METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DO PROBLEMA DE SUPRIMENTO DE
ENERGIA ELÉTRICA EM COMUNIDADES NÃO ATENDIDAS: O CASO DA
COMUNIDADE DE MARUJÁ
Wilson Negrão Macedo (Msc.) *, Luís Guilherme Monteiro Oliveira (Grad.) *, Alaan Ubaiara
Brito (Msc.) *, Roberto Zilles (Dr.) * e João Tavares Pinho (Dr.-Ing.) **.
* Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia da Universidade de São Paulo
Instituto de Eletrotécnica e Energia, Av. prof. Luciano Gualberto 1289, 05508 – 900 SP
** Grupo de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas, DEEC/CT/UFPA
Caixa postal 8605 – Ag. Núcleo Universitário, CEP 66.075 – 900, Belém, PA
E-MAIL: [email protected]
FAX.: 5511816287, FONE: (0XX-11)(3091-2657)
RESUMO
Neste trabalho, apresenta-se uma metodologia de avaliação do problema de
suprimento de energia elétrica em comunidades não atendidas, tomando como base a
comunidade de Marujá, localizada no município de Cananéia, estado de São Paulo. Essa
avaliação se deu através do levantamento da carga instalada na comunidade, onde foram
entrevistadas, através de formulários, 37 famílias tradicionais, que correspondem a 90 % do
total da comunidade. Desses formulários, várias informações foram extraídas tais como:
número de habitantes residentes, edificações, famílias tradicionais, e turistas acolhidos em alta
temporada. Além disso, outras informações de suma importância para a estimação da carga da
comunidade também foram levantadas, a saber: uso de energia elétrica, equipamentos
instalados, uso de outros energéticos e a demanda reprimida.
Com base nessas informações, vários cenários energéticos foram criados, com o
objetivo de estimar as possíveis curvas de carga para a comunidade de Maruja, as quais são de
fundamental importância para qualquer tomada de decisão relacionada à solução do
suprimento de energia elétrica, permitindo uma melhor visualização e compreensão do
problema de suprimento de energia elétrica em comunidades não atendidas.
1. INTRODUÇÃO
A eletrificação em comunidades não atendidas é uma questão essencialmente social, e
levar a energia a essas áreas “surge como um desafio, uma conquista de cidadania, dentro de
uma sociedade com desigualdades sociais e econômicas” (Serpa, 2000). No entanto, a maioria
das tentativas de se alcançar esse desafio tem fracassado pela falta de uma avaliação detalhada
do problema existente em cada comunidade em particular. A necessidade de energia elétrica
em áreas não atendidas depende fundamentalmente das características do contexto em que ela
está inserida tais como: suas atividades econômicas e sócio-culturais, recursos energéticos
disponíveis no local, padrões de demanda, tamanho da carga, grau de dispersão da
comunidade e condições ambientais.
Na atualidade, os programas de eletrificação dessas localidades têm empregado os
sistemas conversores das energias renováveis, por serem considerados como uma alternativa
tecnicamente viável para a geração elétrica em comunidades não atendidas. Porém, a escolha
desses esquemas depende dos fatores mencionados anteriormente, os quais só podem ser
identificados por meio de um processo metodológico que envolve pesquisas de campo em
cada localidade em particular, tal como está sendo apresentado neste trabalho.
Com esse propósito, utilizou-se como base a comunidade de Marujá, a qual utiliza
atualmente como alternativas para suprir suas necessidades energéticas basicamente duas
fontes de energia: fóssil (diesel, gasolina e gás natural) e solar fotovoltaica. Na presente
pesquisa foram consideradas as cargas atendidas por cada um desses sistemas bem como a
potência instalada dos grupos geradores e painéis fotovoltaicos.
2. CARACTERÍSTICAS DA COMUNIDADE DE MARUJÁ
A comunidade de Marujá é uma vila turística localizada dentro do Parque Estadual da
Ilha do Cardoso (PEIC), que pertence ao município de Cananéia. Atualmente, conta com 41
famílias, que têm como principais atividades a pesca e o ecoturismo. De acordo com
informações levantadas em campo, vivem na vila aproximadamente 113 moradores
tradicionais.
Além disso, constatou-se dentro da área abrangida pela pesquisa, que a comunidade de
Marujá possui 73 edificações, sendo 45 de moradores tradicionais e 16 pertencentes a
veranistas, além de escola, igreja, centro comunitário, centro de visitantes e oito diversos
(depósitos, restaurantes, etc.).
