0 UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS JAUBERT DE CASTRO MENCHIK DIÁLOGOS SOBRE A AVALIAÇÃO NO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA – CAMPUS PANAMBI, RS Ijuí, RS 2012 1 JAUBERT DE CASTRO MENCHIK DIÁLOGOS SOBRE A AVALIAÇÃO NO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA – CAMPUS PANAMBI, RS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu – Mestrado em Educação nas Ciências, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação nas Ciências. Orientadora: professora doutora Helena Copetti Callai Ijuí, RS 2012 2 A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação DIÁLOGOS SOBRE A AVALIAÇÃO NO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA – CAMPUS PANAMBI, RS elaborada por JAUBERT DE CASTRO MENCHIK como requisito parcial para a obtenção do grau de MESTRE EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS BANCA EXAMINADORA: _______________________________________________________ Prof(a) Dra Helena Copetti Callai, Orientadora (Unijuí) ______________________________________________________ Prof(a) Dra Maria Simone Schwengber ______________________________________________________ Prof(a) Dra Fabiana Lasta Beck Pires 3 AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço à minha família, que esteve comigo ao longo desta caminhada acadêmica, me apoiando e dando forças nos momentos mais difíceis. Esta conquista é para vocês! À minha professora orientadora, doutora Helena Callai, que me entendeu e soube lidar com minhas dificuldades, procurando trazer à tona as virtudes e deixando de lado as fraquezas. Aos professores do Programa de Pós-Graduação, que sempre estiveram dispostos a me ajudar, contribuindo para minha formação, tanto numa pequena conversa como nas discussões mais acaloradas em sala de aula. À minha colega e amiga Marli Simionatto, que me ajudou na solitária e sofrida tarefa de escrever esta dissertação, me dando conselhos e dicas e, acima de tudo, demonstrando ser uma “amiga do peito”. Aos professores que fizeram parte da pesquisa, por colaborarem e serem abertos à proposta que lhes foi apresentada, sendo que em momento algum me “deixaram na mão”. Aos colegas do mestrado, que sempre estiveram ao meu lado, procurando auxiliar no que fosse preciso. Ao Instituto Federal Farroupilha, pela acolhida e receptividade ao estudo desenvolvido. E, por fim, a Deus, que não me abandonou nos momentos mais difíceis, me dando forças para continuar mesmo quando estas já haviam se esgotado, fazendo-me perspicaz na tarefa de concluir mais essa etapa da vida. A todos os meus agradecimentos! 4 RESUMO A problemática deste estudo é discutir o Processo Avaliativo praticado pelo Instituto Federal Farroupilha – Campus Panambi, RS. Para isso, faço uma retomada da constituição da rede de educação profissional e tecnológica, chegando até os dias atuais. Em paralelo, procuro demonstrar como essas instituições de ensino se organizam, tanto no sentido estrutural como pedagogicamente. Com base nas proposições dos documentos norteadores proponho uma reflexão acerca do Processo Avaliativo, usando como pressuposto norteador o Projeto Integrador desenvolvido pela instituição, o qual se constitui numa prática desenvolvida pela mesma, juntamente com seus professores, a fim de integrar as disciplinas. Busco compreender no decorrer do estudo se o mesmo pode se constituir em uma alternativa plausível para uma avaliação mais contextual e completa da aprendizagem dos estudantes. O Projeto Integrador é desenvolvido pelos docentes do curso juntamente com a equipe diretiva e procura realizar a aproximação das disciplinas por meio de fatos do dia a dia, buscando com isso fazer uma ligação com o cotidiano dos estudantes. O estudo tem uma visão qualitativa, consistindo metodologicamente em um estudo do Grupo Focal, sendo essa uma técnica de investigação em que o pesquisador não é um mero “coletor” de dados, mas sim participante da pesquisa, atuando com mediador do processo. Os relatos dos docentes serviram como base para os questionamentos levantados durante o estudo, juntamente com os autores da área e minha experiência como docente na instituição de ensino. Creio que este estudo poderá se constituir num ponto de partida para futuros trabalhos, principalmente pelo fato de que o Processo Avaliativo é uma prática do cotidiano dos professores e que necessita ser extremamente cuidadosa. Outro ponto que leva a novos estudos é o conhecimento restrito que se tem a respeito dos Institutos Federais, sendo necessária uma investigação mais aprofundada dessas instituições, bem como de seus processos de avaliação. Palavras-chave: Processo avaliativo. Currículo Integrado. Projeto Integrador. 5 ABSTRACT The problem discussed in this study is the Evaluation Process practiced at the Farroupilha Federal Institute – Panambi Campus, RS, Brazil. In order to do that, I recapture on the constitution of the professional and technological education network, to the current days. In parallel, I tried to show how these educational institutions are organized, both in the structural and in the pedagogical ways. Based on the assumptions presented by the guiding documents, I propose a reflection about the Evaluation Process, by using the Integrative Project developed by the institution, which is constituted into a practice expanded by the institution with its teachers aiming at integrating the subjects, as the guiding assumption. I searched to verify throughout the study if it can constitute itself into a reliable alternative for the more contextual and complete evaluation of the students’ learning process. The Integrative Project is developed by the teachers with the directing board and aims at approximating the different subjects by means of using everyday facts, with the goal of establishing a connection with the students’ everyday lives. The study follows a qualitative view, and is methodologically constituted by a Focus Group, being this an investigation technique in which the researcher is not a mere data collector, but a research subject as well, acting as a mediator in the process. The further reports by the teachers served as basis for the questionings raised throughout the study, along with contributions from authors in the area and my personal experience as a teacher in that institution. I believe that this study may constitute itself in a starting point for future studies, mainly for the fact that the Evaluation Process is an everyday practice for teachers and needs to be done very carefully. Another aspect which may lead to further studies is the limited publicized knowledge regarding the Federal Institutions structures, making it clear that a deeper investigation on these institutions, as well as on their evaluation processes, is needed. Key words: Evaluation process. Integrated Curriculum. Integrative Project. 6 LISTA DOS QUADROS Quadro 1. Quadro 2. Quadro 3. Quadro 4. Quadro 5. Quadro 6. Caracterização dos docentes participantes do Grupo Focal.......................... Experiências positivas e negativas encontradas pelos sujeitos do Grupo Focal............................................................................................................... Funções da avaliação..................................................................................... Avaliação realizada pelo Sujeito 4................................................................. Avaliação realizada pelo Sujeito 1................................................................. Eixos estruturantes......................................................................................... 18 19 37 48 49 57 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8 1.1 CAMINHOS PERCORRIDOS .......................................................................................... 13 1.2 PROCEDIMENTOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO GRUPO .................................. 15 2 UM PANORAMA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL ........................... 22 2.1 A CONSTITUIÇÃO DA REDE FEDERAL ..................................................................... 22 2.2 A CRIAÇÃO DOS INSTITUTOS FEDERAIS ................................................................. 27 2.3 O INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA ................................................................... 28 2.4 A PROPOSTA CURRICULAR NO IF FARROUPILHA ................................................. 29 2.5 CAMPUS PANAMBI/RS, O CURRÍCULO INTEGRADO E O PROCESSO AVALIATIVO .................................................................................................... 31 3 PROCESSO AVALIATIVO, PROJETO INTEGRADOR E SUAS POSSÍVEIS ALTERNATIVAS .................................................................................................................. 42 3.1 O PROJETO INTEGRADOR E O PROCESSO AVALIATIVO NESSA PERSPECTIVA ........................................................................................................................ 53 3.2 O PROJETO INTEGRADOR COMO ALTERNATIVA .................................................. 54 4 PROJETO INTEGRADOR: UMA ALTERNATIVA? ................................................... 62 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 71 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 74 ANEXOS ................................................................................................................................. 77 8 1 INTRODUÇÃO Decorei toda lição Não errei nenhuma questão Não aprendi nada de bom Mas tirei dez (boa filhão!) Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi. (Estudo Errado, Gabriel, o “Pensador”, 1995). O músico Gabriel, “o Pensador”, foi muito feliz quando compôs esta música, mesmo sem ser um mestre ou doutor das academias, revelou ser um “mestre” com as palavras. Com uma linguagem simples abordou alguns dos problemas da educação brasileira, chamando a atenção e mostrando o que por vezes acontece na maioria das escolas brasileiras, cujos temas são discutidos há muito tempo pelos educadores e estudantes que compõem o sistema educacional no país. A música Estudo Errado (Anexo 1) é aqui utilizada para introduzir alguns pontos que serão discutidos ao longo deste trabalho. O problema da pesquisa visa conhecer a possibilidade de o Projeto Integrador, desenvolvido pelo Instituto Federal Farroupilha – Campus Panambi, RS, auxiliar no Processo Avaliativo realizado pelos docentes. A questão busca discutir as perspectivas avaliativas enquanto simples classificação do estudante, proporcionando um enfoque mais processual e formativo dos educandos, fazendo com que os mesmos sejam capazes de se promover em função do caminho que percorreram ao invés da simples constatação da aprendizagem no final do semestre mediante instrumentos sancionadores. A partir do estudo bibliográfico baseado em autores que abordam a temática ora apresentada, que diz respeito aos Institutos Federais, e considerando também os processos avaliativos nele instituídos, busquei nos documentos das políticas públicas as orientações oficiais a nível nacional para assim compreender como a questão é vista pelos docentes envolvidos no estudo. E, a partir disso busquei também ouvir os professores, o que permitiu caracterizar o entendimento do processo de avaliação e definir as dificuldades para a sua realização e implementação com base nos documentos oficiais. Os procedimentos da pesquisa foram realizados no decorrer do estudo, ou seja, durante a construção da dissertação, e foram acontecendo de modo articulado, considerando a 9 complexidade da questão que me interessava no momento, cujo fato descarta uma linearidade sequencial no trabalho. O intuito deste estudo é discutir e refletir mais precisamente sobre o Processo Avaliativo, o que acabou levando também à discussão da prática docente, do Projeto PolíticoPedagógico da Instituição, da questão social em que a instituição se insere e dos programas educacionais, os quais são parte indissociável do processo. E, por esse motivo, foi preciso abordá-los. Foi indispensável, porém, manter certo distanciamento para analisar o enlace de variáveis que estão presentes no contexto escolar. Em suma, não se pode falar do Projeto Político-Pedagógico sem referir as pessoas envolvidas no processo; não se discute a prática dos professores sem saber o tipo de sociedade que se deseja formar; e, por fim, não se discute nenhum desses pontos citados sem ter clareza a respeito das implicações para a sociedade em que se vive. Todos esses pontos estão englobados num ente maior, que é o Currículo desenvolvido pela instituição que, no meu entender, é a forma como se dá a organização da estrutura escolar, tanto das disciplinas, como da sociedade que se busca. Consequentemente, o Processo Avaliativo faz parte do mesmo e é permeado pelo enfoque que é dado a cada tipo de currículo. E, em função disso, é preciso adequá-lo de acordo com a sociedade que se pretende formar, estando o Processo Avaliativo intimamente ligado neste contexto. A sociedade em que se vive influencia de forma decisiva na maneira como os estudantes estarão sendo formados e, no caso deste estudo, em um Currículo Integrado, que de maneira sucinta é a organização curricular de forma integral. O Currículo Integrado busca a articulação entre as disciplinas (interdisciplinaridade), fazendo com que elas dialoguem, tanto na parte técnica como na propedêutica, devendo a formação técnica da área do curso escolhido estar em consonância com a formação geral dos sujeitos para que se desenvolvam em todas as esferas. Fica evidente que não se pode cobrar autonomia dos alunos sem que lhes sejam dadas condições para que assim sejam. Refiro-me à capacidade de os estudantes realizarem uma reflexão crítica ao seu próprio processo de ensino e aprendizagem, ter a consciência das estratégias pessoais pelas quais atinjam mais rapidamente os objetivos propostos, levando assim, a uma ação independente do professor para atingir os resultados esperados, ou seja, que o estudante seja mais independente no processo de ensino e aprendizagem. Por exemplo, não se pode pedir uma resenha crítica se sempre foram acostumados a responder “sim” ou “não”, ou marcar a alternativa correta. Para a formação integral dos sujeitos, em que os estudantes 10 sejam criadores e críticos, não se concebe uma avaliação tradicional, voltada à memorização, conforme consta no fragmento da música de Gabriel, o “Pensador”. Decoreba: esse é o método de ensino Eles me tratam como ameba e assim eu não raciocino Não aprendo as causas e consequências, só decoro os fatos Desse jeito até história fica chata. (Estudo Errado, Gabriel, o “Pensador”, 1995). Essa realidade apresentada em outro pequeno trecho da mesma música indica que para a aprendizagem ocorrer satisfatoriamente, os processos de ensino e aprendizagem não podem ser baseados em meras “decorebas” e sem raciocínio. É preciso levar em conta as causas e as consequências desse procedimento, as quais são explicitadas nesse pedaço da música, pois assim até a história dos acontecimentos que deveria ser atraente e excitante pode tornar-se chata e enfadonha. O fato de um estudante decorar acontecimentos e datas da Segunda Guerra, por exemplo, não o faz sabedor dos motivos que levaram à guerra, e muito menos as consequências que até hoje assombram boa parte da população envolvida no conflito. Mas os velhos me disseram que o "porquê" é o segredo Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente Eu sei que ainda não sou gente grande, mas eu já sou gente. (Estudo Errado, Gabriel, o “Pensador”, 1995). É evidente que os pais têm uma função essencial na formação dos filhos. Bom seria se todos os pais dissessem aos seus filhos que o “por quê?” é o segredo, os instigassem a ser questionadores, críticos quanto ao que recebem na escola. Nem todos, entretanto, conseguem ter essa percepção sobre o ensino de seus filhos. Usar a mente, o raciocínio criativo, isso sim, imagino ser essencial para se desenvolver, aprender e não apenas usar o que é proposto em sala de aula para memorizar, não se tornando parte daquele conteúdo proposto, ou seja, sem que aquilo não tenha significado para sua atividade diária. Freire (1996, p. 59) reafirma isso, afirmando que a educação deve promover o estudante, fazendo com que aproxime o que aprende com o cotidiano em que vive. Esse ponto vem ao encontro ao ensino muitas vezes oferecido na maioria das instituições escolares, onde o principal objetivo é a capacidade de os estudantes decorarem muitos fatos e datas, não estando aptos a darem significados a esses conhecimentos, tornando-se meros enfeites em sua formação. Apesar de jovens todos os estudantes precisam ser tratados como gente, no sentido mais plural da palavra, humanos com defeitos e virtudes, entendidos como diferentes e plurais e capazes de organizar seu 11 pensamento das mais diferentes formas. Não é o caso, portanto, de cobrar linearidade dos conhecimentos, a exemplo do que ocorre em muitas escolas, onde os alunos são avaliados com base em critérios únicos e estáticos. Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste O que é corrupção? Pra que serve um deputado? Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso! Ou que a minhoca é hermafrodita Ou sobre a tênia solitária. Não me faça decorar as capitanias hereditárias! (Estudo Errado, Gabriel, o “Pensador”). “Ensinar alguma coisa que preste”, como fala a música Estudo Errado, de Gabriel, o “Pensador”, deveria ser a tônica do ensino, contextualizado e coerente com os problemas da sociedade em que se vive. Sei que a escola é uma instituição onde o saber é primordial, porém em minha maneira de ver, o conhecimento por si só não acrescenta, acaba por não agregar qualidade ao ensino proposto. A utilização dos fenômenos da Física poderia servir para explicar o funcionamento do avião, a inércia para reforçar a importância do uso do cinto de segurança, por exemplo. Esses são problemas de fácil utilização diária e, consequentemente, deveriam estar presentes nas salas de aula. Não é o que se presencia, porém, na maioria das instituições, onde se tem a obrigatoriedade na execução de uma gama de conteúdos, e o que importa é a quantidade dos conteúdos “passados”, não a qualidade e a forma do ensino propostos. A consequência lógica desse tipo de ensino será um Processo Avaliativo na mesma proporção, ou seja, descontextualizado da realidade, não importando a forma como o estudante chegou a um determinado conceito, mas sim o resultado apresentado no final do ano ou semestre letivo. O trabalho que ora realizo busca colocar alguns pontos de interrogação sobre a concepção de educação que tradicionalmente acontece, buscando formas mais coerentes de se realizar o Processo Avaliativo, em que o contexto pelo qual o estudante chegou a um determinado conceito seja mais valioso do que a simples “decoreba” dos conteúdos mostrada no fragmento da música de Gabriel, o “Pensador”. Num primeiro momento são retomados alguns dos aspectos históricos da criação dos primeiros centros de ensino técnico até os dias atuais, a formação dos Institutos Federais, procurando avaliar os contextos político, econômico e social. Estes centros de ensino influenciaram de maneira decisiva nos aspectos pedagógicos e, consequentemente, no Processo Avaliativo. Ao mesmo tempo realiza-se uma abordagem histórica dos documentos 12 educacionais, discutindo-se a formação da educação técnica no Brasil mediante a verificação das suas diretrizes e normas. Essa tarefa se tornou necessária, pois se passou a falar sobre o local onde se desenvolveu o estudo, suas características, suas marcas e especificidades. Não é possível falar de determinada instituição, portanto, sem ter o conhecimento de quem é, quais suas formas de organização, os meios pelos quais chegou aos dias atuais e, por esse motivo, essa contextualização se tornou adequada. Dando prosseguimento, neste mesmo capítulo ainda tento caracterizar os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e o Instituto Federal Farroupilha, este último membro integrante da Rede Federal de Educação Tecnológica e, também, de forma particular, o Instituto Federal Farroupilha – Campus de Panambi, RS, onde ocorreu todo o estudo que ora está sendo apresentado. No capítulo que segue procuro apresentar um panorama geral da questão Curricular e do Processo Avaliativo, que vêm se desenvolvendo há anos nas instituições escolares, bem como os problemas relacionados a eles. Além disso, procuro discutir se o Processo Avaliativo é considerado contínuo, cumulativo e global, da forma como prega a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A seguir busco conceituar o Projeto Integrador, considerado no Instituto Federal Farroupilha como a tentativa de uma aprendizagem mais dinâmica por parte dos estudantes. Paralelo a isso exponho o Projeto Integrador desenvolvido com a turma do Curso Técnico Integrado em Química (2011) e seus desdobramentos. Procuro apresentar ainda como se dá a construção do Projeto Integrador do Curso Integrado em Química do IF Farroupilha – Campus Panambi, RS – e, a partir dele, verificar se o mesmo auxilia ou não na tarefa de melhorar o ensino e a aprendizagem e ver quais os efeitos dessa metodologia na avaliação desenvolvida pelos docentes. Por conseguinte, analisar o Processo Avaliativo realizado pelos professores e se ele pode se constituir em agregador na tarefa de avaliar os estudantes. Na sequência, no próximo capítulo desta dissertação procuro compreender o significado do Projeto Integrador no Processo Avaliativo da turma em que os sujeitos participantes do estudo lecionavam, no sentido de constatar a possibilidade de ser uma estratégia que melhore o entendimento do Processo Avaliativo por parte dos professores. Isso foi possível graças à observação das ideias dos participantes sobre os pontos levantados e minhas percepções sobre o tema. O ponto torna-se de extrema importância, pois emite um parecer da forma como está ocorrendo o Processo Avaliativo dos estudantes. Neste contexto procuro discutir sobre a proposta de uma avaliação coerente com os documentos de 13 balizamento e que englobem tanto a parte técnica, indispensável para a formação de um trabalhador eficiente e, ao mesmo tempo, para que o estudante seja capaz de opinar e tomar decisões sobre a sociedade em que vive. Por fim, nas considerações finais procuro dar um encaminhamento ao tema, traçando um paralelo da ideia proposta no estudo com aquilo que realmente acontece. Tento mostrar, também, as posições e contradições dos docentes envolvidos no estudo. Levanto as possíveis questões ligadas à realidade dos docentes inseridos no Instituto Federal Farroupilha – Campus Panambi, RS e, por fim, trato do Projeto Integrador como alternativa para um Processo Avaliativo pelo qual os estudantes precisam ser observados constantemente e não somente em momentos pré-estabelecidos, caracterizados como provas e testes. 