Convenções do Anhembi, no dia 27 de julho. Neste ano, ao embalo dos anos 70, houve muita descontração e animação durante a festa, que contou com decoração, alimentação de primeira e show com brincadeiras e muita diversão. Confira as fotos no site www.sobecc.org.br. As diretoras da SOBECC, Ligia Garrido Calicchio e Marcia Hitomi Takeiti, junto com os hosts, na entrada da festa, recepcionando os convidados. Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 19 Acontece SOBECC Avaliação Pós-evento Origem dos congressistas por Estado (Total: 2177) Estado AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Não informado Programação Científica supera expectativa Segundo avaliação realizada após o evento, 84% dos congressistas responderam que a programação científica do evento superou as expectativas. Para 12% dos respondentes, a programação atendeu à expectativa, e 4% consideraram que o conteúdo apresentado não correspondeu às expectativas. 20 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 Quantidade 6 5 23 3 56 32 42 42 17 22 109 4 7 7 21 87 13 75 454 7 14 3 102 35 6 977 2 6 Distribuição por categoria ENDOZIME BIO-CLEAN O único detergente enzimático capaz de remover o biofilme, conforme norma ISO 15883-5 anexo F. NOVO! Ruhof ATP Complete Novo software de armazenagem e rastreabilidade de dados. SISTEMA DE EMBALAGENS PARA ESTERILIZAÇÃO PARA ELIMINAÇÃO DE PACOTES MOLHADOS PACOTES MOLHADOS = PACOTES CONTAMINADOS Recomendações AORN/AAMI/SOBECC As embalagens para esterilização Cleantech são produzidas em Nãotecido SMS Grau Médico proporcionando um sistema de barreira estéril, em conformidade com a Norma ISO 11607. Possuem dupla proteção: embalagem hidrofóbica barreira microbiana comprovada através de laudos técnicos embalagem hidrofílica eliminação dos pacotes molhados através da dissipação de calor e umidade Conheça mais sobre estes produtos no site da Planitrade e assista ao vídeo Simpósio-Satélite “Remoção de Biofilme e Pacotes Secos na Esterilização: Soluções Inovadoras para Velhos Problemas”, realizado no 8º Simpósio de Esterilização e Controle de Infecção Hospitalar – SOBECC 2012, com os Palestrantes Fernando Bustamante, Juarez Py de Freitas e Relato de Experiência da Enfª Cristiane Uyeno. www.planitrade.com.br Tecnologia e segurança na redução de infecções hospitalares Linha Direta de Atendimento 51 3358.6300 | Av. Ceará, 447 – Porto Alegre, RS 21 [email protected] | www.planitrade.com.br Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 Acontece SOBECC Exposição Tecnológica: sucesso total Cerca de 64 empresas participaram da Exposição Tecnológica do 8º Simpósio Internacional de Esterilização e Controle de Infecção Hospitalar. A SOBECC Nacional agradece o apoio desses expositores em nome dos enfermeiros que atuam em CC, RA e CMEs. Confiram, a seguir, os estandes que marcaram presença no evento. 22 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 JoãoMed Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 23 Acontece SOBECC 24 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 HUMAN SP Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 25 Acontece SOBECC 26 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 6-27 27 Hospital em Foco O Hospital Copa D’Or segue Protocolo Universal de segurança do paciente proposto pela Organização Mundial de Saúde Copa D´Or em Copacabana, Rio de Janeiro (RJ) O Hospital Copa D’Or é referência em tratamentos de alta complexidade na rede suplementar de saúde no estado do Rio de Janeiro. Fundado no ano 2000 no bairro de Copacabana, na capital fluminense, oferece atendimento geral de elevado padrão, amparado por estrutura gerencial moderna, equipamentos de última geração e corpo clínico aberto, composto por profissionais altamente qualificados. Tudo isso com adoção das melhores práticas de segurança operatória em Enfermagem. O Centro Cirúrgico (CC) do Hospital Copa D’Or possui 11 salas operatórias (SO), onde são realizadas cirurgias das mais diversas especialidades. São, em média, 650 procedimentos anestésico-cirúrgicos por mês, desde intervenções de pequeno porte, até os de alta complexidade, como transplantes Dispondo de equipamentos de última geração e equipe especializada, as SOs da Instituição foram planejadas para oferecer segurança aos clientes, promovendo assistência humanizada aos seus pacientes e aos seus familiares. As instalações das colunas de gases e da eletricidade ultrapassam as recomendações de segurança internacionais, e um sistema no break (baterias) é ligado automaticamente no caso de queda de luz e geradores que entram em operação mediante qualquer oscilação de energia. O sistema de iluminação é composto por focos duplos multiprismáticos, que melhoram a visualização e impedem a formação de sombra. Todas as SOs são equipadas com filtros antimicrobianos e um sistema de ar condicionado individualizado. Ainda disponíveis em cada SO, os modernos equipamentos de anestesia e de monitorização possibilitam constante e cirurgias cardíacas. O CC é composto, avaliação dos parâmetros vitais do paciente, auxi- São mais de 200 leitos disponíveis, distribuídos pelos setores de Internação, Terapia Intensiva e SemiIntensiva, Pediatria, Urgência e Emergência (adulta e pediátrica), Unidade Coronariana e Day Clinic. 28 ainda, por área de recepção de pacientes, farmáciasatélite, sala de agendamento cirúrgico, anatomia patológica, sala de guarda de equipamentos, expurgo, depósito de material de limpeza, conforto médico e de enfermagem e vestiários (feminino e masculino). Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 28-30 liando consideravelmente na garantia da segurança dos clientes cirúrgicos. encaminha o paciente à SO. Transoperatório A equipe de Enfermagem que atua no CC é formada por uma enfermeira-chefe, dois enfermeiros de rotina, sete enfermeiros plantonistas, quatro técnicos de enfermagem (responsáveis pelo agendamento das cirurgias), cinco técnicos de enfermagem diaristas, 46 técnicos de enfermagem plantonistas, dois assistentes administrativos e dez auxiliares de serviços gerais. A gestão do Bloco Cirúrgico é compartilhada por uma equipe multiprofissional, composta por: diretor técnico, diretor clínico, gestor médico, supervisora médica, gerente de enfermagem e chefe de enfermagem. A gerência da área mensura a qualidade dos processos assistenciais, acompanhando indicadores como: sign in, timeout, sign out, marcação do sítio cirúrgico, cirurgias suspensas, tempo de chegada do paciente e total de cirurgias. Pré-Operatório Imediatamente após a recepção do paciente na SO, é realizado o sign in. Os dados referentes a esta etapa são confirmados junto com o anestesista e registrados no checklist do paciente cirúrgico. Após o paciente ter sido anestesiado e antes da cirurgia propriamente dita se iniciar, é realizado o time out (pausa cirúrgica). Em cada um dos momentos, os dados são confirmados por algum membro da equipe de enfermagem (técnico de enfermagem – circulante de sala ou enfermeiro). Ao término do procedimento, o responsável pela lista de verificação realiza o sign out. O enfermeiro do CC checa os dados referentes ao encaminhamento do paciente, confere o prontuário, assina e carimba a evolução de enfermagem e o checklist, antes da liberação. Somente após finalizado o processo, se faz contato com o setor de destino, passando-se as informações a respeito do quadro clínico do paciente. A equipe de Enfermagem da unidade de internação apresenta-se ao paciente, familiares e acompanhantes e o identifica com uma pulseira. Depois, orienta-o sobre jejum e rotinas do setor. Em seguida, afere e registra os sinais vitais em impresso de balanço e evolução de enfermagem; preenche o histórico de Uma das estratégicas de segurança para prevenção de eventos adversos na SO é a implantação de processos de verificação pré-operatória, conforme Enfermagem com anamnese e exame físico, anexa-o ao prontuário do paciente e confirma a presença dos termos de consentimento pertinentes ao procedimento a ser realizado. Depois confirma a realização de marcação do sítio cirúrgico (quando aplicável) e preenche a parte referente ao encaminhamento do paciente no checklist cirúrgico, confirmando as informações com o paciente ou responsável e em prontuário. Por último, colhe a assinatura do paciente ou do responsável no checklist. recomenda o Protocolo Universal da Organização Mundial de Saúde (OMS). O processo é realizado em todas as etapas. Na área de recepção do paciente, no CC, o enfermeiro, ao realizar a admissão, confere: identificação do paciente, idade, data de nascimento, tempo de jejum, procedimento anestésico-cirúrgico proposto, nome do cirurgião responsável, ocorrência de alergias, termo de consentimento, sítio cirúrgico e lateralidade demarcada, resultados de exames e necessidade de algum tipo de precaução específica. A admissão do cliente no CC é feita pelo enfermeiro, que checa novamente os dados de identificação e Além de contar com preparo técnico-científico, a enfermagem atua em equipe, primando pela comu- Prevenção de acidentes Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 28-30 29 nicação interpessoal. Todos os componentes da equipe de enfermagem têm acesso ao gerenciador de documentos (G Doc), disponível em cada computador na área de trabalho. Neles, além do prontuário eletrônico do paciente, pode-se ter acesso, também, às políticas, normas e procedimentos institucionais. a acreditação hospitalar confere à Instituição uma comprovação de que suas práticas assistenciais e de controle de qualidade são pautadas em padrões de excelência. O cuidado seguro com o paciente tem como efeito menores taxas de infecção e reinternação, além da diminuição de falhas, eventos inesperados e erros assistenciais. Acreditação O Hospital Copa D’Or é acreditado pela Joint Commission International desde 2007 e obteve recertificação em abril de 2011. Baseando-se na identificação antecipada de riscos, na verificação diária de atividades, no controle e na auditoria de processos, AF_anuncio_ageis_21x14.pdf 1 8/12/11 Os investimentos em acreditação geram benefícios concretos, tanto nos processos assistenciais, quanto no aumento real de percepção da segurança. Os resultados são notados na melhoria da assistência ao paciente, na redução de custos e, principalmente, no nível de satisfação de clientes e colaboradores. 7:36 PM Ageis. O sistema que enxerga até os mínimos detalhes. A 3Albe é referência nacional na distribuição de produtos específicos para o segmento hospitalar. Ela criou e desenvolveu o Sistema Ageis CME, o método mais inteligente para a completa gestão de sua CME - Central de Material e Esterilização. Composto por seis fases, este modelo exclusivo de monitoramento e rastreabilidade de material cirúrgico está disponível em módulos que se adaptam às necessidades de cada hospital. Sistema Ageis CME. Qualidade total em gerenciamento para sua CME. Certificados Certificado de Boas Práticas de Armazenagem e Distribuição de Produtos para a Saúde e Medicamentos Garantia de Qualidade www.3albe.com.br Soluções com qualidade em produtos e serviços à saúde. Revisão de Literatura CIRURGIA ROBÓTICA DE REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA: EM BUSCA DE EVIDÊNCIA CIENTÍFICA NO USO DA TECNOLOGIA DO SÉCULO XXI* ROBOTIC SURGERY MYOCARDIAL REVASCULARIZATION: IN SEARCH OF SCIENTIFIC EVIDENCE ON USING TECHNOLOGY OF THE XXI CENTURY CIRUGÍA ROBÓTICA LA REVASCULARIZACIÓN MIOCÁRDICA: EN BÚSQUEDA DE LA EVIDENCIA CIENTÍFICA SOBRE EL USO DE LA TECNOLOGÍA DEL SIGLO XXI ALVES, Amanda Ferreira Gonçalves; GRASSIA, Rita de Cássia Fernandes; CARVALHO, Rachel de. “Não importa o quanto essa vida nos obriga a ser sérios, todos nós procuramos alguém para sonhar, brincar, amar e tudo que precisamos é de uma mão para segurar e um coração para nos entender.” (Miguel Falabella) “Dai-nos Senhor, a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo, um ponto de partida para um novo avanço.” (Gabriela Mistral) RESUMO: Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, que objetivou identificar evidências científicas relacionadas ao emprego de sistemas robóticos em cirurgias de revascularização do miocárdio. A busca foi realizada nas bases de dados LILACS, BDENF, MEDLINE e CINAHL, nos idiomas Inglês, Português e Espanhol, com recorte temporal de dez anos, utilizando-se os descritores: Robótica, Procedimentos cirúrgicos cardíacos e Procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos; na classificação do nível de evidência, foram considerados os níveis I a IV. Das 1.678 publicações encontradas, com os três descritores combinados no índice permutado, foram selecionados 13 artigos científicos para fazerem parte da amostra, todos na língua inglesa e 10 deles classificados no nível de evidência II. Concluiu-se que há evidências claras na literatura de que a cirurgia robótica de revascularização miocárdica totalmente endoscópica é um meio seguro e eficaz de revascularização do coração e seu uso na clínica cardiológica é justificado. Em todos os estudos analisados, não houve mortalidade operatória e a maioria das pesquisas evidenciou alta patência angiográfica e baixa morbidade pós-operatória. Palavras-chave: Robótica. Procedimentos cirúrgicos cardíacos. Procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos. ABSTRACT: This is a systematic literature review, which aimed to identify scientific evidence related to the use of robotic systems in coronary artery bypass grafting. The search was conducted in the databases LILACS, BDENF, MEDLINE and CINAHL, in English, Portuguese and Spanish, with time frame of ten-years, using the descriptors: Robotics, Cardiac surgical procedures and Minimally invasive surgical procedures. In the evidence level classification, we * Trabalho extraído da Monografia de Conclusão do Curso de Pós-Graduação de Enfermagem em Cardiologia e Hemodinâmica da Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein (FEHIAE). A publicação deste artigo é a concretização de um sonho de Amanda, a primeira autora, que faleceu aos 27 anos, no interior de Minas Gerais, vítima de acidente automobilístico. Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 31-42 31 considered the levels I to IV. Of the 1.678 publications found, combined with the three descriptors exchanged in the index, 13 papers were selected for inclusion in the sample, all in English and 10 of them classified as level II. It was concluded that there is clear evidence in the literature that surgery robotic coronary artery bypass graft totally endoscopic is a safe and effective revascularization of the heart and its use in clinical cardiology is justified. In all studies analyzed, there was no operative mortality and most research showed high angiographic patency and low postoperative morbidity. Key words: Robotics; Cardiac surgical procedures; Surgical procedures, minimally invasive. RESUMEN: Se trata de una revisión sistemática de la literatura, que tuvo como objetivo identificar la evidencia relacionada con el uso de sistemas robóticos en cirugía de revascularización coronaria. La búsqueda se realizó en las bases de datos LILACS, BDENF, MEDLINE y CINAHL, en Inglés, Portugués y Español, con un recorte temporal de diez años, utilizando las palabras clave: Robótica, Procedimientos quirúrgicos cardíacos y Procedimientos quirúrgicos mínimamente invasivos; en la clasificación el nivel de evidencia, fueron considerados los niveles I al IV. De las 1678 publicaciones encontradas, con los tres descriptores intercambiados en el índice, 13 artículos fueron seleccionados para su inclusión en la muestra, todos en inglés y 10 de ellos clasificados como de nivel de evidencia II. Se concluyó que hay una clara evidencia en la literatura que la cirugía robótica de bypass coronario totalmente endoscópica de la arteria es un injerto de revascularización segura y efectiva del corazón y su uso en cardiología clínica está justificado. En todos los estudios analizados, no hubo mortalidad operatoria y la mayoría de las investigaciones mostraron alta permeabilidad angiografica y baja morbidad postoperatoria. Palabras clave: Robótica; Procedimientos quirúrgicos cardíacos; Procedimientos quirúrgicos mínimamente invasivos. INTRODUÇÃO A finalidade da Cirurgia de Revascularização do Miocárdio (CRVM) é restaurar o suprimento de 32 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 31-42 sangue do músculo cardíaco. Este procedimento cria um novo percurso para o fluxo coronariano, restaurando o volume e a pressão do sangue para o alívio dos sintomas decorrentes da hipóxia do músculo cardíaco. O primeiro relato de revascularização coronariana foi de Alexis Carrel, que compreendeu a associação entre angina pectoris e estenose coronária. Antes da primeira guerra mundial, ele desenvolveu um modelo canino de anastomose aorto-coronária com as artérias carótidas como um condutor. Este experimento foi um advento para o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas de doenças cardiovasculares, sendo agraciado com o Prêmio Nobel1. Porém, foi somente após a segunda guerra mundial que a CRVM se difundiu. A cirurgia clássica com circulação extracorpórea, utilizando veia safena e artéria torácica interna, foi realizada em maiores proporções, somente no final da década de 1960. A partir de 1970 a cirurgia foi sistematizada e estudos multicêntricos, prospectivos e randomizados compararam o tratamento clínico com o tratamento cirúrgico na doença aterosclerótica coronária e evidenciaram que o tratamento cirúrgico reduz a incidência de morte súbita, melhora a tolerância ao esforço físico e a sintomatologia clínica, sendo esses benefícios relacionados à perviabilidade do enxerto2-3. Ao longo dos anos, a cirurgia de revascularização difundiu-se e firmou-se como alternativa para doença aterosclerótica coronariana. As CRVM tradicionalmente eram realizadas por toracotomia mediana transesternal, o que proporciona amplo acesso às estruturas cardíacas e grandes vasos. Nessas cirurgias eram também utilizadas a circulação extracorpórea (CEC) e as soluções cardioplégicas, a fim de oferecer um campo operatório estático e exangue, proporcionando mais conforto ao cirurgião e segurança para o paciente. Apesar da CRVM oferecer completa revascularização e excelentes resultados em longo prazo, atualmente a morbidade cirúrgica permanece entre 10 e 15%, sendo atribuída principalmente à esternotomia, à manipulação da aorta e à circulação extracorpórea45 . As complicações pós-operatórias são também associadas ao aumento significativo da mortalidade, do tempo de hospitalização e dos custos3-4,6. Com o objetivo de diminuir a morbidade e a mortalidade operatória, procurou-se realizar cirurgias menos agressivas, que proporcionassem recuperação mais rápida do paciente. Visando essa recuperação mais rápida, novas tecnologias passaram a ser empregadas nas cirurgias em geral e, em especial, na cardiologia intervencionista. Passou-se a realizar um grande número de CRVM sem CEC, mesmo em pacientes com lesões múltiplas de artérias coronárias. Paralelamente, foram desenvolvidos cateteres e cânulas especiais de calibre menor para a instalação da CEC e da cardioplegia, sem a necessidade de abertura do tórax, constituindo a base da cirurgia endoscópica. Mais recentemente, a CRVM robótica oferece a possibilidade de revascularização totalmente endoscópica (totally endoscopic coronary artery bypass - TECAB) ou através de pequenas toracotomias (minimally invasive direct coronary artery bypass - MIDCAB). A CRVM totalmente endoscópica é realizada com auxílio de sistemas robóticos. O termo robô foi empregado inicialmente em 1921 pelo escritor checo Karel Capek. Esse termo vem da palavra tcheca “robota” que significa “servo”7. Com o advento da industrialização, os robôs se tornaram cada vez mais especializados em movimentação e sensibilidade e passaram a exercer atividades industriais de grande precisão e dificilmente realizadas pelas mãos humanas8. O uso da robótica em cirurgia iniciou-se com o PUMA 560 (Programmable Universal Machine Assembly), um braço robótico industrial, utilizado po Kwoh e colaboradores em biópsias cerebrais em 19859. Em 1988 foi realizada a primeira ressecção transureteral de próstata com o robô, que resultou na criação do PROBOT, um robô específico para ressecção de tumores de próstata. Em 1989 foi criado um sistema robótico para cirurgia cardíaca, aperfeiçoado em 1993 com comando de voz, que possibilitava o controle dos braços robóticos acoplados a uma câmara endoscópica, chamado AESOP (Automated Endoscopic System for Optimal Poisitioning)10. Em 1998 foi introduzido o robô Zeus por Reichenspuner e colaboradores11. Neste mesmo ano, na Universidade da Pensilvânia, Damiano e colaboradores publicaram um estudo com 19 pacientes que realizaram CRVM assistida com o robô Zeus12. No Canadá, Boyd e colaboradores realizaram um estudo com 55 pacientes com dissecção da artéria torácica interna com o robô Zeus, sendo que as anastomoses foram realizadas manualmente por meio de toracotomia reduzida. Posteriormente, esse mesmo grupo realizou a CRVM em seis pacientes com coração batendo totalmente endoscópica13. O sistema Da Vinci, hoje o mais empregado em cirurgias, foi introduzido também em 1998 na CRVM por Loulmet e colaboradores, com a dissecção da artéria torácica interna esquerda14. Um estudo realizado por Mohr e colaboradores destacou a experiência com o sistema robótico da Vinci, também com número significativo de casos15. Além destes, outros dois grupos de cirurgiões publicam experiências com o mesmo sistema robótico16-17. As experiências com sistemas robóticos e telemanipulações têm demonstrado sua factibilidade e inovação no auxílio da realização de cirurgias cardíacas. Entretanto, requerem grande tecnologia e uma extensa curva de aprendizado. A evolução tecnológica e a crescente experiência cirúrgica contribuirão para a expansão dessa nova era, porém ainda não existe na literatura evidência clara da equivalência ou superioridade da cirurgia de revascularização miocárdica com a técnica robótica em relação à convencional. Por isso, se justifica a necessidade de uma revisão sistemática de literatura para identificar evidências científicas sobre o tema. OBJETIVO Identificar evidências científicas relacionadas ao emprego de sistemas robóticos em cirurgias de revascularização do miocárdio. MÉTODO Trata-se de uma pesquisa descritiva, retrospectiva, de nível I, realizada por meio de revisão sistemática Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 31-42 33 de literatura, com abordagem quantitativa. Revisões sistemáticas consistem em integrações de um corpo de pesquisa cuidadosamente elaboradas e executadas, que costumam levar a metanálises e metassínteses, desempenhando papel fundamental no processo de pesquisa e na tentativa de desenvolver uma prática baseada em evidências18. Foram incluídos artigos publicados no período de 2001 a 2011, nos idiomas Inglês, Português e Espanhol, nas bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE) e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL). Os descritores utilizados foram Robótica, Procedimentos cirúrgicos cardíacos e Procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos, bem como seus respectivos termos nas línguas inglesa e espanhola, segundo os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Primeiramente os artigos foram analisados e selecionados pelo título e posteriormente pelo resumo, sendo incluídos na amostra 13 artigos específicos sobre cirurgia de revascularização miocárdica robótica, todos na língua inglesa. Após a leitura minuciosa dos artigos, foi preenchido o roteiro de fichamento das publicações, com dados de identificação do artigo, instituição sede do estudo, características metodológicas, amostra, resultados e conclusão (Anexo). Foram incluídos na pesquisa somente artigos de nível I a VI de evidência, baseando-se na classificação proposta por Galvão19: • Nível I: metanálise de estudos clínicos controlados; 34 • Nível II: estudo clínico controlado; • Nível III: estudos com delineamento quaseexperimental (caso-controle); • Nível IV: estudos com delineamento nãoexperimental, como pesquisa descritiva correlacional; Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 31-42 • Nível V: relatórios de caso; • Nível VI: opinião de especialistas ou de comitês de especialistas, com base em estudos clínicos in vitro ou em animais. Os 13 artigos foram categorizados por ano de publicação, base de dados, categorias temáticas e assunto, sendo apresentados quantitativamente por meio de tabelas e quadros. Posteriormente, foram discutidos seus níveis de evidência, considerando somente aqueles incluídos nos critérios propostos por Galvão19. RESULTADOS A revisão sistemática realizada envolveu um total de 1.678 publicações científicas, com os três descritores combinados no índice permutado nas três línguas (Inglês, Português e Espanhol), nas bases de dados CINAHL, LILACS, BDENF e MEDLINE. Foram destacados os tipos de estudos por níveis de evidência, de acordo com o critério de Galvão19. Após leitura dos títulos e resumos, as publicações foram reduzidas a 13 artigos, todos no idioma Inglês, considerando-se o recorte temporal de dez anos (de 2001 a 2011) e que tinham cirurgia robótica de revascularização miocárdica como tema central. Os resultados da busca nas bases de dados estão apresentados nas tabelas a seguir. Tabela 1. Publicações selecionadas para fazer parte da amostra, segundo base de dados. Base de dados Número de publicações Percentagem CINAHL 09 69,2% MEDLINE 02 15,4% LILACS 01 7,7% BDENF 01 7,7% Total 13 100,0% A Tabela 1 demonstra que nove (69,2%) dos 13 artigos selecionados para fazerem parte da amostra deste estudo foram encontrados na base de CINAHL. Tabela 2. Publicações selecionadas para fazer parte da amostra, segundo ano de publicação. Ano de publicação 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Total Número Percentagem 01 01 02 05 01 02 01 13 7,7% 7,7% 15,4% 38,4% 7,7% 15,4% 7,7% 100,0% Procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos como descritor, seguidos de três (23,1%) artigos com Procedimentos cirúrgicos cardíacos e apenas dois (15,4%) utilizando o descritor Robótica. O quadro da página a seguir apresenta 11 dos 13 artigos selecionados como amostra deste estudo, classificados segundo o nível de evidência proposto por Galvão19, lembrando-se que foram considerados os níveis de I a IV, o que justifica a ausência de dois trabalhos. Também são apresentados segundo tipo de estudo, país de origem, número de casos analisados e complicações decorrentes da CRVM robótica. Dez artigos são classificados no nível de evidência II, tratando-se de estudos clínicos controlados, e um no nível IV, por se tratar de uma pesquisa descritiva correlacional19. De acordo com a Tabela 2, o ano 2006 concentrou maior número de publicações sobre Cirurgia de Revascularização do Miocárdio (CRVM) robótica, com cinco (38,4%) artigos publicados, seguidos dos anos 2005 e 2008, ambos com dois (15,4%) artigos cada um. Não foram encontradas publicações sobre o tema nos anos 2001, 2003, 2009 e 2010, nas quatro bases de dados pesquisadas. Apesar de todos os trabalhos terem sido publicados em Inglês, sete artigos são provenientes dos Estados Unidos, dois da Alemanha, um do Canadá e um da Austrália. A quase totalidade das publicações tratouse de estudos clínicos controlados, realizados com o mínimo de 15 e o máximo de 150 pacientes, com ou sem CEC. A variação de dias de internação foi entre três (mínimo) e 8,6 (máximo). Tabela 3. Caracterização das publicações selecionadas para fazerem parte da amostra, segundo descritores e assuntos. As complicações relatadas foram: conversão para esternotomia, hemorragia, disfunção renal e Acidente Vascular Cerebral (AVC). Em nenhum dos casos estudados em todos os trabalhos analisados houve mortalidade perioperatória. Assunto / Descritor Procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos Número de publicações 08 Procedimentos cirúrgicos cardíacos Robótica Total Percentagem 61,5% DISCUSSÃO 03 23,1% A introdução de novos procedimentos em cirurgia cardíaca é uma fase crítica, que inclui curvas de aprendizagem e o risco de aumento da morbidade e/ou da mortalidade. A revascularização do miocárdio totalmente endoscópica usando técnicas de robótica representa tal procedimento inovador. 02 13 15,4% 100,0% Na Tabela 3 estão divididos os 13 artigos, de acordo com os DeCS, podendo-se verificar que a maioria dos estudos (oito ou 61,5%) incluídos tinha Na cirurgia cardíaca e, especificamente, na cirurgia de revascularização miocárdica, a adoção de técnicas minimamente invasivas robóticas é um desafio, devido às seguintes razões: as abordagens endoscópicas aumentam ainda mais o grau de complexidade da cirurgia, a dificuldade de coleta e anastomose dos Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 31-42 35 Quadro 1. Classificação dos estudos sobre cirurgia robótica de revascularização do miocárdio, segundo autores, país de origem, nível de evidência, número de casos analisados, caridioplegia, tempo de hospitalização e complicações. País de origem Tipo de estudo Nível de evidência Número de casos (N) Cardioplegia Tempo de permanência hospitalar Conversão para esternotomia Reversão de hemorragia Disfunção renal AVC Mortalidade perioperatória EUA Clínico controlado multicêntrico Nível II 98 Com cardioplegia 7,5 dias 5 3 0 0 0 Bonatti et al21 Austrália Clínico controlado Nível II 40 Com cardioplegia 5,1 dias 9 3 1 0 0 Kiaii et al22 Canadá Clínico controlado Nível II 58 Sem cardioplegia 4,5 dias 2 3 - 1 0 Subramanian et al23 EUA Clínico controlado Nível II 30 Sem cardioplegia 4,0 dias 1 2 - - 0 Turner et al24 EUA Clínico controlado Nível II 70 Sem cardioplegia 5,7 dias 3 2 0 0 0 Srivastava et al25 EUA Clínico controlado Nível II 150 Sem cardioplegia 3,6 dias 2 4 - 0 0 EUA Clínico controlado caso-controle Nível II 15 Sem cardioplegia 3,7 dias 0 - - - 0 EUA Clínico controlado randomizado Nível II 100 Sem cardioplegia 3,8 dias 0 - 3 - 0 Canniere et al28 Alemanha Clínico controlado multicêntrico Nível II 90 Com cardioplegia 6,0 dias 27 - 0 1 0 Dogan et al29 Alemanha Relato de caso Nível IV 45 Com cardioplegia 8,6 dias 7 2 0 1 0 Derose et al30 EUA Clínico controlado Nível II 37 Sem cardioplegia 3,0 dias 1 1 - 0 0 Autores Argenziano et al20 Kon et al 26 Poston et al27 36 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 31-42 vasos é maior, o acesso às estruturas cardíacas por minitoracotomias é mais difícil, o tempo operatório é prolongado, a necessidade ou não do uso de circulação extracorpórea e de soluções cardioplégias e a possibilidade de eventos adversos intra e pósoperatórios24,27,31. Um desses desafios é a dificuldade de coleta dos vasos, pois o cirurgião não tem a visão do campo operatório aberto. Além disso, há uma diminuição considerável do espaço, uma vez que não há abertura do tórax por meio de esternotomia. A dificuldade de coleta do vaso está ligada diretamente ao tempo gasto para coleta e à experiência do cirurgião27,29,32. Quadro 2. Tempo de coleta da artéria mamária interna por meio da tecnologia robótica. Autores Número de casos (N) Tempo médio de coleta da artéria mamária interna Bonatti J, Schachner T, Bernecker O, Chevtchik O, Bonaros N, Ott H, Friedrich G et al21 40 pacientes 35 ± 85 minutos Kiaii B, McClure RS, Stitt L, Rayman R, Dobkowski WB, Jablonsky G et al22 58 pacientes 66 ± 22 minutos Dogan S, Aybek T, Andressen E, Byhahn C, Mierdl S, Westphal K et al29 37 pacientes 65 ± 21 minutos O Quadro 2 evidencia o tempo de coleta robótica da artéria mamária interna, segundo alguns estudos selecionados21-22,29. Pesquisadores relatam que o sistema robótico da Vinci é seguro e viável para coleta multiarterial na CRVM através de minitoracotomia lateral. Porém, o acompanhamento de patência do enxerto é necessário e a dor pós-operatória pode ser reduzida com analgesia intensa25. As abordagens por minitoracotomias são mais dolorosas que a transesternal, especialmente se houver afastamento prolongado das costelas. Em pacientes com diabetes e obesos, o índice de infecção da minitoracotomia pode ser maior, devido à maior manipulação e ao maior tempo de exposição pela dificuldade em visualizar a área cardíaca31. Em relação à perviabilidade do enxerto, autores22 compararam a qualidade de artérias torácicas internas esquerdas colhidas pelo método convencional aberto com técnicas minimamente invasivas por videoscopia e robótica assistida, em um estudo prospectivo com 150 pacientes. A artéria torácica interna esquerda foi colhida por meio de três abordagens diferentes, com 50 pacientes consecutivamente atribuídos a cada grupo. Os pacientes do grupo sem CEC foram submetidos à esternotomia mediana, com visualização direta. O sistema automatizado empregou o AESOP 3000 para robótica assistida com visualização manual endoscópica no segundo grupo. No terceiro grupo foi empregado o robô Zeus e a colheita da artéria torácica interna foi feita por via remota a partir de um console cirúrgico. Posteriormente, foi realizada angiografia no primeiro dia de pós-operatório para avaliar a qualidade da artéria torácica interna e sua permeabilidade, não havendo diferença significativa na taxa angiográfica da patência das artérias colhidas nos três grupos22. Apesar do estudo anterior ter descrito que não há diferença pelo método de coleta do vaso em relação à sua permeabilidade, ainda estão sendo desenvolvidos dispositivos robóticos para facilitar a anastomose dos vasos na CRVM. Práticas menos invasivas e estratégias cirúrgicas utilizando sofisticados sistemas robóticos têm sido aplicados para facilitar o acesso ao procedimento totalmente endoscópico na área cardíaca e diminuir o tempo cirúrgico24,29. Aperfeiçoar as técnicas cirúrgicas endoscópicas e as tecnologias robóticas, com a finalidade de reduzir as complicações pré e pós-operatórias, tem sido cada vez mais o foco das equipes de cirurgia cardíaca e dos grandes centros hospitalares. Alguns estudos relacionam a eficácia da cirurgia, a mortalidade intraoperatória e as complicações relacionadas ao tempo de permanência hospitalar (Quadro 1). A redução da permanência intra-hospitalar reflete menor custo e qualidade da assistência20-30. Um estudo com tecnologia robótica em revascularização do miocárdio, através de uma pequena toracotomia, com o coração batendo e sem o uso de circulação extracorpórea foi realizado com 70 pacientes, verificando-se que o tempo médio operatório foi de 4 horas e 3 minutos. O tempo médio Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 31-42 37 operatório por caso para os primeiros 10 casos foi de 5 horas e 56 minutos. Este tempo diminuiu para 3 horas e 52 minutos durante os últimos 10 casos da pesquisa, o que evidencia a melhora na curva de aprendizagem. As complicações pós-peratórias incluíram: transfusões (10,0%), fibrilações atriais (8,5%), reoperações por sangramento (2,8%) e infecções (2,8%). Não houve nenhum tipo de comprometimento neurológico, insuficiência renal, ventilação superior a 1 dia e a taxa de mortalidade operatória também foi nula. A duração média de permanência pós-operatória foi de 5,7 dias. Desta forma, o estudo ressalta que o tempo operatório diminuiu com a experiência do cirurgião24. Os resultados descritos acima estão em concordância com os apresentados em outra pesquisa 21, que diferentemente do estudo anterior, utilizou CEC e soluções cardioplégicas. Quarenta pacientes realizaram CRVM robótica com o telemanipulador da Vinci. Todos os pacientes foram submetidos à perfusão de acesso remoto e à CEC, por meio de acesso femural e todas as anastomoses foram realizadas após a cardioplegia. Ocorreram eventos indesejáveis de vários graus, com complicações em 20 dos 40 pacientes (50%), incluindo: hemorragia (três pacientes ou 8%), problemas de acesso remoto de perfusão (nove ou 23%), sangramento da anastomose (quatro ou 10%), estenose da anastomose (dois 5%). Não houve mortalidade hospitalar21. As dificuldades técnicas durante a cirurgia de revascularização do miocárdio totalmente endoscópica traduziram acentuadamente maior tempo operatório, tempo de ventilação moderadamente prolongada no pós-operatório e a permanência hospitalar aumentou ligeiramente. Entretanto, a sobrevivência a curto prazo e a ausência de angina não foram comprometidas21. A busca por menor tempo de internação também é abordado por um grupo de pesquisadores que estudaram 23 pacientes submetidos à minitoracotomia e que realizaram a cirurgia robótica de revascularização miocádica. Não houve mortalidade hospitalar e, após 30 dias de acompanhamento, 97% dos pacientes foram extubados na mesa de operação. No prazo de 24 horas após a cirurgia, 50% dos pacientes receberam alta, 17% tiveram alta em 36 a 48 horas 38 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 31-42 e o restante em 72 horas23. Em concordância com o estudo acima, outra pesquisa evidenciou que, no procedimento de cirurgia de revascularização miocádica híbrida (TECAB) e angioplastia, o tempo de intubação, a permanência na terapia intensiva, a permanência hospitalar e a morbidade perioperatória foram significativamente menores. Os custos intraoperatórios foram aumentados, porém os pós-operatórios foram menores26. Tais resutados também têm pontos concordantes com um estudo20 realizado com 98 pacientes submetidos à CRVM com CEC e que utilizaram a oclusão do balão endoclampeio e toracoscopia. Todos os aspectos do procedimento foram realizados com o sistema robótico, desde a colheta da artéria mamária interna até a anastomose coronariana. Em 85 pacientes (69 homens, idade 58 ± 10 anos) que foram submetidos a TECAB, o tempo médio de CEC foi de 117 ± 44 minutos, o tempo de pinçamento foi de 71 ± 26 minutos e o tempo de internação hospitalar foi de 5,1 ± 3,4 dias. Houve cinco (6%) conversões para esternotomia; não houve mortalidade operatória ou acidentes vasculares cerebrais, mas houve uma reintervenção precoce e um infarto do miocárdio. TECAB foi realizado com ausência de mortalidade, baixa morbidade e patência angiográfica e as taxas de reintervenção coincidem com as dos estudos anteriormente citados. Embora o uso de CEC tenha sido uma limitação da técnica, esta experiência representou um passo em direção a procedimentos mais avançados, como multiarteriais ou sem CEC TECAB20. As complicações pós-operatórias encontradas pelos autores dos trabalhos citados anteriormente se assemelham a um estudo multicêntrico europeu28, que descreve uma experiência maior na literatura com revascularização robótica totalmente endoscópica do miocárdio especificamente relacionado à viabilidade processual, segurança e eficácia. Entre setembro de 1998 e novembro de 2002, 228 pacientes com doença arterial coronariana foram submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio totalmente endoscópica com o Sistema da Vinci em cinco instituições europeias. O estudo foi randomizado e as cirurgias ocorreram sem CEC e sem cardioplegia. Os pacientes foram submetidos a eletrocardiograma, angiografia ou estresse pós-operatório e foram acompanhados por seis meses28. A viabilidade do procedimento foi demonstrada através da realização de 164 casos de sucesso totalmente endoscópica. Sessenta e quatro pacientes tiveram a conversão para procedimentos não robóticos. Porém, os autores enfatizam que as taxas de conversão diminuíram com o tempo de experiência da equipe de cirurgia. A eficácia processual global, conforme definido pela patência angiográfica ou a falta de sinais de isquemia na eletrocardiografia de esforço, foi de 97%. A incidência de eventos cardíacos adversos maiores em 6 meses foi de 5%28. As limitações da maioria dos estudos estão nos tempos de acompanhamento dos pacientes após o procedimento robótico, pois, por ser um método relativamente novo, não há estudos que tenham acompanhamento a longo prazo. Assim, não há evidência clara sobre a patência do enxerto por até 10 anos, como na CRVM clássica. Além disso, há comparação de estudos com CEC e sem CEC, porém não houve diferença significativa. Para a enfermagem é impressindível o conhecimento dos processos e das complicações que envolvem as cirurgias robóticas de revascularização miocárdica, pois a tendência mundial é a ampliação dessa nova tecnologia. Sendo a equipe de enfermagem responsável pelos cuidados pós-operatórios e pela identificação das complicações, torna-se primordial o entendimento das relações cirúrgicas frente à tecnologia robótica. Esses cuidados proporcionam uma intervenção mais rápida e a correção do problema, uma vez que, quanto mais o enfermeiro tem conhecimento das complicações, mais cedo elas são abordadas. Por isso, a impotância da atuação do enfermeiro especialista em cardiologia nas unidades cardiológicas de pacientes críticos. Dados como altas taxas de conversões e hemorragias só não afetaram a taxa de morbidade, devido à identificação precoce do problema e à intervenção adequada, rápida e precisa. Além disso, especificamente o enfermeiro especialista em cardiologia pode atuar diretamente na instrumentação cirúrgica do procedimento, na pevisão e provisão de recursos que são específicos para tal procedimento e na garantia do funcionamento adequado do console e dos braços robóticos. Assim, cabe ao enfemeiro, como gestor da assistência, conhecer essa nova tecnologia, que diminui significativamente o tempo de permanência e promove menor tempo de internação do paciente na terapia intensiva, menor tempo de internação hospitalar, alta rotatividade e qualidade da assistência, proporcionando mais segurança e menor custo pós-operatório. CONCLUSÃO A revisão sistemática realizada envolveu um total de 1.678 publicações científicas, com os descritores Robótica, Procedimentos cirúrgicos cardíacos e Procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos combinados no índice permutado, nos idiomas Inglês, Português e Espanhol. Após leitura dos títulos e resumos, os trabalhos foram reduzidos a 13 artigos, todos na língua inglesa, publicados entre 2001 e 2011. Foram destacados os tipos de estudos por níveis de evidência, encontrando-se 10 pesquisas classificadas no nível II de evidência. Há evidências claras na literatura de que a cirurgia robótica de revascularização miocárdica totalmente endoscópica é um meio seguro e eficaz de revascularização do coração e seu uso na clínica cardiológica é justificado. Em todos os estudos analisados, não houve mortalidade operatória. A maioria das pesquisas evidenciou alta patência angiográfica e baixa morbidade pós-operatória. Houve altas taxas de conversão em alguns estudos isolados para toracotamia e complicações pósoperatórias, porém tais complicações não afetaram as taxas de mortalidade. As taxas de reintervenção foram variáveis e estavam ligadas à experiência da equipe cirúrgica. É universalmente sabido que tais taxas se alteram conforme o estágio da curva de aprendizado que o cirurgião se encontra. A simulação irá desempenhar um papel importante na redução da curva de aprendizagem, tanto do cirurgião principal, quanto da equipe em treinamento, especialmente quando procedimentos mais complexos forem realizados. Técnicas híbridas continuarão Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 31-42 39 a ser parte integrante da abordagem da doença coronariana arterial. Atualmente, a maioria dos pacientes tem alta de forma segura, em média, 36 horas após a cirurgia e rápido retorno às atividades diárias. Este é mais um indício de que a revascularização do miocárdio totalmente endoscópica pode ser implementada de forma segura em um programa de cirurgia cardíaca. REFERÊNCIAS 1. American College of Cardiology and the American Heart Association. Guidelines for Coronary Artery Bypass Graft Surgery. J Am Coll Cardiol. 1999; 34(4):1265-347. 2. Coronary Artery Surgery Study (CASS): a randomized trial of coronary artery bypass surgery: survival data. Circulation [Internet]. 1983. [cited 2011 Jul 03]:68(5):939-50. Available from: http://www.ncbi. nlm.nih.gov/pubmed/6137292 3. Stamou SC, Hill PC, Dangas G, Pfister AJ, Boyce SW, Dullum MK, et al. 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Rita de Cássia Fernandes Grassia Enfermeira, Especialista em Cardiologia pelo Instituto Dante Pazzanese - Modalidade de Residência Cardiovascular, Mestre em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP), Doutoranda em Ciências na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação da FEHIAE. E-mail: [email protected]. Rachel de Carvalho Enfermeira, Especialista em Cardiologia e Centro Cirúrgico, Mestre e Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), Docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação da FEHIAE. 42 Artigo Original HUMANIZAÇÃO NO CENTRO CIRÚRGICO: A PERCEPÇÃO DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM HUMANIZATION IN SURGERY CENTER: THE PERCEPTION OF NURSING TECHNICIAN HUMANIZACIÓN NO CENTRO DE CIRUGÍA: LA PERCEPCIÓN DEL TÉCNICO DE ENFERMERÍA OLIVEIRA JUNIOR, Nery José de; MORAES, Clayton dos Santos; MARQUES NETO, Shana. RESUMO: O objetivo do estudo foi analisar a percepção dos técnicos de enfermagem em relação à humanização no Centro Cirúrgico (CC). Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo-exploratório, que utilizou um questionário entrevista semi-estruturado. A amostra constituiu-se de 25 técnicos de enfermagem atuantes no CC de um hospital privado na cidade de Porto Alegre (RS). A humanização do cuidado foi interpretada como um processo que visa melhorar o atendimento ao cliente, proporcionandolhe bem-estar, acolhimento e que envolve interação entre equipe e paciente. O acolhimento é traduzido como o ato de dar proteção e guarida. Envolve ética, atendimento igualitário, individualizado, responsabilização, cuidado e apoio ao paciente. Entre as medidas de humanização adotadas destacou-se a atenção ao paciente nos momentos de admissão e o preenchimento do checklist de cirurgia segura. Esse grupo de profissionais considera importante a assistência humanizada, porém, na prática profissional, encontra dificuldades na efetiva implementação, devido à demanda de trabalho, em especial, o burocrático. Palavras-chave: Humanização da assistência. Equipe de enfermagem. Centro cirúrgico hospitalar. ABSTRACT: The objective was to analyze the perceptions of nursing technicians in relation to the humanization in the Surgical Center. It is a qualitative study, descriptive exploratory, that used a semi-structured questionnaire. The sample was composed of 25 technicians in nursing working in a surgical center of a private hospital in Porto Alegre (RS). The humanization of care was interpreted as a process designed to improve customer service, providing welfare, acceptance and that involves interaction between staff and patient. The acceptance is translated as the act of giving protection and shelter. It involves ethic, egalitarian service, individualized, accountability, care and support to the patient. Among the measures of humanization adopted the highlight was patient care at times of admission and filling in the checklist for safe surgery. This group of professionals consider humanized assistance important, but in professional practice, face difficulties in its the effective implementation, due to demand for labor in particular, the bureaucratic. Key words: Humanization; Nursing team; Surgical center. RESUMEN: El objetivo fue analizar las percepciones de los técnicos de enfermería en relación a la humanización del Bloque Quirúrgico. Estudio cualitativo, descriptivo. Utilizamos la entrevista semi-estructurada. La población estuvo constituida por 25 asistentes de enfermería en un quirófano en un hospital privado de Porto Alegre (RS). La humanización del cuidado de enfermería fue interpretado como un proceso destinado a mejorar el servicio al cliente, proporcionándole bienestar, atención que envuelve la interacción entre el personal y los pacientes. El acogimiento es traducido como el acto de dar protección y refugio. Incluye ética, servicio igualitario, individualizado, responsabilidad, cuidado y apoyo a los pacientes. Entre las medidas adoptadas se destacaron la atención humanizada al momento de su ingreso y en el rellenar el checklist de la cirugía segura. Este grupo de profesionales consideró importante el cuidado humanizado, pero en la práctica profesional se enfrenta con dificultades Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 43-49 43 en la efectiva aplicación debido a la sobrecarga de trabajo, en particular, la burocrática. conhecer este processo e utilizá-lo como facilitador no desempenho de suas funções4. Palabras clave: Humanización; Grupo de enfermería; Quirófano O estudo proposto advém do interesse em analisar as percepções dos técnicos de enfermagem que atuam no CC de um hospital privado da região sul do país sobre o processo de humanização. O diagnóstico realizado servirá de subsídio para futuras ações gerenciais que buscam uma assistência de enfermagem qualificada e comprometida com o paciente. INTRODUÇÃO A relação entre a equipe de enfermagem e o paciente cirúrgico é de fundamental importância para a percepção e a experiência cirúrgica. A atmosfera que envolve o paciente no período perioperatório (pré, trans e pós-operatório) pode incluir sentimentos, como medo do desconhecido, da morte, comprometimento da relação do paciente com seus familiares, preocupação com o retorno ao trabalho, entre outros. A experiência cirúrgica é subjetiva e requer um cuidado humanizado, qualificado e seguro. OBJETIVO Analisar o processo de humanização da assistência de enfermagem em um Centro Cirúrgico, a partir da percepção dos técnicos de enfermagem. MÉTODO O cuidado pode ser expresso de duas formas: como forma de sobrevivência ou como forma de carinho, onde há o interesse por outra pessoa e quando se deseja o bem estar do outro. Este último não se refere apenas a um bem estar físico (conforto ou ausência de dor), mas também ao bem estar emocional, gerado por segurança, confiança, comunicação e demonstrações de carinho1. Trata-se de um estudo qualitativo, descritivoexploratório, desenvolvido no Centro Cirúrgico (CC) de um hospital privado do sul do país, localizado no município de Porto Alegre (RS). O hospital mencionado presta atendimento de urgência, emergência e internações. São realizadas cirurgias de pequeno, médio e grande porte, diagnósticos laboratoriais e de imagem. A estrutura do Centro Cirúrgico (CC) está cada vez mais sofisticada e burocrática, tornando-se menos humanizada e mais tecnicista. Assim sendo, a equipe de enfermagem deve ter prudência para que o cliente não se torne somente um paciente a mais, outro procedimento, outro tratamento ou um número de prontuário, de forma a não valorizar a sua própria identidade e individualidade. O CC em estudo possui um quadro funcional de 86 técnicos de enfermagem, divididos nos turnos manhã, tarde, noite 1 e noite 2. A coleta dos dados foi realizada durante o mês de fevereiro de 2010, período em que estavam atuando 66 técnicos, sendo que seis estavam em licença e 14 estavam em férias. Aceitaram participar do estudo 25 trabalhadores atuantes durante o período de coleta, representando 37% do quadro de funcionários ativos. A busca pela humanização prestada no CC não se limita apenas ao atendimento prestado ao paciente, mas se preocupa com a satisfação do mesmo e estende-se aos familiares, vindo ao encontro dos objetivos propostos para a cura2-3. Humanizar caracteriza-se por colocar a cabeça e o coração na tarefa a ser desenvolvida, entregarse de maneira sincera e leal ao outro e saber ouvir com ciência e paciência as palavras e os silêncios, integrando, junto à filosofia da enfermagem, de modo a valorizar a essência humana para a efetividade do cuidado. Cabe a toda a equipe 44 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 43-49 Os critérios de inclusão foram: ser membro da equipe de técnicos de enfermagem do CC e aceitar participar da pesquisa. Os critérios de exclusão foram: não concordância em participar da pesquisa e afastamento das atividades profissionais, no período de coleta dos dados, por licenças ou férias. O projeto foi aprovado pelo comitê de ética em Pesquisa do Hospital Mãe de Deus, registrado sob o nº317/09. A aceitação da participação da pesquisa foi formalizada pela assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, contendo informações sobre a pesquisa. O estudo foi realizado em conformidade com a Resolução nº196/96 do Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde. zado e ética; Processo de interação entre a equipe e o paciente . “É um processo de interação entre chefia, funcionário e paciente.” (E3) Para a coleta de informações foi aplicado um questionário (Anexo), o qual foi preenchido por cada um dos participantes, preservando-se a integridade das informações. “Significa atender o paciente sem indiferença” [...] (E5) Para análise das respostas fornecidas pelos técnicos, foi utilizada a Técnica de Análise de Conteúdo tipo temático, proposta por Minayo5, onde as respostas foram descritas, mediante as fases de pré-análise, exploração do material e tratamento e interpretação dos resultados, correlacionando-os com a produção científica sobre humanização. A análise dos resultados permitiu a delimitação de quatro núcleos temáticos: Compreensão sobre o processo de humanização; Humanização como atitude de responsabilização e cuidado ao paciente; Medidas humanizadoras adotadas no CC e Dificuldades encontradas para implementação do processo de humanização. Objetivando preservar o anonimato dos entrevistados, as respostas dos questionários foram identificadas por meio da letra E, referente à equipe de enfermagem, seguida do número correspondente ao colaborador em relação à pergunta que aborda o respectivo núcleo temático. RESULTADOS E DISCUSSÃO A seguir são apresentados os núcleos temáticos que emergiram a partir da análise dos questionários respondidos por 25 técnicos de enfermagem atuantes no CC. Percepção dos técnicos de enfermagem sobre humanização da assistência no Centro Cirúrgico Com relação ao núcleo Percepção dos técnicos de enfermagem sobre humanização da assistência no Centro Cirúrgico, foram construídas as seguintes categorias: Melhorar o atendimento ao cliente, proporcionando-lhe bem estar, acolhimento individuali- “Entendo que se deve cuidar do paciente sem nenhuma discriminação de cor, raça, religião e seus valores, não esquecendo da palavra ética.” (E9) “Um bom tratamento, com segurança e conhecimento para uma ótima impressão do paciente e um bom relacionamento da equipe com a chefia para um maior comprometimento.” (E11) [...] “levando em consideração que cada indivíduo é único.” (E15) [...] “no momento em que vejo um colaborador como um todo, procurando promover maior satisfação e melhor atuação, conseguindo, assim, um atendimento de excelência ao paciente.” (E18) “É promover o bem estar do ser humano na presença da enfermidade, atuando na promoção da saúde.” (E20) “É dar a devida atenção ao cliente, de uma forma ou maneira confortável, tratando-lhe bem, fazendo sentir-se seguro.” (E21) “Empatia com colegas e paciente, e sempre respeitando a todos como você gostaria que te respeitassem.” (E22) “Entendo por formar uma equipe padronizada, atuando com princípios éticos perante o paciente e seus familiares.” (E25) As categorias identificadas neste núcleo temático são semelhantes às encontradas em outro estudo, que apontou como categorias relacionadas à percepção dos enfermeiros sobre a humanização da assistência cuidar do outro como gostaria de ser cuidado, havendo destaque para a necessidade do enfermeiro em demonstrar atenção, carinho, respeito e empatia e também a visão integral do usuário em Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 43-49 45 que, para uma assistência humanizada, é necessário identificar o indivíduo nas perspectivas física, social, psicológica e espiritual6. As respostas relacionadas a este tema no presente estudo vão de encontro ao pensamento de que a humanização leva a equipe a compreender a necessidade de dialogar com o paciente, quer durante os procedimentos realizados ou não, evitando ser vista como um ato técnico e sim como um processo vivencial, que objetiva um tratamento humanizado nas mais variadas situações7. Percepção do processo de humanização como atitude de responsabilização e cuidado ao paciente “Engloba todo o cuidado que envolva o paciente, desde a admissão até a sua recuperação.” (E12) “Que o profissional é responsável pelo paciente desde sua entrada no CC até a sua saída.” (E16) “Que somos responsáveis pela recepção do paciente (cliente) no CC desde a sua entrada até a sua saída.” (E17) A preocupação com a ética e com o cuidado individualizado retoma os argumentos de que a humanização representa um conjunto de iniciativas que visa a produção de cuidados de saúde capazes de conciliar a melhor tecnologia disponível com a promoção de acolhimento e o respeito ao ser humano, valorizando sempre a ética e o bom desempenho técnico, não deixando de valorizar o profissional de saúde, o qual, no presente estudo, é apontado como responsável por conduzir o cuidado ao paciente8. Percepção das medidas de humanização adotadas no Centro Cirúrgico Em relação a esse núcleo temático surgiram várias categorias: Respeito, Acolhimento, Diálogo, Bem estar proporcionado ao paciente, Fornecimento de informações aos familiares e Implementação do checklist da cirurgia segura como medidas humanizadoras adotadas pela equipe do CC. “Conversas com o paciente antes do procedimento, lhe explicar o que irá acontecer da melhor forma 46 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 43-49 possível para que o mesmo possa entender.” (E5) “Cuidar, confortá-lo, conversar ou dialogar, explicando cada procedimento realizado.” (E9) “Acolhimento, respeito.” (E14) “O checklist, por exemplo, quando recebemos o paciente o cumprimentamos, nos apresentamos, chamamos o cliente pelo nome, o acompanhamos até a sala, lhe dando atenção e quando o mesmo chega na sala o acomodamos na cama cirúrgica e podemos lhe transmitir segurança, simplesmente segurando a sua mão...” (E17) “Apresentação do funcionário ao paciente e checklist.” (E19) “Tratar-lhe bem, manifestando interesse em seu estado atual, esclarecendo dúvidas e proporcionando-lhe conforto e segurança. O próprio checklist.” (E21) “Receber o paciente com qualidade e acolhida como ele espera.” (E24) “Manter sempre o familiar informado sobre a situação em que o paciente se encontra, promover o bem estar do paciente no pré, trans e pós-operatório e entender o paciente e os familiares pelo momento em que estão passando.” (E25) Sendo assim, a educação do paciente e dos familiares nos ajuda a ter o conhecimento e as informações necessárias para que possam participar e tomar decisões sobre o seu cuidado, valorizando o diálogo, não deixando de dar importância às suas necessidades, valores e crenças, a fim de estabelecer uma relação confiável e aberta para proteger os valores culturais, psicossociais e espirituais de cada paciente9. O acolhimento é traduzido como o ato de dar proteção e guarida10. Percepção das dificuldades encontradas para implementação do processo de humanização Os profissionais atribuíram as dificuldades ao excesso de burocracia no processo de trabalho, à falta de tempo, ao ambiente tenso e estressante que é o CC, somadas ao fato de alguns colaboradores serem resistentes às mudanças e à própria aceitação e cooperação em relação à implementação do processo de humanização, bem como à falta de preparo profissional a respeito do assunto. “O fato de que os profissionais não estão totalmente preparados...” (E2) “As pessoas aceitarem no dia a dia esta implementação; tudo o que é novo demora um pouco para as pessoas se adaptarem.” (E3) “Os funcionários estarem dispostos à mudança.” (E7) “A cooperação dos funcionários em participarem de cursos e palestras realizadas pelo hospital para melhorar o contato dos funcionários com os clientes, pacientes.” (E5) “Muita burocracia, papéis, convênio.” (E12) “Encontro dificuldades no tempo, que às vezes não se tem para fazer um trabalho humanizado de máxima qualidade e por motivos de excesso de burocracia.” (E15) [...] “é um setor onde há muito estresse, é um ambiente tenso, moldar funcionários para fazer cumprir regras e rotinas no setor, pois sempre tem um que é resistente.” (E2) O levantamento de dificuldades encontradas, associadas à resistência em relação às mudanças e à própria aceitação do processo de humanização, remetem às considerações que aponta a humanização como um processo amplo, demorado e complexo, ao qual se oferecem resistências, pois envolve mudanças de comportamento, que sempre despertam insegurança. Como política, ela deve traduzir princípios e modos de operar no conjunto das relações entre profissionais e usuários, entre os diferentes profissionais e entre as diversas unidades e os serviços de saúde11-13. Atividades educativas são imprescindíveis para o desenvolvimento dos profissionais no sentido de melhor atender os pacientes. Humanizar também é cuidar com competência10,12. CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi constatado que 37% dos funcionários ativos responderam o questionário, o que demonstra baixa adesão à pesquisa, a qual atribuímos ao fato de ter sido aplicada em um Centro Cirúrgico (CC) de um hospital privado em que a pesquisa ainda não é divulgada e praticada pelos colaboradores de forma contundente e acelerada, como vem acontecendo em outros hospitais e também devido ao fato do pioneirismo em se estudar o tema de uma forma mais pontual e precisa, o que pode ter gerado o baixo número de participantes. Os CCs no universo do ambiente hospitalar são unidades de cuidados especiais, que atendem pacientes de diferentes graus de complexidade em diferentes momentos de suas vidas. Contudo, a percepção cirúrgica, para o paciente, é geradora de estresse, medo e apreensão, independente da gravidade ou da complexidade do procedimento ao qual o mesmo irá se submeter. Os técnicos de enfermagem se encontram inseridos nesse contexto e se vêem responsáveis por prestar cuidados de enfermagem aos clientes cirúrgicos. Neste estudo, ao buscar compreender como os técnicos de enfermagem percebem a humanização do cuidado no CC, desvelou-se os núcleos temáticos Melhorar o atendimento ao cliente, proporcionandolhe bem-estar, acolhimento e Processo de interação entre a equipe e o paciente. Ao proteger o paciente, o técnico de enfermagem está oferecendo segurança e transmitindo confiança, fatores que buscam proporcionar bem-estar e melhoram as percepções quanto ao cuidado prestado. Outro modo de perceber o cuidado dedicado pelos técnicos de enfermagem aos pacientes no CC diz respeito à percepção da humanização como um processo que envolve ética e atendimento igualitário e individualizado. Percebe-se, então, que os técnicos conhecem os preceitos éticos que norteiam a profissão e buscam, dentro do universo do cuidar em CC, dispensar atenção individualizada e humanizada, atendendo todos os pacientes com respeito, zelo e competência. O técnico de enfermagem que vivencia o ambiente cirúrgico sente-se responsável pelo apoio e pelo Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 43-49 47 cuidado ao paciente, emergindo desse sentimento o tema Percepção do processo de humanização como atitude de responsabilização e cuidado ao paciente, onde os agentes percebem a sua responsabilidade pelo atendimento prestado aos pacientes em todos os momentos da experiência cirúrgica. Na responsabilidade expressa nos discursos dos técnicos de enfermagem, verifica-se uma preocupação constante com o diálogo e o modo de interagir com o paciente, surgindo desse, o núcleo Percepção das medidas humanizadoras adotadas em Centro Cirúrgico, onde fica evidente que a atenção dispensada ao paciente nos momentos de admissão, preenchimento do checklist de cirurgia segura, prestação de informações e implementação dos cuidados específicos de enfermagem são oportunidades de oferecer atenção e cuidado humanizado. O diálogo, o toque e o olhar se tornam indispensáveis para a percepção que o paciente tem do cuidado proporcionado a si. Quando o técnico de enfermagem se vê inserido no ambiente de CC, entre suas diversas preocupações está o ambiente tenso e com necessidade de registros específicos e detalhados. Surge dessa impressão, o núcleo temático Percepção das dificuldades para implementação dos processos de humanização. Verifica-se que o técnico percebe o ambiente de trabalho como tenso e estressante. A rotina diária de preenchimento de formulários e protocolos e o despreparo de alguns profissionais foram apontados como os principais fatores que dificultam a sistematização da assistência de enfermagem humanizada. Ao se apropriar das percepções dos técnicos de enfermagem acerca da humanização do cuidado de enfermagem aos pacientes atendidos no CC, se permite fazer algumas recomendações, que poderão subsidiar a qualidade da assistência prestada a tais clientes. O emprego de rotinas sistemáticas de treinamentos e de capacitação de funcionários tem a finalidade de preparar os profissionais para o labor no ambiente cirúrgico. Sugere-se, também, a reavaliação das rotinas e dos protocolos de atendimento de enfermagem aos pacientes, visando reduzir a demanda de trabalho burocrático e possibilitando mais tempo para que o técnico de enfermagem possa interagir com o paciente, de modo 48 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 43-49 a dedicar-lhe mais atenção, fornecer informações e cuidados individualizados e humanizados. REFERÊNCIAS 1. Waldow VR. Cuidado humano: o resgate necessário. 3ª ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto; 2001. 2. Bonfim MA, Carvalho R. A mãe e a criança na recuperação anestésica: o cuidado que faz a diferença. Rev SOBECC. 2011;16(2):57-64. 3. Grasel LH, Brentano EP, Caregnato RC. Ansiedade e medo: diagnóstico de enfermagem aplicado no pré-operatório do paciente cardíaco. Rev SOBECC. 2009;14(2):28-35. 4. Bedin E, Ribeiro MBL, Barreto RSS. Humanização da assistência de enfermagem em centro cirúrgico. Rev Eletrônica Enferm [Internet]. 2005 [citado 2007 jul. 27];7(1):118–27. Disponível em: http://www. revistas.ufg.br/index.php/fen/article/view/846/1018 5. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12ª ed. São Paulo: Hucitec; 2010. 6. Backes DS, Koerich MS, Erdmann AL. 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Disponível em: http://portal.saude.gov. br/portal/arquivos/pdf/doc_base.pdf Autores Nery José de Oliveira Enfermeiro, Especialista em Terapia Intensiva e MBA em Gestão. E-mail: [email protected]. Clayton dos Santos Moraes Enfermeiro, MBA Gestão em Saúde, Mestrando em Enfermagem pela UNISINOS. E-mail: [email protected]. Shana Marques Neto Enfermeira, Enfermeira da Sala de Recuperação Pós-Anestésica do Hospital Mãe de Deus, Porto Alegre (RS). E-mail: [email protected]. ANEXO – Instrumento de coleta de dados: Questionário semi-estruturado Parte I – Caracterização da amostra Idade: __________ anos Gênero: ( ) masculino ( ) feminino Tempo que trabalha em CC: __________ Parte II – A humanização segundo a percepção dos técnicos de enfermagem 1. O que você entende por processo de humanização no CC? 2. Você identifica no processo de trabalho do CC a preocupação com o cuidado humanizado? 3. Quais medidas adotadas no CC podem ser citadas como humanizadoras? 4. Quais as dificuldades que você encontra para implementar o processo de humanização no CC? 5. Na sua opinião, qual é a importância da implementação do processo de humanização no CC? 6. Quais são as suas sugestões para a prestação de uma assistência mais humanizada no CC? Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 43-49 49 Artigo Original CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR NO PARANÁ: FACILIDADES E DIFICULDADES DO ENFERMEIRO* NOSOCOMIAL INFECTION CONTROL IN PARANÁ: NURSE’S FACILITIES AND DIFFICULTIES* CONTROL DE LA INFECCIÓN EN PARANA: FACILIDADES Y DIFICULTADES DEL ENFERMERO* BARBOSA, Maria Emilia Marcondes; SIQUEIRA, Denise de Carvalho de; MANTOVANI, Maria de Fátima. RESUMO: Objetivo: Identificar as dificuldades e facilidades do trabalho do enfermeiro no controle de infecção no estado do Paraná. Método: Pesquisa quantitativa e transversal, da qual participaram 29 enfermeiros atuantes no serviço de controle de infecção, de instituições com cem ou mais leitos e comissões formalmente constituídas. Utilizouse um questionário enviado, via Web e por cartas, cujas respostas foram analisadas estatisticamente. Resultados: Tanto as dificuldades quanto as facilidades foram divididas em três categorias: Institucional, Operacional e Organizacional. Entre as dificuldades destacaram-se: sobrecarga de trabalho (51,7%), profissionais descomprometidos e/ou despreparados (58,6%) e desvalorização do serviço pelos enfermeiros (10,3%). As principais facilidades foram: apoio da administração nas decisões tomadas (27,6%), adesão da equipe de enfermagem às orientações (20,7%), aceitação e respeito do corpo clínico e confiança no trabalho pelos colaboradores (20,7%). Conclusões: Das dificuldades evidenciou-se a sobrecarga de trabalho, que pode estar relacionada ao fato de a Portaria MS 2.616/1998 determinar que somente ao enfermeiro exige-se exclusividade e carga horária distinta em relação aos demais profisssionais. Por outro lado, o enfrentamento das dificuldades foi percebido como uma conquista, pois obtiveram o reconhecimento pelo seu trabalho, percebido pelas facilidades encontradas e pelo apoio nas decisões tomadas. Palavras-chave: Enfermeiros; Equipe multiprofissio- nal; Infecção hospitalar (prevenção & controle). ABSTRACT: Objective: To identify the nurse’s difficulties and facilities about the nosocomial infection control in Paraná. Method: Cross-sectional quantitative study with 29 infection control nurses working at institutions with one hundred or more beds and HICC, formally constituted, took part in this survey. A questionnaire, sent via Web and mail services, was used and the answers statistically analized. Results: Both the difficulties and the facilities were divided into three categories: Institutional, Operational and Organizational. Among the difficulties stood out: work overload (51.7%), uncommitted/unprepared professionals (58.6%), work devaluation by the nurses (10.3%). As to facilities: administration support on taken decisions (27.6%), nursing staff’s attachment to the guidelines (20.7%), medical staff’s acceptance and respect as long as the confidence in the work by the contributors (20.7%). Conclusions: With reference to the difficulties, the work overload was stressed, which may be related to the fact that in the MS 2626/98 decree it’s only demanded to the nurse exclusivity and distinct workload compared to other professionals. On the other hand, confront the difficulties was perceived as a reward, since they achieved recognition for their work, noticed by the facilities found and the support in the decisions taken. Key words: Nursing; Multi-professional; Cross infection (prevention & control). * Texto derivado da dissertação “A Atuação do Enfermeiro no Controle de Infecção Hospitalar no Estado do Paraná”, defendida por Maria Emilia Marcondes Barbosa, Universidade Federal do Paraná (UFPR); 2007. 50 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 50-59 RESUMEN: Objetivo: Identificar las dificultades y las facilidades del enfermero de control de infecciones en la provincia de Paraná. Método: Estudio cuantitativo de corte transversal en que participaron 29 enfermeros del servicio de Control de Infección. de Instituciones con 100 o más camas y comisiones formalmente constituidas. Se utilizó un cuestionario enviado a través de la Web y a través de cartas, cuyas respuestas fueron analizadas estadisticamente. Resultados: ambas, dificultades y facilidades fueron divididas en tres categorías: Institucional, Operacional, y Organizacional. Entre las dificultades se sobresalieron: la sobrecarga de trabajo (51,7%), los profesionales poco preparados (58,6%) y devaluación del servicio por los enfermeros enfermería (10,3%). Las principales facilidades fueron: apoyo de la administración en las decisiones tomadas (27,6%); adherencia por equipo de enfermería a las orientaciones (20,7%), de aceptación y respeto del cuerpo clínico y la confianza en el trabajo de los empleados (20,7%). Conclusiones: Cuanto a las dificultades se evidenció la carga de trabajo, que puede estar relacionada con el hecho de que la Ley del Ministerio de la Salud 2616/98 exigir solamente al enfermero la exclusividad y carga horaria distinta en relación a los demás profesionales de la salud. Por otra parte, el enfrentamiento de las dificultades fue percibió como una victoria, pues los enfermeros obtuvieron el reconocimiento por su trabajo, divisado por las facilidades encontradas, y por el apoyo de las decisiones adoptadas. Essa característica confere a gravidade da afecção, reconhecida como sério problema de saúde pública e, como tal, é dever do Estado a sua atenção, uma vez que ele é responsável direto em garantir o bemestar da população. Atualmente, as ações do controle de infecção hospitalar são norteadas pela Portaria nº2.616/19981 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), do Ministério da Saúde (MS) e, dentre as deliberações incluídas nesse documento, está a orientação sobre a constituição do Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH), entendido como um conjunto de ações desenvolvidas, deliberadas sistematicamente, com vistas à máxima redução da incidência e da gravidade das infecções hospitalares. Para sua execução, é exigida dos hospitais a constituição da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), órgão de assessoria máxima da instituição e de execução das ações de controle das infecções hospitalares, a qual deve ser composta por profissionais da área de saúde, de nível superior, designados formalmente. INTRODUÇÂO A CCIH tem a função de elaborar, implementar, manter e avaliar o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), adequado às características e às necessidades da instituição, e deve ser composta por membros consultores e executores. As ações do controle de infecção devem ser realizadas por técnicos de nível superior, legalmente designado, contando eles, obrigatoriamente, por médicos e enfermeiros, os quais também representam o SCIH e são incumbidos da realização do Programa de Controle de Infecção Hospitalar. Entre os executores, o enfermeiro tem caráter preferencial. Infecção Hospitalar (IH) é aquela que acomete o paciente durante ou após o período de internação1. É uma patologia causada, na maioria das vezes, por múltiplos microorganismos, cuja progressão associa-se a vários cofatores. Para o diagnóstico dessa afecção, é necessário utilizar metodologias que possibilitem a percepção da multicausalidade da doença 2. É fenômeno determinante para a intervenção dos diversos segmentos da área de saúde no tratamento, no controle e na prevenção. O SCIH tem como meta principal a defesa do paciente, ser humano em potencial, sujeito a contrair infecções. Por de tratar de patologia causada por múltiplos fatores, o seu controle, seu tratamento e sua prevenção não são tarefas fáceis. Assim sendo, acreditamos que se trata de uma atividade complexa, na qual o enfermeiro, no exercício da função de controlador da infecção hospitalar, invariavelmente, encontrará muitas dificuldades e também algumas facilidades. Desta forma, nosso interesse no tema Palabras clave: Enfermera(prevención & control).; Equipo multidisciplinario; Infección hospitalaria. Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 50-59 51 infecção hospitalar se voltou à descoberta de tais fatores. OBJETIVO Identificar as dificuldades e as facilidades encontradas pelos enfermeiros na prática da função de controlador da infecção, atuando no serviço de controle de infecção hospitalar de instituições do Paraná. MÉTODO Pesquisa quantitativa, descritiva e transversal3. A população foi constituída por enfermeiros que atuassem no controle de infecção hospitalar em instituições hospitalares do Estado do Paraná, com cem ou mais leitos e com Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) formalmente constituída. O contato com as instituições foi orientado pela Secretaria de Estado da Saúde e extraído do site do DATASUS, atualizado em 20064. A coleta de dados transcorreu de julho a setembro de 2007, por meio de um questionário auto-aplicado, com questões semi-estruturadas, previamente testadas e enviadas, via Web e por cartas3, aos enfermeiros. A pesquisa foi analisada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Paraná, em 12 de julho de 2007, sob protocolo número CAAE: 0048.0.091.000-06. Os dados foram lançados no Microsoft Excel, convertidos para o EPIINFO, versão 6.0, e depois analisados. A análise estatística foi o meio de interpretação dos dados, utilizando-se como parâmetro a revisão de literatura. Os dados foram analisados conforme as variáveis que emergiram. Nas questões dissertativas, as respostas foram agrupadas por semelhança, culminando em 03 categorias: institucional, operacional e organizacional, tanto para as dificuldades como facilidades. RESULTADOS E DISCUSSÃO As investigações de IH envolvem quatro temas: o paciente, o microorganismo, o meio ambiente e a administração. Estima-se, também, que o controle de infecção hospitalar compreenda a intervenção 52 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 50-59 de um grande número de especialistas, além dos profissionais responsáveis pela assistência direta5. Por ser o enfermeiro o profissional preferencial para a realização das atividades de controle de infecção, procurou-se identificar no seu trabalho os fatores que dificultam e os que facilitam sua atuação no Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH). Participaram do estudo 29 enfermeiros que atuavam no SCIH dos 26 hospitais que atenderam aos critérios de inclusão da pesquisa. A Tabela 1 (ao lado) apresenta as maiores dificuldades enfrentadas pelos enfermeiros no desempenho de suas funções. Para facilitar a compreensão, elas foram organizadas em três categorias: dificuldades relacionadas à estrutura institucional, operacional e organizacional. A categoria Estrutura Institucional compreendeu as seguintes dificuldades: financeira, rotatividade de funcionários e sobrecarga de trabalho. Esses aspectos são relativos à administração, pois envolvem gerenciamento de recursos humanos e financeiros. A sobrecarga de trabalho foi citada por 51,7% dos participantes (15 enfermeiros). O cotidiano do profissional de enfermagem se caracteriza por jornadas exaustivas, sobrecarga de tarefas e condições precárias, seja de recursos humanos ou de materiais, além de convivência ininterrupta com a dor e o sofrimento alheio5. Essa categoria de trabalhadores caracteriza-se por ser prestadora de assistência ininterrupta - 24 horas por dia. Executora de cerca de 60% das ações de saúde, é a que mais entra em contato físico com os doentes6. As condições de trabalho relatadas caracterizam o cenário onde atua o enfermeiro do SCIH e refletem, diretamente, na qualidade das ações do controle de IH. A rotatividade de funcionários e médicos foi relatada por 20,7% dos sujeitos da pesquisa (seis enfermeiros). Essa rotatividade impede avanços nos processos que estão sendo implantados com a finalidade de promover o controle de IH e aumenta o tempo dedicado à capacitação, pois constantemente há necessidade de preparar os novos integrantes no serviço. A falta de recursos humanos, relacionada às difi- Tabela 1. Fatores que dificultam a atuação do enfermeiro no Serviço de Controle de Infecção Hospitalar, no estado do Paraná. Categoria Institucional Operacional Organizacional Dificuldades Número* Percentagem** - sobrecarga de trabalho 15 51,7% - rotatividade de funcionários e médicos 06 20,7% - falta de recursos humanos 05 17,2% - falta de postura dos diretores 04 13,8% - financeira 03 10,3% - profissionais descomprometidos e despreparados 17 58,6% - inexperiência em CCIH/SCIH 06 20,7% - visão errônea do papel do enfermeiro do SCIH 05 17,2% - desvalorização do serviço pelos enfermeiros 03 10,3% - burocracia do serviço público 01 3,4% - grande número de discentes despreparados 01 3,4% * O número de respostas poderia ultrapassar ou ser menor que o número de sujeitos, uma vez que cada enfermeiro poderia apontar mais de uma dificuldade ou não apontar nenhuma dificuldade relacionada a determinada categoria. ** Para o cálculo das percentagens, foi considerado 100,0% o número total de profissionais que participaram do estudo (29 enfermeiros). culdades, foi citada por 17,2% dos participantes do estudo (cinco enfermeiros). O adequado número de profissionais é condição para a eficácia das ações de prevenção e controle das infecções hospitalares. Assim, o maior desafio dos enfermeiros é responder às exigências legais de CCIH nas condições adversas que emergem da estrutura institucional precária. A falta de recursos humanos gera sobrecarga de trabalho, podendo levar o profissional a apresentar déficit de atenção e a não dispor de tempo hábil para atender às necessidades do serviço. A distribuição adequada de recursos humanos contribuirá para a eficiência dos serviços prestados pela instituição hospitalar7. A falta de postura dos diretores foi relacionada por 13,8% dos participantes (quatro enfermeiros). Diretores e administradores constituem formalmente as comissões, porém, não investem em infraestrutura que permita a operacionalização do serviço. A mo- tivação para implantar a CCIH não é, em muitas instituições, a preocupação com a qualidade da assistência propriamente dita e sim reflete a necessidade de responder uma exigência legal8. Esse dado evidencia um distanciamento da direção com a causa controle de infecção hospitalar. A dificuldade financeira interfere na atuação do enfermeiro no SCIH, na visão de 10,3% dos participantes (três enfermeiros). O escasso interesse da administração em controlar a infecção hospitalar explica os baixos investimentos na área. Mesmo na eminência deste controle ser um indicador de qualidade, ele é sempre subestimado. Geralmente as instituições optam por investimentos tecnológicos que representem avanços em diagnóstico e tratamento e que impactam a sociedade, atraindo a atenção da mídia. No âmbito Operacional, surgiram como fatores Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 50-59 53 que dificultam a atuação do enfermeiro no SCIH, a inexperiência em CCIH/SCIH, a visão errônea do papel do enfermeiro e a falta de comprometimento e atualização de enfermeiros assistenciais e médicos. Essa última dificuldade foi reconhecida por 58,6% dos enfermeiros que participaram do estudo e que atuam no SCIH (17 enfermeiros). trabalho em equipe e a falta da cultura de prevenção na instituição. A vigilância constante, realizada pelo enfermeiro do SCIH, não deve ser vista como uma ameaça e sim como um fator protetor, uma vez que o propósito do controlador de infecção é atacar o problema e não as pessoas. O controle de infecção deve ser meta de todos e não de alguns11. O maior desafio, nesse sentido, é incorporar informação cientificamente comprovada à prática diária dos profissionais de saúde. Manter-se atualizado é uma necessidade para poder se adequar às exigências das transformações no campo da saúde e especificamente do controle de IH8. Há, ainda, a omissão dos profissionais que não estão diretamente envolvidos com o SCIH. A responsabilidade em controlar a infecção é papel inerente a todo profissional da equipe de saúde, como condição para desenvolver uma cultura de prevenção que possa concretizar um programa de controle de infecções9. As atividades do enfermeiro da CCIH envolvem muitas ações burocráticas, distanciando-o da assistência e, por isso, outros profissionais consideram que esse enfermeiro não trabalha em equipe. Ocorre, assim, uma fragmentação da assistência, ou seja, apesar de convencidos de que o trabalho deva ser realizado em equipe, ele acontece de forma individualizada e desconectada da realidade8. O agravante, nesse aspecto, é que, por força da função, o enfermeiro do SCIH fiscaliza todas as áreas assistenciais. Isso pode provocar certo desconforto por parte dos profissionais que se sentem fiscalizados. A inexperiência em CCIH/SCIH foi identificada como dificuldade por 20,7% dos participantes (seis enfermeiros). Essa preocupação é de alta pertinência, uma vez que inexperiência pode gerar imperícia e, do ponto de vista ético e jurídico, apresenta diversas implicações. Trata-se de uma atividade voltada à prevenção de riscos e envolve várias categorias profissionais10. Assim, é importante o enfermeiro do SCIH, no exercício de sua função, ter domínio dos conceitos de negligência, imprudência e imperícia. Empiricamente se sabe que a experiência gera a perícia e que, quanto maior a experiência, mais seguro fica o profissional em desenvolver sua função, aumentando, consequentemente, o limiar de confiança dos consumidores do serviço. À medida que aumenta a habilidade e o conhecimento, aumenta, também, o senso crítico do enfermeiro, que passa a exigir mais, tornando-se um empecilho para o administrador com pouca visão dos benefícios do eficiente controle de IH. Um profissional bem preparado torna-se mais oneroso para as instituições, porém, os benefícios de sua contratação são inúmeros. Os participantes da pesquisa consideraram também como uma dificuldade operacional, a visão errônea do papel do enfermeiro do SCIH (17,2% ou cinco enfermeiros). Esse aspecto relaciona-se com o 54 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 50-59 A categoria Organizacional caracterizou-se pelos relatos: desvalorização do serviço pelos enfermeiros, burocracia do serviço público e grande número de discentes despreparados. A desvalorização do trabalho do enfermeiro do SCIH por outros enfermeiros assistenciais foi relatada por 10,3% dos participantes (três enfermeiros). Percebese a falta de coesão e consciência de que a IH não se faz isoladamente e sim partindo de um compromisso de todos. Um fato que contribui para esse tipo de comportamento na equipe, num contexto macroinstitucional, é o desconhecimento das normas legais que regem as ações do controle de infecção por parte de alguns profissionais. A ignorância estimula a desconfiança, podendo ser este o entrave no relacionamento das equipes. Nesse aspecto, é importante o papel da gerência da enfermagem para fazer essa ponte entre as equipes. Uma decisão gerencial é a maneira pela qual o enfermeiro analisa dados e informações pertinentes às ações de enfermagem, conclusões sobre problemas e julga a necessidade de intervir e as formas de fazê-lo9. A burocracia do serviço público foi considerada um problema por um participante (3,4%). O trabalho do enfermeiro do SCIH, dentro da estrutura hospitalar, caracteriza-se por atividades de cunho técnico e burocrático, pois precisa a todo tempo realizar inves- tigações e intervir, e os resultados de tais investigações devem ser informadas interna e externamente, para setores de Vigilância Municipal de Saúde, ou seja, é condição obrigatória para o bom desempenho das atividades do controle de infecção. Essa citação acerca do serviço público está se referindo ao atendimento em instância extra-hospitalar e, nesse caso, é específico de cada região9. Finalmente, um enfermeiro (3,4%) relacionou como problema o grande número de discentes despreparados. Muitos hospitais servem como campo de estágio para diversos cursos de graduação na área da saúde, assim, acaba ocorrendo a participação de um grande número de alunos nos cuidados aos pacientes e a atenção do enfermeiro do SCIH é exigida, pois, indivíduos despreparados podem representar uma ameaça ao controle de infecção. Cumprir medidas de isolamento e de precauções, por exemplo, é uma regra para o efetivo controle de IH; tais medidads podem ser quebradas pela alta rotatividade de estudantes10. Cabe aos docentes que supervisionam os estágios, em conjunto com o enfermeiro da SCIH, controlar o trânsito de acadêmicos e educá-los dentro da instituição, a fim de prevenir os riscos de IH, provenientes de sua inaptidão. Nota-se que as dificuldades referidas pelo enfermeiro no controle de infecção hospitalar no Paraná, comprovam que são profissionais atuantes e críticos, porém engessados pelo sistema de saúde, onde de um lado, os administradores visam lucros e há pouco incentivo e investimento, tanto no que diz respeito a recursos materiais, quanto à capacitação dos recursos humanos e, por outro lado, o sistema público impõe normas, sem oferecer suporte para sua implementação e, assim, se instala o pouco compromisso com a população propriamente dita. O enfrentamento das dificuldades foi percebido como uma conquista, pois obtiveram o reconhecimento pelo seu trabalho, tanto pelos colegas como pela administração, percebido pelo relato das facilidades encontradas, nas quais se destacaram o apoio da administração nas decisões e o entrosamento e o respeito da equipe multiprofissinal com o trabalho do enfermeiro do SCIH. No âmbito das facilidades, ilustradas na Tabela 2, assim como nas dificuldades, foram consideradas três categorias: Institucional, Operacional e Organizacional. Tabela 2. Fatores que facilitam a atuação do enfermeiro no Serviço de Controle de Infecção Hospitalar, no Estado do Paraná. Categoria Institucional Operacional Organizacional Facilidades Número Percentagem - apoio da administração nas decisões tomadas 08 27,6% - entrosamento entre a equipe multiprofissional que compõe o SCIH 07 24,1% - disponibilidade de bibliografia e acesso à Internet 04 13,8% - condições de ambiente e área física 03 10,3% - trabalho com infectologista 02 6,9% - adesão da equipe de enfermagem às orientações 06 20,7% - experiência e conhecimento técnico 06 20,7% - autonomia - aceitação e respeito do corpo clínico e confiança no trabalho pelos colaboradores - tempo adequado para executar os trabalhos e organizar o serviço 04 13,8% 06 20,7% 06 20,7% * O número de respostas em cada categoria é menor que o número de sujeitos, pois alguns enfermeiros não apontaram facilidades. ** Para o cálculo das percentagens, foi considerado 100,0% o número total de profissionais que participaram do estudo (29 enfermeiros). Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 50-59 55 Na categoria estrutura Institucional, foram consideradas as seguintes questões: apoio da administração nas decisões tomadas; entrosamento entre a equipe multiprofissional; disponibilidade de bibliografia e acesso à Internet; condições de ambiente e área física; trabalho em conjunto com um infectologista. O apoio da administração nas tomadas de decisão é fundamental para o bom desempenho das ações de controle de IH, e foi relatado por 27,6% dos participantes do estudo (oito enfermeiros). As decisões envolvendo essa área devem ser adotadas respeitando a CCIH, pois têm maior probabilidade de êxito e efetivação das ações. A administração eficaz de um hospital requer um trabalho conjunto das áreas técnica, assistencial e administrativa. Acredita-se que o êxito da CCIH está atrelado ao apoio da direção do hospital e à participação ativa dos profissionais interessados na segurança efetiva do paciente durante o período de internação11. O entrosamento entre a equipe multiprofissional que compõe o SCIH foi referido como facilidade por 24,1% dos participantes do estudo (sete enfermeiros). Respeitadas suas especificidades, as atividades de todos convergem para o mesmo objetivo: o de prevenir e controlar a IH e saber onde o SCIH é eficaz. Consequentemente, interação e aproximação ocorrem, caracterizando de fato uma equipe multiprofissional. Por outro lado, observa-se o risco de “empoderamento” dessa equipe em função de sua ação fiscalizadora, afastando-os das outras equipes, principalmente da enfermagem, percebida nesse estudo, podendo resultar na perda de parceiros no combate à infecção12. A união entre os membros do SCIH é necessária e salutar, porém é importante a adoção de mecanismos para que todos se sintam incluídos e comprometidos. Somente a ação conjunta confere êxito ao programa de controle de infecção em uma instituição. Considerada facilitador, a disponibilidade de bibliografia e acesso à Internet, foi citada por 13,8% dos enfermeiros (quatro profissionais). Para a atualização constante, a instituição que provê recursos bibliográficos e acesso livre à Internet demonstra interesse no bom desempenho das ações de controle de IH. O mérito desses recursos está no estímulo à pesquisa, numa área que vem apresentando mudanças dia a dia. Apesar dos avanços tecnológicos, a IH ainda constitui uma séria ameaça à saúde dos pacientes 56 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 50-59 internados, visto a mudança de comportamento dos microorganismos e a emergência de velhas doenças. Portanto, pesquisas precisam ser constantes para aquele que se propõe a controlar infecções10. As condições de ambiente e de área física adequada foram, para 10,3% dos participantes (três enfermeiros), facilitadoras para controlar as infecções. A Portaria não define, em seu teor, a necessidade de uma área física específica às atividades da CCIH. Falta uma definição com maior clareza acerca da infraestrutura mínima necessária para o controle de IH, bem como de um sistema de informação atualizado e acessível aos hospitais que atendam aos padrões exigidos pela literatura para o adequado controle de infecções. O lugar disponibilizado pela instituição mostra a importância que o controle de infecção hospitalar representa para a administração13. O local de trabalho da CCIH deve ser arejado, iluminado, ser mantido sempre limpo e em bom estado de conservação. Ambientes funcionais e organizados proporcionam maior satisfação no trabalho7. Considerado como facilitador, trabalhar com um infectologista foi citado por 6,9% dos participantes do estudo (dois enfermeiros). Embora a Portaria não referencie a especialidade médica de infectologista para atuar no SCIH, percebe-se o destaque desse profissional para integrar a equipe da CCIH/SCIH. A justificativa maior dessa opção deve-se ao domínio desse profissional sobre doenças infecciosas e controle de antibióticos. A categoria Operacional foi caracterizada pelo relato das seguintes facilidades: adesão da equipe de enfermagem às orientações, experiência e conhecimento técnico e autonomia. A adesão da equipe de enfermagem foi relatada como facilidade por 20,7% dos participantes do estudo (seis enfermeiros). Ao considerar que, para a efetivação das ações de controle de infecção, há necessidade da adesão da equipe às orientações determinadas pelo SCIH, trata-se de um dado alarmante. Os métodos tradicionais de educação permanente não são suficientes para despertar, na equipe, a cultura da prevenção. Mesmo após capacitações, percebese que os profissionais cometem os mesmos erros. Acredita-se que a educação permanente ainda seja o caminho para despertar conhecimentos e hábitos, mas precisa-se mudar a estratégia para atingir tal objetivo13. A educação permanente deve assumir um caráter de edificação. A experiência e o conhecimento técnico facilitam o trabalho para 20,7% dos participantes (seis enfermeiros). Considera-se que a experiência favorece o enfrentamento das dificuldades encontradas para a mudança de comportamento. O estabelecimento da cultura de prevenção foi evidenciado como uma necessidade para efetivar as ações de controle de IH. A experiência gera perícia e competência. Desse modo, o profissional experiente deve ser valorizado e respeitado. Por último, a autonomia foi citada como facilitador por 13,8% dos participantes do estudo (quatro enfermeiros). A autonomia é a capacidade de governar a liberdade moral e intelectual ou a propriedade do direito de escolha. A atuação profissional do enfermeiro do SCIH, pautada no conhecimento científico, permite a respeitabilidade mútua dos profissionais e conquista a confiança da equipe em sua atuação. A autonomia se conquista pela especialização produzida e pela experiência e estudos permanentes, que lapida todo o tempo a atuação desse enfermeiro14. A categoria organizacional das facilidades foi caracterizada pelos seguintes apontamentos: aceitação e respeito do corpo clínico e confiança no trabalho pelos colaboradores, bem como tempo adequado para executar os trabalhos e organização do serviço, cada item relacionado por 20,7% dos participantes do estudo (sete enfermeiros). Esse quadro confere respeito e confiança no serviço realizado pelo enfermeiro do SCIH e é comprovado pelo relato de autonomia anteriormente descrito, ou seja, à medida que o enfermeiro do SCIH aumenta o seu conhecimento, conquista adeptos comprometidos, o que caracteriza autonomia. A questão do tempo adequado para executar os trabalhos e a organização do serviço é uma conseqüência da organização e reflete a conquista de espaço social e profissional, tornando-se um fator que facilita a atuação no controle de IH. É evidente a importância da integração entre o SCIH e os serviços de apoio, a fim de facilitar a realização das atividades de controle e prevenção de IH15. Observa-se que, à medida que há a inclusão dos diversos setores na meta de combater a IH, ocorre a divisão natural das tarefas, de modo a não gerar sobrecarga para um em detrimento do outro, favorecendo, assim, a melhor organização das atividades realizadas pelo enfermeiro do SCIH, ou seja, a força do grupo impera nas ações de combate à infecção. As facilidades relatadas pelos enfermeiros do SCIH do Paraná demonstram que esses profissionais estão atuando de forma responsável e, a despeito das dificuldades, vêm conquistando respeito da equipe multiprofissional, multidisciplinar e dos administradores. Esse comportamento abre espaço para serem reconhecidos também pela sociedade como controladores de infecção hospitalar. Pode-se verificar pelos resultados da pesquisa que, no que se refere ao controle de IH, instituições públicas e privadas somente atendem o que é exigido por lei para o funcionamento mínimo, porém, se não há fiscalização eficaz e frequente, o serviço cai no esquecimento. Por exemplo, a sobrecarga de trabalho referenciada pelos enfermeiros do SCIH pode estar diretamente relacionada com a falta de comprometimento dos demais profissionais e a desvalorização do trabalho pelos colegas, bem como a referência de exclusividade somente do enfermeiro na Portaria que estabelece as ações e as equipes do controle de infecção no País. Quem atua na assistência muitas vezes se exclui de sua responsabilidade pessoal, gerando sentimento de impotência, já que isoladamente pouco pode fazer. O êxito do programa do controle de infecção hospitalar está relacionado com o envolvimento de todos. A responsabilidade de prevenir e controlar a infecção hospitalar é tanto individual quanto coletiva. CONCLUSÃO As respostas referentes às dificuldades e às facilidades dos enfermeiros atuantes em serviços de controle de infecção de hospitais do Estado do Paraná, participantes do estudo, foram agrupadas em três categorias: Institucional, Operacional e Organizacional. Revelou-se que dentre as dificuldades, na categoria Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 50-59 57 Institucional, a evidência como principal obstáculo às ações do SCIH foi a sobrecarga de trabalho. Na categoria Operacional, foi considerado como entrave o descompromisso e o despreparo dos profissionais para atuar no controle de IH. Na categoria Organizacional, constatou-se a desvalorização do Serviço pelos enfermeiros assistenciais. Essa realidade desenha um cenário que dificulta a efetivação das ações propostas pelo SCIH. Como fatores que facilitam a atuação dos enfermeiros no serviço de controle de infecção hospitalar, em nível Institucional, houve maior destaque para o apoio da administração nas decisões tomadas e o entrosamento entre a equipe multiprofissional. Na categoria Operacional, evidenciaram-se fatores como a adesão da equipe de enfermagem às orientações, bem como a experiência e o conhecimento técnico dos profissionais. Na Organizacional registrou-se a aceitação e o respeito do corpo clínico e a confiança do trabalho pelos colaboradores, como também o tempo adequado para executar os trabalhos e a organização do serviço, como fatores facilitadores. CONSIDERAÇÕES FINAIS A investigação sobre as dificuldades e as facilidades encontradas pelo enfermeiro do Controle de Infecção Hospitalar do Estado do Paraná teve como propósito explorar o universo da atuação deste profissional, verificando as fragilidades e as compensações do seu papel no exercício da função. Os questionários respondidos pelos enfermeiros, na função de controladores de infecção hospitalar, demonstraram que a atuação destes profissionais, nesse cenário, estabelece-se como fundamental para que os acontecimentos no entorno ocorram de forma eficaz, não apenas pelo aspecto legal, mas pela forma com que se comprometem com o serviço. Verificou-se que há mais dificuldades do que facilidades. Controlar a infecção não é tarefa fácil, considerando-se a etiologia e as condições de instalação de microrganismos no homem em desequilíbrio no seu processo doença. São múltiplos os fatores causadores de infecção e as ações eficientes para o seu controle resultam de ação conjunta, tanto do aspecto técnico, como filosófico e político. O enfer58 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 50-59 meiro, pela própria designação legal, possui maior designação de carga horária em detrimento de outras categorias, o que muitas vezes o torna o principal responsável pelo controle de infecção na instituição. Dificuldades e facilidades fazem parte do cotidiano de um profissional em qualquer função. As dificuldades representam as adversidades que o enfermeiro enfrenta no dia a dia no exercício da difícil missão de controlar e/ou prevenir as infecções hospitalares e as facilidades representam as conquistas obtidas pela competência profissional no exercício de sua função. Assim, esta pesquisa nos leva a considerar que os enfermeiros do Serviço de Controle de Infecção do Estado do Paraná estão ativos e atuantes na sua função, cujo principal beneficiado é o paciente. Existe, no trabalho do enfermeiro no controle de infecção, um ponto de reflexão, pois paralelamente às adversidades encontradas para o exercício da função, subsiste o encanto e uma luta incessante dos profissionais envolvidos para a eficácia do controle das IH. Há prazer quando vêem seu trabalho reconhecido, o que estimula os enfermeiros a não desistirem. REFERÊNCIAS 1. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria n. 2.616 de 12 de maio de 1998. Dispõe sobre normas destinadas ao controle de infecções hospitalares [Internet]. Brasília; 1998. [citado 2007 out 14]. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/ legis/portarias/2616_98.htm. 2. Lopes ACO, Proeietti FA, Machado GPM, Gaiffa WT. Epidemiologia básica. In: Couto RC, Pedrosa TMG, Nogueira JM. Infecção hospitalar e controle: gestão para a qualidade. 3ª ed. São Paulo: Medsi; 2003. 3. Polit DF, Beck CT. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática de enfermagem. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2011. 4. 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Denise de Carvalho de Siqueira Médica, Doutora em Medicina Preventiva pela Universidade de São Paulo (USP), Docente do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Maria de Fátima Mantovani Enfermeira, Doutora em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP), Professora Associada do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 50-59 59 Artigo Original FATORES ASSOCIADOS À INFECÇÃO DE SÍTIO CIRÚRGICO EM UM HOSPITAL NA AMAZÔNIA OCIDENTAL BRASILEIRA* FACTORS ASSOCIATED WITH SURGICAL SITE INFECTIONS IN A HOSPITAL IN THE WESTERN BRAZILIAN AMAZON FACTORES ASOCIADOS CON LA INFECCIÓN DEL SITIO QUIRÚRGICO EN UN HOSPITAL EN LA AMAZONÍA OCIDENTAL BRASILEÑA AGUIAR, Ana Paula Lima; PRADO, Patricia Rezende do; OPITZ, Simone Perufo; VASCONCELOS, Suleima Pedroza; FARO, André Ricardo Maia da Costa de. RESUMO: Objetivo: Identificar os fatores associados à Infecção de Sitio Cirúrgico (ISC) em um Hospital de Ensino de Rio Branco (AC). Método: Estudo transversal, cuja coleta de dados incluiu todos os pacientes com ISC de duas enfermarias cirúrgicas. Resultados: do total de 2.203 pacientes, 81 apresentaram ISC, representando prevalência de 3,68%. As ISC incidiram predominantemente em mulheres, com idade média de 48 anos, baixa escolaridade e baixo nível sócio-econômico. As cirurgias mais frequentes relacionadas à ISC foram colecistectomia e laparotomia, em pacientes classificados com risco ASA II, apresentando hipertensão e diabetes como comorbidades e tricotomizados com lâmina de barbear, além de outros aspectos. À equipe de enfermagem é necessária a orientação quanto à tricotomia mais próxima da cirurgia e com tricotomizador elétrico. Aos médicos cabe a observação das cirurgias que mais ocorrem ISC, tempo cirúrgico, assepsia adequada, além da cultura de secreções. Conclusão: Este estudo revelou fatores predisponentes para o desenvolvimento de ISC e as ações pertinentes de intervenção da equipe cirúrgica. Palavras-chave: Infecção hospitalar (prevenção & controle); Biossegurança; Enfermagem; Centro cirúrgico hospitalar. ABSTRACT: Purpose: To identify the factors associated with Surgical Site Infections (SSI) in a university hospital in Rio Branco, AC, Brazil. Method: A cross-sectional study. Data collection included all the patients with SSI in two surgical nursing wards. Results: Of the 2.203 patients, 81 had SSI, representing a prevalence of 3.68%. The SSI focused predominantly on women, mean age 48 years, low education and low socioeconomic status. The most common surgeries were related to SSI cholecystectomy and laparotomy in patients classified at risk ASA II, with hypertension and diabetes as comorbidities and shaved with a razor blade, besides other aspects. To the nursing staff, guidance on shaving closer to the surgery and utilization of tricotomizador electric is needed. To the doctors fit the observation on the surgeries in which more ISC occur, surgical time, proper cleansing, and culture of secretions. Conclusion: This study revealed the predisposing factors for developing SSI and appropriate intervention actions. Key words: Surgical site infection (prevention & control).; Biosafety; Nursing RESUMEN: Objetivo: Identificar los factores asociados con infecciones del sitio quirúrgico (ISQ) en un hospital universitario de Río Branco, AC, Brasil. Método: Estúdio transversal, cuya recolección de datos incluyó todos los pacientes con ISQ en dos enfermerías quirúrgicas. Resultados: De los 2203 pacientes, 81 tuvieron ISQ, lo que representa una prevalencia de 3,68%. El ISQ se * Pesquisa realizada no Hospital das Clínicas do Acre sob financiamento do PIBIC/CNPq. Universidade Federal do Acre (UFAC). 60 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 60-70 centró predominantemente en mujeres con edad media de 48 años, baja escolaridad y bajo nivel socioeconómico. Las cirugías más comunes estaban relacionadas con la colecistectomía y la laparotomía en pacientes clasificados como riesgo ASA II, con la hipertensión y el Diabetes como enfermedades concomitantes y rasuradas con un afeitador además de otros aspectos. Al equipo de enfermería se necesita orientarlo sobre que se proceda al rasurado más cercano a la cirugía y con afeitador eléctrico. Para los médicos cabe la observación de las cirugías que más ocurren ISQ, el tiempo quirúrgico, asepsia correcta y cultivo de secreciones. Conclusión: Este estudio reveló los factores predisponentes para el desarrollo de ISQ y acciones de intervención del equipo quirúrgico adecuadas. Palabras clave: Infección del Sitio Quirúrgico (prevención & control); Seguridad; Enfermería. INTRODUÇÃO As Infecções Hospitalares são classificadas em Infecção do Sistema Urinário, Sistema Respiratório, Sistema Vascular e Infecções de Sítio Cirúrgico. As Infecções de Sítio Cirúrgico (ISC) correspondem a 20% das infecções hospitalares, de acordo com a National Nosocomial Infection Surveillance System (NNIS)1. A ISC é considerada uma das maiores e mais importantes complicações pós-operatórias, principalmente devido a seus altos índices de morbidade e mortalidade, altos custos referentes ao tratamento, além da questão litigiosa, que está diretamente ligada a uma assistência com qualidade2. O Ministério da Saúde, pela Portaria 2616, de 12 de maio de 1998, Anexo II, conceituou a Infecção Hospitalar (IH) como aquela adquirida após a admissão do paciente e que se manifeste durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares, num período de 48 horas após a alta da unidade de terapia intensiva, 30 dias após cirurgias sem próteses e até um ano após cirurgias com próteses3. Na ISC, o tempo correspondente ao período de incubação é de 3 a 8 dias após a cirurgia, sendo este período influenciado pelas variáveis de classificação do ferimento. Segundo a probabilidade de contaminação e a potencialidade de causar infecções, os procedimentos cirúrgicos são classificados em3: • Cirurgias limpas são cirurgias realizadas em tecidos estéreis, onde não há presença de processo infeccioso, cicatrização por primeira intenção, não há penetração dos tratos respiratório, digestório e geniturinário, não há falha na técnica asséptica e não tem drenos. Exemplos: herniorrafia e mamoplastia. • Cirurgias Potencialmente Contaminadas envolvem cirurgias realizadas em tecidos que possuem flora residente não numerosa ou onde a descontaminação é um processo difícil e já ocorreu a abertura do trato respiratório, geniturinário ou digestório, sem contaminação significativa. Exemplos: gastrectomia e histerectomia abdominal. • Cirurgias Contaminadas são cirurgias realizadas em tecidos onde a flora microbiana é bem significativa, de difícil descontaminação, há presença de sinais flogísticos e técnica asséptica inadequada. Exemplos: colectomia e hemorroidectomia. • Cirurgias Infectadas correspondem aos procedimentos realizados em qualquer tecido ou órgão com presença de pus, tecido desvitalizado ou presença de corpo estranho, sendo que estes dados são comprovados por meio de análises laboratoriais e dados clínicos do paciente. Exemplos: amputação de pé diabético e apendicectomia supurada. As estimativas no Brasil apontam para um percentual de 5 a 10% de probabilidade de um paciente internado contrair algum tipo de infecção e os fatores predisponentes estão relacionadas ao paciente, ao procedimento cirúrgico e à equipe de saúde4. Os fatores relacionados diretamente ao paciente quanto ao risco de desenvolver ISC são: idade, presença de Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 60-70 61 doenças crônicas, estado nutricional (obesidade e desnutrição), imunossupressão, tabagismo, natureza e local da cirurgia, tempo de internação pré e pósoperatório, grau de contaminação da cirurgia e infecções coexistentes4. A avaliação e a classificação do estado de saúde do paciente que será submetido a uma cirurgia é função do anestesista, que classifica o paciente de acordo com as diretrizes da American Society of Anestesiologists (ASA), que elencou um escore que varia do melhor estado para cirurgia, ou seja, ASA I ao pior estado, ASA VI5. Quando o paciente é classificado como ASA I, é um indivíduo sem alterações fisiológicas ou orgânicas ou o processo patológico responsável pela cirurgia não causa problemas sistêmicos. No caso de paciente ASA II, existe uma alteração sistêmica leve ou moderada relacionada com patologia cirúrgica ou enfermidade geral. No paciente classificado como ASA III, há uma alteração sistêmica intensa relacionada com a patologia cirúrgica ou enfermidade geral. Já no paciente classificado como ASA IV, o distúrbio sistêmico é grave e coloca em risco a sua vida. ASA V quando o paciente é moribundo e não é esperado que sobreviva sem a operação. O paciente ASA VI está em morte cerebral declarada, cujos órgãos estão sendo removidos com propósitos de doação5. O diagnóstico da ISC, segundo a metodologia da NNIS, é a infecção que ocorre em até 30 dias após a data da cirurgia e, em caso de prótese, até um ano após o procedimento. Além da condição anterior, torna-se necessário um dos seguintes achados clínicos: 1) presença de secreção purulenta envolvendo o local da incisão ou coleções purulentas de órgão ou cavidade. Neste último, as evidências são observadas diretamente durante a cirurgia, por exame histopatológico ou exame radiológico sugestivo; 2) microrganismos isolados obtidos de culturas de fluidos ou tecidos procedentes da incisão ou do órgão/cavidade; 3) sinais flogísticos locais, deiscência espontânea da incisão e/ou abertura deliberada da incisão pelo cirurgião; 4) diagnóstico de infecção, de acordo com o local afetado, pelo cirurgião ou médico assistente3,6 . Diante da problemática das ISC, os gastos relacionados às suas complicações, com o aumento do 62 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 60-70 período de internação e, sobretudo, o risco para o paciente, a Lei Federal 9.431, de 1997, por meio da Portaria 2.6163, obriga todos os hospitais a implementarem um programa de controle de infecção hospitalar, sendo necessário o estabelecimento da vigilância epidemiológica para fazer o registro de ocorrências, verificando as possíveis causas e propondo medidas de controle sobre procedimentos que possam vir a desencadear as possíveis causas de infecção em sitio cirúrgico, garantindo, assim, maior segurança para o paciente7. As vantagens de um estudo efetivo sobre os fatores predisponentes das infecções de sítio cirúrgico, bem como a detecção dos fatores de risco em evidência em pacientes que desenvolvem este tipo de infecção, são inquestionáveis, principalmente no que diz respeito à redução da morbimortalidade e dos gastos econômicos relacionados ao período prolongado de internação de pacientes que desenvolveram ISC7. Perante tais constatações, despertou-nos a motivação em realizar a presente pesquisa, que tem por finalidade relacionar a ocorrência de ISC aos fatores que dizem respeito ao procedimento anestésicocirúrgico e ao próprio paciente, em um hospital localizado na Amazônia Ocidental Brasileira. OBJETIVO Identificar os fatores associados à Infecção de Sitio Cirúrgico em um Hospital de Ensino de Rio Branco, Estado do Acre, Brasil, segundo as características do paciente e do procedimento anestésico-cirúrgico, no período perioperatório. MÉTODO Trata-se de um estudo transversal, com abordagem quantitativa, realizado em um Hospital de Ensino público e de referência no Estado do Acre (AC – Amazônia Ocidental, Brasil). A coleta de dados foi realizada no período de dezembro de 2009 a maio de 2010, representando 2.203 cirurgias realizadas no semestre estudado. Foram excluídos da pesquisa os pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas, devido ao tempo prolongado para manifestação dos sinais flogísticos neste tipo de cirurgia e aqueles pacientes que permaneceram hospitalizados por um período inferior a dois dias após o procedimento cirúrgico e, ainda, todos os pacientes que não aceitaram participar da pesquisa. Desta forma, o período de manifestação dos sinais de ISC foi avaliado como preconizado, ou seja, de 3 a 8 dias após o procedimento anestésico-cirúrgico. A coleta de dados foi prospectiva e realizada pela primeira autora, com o paciente hospitalizado e os dados complementares foram obtidos do prontuário do paciente. Utilizou-se um questionário elaborado para este fim, com dados sociodemográficos e informações sobre os períodos pré, trans e pósoperatório. Todos os pacientes eram esclarecidos quanto ao objeto da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Acre (UFAC), sob protocolo nº 23107.0013105/2009-82. Após a coleta de dados, mediante aplicação do questionário, foi elaborado um banco de dados no programa estatístico STATA 12.0, o qual proporcionou trabalhar com os resultados, a fim de que o objetivo do estudo fosse alcançado. RESULTADOS No período do estudo, foram realizados 2.203 procedimentos anestésico-cirúrgicos, sendo que 81 pacientes apresentaram ISC, representando uma prevalência de infecção de 3,68%. Deste total (81 pacientes com ISC = 100,00%), 16,05% das ISC (13 pacientes) ocorreram em cirurgias limpas, 72,84% (59 pacientes) em cirurgias potencialmente contaminadas, 8,64% (sete pacientes) em cirurgias contaminadas e 2,47% (dois pacientes) em cirurgias infectadas. A média de idade dos participantes da pesquisa foi de 48,4 anos, variando de 2 a 93 anos, obtendo, desse modo, um desvio padrão de 16,5. Dos pacientes que compuseram a análise deste trabalho, a maior parte era composta pelo gênero feminino, sendo 65,43% (53 mulheres), enquanto 34,57% (28) eram homens. Quanto à caracterização da cor dos participantes, houve predominância significativa dos pardos, com um percentual bastante elevado: 92,59% pardos (75 pacientes), 3,70% (três pacientes) brancos e 3,70% (três pacientes) negros. A análise deste resultado mostra a predominância da população local e sua etnia. Foi constatado, também, que 60,49% (49 pacientes) dos pacientes que tiveram ISC realizaram algum tipo de procedimento cirúrgico anterior, enquanto que 39,51% (32 pacientes) não haviam realizado outra cirurgia anteriormente. No que se refere à ocupação, observou-se que a percentagem mais expressiva correspondeu a profissionais do lar 37,04% (30 pacientes), seguidos pelos aposentados 22,22% (18 pacientes), autônomos 7,41% (seis pacientes) e estudantes 6,17% (cinco pacientes). As demais ocupações citadas ficaram no patamar que oscila entre 1,25 a 2,50%, as quais foram: pedagoga, agricultor, pedreiro, professor, cozinheira, caseiro, vigilante, músico, comerciante entre outras. A média do tempo de estudo dos participantes da pesquisa foi de 4,6 anos, obtendo desvio padrão de 3,8. Quanto ao tipo de moradia, observou-se que 44,44% (36 pacientes) dos pacientes residiam em casas de alvenaria, 40,74% (33 pacientes) em casas de madeira e os outros 14,82% (12 pacientes) residiam em casas mistas. Dos participantes incluídos na pesquisa, 65,43% (53 pacientes) possuíam moradia com rede de água e esgoto, enquanto que 34,57% (28 pacientes) não possuíam. Os participantes da pesquisa foram analisados, ainda, quanto ao hábito de fumar e de beber e identificou-se que 33,33% (27 pacientes) eram tabagistas e 22,22% (18 pacientes) eram etilistas. No que se refere aos fatores relacionados ao período pré-operatório, foram analisados os dias de internação do paciente antes da realização do procedimento cirúrgico e observou-se que 62,96% (51 pacientes) permaneceram internados apenas um dia antes da realização da cirurgia e 11,11% (nove pacientes) permaneceram internados por dois dias, segundo se pode observar na Tabela 1. Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 60-70 63 Tabela 1. Dias de internação hospitalar (antes da cirurgia) dos pacientes que apresentaram Infecção de Sítio Cirúrgico. Rio Branco (AC), 2010. Dias de internação anteriores à cirurgia Frequência (número) Percentagem 0 03 3,71% 1 51 62,96% 2 09 11,11% 3 01 1,23% 4 01 1,23% 6 01 1,23% 7 02 2,46% 8 01 1,23% 9 02 2,46% 12 01 1,23% 14 01 1,23% 16 02 2,46% 18 01 1,23% 19 01 1,23% 20 01 1,23% 25 01 1,23% 28 01 1,23% 31 01 1,23% Total 81 100,00% Quanto ao risco cirúrgico, de acordo com a classificação da American Society of Anestesiologists (ASA), obteve-se que 54,32% (44 pacientes) dos pacientes com ISC eram risco ASA II e 33,33% (27 pacientes) eram ASA I, lembrando que o risco cirúrgico é um dos fatores que pode predispor à ISC. Os dez pacientes restantes foram distribuídos nas classificações ASA III e IV, conforme é possível se verificar no gráfico a seguir. 64 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 60-70 Risco Cirúrgico ASA (%) Figura 1. Pacientes que apresentaram Infecção de Sítio Cirúrgico, segundo avaliação do risco cirúrgico, pela classificação ASA. Rio Branco (AC), 2010. A Figura 2 se refere ao porte do procedimento cirúrgico realizado nos pacientes que participaram do estudo, e demonstra que houve maior incidência de ISC nas cirurgias de médio porte, seguidas das de grande porte e, com um valor significativamente menor, nas cirurgias de pequeno porte. Porte do procedimento Cirúrgico (%) Figura 2. Avaliação do porte do procedimento cirúrgico dos pacientes que participaram do estudo. Rio Branco (AC), 2010. Na Tabela 2 pode-se verificar que a colecistectomia foi a cirurgia mais prevalente relacionada à ISC, com frequência de 46,91% (38 pacientes), seguida da laparotomia (7,41% ou seis pacientes) e herniorrafia, histerectomia e gastrectomia, cada uma com 4,94% (quatro pacientes). Quanto ao potencial de contaminação cirúrgica, dos 81 pacientes com ISC, 72,84% (59 pacientes) foram submetidos a cirurgias potencialmente contaminadas, 16,05% (13 pacientes) eram cirurgias limpas, 8,64% (sete pacientes) cirurgias contaminadas e 2,47% (dois pacientes) cirurgias infectadas. Tabela 2. Tipos de procedimentos cirúrgicos realizados nos pacientes com infecção de sítio cirúrgico no período de coleta de dados. Rio Branco (AC), 2010. Tipo de cirurgia Frequência Percentagem Colecistectomia 38 46,91 % Laparotomia 06 7,41% Herniorrafia 04 4,94% Histerectomia 04 4,94% Grastrectomia 04 4,94% Uretrocistoscopia 02 2,47% Mastectomia radical 02 2,47% Exérese de cisto em região glútea 02 2,47% Drenagem de abcesso abdominal 02 2,47% Prostatectomia 02 2,47% Ulcerectomia - enxerto de pele 02 2,47% Gastroplastia 01 1,23% Reconstrução de trânsito intestinal 01 1,23% Amputação de membro por lesão necrótica 01 1,23% Hepatectomia 01 1,23% Remoção de tumor em MSE 01 1,23% FAV 01 1,23% Varizes 01 1,23% Esvaziamento cervical 01 1,23% Pielografia retrógada 01 1,23% Biópsia hepática 01 1,23% Polipectomia grave 01 1,23% Correção cirúrgica de fístula vesical 01 1,23% Colpoperineoplastia 01 1,23% 81 100,00% Total Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 60-70 65 Na análise da presença de comorbidades, identificou-se que 34,57% (28 pacientes) apresentavam hipertensão arterial, 2,47% (dois pacientes) eram diabéticos, 2,47% (dois pacientes) eram hipertensos e diabéticos, 1,23% (um paciente) portador de Doença de Chagas e 1,23% (um paciente) teve Malária. No período pré-operatório, os participantes foram questionados quanto ao banho, e verificou-se que 92,60% (75 pacientes) tomaram banho antes da cirurgia, enquanto que 7,40% (seis pacientes) não tomaram banho antes da cirurgia. Foram questionados, ainda, quanto ao intervalo de tempo entre o banho e a entrada no CC, obtendo-se os seguintes dados: 40,74% (33 pacientes) tomaram banho entre 1 e 2 horas antes de entrarem no CC; 24,69% (20 pacientes) tomaram banho entre 3 e 4 horas; 9,88% (oito pacientes) tiveram um intervalo de 5 horas entre o banho e a cirurgia; 6,17% (cinco pacientes) tiveram um intervalo de 6 horas; 8,64% (sete pacientes) tiveram um intervalo entre o banho e a cirurgia num período inferior a uma hora; 2,47% (dois pacientes) tiveram este intervalo referente a 10 horas e o restante oscilou num período de 11 a 24 horas (seis pacientes). Quanto à realização da tricotomia 70,37% (57 pacientes) realizaram antes da cirurgia, enquanto que 29,63% (24 pacientes) não realizaram a tricotomia. No que se refere ao tempo de tricotomia, verificou-se que 29,63% (24 pacientes) realizaram a tricotomia num período inferior a 1 hora; 20,99% (17 pacientes) entre um período de 1 a 2 horas; 6,17% (cinco pacientes) realizaram tricotomia num período referente a 3 horas antes do procedimento cirúrgico; 16,05% (13 pacientes) num período correspondente a 24horas. A tricotomia foi realizada com o uso de lâmina de barbear por 56 pacientes (69,14%). Foi analisada, também, a presença de drenos e observou-se que 46,91% (38 pacientes) estavam portando algum tipo de dreno, enquanto que 53,09% (43 pacientes) não portavam dreno, sendo o uso destes relacionados a um aumento nas taxas de ISC. O período intraoperatório foi analisado quanto às intercorrências durante a realização da cirurgia e observou-se que 96,30% (78 pacientes) não apresentaram nenhum tipo de intercorrência, enquanto 66 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 60-70 que 3,70% (três pacientes) apresentaram alguma intercorrência, como hemorragia, hipotensão, choque entre outras. Dentre os pacientes participantes da pesquisa que tiveram ISC, foi observada a presença de sinais flogísticos em 38,27% (31 pacientes). Ao analisar a presença de sinais flogísticos, observou-se que a dor associada ao edema foi o sinal mais prevalente, representando 14,81% dos casos (12 pacientes), enquanto a presença de eritema correspondeu a 11,11% (nove pacientes), seguida por eritema associado a edema 6,17% (cinco pacientes) e dor 3,70% (três pacientes). Somente 2,47% (dois pacientes) apresentaram todos os sinais flogísticos. Ao avaliar alguns aspectos relacionados ao sítio cirúrgico, como a presença de abscessos ou deiscência de sutura, secreção em sítio cirúrgico, presença de febre, realização de cultura e necessidade de antibioticoterapia pós-cirurgia, encontrou-se os resultados expressos na Tabela 3. O presente estudo constatou que 32,10% (26) dos pacientes apresentaram secreção no sítio cirúrgico, 30,86% (25 pacientes) apresentaram febre e 4,94% (quatro pacientes) desenvolveram abscesso e deiscência de sutura no período pós-operatório. Ao analisar este fator, constatou-se que entre os pacientes que evoluíram com febre após o procedimento cirúrgico, 66,60% apresentaram tal sinal por apenas um dia, enquanto 22,20% por dois dias e o restante (11,2%) por tempo superior a dois dias. Apesar de ter sido encontrado um valor elevado de secreção cirúrgica (26 pacientes ou 32,10%), a realização de cultura foi feita em apenas cinco dos pacientes (6,17%). Dentre os pacientes que tiveram as culturas realizadas foi isolado Staphilococcus aureus em metade das culturas. Com relação à antibioticoterapia pós-cirúrgica, constatou-se que em 90,12% dos casos (73 pacientes) ela foi prescrita, com uma ampla variedade de antibióticos. Dentre estes, a cefalotina foi a mais prescrita pelos médicos (37,04% ou 30 pacientes), seguida pela ciprofloxacina (12,35% ou 10 pacientes); 9,88% (oito pacientes) utilizaram cefazolina; 8,64% (sete pacientes) usaram cefalexina e 6,17% (cinco pacientes) utilizaram ampicilina. Tabela 3. Pacientes com Infecção de Sítio Cirúrgico, segundo aspectos relacionados ao sítio cirúrgico e procedimentos realizados ou não. Rio Branco (AC), 2010. Critério avaliado Frequência (n) Percentagem (%) Degermação pré-operatória Sim Não 78 03 96,30% 3,70% Antissepsia pré-operatória Sim Não 78 03 96,30% 3,70% Antibioticoprofilaxia Sim Não 29 52 35,80% 64,20% Presença de abscesso e deiscência Sim Não 04 77 4,94% 95,06% Presença de secreção cirúrgica Sim Não 26 55 32,10% 67,90% Presença de febre Sim Não 25 56 30,86% 69,14% Coleta de cultura Sim Não 05 76 6,17% 93,83% Antibioticoterapia pós-cirúrgica Sim Não 73 08 90,12% 9,88% Foi analisado, ainda, o tempo de duração do procedimento cirúrgico em minutos, que oscilou entre 45 e 385 minutos. Somente 4,94% (quatro pacientes) foram operados em até 60 minutos e a maioria (50,62% ou 41 pacientes) foram operados em até 150 minutos (2,5 horas), demonstrando que o tempo cirúrgico é longo, porém é necessário considerar que além da maioria das cirurgias ser de médio porte, o hospital é de ensino, com cirurgiões residentes que estão sendo habilitados para a realização de cirurgias. Entretanto, a literatura8 considera que a duração do procedimento cirúrgico, quando elevada, é um dos fatores desencadeantes de ISC. DISCUSSÃO A prevalência de ISC encontrada no hospital do estudo foi de 3,68%, 81 pacientes dos 2.203 pacientes operados no semestre estudado. Este resultado é considerado satisfatório e coincide com estudo realizado no Rio Grande do Norte9, que encontrou prevalência de 3,70%, ao analisar 3.120 pacientes no período de 1999 a 2002. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos10 também identificou 3,70% de ISC, monitorizando 84.691 pacientes operados em 44 hospitais americanos. Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 60-70 67 Das 81 ISC encontradas no presente estudo, 16,05% (13 pacientes) ocorreram em cirurgias limpas, 72,84% (59 pacientes) em cirurgias potencialmente contaminadas, 8,64% (sete pacientes) em cirurgias contaminadas e 2,47% (dois pacientes) em cirurgias infectadas, concordando com o potencial de contaminação aceito pelo Center for Desease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos, que preconiza que 1 a 5% das ISC ocorram em cirurgias limpas, 3 a 11% em cirurgias potencialmente contaminadas, 10 a 17% em cirurgias contaminadas e 27% em cirurgias infectadas11. A média de idade dos participantes da pesquisa foi de 48,4 anos, variando de 2 a 93 anos. Considerase que o risco cirúrgico não aumenta apenas com a idade, com exceção dos pacientes com 70 anos ou mais, mas também deve ser considerada em conjunto com patologias associadas, como coronariopatias, pneumopatias, disfunção renal e doenças sistêmicas graves8. A média do tempo de estudo dos participantes da pesquisa foi de 4,6 anos, obtendo-se o desvio padrão de 3,8. A baixa escolaridade, assim como as desfavoráveis condições sócio-econômicas, favorece o risco de desenvolvimento de ISC. Os participantes da pesquisa foram analisados, ainda, quanto ao hábito de fumar e de beber e foi identificado que 33,33% (27 pacientes) eram tabagistas e 22,22% (18 pacientes) etilistas. Esta análise foi feita levando em consideração que o álcool e o tabagismo são extremamente prejudiciais ao processo de cicatrização, pois dificultam, dentre outros fatores, a disponibilidade sanguínea local, sendo o tabagismo um dos principais fatores envolvidos na infecção de ferida pós-operatória8. Em relação ao período pré-operatório, a maioria dos pacientes (62,96% ou 51) permaneceu internada apenas um dia antes da realização da cirurgia e 11,11% (nove pacientes) permaneceram internados por dois dias, reforçando o preconizado na literatura, que considera que, devido à maior quantidade de operações realizadas em nível ambulatorial e à redução nos dias de internação hospitalar, são menores as possibilidades destes pacientes adquirirem infecção pelo contato com bactérias presente em ambiente hospitalar1,8. 68 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 60-70 No que se refere ao risco cirúrgico, de acordo com a classificação da American Society of Anestesiologists (ASA), obteve-se que a maioria dos pacientes com ISC pertenciam à categoria ASA II, ou seja, tinham apenas uma alteração sistêmica leve, o que minimiza complicações pós-operatórias e favorece a melhor recuperação do paciente. O risco cirúrgico é um dos fatores que pode predispor à ISC, principalmente na vigência de doença sistêmica grave, incapacitante e que causa algum tipo de limitação ao paciente5,8. Quanto às comorbidades, verificou-se que 34,57% (28 pacientes) pacientes apresentaram hipertensão arterial, seguidos, em proporções menores, dos pacientes com diabetes, hipertensão e diabetes associadas, portadores da Doença de Chagas, além de um portador de Malária. A presença de comorbidades é um fator extremamente importante para o prognóstico do paciente, principalmente a presença de diabetes, que retarda o processo de cicatrização tecidual e outras doenças que têm consequências sistêmicas, como a hipertensão, podendo resultar em déficit renal, cardiovascular e perfusão arterial periférica reduzida e, ainda, interferem na imunidade humoral e celular do indivíduo, contribuindo, assim, para o surgimento de infecções hospitalares1. No período pré-operatório, o banho foi realizado pela quase totalidade dos pacientes, com intervalo de tempo mais frequente entre uma e duas horas antes da cirurgia. O banho antes da cirurgia é um fator importante na remoção de boa parte da flora bacteriana transitória, reduzindo as complicações pós-cirúrgicas que o paciente possa apresentar. O banho antes da cirurgia é categorizado, de acordo com as normas do CDC, em categoria IB, que são práticas altamente recomendadas para que sejam implementadas, sendo apoiada por vários estudos clínicos, experimentais e epidemiológicos11. Desta forma, esta atitude minimiza a chance de ocorrência de ISC. Quanto à realização da tricotomia, a maior parte dos pacientes com ISC a realizou antes da cirurgia, sendo a maioria em até uma hora antes do procedimento, o que é adequado e recomendado, porém, a maior parte utilizou lâmina de barbear, o que não é preconizado. A realização da tricotomia só deve ser feita se esta for indispensável para a realização do procedimento cirúrgico, e o mais próximo da cirurgia possível, com o uso de aparelho elétrico2. O uso da lâmina de barbear provoca microlesões na pele, que podem ser colonizadas por microrganismos, especialmente se a raspagem dos pelos for realizada mais de duas horas antes do procedimento cirúrgico. Foi analisada, também, a presença de drenos e observou-se que 46,91% (38 pacientes) dos pacientes estavam portando algum tipo de dreno e sua utilização em incisões cirúrgicas está relacionada a um aumento nas taxas de ISC1. Apesar de ter sido encontrado um valor elevado de pacientes com presença de secreção cirúrgica (26 ou 32,10%), a realização de cultura foi feita em apenas 6,17% deles. Dentre os cinco pacientes que tiveram as culturas realizadas, foi isolado Staphilococcus aureus em metade das culturas, dados estes corroboram com outros, nos quais os cocos Gram positivos são relativamente mais isolados em cirurgias limpas e as bactérias Gram negativas aeróbias e anaeróbias são mais comuns após procedimentos contaminados ou potencialmente contaminados2 . Com relação à antibioticoterapia pós-cirúrgica, constatou-se que em 90,12% dos casos (73 pacientes) ela foi prescrita, com uma ampla variedade de antibióticos usados. Dentre estes, a cefalotina foi a mais prescrita pelos médicos, seguida de ciprofloxacina e cefazolina. Percebemos que a equipe médica levou em consideração os princípios gerais para a escolha dos antibióticos a serem administrados aos pacientes com ISC, principalmente um espectro de ação amplo, sendo que a duração da antibioticoterapia na vigência de infecções da ferida operatória não tem um tempo definido, e geralmente é empregada até que as respostas locais e sistêmicas estejam suficientes para poder limitar o retorno ou o reaparecimento da infecção8. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS A prevalência de ISC encontrada neste estudo (3,68%) está dentro dos padrões preconizados pelo CDC e é corroborada por outros estudos nacionais e internacionais, mostrando que o referido hospital tem controle deste tipo de infecção. Embora a prevalência da ISC encontrar-se em parâmetros adequados, os resultados da pesquisa nos alertaram para alguns fatores de risco sócio-econô- micos e demográficos, como: idade acima de 48 anos, sexo feminino, cor parda, mulheres com ocupação do lar e moradia em casas de madeira. Os fatores relacionados ao pré-operatório, como tabagismo, etilismo, hipertensão e diabetes, devem ser controlados antes da realização cirúrgica. Houve predominância, ainda, de pacientes com risco cirúrgico ASA II, que realizaram tricotomia com lâminas de barbear e não com aparelho elétrico. No tocante aos fatores presentes no período transoperatório, destacaram-se as cirurgias de colecistectomia, laparotomia, herniorrafia, histerectomia e gastrectomia, classificadas como cirurgias potencialmente contaminadas e cirurgias limpas, com as maiores prevalências de ISC, além do tempo cirúrgico prolongado e uso de drenos. No período pós-operatório, alerta-se para a realização de cultura da secreção e os cuidados de enfermagem com drenos e curativos, além do controle das comorbidades. Este estudo contribuiu para a compreensão dos riscos ao qual o paciente pode estar envolvido, a partir de sua internação, seja por agressão de microorganismos ao seu organismo, seja por orientações incompletas ou insuficientes sobre procedimentos considerados como fatores de risco para o desenvolvimento de ISC, tais como: tricotomia, banho e higienização. Pôde-se observar a falta de conhecimento por parte dos pacientes a respeito dos fatores que podem desenvolver complicações pós-cirúrgicas ao se realizar a entrevista. Entretanto, uma das contribuições desta investigação foi a reflexão que a mesma causou em cada paciente participante deste estudo, quando lhes foi explicado, durante as entrevistas, as formas de se evitar uma complicação e especificamente infecção após a realização da cirurgia, mostrando a importância de observar o local da cirurgia, quanto ao aparecimento de sinais de infecção, higienizar adequadamente o local, seguindo as técnicas recomendadas. Esta pesquisa reforça o que a literatura, mais especificamente a National Healthcare Safety Network e o CDC preconizam, ou seja, a importância de se identificar os fatores de risco aos quais o paciente está exposto e os fatores relacionados ao período perioperatório, além de minimizar sua ocorrência durante seu período de internação e o processo de reabilitação cirúrgica. Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 60-70 69 Destaca-se que este trabalho foi pioneiro no Estado do Acre, reforçando sua contribuição para aspectos do perioperatório e, também, por este hospital ser de referência para todo o Estado, o que reflete a real situação da ISC. REFERÊNCIAS 1. Silva MAAR, Cesarreti AL, Ribeiro IU. Enfermagem na unidade de centro cirúrgico. 2ªed. São Paulo: EPU; 1997. 2. Moraes CM, Galvão CM Infecção do sitio cirúrgico: análise da produção científica na enfermagem. Rev SOBECC 2006; 11(2):22-31. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria 2.616, de 12 de maio de 1998. Diretrizes e Normas para a Prevenção e Controle das Infecções Hospitalares. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. 13 de maio de 1998, seção 1. Brasília (DF); 1998. 4. Oliveira AC. Infecções hospitalares: epidemiologia, prevenção e controle. Rio de Janeiro: Medsi; 2005. 5. American Society of Anestesiologists (ASA). Physical status classification system. [acesso 2012 julho 11]. Disponível em: http:www.asahq.org. 6. Emori TG, Culver DH, Horan TC, Jarvis WR, White JW, Olson DR et al. National Nosocomial Infections Surveillance System (NNIS): description of surveillance methods. Am J Infect Control. 1991 Feb;19(1):19-35. 7. Hinrichsen SL. Biossegurança e controle de infecções: risco sanitário hospitalar. Rio de Janeiro: Medsi; 2004. 827p. 8. Courtney, TM. Tratado de cirurgia: a base biológica da prática cirúrgica moderna. 17ªed, 2ª tiragem. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005. 