No que se refere ao abastecimento de água, este é feito por meio de uma represa
existente na montanha e uma rede de distribuição que atente praticamente a todos os
domicílios. A pressão da rede de distribuição é mantida pela altura manométrica entre a
represa e a vila. Esse aspecto se torna bastante favorável, evitando o uso de energia elétrica
para esse uso final.
2.1. Atividade sócio-econômica mais importante e aspectos sazonais
Os moradores dessa comunidade, que antigamente era conhecida como Praia do Meio,
desenvolvem suas atividades relacionadas com a exploração do turismo; muitos deles
oferecem alojamento e serviços aos turistas, que aparecem principalmente nos finais de
semana, feriados prolongados e nas férias de verão. Paralelamente, realizam também
atividades pesqueiras de subsistência. A característica da comunidade, de dispor tanto de
praias de mar aberto como de lagunas de água salobra e manguezais onde a pesca é
abundante, além das ótimas condições para o turismo ecológico, fez com que os moradores
tradicionais da vila tenham assimilado de maneira positiva as influências desse turismo.
A comunidade possui um total de 180 quartos, sendo 82 para uso próprio dos
moradores e 98 destinados para pousadas. Vale ressaltar que, em média, cada quarto para
pousada hospeda quatro pessoas na alta temporada. No que se refere à área de “camping”
oferecida, constatou-se um total de 226 vagas para barracas, sendo que cada barraca hospeda
em média duas pessoas. De acordo com as informações anteriores, pode se estimar um total
de 844 turistas na alta temporada1 se todas as vagas forem preenchidas.
3. LEVANTAMENTO DA CARGA ELÉTRICA
O levantamento da carga foi subdividido em duas partes: carga atendida pelo sistema
diesel e carga atendida pelo sistema fotovoltaico. Isso foi feito com o intuito de identificar o
número de sistemas fotovoltaicos instalados na comunidade e qual a relevância das cargas
atendidas por esses sistemas em relação ao grupo gerador.
3.1. Carga atendida por sistemas solares fotovoltaicos
A caracterização deste item pode ser visualizada através da tabela 1, onde constam
informações relacionadas à origem da instalação (ECOWATT2 ou próprio), número de
sistemas, potência instalada, capacidade em baterias utilizadas por esses sistemas, além da
carga instalada atendida e o consumo médio.
Tabela 1 – Resumo sobre os sistemas fotovoltaicos instalados em Marujá3.
Tipo
Nº
Próprio
Ecowatt
Total
8
23
31
USO DE ENERGIA ELÉTRICA
Solar fotovoltaica
Pot. Instalada (Wp) Bateria (Ah) Carga Instalada (W)
2.965
3.220
6.185
3.490
3.595
7.085
1.613
2.041
3.654
Consumo Médio
(kWh/mês)4
155,16
170,28
325,44
Os sistemas ECOWATT são todos de 140 Wp5. No que se refere aos sistemas ditos
“próprios”, esses correspondem a sistemas que variam de 45 Wp a 900 Wp, sendo os sistemas
instalados no posto de saúde, centro comunitário e centro de visitantes os que possuem maior
potência instalada (420 Wp, 800 Wp e 900 Wp, respectivamente).
A utilização desses sistemas restringe-se aos horários em que os grupos geradores não
estão em funcionamento, para aquelas edificações que são atendidas por estes, ou aos horários
1
Veraneio, dezembro, janeiro e fevereiro, e datas particulares, como feriados.
Programa comercial iniciado pela antiga Companhia de Energia Elétrica do Estado de São Paulo (CESP)
3
Ressalta-se que a maioria desses sistemas encontra-se instalada inadequadamente e um sistema de 280 Wp
próprio se encontra abandonado.
4
Correspondente ao consumo médio da comunidade.
2
noturnos, para aquelas que não são atendidas por grupo gerador, implicando assim, em um
número médio de utilização de 3 horas em baixa temporada e 4 horas em alta temporada6.
Segundo as informações resumidas na tabela 1, pode-se perceber a subutilização desses
sistemas quando se confronta a capacidade instalada em painéis fotovoltaicos e baterias com o
consumo médio mensal da comunidade. Isso se deve a uma serie de fatores que vão desde a
má instalação dos equipamentos até poucas horas de utilização, devido à presença dos grupos
geradores.