1.1 CAMINHOS PERCORRIDOS Para que desde o início do estudo pudesse utilizar falas (depoimentos) dos sujeitos envolvidos, foi preciso antecipar no texto a forma como se deu o desenvolvimento da questão metodológica do estudo. Essa foi uma escolha pessoal que possibilitou a interligação entre os autores, meus posicionamentos e o dos participantes do estudo. Desde início de minha trajetória como estudante do Mestrado já havia uma inquietação que me movia, originada na graduação e ampliada nos primeiros anos da docência, a qual se intensificou de sobremaneira. Falo do Processo Avaliativo, tão discutido nas instituições de ensino e que se tornou o foco central deste estudo. Este tema não pode ser dissociado da sala de aula, da experiência dos professores e do contexto onde se desenvolve. Por esse motivo a escolha da metodologia aplicada no estudo buscou a interação entre os sujeitos da pesquisa, tentando não apenas a “coleta” de dados estanques, mas também a produção de informações e uma reflexão acerca dos mesmos, promovendo uma inquietação nos sujeitos e, consequentemente, uma melhora nesse ponto. Não consigo conceber pesquisa apenas como coleta de dados sobre um determinado grupo de professores ou de estudantes sem que lhes seja dado um retorno pessoal ou profissional, ou seja, sem contribuir para a elevação do seu nível de compreensão sobre aquele determinado assunto. Por esses motivos escolhemos (orientadora e eu) o Grupo Focal como caminho metodológico por entender que a prática pode levar a mudanças no comportamento dos participantes, uma vez que os sujeitos da pesquisa trocam informações, discutem e podem reorganizar seus pensamentos a respeito do tema desenvolvido. Gondim (2002, p. 4) 14 corrobora com essa afirmativa, afirmando que o Grupo Focal promove autorreflexão e até transformação social dos sujeitos. Ao mesmo tempo foi feito um estudo e uma análise bibliográfica e documental neste trabalho de pesquisa, pois precisava dar uma visão geral de como se deu a formação da Instituição que está sendo estudada. As informações bibliográficas e documentais acabam por contextualizar o tema abordado, fazendo a articulação com as origens dos Institutos Federais e a educação que por eles é proporcionada e, consequentemente, o Processo Avaliativo desenvolvido pelas mesmas. Para isso foram utilizados como subsídios os documentos das Políticas Públicas do país (LDB, Leis de Criação dos Institutos, Plano de Desenvolvimento Institucional). A escolha deste modo de pesquisar esteve intimamente ligada à orientadora, pois desde os primeiros contatos referentes à pesquisa foi se delineando a forma de pesquisar, uma vez que se entendia ser significativa sua contribuição. Com o decorrer do trabalho, porém, foram aparecendo dúvidas e inquietações a respeito da forma como o Grupo Focal seria implementado. Partimos, então, para a leitura sobre o tema e as possíveis formas de realizá-lo, compartilhando conhecimentos com os autores que defendem essa técnica de “coleta de dados”. A técnica do Grupo Focal é relativamente nova se for considerada a questão da educação, por isso enfrentei muitas dificuldades no caminho que percorri até chegar ao fim da atividade. Posso afirmar que se fosse refazer o trabalho hoje talvez não a utilizaria, pois entendo que precisaria de muito mais embasamento teórico sobre o tema para que o resultado fosse o esperado. Esta é uma afirmação que pode auxiliar novos estudantes a não se atirarem nessa viagem sem a devida compreensão de como ocorre todo o processo de construção da atividade. Morgan (apud GONDIM, 2002, p. 3) define grupos focais como uma técnica de pesquisa que “coleta” dados por meio das interações grupais, discutindo-se um tópico especial sugerido pelo pesquisador que, no caso, é o Processo Avaliativo. Como técnica, ocupa uma posição intermediária entre a observação participante e as entrevistas em profundidade. Já Veiga e Gondim (2001, p. 10) afirmam que pode ser caracterizada também como um recurso para compreender o processo de construção das percepções, atitudes e representações sociais de grupos humanos. No entendimento de Westphal, Bógus e Faria (apud DALL’AGNOL; TRENCH, 1999, p. 6), o Grupo Focal é uma técnica de pesquisa que utiliza sessões grupais como um dos foros facilitadores da expressão de características psicossociológicas e culturais. Ele diz respeito a 15 uma sessão grupal em que os sujeitos do estudo discutem vários aspectos de um tópico específico. O método é baseado em sessões grupais, porém, a diferença é a postura do entrevistador, não sendo um mero “perguntador”, mas sim um moderador que atua como facilitador no processo de discussão. O fato exige uma preparação muito grande do pesquisador, pois necessita estar embasado para organizar e dar prosseguimento à sessão, sem que ocorram desvios de curso durante a atividade. Para Dall’Agnol e Trench (1999, p. 5), o papel do moderador (coordenador) é significativo e relevante para o bom funcionamento dos grupos e implica preparo e instrumentalização em todas as fases do processo. Isso se torna realmente necessário, pois fica evidente que os sujeitos da pesquisa esperam que o moderador saiba tudo sobre o tema proposto e que seja capaz de dar todas as respostas. A seguir revelo a forma como ocorreu a construção do grupo, seus percalços, suas peculiaridades e até os possíveis erros que podem ter sido cometidos durante o desenvolvimento das atividades. 1.2 PROCEDIMENTOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO GRUPO Com base nas leituras acerca da metodologia do Grupo Focal dei início aos procedimentos para a sua implementação. A questão inicial foi como seriam organizadas as atividades. Entre esse pontos estavam a questão da gravação das sessões por meio de gravador de voz, sua posterior transcrição e edição do texto para que pudesse retirar pontos e questionamentos sobre o assunto e, por fim, a análise dos “dados”, parte essa mais complicada, pois exige muita concentração para não fugir da real resposta dada pelo pesquisado e não mudar o sentido inicial da frase ou afirmação. Para Godin (2002, p. 6), é necessário distinguir entre o importante e o interessante, tendo em vista que muitas coisas são colocadas dentro de uma sessão grupal, momento em que o moderador precisa estar atento ao que está ocorrendo, assim como no momento da transcrição, para que não ocorram desvios de contexto e entendimento. Tenho uma relação bastante íntima com o local do estudo. Meu pai foi professor desta instituição, eu estudei ali e depois voltei como professor substituto. Hoje sou docente efetivo, fato que me leva a ajudar de alguma forma na melhoria da sua qualidade de ensino. Com este estudo gostaria de auxiliar nessa tarefa bastante complicada, que é fornecer um parecer sobre 16 algo ou alguém, ou seja, avaliar sabendo das peculiaridades e diferenças que todos temos, o que torna essa tarefa muito complicada. Em seguida pensei muito a respeito de quem poderiam ser os sujeitos da pesquisa, e procurei elencar alguns critérios para que conseguisse delimitar tanto o número de pessoas como escolher os docentes que fariam parte do estudo. Encontrei alguns empecilhos como, por exemplo, a disponibilidade de tempo das pessoas, as quais estavam envolvidas com atribuições pessoais e relacionadas ao seu próprio trabalho, como reuniões, viagens de estudo e coordenações de cursos. Além desses impedimentos dos participantes ainda havia as minhas próprias atribuições como professor e as do mestrado, o que levou a muitos desencontros de datas e horários. Apesar de todos esses impedimentos conseguimos nos organizar e começar as atividades na metade de abril de 2011. Acabei por estabelecer o número de quatro pessoas, pois é preciso lembrar que o Grupo Focal não comporta muitos participantes, o que restringiu a participação de mais pessoas, conforme argumentam Dall’Agnol e Trench (1999, p. 13). O grupo participante da pesquisa foi constituído dentro do Instituto Federal Farroupilha – Campus Panambi, RS – e composto por docentes que atuam no Curso Técnico Integrado em Química da mesma instituição, esse recém-criado e iniciando suas atividades letivas. Esses docentes possuem muitas dúvidas e expectativas quanto à forma de desenvolver as atividades escolares. Inicialmente foi feito um convite informal aos quatro professores escolhidos por mim, e, mesmo informalmente, foi proposital a escolha dos quatro professores de áreas diferentes, o que permitiu um panorama mais amplo sobre o tema. Posterior ao aceite dos sujeitos fiz um convite por escrito aos mesmos para que as atividades ficassem formalizadas. A inserção ou não no grupo ocorreu mediante adesão espontânea, porém, é importante lembrar que todos os que foram convidados aceitaram o convite de forma bastante tranquila, pois gostariam de discutir sobre o assunto, sendo este um tema presente nas preocupações e no fazer cotidiano dos professores. Devido à característica plural de formação do grupo de docentes que atuam no Curso Técnico Integrado em Química do campus Panambi, RS, busquei a diversidade nas áreas do conhecimento dos participantes da pesquisa, ou seja, diferentes formações num grupo bem heterogêneo quanto as suas experiências anteriores, o que possibilitou detectar determinadas diferenças referentes ao Processo Avaliativo desenvolvido pelos sujeitos. Por esse motivo selecionei determinados sujeitos de forma intencional, o que é perfeitamente aceitável, segundo Westphal, Bógus e Faria (apud DALL’AGNOL; TRENCH, 1999, p. 7), os quais 17 afirmam ser possível essa prática, pois entendem que a seleção de sujeitos pode-se dar conforme o objetivo do estudo. Os professores que fizeram parte deste estudo apresentam uma grande diferença tanto nas áreas do conhecimento como na formação profissional, em suas histórias de vida, e no percurso acadêmico e profissional. Creio ser importante situar o leitor a respeito deles, o que possibilita a compreensão de algumas considerações que surgirão no decorrer do texto. Para tanto optei pela utilização das palavras Sujeito 1, Sujeito 2 e assim sucessivamente para identificá-los. Caracterizo a seguir cada sujeito participante da pesquisa: Sujeito 1: possui 29 anos; é graduada em Química Licenciatura pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) no ano de 2004; mestre em Química Inorgânica pela mesma universidade no ano de 2006; e doutora em Química Inorgânica também pela mesma universidade no ano de 2011; atualmente é professora do Instituto Farroupilha desde 2010, atuando desde a Educação de Jovens e Adultos até a graduação; sua experiência docente anterior foi num cursinho pré-vestibular durante um curto período de tempo. Sujeito 2: possui 25 anos; é graduado em Tecnologia Ambiental pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná no ano de 2006; especialista em Gestão Ambiental e de Recursos Hídricos pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná no ano 2008; e mestre em Engenharia Agrícola com Ênfase em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pela mesma universidade no ano de 2010; atualmente é professor do Instituto Federal Farroupilha desde 2010, atuando em cursos técnicos e no ensino médio; sua experiência docente anterior foi a nível de graduação e pós-graduação durante curto espaço de tempo. Sujeito 3: possui 28 anos; é graduada em Matemática Licenciatura Plena pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) no ano de 2006; especialista em Estatística e Modelagem Quantitativa pela mesma universidade no ano de 2008; e mestre em Modelagem Matemática pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí) no ano de 2009; atualmente é professora do Instituto Federal Farroupilha desde 2010, atuando na Educação de Jovens e Adultos e na graduação; sua experiência docente anterior foi no ensino médio em escolas públicas, com certo tempo de exercício. Sujeito 4: possui 55 anos; é graduada em Estudos Sociais pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí) no ano de 1982; graduada em Geografia pela Unijuí em 1986; especialista em Geografia pela Unijuí em 1990; mestre 18 em Educação nas Ciências pela mesma universidade em 2007; atualmente é professora do Instituto Federal Farroupilha desde 2010, atuando na Educação de Jovens e Adultos e no ensino médio; sua experiência docente anterior é vasta passando desde educação de jovens e adultos até a graduação. Em síntese, o quadro 1, a seguir, apresenta as características dos docentes selecionados para participar do Grupo Focal. Sujeitos Sujeito 1 Idade 29 anos Formação profissional Licenciatura em Química; mestre em Química Inorgânica e doutora em Química Inorgânica Sujeito 2 25 anos Tecnologia Ambiental; especialista em gestão ambiental e recursos hídricos e mestre em Engenharia Agrícola com Ênfase em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental Sujeito 3 28 anos Licenciatura em Matemática; especialista em estatística e modelagem quantitativa e mestre em modelagem matemática Sujeito 4 55 anos Estudos Sociais e Geografia; mestre em Educação nas Ciências Quadro 1. Caracterização dos docentes participantes do Grupo Focal. Fonte: elaborado com base nas atividades do Grupo Focal (maio/2011). Experiência docente Pré-vestibular Graduação e PósGraduação Ensino Médio Educação de Jovens e Adultos até a Graduação O grupo de pesquisa, portanto, contou com quatro professores, os quais foram citados anteriormente. Os encontros tiveram duração média de 1 hora a 1 hora e 30 minutos, sendo que o ideal é não ultrapassar esse limite devido à fadiga e dispersão que podem ocorrer em períodos prolongados (GONDIM, 2002, p. 2). Os encontros foram agendados mensalmente devido às inúmeras atividades dos participantes e totalizaram três eventos, os quais foram gravados e posteriormente transcritos. Foram realizados dois encontros no ano de 2011, porém, ao final de todas as verificações e análise dos “dados”, as dúvidas e expectativas da pesquisa não se encontraram completamente sanadas. Diante disso na qualificação ocorrida em março de 2012 os participantes da banca sugeriram que fosse realizado mais um encontro para que esses questionamentos fossem abarcados. Esse terceiro encontro ocorreu no final do mês de março de 2012 e contou com a participação de três docentes, uma vez que um deles já não fazia mais parte do grupo de docentes da instituição. Debus (apud DALL’AGNOL; TRENCH, 1999, p. 3) afirma que o número de participantes depende do objetivo do grupo, por exemplo, se a proposição é gerar várias ideias 19 o grupo maior é o ideal. Como o foco do estudo, porém, era o Processo Avaliativo, buscamos formar um grupo menor a fim de que esse objetivo fosse alcançado. Mesmo assim houve pontos em que foi muito complicado manter o foco da pesquisa, pois ele estava intimamente ligado a outras questões educacionais, levando à abertura de diferentes discussões. O primeiro encontro ocorreu no início do mês de maio de 2011, em uma sala reservada, com a presença dos quatro sujeitos integrantes da pesquisa. Para iniciar foi feito um agradecimento à presença deles, pois já sabia das inúmeras atividades que tinham e mesmo assim aceitaram contribuir com o processo. Após, levantei o primeiro ponto de discussão, que era a citação individual falada dos sujeitos participantes de pontos positivos e negativos dos participantes sobre o Processo Avaliativo pelo qual haviam passado como discentes e/ou docentes. Esse ponto gerou muitos desdobramentos, sendo de grande valia para a pesquisa, pois se verificou uma gama enorme de “dados” durante a transcrição da sessão. Nesse primeiro encontro os professores mostraram certa tranquilidade em relatar suas experiências com o Processo Avaliativo, sendo lhes solicitado que relatassem uma positiva e outra negativa. Como experiência positiva evidenciaram as atividades que tinham um foco prático, voltadas a assuntos relacionados com sua vida, sua construção como professores “moldados” em virtudes encontradas em seus respectivos educadores. Como negativos deixaram clara a questão das atividades em que precisavam “decorar” algo, sem relação com seu cotidiano, fato que segundo eles não agregou na sua formação. Para uma melhor visualização foi montado um quadro com os pontos positivos e negativos encontrados. Experiências positivas Fazer o raciocínio inverso, ou seja, ao invés da pergunta colocar a resposta na prova Experiências negativas Decorar poesias para ganhar nota Relacionar as atividades das provas com o dia a dia Fazer ditado, decorar a tabuada, decorar questionários para fazer a prova Mostrar os caminhos que deveríamos percorrer Decorar elementos químicos Mostrar os caminhos para desenvolver as atividades Estudar somente para avaliação Quadro 2. Experiências positivas e negativas encontradas pelos sujeitos do Grupo Focal. Fonte: elaborado com base nas atividades do Grupo Focal (maio/2011). O tempo em que não houve sessões foi destinado a ouvir, transcrever de forma literal e organizar um texto e quadros para que a partir desse pudesse fazer a ligação com a próxima atividade, ou seja, a segunda sessão. Isso me possibilitou levantar os pontos que seriam fundamentais para dar continuidade à discussão e caracterizar os problemas levantados na 20 primeira sessão do Grupo Focal. Dentre esses pontos estavam a qualidade educacional, os processos de avaliação desenvolvidos, a formação inicial e continuada dos sujeitos, entre outros. Na segunda sessão, realizada no mês de junho de 2011, contou-se igualmente com a presença de todos os sujeitos. Procurei fazer uma ligação com a primeira sessão de onde retirei os pontos que mais me interessavam para a pesquisa, que eram o Processo Avaliativo e suas consequências. A partir disso fiz a introdução da atividade que foi ler juntamente com os participantes e posteriormente ouvir a música Estudo Errado, do músico Gabriel, o “Pensador”, que fala da questão educacional. A partir desse ponto foi só começar a observar as falas dos sujeitos, pois a participação foi efetiva, sendo necessária minha intervenção em alguns momentos para que o assunto não abrisse de uma maneira que não fosse possível trazêlo para o foco principal, que é o Processo Avaliativo. Como já citei anteriormente, porém, esse ponto está ligado a muitos outros, o que torna difícil a tarefa de impedir a abertura do foco. Todas as contribuições foram utilizadas, mas revelam a necessidade de trabalhar os outros pontos para tratar com precisão do Processo Avaliativo, entre os quais estão a formação inicial, o currículo, os estudantes e a sociedade em que vivemos. O segundo encontro teve como característica a abertura do foco da pesquisa (Processo Avaliativo) e isso não se deu devido ao simples despreparo do “moderador”, mas em função do grande número de variáveis que surgem quando se começa a falar sobre o tema. A prática demonstrou que é inerente se falar dos problemas que os professores enfrentam, iniciando pela sua formação inicial até a realização de uma avaliação com seus alunos. O fato me alertou para a dificuldade que enfrentaria na continuidade do Grupo Focal. Após o término da segunda sessão novamente foi feita a audição, transcrição literal e organização de um texto e quadros que buscassem elucidar o que os sujeitos da pesquisa buscavam afirmar. Mais uma vez a tarefa se mostrou árdua, pois era extremamente complicado extrair a essência das falas sem provocar uma mudança no contexto da frase ou do parágrafo. Diante das questões não elucidadas a respeito dos temas anteriormente indicados foi realizado o terceiro encontro. Este encontro ocorreu somente em março de 2012, no qual busquei fazer uma retomada dos assuntos tratados até então, pois havíamos ficado muito tempo sem nos encontrar. Após a transcrição do terceiro encontro percebi que não consegui agregar fatos relevantes ao trabalho. Apesar de querer focar em como os professores avaliavam seus alunos o assunto acabou se desviando e dificultando sua compreensão. Um dos fatos que imagino ter 21 atrapalhado foi o tempo muito longo entre as atividades, o que levou a um distanciamento dos assuntos discutidos, revelando certo “desconhecimento” e “esquecimento” dos temas tratados até então. Esse terceiro encontro serviu para corroborar algumas opiniões que já vinha expressando no texto, agora com mais embasamento, o que permitiu maior transparência, pois as afirmações dos sujeitos me proporcionaram a compreensão dos eventos anteriormente apresentados e que não haviam ficado claros. Quanto ao ambiente para a realização da atividade, Dall’Agnol e Trench (1999, p. 8) afirmam que este deve assegurar a privacidade, ser confortável, neutro, facilitando o debate e o acesso dos participantes. Outro ponto levado em consideração pelos autores é que a organização da sala deve promover a interface entre os sujeitos, sem hierarquizar os participantes, facilitando o contato ocular entre os mesmos. Seguindo as indicações dos autores foram utilizados espaços com total privacidade e que propiciaram a abertura de um canal onde foram feitos relatos altamente significativos para o estudo. Como forma de autorização dos participantes para divulgação dos resultados foi disponibilizado um Termo de Consentimento (Anexo 3) aos mesmos, em que o docentes ficaram cientes das responsabilidades e direitos ao participarem da pesquisa. Para Meyer (2002, p. 14), esse modo de investigação privilegia a interlocução com um grupo de sujeitos, teoriza em resposta as condições sociais, históricas e materiais particulares que emergem do contexto em que a pesquisa e pesquisador estão inseridos. Desse modo, fica evidente a contribuição que gera em todo o grupo participante, levando a reflexões que são vistas dentro do contexto escolar desses participantes. Por fim, utilizei minha experiência para acrescentar informações úteis à pesquisa, ou seja, para contribuir com a questão empírica junto àquela rede de ensino, pois fui aluno do sistema, posteriormente professor substituto e agora docente efetivo da instituição, o que me dá subsídios para que em alguns momentos realize reflexões sobre o que aconteceu na pesquisa e também sobre as falas dos sujeitos do estudo. Esta característica foi de fundamental importância para algumas conclusões a que cheguei, pois as questões ficaram mais esclarecidas, facilitando o processo de construção dos conceitos abordados na pesquisa. Nesta introdução busquei apresentar um panorama geral, ou seja, esclarecer de que lugar falo, qual a maneira que falo e com quem estou falando. No capítulo que segue pretendo aprofundar as discussões ora iniciadas com o intuito de apresentar algumas alternativas para as questões que continuo a questionar. 22 2 UM PANORAMA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL Neste capítulo procuro contextualizar histórica e socialmente a educação e, mais especificamente, a educação profissional no Brasil, a fim de entender o desenvolvimento da Rede Profissional e Tecnológica de Educação do Brasil e, consequentemente, o Processo Avaliativo utilizado atualmente. Para isso precisei analisar a Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394/96), suas leis auxiliares e o contexto em que o mundo e o nosso país se encontram. Para fazer essa caracterização me cerquei de alguns autores, como Gadotti (1984), Sacristán (2000), Saviani (2003), Demo (2005), Silva (2009), Hoffmann (2010), entre outros, por entender que estes compreendem a educação de uma forma mais coerente e da qual me aproximo com a minha maneira de ver a atividade docente e a educação no seu âmbito geral. Além disso, utilizo também a minha experiência dentro da rede como subsídio de estudo. Abordo, também, a criação dos Institutos Federais, suas modalidades de ensino e sua proposta curricular. Posteriormente apresento o Campus de Panambi, o Currículo Integrado e o Processo Avaliativo que se pretende desenvolver com base nos regulamentos da instituição. 