0 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE PÓS – GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA SABRINA INÊS BATISTA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E O ENSINO – APRENDIZAGEM DE MATRIZES CRISCIÚMA, AGOSTO DE 2005. 1 SABRINA INÊS BATISTA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E O ENSINO – APRENDIZAGEM DE MATRIZES Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, para a obtenção do título de especialista em Educação Matemática. Orientador (a): Marilaine de Fraga Sant’Ana CRISCIÚMA, AGOSTO DE 2005. 2 RESUMO Este trabalho tem a proposta de oferecer questões que complementem as aulas de matemática do Ensino Médio no conteúdo de Matrizes. Estas questões foram elaboradas utilizando a realidade local dos alunos. Apresentam-se as definições sobre os conceitos de matrizes e suas operações, e o surgimento das matrizes, qual a sua origem. Isto serve para nos dar a base conceitual e formal sobre o conteúdo. Seguindo, no desenvolvimento do trabalho serão abordados os problemas com enfoques sobre a realidade da comunidade, de uma forma prática e acessível. Estes problemas podem ser utilizados na introdução dos conceitos de matrizes, por exemplo, o problema do fluxo de carros para introduzir o conceito de adição de matrizes, e também como exercícios extras. Estes problemas podem ser reescritos para a realidade local em que cada comunidade escolar se situa. Como considerações finais, temos que o trabalho poderá ser um incentivo, um colaborador para professores que atuam no Ensino Médio, como mostrar para os alunos que as matrizes são uma forma muito organizada de dispor os números facilitando a compreensão de dados reais que cercam o cotidiano, e com isso poder programar, fazer metas, e construir caminhos com fontes concretas. Não querendo dizer que todas as noções e conceitos que os alunos aprendem na escola devam estar sempre relacionados com a realidade deles, mas sim que devam servir de veículo para desenvolver novas formas de compreender, interpretar e atuar na realidade, tornando-se assim um cidadão reflexivo em relação ao mundo que o rodeia. Palavra-chave: matrizes. conceitos. problemas. 3 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 5 1.1 Objetivos.................................................................................................... 7 1.1.1 Objetivo Geral........................................................................................ 7 1.1.2 Objetivos Específicos............................................................................ 7 1.1.3 Metodologia............................................................................................ 7 2 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................ 9 3 MATRIZES E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS........................................... 15 3.1 Origem das Matrizes................................................................................. 15 3.1.1 Surgimento dos Primeiros Resultados da Teoria da Matriz.............. 16 3.2 Definições e Conceitos de Matrizes........................................................ 17 3.2.1 Tipos de Matrizes................................................................................... 17 3.2.2 Operações com Matrizes....................................................................... 18 3.2.3 Adição e Subtração de Matrizes........................................................... 18 3.2.4 Propriedades da Soma entre Matrizes................................................. 19 3.2.5 Multiplicação de Matrizes...................................................................... 19 3.2.6 Multiplicação de um Número Real por uma Matriz............................. 19 3.2.7 Propriedades da Multiplicação............................................................. 19 3.2.8 Multiplicação entre Matrizes................................................................. 20 3.2.9 Propriedades do Produto entre Matrizes............................................. 20 3.2.10 Matriz Transposta................................................................................ 20 3.2.11 Propriedades da Matriz Transposta................................................... 20 3.2.12 Matriz Inversa....................................................................................... 21 4 3.3 Problemas Envolvendo Matrizes............................................................. 21 3.3.1 Adição de Matrizes................................................................................ 22 3.3.2 Multiplicação de um Número Real por uma Matriz............................. 26 3.3.3 Multiplicação de Matrizes..................................................................... 27 3.3.4 Matriz Inversa......................................................................................... 31 4 MÉTODO HÚNGARO.................................................................................... 34 4.1 Teorema Alocação Ótima......................................................................... 35 4.2 Método Húngaro....................................................................................... 36 4.2.1 Vamos Resolver agora o Problema 1, conhecido o Método Húngaro............................................................................................................ 36 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 41 REFERÊNCIAS................................................................................................. 