3.2. Carga atendida por grupos geradores
A tabela 2 (ANEXO) mostra de maneira detalhada, a utilização de grupos geradores na
comunidade de Marujá, onde se identificou um total de 15 grupos geradores, sendo esses em
quase sua totalidade alimentados por diesel. Estima-se que esses sistemas são responsáveis
pelo suprimento de mais de 70% da carga elétrica existente na comunidade.
Os valores de consumo médio mensal foram obtidos através do produto entre a
potência de cada equipamento pelo número de horas de sua utilização, informadas pelos
próprios moradores.
Nota-se da tabela 2 (ANEXO), que dos 15 grupos geradores identificados, apenas dois
deixam de funcionar no período de baixa temporada. Por outro lado, percebe-se o aumento
significativo do consumo de eletricidade (e conseqüentemente de combustível) no período de
alta temporada, chegando a ser aproximadamente 63% superior ao período de baixa
temporada.
É possível calcular, a partir das informações da tabela 2 (ANEXO), um custo médio de
aproximadamente R$ 0,857 por kWh gerado por esses sistemas dispersos na comunidade.
Porém, ressalta-se que esse valor não considera outros aspectos importantes, tais como
5
6
Watt-pico (Wp)
Segundo informações dos moradores.
reposição de peças e troca de óleo, o que elevaria ainda mais esse valor. Dentre outros
aspectos, o custo da energia elétrica paga atualmente pelos moradores de Marujá, torna-se um
atrativo muito importante à aplicação de alternativas que utilizem os recursos locais, tais
como o solar e o eólico.
As figuras (1a) e (1b) foram obtidas dos levantamentos de cargas das tabelas 1 e 2 e
com o auxílio das características de consumo descritas pelos moradores entrevistados, onde se
pode perceber uma predominância significativa da utilização dos grupos geradores em relação
aos sistemas fotovoltaicos. As curvas dão uma boa idéia de como se encontram as curvas de
carga da comunidade hoje, referente às duas fontes (solar e diesel).
Diesel
Fotovoltaico
Carga (kW)
Carga (kW)
Curva de carga média em baixa temporada
24
22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
24
22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Curva de carga média em alta temporada
Diesel
Fotovoltaico
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Horas
Horas
(a)
(b)
Figura 1 – Curvas de carga representativas da comunidade de Marujá: (a) período de baixa temporada e (b)
período de alta temporada.
Constata-se através da observação da tabela 2 (ANEXO) a coerência no perfil do
consumo retratado nas figuras (1a) e (1b), no que se refere aos grupos geradores, uma vez que
as potências desses grupos são bem maiores que a potência instalada alimentada por eles, o
que implica em uma operação ainda mais ineficiente caso parte da carga instalada alimentada
por esses sistemas for desconectada. Por essa razão, os moradores não têm a preocupação de
desligar as cargas de suas residências, pois o consumo final de combustível permanecerá
praticamente o mesmo. Nota-se também que a utilização dos sistemas fotovoltaicos restringese basicamente às horas em que os grupos geradores não estão em funcionamento.
7
Valor obtido com base no preço do combustível pago pelos moradores em junho de 2003.
4. OUTROS ENERGÉTICOS
Além do consumo de eletricidade e, conseqüentemente, de combustível (basicamente
diesel), outros energéticos, tais como, pilhas secas ou primárias, baterias recarregáveis8, velas
e gás liquefeito de petróleo (GLP) também foram levantados. No entanto, somente o último
energético possui uma relevância importante em termos de quantidade e custos, uma vez que
poucas famílias utilizam pilhas primárias e velas. Em relação às baterias recarregáveis, estas,
em quase sua totalidade, estão associadas aos sistemas fotovoltaicos mencionados
anteriormente. Por essa razão, este tópico se restringe ao levantamento do consumo e custos
referentes apenas do GLP.
4.1. Consumo de GLP - quantificação e custos
Observou-se, um consumo significativo desse energético, destinado basicamente à
cocção e banho quente. Estima-se também um aumento de quase 60 % desse consumo em
épocas de alta temporada, o que não acontece com o consumo referente ao uso de geladeiras,
para o qual se estimou em torno de 30 botijões por mês, tanto em baixa quanto em alta
temporada.