9. Medeiros AC, Aires Neto T, Dantas Filho AM, Pinto Jr FEL, Uchôa RAC, Carvalho MR. Infecção hospitalar em pacientes cirúrgicos de Hospital Universitário. Acta Cir Bras [online] 2003. [citado 2011 jul 10].18(suppl 1):15-18. Disponível em: http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010286502003000700003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt 70 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 60-70 10. Culver DH, Horan TC, Gaynes RP. Surgical wound infection rates by wound class operative procedure, and risk index. Am J Med 1991; 91(suppl 3B):152-7. 11. Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização (SOBECC). Práticas recomendadas SOBECC. 5ªed. São Paulo: SOBECC; 2009. 304 p. Autores Ana Paula Lima Aguiar Discente do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Universidade Federal do Acre (UFAC) e de Iniciação Científica do PIBIC. E-mail: [email protected]. Patricia Rezende do Prado Enfermeira, Especialista em UTI e Auditoria em Serviços de Saúde, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Acre (UFAC), Professora Auxiliar de Ensino. Simone Perufo Opitz Enfermeira, Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto (EERP/USP), Professora Adjunta e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Acre (UFAC). Suleima Pedroza Optiz Enfermeira, Doutoranda na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Professora Assistente da Universidade Federal do Acre (UFAC). André Ricardo Maia da Costa de Faro Enfermeiro, Especialista em Terapia Intensiva, MBA em Controle de Infecção Hospitalar, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Acre (UFAC), Professor Auxiliar de Ensino. Revisão de literatura SÍNDROME COMPARTIMENTAL RELACIONADA AO POSICIONAMENTO CIRÚRGICO: UM INIMIGO SILENCIOSO COMPARTMENT SYNDROME RELATED TO Surgical positioning: A SILENT ENEMY SÍNDROME COMPARTIMENTAL RELACIONADA CON EL POSICIONAMIENTO QUIRÚRGICO: UN ENEMIGO SILENCIOSO SERGIO, Fernanda Rabello; CAMERON, Lys Eiras; VITAL, Isabel Cristina Oliveira. RESUMO: Objetivo: Relacionar a evolução da Síndrome Compartimental com o posicionamento cirúrgico, a partir da discussão da fisiopatologia, apresentação dos posicionamentos de risco e mecanismos de prevenção, controle e intervenção. Método: Revisão sistemática de artigos encontrados por meio de busca nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde e PubMed. Resultados: O posicionamento cirúrgico se relaciona com o desenvolvimento da Síndrome Compartimental principalmente pelo comprometimento do fluxo sanguíneo a determinadas áreas. A identificação dos sinais e sintomas é geralmente realizada pela enfermagem e pode influenciar o resultado, se a intervenção for implementada precocemente. Conclusão: A enfermagem, por ter seu foco no cuidado e prestar assistência direta ao paciente no período intraoperatório, na sala de recuperação pós-anestésica e após o retorno à enfermaria, desempenha importante papel, principalmente no reconhecimento precoce de complicações, contribuindo para prevenção e minimização de agravos decorrentes da Síndrome Compartimental. Palavras-chave: Síndromes de compartimento. Posicionamento do paciente. Período intra-operatório. Enfermagem. ABSTRACT: Objective: To relate the development of Compartment Syndrome with surgical positioning, from the discussion of the pathophysiology, presentation of risk positions and prevention, control and intervention mechanisms. Method: Systematic review of articles found by search in the Virtual Health Library and PubMed databases. Results: Surgical positioning is related to the development of compartment syndrome mostly because of the impairment of blood flow to certain areas. The identification of signs and symptoms is usually performed by nurses and can influence the outcome if early intervention is implemented. Conclusion: By having focus on care and providing direct assistance to patients during intraoperative period, in the post-anaesthetic recuperation unit and after the return to the ward, nursing plays important role especially in the early recognition, contributing to the prevention and reduction of complications resulting from Compartment Syndrome. Key words: Compartment syndromes; Patient positioning; Intraoperative period; Nursing. RESUMEN: Objetivo: Relacionar la evolución del Síndrome compartimental con el posicionamiento quirúrgico, a partir de la discusión de la fisiopatología, presentación de las posiciones y los mecanismos de prevención de riesgos, control e intervención. Método: Revisión sistemática de artículos encontrados mediante la búsqueda en la base de datos de la Biblioteca Virtual en Salud y PubMed. Resultados: El posicionamiento quirúrgico está relacionado al desarrollo de síndrome compartimental en su mayoría por el deterioro del aflujo sanguíneo a determinadas zonas. Los enfermeros generalmente identifican los signos y síntomas y eso puede influir en el resultado si se realiza la intervención precozmente. Conclusión: La enfermería, que tiene su foco de atención y asistencia directa al paciente durante el periodo intraoperatório, en la sala de recuperación post anestésica y después de regresar a la enfermeria, tiene un papel importante en el reconocimiento precoz, de complicaciones lo que contribuye para la Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 71-80 71 prevención y minimización de trastornos derivados del Síndrome Compartimental. cirurgias prolongadas1,5. Uma possível complicação de determinadas posições adotadas em cirurgias é a Síndrome Compartimental, que, apesar de ser mais frequentemente associada a traumas, tem sido relatada como consequência do posicionamento nas mesas de operação durante Face à grande complexidade da Síndrome Compartimental relacionada ao posicionamento cirúrgico e seu impacto na evolução do estado de saúde do paciente, além da pequena quantidade de estudos realizados pela enfermagem no Brasil sobre o tema, A Síndrome Compartimental se caracteriza por um Palabras clave: Síndromes compartimentales; Po- aumento na pressão dentro de um compartimento sicionamiento del paciente; Periodo intraoperatorio; corporal, que reduz a perfusão capilar até abaixo do Enfermería. nível necessário para a viabilidade tecidual, levando à oclusão da microcirculação. Um aumento da pressão INTRODUÇÃO dentro do compartimento não é dissipado facilmente, em virtude da ineslasticidade da fáscia que envolve À medida que as cirurgias se tornam mais complexas o músculo 6. A isquemia resultante pode levar a e demoradas, os profissionais atuantes no intraopera- um déficit neuromuscular permanente se houver tório necessitam assegurar que os pacientes estejam demora no diagnóstico e na realização de fasciotomia devidamente preparados e posicionados para o proce- descompressiva5. dimento ao qual serão submetidos, de forma a garantir o sucesso, a segurança e o bem-estar do cliente1. A evolução do quadro pode levar à rabdomiólise, caracterizada pela destruição do músculo estriado, A responsabilidade por esse bem-estar é dividida que ocasiona a liberação de mioglobina, substância entre os profissionais que atuam durante a cirurgia, capaz de ocluir o túbulo convoluto distal e causar envolvendo o cirurgião, o anestesiologista e o falência renal. Se não tratada, a rabdomiólise pode enfermeiro, que durante todo o procedimento cirúrgico levar à sepse e até à morte1. monitoram o seu estado fisiológico, sendo o enfermeiro o profissional que deve participar ativamente do Apesar de ser uma complicação do posicionamento posicionamento cirúrgico2-3. cirúrgico capaz de ocasionar graves danos à saúde do paciente, pouco se é divulgado sobre a Síndrome O posicionamento cirúrgico é o modo como o paciente Compartimental, especialmente na área da enfermaestá disposto na mesa de operação durante todo o gem, visto que a grande maioria dos artigos sobre processo anestésico-cirúrgico. É um procedimento posicionamento cirúrgico e desenvolvimento desta que envolve sérios riscos, que, se não observados síndrome é escrita por médicos. com a devida responsabilidade e competência, podem comprometer definitivamente a saúde do paciente3. É importante que os profissionais de saúde, atuantes Em decorrência disto, o posicionamento cirúrgico no período perioperatório, estejam preparados adotado deve ser individualizado e adaptado às para lidar com esta complicação, principalmente o necessidades de cada indivíduo e aos procedimentos enfermeiro, que participa ativamente do monitoramento previstos2, respeitando o alinhamento corporal do e da evolução do paciente durante a cirurgia, bem paciente, sem prejudicar as funções circulatória e como tem atuação direta nas salas de recuperação respiratória e sem comprometer a integridade da pele pós-anestésica. O enfermeiro deve estar apto a e outras estruturas corporais4. reconhecer os sinais do desenvolvimento da Síndrome Compartimental, contribuir com o diagnóstico precoce O posicionamento do paciente para a cirurgia é um fator- e o devido tratamento, visando a minimização do risco chave no desempenho de um procedimento seguro de sequelas para o paciente. e eficiente, por isso todos os membros da equipe cirúrgica devem proteger o cliente de qualquer efeito Sendo assim, o tema central deste estudo é o desendanoso decorrente do inadequado posicionamento volvimento de Síndrome Compartimental relacionado cirúrgico ou de cirurgias prolongadas2. ao posicionamento do paciente para a cirurgia. 72 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 71-80 elaborou-se este artigo com o intuito de fundamentar o conhecimento e o entendimento do profissional de saúde a respeito de tal síndrome e apresentar os posicionamentos de risco, discutindo aspectos fisiopatológicos envolvidos e mecanismos de prevenção, controle e intervenção diante da presença da Síndrome Compartimental. OBJETIVO Relacionar a evolução da Síndrome Compartimental com o posicionamento cirúrgico, a partir da discussão da fisiopatologia, apresentação dos posicionamentos de risco e mecanismos de prevenção, controle e intervenção. MÉTODO Procedeu-se a uma revisão bibliográfica, que utilizou materiais publicados sobre o desenvolvimento de Síndrome Compartimental relacionado com o posicionamento cirúrgico adotado como base para realizar uma pesquisa acerca do tema. Devido à importância do conhecimento do assunto, este estudo apresenta uma revisão sistemática de artigos publicados sobre o desenvolvimento de Síndrome Compartimental relacionado ao posicionamento cirúrgico. Primeiramente, foi realizada uma busca nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e PubMed, utilizando-se os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) Compartment syndromes (Síndromes de compartimento) e Patient positioning (Posicionamento do paciente), com o operador boleano and. Após a verificação da ausência de resultados, acrescentou-se o descritor Nursing (Enfermagem) aos anteriores e também houve ausência de resultados, segundo os descritores em língua portuguesa. Ao final do processo de revisão, foram encontrados 19 artigos, publicados nos últimos 20 anos, que tiveram seu conteúdo analisado e 12 deles foram selecionados para fazerem parte da amostra deste estudo. O critério de inclusão adotado foi a verificação de possuírem dados de interesse para pesquisa, contendo relatos de casos de desenvolvimento da Síndrome Compartimental relacionada com o po- sicionamento cirúrgico, descrevendo-se o posicionamento usado, a duração da cirurgia, os achados clínicos e o resultado final após a complicação. Os dados destes artigos selecionados foram agrupados em um quadro (Quadro 1), contendo os seguintes itens: identificação do artigo, autor(es), cidade/país, posição utilizada, duração da cirurgia, efeito e resultado final. RESULTADOS Compreendendo a relação entre Síndrome Compartimental e posicionamento cirúrgico Um compartimento é um espaço fechado composto por um grupo de músculos, artérias, veias e nervos, envolto por uma lâmina de tecido relativamente inelástico denominado fáscia1,7. O corpo humano possui 46 compartimentos, sendo que 38 destes se encontram nas extremidades corporais7. Apesar de ser possível ocorrer em qualquer compartimento corporal, os quatro compartimentos da extremidade inferior (tibial anterior, fibular lateral, tibiais posteriores superficial e profundo) são afetados mais frequentemente6,8. Porém, a Síndrome Compartimental pode ocorrer onde quer que um compartimento esteja presente, com mais frequencia nas mãos, antebraço e braço, glúteos, pernas ou pés1,6. A Síndrome Compartimental é uma condição na qual a alta pressão dentro de um compartimento corporal reduz a perfusão capilar até abaixo do nível necessário para a viabilidade tecidual. Um aumento da pressão dentro do compartimento não é dissipado facilmente, em virtude da inelasticidade da fáscia que envolve o músculo. Se a pressão continua suficientemente alta por várias horas, a função normal do músculo e dos nervos fica comprometida e acaba desencadeando necrose mioneural, podendo ocorrer perda permanente da função6. O posicionamento cirúrgico está relacionado com o desenvolvimento da Síndrome Compartimental, à medida que pode causar o comprometimento do fluxo sanguíneo de determinadas áreas, principalmente dos membros inferiores, conforme descrito nos casos disponíveis na literatura consultada, relatados posteriormente. Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 71-80 73 O comprometimento do fluxo sanguíneo local prejudica a capacidade do endotélio capilar de manter uma barreira semipermeável para a passagem de solutos, fazendo com que ocorra o extravasamento de fluidos para dentro do compartimento, causando edema e elevando a pressão intracompartimental, comprometendo o sistema vascular9. Tal comprometimento irá acarretar mais isquemia e formação de edema, e um ciclo vicioso será estabelecido conforme as células vão sendo privadas de oxigênio. Se o fluxo sanguíneo adequado não for restabelecido, o resultado é a morte dos músculos dentro dos compartimentos, condição que só pode ser resolvida por meio de descompressão cirúrgica, denominada fasciotomia1. A menos que o dano ao endotélio capilar seja reversível, a restauração do fluxo sanguíneo local irá agravar os danos, causando injúria de reperfusão, através da exsudação de fluidos do endotélio capilar danificado e ativação da cascata de coagulação nos pequenos vasos9. A evolução do quadro pode levar à rabdomiólise, caracterizada pela destruição do músculo estriado, que ocasiona a liberação de mioglobina, substância capaz de ocluir o túbulo convoluto distal e causar falência renal. Se não tratada, a rabdomiólise pode levar à sepse e à morte1. A Síndrome Compartimental geralmente se apresenta após a reperfusão de um membro, e a dor e o edema podem não ocorrer imediatamente. Os primeiros sinais geralmente ocorrem após o paciente ter recuperado a consciência, ter sido submetido aos cuidados pós-anestésicos e retornado à unidade de internação. As primeiras suspeitas geralmente surgem quando o paciente se queixa de dor severa nos membros inferiores ao recuperar a consciência ou algumas horas após a cirurgia. Alguns pacientes relatam dor, apesar do uso de analgesia epidural pósoperatória1,9. Os membros inferiores do paciente podem apresentar rigidez e edema. O nível de dor patológica é considerado muito acima do nível da dor comum pós-operatória, esperada após uma intervenção cirúrgica1. 74 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 71-80 Dor desproporcional à lesão, dor aos movimentos passivos do grupo de músculos dentro do compartimento, palidez, enchimento capilar prejudicado, parestesia e ausência de pulso são achados clínicos importantes. A dor é um sinal precoce e não deve ser ignorada. A parestesia pode ser um sintoma mais tardio e é geralmente descrita como uma sensação anormal ou de queimação, uma vez que os nervos são altamente sensíveis à pressão elevada10. Outros sinais tardios incluem paralisia, devido à prolongada compressão de nervos e danos musculares irreversíveis, palidez e ausência de pulso10. A pressão intracompartimental é geralmente mais baixa que a pressão sanguínea arterial, o que faz dos pulsos periféricos e do enchimento capilar pobres indicadores do fluxo sanguíneo dentro do compartimento11. Um exame detalhado das extremidades deve ser realizado e registrado frequentemente no prontuário do paciente sob risco de desenvolver a Síndrome Compartimental10. O diagnóstico requer um alto índice de suspeita clínica, sendo confirmado pela mensuração das pressões de compartimento1. Há discussões na literatura no que diz respeito ao nível de pressão no qual uma fasciotomia deve ser realizada. Alguns pesquisadores se baseiam na pressão de compartimento absoluta, enquanto outros acreditam que a pressão compartimental é significante apenas quando relacionada com a pressão diastólica do cliente11, considerando que, se a diferença de pressão (pressão sanguínea diastólica menos a pressão de compartimento) for maior que 30mmHg, haverá adequada perfusão do compartimento e a descompressão cirúrgica pode não ser necessária12. A maioria das literaturas e recomendações, entretanto, se baseia nas pressões absolutas dentro dos compartimentos. As pressões normais do tecido variam entre 0 e 10mmHg7,11. O fluxo sanguíneo capilar dentro do compartimento pode ser comprometido em pressões maiores que 20mmHg. Fibras musculares e nervosas estão em risco de necrose isquêmica se as pressões forem maiores que 30 a 40mmHg. Os tecidos dentro do compartimento podem se tornar isquêmicos e necróticos se a pressão não for reduzida prontamente11. A percepção dos sinais e sintomas é geralmente realizada pela enfermagem e pode influenciar o resultado se a intervenção for implementada precocemente. É possível que um diagnóstico inicial de trombose venosa profunda impeça o diagnóstico correto de Síndrome Compartimental. A medida das pressões de compartimento irá confirmar a suspeita, enquanto um doppler venoso irá confirmar uma suspeita de trombose venosa profunda1. Apesar de mais comumente associada ao trauma ou à cirurgia nos membros, a Síndrome Compartimental tem sido relatada como uma complicação de algumas posições adotadas para cirurgia. A possibilidade de desenvolver a síndrome e rabdomiólise é especialmente alta na presença de outros fatores de risco, incluindo obesidade, doença vascular periférica e duração prolongada da cirurgia1. Habitualmente, a descompressão é realizada por meio de uma fasciotomia, que envolve a abertura cirúrgica da fáscia que envolve os compartimentos musculares, visando prevenir a isquemia e a necrose neuromusculares7,8,12. O Quadro 1 apresenta dados de estudos realizados utilizados nesta pesquisa. Quadro 1. Estudos realizados sobre síndrome compartimental relacionada ao posicionamento cirúrgico, segundo título, autores, procedência, posicionamento, tempo de cirurgia, efeito e resultado Artigo Autores Gluteal compartment syndrome after prostatectomy caused by incorrect positioning13 Heyn J, Ladurner R, Ozimek A, Vogel T, Hallfeldt KK, Mussack T Compression phenomenon of the popliteal veins by bilateral compartment syndromes after many hours of surgery in lithotomy position14 Atamer C, Langer C, Rominger M Anterior thigh compartment syndrome following prolonged tourniquet application and lateral positioning. Am J Orthop15 Seybold EA, Busconi BD Postoperative bilateral compartment syndrome resulting from prolonged urological surgery in lithotomy position. Serum creatine kinase activity (CK) as a warning signal in sedated, artificially respirated patients. Anaesthesist16 Lampert R, Weih EH, Breucking E, Kirchhoff S, Lazica B, Lang K Bilateral compartment syndrome complicating prolonged lithotomy position. Br J Anaesth17 Tuckey J Cidade / País Posição utilizada Munich, Germany Litotomia Würzburg, Germany Litotomia Worcester, USA Witten, Germany Bristol, UK Decúbito lateral Litotomia Litotomia modificada Duração da cirurgia Longa (tempo não informado) Efeito Resultado final Edema e dor crescente na região glútea e em ambas as coxas, mesmo com anestesia Recuperação peridural. Extrema dor à completa. movimentação passiva das coxas. Realização de fasciotomia. Longa (tempo não informado) Compressão da veia poplítea, edema muscular. Realizada fasciotomia. 12 horas Síndrome compartimental de coxa, com atraso no diagnóstico, devido Recuperação à analgesia epidural completa. recebida para controle da dor. Realizada fasciotomia. 12 horas Manifestações clínicas surgiram após a extubação. Realizada fasciotomia. 7 horas e 35 minutos Recuperação completa Paresia da perna esquerda, sem sinais de regressão até a alta do paciente. Edema e rigidez em ambas as pernas 15 horas após cirurgia. Dor Queda plantar mesmo com uso de em ambos os analgesia extradural. pés. Rabdomiólise e mioglobinúria. Realizada fasciotomia. Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 71-80 75 Artigo Compartment syndrome associated with the Lloyd Davies Position. Anaesthesia9 Compartment syndrome following pelvic surgery in the lithotomy position. Ann R Coll Surg Engl5 Compartment syndrome of the leg after less than 4 hours of elevation on a fracture table. South Med J18 Autores Turnbull D, Mills GH Dua RS, Bankes MJK, Dowd GSE, Lewis AAM Meldrum R, Lipscomb P Compartment syndrome with acute renal failure: a rare complication of spinal surgery in kneechest position. Spine19 Gupta R, Batra S, Chandra R, Sharma VK Gluteal compartment syndrome following joint arthroplasty under epidural anaesthesia: a report of 4 cases. J Orthop Surg20 Kumar V, Saeed K, Panagopoulos A, Parker PJ Ischemic orbital compartment syndrome after posterior spinal surgery. Spine21 Rhabdomyolysis following total hip arthroplasty. J Bone Joint Surg [Br]22 Yu Y, Chen W, Chen L, Chen W Lachiewicz PF, Latimer HA Cidade / País Sheffield, UK London, UK Oakland, USA Posição utilizada Litotomia modificada Litotomia Litotomia New Delhi, India Genupeitoral Northallerton, UK Decúbito lateral Kwei Shan, Taiwan Chapel Hill, USA Prona Decúbito lateral DISCUSSÃO A Síndrome Compartimental intraoperatória causada por posicionamento prolongado tem início sutil e a ausência de achados sintomáticos enquanto o paciente está anestesiado faz com que ela se torne uma complicação que pode facilmente passar despercebida no período intra ou pósoperatório. É importante que as equipes atuantes no centro cirúrgico e na sala de recuperação pós76 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 71-80 Duração da cirurgia Efeito Resultado final 4 horas Dor bilateral nas panturrilhas na sala de recuperação, mesmo com uso de analgesia epidural torácica. Realizadas fasciotomias. Dor persistente e perda de sensibilidade em ambas as pernas. 5 horas e 30minutos Edema e rigidez na perna esquerda, apesar da medida profilática (pernas do paciente foram abaixadas para posição horizontal por 10 minutos após a 3ª e a 5ª hora de cirurgia). Realizada fasciotomia. Recuperação completa. 3 horas e 30 minutos Edema e rigidez na perna esquerda, detectados por exame físico antes da extubação. Realizadas fasciotomias. Parestesia e dor moderada na coxa ao ficar de pé por mais de 3 horas. 