Integração | Máquinas Novas tecnologias na Fazenda Santa Brígida n Maristela Franco [email protected] “A pesquisa não pára”, sentenciou sorridente, o pesquisador da Embrapa, João Kluthcouski, durante o 7o Dia de Campo da Fazenda Santa Brígida, em Ipameri, GO, referindo-se às novidades tecnológicas que apresentaria naquele 14 de março. Tinha razões para comemorar. Cerca de um ano após DBO trazer a público o Sistema Santa Brígida, consórcio triplo de milho, braquiária e guandu anão, que leva esse nome em homenagem à fazenda onde foi desenvolvido, João K e a pesquisadora Priscila de Oliveira, também da Embrapa, apresentaram desdobramentos do sistema, como a transformação das duas forrageiras que o integram (braquiária e guandu) em feno de alta qualidade. Os 340 participantes do dia de campo da Fazenda Santa Brígida, propriedade da odontóloga Marize Costa, e que se tornou tradicional ponto de encontro dos adeptos da integração lavoura-pecuária-floresta, puderam ver máquinas da John Deere colhendo o novo feno, que João K batizou de “tropical”, por ser produzido em áreas de clima mais quente, no Centro-Oeste do País (veja quadro). Também chamou a atenção dos visitantes um protótipo de motossemeadeira, que possibilitará aos médios e pequenos fazendeiros plantar capim em lavouras de soja, 40 Até julho, kit de adaptação deverá ser colocado à venda por R$ 1.200. 120 DBO abril 2013 dias antes da colheita dos grãos, quando a leguminosa está na fase de maturação. As folhas que caem das plantas recobrem as sementes da gramínea e lhes garante ambiente propício para germinar, fornecendo ao produtor pastagem de inverno para engorda de gado na seca. tado oficialmente, em abril, durante o Agrishow, em Ribeirão Preto, SP, devendo ser posto à venda, no mercado, dentro de quatro meses, por aproximadamente R$ 1.200. Segundo Takahashi, o kit possui três Motossemeadeira pode plantar 50 ha de capim por dia entre as linhas de soja Simplicidade - Atualmente, a sobressemeadura de capim é feita de avião, o que restringe seu uso às grandes propriedades. João K nunca aceitou isso. Queria introduzir a tecnologia em pequenas áreas, sem gastar muito. A ideia da motossemeadeira lhe veio, como tantas outras, num lampejo. E, como de costume, ele solicitou a ajuda de amigos para materializá-la, como José Takahashi, diretor da Ikeda. O kit de adaptação que transformará uma simples motocicleta em uma máquina agrícola será apresen- componentes. O primeiro é um abridor de linha, espécie de capa plástica que recobre parcialmente a roda dianteira. Sua função é facilitar a movimentação do veículo entre as linhas de soja e manter a integridade das plantas, impedindo-as de se enroscar nos raios da roda. O segundo componente é um protetor, Fotos: Maristela Franco Dia de campo apresenta um novo tipo de feno e uma motossemeadeira para pequenos produtores. também de plástico, fixado no “mata-cachorro” do veículo, que desempenha a mesma função (abrir espaço entre as fileiras de soja). O terceiro é uma caixa plástica para sementes, munida de dosador, que já vem com uma placa metálica para sua fixação no bagageiro do veículo, atrás do banco do motorista. Essa caixa tem capacidade para 60 litros. As sementes são distribuídas sobre o chão a uma distância de 14 metros, quando se aciona o motor. A instalação do kit é simples, bem como sua manutenção. Para que o conjunto funcione, é necessário que o veículo tenha potência adequada. No protótipo apresentado durante o dia de campo da Fazenda Santa Brígida, aproveitou-se uma moto antiga, de 2002, com apenas 125 cilindradas, mas a recomendação é usar um modelo mais potente, de pelo menos 150 cilindradas, com pneus largos, do tipo empregado na prática de motocross. Segundo João K, a moto adaptada poderá semear cerca de 50 hectares com capim por dia. O peso da caixa foi delimitado para evitar compactação do solo nas entrelinhas e permitir rápida movimentação do veículo na lavoura, a 8-10 km por hora. Além de capim, a moto adaptada pode semear outras culturas, como o milheto ou o sorgo forrageiro, e até fazer adubação. A mente criativa de Revolução - João K não sossega. Já imagina o veículo carregando um pulverizador de