Dessa forma, pode-se dizer que este último uso final (refrigeração), seria de suma
importância no projeto de um sistema alternativo para o fornecimento de energia elétrica
utilizando os recursos locais. Isso se deve ao fato de que haverá uma substituição de
geladeiras a gás por geladeiras elétricas, tal como mostra o item que trata das aspirações
futuras da comunidade. Estima-se que essa substituição acarretaria para a comunidade uma
redução de custo de aproximadamente 50 % no que se refere a esse uso final (refrigeração),
ou seja, em torno de R$ 405 a R$ 5258 mensais. Uma alternativa para reduzir o consumo
desse energético seria através de um projeto conjunto utilizando coletores solares planos com
8
Segundo Dell e Rand (2001) as baterias podem ser classificadas como baterias secundárias (carga/descarga) ou
acumuladores; este termo está fora de uso na língua inglesa de acordo com os autores, e é mais comum e
aceitável referenciar a mesma como baterias recarregáveis.
complementação elétrica, uma vez que a utilização de chuveiros elétricos para aquecimento
de água para banho poderia tornar o suprimento de energia elétrica por meio de fontes não
convencionais inviável, devido ao grande aumento da potência instalada necessária.
5. DEMANDA REPRIMIDA
Com o intuito de se estimar a curva de carga da comunidade de Marujá, para uma
possível disponibilidade de energia elétrica, levantou-se dentre as famílias entrevistadas quais
as suas principais aspirações de consumo. Essas aspirações estão resumidas na tabela 3, onde
se nota uma quantidade significativa de utilização de chuveiros elétricos. Entretanto, as
aspirações referentes à utilização de chuveiros elétricos não foram consideradas nos cenários
a seguir pelos motivos mencionados no item anterior.
Tabela 3 – Equipamentos almejados pela comunidade, caso tenham disponibilidade de
energia elétrica.
ASPIRAÇÕES FUTURAS
Equipamento
Ventilador
Freezer
Geladeira
Televisores (TV)
DVD
Ferro Passar
Liquidificador
SOM
Maq. Lavar
Computador
Chuveiro
Microondas
Estufa
Batedeira
Iluminação Pública
Nº Famílias
15
5
33
11
1
3
3
4
1
2
12
2
1
1
Nº de pontos
de luz
40
Total
Potência por
equipamento (W)
100
200
200
60
20
1000
300
80
500
180
3500
1200
200
120
Potência por
equipamento (W)
40
Potência total por
equipamento(kW)
1,5
1
6,6
0,66
0,02
3
0,9
0,32
0,5
0,36
42
2,4
0,2
0,12
Potência total por
equipamento(kW)
1,6
61,18
Observa-se da tabela 3 que as aspirações mais significativas no que refere ao consumo
de energia elétrica, seja pela quantidade de famílias que as almejam ou pela própria
8
Valores obtidos com base nos preços do gás pago pelos moradores em junho de 2003.
necessidade e característica de utilização desses equipamentos, correspondem aos quatro
primeiros itens da tabela (Ventiladores, “freezers”, refrigeradores e televisores). Com base
principalmente nesses quatro equipamentos e também na carga já existente, alguns cenários
para obtenção da curva de carga foram criados e são apresentados a seguir.
Para criação dos cenários, foi considerado também um sistema de iluminação pública
constituído de 40 pontos de luz, sendo que cada um deles possuí uma potência de 40 Watts,
como consta na tabela 3.
6. CURVA DE CARGA
O objetivo deste tópico é identificar o comportamento do consumo de energia elétrica
através da análise da curva de carga da comunidade de Marujá, estimada com base no
levantamento de dados obtidos na pesquisa de campo.
Neste tópico são criados dois cenários com base nas informações abordadas
anteriormente, com o intuito de se fazer uma previsão da demanda futura da comunidade de
Marujá, no que diz respeito ao uso de energia elétrica.
CENÁRIO 1
Este cenário foi elaborado com base nas seguintes premissas:
1. A carga instalada é considerada a soma das cargas alimentadas pelos grupos
geradores e sistemas fotovoltaicos, além de um quilowatt (kW), a mais, de demanda reprimida
e as cargas mencionadas no item anterior;
2. A carga já instalada (carga alimentada pelos grupos geradores + carga alimentada
pelos sistemas fotovoltaicos) continuará sendo utilizada, tal como os perfis das figuras 1(a) e
1(b) (no que se refere somente às horas de funcionamento dos grupos geradores), ou seja, no
período noturno de 4 a 6 horas por dia, de acordo com a temporada;
3. O consumo diário se deve basicamente à refrigeração, TV, ventiladores e rádios,
sendo que os ventiladores são utilizados durante o pico de calor (15:00 às 18:00) e também à
noite, em alta temporada;
4. O consumo durante a madrugada corresponde à refrigeração, iluminação pública e
5% da carga instalada da premissa um, correspondente à iluminação residencial residual.