2.1 A CONSTITUIÇÃO DA REDE FEDERAL A Rede Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, em grande parte é originária das 19 escolas de aprendizes e artífices instituídas pelo Decreto n° 7.566, assinado por Nilo Peçanha, no ano de 1909, e que tinha como objetivo oferecer aos filhos dos desafortunados um bom preparo técnico, de modo a adquirir preparo para o trabalho produtivo, afastando-os da “marginalidade e dos vícios”. A criação desses centros, portanto, era destinada, em sua maioria, à população que estava à margem da sociedade. Enquanto isso, à camada da população mais privilegiada economicamente era destinada uma formação mais qualificada, ou seja, as universidades e seus cursos de graduação que estavam instalados, na sua grande maioria, na Europa, sendo a “primeira universidade no Brasil criada somente em 1908, na Bahia” (FÁVERO, 2006, p. 20). Desde a sua criação, portanto, o intuito desses centros foi oferecer uma educação de “segunda mão” à população que não tinha condições de escolarização de nível superior, fato que se arrastou durante anos, sendo delegada a essa parcela da população uma educação de baixa qualidade e que tinha o objetivo de preparar mão de obra para o trabalho mais braçal. Somente há pouco tempo essa tipo de educação saiu da “margem” educacional e assumiu um 23 papel de protagonista na educação do país. Muitos estudos e dados mostram isso, e de acordo com a manifestação de Schwengber (2012), relatada no parecer da qualificação realizada em 14 de março de 2012, tem-se que: constata-se que, apesar de apresentar apenas de 7,5% a 12% de matrículas no ensino técnico, houve um acréscimo significativo nos últimos anos, quando as mesmas quase duplicaram. Mesmo assim, se fizermos uma comparação com os países desenvolvidos percebe-se que o Brasil está bem abaixo dos 30% apresentados naqueles países. Silva (2009, p. 7) explica que essas escolas passaram em 1930 para a supervisão do recém-criado Ministério da Educação e da Saúde Pública e, passados sete anos, elas foram transformadas em liceus industriais. Um ano após o ensino profissional ser considerado de nível médio, em 1942, os liceus passaram a se chamar Escolas Industriais e Técnicas. Em 1959, de Escolas Técnicas Federais passaram a ser configuradas como autarquias, ou seja, com autonomia. Simultaneamente foi nascendo a rede de escolas agrícolas, as Escolas Agrotécnicas Federais, com base no modelo das escolas-fazenda. Em 1978, as escolas federais do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná se tornaram Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET), equiparando-se à educação superior e aos centros universitários. Em 1998 o Governo Federal proibiu a construção de novas escolas técnicas federais, sendo que antes disso institui o Decreto nº 2.208/97, que tinha como objetivo direcionar as instituições para a oferta predominantemente de cursos superiores e remeter a oferta de cursos de nível técnico à responsabilidade de Estados e da iniciativa privada, além de desvincular a educação profissional do ensino médio, como é apresentado no art. 5° do mesmo decreto: “A educação profissional de nível técnico terá organização curricular própria e independente do ensino médio, podendo ser oferecida de forma concomitante ou sequencial a este”. Isso se deve, em meu ponto de vista, à política educacional vinculada a esse governo, onde o objetivo primordial era fornecer mão de obra qualificada, porém, sem as devidas constatações que o Ensino Médio Integrado traz aos estudantes, que são as compreensões do mundo e as possíveis alternativas de solução dos problemas enfrentados. Buscava-se também a desoneração financeira, pois essa forma de constituição acadêmica integrada acabava por elevar muito o “valor” final de cada estudante, pois necessitava de um amplo quadro de docentes, principalmente nas áreas propedêuticas. Com base nesse decreto as instituições puderam desvincular os cursos técnicos do Ensino Médio, passando a promover cursos subsequentes que, no meu entender, vieram 24 somente a “qualificar” de forma rápida uma parcela da população, sem a devida compreensão de ser humano e sujeito que se busca na sociedade atual. Segundo Silva (2009, p. 7), esse decreto vinha ao encontro da política neoliberal adotada pelo mesmo governo, que buscava a profissionalização rápida da população, entendendo como suficiente um mero repetidor de técnicas específicas, o que acredito não satisfazer a demanda que a sociedade impõe ao mundo de hoje. Esse modelo econômico permitia uma intervenção mínima do Estado em setores essenciais, como a economia, onde se busca a formação educacional de uma mão de obra barata e que não constitui resistência à implementação dessa forma de pensar, sendo reprodutora de uma educação voltada à manutenção da organização social existente, não propiciando a “libertação” do sujeito através da educação formal. O Decreto nº 2.208/97 acabou por acentuar a segmentação da sociedade, pois grande parte do apoio pedagógico das escolas passou a ser direcionado aos cursos de Ensino Médio com o objetivo de preparar candidatos para o Ensino Superior. No ano de 2002 iniciou-se a reorganização das políticas federais para a Educação Profissional e Tecnológica. Ocorreu, então, uma mudança na concepção econômica e social do país mediante a distribuição de renda mais equilibrada entre a sociedade, abrindo a possibilidade de a camada da população de baixa renda ascender às camadas mais elevadas economicamente. Isso possibilitou que o nível educacional aumentasse e, consequentemente, deixasse marcas significativas no país, havendo a elevação dos índices de escolaridade e, proporcionalmente, o aumento das oportunidades. No ano de 2004, por meio do Decreto nº 5.154/04, ocorreu uma mudança de perspectiva, da visão tecnicista1, adotada anteriormente pelo Decreto 2.208/97, para uma visão humanista2, calcada em primeiro plano na formação geral do ser humano. Preciso lembrar que desde então se passaram apenas dez anos, mas já se pode constatar o movimento que se pretendia, apesar de os resultados ainda serem pequenos. Atualmente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96), graças ao Decreto nº 5.154/04, aponta algumas alternativas para a Educação Profissional Técnica de nível médio no país. Uma é a formação articulada ao Ensino Médio e a outra é subsequente ele, sendo que a formação articulada deve se desenvolver de duas formas distintas. A primeira 1 Visão tecnicista: falo aqui em princípios de racionalidade, eficiência e produtividade, com o intuito de tornar o processo educativo mais técnico, mecânico e estático, não sendo capaz de apresentar novas visões de sociedade e trabalho aos estudantes. 2 Visão humanista: refiro-me aqui a uma educação mais crítica e propositiva e que seja capaz de modificar a sociedade através da educação, tornando seus estudantes criadores do seu próprio conhecimento. 25 é integrada ao Ensino Médio, que será fornecida a quem já tiver concluído o Ensino Fundamental, sendo que o curso deve ser planejado para conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio na mesma instituição de ensino, devendo ser efetuada uma matrícula única. A segunda é de forma concomitante e deve ser oferecida a quem ingressa no Ensino Médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrículas distintas para cada curso. Há uma forte tendência para o reestabelecimento do Ensino Médio Integrado como forma prioritária de ensino na Rede Federal de Educação Tecnológica, numa perspectiva politécnica que, para Saviani (1989, p. 132), implica a união entre escola e trabalho, ou mais precisamente entre a instrução intelectual e o trabalho produtivo, fundamentais para que os objetivos de inclusão social através da educação sejam alcançados. Particularmente refiro-me à inclusão social no sentido de proporcionar a populações excluídas social e economicamente, oportunidades e condições de serem incorporadas à parcela da sociedade que pode usufruir de bens materiais, educacionais, culturais, etc. Em um sentido mais amplo, a inclusão social envolve também o estabelecimento de condições para que todos os habitantes do país possam viver com adequada qualidade de vida e como cidadãos plenos, dotados de conhecimentos, meios e mecanismos de participação política que os capacitem a agir de forma fundamentada e consciente. No meu modo de ver o objetivo principal da educação profissional não é simplesmente formar um profissional para o mercado de trabalho, mas sim um cidadão para o mundo do trabalho. O sujeito deixa de ser um simples técnico, treinado apenas para fazer determinadas tarefas, e passa a pensar e ter autonomia nas suas ações. Significa quebrar um paradigma, modificar as estruturas de ensino na tentativa da compreensão global do conhecimento. Bernstein (1996, p. 54) afirma que o Ensino Médio Integrado coloca as disciplinas e cursos que antes eram isolados numa perspectiva relacional, combatendo assim uma visão hierárquica do conhecimento. As instituições de ensino técnico profissionalizante podem estar afinadas com o mercado de trabalho, pois como expressou Schwengber (2012) “isso não é um pecado”, porém jamais se deve desconsiderar a qualificação da relação social e humana associada à técnica. Para jovens que precisam da formação profissional para trabalhar ou manter seu emprego, esse currículo busca o acesso a conhecimentos da cultura geral e a possibilidade de se perceber na história e ser capaz de mudar o seu destino, localizando-se no mundo escolar e do trabalho. Para Pacheco (2009, p. 1), a transição do século 20 para o 21 coincidiu com uma mudança paradigmática de grandes proporções. A fragilização dos modelos explicativos, a 26 queda do socialismo e a revolução dos costumes no mundo criaram uma crise identitária em todos os níveis, inclusive na educação. Esta foi atingida em cheio pela crise e pelas políticas neoliberais, perdendo muitas de suas referências. Referências que dizem respeito à inclusão social por meio da educação para todas as camadas da sociedade, vinculadas a um projeto democrático, comprometido com a emancipação dos setores explorados. Em outras palavras, uma educação que, além de assimilar, supera os princípios e conceitos da escola neoliberal e incorpora aqueles gestados por uma sociedade organizada. Como professor, recuso-me a simplesmente formar consumidores no lugar de cidadãos, a submeter a educação à lógica exclusiva do capital, colocando o currículo como instrumento de simples treinamento da habilidade e técnicas a serviço da reprodução capitalista. Sendo assim, procuro privilegiar o global e o contexto educacional ao invés das partes do aprendizado, mediante a organização de atividades que privilegiem as mais diversas formas de assimilação dos conteúdos desenvolvidos. Trago, como exemplo, as minhas aulas onde tenho como um dos objetivos para o aluno o conhecimento do seu próprio corpo, seus limites e alternativas para desenvolver determinados movimentos. Não exijo, porém, que todos me apresentem uma gama de movimentos pré-estabelecidos, pois na observação diária nota-se o desenvolvimento de cada um, alguns de forma mais rápida, outros de forma mais lenta, mas todos apresentando progressos e é nesse ponto que baseio minhas observações para avaliá-los. Pacheco (2009, p. 1) afirma ainda que o ciclo neoliberal foi definido por um conteúdo ideológico que tem suas bases no individualismo e na competitividade, que são marcas da sociedade contemporânea. A educação seguiu os mesmos preceitos, sendo que ela foi e ainda é pressionada pela sociedade que busca os valores estabelecidos em sua época. Durante muito tempo a escola se propôs a disseminar esse modo de educação com um currículo extremamente tradicional, “baseado numa concepção conservadora da cultura e do conhecimento, uma visão que, por sua vez, se baseia numa perspectiva conservadora da função social e cultural da escola e da educação” (SILVA, 2006, p. 12), ou seja, voltado para a preparação de mão de obra com baixa capacidade de reflexão (reprodutores) e capaz de realizar quase que somente tarefas mecânicas e fechadas. O IF Farroupilha busca romper com esse modelo de currículo tradicional e avançar na direção de um currículo mais moderno, em que o aluno seja mais autônomo e consciente de suas responsabilidades perante a sociedade, o que está explícito no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e será tratado no decorrer do estudo. 27 2.2 A CRIAÇÃO DOS INSTITUTOS FEDERAIS A criação dos Institutos Federais é uma das principais políticas para a educação brasileira nos últimos tempos e tem como pressupostos a visão da emancipação humana, pois “visa desenvolver nos indivíduos a capacidade de gerar conhecimentos a partir da interação com a realidade, ou seja, objetiva o desenvolvimento de uma educação profissional cidadã.” (IFF, 2009, p. 61). Essa visão vem ao encontro à necessidade de institucionalização definitiva da educação profissional e tecnológica como política pública em nosso país. Silva (2009, p. 2) afirma que apesar das mudanças significativas que foram implantadas na educação desde 2002, faltava a unificação das políticas para a educação profissional, pois as diretrizes das escolas técnicas variavam em função da região do país ou dos gestores que as comandavam. Precisava-se de uma alternativa que unificasse toda a rede profissional da educação federal. Buscando essa unificação, no final do ano de 2008, com criação da Lei 11.892/08, formaram-se os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, que têm como um dos objetivos basilares derrubar as barreiras entre o ensino técnico e o científico, fazendo com que trabalho, ciência e cultura se articulem e busquem a emancipação humana. A orientação pedagógica dos Institutos deve fugir do conhecimento enciclopédico puro, buscando uma formação mais abrangente e flexível, com menos ênfase na formação para ofícios e mais incentivo à compreensão do mundo do trabalho em que estão inseridos estes ofícios e especializações. [...] A integração entre o conhecimento básico, da cultura geral, e a formação voltada para o mundo do trabalho tem o propósito de romper com os aspectos alienantes e por muitas vezes excludentes, dos modelos educacionais que separam estas duas esferas do conhecimento humano [...]. (IFF, 2009, p. 72). Busca-se, com eles, uma formação mais ampla, capaz de reinventar o mundo do trabalho, de buscar novas soluções caso o mercado estiver fechado em determinada área, enfim, ser criativo e capaz de sobreviver nesse mundo tão plural em que vivemos. Dentro de suas diretrizes os Institutos Federais reafirmam que a formação humana e cidadã precede a qualificação para o labor e tem como pauta assegurar aos profissionais formados a capacidade de manter-se em desenvolvimento, onde ensino, pesquisa e extensão estão baseados na integração entre ciência, tecnologia e cultura como dimensões indissociáveis da vida humana. Para Silva (2009, p. 8), 28 [...] O foco dos Institutos Federais é a promoção da justiça social, da equidade, do desenvolvimento sustentável com vista à inclusão social, bem como a busca de soluções técnicas e geração de novas tecnologias. Estas instituições devem responder, de forma ágil e eficaz, às demandas crescentes por formação profissional, por difusão de conhecimentos científicos e de suporte aos arranjos produtivos locais [...]. Os Institutos Federais estão aptos para atuar em todos os níveis e modalidades da educação profissional e têm como compromisso primordial o desenvolvimento integral do cidadão trabalhador, procurando trabalhar com experiências inovadoras, com uma visão sistêmica da educação, abrindo assim uma nova perspectiva, principalmente para o Ensino Médio Integrado. Essa perspectiva será abordada no decorrer deste estudo para que possamos compreender como se desenvolve a questão do Ensino Médio Integrado dentro dos Institutos Federais. Passa-se agora a apresentar o Instituto Federal Farroupilha, sua origem, constituição e Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), o que proporciona o embasamento necessário para discutir o problema de pesquisa, pois se mostra necessário compreender de onde falo para posteriormente poder fazer as ligações do que acontece com o que se pretende com a educação nos Institutos. 2.3 O INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA O Instituto Federal Farroupilha (IF Farroupilha) foi criado mediante a integração do Centro Federal de Educação Tecnológica, de São Vicente do Sul, e da Escola Agrotécnica Federal, de Alegrete, com suas respectivas Unidades Descentralizadas de Ensino, e acrescidas da Unidade de Santo Augusto, que anteriormente pertencia ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Bento Gonçalves. Além dessas autarquias passaram a compor o IF Farroupilha os novos campus de Santa Rosa, de São Borja e de Panambi, este último constituindo-se no local onde foi desenvolvida esta pesquisa. O IF Farroupilha procura traçar suas metas, valores e objetivos por meio de um instrumento denominado Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), que foi constituído de forma coletiva e que abrange a visão de mundo que se pretende com a educação. Seu propósito é compreender a intenção do IF Farroupilha em relação à educação nacional. Quando se fala em construção coletiva esse instrumento é referenciado exclusivamente aos servidores e comunidade acadêmica do CEFET SVS e da Escola Agrotécnica Federal de Alegrete, pois na época as outras unidades ainda estavam em fase de implementação, não 29 participando das discussões e da construção desse documento. Hoje o fato é evidente, pois as demandas daquelas instituições não são as mesmas que enfrentamos nas unidades que foram criadas durante os anos de 2009 e 2010, o que leva à urgente revisão do documento. O PDI do IF Farroupilha (IFF, 2009, p. 1) tem entre seus fundamentos básicos a pretensão de contribuir para a formação de cidadãos comprometidos com a realidade social, autônomos e empreendedores, ou seja, constituir-se num espaço capaz de respeitar as diferenças, sem desconsiderar os conhecimentos, valores e culturas prévias dos atores envolvidos no processo educacional, proporcionando uma formação humanística integral, na qual os conhecimentos partem da prática social e que a ela retornam a fim de transformá-la. 2.4 A PROPOSTA CURRICULAR NO IF FARROUPILHA Novamente citando o PDI (IFF, 2009, p. 58), o ensino proporcionado pelo IF Farroupilha é oferecido por meio de cursos e programas que abrangem desde a formação inicial e continuada, passando pela educação profissional técnica e tecnológica, que compreendem cursos de nível médio e de educação superior de graduação e de pósgraduação, desenvolvidos em harmonia com a pesquisa e a extensão. Para o presente estudo utilizamos como base o ensino profissional de nível médio integrado. A fim de caracterizar o Currículo desenvolvido no IF Farroupilha é preciso fazer uma breve organização das formas de currículo existentes na sociedade. Para Silva (2006, p. 12), pensar uma nova forma de ver o currículo, entendê-lo e rever a teorização curricular exige relembrar as formas pelas quais ele tem sido organizado. Por isso faço a retomada das visões de currículo desenvolvidas no passado até as perspectivas mais atuais. Segundo Silva (2006, p. 12), as percepções de currículo podem ser organizadas da seguinte maneira: a Tradicional-humanista, baseada numa perspectiva conservadora da cultura e do conhecimento, com um olhar conservador da função social e cultural da escola e da educação; a Tecnicista, que em muitos aspectos é parecida com a tradicional, mas que destaca as dimensões instrumentais, utilitárias e econômicas da educação; a Crítica, de orientação neomarxista, fundamentada na análise da escola e da educação como instituições voltadas à reprodução das estruturas de classe da sociedade capitalista, em que o currículo se espelha e reproduz essa estrutura; e a Pós-estruturalista, que retoma e reformula algumas das análises da tradição crítica neomarxista, ressaltando o currículo como prática cultural e de significação. 30 A concepção de currículo do Instituto Federal Farroupilha está calcada na perspectiva Pós-estruturalista citada no paragrafo anterior, pois é baseada na ideia de condição formativa dos sujeitos, concebido para além da dimensão simplista de programas e conteúdos. Exige, ademais, clareza das concepções de homem, sociedade e educação, o que vem ao encontro aos documentos estudados, colocando-o de forma bastante linear à proposta discutida por Silva (2006). A proposta curricular do IF Farroupilha é entendida como um movimento dinâmico e de responsabilidade coletiva, sendo que essa legitimidade é exposta no momento da construção participativa. Isso significa que é necessária a participação de todos no processo, tanto da comunidade escolar, que compreende pais, alunos, servidores (técnicos e docentes), como da sociedade em geral, a fim de que as expectativas da maioria da sociedade possam ser alcançadas. A compreensão da palavra “currículo” remete a caminho a ser percorrido e, segundo Sacristán (2000, p. 13), deve ser pensada a partir de elementos humanos/cognitivos, culturais/científicos, políticos e sociais. Não se concebe, portanto, a construção de um currículo sem a participação de todos os entes que estão envolvidos no processo e sem a integração dos pilares centrais da humanidade, que são a cultura de seus povos, sua política e a questão humana tão diversa nas mais variadas regiões do país, dos Estados e até mesmo dentro de uma mesma cidade. Goodson (2008, p. 16) reafirma isso, falando que as mudanças nas configurações de currículo apresentam um valioso material que mostra as intenções e propósitos políticos e sociais. Está claro, portanto, que o currículo apresenta intenções explícitas de determinada parcela da sociedade ou grupo social sob outros menos organizados ou menores. Partindo do que expressam Sacristán e Gomez (2003, p. 18), pode-se compreender o currículo como a teoria de nossa prática educativa, planejada para superar a visão de conhecimento condicionado e saberes compartimentados, a dicotomia entre ciência e tecnologia, a discrepância entre educação e trabalho. Já para Goodson (2008, p. 34), a palavra “currículo” vem da palavra latina Scurrere, que significa correr, e refere-se a curso (ou carro de corrida), o que leva etimologicamente a uma definição de currículo como um curso a ser seguido ou, mais especificamente, apresentado. Essas caracterizações de currículo se fazem necessárias para que seja possível compreender as funções e os objetivos que precisam ser alcançados por meio dele. Segundo o PDI do IF Farroupilha (IFF, 2009, p. 67), o currículo não se mantém obscuro, pois retrata a missão, a visão e os valores da instituição e atende a quatro 31 questionamentos centrais: O que fazemos? Como fazemos? Por que fazemos? E para quem fazemos? Nas cidades em que o IF Farroupilha se instalou há uma grande diversidade, em que campus com mais de 50 anos de vida convivem com campus jovens, com apenas alguns meses de criação. Apesar da diferenciação constatada em todos os sentidos o IF Farroupilha procura, por meio do PDI, a unificação das ações para adquirir uma identidade específica na formação de seus estudantes. Esse fato, porém, é de extrema complexidade, pois sua enorme gama de sujeitos torna essa tarefa complicada, remetendo mais uma vez a uma revisão do documento que leva em conta as características de cada segmento a fim de obter um material mais abrangente. A fim de compreender como se dá a organização curricular, procuro trabalhar alguns aspectos que orientam a forma como o currículo vem sendo desenvolvido no IF Farroupilha, com base nos documentos oficiais e em autores que abordam a temática. Para isso, passo a utilizar as definições de Davini (2009) sobre as formas como o currículo pode ser desenvolvido. Para Davini (2009, p. 282), o currículo pode ser entendido de três formas: formal, por assuntos ou interdisciplinar e integrado. No presente estudo nos deteremos no Currículo Integrado, pois é a concepção do Instituto Federal Farroupilha e que permeia todo o nosso enfoque. [...] lidar com o conhecimento de forma integrada e verticalizada exige uma outra postura que supere o modelo hegemônico disciplinar; significa pensar um profissional da educação capaz de desenvolver um trabalho reflexivo e criativo, e promover transposições didáticas contextualizadas que permitam a construção da autonomia dos educandos [...]