43 5 1 INTRODUÇÃO Numa aula de Matemática, números não bastam para conseguir a atenção dos alunos. Não pode ser desprezada a informação que trazem de casa, da rua, etc. Segundo Imenes (2002, p.18) “... o principal erro é gastar 95% do tempo das aulas fazendo continhas, “o ensino deve estar voltado à resolução de problemas”, diz ele ainda: “o equívoco é do modelo, não das pessoas”. Nada mais empolgante para nossos alunos do que conseguirem enxergar aplicações concretas sobre os conteúdos que aprendem em sala de aula, daí seria mais claro conseguir responder aquelas questões que nos deixam frustrados, como por exemplo, “por que aprender matemática? Onde vou usar isso?” Segundo Iara Cristina Bazan da Rocha (2001, p.78), “o currículo da matemática está repleto de conteúdos de alto nível de abstração que não tem ligação com a vida dos alunos”, com base neste argumento isso aumenta a dificuldade de compreensão desestimulando e desinteressando os alunos. Ainda diz, “eu não estou afirmando que se deve ensinar apenas aqueles conhecimentos necessários no cotidiano do aluno, porque isso seria negar-lhe conhecimentos, ... acredito sim, que é preciso partir da realidade do educando, daquilo que tem significado para ele”. “Um dos problemas mais sérios da educação é a relação da escola em todos os níveis, até a universidade, com a sociedade. A escola privilegiando a memorização e a repetição, automatiza o aluno”, ( FAINGUELERNT, 2003, p.83). O 6 fracasso no ensino de matemática é decorrente do fracasso do ensino, da escola em geral. Ser professor não é só ensinar o domínio de uma técnica. O professor deve ser um educador. Educar deve ser um ato de opção e também de compromisso com o aluno e a sociedade. Por trabalhar com o Ensino Médio e sentir muito descaso dos alunos com o conteúdo de matrizes, mesmo eles achando que o conteúdo é um dos mais fáceis, é que senti a necessidade de aprofundar meus conhecimentos nesta área. Resolvi então, elaborar este trabalho, buscando problemas em que fosse possível a aplicação imediata de matrizes como uma introdução de conteúdos, em vez de início formal e abstrato como venho trabalhando. O trabalho foi realizado no município de Osório/RS, que é uma localidade que possui muitas lagoas, propiciando o comércio de areia, é uma cidade de passagem, pois fica em um ponto estratégico do litoral norte do Rio Grande do Sul. Observando as características da cidade surgiu a motivação para elaborar os problemas que estão presentes neste trabalho, relacionando as características locais com o conteúdo formal de matrizes. No terceiro capítulo apresentamos uma rápida descrição sobre a história e as definições de matrizes. Neste mesmo capítulo serão abordados os problemas envolvendo matrizes, onde estes podem ser utilizados como uma introdução de conteúdos ou simplesmente como exercícios extras. No quarto capítulo abordaremos o teorema da alocação ótima, que para ser aplicado é necessário o conhecimento do método húngaro, que também está neste capítulo. Dois problemas exemplificam a aplicação deste método. 7 1.1 Objetivos 1.1.1 Objetivo Geral Proporcionar ao aluno de Ensino Médio, aplicações práticas do conteúdo de matrizes, mostrar para ele em que áreas profissionais são desenvolvidas e necessárias à aplicação deste conhecimento. 1.1.2 Objetivos Específicos Pesquisar a história do estudo de matrizes; Revisar a bibliografia existente no que se refere a problemas de matrizes; Selecionar o material e os problemas práticos; Relacionar os problemas com a comunidade escolar local. 1.1.3 Metodologia Este trabalho terá como metodologia a pesquisa bibliográfica, realizada na cidade de Osório/RS. A análise nas bibliografias existentes será feita a partir das pesquisas sobre matrizes, bem como a descrição e a atribuição de seus significados. A pesquisa terá enfoque maior em encontrar problemas práticos que envolvam matrizes. 8 A partir dos problemas selecionados, será feita a relação entre a aplicação e a realidade escolar local. 9 2 REFERENCIAL TEÓRICO A Matemática surgiu para resolver problemas do cotidiano das pessoas. Problemas estes que vão do mais simples ao mais complexo, dependendo da realidade e interesse das pessoas. Segundo Charmay (apud, PARRA, 1996, p. 36). Sabemos que na história da matemática, os primeiros indícios de construção de conhecimento matemático são heranças dos povos egípcios (2500 até 320 a.C.), onde usavam a matemática para resolução de problemas práticos geralmente ligados ao comércio, construções de habitações e os grandes monumentos estão no mundo até hoje, como as grandes pirâmides. A resolução desses problemas era feita de maneira empírica, não havendo regras gerais para solução de problemas semelhantes (FAINGUELERNT, 2003). Já a civilização grega, apesar de também desenvolver a matemática utilitária, dedicou-se fundamentalmente a organização formal da produção egípcia e babilônica. Assim, a matemática ganhou uma linguagem simbólica própria, substituíram-se às soluções particulares pelas generalizações e as experimentações pelo método dedutivo. Passou-se então a conceber como “matemática verdadeira” uma matemática formal, pretensamente baseada em pura especulação intelectual, sem qualquer ligação com o mundo real. Para o pensamento idealista as teorias desenvolvidas por processos puramente mentais determinariam a realidade, os fenômenos naturais. D’Ambrósio, consegue claramente identificar a diferença entre a matemática utilitária e a matemática dos intelectuais, conforme diz: 10 Platão distinguia claramente uma matemática utilitária, importante