CENÁRIO 2
Com relação ao segundo cenário, este foi obtido com base nas considerações do
cenário anterior acrescido do item cinco descrito a seguir:
5. O fator de utilização (FU) é de 50 % (baixa temporada) e 70 % (alta temporada) da
carga referente à premissa dois. Esses valores foram assumidos com base na educação do uso
racional da energia (uso de interruptores, equipamentos mais eficientes, etc.), o que não
acontece no momento, na comunidade;
As curvas de carga obtidas segundo os dois cenários descritos acima representam o
35
33
31
29
27
25
23
21
19
17
15
13
11
9
7
5
3
1
Curva de carga da Comunidade do Marujá - Obtida
segundo o Cenário 1
Baixa temporada
Alta temporada
Média BT
Média AT
Potência (kW)
Potência (kW)
consumo em quilowatt a cada hora e estão ilustradas nas figuras (2a) e (2b)9.
26
24
22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Curva de carga da Comunidade do Marujá - Obtida
segundo o Cenário 2
Baixa Temporada (FU=0,5)
Alta Temporada (FU=0,7)
Média BT
Média AT
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Horas
Horas
(a)
(b)
Figuras 2 – Curvas de cargas representativas da comunidade de Maruja, obtidas para os períodos de
baixa e alta temporada, segundo dois cenários: (a) Cenário 1 e (b) Cenário 2.
A partir dos resultados, é possível identificar os horários de maior consumo, tanto
durante o dia quanto durante a noite. Esta análise permite estimar o comportamento do
9
Média BT – Demanda média em baixa temporada
Média AT – Demanda média em alta temporada
consumo, bem como estudar as características do sistema de geração de eletricidade
necessário para o atendimento mais adequado da demanda da comunidade de Marujá.
Um outro aspecto muito importante associado à demanda estimada para a comunidade
em questão, está relacionado ao fator de carga, que é definido como a relação entre a demanda
média verificada em um dado intervalo de tempo e a máxima demanda registrada nesse
mesmo intervalo. Quanto maior o fator de carga, melhor caracteriza-se a utilização de energia
elétrica em um sistema (ver gráfico representativo na figura 3).
Figura 3 - Comportamento da demanda diária de uma comunidade hipotética.
Neste exemplo, apresenta-se o comportamento da demanda diária de uma comunidade
hipotética. A demanda máxima é bem superior à média, resultando em um fator de carga
baixo. No caso de uma comunidade isolada, não existe uma demanda a ser contratada; porém,
se um sistema alternativo que utilize os recursos locais for projetado para suprir energia
elétrica, terá que atender determinado valor de demanda limite, que deve ser, neste caso,
próximo de 85. Entretanto, a instalação só fornece essa potência em um pequeno período do
dia, o que implicaria no aumento significativo do custo do sistema alternativo a ser
implantado. Assim, administrar o fator de carga, ou seja, gerenciar o uso dos equipamentos
de forma que a curva de carga torne-se mais plana, permite que o custo de uma solução
alternativa seja menor.
Para que esta gestão seja possível, a administração dos equipamentos deve ser feita
pelos próprios moradores da comunidade que, depois de serem submetidos a um trabalho de
conscientização do uso racional da energia elétrica disponível, determinam os equipamentos
que podem ser desligados e administrados, assumindo o controle e garantindo uma curva de
carga mais plana. Isso se faz necessário quando comparam-se os fatores de carga associados
às curvas de carga estimadas segundo os dois cenários aqui propostos.
Nota-se que a parte crítica das curvas de carga estimadas, tanto para o Cenário 1
quanto para o Cenário 2, refere-se ao período de pico com uma potência de aproximadamente
três vezes maior que a potência média. Logo, isso se torna um aspecto extremamente
importante a ser considerado.
8. CONCLUSÕES
A metodologia apresentada neste trabalho, destinada à avaliação do problema de
suprimento de energia elétrica em comunidades não atendidas, revela-se como uma
ferramenta de grande utilidade no processo de planificação de alternativas de atendimento nos
programas de universalização.
Nota-se a partir das informações obtidas pela metodologia, que há uma série de
justificativas para uma solução alternativa utilizando os recursos locais, no que diz respeito ao
consumo de eletricidade, tais como: muitos geradores a diesel, alto custo do kWh gerado por
esses, possibilidade de gestão na própria comunidade, etc.