. (IFF, 2009, p. 122). O Currículo Integrado proposto pelo PDI e aplicado pelo IF Farroupilha será abordado de forma mais pontual e explicativa no próximo subitem, cuja perspectiva será a base para discussões acerca do Processo Avaliativo. Cumpre salientar que essa é a forma utilizada pelo Instituto, não se constituindo numa prescrição a todas as escolas. 2.5 CAMPUS PANAMBI/RS, O CURRÍCULO INTEGRADO E O PROCESSO AVALIATIVO Todo começo é algo complicado. Se uma simples empresa familiar tem seus problemas, o que dizer de uma instituição de ensino que já nasce grande, com cerca de 50 servidores, responsável pela formação de uma parcela significativa da população de Panambi 32 (RS) e da região. O campus do IF Farroupilha de Panambi foi criado para ser uma extensão do antigo CEFET de São Vicente do Sul, mas com a criação dos Institutos Federais tornou-se um campus independente e, em 2008, passou a ser denominado Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – Campus Panambi, RS. Com uma equipe completamente nova em que a maioria não se conhecia, vindos dos mais diferentes lugares e com opiniões diversas sobre o sentido e objetivos da educação, a instituição foi se constituindo, e seus problemas sendo resolvidos com muito trabalho, tomando-se conhecimento do papel de cada um nesse contexto. Muitas inovações surgiram para a maioria dos envolvidos e, entre elas, estava a proposta de Currículo Integrado desenvolvido pelos Institutos Federais, que é a organização do currículo de forma integral, sem a sua compartimentalização, visando à formação integral do sujeito. Corroboro com o PDI (IFF, 2009, p. 71) que compreende o Currículo Integrado como o processo de ensino e aprendizagem em que os conceitos são apreendidos num sistema de relações de totalidade. O Currículo Integrado acaba remetendo a educação ao espaço das contradições presentes em uma sociedade de classes sociais distintas e com interesses históricos divergentes. O debate em torno da educação profissional integrada tem origem na orientação legal, que acaba dando origem a esse tipo de instituição, e na necessidade de se definir um perfil de currículo que supere a dicotomia entre o ensino profissionalizante e o propedêutico. A construção do Currículo Integrado pelo Instituto objetiva articular dinamicamente trabalho/ensino, prática/teoria, ensino/pesquisa, ensino/extensão e comunidade, fortalecendo as relações entre trabalho e ensino e entre os problemas e suas hipóteses de solução, tendo como pano de fundo as características socioculturais do meio em que este processo se desenvolve. Para Ramos (2005, p. 24), o Currículo Integrado é um projeto que busca um processo de ensino e aprendizagem que englobe tanto a educação básica como o ensino profissionalizante. Para que haja o desenvolvimento integral é necessária a articulação entre os conhecimentos do ensino básico e técnico e destes com a pesquisa e a extensão. A integração deve ser constante entre os eixos dos conhecimentos específicos e gerais, considerando os eixos do trabalho, da ciência e da cultura. Ao tratar da articulação entre os conhecimentos aprendidos em sala de aula com a pesquisa e a extensão refiro-me basicamente aos programas desenvolvidos na instituição e 33 também fora deles, como por exemplo, os programas de incentivo à pesquisa de estudantes do Ensino Médio, onde o cunho prático e profissional ficam evidentes, e nos projetos de extensão, onde os conceitos aprendidos em sala de aula são postos em prática por meio de mostras, feiras e eventos dentro e fora da instituição. Essas articulações são fundamentais para que o Currículo Integrado seja posto em prática de forma completa, pois essa aproximação possibilita aos estudantes verificar novas formas de aprender e se desenvolver. O Currículo Integrado pode ser entendido como a união em todos os sentidos, tanto pedagógica, humana e social. Busca-se por meio dele a compreensão global do conhecimento a ser construído durante os anos escolares. A denominação “Currículo Integrado” tem sido utilizada como tentativa de contemplar uma compreensão global do conhecimento e de promover maiores parcelas de interdisciplinaridade na sua construção. A integração ressaltaria a unidade que deve existir entre as diferentes disciplinas e formas de conhecimento nas instituições escolares. Santomé (1998, p. 56) o define meramente como: “um programa total da instituição”. Para Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005, p. 35), o Currículo Integrado estrutura-se em uma base curricular unitária em que estão inseridos o trabalho, a cultura, a ciência e a tecnologia, e o princípio educativo está mediado entre a ciência, a produção e a pesquisa. Essa é, entretanto, uma realidade que necessita de tempo para ser integralmente absorvida por seus atores. Falo aqui tanto de docentes como de discentes e comunidade escolar, pois a mudança em que a reprodução de conteúdos é suficiente para um trabalho mais reflexivo, e em que é necessária a construção dos mesmos por meio de uma prática reflexiva, demanda tempo e é observada na fala de um dos sujeitos constituintes do grupo de pesquisa antes referido: Eu achava que era uma coisa que não ia dar certo (currículo integrado), eu ficava pensando, a gente vai ter que alterar tudo o que a gente aprendeu, nós aprendemos de outra maneira, com disciplinas todas divididas, cada professor fazendo sua avaliação e é difícil agora, prá gente que saiu há pouco da universidade querer transformar tudo, eu achava muito difícil mas depois fui vendo que as coisas vão se encaixando [...]. (Sujeito 1). Como foi dito anteriormente, os estudantes também necessitam desse tempo, pois a mesma construção que tivemos como docentes, eles tiveram como discentes, uma vez que até então eram estudantes passivos, somente capazes de decorar, sem compreender o processo pelo qual o conhecimento passou até chegar ali. 34 [...] Eu fico muito assim angustiada, tem alunos do Técnico em Química que não demonstram nenhum interesse pelas disciplinas, praticamente não faz nada, já falei para vir em outro momento, mas eles não querem nada com nada [...]. (Sujeito 3). Por isso é necessária uma dose enorme de paciência e incentivo por parte dos professores para que essa mudança possa ocorrer. É evidente que os alunos ainda esperam pelo simples preenchimento de cadernos e não pela construção coletiva do conhecimento, cujo fato se elucida na fala de um dos sujeitos participantes da pesquisa, pois mostra que quando são instigados a raciocinarem e fazerem ligações com o conteúdo desenvolvido acabam não conseguindo realizar a atividade de maneira satisfatória: Eu fiz uma prova quinta-feira passada, eu dei as mesmas questões que eles tinham no caderno, e a primeira prova não, eu fiz ela contextualizada, eles tinham que olhar nos mapas, na primeira 11 ficaram acima da média, na segunda 28 ficaram na média [...]. (Sujeito 4). De acordo com o PDI (IFF, 2009, p. 79), dentro dessa integração proposta pelo Currículo Integrado está o Processo Avaliativo, que deve servir para o acompanhamento constante e sistemático do trabalho pedagógico. A avaliação da aprendizagem deve servir como um indicador e como referência para ações de retomada do Processo Avaliativo, seja no desempenho dos estudantes, seja na comunicação entre docentes e discentes. Os princípios pedagógicos assumidos nessa concepção de currículo deixam claro que o Processo Avaliativo deve ser um processo contínuo, sistemático e coerente. Ainda segundo o PDI (IFF, 2009, p. 79), o Processo Avaliativo deve ser trabalhado numa perspectiva formativa, o que inclui a análise do processo de ensino e aprendizagem e se materializa nos contextos vividos tanto pelos docentes como pelos discentes. Deve possuir a função primordial de acompanhamento das aprendizagens e a participação efetiva de todos os envolvidos no processo. Também, precisa ser visto como um mecanismo de diagnóstico contínuo, capaz de conduzir, após análise de resultados obtidos, novas intervenções capazes de complementar os objetivos educacionais propostos anteriormente. A palavra “avaliação”, segundo o Aurélio (2010), possui vários significados, entre eles o ato de avaliar, determinar o valor de alguma coisa, compreender, apreciar e, por fim, conhecer algo. Essas definições não podem ser reportadas ao Processo Avaliativo escolar de forma completa, é claro que ele também consiste no ato de avaliar, dar um parecer sobre determinada coisa, porém, não se deve simplesmente determinar valor a um aluno, precisamos sim saber de que forma será feita essa avaliação e qual seu objetivo. Também é necessário 35 conhecer o estágio em que o aluno se encontra em termos de conhecimento de um determinado assunto. Isso, porém, não deve ser o fim, mas o início de um processo que culmina na aprendizagem satisfatória dos estudantes. Para Fonseca (2009, p. 30) a avaliação faz parte do currículo escolar, somos avaliados permanentemente, nas ruas, em casa, por amigos e por nós mesmos. Na escola não é diferente, mas é importante refletir: avaliamos com que intenção? Essa pergunta é fundamental em qualquer lugar, com certeza não dispomos de tempo ou espaço para avaliar só por avaliar, temos em mente um objetivo que deve ser claro para que possamos atingir os objetivos desejados. Valho-me novamente do auxílio das palavras proferidas pela professora Schwengber (2012), ao afirmar que “a avaliação é um fenômeno cada vez mais presente na vida contemporânea, que avaliações são necessárias para construir nossa própria história de vida nas diferentes relações que estabelecemos”. Cita ainda que é “um processo contínuo, que começa quando acordamos e nos auxilia no encaminhamento de muitas decisões”. Afirma que está “estreitamente ligada a escolhas e opções que orientam nosso fazer, sendo, portanto, uma prática social”. Fonseca (2009, p. 32) afirma que o desenvolvimento da maneira de pensar e de construir o conhecimento é mais importante do que a memorização de conteúdos, então a função mais importante da escola é propiciar ao aluno atividades que desenvolvam sua capacidade de raciocínio e argumentação, sua sensibilidade para a compreensão das múltiplas facetas da realidade. A escola, portanto, poderia ser, antes de tudo, um espaço para o exercício da liberdade de expressão, com procedimentos que levam a uma prática avaliativa transformadora. Penso que a prática escolar da avaliação deveria ter uma função similar à da prática social e pessoal, ou seja, ser um instrumento de reflexão para decidir e encaminhar problemas que se expressam em feedback (predominantemente qualitativos, ainda que também quantitativos). Procuro pensar da seguinte forma: quando cometemos um erro em nossa vida pessoal, esse erro não serve somente para nos avisar que erramos, ele acaba por modificar nossas estruturas para que não cometamos o mesmo deslise. Creio que essa concepção é necessária – a da reflexão pelo erro apresentado e não a cobrança acentuada pelo erro cometido. A experiência brasileira de avaliação em Educação, de um modo geral, é extremamente frágil devido a um conjunto de fatores. Em primeiro lugar, pela falta de clareza 36 do quê ensinar. A maioria dos docentes possui dificuldade para elencar o que ensinam na disciplina, e acabam “engasgando” cada vez que são questionados sobre o assunto, o que acaba revelando uma visão genérica e confusa de sua disciplina. A avaliação, tal como vem sendo concebida e vivenciada na maioria das instituições escolares brasileiras, tem se constituído no principal mecanismo de sustentação da lógica de organização do trabalho escolar e, portanto, legitimador do fracasso, ocupando o papel central nas relações que estabelecem entre si os profissionais da educação, alunos e pais. A avaliação precisa ser parte integrante do processo de ensino e aprendizagem e requer conhecimento técnico para que se desenvolva de forma eficiente a fim de não se manter como limitador dos avanços e retrocessos dos estudantes. Entendo que a educação precisa oferecer uma avaliação sistemática e processual (formativa), ou seja, apresentar um processo contínuo de descrição e análise como resultado de um trabalho diário, de cunho preferencialmente qualitativo, a fim de indicar tanto as condições de ensino quanto de aprendizagem, sendo por isso destinada a alunos e professores. Diferentes estratégias avaliativas são necessárias para que as aprendizagens sejam otimizadas, indicando acertos e retomadas das práticas pedagógicas, assegurando a todos o direito de aprender. Os métodos de avaliação têm ocupado um espaço relevante no conjunto das práticas pedagógicas aplicadas ao processo de ensino e aprendizagem. Avaliar não se resume à mecânica do conceito formal e estatístico, não é simplesmente atribuir notas, obrigatórias à decisão de avanço ou retenção em determinadas disciplinas. Para compreendermos a forma de avaliação desenvolvida precisamos ter em mente as três funções que ela desenvolve: a diagnóstica, a formativa e a somativa. A fim de facilitar a compreensão dessas funções, a partir do trabalho realizado na disciplina de Docência Orientada, esta obrigatória no curso e que foi desenvolvida no próprio local do estudo, durante as aulas da disciplina de Didática e Organização do Trabalho Educativo ministradas pela professora Ana Rita da Fontoura, procurei desenvolver um quadro onde busco caracterizá-las, o qual apresento a seguir. 37 Avaliação Diagnóstica Proporciona informações acerca das capacidades do aluno antes de iniciar um processo de ensino e aprendizagem. Busca a determinação da presença ou ausência de habilidades e prérequisitos, bem como a identificação das causas de repetidas dificuldades na aprendizagem. Pretende averiguar a posição do aluno face a novas aprendizagens que lhe vão ser propostas e as aprendizagens anteriores que servem de base àquelas, no sentido de identificar as dificuldades futuras e, em certos casos, de resolver situações presentes. Objetiva determinar a forma pela qual o educador deverá encaminhar, através do planejamento, sua ação educativa. Estabelece os marcos para tornar o processo de aprendizagem eficaz. Pode ser considerado o ponto de partida para todo trabalho a ser desenvolvido pelo educador. Avaliação Formativa Permite constatar se os alunos estão, de fato, atingindo os objetivos pretendidos, verificando a compatibilidade entre tais objetivos e os resultados efetivamente alcançados durante o desenvolvimento das atividades propostas. Meio através do qual o estudante passa a conhecer seus erros e acertos, assim, maior estímulo para um estudo sistemático dos conteúdos. Avaliação Somativa Determina o grau de domínio do aluno em uma área de aprendizagem, o que permite outorgar uma qualificação. Permite que o professor detecte e identifique deficiências na forma de ensinar, possibilitando reformulações no seu trabalho didático, visando aperfeiçoá-lo. Tem o propósito de classificar os alunos ao final de um período de aprendizagem, de acordo com os níveis de aproveitamento. Visa informar o professor e o aluno sobre o rendimento da aprendizagem no decorrer das atividades escolares e a localização das deficiências na organização do ensino para possibilitar correção e recuperação. Pretende ajuizar o progresso realizado pelo aluno no final de uma unidade de aprendizagem, no sentido de aferir resultados já colhidos por avaliações do tipo formativa e obter indicadores que permitem aperfeiçoar o processo de ensino. A palavra somativa implica em "somar", o que dá a ideia de partes que se somam para formar um todo. O termo "somativo", do modo como é compreendido, tem a ver ainda com a tradição dos exames, ou seja, implica na necessidade de uma classificação final. Pretende determinar a posição do aluno ao longo de uma unidade de ensino, no sentido de identificar dificuldades e de lhes dar solução. A ênfase é dada no processo e não no produto final (aprovação). Pode ser utilizada como um sinal de credibilidade da aprendizagem realizada. Ocorre antes e durante o processo Torna-se inclusiva, pois visa à ensino aprendizagem e tem permanência, à qualidade e à diferentes finalidades. conclusão dos estudos. Quadro 3: Funções da avaliação. Fonte: elaboração própria (2012). Observação: este quadro foi elaborado com base nas aulas do Estágio de Docência, sendo utilizados slides da professora dessa disciplina, Ana Rita Kraemer da Fontoura, baseadas em Luckesi (2005), e discussões realizadas em sala de aula. Percebe-se que a função da Avaliação Somativa predomina hoje nas instituições escolares, e apesar dela corresponder apenas a uma pequena parcela do Processo Avaliativo como um todo. Ademais, tem se dado a ela uma importância extrema, o que tornou o Processo Avaliativo uma simples necessidade da educação tradicional voltada apenas à classificação final dos estudantes. 38 Já a Avaliação Diagnóstica concede parâmetros aos professores por meio dos quais eles podem seguir ou modificar seu planejamento, dependendo do que for apresentado pelos estudantes, constituindo-se numa ferramenta de extrema importância. Não pode ser vista, porém, como um fim, mas sim como o início de um processo. Com base no que foi verificado sobre a aprendizagem dos estudantes pode-se reorganizar a estrutura das aulas e até a questão do planejamento das atividades. Já a Avaliação Formativa ajuda o aluno a aprender e a se desenvolver, ou melhor, participa da regulação das aprendizagens e do desenvolvimento no sentido de um projeto educativo maior, dando ênfase ao processo e não ao produto final. Diria até que é a junção da avaliação inicial, voltada para conhecer melhor o aluno; da avaliação contínua, tentando acompanhar o ensino e a aprendizagem durante o processo; e da avaliação final, buscando julgar globalmente o resultado de um processo didático. A avaliação da aprendizagem possibilita a tomada de decisão e a melhoria da qualidade de ensino, informando as ações em desenvolvimento e a necessidade de regulações constantes. Ela deve ser dirigida tanto para alunos como para professores e instituição escolar. O progresso de grupos e de cada um dos seus membros é o que a avaliação tenta recolher e que é necessária a professores e alunos. A avaliação descreve os conhecimentos, atitudes e aptidões que os alunos adquiriram, ou seja, os objetivos do ensino que já atingiram num determinado ponto do percurso e as dificuldades que estão a revelar relativamente a outros. A informação oriunda da avaliação é necessária ao professor para procurar meios e estratégias que possam ajudar os alunos a resolver suas dificuldades e é necessária aos alunos para se aperceberem delas (não podem os alunos identificar claramente as suas próprias dificuldades num campo que desconhecem) e tentarem ultrapassá-las com a ajuda do professor e com o próprio esforço. Por isso, a avaliação tem uma intenção formativa. Gadotti (1990, p. 43) afirma que a avaliação é essencial à educação, inerente e indissociável enquanto concebida como problematização, questionamento e reflexão sobre a ação. Ela se faz necessária para que possamos refletir, questionar e transformar nossas ações. A forma como se avalia, segundo Luckesi (2002, p. 67), é crucial para a concretização do projeto educacional. É ela que sinaliza aos alunos o que o professor e a escola valorizam. A avaliação é a parte mais importante de todo o processo de ensino e aprendizagem, por isso, Bevenutti (2002, p. 67) afirma que avaliar é mediar o processo de ensino e aprendizagem, é oferecer recuperação imediata, é promover cada ser humano, é vibrar junto a cada aluno em seus lentos ou rápidos progressos. 39 Acredito que o grande desafio para construir novos caminhos, segundo Ramos (2005, p. 88), seja uma avaliação com critérios de entendimento reflexivo, conectado, compartilhado e “autonomizador” no processo ensino e aprendizagem. Desta forma, poderemos estar contribuindo para a formação de cidadãos conscientes, críticos, criativos, solidários e autônomos. Perrenoud (1993, p. 44) afirma que mudar a avaliação significa provavelmente mudar a escola. Automaticamente, mudar a prática da avaliação nos leva a alterar práticas habituais, criando inseguranças e angústias e este é um obstáculo que não pode ser negado, pois envolve toda a comunidade escolar. Fato com o qual concordo, pois é evidente que essa mudança gera uma insegurança muito grande, desacomoda aquele que há muito tempo imagina ser um bom professor, portanto, é uma tarefa árdua e que levará muito tempo para ser posta em prática por completo. Importante ressaltar que o Processo Avaliativo é inerente e imprescindível ao processo educativo e que leva a um trabalho reflexivo: “Educar é fazer ato de sujeito, é problematizar o mundo em que vivemos para superar as contradições, comprometendo-se com esse mundo para criá-lo constantemente.” (GADOTTI, 1984, p. 90). Dentro do contexto educativo é preciso que as práticas sejam coerentes e que estejam comprometidas com a promoção da transformação social e a formação de cidadãos conscientes. Para isso, o Processo Avaliativo não pode ser um ato mecânico, com o simples intuito de classificar ou dar um conceito, mas deve ser uma ação baseada na reflexão constante dos atores envolvidos e que ajude a construir os saberes técnicos e sociopolíticoculturais. O Processo Avaliativo escolar não deve apenas classificar ou selecionar alguém, ele precisa contribuir para o desenvolvimento das capacidades dos educandos, convertendo-se em uma ação pedagógica facilitadora da aprendizagem e da melhoria da qualidade do ensino. Também, precisa contribuir na formação do aluno e não meramente servir como classificador ou medidor de aprendizagens. Vasconcelos (2005, p. 47) afirma que ao se pensar a avaliação como um processo precisamos nos lembrar do caráter transformador que assume. Para tanto, precisa-se do envolvimento de todos – pais, alunos, professores e gestores. Nessa linha se ultrapassa a mera constatação de resultados quantificáveis e parte-se para fins de classificação. 40 O IF Farroupilha – Campus Panambi (RS) busca, em seus documentos, o rompimento com a maneira convencional do chamado sistema de “educação tradicional”, em que a maior preocupação é a obtenção de resultados para fins classificatórios e hierarquizadores ao invés da verdadeira intenção do Processo Avaliativo. Este não requer simplesmente ter uma nota no final do semestre para selecionar ou classificar os estudantes como bons ou maus, os quais dependem unicamente da nota alcançada porque o sistema assim o exige. A avaliação pode ser vista como uma prática transformadora, capaz de dar as diretrizes para se atingir com mais facilidade os objetivos desejados, realizando a retomada de conceitos não compreendidos pelos estudantes em determinados momentos durante o ano letivo. Isso não significa, porém, que não se deve fazer uso de provas e testes, por exemplo, eles podem sim ser usados para a obtenção de diagnósticos eficientes sobre o conteúdo que deve ser retomado. Quanto a isso um dos sujeitos expressa: Tu sabe que eu acho essa questão de prova bem relativo, tem alunos ali que eu vi que aprenderam, compreenderam como que funcionava o processo, como que fazia para ver a hora, mas na bateria de exercícios não mudou, não acrescentou [...]. (Sujeito 4). Numa posterior “avaliação” o mesmo sujeito avaliou seus estudantes sem o estigma da prova, com todos sentados procurando responder às questões, e obteve um resultado satisfatório, como se pode constatar a seguir: [...] mas depois disso eu peguei um mapa, coloquei no quadro e disse: fulano vai lá e me diz se no Brasil é tal hora, em Mombai vai ser que horas? Foi lá e fez direitinho e por que lá nos exercícios ele não conseguiu fazer? Eu acho que isso é uma coisa bem questionável [...]