6 horas Dor gradualmente crescente e edema na perna direita. Dor à extensão passiva dos dedos e diminuição da sensibilidade no dorso do pé. Rabdomiólise e insuficiência renal aguda. Realizada fasciotomia. Perda de sensibilidade no pé e no terço inferior da perna com prejuízo da dorsiflexão. 3 horas Dor na região glútea esquerda e rigidez. Dor à flexão passiva do quadril. Realizada fasciotomia. Recuperação completa. 4 horas Dor e edema no olho direito, ptose, perda de percepção luminosa, acuidade visual e oftalmoplegia completa. Permanência de ptose, perda completa da visão e oftalmoplegia. 8 horas e 05 minutos Dor, edema na região glútea, paralisia do nervo ciático, mioglobinúria. Diminuição da sensibilidade no dorso do pé, função motora normal. anestésica estejam alertas para a presença desta rara complicação enquanto monitoram o paciente em seu período transoperatório e pós-operatório imediato18. A posição litotômica e as suas modificações são mais frequentemente associadas ao desenvolvimento da Síndrome Compartimental1,18. A etiologia desta síndrome em pacientes submetidos às cirurgias em posição litotômica possivelmente é uma combinação da redução da pressão de perfusão arterial pela elevação dos membros inferiores e do aumento da pressão de compartimento local causado pela compressão direta oriunda dos suportes para os membros, seguido de reperfusão arterial e vazamento capilar do tecido isquêmico e um aumento no edema tecidual5. O desenvolvimento da Síndrome Compartimental é particularmente associado a procedimentos cirúrgicos prolongados. No entanto, estudos analisados reportaram a ocorrência desta complicação após cirurgias de média duração, entre 3 e 4 horas5,18-20. Um dos casos demonstrou que esta complicação pode ocorrer mesmo com a aplicação de medidas profiláticas que visam a minimização do prejuízo circulatório, no qual os membros inferiores do paciente foram abaixados intermitentemente durante a cirurgia, realizada na posição de litotomia5. O período de tempo até o surgimento das manifestações clínicas varia em cada caso, havendo situações em que sinais e sintomas como dor, edema e perda de sensibilidade foram notados somente no quarto dia após a cirurgia5, e outros casos em que houve achados clínicos na sala de recuperação pós-anestésica9,18. Porém, um dos casos aqui retratados, se destaca por ter sido diagnosticado ainda no centro cirúrgico antes da extubação do paciente, por ocasião do exame físico realizado ao final da cirurgia, que possibilitou o pronto reconhecimento e o tratamento precoce da Síndrome Compartimental18, Desta forma, demonstra-se a relevância da adequada monitorização e avaliação do paciente durante todo o período transoperatório. Conforme descrito em um estudo realizado no Reino Unido9, pacientes podem apresentar queixas de dor mesmo na vigência de uma analgesia epidural, quando o desenvolvimento da Síndrome Compartimental deve ser considerado. Os relatos de dor não devem ser negligenciados e vigilância especial deve ser realizada quando se trata de pacientes sob anestesia, já que estes podem não apresentar as queixas de dor características dos casos de desenvolvimento da síndrome, possivelmente levando ao atraso do diagnóstico e ao agravamento do quadro. A imediata mensuração da pressão compartimental e fasciotomia apropriada são essenciais para a prevenção de morbidade permanente decorrente da Síndrome Compartimental5. Há relatos de sequelas incluindo parestesia e dor, dois anos após a realização da cirurgia18, exemplificando os danos e as limitações que a Síndrome Compartimental pode acarretar à vida do indivíduo, prejudicando, inclusive, sua habilidade de continuar a exercer atividades laborais como anteriormente. O erro no diagnóstico, identificando trombose venosa profunda, por exemplo, ou o atraso no tratamento da Síndrome Compartimental no pós-operatório, quando o paciente foi submetido à cirurgia prolongada em posição de risco, é considerado negligência. Um diagnóstico tardio ou um erro em diagnosticar a síndrome pode levar, não somente a danos nos membros e prolongar a internação hospitalar, como também por em risco a vida do cliente, conforme ocorreu na Índia19. O paciente evoluiu para um quadro de rabdomiólise e insuficiência renal aguda. A insuficiência renal foi revertida com sucesso, porém houve perda da sensibilidade em parte do membro inferior e prejuízo na dorsiflexão, mesmo após realização da fasciotomia19. Com o conhecimento dos dias atuais, a equipe de profissionais de saúde, envolvida na cirurgia e nos cuidados trans e pós-operatórios, deve estar atenta e alerta para o desenvolvimento desta complicação1. Conforme já mencionado, a peça-chave para o sucesso do tratamento da Síndrome Compartimental é o diagnóstico precoce, facilitado pela avaliação do enfermeiro e pela monitorização dos sinais clínicos, bem como pela adequada descompressão dos compartimentos afetados23,24. O enfermeiro desempenha importante papel na prevenção, na identificação de sinais e sintomas, na monitorização de complicações e no tratamento após a intervenção cirúrgica. São ações importantes aplicáveis ao processo de prevenção, identificação, tratamento e reabilitação do paciente24: aplicação adequada dos recursos de proteção utilizados no posicionamento cirúrgico; mudança periódica de posicionamento ou abaixamento dos membros, no caso de posição litotômica, durante a cirurgia; avaliação criteriosa e maior índice de suspeita nos casos dos pacientes obesos, portadores de doenças vasculares, com estado mental Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 71-80 77 alterado ou que estão incapazes de verbalizar dor ou alterações de sensibilidade; realização de exame físico rigoroso, atentando para sinais do desenvolvimento da síndrome, como dor à movimentação, enchimento capilar prejudicado, parestesia, palidez, paralisia e ausência de pulso; notificação imediata à equipe da suspeita de Síndrome Compartimental, a fim de prevenir maior dano tecidual devido ao atraso no diagnóstico; remoção de dispositivos constritivos, caso haja, como por exemplo, ataduras; preparação do paciente para a intervenção cirúrgica, explicando procedimentos, criando uma atmosfera de confiança e diminuindo seu medo e sua ansiedade; após a fasciotomia, a ferida geralmente é coberta com gazes embebidas em solução salina, que devem ser trocadas a cada 6 a 8 horas, utilizando técnica asséptica e realizando avaliação cuidadosa da ferida cirúrgica para identificação de sinais de infecção; realização de exercícios ativos e passivos, a fim de assegurar a mobilidade articular e melhorar a drenagem linfática e venosa, prevenindo complicações a longo prazo, relacionadas à imobilidade. CONCLUSÃO A revisão sistemática da literatura acerca do tema Síndrome Compartimental relacionada ao posicionamento, nas bases de dados BVS e PubMed, levou-nos à análise de 12 artigos científicos, publicados entre 1991 e 2008, em diversos países. Dentre os posicionamentos de risco apresentados no Quadro 1, a posição litotômica e as suas modificações destacaram-se como as mais prevalentes nos casos relatados de desenvolvimento da Síndrome Compartimental no período intraoperatório, por ocasionar comprometimento do fluxo sanguíneo, principalmente dos membros inferiores. O enfermeiro deve desempenhar importantes ações relacionadas com a prevenção desta complicação, como a aplicação adequada dos recursos de proteção e a mudança periódica de posicionamento do paciente durante a cirurgia. Também deve manter vigilância especial em casos de pacientes obesos, portadores de doença vascular periférica e cirurgias de longa duração, que são fatores de risco que aumentam a possibilidade de desenvolvimento de Síndrome Compartimental e rabdomiólise. Evidenciou-se que o principal fator para um trata78 Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 71-80 mento bem sucedido e para prevenção de agravos é o diagnóstico precoce, possível de ser realizado mediante exame físico e avaliação criteriosa por parte do enfermeiro, principalmente nos casos de pacientes incapazes de verbalizar dor ou alterações de sensibilidade. A notificação imediata à equipe da suspeita de Síndrome Compartimental, a remoção de dispositivos constritivos e a preparação do paciente para a fasciotomia descompressiva são intervenções de controle também realizadas pela enfermagem e que influenciam diretamente no prognóstico do paciente. CONSIDERAÇÕES FINAIS A escassez de artigos científicos nacionais sobre o assunto, conforme evidenciado pela pesquisa realizada nas bases de dados é um fator que prejudica a obtenção e o aprimoramento de conhecimento por parte dos enfermeiros e demais profissionais, tão necessário para uma assistência adequada nessa situação de risco, que é a Síndrome Compartimental. A enfermagem, por ter seu foco no cuidado e prestar assistência direta ao paciente no período transoperatório, durante sua permanência na sala de recuperação pós-anestésica e após o paciente retornar para a enfermaria, possui fundamental importância, principalmente para o reconhecimento precoce do desenvolvimento desta síndrome, podendo contribuir, assim, para a minimização de agravos e sequelas decorrentes deste acometimento. Desta forma, evidencia-se a necessidade de se enfatizar a importância da observação criteriosa e do exame físico do paciente durante todo o período transoperatório e pós-operatório imediato, importantes contribuintes para o diagnóstico precoce desta complicação. Evidencia-se, também, a necessidade da produção de mais estudos realizados pela enfermagem sobre a Síndrome Compartimental relacionada ao posicionamento cirúrgico, com a finalidade de servirem de instrumentos de aprendizagem e conhecimento para os profissionais, visando uma assistência cada vez mais qualificada. REFERÊNCIAS 1. Wilde S. Compartment syndrome: the silent danger related to patient positioning and surgery. Br J Perioper Nurs. 2004;14(12):546-54. 2. Heizenroth PA. Posicionamento do paciente para cirurgia. In: Rothrock JC. Alexander: cuidados de enfermagem ao paciente cirúrgico. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2007. p.130-57. 3. Silveira CT. A assistência da equipe de enfermagem no posicionamento cirúrgico do paciente durante o período intra-operatório [dissertação]. São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 2008. 4. Lopes CMM. Posicionamento cirúrgico: evidências para o cuidado de enfermagem [dissertação]. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; 2009. 5. Dua RS, Bankes MJK, Dowd GSE, Lewis AAM. Compartment syndrome following pelvic surgery in the lithotomy position. Ann R Coll Surg Engl. 2002; 84(3):170-1. 6. Mubarak SJ, Hargens AR. Síndromes compartimentais agudas. Surg Clin North Am. 1983;63(3):539-65. 12. Harvey C. Compartment syndrome: when it is least expected. Orthop Nurs. 2001;20(3):15-23. 13. Heyn J, Ladurner R, Ozimek A, Vogel T, Hallfeldt KK, Mussack T. Gluteal compartment syndrome after prostatectomy caused by incorrect positioning. Eur J Med Res. 2006;11(4):170-3. 14. Atamer C, Langer C, Rominger M. Compression phenomenon of the popliteal veins by bilateral compartment syndromes after many hours of surgery in lithotomy position. Vasa 1996;25(3):295-8. 15. Seybold EA, Busconi BD. Anterior thigh compartment syndrome following prolonged tourniquet application and lateral positioning. Am J Orthop. 1996;25(7):493-6. 16. Lampert R, Weih EH, Breucking E, Kirchhoff S, Lazica B, Lang K. Postoperative bilateral compartment syndrome resulting from prolonged urological surgery in lithotomy position. Serum creatine kinase activity (CK) as a warning signal in sedated, artificially respirated patients. Anaesthesist. 1995;44(1):43-7. 17. Tuckey J. Bilateral compartment syndrome complicating prolonged lithotomy position. Br J Anaesth. 1996;77(4):546-9. 7. Tucker KR. Compartment syndrome: the orthopaedic nurse‘s vital role. J Orthopaedic Nurs. 1998;2(1):33-6. 18. Meldrum R, Lipscomb P. Compartment syndrome of the leg after less than 4 hours of elevation on a fracture table. South Med J. 2002;95(2):269-71. 8. Pitta GBB, Santos CAS, Braga FA. Fasciotomias de extremidades. In: Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. p.1-10. 19. Gupta R, Batra S, Chandra R, Sharma VK. Compartment syndrome with acute renal failure: a rare complication of spinal surgery in knee-chest position. Spine. 2008;33(8):272-3. 9. Turnbull D, Mills GH. Compartment syndrome associated with the Lloyd Davies position: three case reports and review of the literature. Anaesthesia. 2001; 56(10):980-7. 20. Kumar V, Saeed K, Panagopoulos A, Parker PJ. Gluteal compartment syndrome following joint arthroplasty under epidural anaesthesia: a report of 4 cases. J Orthop Surg. 2007;15(1):113-7. 10. Bongiovanni MS, Bradley SL, Kelley DM. Orthopedic trauma: critical care nursing issues. Crit Care Nurs Q. 2005;28(1):60-71. 21. Yu Y, Chen W, Chen L, Chen W. Ischemic orbital compartment syndrome after posterior spinal surgery. Spine. 2008;33(16):569–72. 11. Perron AD, Brady WJ, Keats TE. Orthopedic pitfalls in the ED: acute compartment syndrome. Am J Emerg Med. 2001;19(5):413-6. 22. Lachiewicz PF, Latimer HA. Rhabdomyolysis following total hip arthroplasty. J Bone Joint Surg Br. 1991;73(4):576-9. Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 71-80 79 23. Singh S, Trikha SP, Lewis J. Acute compartment syndrome. Curr Orthop. 2004 Dec;18(6):468-76. 24. Tumbarello C. Acute extremity compartment syndrome. J Trauma Nurs. 2000;7(2):30-6. Autoras Fernanda Rabello Sérgio Enfermeira graduada pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: [email protected]. Lys Eiras Cameron Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Coordenadora do Grupo de Estudos em Enfermagem Traumato-Ortopédica. E-mail: [email protected]. Isabel Cristina Oliveira Vital Enfermeira, Mestranda em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Membro do Grupo de Estudos em Enfermagem Traumato-Ortopédica. E-mail: [email protected]. $0/530-&4%&&45&3*-*;" 0$*4" Vapor a Alta Temperatura, Vapor a Baixa Temperatura e Formaldeído, Peróxido de Hidrogênio. Integrador e Emulador Químico Bowie&Dick Indicadores Biológicos Helix Test Incubadora vai ter um novo anuncio Controle do equipamento, da exposição e da carga com a segurança e a qualidade da marca Cisa. 80 Rev. SOBECC, São Paulo. Julho/Setembro. 2012; 18, (3) 72-81 Publique na SOBECC Normas de publicação da Revista SOBECC A Revista SOBECC (Rev. SOBECC), ISSN 14144425, é uma publicação oficial de divulgação técnico-científica da Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização (SOBECC), sendo publicada trimestralmente com a finalidade de divulgar a produção científica da Enfermagem nas áreas de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização. São aceitos para publicação trabalhos desenvolvidos por enfermeiros, outros profissionais da saúde e discentes de cursos de graduação e de pósgraduação em Enfermagem. • Revisões de literatura: análises abrangentes de literatura, compilando conhecimentos disponíveis sobre determinado tema de interesse para o desenvolvimento da Enfermagem. Devem ser baseados em bibliografia pertinente, atualizada, crítica e sistemática, enfatizando a delimitação do tema e as conclusões. Também devem ser redigidos segundo metodologia científica e as especificações gerais são as mesmas que as dos artigos originais e dos relatos de experiência. Os manuscritos devem ser enviados exclusivamente à Revista SOBECC e estar de acordo com as orientações descritas a seguir. 4.1. Primeira página: • Título do artigo em português, inglês e espanhol (não exceder doze palavras); 1. Pelo menos um dos autores deve ser sócio da SOBECC ou assinante da Revista SOBECC. • Nome completo, profissão, titulação e local de atuação profissional dos autores; 2. Os temas devem estar relacionados com as áreas de Enfermagem Cirúrgica, Enfermagem em Centro Cirúrgico (CC), Recuperação Anestésica (RA) ou Centro de Material e Esterilização (CME). A seleção dos trabalhos fica a critério do Conselho Editorial, que leva em conta a relevância para a prática, a clareza e a coerência dos dados, evitando, ainda, a redundância no conteúdo. • Nome e endereço completo dos autores para recebimento de correspondência, incluindo telefones comercial e residencial e e-mail. 3. Os trabalhos enviados serão classificados em uma das três categorias: • Palavras-chave, elaboradas segundo os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), disponíveis no endereço eletrônico www.decs.bvs.br; • Artigos originais: investigações resultantes de pesquisas que apresentam resultados inéditos e sejam redigidos utilizando-se metodologia científica. Sua estrutura deve conter: introdução, objetivos, métodos, resultados, discussão, conclusões e/ou considerações finais e referências. Devem ser limitados a doze páginas impressas em formato final, incluindo resumo, abstract, resumen, figuras, tabelas, quadros, referências e anexos; • Relatos de experiência: descrições analíticas acerca da assistência de Enfermagem, com interesse para atuação de enfermeiros no período perioperatório, contendo análise de implicações conceituais ou descrição de procedimentos, com estratégias de intervenção e evidência metodológica apropriada de avaliação da eficácia. As especificações gerais são as mesmas que as dos artigos originais; 4. A apresentação dos trabalhos científicos deve obedecer à ordem abaixo especificada: 4.2. Segunda página: Resumos em português, inglês e espanhol, apresentados em espaço simples e com, no máximo, 150 palavras cada um; • abstract, isto é, versão do resumo em inglês; • key words, ou seja, palavras-chave em inglês; • Resumen, isto é, versão do resumo em espanhol; • Palabras clave, ou seja, palavras-chave em espanhol. 4.3. Terceira página: • Texto produzido conforme as características individuais de cada trabalho, ou seja, artigos originais, relatos de experiência e revisões de literatura; • Anexos, tabelas, quadros e figuras devem estar em folhas separadas, com os devidos títulos e as devidas legendas; Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 81-82 81 • Referências bibliográficas devem ser construídas de acordo com as normas de Vancouver, elaboradas pelo International Committee of Medical Editors, indicadas numericamente na sequência em que aparecem no texto, no qual precisam ser identificadas por números arábicos sobrescritos, colocados entre parênteses. Se forem sequenciais, devem ser separadas por hífen; se forem aleatórias, a separação pode ser feita por vírgulas. A exatidão das referências é de responsabilidade dos autores. Existindo mais de seis autores, deve-se usar a expressão et al após o sexto nome. Cada artigo deverá ter, no máximo, 20 referências bibliográficas. 5. O conteúdo dos trabalhos é da inteira responsabilidade dos autores e não refletem, obrigatoriamente, a opinião do Conselho Editorial da Revista SOBECC e nem da Associação. 6. A redação deve ser feita em português, na ortografia oficial. 7. A construção das referências bibliográficas deve seguir as normas elaboradas pelo International Committee of Medical Journal Editors – Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (ICMJE), sendo baseadas no padrão ANSI, adaptado pela US National Library of Medicine (www.bu.ufsc.br/bsccsm/vancouver.html). 8. É necessário que os trabalhos sejam elaborados em arquivo Word, com fonte em letra Arial, tamanho 11, espaço 1,5, margens de 2,5 cm, com o máximo de 15 laudas e 20 referências. Devem ser enviados em CD, acompanhado de duas cópias do original. 9. Exceto com autorização do Conselho Editorial, os textos não devem exceder 15 páginas digitadas, incluindo anexos e referências bibliográficas. Até cinco fotos originais podem ser encaminhadas para publicação. 10. A reprodução de matérias da Revista SOBECC é permitida mediante autorização da entidade e a devida citação da fonte. Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012; 17(3) 81-82 82 www.sobecc.org.br 11. Ao Conselho Editorial é reservado o direito de sugerir modificações de estrutura e/ou no conteúdo nos trabalhos, em comum acordo com os autores. 12. Os artigos não aceitos para publicação serão devolvidos aos autores com justificativa do Conselho Editorial. 13. Os trabalhos devem respeitar os princípios éticos que regem as pesquisas científicas na área da saúde envolvendo seres humanos, constando o número do protocolo de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do local onde foi desenvolvido o estudo, conforme a Resolução no196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde (Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos). 14. Os autores devem enviar os trabalhos para o Conselho Editorial da Revista SOBECC, situado na Rua Vergueiro, número 875, conjunto 64, Liberdade, São Paulo – SP, CEP 01504-001. Telefone (11) 3341.4044. Email: [email protected]. Site: www.sobecc.org.br. 15. Os artigos devem ser enviados à SOBECC juntamente com uma carta, redigida conforme o modelo abaixo e assinada por todos os autores: “O(s) autor(es) abaixo assinado(s) transfere(m) todos os direitos de publicação do manuscrito intitulado (título do artigo) para a Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização, caso este trabalho seja publicado. Cada autor abaixo assinado assegura que participou suficientemente do estudo para justificar sua autoria, garantindo, ainda, que o artigo é original, que não está sob apreciação de outra revista simultaneamente e que o texto e os dados nele apresentados não foram anteriormente publicados. O(s) autor(es) concorda(m) que as opiniões expressas neste manuscrito não representam, necessariamente, o ponto de vista dos editores ou da Associação, que renunciam toda responsabilidade e compromissos sobre seu conteúdo.” 82 Bretas 3M Prevenção de Infecção Barba bem feita Pré-operatório não Orientações do CDC: t Não remover o pelo pré-operatório, a não ser que este esteja na área da incisão e for interferir na cirurgia. t Se for necessário remover o pelo, remova imediatamente antes da cirurgia, preferencialmente com clipper elétrico. Categoria 1A. Fonte: Center for Disease Control and Prevention, GUIDELINE FOR PREVENTION OF SURGICAL SITE INFECON 1999, pg-266 Qual o custo do tratamento de uma infecção de sítio cirúrgico? Pesquisas demonstram que o uso de lâminas de barbear na remoção de pelos produz cortes e lesões microscópicas, aumentando o risco de infecções. Os tricotomizadores cirúrgicos 3M são versáteis e ideais na remoção segura de pelos para a preparação do paciente. Recomendações da AORN: t Recomenda-se a remoção de pelos quando ocorrer interferência com o procedimento cirúrgico, com as medidas de precauções. t Realização da remoção de pelos no dia da cirurgia, no local fora da sala cirúrgica. t A lâmina durante a sua utilização tem uma potencial chance de se contaminar com a flora da pele do paciente. t Remoção dos pelos com clipper evita o risco de lesões microscópicas. Fonte: Recomendação IV - AORN 2010 - Antissepsia de pele do paciente Acesse o site www.prevencaodeinfeccao.com.br e agende uma demonstração dos tricotomizadores 3M em seu hospital. Tricotomizadores Cirúrgicos 3M. Remoção de pelos sem cortes e irritações.