Com base no perfil das curvas de carga obtidas com a metodologia proposta e nas
características locais da comunidade de Marujá, constatou-se que uma possível solução para o
problema de suprimento de energia elétrica dessa comunidade seria por meio da implantação
de um sistema híbrido solar-eólico-diesel. Contudo, há também a necessidade de se verificar
os potenciais energéticos solar e eólico existentes na localidade.
Para isso, é necessária a implantação de sistemas que permitam obter essas
informações e trabalhá-las de modo a se constatar a viabilidade ou não dessas alternativas,
que por sua vez só devem ser implementadas com a plena aceitação dos moradores locais.
Com esse propósito, o Laboratório de Sistemas Fotovoltaicos do Instituto de Eletrotécnica e
Energia da Universidade de São Paulo (LSF/IEE/USP) em parceria com o Grupo de Estudos e
Desenvolvimento
de
Alternativas
Energéticas
da
Universidade
Federal
do
Pará
(GEDAE/UFPA), vem realizando o levantamento dos potenciais solar e eólico na localidade
em questão.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DELL, R. e RAND, D. Understanding Batteries. CSIRO Energy Technology: Ed. RS.C.
Victoria, Austrália. 2001. Cap. 1: Energy Store in Batteries. ISBN 08-5404-605-4.
SERPA, P. Eletrificação Fotovoltaica em Comunidades Caiçaras e seus Impactos
Socioculturais. São Paulo: Programa Interunidades de Pós-graduação em Energia da
Universidade
de
São
Paulo,
2001.
291
p.
Tese
de
Doutorado.
ANEXO
Tabela 2 – Grupo geradores instalados em Marujá, levantamento de carga e consumos10.
USO DE ENERGIA ELÉTRICA
Grupo gerador
Nº da
Motor Gerador Combustível Carga
Tempo de Tempo de
edificação (HP) (kVA) Utilizado11 Instalada
Uso do
Uso do
(kW)
Gerador em Gerador em
Baixa
Alta
Temporada Temporada
(h/dia)
(h/dia)
1
4
5
8
12
14
15
16
19
21
22
33
38
41
41a12
Soma
Média
10
9
13
7,5
18
7,5
7,5
7,5
7,5
12
12
10
9
11
9
10
150,5
10,0
7
10
3,5
5
3,5
4
3
4
7,5
7,5
6
5
6
3
5
80
5,3
D
D
D
D
G
D
D
D
D
D
D
D
D
D
G
1,062
1,84
1,62
1,125
1,41
0,74
0,5
0,89
1,44
1,48
3,11
3,17
1,9
1,6
0,81
22,70
1,5
5
0
0
2
5
3
6
6
4
3
4
5
3
4
4
54
3,6
7
5
7
6
5
5
6
7
6
6
5
5
7
5
4
86
5,7
Consumo
Médio em
Baixa
Temporada
(kWh/mês)
91,8
0,0
0,0
67,5
211,5
66,6
82,8
160,0
173,0
133,2
373,0
475,0
186,0
162,0
97,2
2.279,6
152,0
Consumo Qtd. Total de Qtd. Total de Gasto
Gasto
Médio em Combustível Combustível Médio
Médio
Alta
em Baixa
em Alta
Mensal Mensal
Temporada Temporada Temporada em Baixa em Alta
(kWh/mês)
(l/mês)
(l/mês)
(R$)
(R$)
126,0
276,0
340,0
202,5
211,5
111,0
82,8
187,0
260,0
266,4
466,5
475,0
354,0
240,0
97,2
3.695,9
246,4
100
0
0
50
100
65
100
100
120
100
150
120
120
100
40
1.265
84,3
150
225
100
150
100
105
100
100
180
200
200
120
150
150
40
2.070
138,0
150,0
0,0
0,0
75,0
150
97,5
150,0
150,0
180,0
150,0
225,0
180,0
180,0
150,0
60,0
1.897,5
126,5
225,0
337,5
150,0
225,0
150,0
157,5
150,0
150,0
270,0
300,0
300,0
180,0
225,0
225,0
60,0
3.105,00
207,0
A tabela 2 foi obtida com base nas informações que foram fornecidas por cada proprietário do grupo gerador a diesel. Vale ressaltar que nem sempre a carga instalada está sendo utilizada
quando o grupo gerador está em funcionamento e o gasto médio mensal refere-se somente ao gasto com combustível.
11
Diesel (D) e gasolina (G).
12
Edificação encontrada próximo à casa 41.
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METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DO PROBLEMA DE