. (Sujeito 4). Devemos ter um enorme cuidado, portanto, ao rotularmos algo como “avaliação”. Precisamos ser sábios para entender que provas e testes não são sinônimos de Processo Avaliativo, mas um instrumento para a avaliação de conhecimento (função diagnóstica). Não precisam, portanto, ser tratados como ocorre hoje na maioria das instituições de ensino, onde são considerados balizadores do conhecimento adquirido pelo estudante, acabando por se restringir ao acúmulo de conteúdos. Educadores reunidos no Seminário de Avaliação e Políticas Públicas Educacionais, ocorrido entre 16 e 18 de agosto de 2011, na Universidade Estadual de Campinas, trazem essa mesma preocupação em uma publicação chamada Carta de Campinas, onde afirmam que faz parte do senso comum entender a avaliação como sinônimo de medida ou prova, tendo como 41 função a classificação (Função Somativa). Na maioria das escolas ainda não se construiu a ideia de avaliação como elemento que integra os processos de ensino e aprendizagem. Testes ou provas, no meu entendimento, não precisam se constituir como avaliação de fato, apenas como seus instrumentos. Talvez essa distinção tão importante não tenha ficado clara para todos os setores da população interessados na questão educacional. A avaliação enquanto processo tem como objetivo conhecer melhor o educando, suas competências, estilo de aprendizagem e interesses. Para tanto, é preciso adequar o processo de ensino aos estudantes, tendo em vista os objetivos propostos. Deve haver um acompanhamento constante por parte do professor a fim de propiciar ao estudante reflexões acerca do mundo, formando pessoas críticas, libertários e participativos na construção social. Procurando fazer uma ligação com tudo o que foi dito até aqui é possível afirmar que o Processo Avaliativo está intimamente ligado ao Currículo praticado pela instituição de ensino. Por esse motivo foi necessário fazer essa abordagem, pois proporcionou embasamento para discutir o tema, que é da prática cotidiana de todos os professores. O IF Farroupilha busca por meio do Projeto Integrador que está inserido nas diretrizes do PDI (2009) e dos Projetos Políticos de Cursos, e que nada mais é que a organização de atividades desenvolvidas mediante projetos, buscar a aproximação das disciplinas, o que será abordado com mais ênfase no decorrer deste estudo. Para isso, o Projeto Integrador se constitui numa alternativa para a construção de um ensino mais contextualizado e que leve a um consequente Processo Avaliativo na mesma lógica. O que procuramos saber neste estudo é se ele pode auxiliar ou não nessa tarefa e, em caso positivo, como fazer para modificar a estrutura do Processo Avaliativo tradicional ainda aplicado pela maioria dos professores, baseado meramente na aplicação de provas e testes, sem que se observe o crescimento e o desenvolvimento do estudante. É a essa alternativa que me apego, pois imagino que o Projeto Integrador possa ser um catalizador dessa proposta de ensino, uma vez que busca ampliar os horizontes dos estudantes, fazê-los pensar e refletir sobre o que acontece no mundo e, a partir desses conceitos, avançar de forma sustentável à série seguinte. Procurarei responder a esta pergunta no decorrer do estudo, buscando junto ao grupo que me deu suporte as contribuições que me permitem compreender empiricamente aquilo que os autores argumentam e o que eu almejo. 42 3 PROCESSO AVALIATIVO, PROJETO INTEGRADOR E SUAS POSSÍVEIS ALTERNATIVAS Neste capítulo procuro fincar esteios e refletir a respeito das atuais demandas da educação. Começo por questionar se nos é útil a mera reprodução e o instrucionismo nas salas de aula para a educação contemporânea? Ou se devemos ter outra concepção sobre o que é educar nos dias atuais? Demo (2005, p. 2) afirma que a maior decepção que paira sobre os sistemas educacionais é que mesmo tendo oferta de aprendizagem e de conhecimento os estudantes não sabem aprender e nem conhecer, e acabam por vegetar no mais absurdo instrucionismo. Neste capítulo faço uma retomada do que se constituem hoje o ensino, a aprendizagem e o Processo Avaliativo, tendo como referência a autonomia do ser humano, um cidadão crítico e, acima de tudo, comprometido com a sociedade em que vive. Procuro dialogar com autores como Zabala (1998), López-Pastor (2005) e Hoffmann (2010), que escrevem sobre o Processo Avaliativo e, conjuntamente, buscar uma relação com as falas dos docentes envolvidos no estudo. Demo (2005, p. 108) nos abre os horizontes afirmando que: “A educação tem importância capital na formação de um povo que sabe pensar, para poder conduzir com autonomia possível seu destino. Não se faz nada só com educação, mas sem ela se faz menos ainda”. Concordo com Demo (2005), acreditando que não podemos atribuir à educação toda a responsabilidade por mudanças nas condições de vida da população mas, com certeza, sem ela a situação tenderia a ficar ainda pior do que se apresenta. De um modo geral, predomina a educação completamente instrucionista, voltada a um ensino e aprendizagem que utiliza a repetição, sem a preocupação com reflexões sobre o que estávamos fazendo. Esse tipo de ensino não é mais aceitável, não somos máquinas de reprodução, somos seres pensantes, com capacidade de discernimento. Freire (1996, p. 4) afirma que educar é influenciar o estudante de tal modo que ele não mais se deixe influenciar. A reprodução pura, portanto, deve ser evitada a fim de eliminar a formação de um sujeito alienado da sociedade em que vive, deixando de ser uma pessoa influenciável por demandas que não sejam as suas próprias. A partir destas referências me coloco a refletir a educação praticada hoje pela Rede Federal de Educação Tecnológica e, consequentemente, o Processo Avaliativo instituído pela mesma. Antes de iniciar a discussão sobre o Processo Avaliativo propriamente dito, creio ser necessário compreender o que ensinamos aos estudantes para depois “cobrar” deles por meio 43 da avaliação. Aproprio-me do pensamento de Zabala (1998, p. 39) para compreender o que vem ocorrendo hoje na maioria das escolas onde predomina a instrução, inclusive no local do estudo. Entendo o aprendizado dos conteúdos da mesma forma como o autor, que os divide quanto à tipologia, ou seja, conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Zabala (1998, p. 41) divide os conteúdos conceituais em factuais, de conceitos e de princípios. Os conhecimentos factuais são o conhecimento de fatos, acontecimentos, situações, dados e fenômenos concretos e singulares, sendo que o ensino está repleto desses conteúdos, a exemplo das datas e nomes dos acontecimentos em História, nomes e autores de correntes da Literatura, códigos e símbolos das áreas da Língua, Matemática, Física e Química. O autor afirma que esses vêm se constituindo nos conteúdos-objeto de grande parte das aulas e das provas e testes. Na maioria das vezes com esses conteúdos a reprodução se dá de forma literal e, para tanto, não é a compreensão a significação do respectivo conteúdo. Esse tipo de conhecimento se dá basicamente na forma de atividades de cópia mais ou menos literais, a fim de se integrar nas estruturas do conhecimento da memória. Estes são, na maioria das vezes, os conteúdos cobrados no Processo Avaliativo, o que acaba levando à “decoreba”, decorrente de uma relação linear de apresentação e fixação para posteriormente ser verificada. Continuando, Zabala (1998, p. 42) afirma que os conteúdos de conceitos e de princípios são termos abstratos. Os de conceitos se referem a um conjunto de fatos, objetos ou símbolos que têm características comuns, enquanto que os conteúdos de princípios se referem a mudanças que se reproduzem num fato, objeto ou situação em relação a outros fatos, objetos ou situações e que normalmente descrevem relações de causa-efeito ou de correlação. Podem ser usados como exemplos de conceitos os mamíferos, Iluminismo, sujeito e nepotismo, e os princípios podem ser as leis ou as regras, como a de Arquimedes, ou de uma corrente literária. Nesses conteúdos é necessária a compreensão, não sendo possível afirmar seu aprendizado sem compreender o significado. As normas ou regras vão muito além da reprodução (decoreba), e quase nunca podem ser consideradas acabadas, pois existe a possibilidade de aprofundá-las e de torná-las mais significativas. Ainda para Zabala (1998, p. 43), os conteúdos procedimentais são um conjunto de ações organizadas e com um fim, quer dizer, orientadas para a realização de um objetivo. Podem ser considerados conteúdos procedimentais o ato de ler, calcular, classificar, saltar, que são ações ou conjuntos de ações. Por fim, os conteúdos atitudinais, segundo Zabala (1998), englobam uma série de conteúdos que podemos agrupar em valores, atitudes e normas, sendo que cada um desses necessita de uma aprendizagem diferente. 44 Tendo feito essa diferenciação dos conteúdos percebe-se que algumas formas de provas e testes possuem uma visão classificatória e excludente, privilegiando muito mais os conteúdos conceituais, preferencialmente os factuais, levando à decoreba dos fatos, sem se preocupar com os outros conteúdos, os quais se constituem de suma importância na formação integral de um sujeito. O Processo Avaliativo atual está fortemente ligado a essa alternativa tradicional que busca a reprodução sem a reflexão necessária na formação humana, responsável quase que exclusivamente pelos conteúdos conceituais. Vários autores abordam o Processo Avaliativo, entre eles Zabala (1998), Vasconcelos (2005) e Hoffmann (2010), alguns com considerações a respeito de como se deve fazer a avaliação, outros procurando maneiras mais eficientes para “avaliar” o estudante, e outros ainda buscando simplesmente a definição do termo “avaliar”. Alguns estudos, entretanto, buscam meramente dizer “não deve ser assim”, não apresentando alternativas. Penso que poderíamos ter alternativas plausíveis que vão ao encontro aos projetos de curso, muito lindos no papel por sinal, mas que não se desenvolvem de maneira satisfatória na maioria das instituições de ensino, gerando altos índices de evasão e reprovação devido, talvez, ao método de ensino e, consequentemente, a um Processo Avaliativo que leva somente a decorar fatos e datas, sem a sua devida compreensão. Hoffmann (2010, p. 15) sugere em seus estudos uma contradição entre o discurso apresentado e a prática de alguns educadores e, principalmente, a ação classificatória e autoritária exercida pela maioria deles. Este fato pode ser verificado em alguns casos no presente estudo, pois em algumas das falas dos sujeitos percebe-se uma aversão a esse ensino, em que se observa o fim ao invés do caminho, a resposta estanque ao invés do contexto. No momento, porém, em que são questionados sobre a constituição do processo avaliativo afirmam que, na maioria das vezes, utilizam atividades que privilegiam o resultado final, sem basear-se na evolução do estudante. Esse fato pode ser evidenciado por não conseguirem estruturar estratégias de avaliação para melhorar o processo de aprendizagem do estudante e de desenvolvimento de si próprios ou, quem sabe, por não conseguirem articular a avaliação como um processo diário de ensino e aprendizagem, fato que fica claro na fala do sujeito 4: Mas eu acho que esses processos avaliativos todos, assim se você for analisar, a gente não tem conseguido mudar esse caminho em sala de aula, é uma questão de não saber como ou não ter recursos didáticos suficientes para isso. (Sujeito 4). 45 Isso acaba levando a uma repetição do que lhes foi apresentado desde a sua iniciação à escola até a formação de professor. O fato é de extrema importância, pois se percebe que não há uma articulação com as proposições didáticas de uma avaliação formativa, como expressa López-Pastor (2005), que propõe três passos básicos para que essa avaliação formativa aconteça, que são: a) estabelecer critérios de qualidade educativa a serem observados nas proposições avaliativas; e b) escolher e/ou desenvolver estratégias e instrumentos de avaliação adequados a tais proposições. Sem essa compreensão do processo avaliativo com um enfoque mais formativo fica difícil estabelecer finalidades, pois não se tem em mente aonde se quer chegar e qual caminho gostaria de percorrer para chegar a esse mesmo lugar. Para melhor compreender esse ponto utiliza-se o exemplo de uma viagem à cidade fictícia chamada “Aurora”. Antes de tudo, porém, é preciso saber em que país ela se localiza, depois o Estado, a seguir a rota, se por terra, mar, rio ou ar... Esse é o dilema que o processo avaliativo apresenta e que considero ser ponto de interrogação dentro do IF Farroupilha – Campus Panambi, ou seja, a real função que o Processo Avaliativo desenvolve na instituição. Zabala (1998, p. 196) reafirma algumas dessas afirmativas, questionando: por que temos que avaliar? Certamente ao responder essa pergunta virão outras como, por exemplo, o que se tem a avaliar, a quem se deve avaliar, como se deve avaliar e também como temos que comunicar o conhecimento obtido por meio da avaliação, entre outras tantas. Hoje em dia, quando se fala em avaliação pensa-se de forma prioritária ou quase exclusivamente nos resultados obtidos pelos estudantes. Este ainda continua sendo o principal alvo de qualquer aproximação quando se fala em “avaliar” e, em muitos casos, se esquece que o professor também deve ser avaliado juntamente com a instituição de ensino em que leciona, pois ambos fazem parte do processo de ensino e acabam por aprender e se desenvolver em conjunto com os estudantes. Esse parecer de como está acontecendo o processo de ensino e aprendizagem precisa ser observado em todas as suas esferas. No entendimento de Zabala (1998, p. 195), o Processo Avaliativo quase que prioritariamente é considerado um instrumento sancionador e qualificador em que o único avaliado é o estudante e o objeto da avaliação são as aprendizagens realizadas segundo objetivos mínimos para todos. Baseado nesse ponto, questiono sobre as individualidades e as formas de aprender, que são diferentes, bem como os tempos de aprendizado, que são completamente distintos. Cada estudante tem seu tempo e sua forma de aprendizado, experiências vividas diferentes, conforme o ambiente sociocultural e familiar em que vive. 46 Isso precisa ser levado em consideração, já que está sendo esquecido no momento do Processo Avaliativo e também durante quase todo o período em que está em sala de aula. Segundo Zabala (1998, p. 196), nossa tradição avaliadora tem se centrado exclusivamente nos resultados obtidos pelos estudantes. Essa é uma via que precisa ser de mão dupla, responsável e dinâmica, capaz de avaliar ambos os lados. Refiro-me aqui a todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, como professores, alunos, instituição de ensino e comunidade escolar, como expressa o sujeito 4, que fala que todos os envolvidos precisam ser avaliados: [...] Avaliar o aluno e avaliar o nosso trabalho também [...]. (Sujeito 4). Quando a formação integral do estudante é o foco fundamental do ensino, e seu objetivo é o desenvolvimento de todas as capacidades da pessoa e não apenas as cognitivas, muitos dos pressupostos da avaliação acabam se modificando, afirma Zabala (1998, p. 197). Os conteúdos de aprendizagem a serem avaliados não são unicamente associados às necessidades do percurso para a universidade. Será necessário levar consideração conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais que desenvolvam as capacidades motoras, de equilíbrio e autonomia pessoal, de relação interpessoal e de inserção social. A opção por essa perspectiva implica mudança radical na maneira de entender a avaliação, pois o ponto de vista não é mais o seletivo, não consiste em separar os que podem superar determinados obstáculos, mas sim, oferecer a cada um a oportunidade de se desenvolver em todas as suas capacidades. Sendo assim o objetivo do ensino não foca suas atenções em parâmetros finalistas para todos, mas nas alternativas pessoais de cada indivíduo. Essa postura requer um ensino que redimensione o conteúdo, as atitudes do professor e dos estudantes. Para que esse redimensionamento aconteça, o Projeto Integrador surge como uma possibilidade dentro do IF Farroupilha, constituindo-se numa proposta metodológica que visa fazer interligações das disciplinas por meio de pequenos projetos no decorrer do ano letivo. Constitui-se, assim, numa estratégia de ensino e aprendizagem que objetiva proporcionar a interdisciplinaridade dos temas abordados. Nesse sentido, o PPC do curso afirma: O curso Técnico em Química, do campus de Panambi a cada período letivo implementará práticas interdisciplinares por meio de projetos integradores entre as disciplinas do período letivo, contemplando a articulação entre ensino, pesquisa e extensão. (IFF, 2010, p. 12 ). 47 Com a implantação do Projeto Integrador busca-se uma mudança de perspectiva mediante a implementação de mecanismos onde não somente se consiga observar uma parcela do aprendizado. Falo aqui não apenas dos conteúdos conceituais, mas sim de todo o contexto englobado pelo ensino, capaz de oferecer aos estudantes oportunidades de se desenvolverem por completo, como observa o sujeito 4: [...] Você tem que ser um bom técnico sim, por que o mundo é competitivo, mas ao mesmo tempo ele tem que ser uma pessoa criativa, inovadora, empreendedora, humana, solidária, então nós precisamos fazer as duas coisas [...]. (Sujeito 4). Minha intenção, com isso, é confirmar a necessidade de aprimoramento das capacidades do docente, permitindo que se torne um bom profissional, desenvolvendo ao máximo todas as suas aptidões. Isso acarreta mudanças na sua forma de atuação, e também dos estudantes, que passarão a enxergar melhor os conteúdos da avaliação. Consequentemente, as atitudes do docente no processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos serão modificadas, possibilitando a cobrança de resultados dos seus alunos. Para isso é preciso mais uma vez verificar os passos citados por López-Pastor (2005), que são: estabelecer critérios de qualidade educativa a serem observados nas proposições avaliativas; e escolher e/ou desenvolver estratégias e instrumentos de avaliação adequados a tais proposições. A consequência de os professores não saberem o que querem ao avaliar um estudante é que a educação se volta basicamente à reprodução dos conteúdos conceituais. Para evitar que isso ocorra no processo de ensino e aprendizagem os docentes envolvidos na pesquisa evidenciam em suas falas que procuram evitar a mera decoreba em suas aulas. Em alguns pontos fica mais que evidente a total aversão à ela, como revelam as falas a seguir: [...] ficar decorando poesias para ir lá na frente declamar para ganhar nota, isso me marca muito como processo e me marca muito como professora porque eu não cobro decoreba de aluno de jeito nenhum [...]. (Sujeito 4). [...] era uma coisa constrangedora e na matemática a decoreba da tabuada [...]. (Sujeito 2). [...] e também uma coisa que eu achava falho nas avaliações, que até ali pela quarta série as professoras obrigavam você a decorar questionários para fazer a prova [...]. (Sujeito 2). [...] você tinha que decorar o questionário e não aprender [...]. (Sujeito 2). [...] você é criança e exigem que você decore os questionários e quando você chega no terceirão você é obrigado a decorar músicas para aprender [...]. (Sujeito 2). 48 O que se nota com relação aos professores é uma tentativa de modificação dessa prática apresentada nas falas. Afirmam os envolvidos no estudo, porém, ser bastante complicada essa mudança, pois vem de uma formação extremamente tradicional, sendo difícil para eles essa reestruturação. Essa afirmação é de extrema importância, pois demonstra o quanto é difícil a mudança de proposta. Percebe-se que os docentes sabem o que deveria ser feito para a mudança desse contexto, entretanto, mesmo assim se veem repetindo algumas vezes as mesmas atividades tão questionadas por eles próprios. Imagino que isso seja resultado da não assimilação dos objetivos reais da avaliação e da capacidade de conseguir fazer a organização disso, o que fica evidente na fala a seguir: [...] Mas como tu vai organizar isso? A gente não foi preparado para isso, vou fazer um método diferente, mas qual método? [...] a gente não tá tão bem preparado para essa realidade diferente que estamos enfrentando hoje [...]. (Sujeito 3). Ao analisar algumas das “provas” desenvolvidas e utilizadas pelos docentes participantes do estudo para realizar a avaliação dos estudantes fica evidente que a maioria tenta realizar essa caracterização, contextualizar e buscar o aprendizado baseado na capacidade de raciocínio, compreensão do contexto e utilização em sua vida. Isso pode ser constatado em algumas questões retiradas de avaliações dos docentes, conforme segue: A seleção brasileira tem um jogo amistoso marcado em São Paulo, com início às 18 horas do dia 28 de junho de 2012. Os torcedores de todo mundo estão acompanhando os amistosos das seleções para poderem observar seus futuros adversários. Sabendo que a data e horário de início do jogo, observe o mapa e assinale a alternativa que corresponde ao horário e ao dia em que os torcedores de Roma, Mumbai e Tóquio devem estar “plugados” na TV para poderem assistir ao vivo a partida. ROMA MUMBAI Hora Dia Hora Dia Hora 14 h 28/06/2012 12 h 28/06/2012 06h 20 h 28/06/2012 24 h 28/06/2012 04 h 22 h 28/06/2012 02 h 29/06/2012 06 h 23h 28/06/2012 03h 29/06/2012 07h Quadro 4. Avaliação realizada pelo Sujeito 4. Fonte: extraído de uma avaliação utilizada pelo sujeito 4 numa turma estudada (2011). TÓQUIO Dia 28/06/2012 29/06/2012 29/06/2012 29/06/2012 Em outra atividade, porém, proposta pelo sujeito 1, entendo que o docente não conseguiu realizar essa mesma contextualização, fazendo simplesmente uma relação entre a doença/substância e sua causa/consequência, como mostra a atividade a seguir: 49 Relacione: (a) Cianidrismo ( ) Principal pneumoconiose no Brasil (b) Asbestos ( ) Doença causada por bactéria (c) Silicose ( ) Intoxicação crônica de operários da galvanoplastia (d) Mesotelioma ( ) Doença causada por inalação de vapores de amianto (e) Botulismo ( ) Câncer de pleura pulmonar Quadro 5. Avaliação realizada pelo Sujeito 1. Fonte: extraído de uma avaliação utilizada pelo sujeito 1 numa turma estudada (2011). Zabala (1998, p. 197) afirma que, a exemplo de outras variáveis de ensino, muitos dos problemas de compreensão que vêm ocorrendo nas escolas não acontecem devido às reais dificuldades que encontram, mas sim em função dos hábitos e costumes acumulados de uma tradição escolar, cuja função básica é a seleção e o caráter propedêudico. Em uma concepção de ensino voltada à seleção dos mais preparados para continuar a estudar até a universidade é lógico que o que vai ser avaliado é o estudante, e que os objetivos propostos tenham relação com as instituições universitárias. Cunha (1989, p. 48) sugere que a nossa concepção como professores se dá desde os primeiros anos de vida escolar, passando pelos mestres que tivemos nas graduações e pósgraduações e não tem fim, pois estamos sempre nos desenvolvendo. Hoffmann (2010, p. 12) afirma que vivemos sofrendo a avaliação na trajetória de estudantes e professores e é necessária a tomada de consciência dessas influências para que nossa prática educativa não reproduza, inconscientemente, a arbitrariedade e o autoritarismo criticados por nós mesmos. Ao questionar os sujeitos da pesquisa a respeito de fatos negativos que tenham vivenciado no Processo Avaliativo busquei evidenciar as marcas deixadas, as quais afetam hoje a sua prática como professores. Essa constatação fica evidente em suas falas, pois deixam claro que são avessos a esse tipo de educação, em que a simples atividade de decorar não é suficiente para uma educação que quer ser emancipatória3. Ao mesmo tempo, porém, em que os sujeitos da pesquisa apresentam esse quadro de aversão também nos é evidenciada uma ligação muito forte com o método de ensino que foi utilizado durante sua formação como discentes, como as provas tradicionais, buscando a verificação de um conhecimento ou como mero classificador. Um exemplo pode ser constatado na fala do sujeito 3, a seguir, e que corrobora com o pensamento de Cunha (1989, p. 48), citado no parágrafo anterior: 3 Entendo por Educação Emancipatória, a educação em que os sujeitos sejam capazes de, conscientemente, compreender o contexto em que se desenvolve determinada ação e tenham a capacidade de refletir e, assim, modificar a sociedade em que vivem, melhorando suas próprias vidas e dos que os rodeiam, não simplesmente aceitando fatos e os decorando de forma completamente engessada. 