oito bicos para aplicação de herbicidas ou fazendo funcionar um descascador de arroz. “As aplicações são infindáveis. Trata-se da salvação para 4,6 milhões de propriedades rurais no Brasil, já que apenas 600.000, de um total de 6,2 milhões, têm possibilidade de fretar um avião para fazer sobressemeadura”, diz ele. O pesquisador da Embrapa lembra ainda que motocicletas são associadas com juventude, sendo mais fácil encontrar quem queira trabalhar com elas, no campo, do que com cavalos, por exemplo. “Depois de terminado o serviço, às seis horas da tarde, o motorista pode passar um paninho no banco e ainda ir namorar. Quer maior versatilidade do que essa?”, graceja. A patente da motossemeadeira será compartilhada entre a Embrapa e a Ikeda. As novidades apresentadas por João K nasceram no frutífero ambiente da integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF), sistema que poderia ser implantado em cerca de 55 milhões de hectares no Brasil. “Se 2% desse total fossem incorporados à ILPF por ano, dentro de 20 anos o País teria 20 milhões de hectares produzindo até três safras anuais”, diz o pesquisador. A taxa de expansão da tecnologia, con- Reunião do Conseagri - tudo, tem sido modesta. Até o momento, apenas 1,557 milhão de hectares foram destinados à integração no Brasil. Por isso, o governo lançou o Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono), cuja estimativa de necessidade de recursos é de R$ 182,5 milhões até 2020. De seu lançamento até janeiro de 2013, foram firmados 5.207 contratos e desembolsados mais de R$ 1,9 milhão. Na manhã do dia 13 de março, que antecedeu o evento da Fazenda Santa Brígida, houve uma reunião do Conseagri, Conselho Nacional dos Secretários de Estado de Agricultura, em Caldas Novas, cidade próxima a Ipameri, onde se discutiu os rumos da integração, além de outras questões. Na parte da tarde, 11 secretários participaram de um debate organizado pela Embrapa e a John Deere. Na ocasião, a secretária de agricultura de São Paulo, Mônika Bergamaschi, apresentou o recém-criado Programa Integra SP, cujo objetivo é recuperar 20% das áreas de pastagens degradadas do Estado até 2020. Para controle de voçorocas, por exemplo, o produtor terá até R$ 10.000 a fundo perdido. Para recuperação de pastagens, o limite é de até R$ 100.000, com oito anos para pagar (quatro de carência) e juros de 3% ao ano, com possibilidade de se chegar a 2,25%, se o produtor for adimplente (pagar o financiamento em dia). n Feno para os trópicos Rainha das forrageiras, a alfafa tem 25% de proteína bruta (PB) e é considerada a melhor alternativa disponível para produção de feno. A aveia, cujo teor protéico é de cerca de 12%, também se presta a essa finalidade. Ambas, porém, têm um inconveniente: seu cultivo está restrito às zonas de clima temperado. Nos cerrados, onde faz calor o ano todo, a braquiária seria uma boa alternativa para fenação, entretanto, tem pouca proteína (5% a 8%). “Por isso, pensamos em aproveitar a dupla que faz parte do Sistema Santa Brígida – guandu anão e braquiária ruziziensis (mais palatável e fácil de manejar) – para produzir um feno tropical de boa qualidade, devido à presença da leguminosa”, explica o pesquisador. Em um experimento conduzido em Ipameri, o agroecólogo Alex Silva, mes- trando da Universidade Estadual de Goiás, testou diferentes populações de plantas para analisar o consórcio. Concluiu que, com 8 plantas de braquiária e 6 de guandu já se obtém 9,5 toneladas de matéria seca por hectare, com 18,5% de proteína, o que garante feno de excelente qualidade. Pode-se plantar a dupla braquiária-guandu junto com o milho (Sistema Santa Brígida) e, cerca de 30 dias após a colheita dos grãos, fazer o corte das forrageiras para fenação. Outra opção, que, aliás, garante maior quantidade de MS/ha e no mínimo dois cortes anuais, é cultivá-las sem o milho. Neste sistema, faz-se o primeiro corte quando a braquiária chegar à fase de florescimento, cerca de 70 dias após o plantio. Caso o produtor não queira fazer feno, por falta de equipamentos, pode pré-secar o material ou ensilá-lo. Leira de feno de guandu com ruziziensis após corte demonstrativo no dia de campo DBO abril 2013 121