50 [...] eu até então sigo a mesma metodologia desde quando eu tive lá na 1ª série, eu acho, sempre prova, prova e prova. Aí eu me pergunto, penso bastante sobre isso, vou fazer um método diferente, mas qual o método? O que seria eu como professora de matemática, como que eu vou avaliar o meu aluno se não for pela prova? Que jeito que vou avaliar ele? Eu fico pensando que em História, Geografia há mais um diálogo, uma participação, que pode avaliar com relação a isso, conhecimento que ele traz da vida dele, mas em matemática não sei [...]. (Sujeito 3). Esse professor, pela disciplina que trabalha, tende a não conseguir fazer diferente, embora reconheça a necessidade e a importância de um ensino mais contextualizado. Esse modelo educativo, denominado tradicional, perdurou durante anos e ainda está presente, marcando e condicionando a forma de ensinar ao longo dos tempos, tendo fundamentalmente como princípios uma função seletiva e propedêudica, onde se prioriza as capacidades cognitivas em detrimento das demais. Esse fato colabora para a educação que ainda temos presenciado nas escolas atualmente, muito mais preocupada com o cumprimento de ensinar uma vasta quantidade de conteúdos do que com o que os estudantes estão assimilando. Creio que um dos motivos desse contexto podem ser as lacunas deixadas na formação inicial e continuada que recebemos nos cursos de graduação e pós-graduação. Lá são ensinadas basicamente as técnicas e os conceitos (conteúdos conceituais) corretos em todas as disciplinas, entretanto, na maior parte das instituições formadoras não é ensinado como fazer a transferência do conhecimento apreendido para o que tem que ser repassado ao estudante, deixando de lado, na maioria das vezes, os conhecimentos procedimentais e atitudinais, essenciais quando se busca a formação integral do sujeito. [...] no meu caso, em matemática, eu nunca discuti isso na graduação, nas didáticas e nas disciplinas que envolvem mais essa questão pedagógica, a gente só ia lá e via como passar o conteúdo, mas essa questão da avaliação nunca foi discutida, por isso eu questionei no início, não vou mais fazer prova, mas como eu vou avaliar então? [...]. (Sujeito 3). Considero, no entanto, que não há um único método, mas que os cursos de formação devem apontar os caminhos, pois não há receitas prontas. Acredito na construção desse conhecimento durante o caminho que percorremos desde o início da graduação até os últimos dias em que estaremos em sala de aula. Um trecho da fala do sujeito 3 da pesquisa evidencia este fato: [...] isso tem a ver com as escolas formadoras, tu não foi preparado pra isso, por que tu em matemática aprendeu matemática pura, daí tu teve lá umas disciplinas de Didática, Psicologia, avaliação entrou nas didáticas, então na verdade a gente não tá tão bem preparado para essa realidade diferente que estamos enfrentando hoje [...]. (Sujeito 3). 51 Hoffmann (2010, p. 12) afirma que durante toda a nossa trajetória como estudantes e professores sofremos com os processos educativos, entre eles a avaliação. A autora sustenta ainda que é necessária a tomada de uma consciência reflexiva para que consigamos modificar esse quadro educacional que se desenvolve há anos nas instituições escolares e que afeta diretamente o Processo Avaliativo. Essa tomada de consciência é de difícil assimilação, pois necessita de comprometimento com a proposta e uma dose elevada de estudo e compreensão desse modo de pensar a educação e, consequentemente, o Processo Avaliativo. O PPC Química (IFF, 2010, p. 23) procura promover essa formação integral aos seus estudantes, no caso do Curso Técnico Integrado em Química, que é o foco deste estudo. O ensino médio integrado, baseado na ideia de Currículo Integrado, aparece como uma importante proposta para qualificar a educação básica, considerando o grande número de jovens com direito a cursar o ensino médio, mas que também opta por iniciar sua inserção no mundo do trabalho, numa perspectiva da educação voltada à Politécnica. [...] Nesse sentido, é preciso que se trabalhe na perspectiva da politécnica, entendida aqui como uma educação que possibilite a compreensão dos princípios científicotecnológicos e históricos de produção do conhecimento, orientando o estudante na realização das inúmeras escolhas que fizer ao longo da vida [...]. (IFF, 2010). Sendo assim, o PPC do curso procura desenvolver atividades em que todos os conteúdos sejam desenvolvidos e compreendidos em suas dimensões pelos estudantes. Para isso os docentes do curso precisam ter conhecimento da formação integral que se prega, fato que pode ficar esquecido devido à linha tradicional em que fomos formados. Por esse motivo entendo que a perspectiva de formação integral desses sujeitos está intimamente ligada aos docentes que atuam no curso. Este estudo, portanto, pode contribuir para que os professores reflitam acerca do tema e, assim, possam auxiliar no processo de formação dos professores, que precisam ser capazes de facilitar a inserção dos estudantes no mundo do trabalho, de modo compromissado, com uma formação humanística e cultural geral integrada à formação técnica, tecnológica e científica. É necessário formar cidadãos críticos, propositivos e dinâmicos na busca de novos conhecimentos através de um processo avaliativo mais coerente e que venha ao encontro a uma visão mais completa da formação dos sujeitos, de acordo com os conhecimentos já elencados por Zabala (1998). Essa concepção de sujeitos com formação humana integrada à técnica necessita de mudanças na forma de pensar a educação. É preciso que ocorra a desconstrução dos nossos 52 conhecimentos sobre o ato educacional e, consequentemente, sobre o Processo Avaliativo, para que logo após consigamos levantar novamente uma base sólida sobre essa alternativa metodológica a fim de atender as demandas de que a sociedade atual necessita. Pelas constatações feitas nas discussões do grupo deve-se reconhecer que não é nada fácil realizar essa mudança de visão, pois, como já foi mencionado, viemos de uma linha educacional completamente tradicional e nos é complicada a realização dessa mudança de foco. [...] As mesmas aulas que deram para os meus pais, então o método de ensino não mudou, vem vindo de muitos anos, ainda é a mesma maneira de ensinar, ainda é a mesma maneira de cobrar, ainda é a mesma maneira de avaliar o aluno [...]. (Sujeito 1). Demo (2005, p. 32) reafirma que a aprendizagem deve ser autêntica, o que envolve uma reconstrução, pois o ser humano somente aprende na condição de sujeito, ou seja, fazendo sua própria história. Não podemos mais aceitar que as mesmas coisas ensinadas a nossos pais sejam continuadamente repassadas aos nossos filhos, que os métodos de avaliar permaneçam os mesmos, privilegiando a memorização ao invés da compreensão de um conceito. A afirmativa de um sujeito da pesquisa me chamou a atenção a esse respeito: [...] nós estamos concorrendo com o computador, internet, portanto nós não podemos ser mais informativos, precisamos ser formativos e essa é a diferença para nossos pais, onde poderia ser informativo porque naquela época eles não tinham todo esse acesso à informação [...]. (Sujeito 4). É evidente que toda essa mudança que a tecnologia vem proporcionando tem reflexo no ensino e, consequentemente, no Processo Avaliativo, pois esse é parte integrante do processo de ensino e aprendizagem dos estudantes. Como já afirmamos anteriormente, é um processo de adequação e mudança que demanda algum tempo por parte dos atores. Algumas alternativas vêm sendo levantadas e podem servir como experiência para essa consolidação na mudança que se busca. Entre essas alternativas podemos citar o ponto levantado por um sujeito ao ser questionado sobre as diferentes possibilidades de avaliação até hoje desenvolvidas: [...] eu tento passar nas avaliações questões práticas, a minha disciplina me permite isso, foi uma coisa que fiquei contente, uma coisa que funcionou com o integrado [...]. (Sujeito 2). Preciso deixar claro aqui que não tenho a pretensão de afirmar como os colegas devem avaliar. Pelo contrário, gostaria junto deles aprender e estar mais bem preparado para essa 53 nova demanda que se apresenta hoje na escola, sendo capaz de conhecer os alunos e os “avaliar” por meio do seu desenvolvimento contínuo e não somente em um dia prédeterminado. Fica evidente nas falas dos autores e dos sujeitos da pesquisa que a maneira tanto do ensino e aprendizagem como do Processo Avaliativo precisa ser modificada. Entendo que o Projeto Integrador surge como alternativa para facilitar essa mudança. A seguir descrevo o que é o Projeto Integrador e a construção coletiva desse projeto pelos professores do Curso Técnico Integrado em Química com a convicção de que as dificuldades se manifestam e podem ser vistas a partir dos depoimentos dos sujeitos envolvidos na pesquisa. 3.1 O PROJETO INTEGRADOR E O PROCESSO AVALIATIVO NESSA PERSPECTIVA O Processo Avaliativo ser coletivo ou por área, ser problematizado, questões do dia a dia dele para resolver, de repente isso pode ajudar [...]. (Sujeito 4). A afirmativa acima, em que o sujeito participante do estudo levanta a possibilidade do Processo Avaliativo ser coletivo, parece ser uma possibilidade que se apresenta com o desenvolvimento do Projeto Integrador. Este busca integrar as disciplinas por meio de pequenos projetos no decorrer do ano escolar, fazendo com que elas realmente dialoguem. Este ponto será observado com maior atenção a partir de agora, em cujo início exponho um trecho do PPC Química (IFF, 2010, p. 10) que proporciona um panorama geral de como o mesmo se desenvolve: A organização curricular do Curso Técnico em Química Integrado ao Ensino Médio também trabalhará com projetos integradores organizados de acordo com os eixos estruturantes, base do currículo integrado, oportunizando a construção de conhecimentos dialeticamente. Dessa forma, além de garantir a integração das diversas dimensões da vida, o curso estará trabalhando numa perspectiva emancipatória, oportunizando que o estudante seja agente e construtor de seu próprio processo de aprendizagem [...]. Precisa-se ter consciência da diferenciação entre Currículo Integrado, que é a perspectiva de currículo que o IF Farroupilha busca, e o Projeto Integrador, que faz parte das ações para que o Currículo Integrado seja posto em prática. Pode-se dizer que o Projeto Integrador é um facilitador para que esse processo aconteça na prática, pois modifica a segmentação apresentada na maioria das disciplinas, buscando aproximá-las e fazer com que 54 as diferentes áreas do conhecimento se interliguem, proporcionando uma aproximação com as demandas que a sociedade apresenta. A fala de um sujeito da pesquisa exemplifica isso: [...] eu não via outra opção de um aluno de verificar se ele tinha aprendido se não fosse através de uma prova, se ele entendeu, se não entendeu, então eu não via outra sem ser a prova para ele demonstrar se sabia aquele conhecimento! Agora, o projeto integrador trouxe uma outra forma, porque ele vai estar interagindo com a geografia, vai ter um gráfico lá, e que por mais que ele não saiba como construa que sua análise sobre o gráfico seja correta, então ali eu estou vendo uma outra alternativa [...]. (Sujeito 3). Pensar uma escola onde o centro do ensino ocorre quase que exclusivamente nos conteúdos conceituais, especialmente os fatuais, acaba por limitar bastante os instrumentos avaliativos, como provas e testes de papel e lápis. O Projeto Integrador, contudo, procura sair dessa perspectiva e ir ao encontro aos conteúdos procedimentais e atitudinais, não se esquecendo, é claro, dos conceitos e princípios, pois através de problemas enfrentados no dia a dia pode introduzir noções de valores, atitudes e normas além das regras, técnicas, métodos, destrezas ou habilidades e estratégias, que são pertencentes aos conteúdos atitudinais e procedimentais. Foi preciso andar por essa estrada sinuosa que vai desde pontos sobre a qualidade educacional até as concepções sobre sociedade e mundo vindas do professor para que chegássemos ao foco principal do estudo, que é o Processo Avaliativo, pois ele está intimamente ligado a todas essas questões. A seguir apresento o Projeto Integrador como uma alternativa que permite repensar o processo de ensino e aprendizagem e, consequentemente, o Processo Avaliativo, embora possam existir muitas dificuldades de operacionalização que resultam do fazer tradicional e do empenho para mudar. 3.2 O PROJETO INTEGRADOR COMO ALTERNATIVA Neste momento me debruço sobre o Projeto Integrador do Curso Técnico Integrado em Química como possibilidade de uma educação mais contextualizada e menos “decorativa”, capaz de alcançar os mais diversos níveis de entendimento de conteúdos e abrangente a todos os estudantes. Essa proposta vem ao encontro aos princípios levantados no PDI (IFF, 2009) da instituição e que considero serem os mais efetivos na formação de um cidadão completo, capaz de emitir opiniões, estar consciente de suas responsabilidades no mundo atual e apto para ingressar no mundo do trabalho, com capacidade de desenvolvimento 55 nas mais diversas atividades propostas pelo empregador. São fundamentos básicos e princípios do IF Farroupilha (2009, p. ): Ser um espaço de construção do conhecimento, de socialização e de crescimento individual e coletivo. Respeitar as diferenças, sem desconsiderar os conhecimentos, valores e cultura prévios dos atores envolvidos no processo educacional. Contribuir na formação de cidadãos comprometidos com a realidade social, autônomos e empreendedores. Segundo o PPC Química (IFF, 2010, p. 27), o Projeto Integrador é desenvolvido como proposta que pretende aliar a teoria e a prática com diferentes disciplinas do período letivo, procurando utilizar o ensino, a pesquisa e extensão para isso, além de promover de maneira efetiva a interdisciplinaridade entre as mesmas disciplinas. O trabalho de articulação dessa atividade fica a cargo da coordenação do curso, no entanto, sua elaboração é feita em conjunto com todos os seus professores, que entendem que sua disciplina pode contribuir com a temática proposta. Saliento que o professor é livre para participar. O referido projeto deve estar explicitado nos planos de ensino de todas as disciplinas envolvidas e ser capaz de integrar áreas de conhecimento, além de apresentar resultados práticos e objetivos que tenham sido propostos pelo coletivo envolvido no projeto. Ele é desenvolvido durante o ano letivo e o material desenvolvido durante o período é apresentado em momentos previamente definidos, sendo que essas práticas podem ser compartilhadas pelos demais estudantes do curso e comunidade em geral através da Mostra dos Trabalhos, onde são apresentados resultados dos projetos integradores desenvolvidos. Salienta-se que o Projeto Integrador visa orientar o educando para a elaboração de um projeto em que o aluno deverá utilizar as ferramentas adquiridas nos componentes curriculares, exercitando a interdisciplinaridade, e, procurando sempre o apoio técnico dos educadores e colegas. A organização do Projeto Integrador ocorreu simultaneamente ao estudo aqui apresentado, portanto, não há resultados concretos, pois os docentes ainda estavam construindo a proposta. Nota-se, porém, nas falas dos professores que o projeto é aceito por todos, mostrando-se abertos para a essa iniciativa, cujo fato expresso na seguinte fala do sujeito participante da pesquisa: Acho que o primeiro passo, engatinhando talvez, foi o Projeto Integrador, que agora pensando melhor é uma coisa interessante, se a gente for relacionar com a música, tem aqui: na hora do jornal eu desligo porque eu não sei nem o que é 56 inflação, claro que na época dessa música a inflação era uma coisa bem violenta, essa música aqui é de 93, 94, foi logo depois do impeachment do Collor, mas acho que o Projeto Integrador vem buscar isso, não só a integração das disciplinas, mas você tentar trazer para o teu dia a dia, e isso aqui é uma coisa do dia a dia, o que é inflação, cada Projeto Integrador vai ter seu tema e é um primeiro passo para mudar isso [...]. (Sujeito 2). O que venho defendendo no decorrer deste estudo é uma forma mais transparente de avaliar e que não sejam avaliados somente os conteúdos conceituais e, nesse sentido, o Projeto Integrador surge como uma alternativa. Por intermédio dessa iniciativa podemos buscar um meio mais efetivo de avaliar, procurando trabalhar todas as possibilidades de desenvolvimento dos estudantes, fazendo com que os mesmos não fiquem reféns de métodos fechados de ensino, mas que abranjam todas as suas capacidades. Que ele seja capaz de não somente verificar a apreensão de conhecimentos estáticos, que basicamente são utilizados para progressão ou não à série seguinte, mas de conhecimentos que se movem no dia a dia, através da sua vida cotidiana, como por exemplo, a questão do lixo – seu destino, reaproveitamento e processos químicos por que passa até voltar ao mercado. Isto fica claro na fala do sujeito: Eu acho que no momento uma das coisas que vai nos ajudar no Processo de Avaliação é a apresentação do Projeto Integrador, por exemplo, onde você vai ver o quanto eles conseguem entender [...]. (Sujeito 3). A constatação acima, porém, não foi completamente comprovada, pois apesar de haver melhorias positivas enquanto formação integral dos estudantes, os professores ainda não conseguem verificar essas mudanças no desenvolvimento do Processo Avaliativo, o que foi exposto na fala do sujeito: [...] ele não tem contribuído muito na questão da avaliação no sentido que o processo não está sendo integrado, o planejamento das minhas aulas não tem o projeto integrador fortalecido, pois eu penso que o planejamento deveria ser conjunto e no final você também fazer avaliação coletiva [...]. Todo começo de algo inovador precisa de tempo para que amadureça e dê bons frutos. Isso fica evidente no Projeto Integrador desenvolvido pelos professores do Curso Técnico Integrado em Química, juntamente com a direção de Ensino no decorrer do ano de 2011. Inicialmente não se sabia como trabalhar essa metodologia de Projeto Integrador, havia dúvidas quanto ao seu funcionamento. Essa dinâmica aconteceu de março a maio daquele ano, até que foi compreendida e colocada em prática, não de forma completa, mas por partes, agrupada em pequenos grupos e, a partir daí, agregada a todos os envolvidos no processo. 57 Falo desse momento, pois fui participante como docente da atividade e não como pesquisador, estando ciente das dificuldades apresentadas e das mais diversas dúvidas que foram surgindo no decorrer do trabalho. O desenvolvimento da construção do Projeto Integrador se deu em reuniões previamente agendadas para que todos pudessem participar, porém, não se conseguiu contar com a presença de todo o grupo de professores. Ficaram evidentes as diferenciações conceituais que os professores tinham sobre o Projeto Integrador, o que pode ser explicado talvez pela vivência de cada um, fato que gerou bastante discussão sobre a forma de implementá-lo. Notou-se, também, a tomada da frente das atividades por alguns professores, enquanto outros, talvez por não estarem seguros, se deixaram levar pelas proposições de um pequeno grupo. Imagino que pelo tema em que o Projeto Integrador do curso Técnico Integrado em Química se desenvolveu os professores mais voltados a essas áreas tiveram uma inserção maior no contexto, ou seja, as disciplinas de Química e Biologia estiveram mais ativas nas atividades. O trabalho resultante das reuniões pedagógicas foi intitulado Entendendo o ambiente através da Química, e procurou englobar as mais diversas áreas do conhecimento dentro de temas que pudessem relacionar o conteúdo desenvolvido na sala de aula com a sua vida cotidiana, seus conceitos práticos e utilidades na vida diária. O tema escolhido tem muito a ver com a organização dos eixos temáticos e a estrutura curricular durante os três anos em que os estudantes estão na instituição, os quais são divididos da seguinte maneira: 1° ano Ciência, Cultura e Linguagem 2° ano Ciência, Tecnologia e Responsabilidade Social 3° ano Trabalho, Tecnologia e Meio Ambiente Quadro 6: Eixos estruturantes. Fonte: Projeto Político de curso Técnico Integrado em Química (IFF, 2010). A temática desenvolvida, portanto, procurou envolver ciência, cultura e linguagem, o que acabou levando aos seguintes temas: da Alquimia à Química; processo Haber-Bosch: a síntese da NH3; tratamento do lixo urbano; química e agricultura: o uso de agrotóxicos; corantes: da Antiguidade aos sintéticos; microondas: funcionamento, aplicações e mitos; radioatividade e o átomo: ajuda ou risco à humanidade?; sais e o corpo humano; biocombustíveis; tratamento de resíduos; ácidos no cotidiano; armas químicas; tratamento de água e efluentes; por que alguns alimentos são mais calóricos?; as atividades de um químico; espectro luminoso: onde Bohr se faz presente? 58 Foram escolhidos de dois a três professores como orientadores para cada grupo de três estudantes por projeto a fim de estipular limites e conduzir a direção do trabalho. Como já citado anteriormente esse foi um trabalho bastante difícil, que perdurou do início de abril a julho de 2011, quando houve a sua sistematização, possibilitando a nossa organização a fim de auxiliar os alunos nessa tarefa. No decorrer do estudo os estudantes precisavam apresentar relatórios parciais com o andamento das atividades para que pudéssemos participar com nossas contribuições, o que serviu de esteio para que eles sanassem suas dúvidas. Creio que o Projeto Integrador pode contribuir com essa formação integral a que tenho me referido no decorrer do estudo, sendo que o sujeito 4 reafirma isso: [...] com relação ao projeto integrador acho que sim, que ele pode contribuir e muito para a formação integral do aluno, mas acho que a maior dificuldade nesse instante é nossa, dos professores, de conseguir sentar juntos, planejar juntos e isso precisaria ser diferente, com a gente sentar uma tarde toda, discutir, planejar e dizer: a geografia precisa desenvolver isso, isso e isso e as outras disciplinas também [...]. Precisamos, porém, melhorar a dinâmica de desenvolvimento do trabalho, pois da forma como é feito hoje não conseguimos contribuir de maneira significativa para uma educação integral ou, ainda, para que o processo avaliativo se modifique da mesma forma. A fala do sujeito 3 referenda isso: [...] atualmente a gente só recebe o projeto, lê, dá as contribuições que a disciplina pode dar nesse projeto, a gente não senta, não discute, não vê em que momento eu poderia entrar com essa questão da matemática e acho difícil a gente fazer isso com o trabalho em andamento [...]. A contribuição que se espera deste trabalho é que o Projeto Integrador melhore a questão do processo avaliativo desenvolvido, sendo mais processual, mais abrangente, verificando todas as nuances da aprendizagem. Um dos docentes afirma que os professores envolvidos na elaboração do Projeto Integrador fizeram uma avaliação coletiva dos trabalhos, porém ela acabou ficando superficial, sendo que poderia ser muito mais proveitosa, como mostra a fala do sujeito a seguir: [...] tivemos nossa avaliação em conjunto, sentamos, discutimos projeto por projeto e aluno por aluno, mas nós devíamos ter feito isso lá no começo, tema por tema, por exemplo, tratamento de esgoto, entra química, biologia, solos, geografia, etc. [...]. 59 Creio que essa é uma evolução que já vem acontecendo, pois neste ano de 2012 houve outras posições quanto à organização da atividade, com professores mais envolvidos e mais cientes das responsabilidades que cada um possui. Essa melhora deve-se à maior compreensão do que significa o Projeto Integrador e os erros que foram apresentados no ano de 2011, os quais acabam por provocar a elevação da qualidade do trabalho, tornando as atividades mais atrativas e levando a trabalhos mais autênticos, com a “cara” dos estudantes. Durante o desenvolvimento das atividades havia entre os professores algumas dúvidas quanto ao Projeto Integrador, pois não se tinha clareza quanto ao seu andamento e, consequentemente, dos seus resultados. Com o passar das atividades, porém, foi se percebendo que seria um avanço enorme em relação à educação segmentada que até então era desenvolvida. Concluiu-se que deveríamos pensar juntos, planejar juntos e também avaliar juntos, fato que se comprova na fala de um dos sujeitos da pesquisa: Só falta a gente sentar, planejar juntos [...]. (Sujeito 1). É preciso considerar que nem todas as áreas puderam ser envolvidas a fundo no Projeto Integrador. Algumas disciplinas, como a Educação Física, por exemplo, ficaram de fora em determinadas áreas do conhecimento, fato considerado normal, pois nem todas têm alguma relação íntima com a temática que seria desenvolvida nos projetos. Entretanto, minha contribuição com os projetos foi auxiliar na busca de relações com o cotidiano e a influência que aquele trabalho poderia gerar na comunidade. Além disso, buscar a compreensão juntamente com os estudantes sobre todas as características e conceitos atrelados ao mesmo projeto, tanto na parte de conhecimentos conceituais, como procedimentais e atitudinais. O que não podemos exigir, contudo, é uma aproximação forçada, gerando um trabalho descontextualizado, que nada acrescenta à formação dos estudantes. Apesar da disposição mostrada pelos sujeitos da pesquisa em conhecer e desenvolver o “novo”, ainda se constata a “obrigação” da maioria dos sujeitos em cumprir uma gama de conteúdos, considerados obrigatórios e essenciais para uma boa educação. Isso fica evidente na fala do sujeito: E também tem uma lista de conteúdos que tem que ser seguido, então ainda existe aquela pressão que tem que ver todos aqueles conteúdos [...]. (Sujeito 1). 60 Creio que a pressão citada pelo sujeito integrante do estudo se refira à estrutura escolar hoje apresentada, o que acaba levando aos vestibulares tradicionais, voltados à admissão dos mais capazes em decorar fórmulas e cálculos, classes e famílias ao invés do mais preparado em todas as instâncias da vida. Imagino não ser o ideal o estudante passar três anos da sua vida se preparando para o Vestibular, cuja tarefa é pequena demais tendo em vista a importância que a educação escolar deve preencher na vida de uma pessoa. Para Zabala (1998, p. 197), a função social do ensino não consiste em apenas promover e selecionar os “mais aptos” para a universidade, mas sim o preenchimento de outras dimensões da personalidade. É no mínimo superficial que preparemos apenas cerca de 10 a 20% dos estudantes, pois é essa a porcentagem de estudantes que ingressa nas universidades, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Censo de 2010. E a grande maioria é preparada para quê? Essa concepção, portanto, é extremamente excludente e elitista, levando cada vez mais ao distanciamento das classes que têm condições de pagar uma escola particular (que prepara os estudantes para questões de múltipla escolha e um cursinho prévestibular) daquelas que estudam nas escolas públicas e não possuem as mesmas condições levantadas acima. Apesar dos avanços apresentados ainda presenciamos a compartimentalização dos conteúdos e, com isso, um consequente Processo Avaliativo cercado dessa mesma compartimentalização, consequência, talvez, da formação inicial e continuada que recebemos e a estrutura escolar apresentada desde há muito tempo. Essa mudança necessita de tempo e compromisso para ser implantada por inteiro dentro do IF Farroupilha – Campus Panambi, RS. A compartimentalização dos conteúdos é clara, e apesar de os Projetos Integradores terem sido desenvolvidos conjuntamente num grupo de docentes, seu Processo de Avaliação se deu de forma individual e estanque na maioria dos casos, pois se notou diferenças na forma de avaliação das atividades dos projetos. Alguns fizeram sua avaliação de acordo com o que foi apresentado no dia dos trabalhos, ou seja, na Mostra dos Trabalhos; outros por conceitos; e outros ainda por notas que serviram somente para classificar. A presença desses problemas evidenciou que a maioria dos professores não leva em conta a construção do conhecimento do estudante, deixando de lado a caminhada que foi desenvolvida por eles até chegarem ao resultado final. Apesar de não se poder generalizar o fato, o estigma de dar notas pelo que foi apresentado e não pelo processo pelo qual os estudantes passaram está presente entre os 61 docentes. Notas são atribuídas como parâmetro para a progressão de ano, e não como condição de um sujeito detentor de um conhecimento que o auxiliará na constituição de sua vida. Hoffmann (2010, p. 46) confirma isso, dizendo que o professor aplica provas e testes para simplesmente constatar resultados, os quais são explicitados em valores numéricos, o que leva a uma concepção de avaliação que venho combatendo no decorrer deste trabalho, caracterizada como sentenciva e classificatória. A autora segue afirmando que concebe e nomeia a avaliação mediante o “fazer testes” e o “dar notas” uma atitude simplista e ingênua. Significa reduzir o Processo Avaliativo de acompanhamento e ação por meio da reflexão a precários instrumentos desse processo, é como se o bisturi fosse entendido como um procedimento cirúrgico. A atitude de avaliar deve ser inerente à ação educativa. Tal ação não pode ficar reduzida ao ato de dar notas, como presenciamos em alguns casos na avaliação do Projeto Integrador, mas sim deve ser efetiva, baseada na caminhada desenvolvida, baseada no crescimento alcançado pelo estudante em todas as esferas do conhecimento. O Projeto Integrador é um caminho que pode levar a frutos de grande qualidade e que podem se transformar em vinhos ótimos, porém, como todo parreiral, necessita de aperfeiçoamento e talvez até do descarte de algumas colheitas para que se chegue a um vinho de qualidade extrema. O caminho é doloroso, pois pensar dói e necessita de tempo para que os pensamentos e atitudes venham ao encontro aos princípios levantados à educação que se pretende no IF Farroupilha – Campus Panambi, RS. O Processo Avaliativo tem me preocupado desde o início da minha trajetória docente. Trata-se de uma ação de extrema responsabilidade ter que aferir pessoas, dar conceitos a alguém, podendo ser danoso aos próprios professores, pois quase nunca terão a certeza de estar procedendo a avaliação mais coerente e consistente. Poderia fazer uma retomada história do conceito de avaliação neste trabalho, porém esse não é o enfoque que pretendo lhe dar. Trabalhos como esse existem em vasta quantidade, e não tenho interesse nessa discussão. Quero entender, entretanto, o significado da avaliação no contexto do IF Farroupilha – Campus Panambi, RS, levantado nas sessões grupais com os docentes e, a partir daí, buscar alternativas para a formação de nível Técnico Integrado ao Ensino Médio, a fim de mudar o estigma da avaliação pautada no medo e na reprodução, a qual já foi citada anteriormente. No decorrer do próximo capítulo pretendo mostrar como está acontecendo o Processo Avaliativo no IF Farroupilha – Campus Panambi, estabelecendo as ligações entre o Projeto Integrador e o Processo Avaliativo. 62 4 PROJETO INTEGRADOR: UMA ALTERNATIVA? Chego ao último capítulo desta dissertação com uma dúvida veemente e que procuro elucidar no decorrer do mesmo: será que o Projeto Integrador está sendo visto pelos docentes como um meio ou canal para que o Processo Avaliativo se constitua menos classificatório e mais abrangente, como regem as diretrizes que estão no Plano de Desenvolvimento Institucional e nos Projetos de Curso do IF Farroupilha? Ou apenas se constitui em mais um procedimento utilizado para realizar a mesma avaliação que há anos vem se desenvolvendo, baseada na capacidade de memorização e não na construção de conhecimentos de forma coletiva? Questiono ainda: os docentes do próprio curso já interiorizaram essa proposta ou ela ocorre somente nos planos e projetos? Eles estão preparados para essa mudança, ou seja, estão prontos para organizar essa forma de ensinar e fazer a retomada do que foi apreendido através de um Processo Avaliativo coerente como pregam as diretrizes do IF Farroupilha e Projetos de Curso? Estão conseguindo fazer a articulação entre a avaliação e o processo diário de ensino e aprendizagem? Procuro buscar nas transcrições das entrevistas com o Grupo Focal as possíveis respostas para esses questionamentos que levanto, não as considerando como verdades em si, mas como elementos problematizadores. Como foi apresentado no segundo capítulo desta dissertação, os participantes da pesquisa se mostraram receptivos às mudanças, mesmo que num primeiro momento tenham sido contrários às modificações, pois também teriam que se modificar e como qualquer mudança leva tempo e incomoda, viam as alterações somente como novos “métodos” para ensinar a mesma coisa. Citam posteriormente que o Projeto Integrador poderia auxiliá-los na modificação dessa visão fechada do ensino e aprendizagem, saindo da pura classificação para uma atividade mais participativa que colabore para uma formação mais ampla do estudante. Apesar de concordarem que é uma possibilidade que pode auxiliar, entendo que se tem um longo caminho a percorrer, pois ainda não se consegue fazer a construção dos projetos conjuntamente, sentar e planejar. Para corroborar, um sujeito da pesquisa afirma: Para que o Projeto Integrador consiga modificar a prática que temos hoje nós precisamos sentar e planejar juntos. (Sujeito 1). 63 Nota-se uma preocupação muito grande em como isso poderia acontecer, o que é um fato normal, pois o medo e a dúvida sempre precedem as mudanças. Os sujeitos participantes da pesquisa estão conscientes de que o sistema tem seus problemas e que não serve mais da forma que está estruturado, entretanto, não sabem como agir, como realizar as mudanças e, em muitos casos, não estão preparados para as modificações. No meu ponto de vista não conseguem utilizar a avaliação para melhorar o processo de ensino e aprendizagem. Um sujeito da pesquisa afirma: [...] eu vejo que a avaliação está muito ligada a como o professor vê o ensino, e como se organizar pra isso? (Sujeito 4). A preocupação exposta no trecho acima leva a crer que os participantes assumem suas responsabilidades enquanto docentes e estão dispostos a se alterar enquanto ensinantes, condição essencial para o bom desenvolvimento das atividades. Para que essas modificações ocorram é necessária uma nova percepção do sistema escolar e, consequentemente, do seu Processo Avaliativo, orientando no sentido de constituir um caráter formativo, voltado à construção do sujeito como um todo. O Projeto Integrador tem essa característica e pode, no meu modo de ver, ser um caminho a ser seguido para que essa visão segmentada do ensino e da aprendizagem seja transformada em um meio mais plural, onde sejam explorados todos os tipos de conhecimentos de forma que os estudantes sejam estimulados a desenvolver as capacidades que têm dificuldade e crescer ainda mais nas que conseguem um bom desempenho. Creio que ainda falta envolver nessa proposta aqueles docentes que não fizeram parte do processo de construção de conhecimento resultante das sessões do Grupo Focal. Percebese que muitos ainda não estão completamente à vontade para começar a utilizar essa alternativa como ponto de balizamento para a realização de uma educação integral dos estudantes. Como consequência acabam por tornar o Processo Avaliativo uma muleta a serviço da Educação, pois o que estamos fazendo hoje com o Projeto Integrador é uma contribuição em separado dos outros docentes, ou seja, sem a concepção do coletivo. Um dos participantes da pesquisa expressa: [...] atualmente a gente só recebe o projeto, lê, dá as contribuições que a disciplina pode dar nesse projeto, a gente não senta, não discute, não vê em que momento eu poderia entrar [...]. (Sujeito 3). 64 Durante o desenvolvimento da proposta do Projeto Integrador percebi que alguns professores se comprometeram enquanto outros procuraram se esquivar, se ocultar, se eximindo das responsabilidades. Essa afirmativa resulta da observação feita durante a organização do trabalho, uma vez que fui participante do mesmo. Sabe-se que é mais fácil a continuação do atual método de ensino, baseado na decoreba, o qual venho questionando no decorrer deste estudo, baseado praticamente em conhecimentos conceituais, mais precisamente os fatuais, do que procurar a mudança de visão, onde se precisa “pensar” e “refletir” sobre a própria prática docente. Ficou claro que as áreas mais voltadas aos projetos desenvolvidos conseguiram de uma forma mais tranquila realizar essa tarefa, pois estavam mais próximas dos conhecimentos relatados pelos projetos, o que fica claro na fala a seguir: [...] como é um curso técnico em química as temáticas foram todas voltadas para a química, onde a maioria dos professores acabou não se encontrando nas temáticas, o que levou muitos deles a nem viram olhar os trabalhos, outros passaram e deram uma olhada, não se envolveram com o processo todo [...]. (Sujeito 1). Algumas das constatações que realizei durante o estudo são baseadas em minha experiência como docente do curso, pois participei ativamente das atividades de desenvolvimento da proposta. Entretanto, sei que como “dados” de pesquisa pouco se valoriza essa forma de verificação, porém achei importante me posicionar mesmo não tendo informações concretas a esse respeito, pois entendo que a vivência em um local pode trazer mais informações a determinado assunto do que “dados” propriamente ditos obtidos a partir de poucos dias de convivência com o local de estudo. Por esse motivo utilizei como subsídio a minha vivência no local de estudo, certo de que essa é uma tarefa no mínimo ariscada, pois implica em posicionamentos que, às vezes, podem ir de encontro às atividades desenvolvidas no ambiente, acabando por gerar desentendimentos sobre a prática dos colegas. Mesmo assim julguei necessária e pertinente essa atividade. Percebi, também, que os participantes da pesquisa, mesmo sem compreender de forma completa todo o Projeto Integrador e suas características, procuram traçar alternativas para melhor compreender e utilizar essa proposta, o que se confirma ao manifestarem que o Processo Avaliativo poderia ser coletivo, por áreas do conhecimento, ser problematizado e/ou com questões do dia a dia do aluno. Nota-se, porém, que mesmo sem o entendimento por completo da proposta já surgem alternativas plausíveis e que proporcionam um retorno muito bom, pois usam o exemplo do Curso Técnico Integrado na modalidade de Jovens e Adultos na 65 área de Edificações na qual lecionam, utilizando essa alternativa nas disciplinas de História, Sociologia e Geografia, apresentando resultados satisfatórios. [...] O professor A propôs para mim e para o professor B fazer no PROEJA uma avaliação única, História, Geografia e Sociologia, nós demos para os alunos fazerem uma pesquisa na Câmara de Vereadores, nas cooperativas e nos conselhos municipais como questões orientadoras, daí tu vê quando eles apresentam o trabalho, como se posicionam diante de algumas coisas, deu para avaliar as três disciplinas perfeitamente, foi muito legal, foi bem interessante essa forma coletiva de avaliar [...]. (Sujeito 4). Essa proposta alternativa mostra-se bastante significativa, pois consegue aproximar as disciplinas e ao mesmo tempo realizar o processo avaliativo de forma conjunta, o que compreende, ao meu ver, uma ação de qualidade e que resulta na qualificação do mesmo, onde não são “cobrados” basicamente os conteúdos conceituais, mas sim todos os conhecimentos envolvidos na atividade, entre eles, os procedimentais e atitudinais. Nota-se, segundo os professores, uma melhoria na sua condição de sujeitos participantes na sociedade, onde buscam se posicionar, questionando sobre tal assunto. Há uma expressiva ilusão dentro da sala de aula, tanto por parte de alunos como dos professores, que veem o Processo Avaliativo como uma carga pesada que necessita ser carregada, não compreendendo o momento como ajuda ou como facilitador da verificação da aprendizagem. O ato de avaliar, basicamente, se constitui para ambos uma tarefa que visa sentenciar e não retomar as lacunas apresentadas. Essa concepção precisa ser modificada, pois acaba por mistificar ainda mais essa tarefa tão complicada que é a avaliação do conhecimento do estudante. Todos os participantes da pesquisa reconhecem o Projeto Integrador como um grande avanço, apesar de acharem que precisa de adequações, conforme já explicitado anteriormente. Também não concebem o Processo Avaliativo simplesmente como a capacidade de o aluno guardar informações a curto prazo, mas sim para compreender o sentido das coisas e modificar a sociedade em que vivem mediante conhecimentos desenvolvidos em sala de aula. Contudo, a tarefa não é simples, pois não entendiam direito o que era o Projeto Integrador, mas com o decorrer do tempo foram assimilando as informações passadas em reuniões pedagógicas e cursos de formação e, a partir dessas informações, perceberam como seria o seu funcionamento e que o mesmo poderia auxiliar na questão do processo avaliativo, pois facilitaria sua percepção sobre o aprendizado dos estudantes. Um dos sujeitos da pesquisa comprova isso: 66 [...] você vai ver o quanto eles conseguem entender na apresentação do Projeto Integrador. (Sujeito 3). Para os participantes da pesquisa houve uma surpresa positiva em relação aos Projetos Integradores dos demais cursos que já estavam em andamento e nos quais também lecionavam, sendo considerados muito bons, vindo inclusive a facilitar a construção das ementas das disciplinas. Entretanto, ainda persiste para alguns a ideia de que é necessário seguir uma lista de conteúdos pré-estabelecidos com relação de ordem e importância para uma educação de qualidade. Não é possível a manutenção dessa forma de pensar a educação, a qual é engessada e sem a menor compreensão do verdadeiro sentido da escola, que é a formação de um cidadão completo, tanto cognitiva como cultural e social. Com a inserção do Projeto Integrador ainda precisamos continuar a “passar” uma gama de conteúdos para o estudante, porém sem uma pressão gerada com o intuito de prepará-lo para o Vestibular ou algum processo seletivo que exclui a maioria dos concorrentes. Abre-se o foco, ampliam-se os horizontes nessa perspectiva e o Processo Avaliativo se complementa nesse viés, tornando-se mais viável, mais processual, ou seja, procurando compreender todo o caminho pelo qual o estudante percorreu até chegar ao conhecimento, tornando-se menos classificatório. É evidente que em algum momento da vida do estudante ele precisará ser avaliado nas mais diferentes esferas da vida, por exemplo, em uma entrevista de emprego, num concurso ou até para assumir um cargo de direção dentro de sua empresa. Creio, porém, que não é nosso papel como educadores cercear as possibilidades dos estudantes dentro do contexto educacional com um Processo Avaliativo, supervalorizando o resultado de uma determinada atividade em detrimento da construção de conceitos no decorrer das aulas. Nosso papel como professores é abrir horizontes, oferecer novas possibilidades, criar, compartilhar conhecimentos para que a partir daí o próprio estudante faça suas considerações. Todos os participantes da pesquisa se posicionaram a favor da mudança dos vestibulares tradicionais para a concretização do Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, apesar dos problemas que este tem enfrentado com o vazamento de dados. Os docentes percebem essa mudança como uma melhoria, pois possibilita outro foco no ensino, sendo que o mesmo se torna muito mais generalizado e com imensas alternativas de compreensão das mesmas atividades por parte dos estudantes. Lembram que com o desenvolvimento do Projeto Integrador estarão mais próximos dessa alternativa (ENEM) e, consequentemente, serão 67 atingidos resultados de aprendizagem mais satisfatórios, pois trabalharão de forma paralela e, assim, a aprendizagem dos estudantes será ainda mais consolidada. A partir de uma indagação feita durante a segunda sessão grupal, quando mencionei a possibilidade de o Processo Avaliativo provocar nos estudantes uma relação de medo, os docentes afirmam que se mostram preocupados com o estigma das provas e testes gerarem esse receio nos estudantes e, por conseguinte, dificultar a “tomada” de algum conceito exigido por eles na avaliação. A respeito disso afirma o sujeito 3: [...] Acontece com certeza, ele precisa ir bem porque vão encher a paciência dele em casa, na escola, daí ele acaba se embananando todo na hora de fazer a avaliação [...]. (Sujeito 3). Não sabem, porém, de que forma agir para que isso não ocorra e que os resultados não sejam afetados de forma substancial, levantando formações iniciais como o porquê dessa lacuna. Abrem mais uma vez as portas de suas salas de aula para o Projeto Integrador como facilitador desse processo, pois entendem que ele pode ajudar nessa tarefa, fazendo com que não se perceba de forma tão incisiva a pressão no desenvolvimento das atividades avaliativas e que não influenciem na tomada dos conceitos procurados pelo professor. Talvez, como já citei anteriormente, uma forma seja a avaliação passar à função de orientação formativa e não simplesmente classificatória. Essa, porém, é uma tarefa complicada em que o Projeto Integrador pode auxiliar no sentido de fazer essa aproximação. No momento em que são indagados se provas são essenciais para a tomada de um conceito, os sujeitos participantes da pesquisa reiteram que sua formação foi classificatória e que é complicado modificar essa perspectiva. Considero essa afirmativa verdadeira, pois não é nada fácil nos desprendermos dos costumes e opiniões que há muito tempo nos acompanham. Mostram-se, entretanto, mais uma vez dispostos a se modificar e veem o Projeto Integrador como uma alternativa para a melhoria dessa visão. Não procuro aqui execrar o uso de provas e testes, mas sim defendo a possibilidade de serem utilizados como verificadores de conhecimento, constituindo-se num meio que possibilite a verificação das dificuldades dos estudantes, levando à retomada dos conteúdos não assimilados pelos mesmos. [...] em relação ao projeto integrador acho sim que ele pode contribuir e muito para a formação integral do aluno, mas acho que a maior dificuldade nesse instante é nossa, dos professores, de conseguir sentar juntos, planejar juntos, isso precisaria ser diferente [...]. (Sujeito 4). 68 Outro ponto que destaco e que os participantes da pesquisa trazem é que os estudantes também não auxiliam na mudança de foco do ensino mais contextualizado, pois preferem “completar o caderno”, o que é perfeitamente aceitável, pois esses estudantes foram “domados” desde o início de sua trajetória escolar a serem omissos e dependentes do professor para alcançar algum conceito. [...] como a gente precisa se reconstruir, os alunos também, porque eles vêm de uma caminhada desde a pré-escola decorando, quando chegam aqui eles vão seguir reproduzindo o que sempre tiveram, afinal são oito anos estudando assim [...]. (Sujeito 2). [...] nesse livro que a gente utiliza de matemática, tem bastante aplicação e eles reclamam muito que eles não sabem fazer aquele tipo de questões, não fazem ideia de como fazerem [...]. (Sujeito 3). [...] eu sempre digo que pensar dói e fede [...]. (Sujeito 4). Esse fato requer tempo para a compreensão de todas as partes envolvidas: dos pais, que precisam entender que ensinar não é completar caderno; dos alunos, que devem ser mais indagadores e compromissados; e dos professores, que têm que se modificar a cada dia para atender as demandas exigidas pela sociedade. Com todas essas afirmações entendo que a modificação que se apresenta no IF Farroupilha – Campus Panambi, RS, busca melhorias na forma de entender o ser humano contemporâneo, um ser cada vez mais interligado com as mudanças que ocorrem, capaz de trabalhar em duas ou mais coisas ao mesmo tempo e que se pretende gerador de conhecimento de forma contínua. Afirmo, a partir da minha experiência, que o Projeto Integrador multiplica as formas de ensinar, de entender os conceitos e mudar a sociedade. Além disso, torna um conceito de aula aplicável na comunidade em que o estudante vive, constituindo-se num elemento essencial para uma educação que entendo ser mais humana e geral. Ademais, é responsável pela mudança do paradigma humano, saindo de uma competição cada vez mais consumista e fervorosa para uma alternativa onde todos entendem as diferenças que possuímos e sabem lidar com as dificuldades enfrentadas no dia a dia. [...] eu me sinto privilegiada em poder usar o Projeto Integrador como uma ferramenta, pois está bem no meu chão, indústrias químicas e esse ano é sobre gerenciamento de resíduos [...]. (Sujeito 1). 69 Depois de quase um ano lendo e relendo os relatos dos docentes, participando ativamente das atividades de ensino do IF Farroupilha – Campus Panambi, RS, entendo que ainda precisamos avançar muito para chegarmos a um Processo Avaliativo capaz não só de medir ou classificar alguém. Como educadores já apresentamos “formas ou modelos”, compostos pelo Projeto Integrador, que é capaz de modificar essa ideia que vem há muitos anos se perpetuando. É com esse objetivo que me propus a escrever a respeito do Processo Avaliativo, na medida em que se constitui num multiplicador de ideias, capaz de fazer pensar e refletir, mudar e renovar, afinal essa é a máxima da vida – a renovação que precisamos a todo dia fazer para não ficarmos estagnados no tempo. Com a manutenção do Projeto Integrador teremos a cada ano melhorias na qualidade do ensino e, consequentemente, na aprendizagem dos estudantes. No meu ponto de vista vivenciaremos uma aproximação cada vez maior entre as disciplinas, ultrapassando o abismo que hoje se verifica no Ensino Médio. Como consequência, o Processo Avaliativo também se modificará, ficando cada vez mais latente a necessidade que temos como professores de sermos incentivadores, problematizadores e cada vez mais auxiliares da aprendizagem e não os únicos detentores do conhecimento. É evidente que não é nada fácil instituir um processo como este, que busca trazer o conhecimento do dia a dia para a sala de aula, visando contextualizar o conteúdo para que seja mais atrativo e significante para o aluno, a fim de trazer os conceitos atrelados a acontecimentos cotidianos. Esse processo necessita de tempo e de muito trabalho para que ocorra de forma satisfatória. Todos os professores tiveram suas dificuldades para se conectar ao modo de pensar dos colegas, com sua opinião e seu modo de ver o ensino, pois tudo leva tempo e necessita de estudo para que seja compreendido. Fico satisfeito ao perceber o surgimento dos primeiros resultados, os quais são decorrentes da união dos professores, dos estudantes em torno de um projeto único, capaz de englobar tanto a Biologia, a Química e a Educação Física. Ademais, já é possível apresentar para os estudantes conceitos complexos de forma mais simples e ainda capazes de modificar sua prática cotidiana. Fica claro também que ainda precisamos progredir muito, pois tanto estudantes como professores precisam digerir essa ideia – os estudantes serem mais críticos e curiosos e os professores serem mais facilitadores do conhecimento do que seus únicos detentores. Tenho enorme confiança de que esse primeiro ano do Projeto Integrador seja apenas o primeiro de muitos outros que virão e que se continuarmos trabalhando conseguiremos modificar o ensino e a aprendizagem dos estudantes e, consequentemente, “avaliar” da maneira como venho 70 defendendo desde o início deste estudo, ou seja, de forma mais contextualizada, menos conteudista, mais processual e menos decorativa. Chego ao final do capítulo com a certeza de que respondi as perguntas que fiz logo no seu início. Acredito ser possível utilizar o Projeto Integrador como um meio ou canal para que o Processo Avaliativo se constitua menos classificatório e mais coerente, a exemplo do que regem as diretrizes que estão no Plano de Desenvolvimento Institucional e os projetos do Curso do IF Farroupilha. Para tanto, porém, ainda precisamos evoluir muito e utilizar a avaliação como um caminho, fazendo a articulação entre o que foi apresentado na avaliação e a retomada pelo professor no seu processo de ensino. Nota-se, porém, que ainda falta uma conexão mais próxima entre os envolvidos no processo. Acredito, todavia, que alguns dos docentes do próprio curso já interiorizaram essa proposta, outros, porém, ainda não estão completamente preparados para essa mudança, precisando se organizar melhor para uma nova forma de ensinar e fazer a retomada do que foi apreendido. A proposta defendida por este estudo é a implantação do Processo Avaliativo, pautado nos argumentos expostos até aqui. Por fim, nas considerações finais procuro contrapor a ideia proposta inicialmente, o que foi alcançado com o trabalho e as questões possíveis de levantar a partir do estudo dessa nova realidade dos Institutos Federais no Brasil. O texto também analisa o envolvimento dos docentes com a proposta, o Projeto Integrador como alternativa para o Processo Avaliativo e as constatações do que pode ser avançado para alcançar aquilo que o Projeto Integrador tem como proposta – a educação integral dos sujeitos. 71 CONSIDERAÇÕES FINAIS Depois de muitos anos atuando na área educacional surgem dúvidas quanto à prática docente. Quando me propus ingressar no Mestrado pretendia sanar algumas dessas incertezas, entretanto, ao iniciar as atividades percebi que ao invés de saná-las ia adquirindo outras tantas a cada dia de aula, a cada conversa com o colega ou professor, e acabei percebendo que é praticamente impossível ter certeza nesta área, pois estamos trabalhando com seres humanos que, por natureza, são diferentes e se modificam igualmente ao mundo que a todos rodeia. O mesmo ocorreu também com relação ao estudo, pois tinha a intenção de desenvolver somente o Processo Avaliativo, mas com outra “cara”, mais transparente. Durante sua construção, porém, percebi que isso era inviável, pois o mesmo está intimamente ligado a outras variáveis que não podiam ser deixadas de lado, tais como o ensino e aprendizagem, a formação inicial e continuada, o currículo, levando-me por caminhos outros que revelaram minha insegurança quanto ao rumo certo a tomar. Isso gerou em mim uma inquietação ainda maior, só que agora com horizontes ampliados. Este estudo me leva a pensar em propostas para um estudo posterior, com o aprofundamento de algumas dessas questões, o que certamente aumentará ainda mais meus inquietamentos. Esta é a máxima da vida a cada problema que resolvemos surgem outros tantos que nos levam ao aprimoramento na busca de soluções. O que pretendo dizer é que o trabalho da área educacional nunca estará acabado, sempre surgirão novas possibilidades que levarão a outras e, assim, sucessivamente. Procurando sanar esses questionamentos surgiram possíveis novos estudos, como por exemplo, uma aproximação da minha área de atuação, que é a Educação Física, com a proposta de Projeto Integrador que é desenvolvido na instituição, essa atividade pode se constituir em um amplo campo de estudo quem sabe para o doutorado que pretendo realizar, pois abre uma porta para que se possa mostrar a importância dessa 72 disciplina na formação dos sujeitos e que por vezes é deixada de lado e até quem sabe esquecida em algumas instituições de ensino. Os Institutos Federais são uma realidade no país e crescem a cada dia, contudo, ainda precisam ser mais bem estudados quanto as suas alternativas, seus pontos positivos e também os negativos. Esta foi minha intenção ao propor o estudo do Instituto Federal Farroupilha – Campus de Panambi, RS, pois ainda é um local desconhecido para muitas pessoas. Surgiu com uma proposta educacional inovadora, buscando a formação integral dos estudantes, o seu ingresso no mercado de trabalho e a sua inserção social. Para que essa proposta seja realmente posta em prática, ou seja, para que ela saia do papel, ainda é necessária uma modificação das estruturas que há muito tempo vêm se propagando. Refiro-me aqui aos inúmeros ranços que presenciamos na escola, entre eles o Processo Avaliativo, que ainda se constitui em muleta para a manutenção da autoridade do professor, e responsável talvez por uma parcela da evasão escolar existente no país. Durante a produção da dissertação me recordei várias vezes da minha trajetória como estudante e as marcas deixadas pelo Processo Avaliativo. Passados 15 anos, a cada lembrança aumentava a minha perplexidade em verificar que muitas das coisas que me marcaram negativamente ainda se repetem nos dias de hoje. Procurei com esta pesquisa não dar receitas de como se avaliar e nem criticar a postura dos colegas ao realizar sua atividade docente e seu Processo Avaliativo. Busco somente aprender e compreender conjuntamente com os colegas as maneiras mais coerentes de avaliar os alunos, fazer com que eles se desenvolvam em todas suas capacidades e se tornem pessoas capazes de transformar o mundo em que vivem. Nesse ponto preciso reafirmar a dificuldade que é a realização do estudo no próprio local de trabalho, pois ao mesmo tempo em que conhecemos intimamente esse local, ele acaba por se tornar um “limitador” desse processo, pois, acaba por cercear o pesquisador da necessidade de intervenção em alguns momentos, devido ao fato de os “sujeitos” serem conhecidos e até ao grau de amizade que se constitui com os colegas. Mesmo com esses problemas a atividade se constituiu agregadora, porém é necessário se ter a consciência desses pormenores no momento da decisão de realizar essa tarefa dentro do seu próprio local de trabalho. A avaliação em que acredito é bem diferente da que ainda presenciamos, muitas vezes pautada no medo e na autoridade. Ela é mais plural, faz parte de um processo contínuo e que não tem fim, é mais humana, respeita as individualidades e, acima de tudo, procura preparar o estudante para a vida, não se tornando um estigma sentenciador, diferente do que venho 73 presenciando dentro do IF Farroupilha – Campus Panambi onde tenho observado uma visão finalista, baseada quase que exclusivamente no resultado de provas finais. Esses casos não são a maioria, porém ainda se apresentam dentro de uma instituição onde a maioria dos professores tem mestrado e doutorado, isso acaba me deixando bastante preocupado com futuro da educação e dos cursos que formam esses profissionais para atuarem na educação básica. Não poderia deixar de elencar as contribuições que este trabalho trouxe para minha formação, ao ingressar no mestrado abrem-se os horizontes, novas perspectivas aparecem e ideias que tínhamos às vezes se esfarelam como uma bolacha de água e sal ao ser apertada com os dedos. Nos é apresentado um mundo que as vezes nos parece distante, quase que inalcançável sobre a educação escolar brasileira, porém cabe a nós, a nova geração que será responsável pela formação de novos professores, mestres e doutores a tarefa da melhoria desse quadro apresentado hoje. Ficou a certeza de que tudo pelo que passamos, as novas aprendizagens, as discussões em aula, as sessões do grupo focal e a escrita da dissertação deixaram marcas que nunca serão apagadas, pois elas serviram para uma nova compreensão da atividade docente, essa tão importante para a melhoria da qualidade do ensino oferecido em nosso país. Enfim, chego ao final da escrita com a certeza de ter melhorado ao menos um pouco a questão do ensino dos colegas participantes e, é claro, da minha própria prática, além de ter plantado uma semente que pode vir a dar frutos em um futuro muito próximo se a educação for cultivada com carinho e amor. 74 REFERÊNCIAS BERNSTEIN, Basel. A estruturação do discurso pedagógico: classe, código e controle. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996. BEVENUTTI, D. B. Avaliação, sua história e seus paradigmas educativos. Pedagogia: a Revista do Curso Brasileiro de Contabilidade. São Miguel do Oeste, SC, jan. 2002, ano 1, n. 1. p. 47-51. BRASIL. 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De mulher pelada A diversão é limitada e o meu pai não tem tempo pra nada E a entrada no cinema é censurada (vai pra casa pirralhada!) A rua é perigosa então eu vejo televisão (Tá lá mais um corpo estendido no chão) Na hora do jornal eu desligo porque eu nem sei nem o que é inflação - Ué não te ensinaram? - Não. A maioria das matérias que eles dão eu acho inútil Em vão, pouco interessantes, eu fico pu.. Tô cansado de estudar, de madrugar, que sacrilégio (Vai pro colégio!!) Então eu fui relendo tudo até a prova começar Voltei louco pra contar: Manhê! Tirei um dez na prova Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova Decorei toda lição Não errei nenhuma questão Não aprendi nada de bom Mas tirei dez (boa filhão!) Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi 79 Decoreba: esse é o método de ensino Eles me tratam como ameba e assim eu não raciocino Não aprendo as causas e consequência só decoro os fatos Desse jeito até história fica chato Mas os velhos me disseram que o "porque" é o segredo Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente Eu sei que ainda num sou gente grande, mas eu já sou gente E sei que o estudo é uma coisa boa O problema é que sem motivação a gente enjoa O sistema bota um monte de abobrinha no programa Mas pra aprender a ser um ignorante [...] Ah, um ignorante, por mim eu nem saía da minha cama (Ah, deixa eu dormir) Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste - O que é corrupção? Pra que serve um deputado? Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso! Ou que a minhoca é hermafrodita Ou sobre a tênia solitária. Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! [...] Vamos fugir dessa jaula! "Hoje eu tô feliz" (matou o presidente?) Não. A aula Matei a aula porque num dava Eu não aguentava mais E fui escutar o Pensador escondido dos meus pais Mas se eles fossem da minha idade eles entenderiam (Esse num é o valor que um aluno merecia!) Íííh... Sujô (Hein?) O inspetor! (Acabou a farra, já pra sala do coordenador!) Achei que ia ser suspenso mas era só pra conversar E me disseram que a escola era meu segundo lar E é verdade, eu aprendo muita coisa realmente Faço amigos, conheço gente, mas não quero estudar pra sempre! Então eu vou passar de ano Não tenho outra saída Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida Discutindo e ensinando os problemas atuais E não me dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais Com matérias das quais eles não lembram mais nada E quando eu tiro dez é sempre a mesma palhaçada 80 Manhê! Tirei um dez na prova Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova Decorei toda lição Não errei nenhuma questão Não aprendi nada de bom Mas tirei dez (boa filhão!) Encarem as crianças com mais seriedade Pois na escola é onde formamos nossa personalidade Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância a exploração e a indiferença são sócios Quem devia lucrar só é prejudicado Assim cês vão criar uma geração de revoltados Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio... 81 ANEXO 2 INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA Campus Panambi PROJETO TÉCNICO INTEGRADO EM QUÍMICA – 2011 1º Eixo Temático: Ciência, Cultura e Linguagem Dados de Identificação Turma: TÉCNICO EM QUÍMICA INTEGRADO AO ENSINO MÉDIO Ano Letivo: 2011 - 1º semestre Componentes curriculares envolvidos: Português, Educação Física, Matemática, Química, Física, Biologia, Geografia, História, Artes/Música, Filosofia, Sociologia, Química Experimental, Química Inorgânica, Administração e Empreendedorismo, Sistemas de Qualidade Professores envolvidos: Márcia, Jaubert, Roberta, Lucilene, Sandra, Rafaelle, Sylvia, Ericson, Marli, Alejandro, Aline, Rosangela e Fábio 1. Tema: Entendendo o ambiente através da Química. 2. Delimitação do tema: Realização de um projeto integrador que visa desenvolver a aprendizagem do educando, integrando a teoria e prática através da química do cotidiano. 3. Objetivo geral: Desenvolver novas possibilidades de aprendizagens através de um diálogo interdisciplinar, contextualizando a Química e mostrando sua ligação com as diferentes áreas do conhecimento. 4. Objetivos específicos: identificar a relação química e ambiente, considerando as questões econômicas, sociais, políticas e culturais envolvidas; analisar os fundamentos das ciências naturais e sociais; compreender a evolução da cultura e das necessidades humanas e ambientais, tendo como base os conhecimentos estudados. 5. Aspectos a serem investigados pelas disciplinas: Partindo de temas abordados pelas disciplinas estabelecer interrelações com conceitos e teorias mais amplas. Tomando os conteúdos temáticos, não como compartimentos estáticos, mas como repertórios de questões dinamicamente tratadas. Neste sentido, são propostos os seguintes subtemas: a) da Alquimia à Química 82 b) c) d) e) f) g) h) i) j) k) l) m) n) o) p) processo Haber-Bosch: a síntese da NH3 tratamento do lixo urbano química e agricultura: uso de agrotóxicos corantes: da antiguidade aos sintéticos microondas: efeitos positivos e negativos radioatividade e o átomo: ajuda ou risco à humanidade? sais e o corpo humano biocombustíveis tratamento de resíduos ácidos no cotidiano armas químicas tratamento de água e efluentes por que alguns alimentos são mais calóricos? as atividades de um químico espectro luminoso: onde Bohr se faz presente? 6. Justificativa: A química é um dos segmentos da atividade profissional com atuação destacada na Ciência e na Arte. Numa abordagem generalística, o químico pode ser considerado como profissional que faz a ciência, estudando a intimidade dos elementos e substâncias e a sua transformação. A importância da química é cada vez mais crescente para o meio ambiente. Encontrar solução para o paradigma entre a necessidade de consumo dos recursos naturais e a sua preservação é um dos papéis importantes da química atual. Portanto, este projeto é de suma importância para a formação de técnicos em química que atuem na sociedade como agentes de transformação capazes de contribuir para a construção de um ambiente melhor. 7. Metodologia: O projeto será desenvolvido da seguinte forma: a) pesquisa à bibliografia especializada b) visitas técnicas (lixão; indústrias – tratamento de resíduos industriais; Corsan – tratamento de água e efluentes; UFSM ou UFRGS – Laboratórios de: biocombustíveis, radiação nuclear, microondas); c) palestras de profissionais da área (Nutricionista – alimentos calóricos; CRQ – atividades de um químico); d) apresentação dos trabalhos pelos alunos na forma de uma Feira de Ciências; e) produção de um relatório pelos alunos. Observações: A realização desse projeto se dará em grupos de 3 alunos; Cada grupo deverá escolher um ou dois professores orientadores; Em data definida pelo cronograma, os grupos deverão apresentar o projeto com resultados preliminares para os professores envolvidos no projeto integrador. Ao término do trabalho o grupo deverá realizar uma Feira de Ciências, sendo que os cinco melhores trabalhos serão premiados e serão apresentados na Mostra Técnica do Campus. 8. Cronograma: Maio Apresentação dos subtemas 83 Junho e julho Desenvolvimento do projeto juntamente com os orientadores Agosto Visitas Palestras Setembro Visitas Outubro 07 e 08 – Apresentação na Mostra Técnica do Campus. Observação: as datas definidas pelo cronograma poderão sofrer alterações conforme necessidade e concordância dos professores envolvidos no projeto. 84 ANEXO 3 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Prezado (a) Senhor (a), Estamos desenvolvendo uma pesquisa cujo título é “Processo Avaliativo: Diálogos sobre Avaliação no Ensino Técnico”. Este trabalho é fruto de estudos de pós-graduação stricto sensu (Mestrado) em Educação nas Ciências na Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e tem como objetivos perceber a concepção dos professores do ensino técnico sobre seu processo avaliativo. A metodologia escolhida para a realização da pesquisa é o Grupo Focal, pois busca a interação entre os sujeitos da pesquisa, buscando não apenas uma coleta de dados estanque, mas que houvesse uma reflexão dos mesmos. Como dito anteriormente, esta pesquisa será feita através de um Grupo Focal, cujos dados, posteriormente, serão tabulados/transcritos e analisados. Os instrumentos de coleta ficarão sob nossa responsabilidade por um período de cinco anos e serão utilizadas apenas para fins científicos vinculados ao presente projeto de pesquisa, após serão deletados e/ou incinerados. Nós, pesquisadores, garantimos que as informações obtidas serão utilizadas apenas para fins deste estudo, podendo você ter acesso as suas informações e realizar qualquer modificação no seu conteúdo, se julgar necessário. Seu nome e o material que indique sua participação não serão divulgados. Você não será identificada(o) em qualquer publicação (exemplificar) que possa resultar deste estudo. Você tem liberdade para recusar-se a participar da pesquisa, ou desistir dela a qualquer momento, podendo solicitar que suas informações sejam desconsideradas no estudo, sem constrangimento. Mesmo concordando em participar da pesquisa poderá recusar-se a responder as perguntas ou a quaisquer outros procedimentos. Como sua participação é voluntária e gratuita, está garantido que você não terá qualquer tipo de despesa ou compensação financeira durante o desenvolvimento da pesquisa. Eu, Jaubert Menchik, bem como Helena Copetti Callai, assumimos a responsabilidade na condução da pesquisa e garantimos que suas informações somente serão utilizadas para esta pesquisa, podendo os resultados vir a ser publicados. 85 Caso ainda haja dúvidas você poderá pedir esclarecimentos a qualquer um de nós, nos endereços e telefones abaixo: Jaubert Menchik – R. Konrad Adenauer, 720 – Apto 401 - Panambi RS – Tel: 9643-4942 Helena Copetti Callai – Ijuí, RS – Tel (55) 3332-1305 O presente documento é assinado em duas vias de igual teor, ficando uma com o sujeito da pesquisa e outra arquivada com o pesquisador responsável. Eu,_________________________________ CPF_______________, ciente das informações recebidas concordo em participar da pesquisa, autorizando a utilização das informações por mim concedidas e/ou os resultados alcançados. ______________________________________ Assinatura do entrevistado ______________________________________ Jaubert de Castro Menchik 001.277.680-76