para comerciantes e artesãos, mas não para intelectuais, para quem defendia uma matemática abstrata, fundamental para aqueles que seriam os dirigentes, a elite. (D’AMBRÓSIO, 1996, p. 36). Com isso vemos que a matemática brotou de necessidades práticas do cotidiano de uma determinada civilização, logo também podemos nós professores resgatar essa prática para dentro de nossas salas de aula. A Matemática tem se construído como resposta a perguntas traduzidas em outros tantos problemas. Tais perguntas tem tido variações em suas origens e em seu contexto: problemas da natureza doméstica, problemas formulados em estreita vinculação com outras ciências. Porém, este método de aprendizagem da matemática, não é realizado sem dificuldades. Os problemas geralmente são encarados com uma certa resistência: “as ferramentas ou noções elaboradas em uma determinada época ocorrem, com efeito, em um contexto cultural, sócio-econômico, [...] que não é aquele em que vivem nossos alunos”, conforme afirma (PARRA, 1996, p. 36). Talvez este seja o principal enfoque que deve ser levado em conta no ensino com esta metodologia: o contexto sócio-econômico-cultural do aluno, para que tenha sentido, pois quando inserido na escola ele já vem com uma bagagem de conhecimentos. Segundo (PARRA, 1996, p.36): A questão essencial do ensino da matemática é então: como fazer para que os conhecimentos ensinados tenham sentido para o aluno? O aluno deve ser capaz não só de repetir ou refazer, mas também de ressignificar em situações novas, de adaptar, de transferir seus conhecimentos para resolver novos problemas. No princípio é desvendado as noções matemáticas como ferramentas para resolver problemas, que permitirá aos alunos construir o sentido. Só depois estas ferramentas poderão ser estudadas por si mesmas. Piaget destacou o papel da ação na construção de conceitos. não é feita, obrigatoriamente, pela manipulação de material concreto, mas de uma ação 11 problematizadora, “pensamento-ação”, que tende a constatação por parte do aluno e o que dá sentido aos conceitos ou teorias são os problemas que eles permitem resolver. Parra (1996, p.43) ao abordar sobre a existência do aprendizado em que [...] a atividade matemática consiste com freqüência na elaboração de uma estratégia, de um procedimento que permite aplicar o resultado de uma ação ainda não realizada ou não atual, a respeito da qual se dispõe de determinadas informações. [...] só existe aprendizado quando o aluno percebe que existe um problema para resolver. Além de tudo temos ainda as idéias de Etnomatemática, tendência da Educação Matemática, que para Fiorentini (1995, p.26), a Etnomatemática tem como idéias principais: [...] o ponto de partida do processo ensino-aprendizagem seriam os problemas da realidade. Estes seriam identificados e estudados conjuntamente pelo professor e pelo alunos. A relação aluno-professor é dialógica: troca de conhecimentos entre ambos, atendo sempre à iniciativa dos primeiros. O método de ensino preferido por essa tendência será, portanto, a problematização (tanto do saber popular como daquele produzido pelos matemáticos) [...] trata-se de um método de ensino que completa a pesquisa e o estudo/discussão de problemas que dizem respeito à realidade dos alunos. Na atuação em sala de aula temos que realmente saber o real significado desta metodologia, a resolução de problemas, pois é comum confundir problemas com atividades de verificação do conhecimento matemático. Segundo Decon (2002, p.54) “a acepção usualmente atribuída à palavra ‘problema’ na Matemática escolar é limitada e por vezes equivocada”. Para o autor Decon (2002, p.54) “os problemas são entendidos como uma atividade que envolve adestramento, treinamento do uso de alguma habilidade específica do conhecimento matemático e, previamente conhecida pelo aluno”. Resolver um problema é encontrar meios desconhecidos para um fim nitidamente imaginado. Se o fim por si só não sugere de imediato os meios, 12 se por isso temos que procurá-los refletindo conscientemente sobre como alcançar o fim temos de resolver um problema. (POLYA, apud DECON et al, 2002, p.55). E ainda: [...] podemos dizer que o significado da resolução de problemas na perspectiva de trazer contribuições para a educação matemática reside no fato de o aluno ser estimulado a questionar sua própria resposta, a questionar o problema, a transformar e gerenciar dados de um problema, a formular novos problemas e conjecturas, a produzir suas próprias estratégias, o que, por um lado, abre a oportunidade de os alunos ampliarem seus conhecimentos acerca de conceitos e procedimentos inerentes à matemática e, por outro, desencadeia uma nova perspectiva dos alunos diante dos problemas, da Matemática, da sociedade e do mundo em geral. (DECON, 2002, p. 59). Segundo D’Ambrósio (1996, p. 36) [...] a instrumentação para a vida depende, numa democracia, de uma preparação para a participação política, para bem votar e para acompanhar os procedimentos políticos. Para isso há necessidade de alguma capacidade de analisar e interpretar dados estatísticos, de noções de economia e da resolução de situações de conflito e de decisão. Assim, não podem faltar, no currículo, estudos de estatística e probabilidade, economia e situação de conflito. Conforme D’Ambrósio (2001, p. 112) relata em seu artigo para a revista Educação Matemática, “o grande desafio que nós, educadores matemáticos, encontramos é tornar a matemática interessante, isto é, atrativa; relevante, isto é, útil; e atual, isto é, integrada no mundo de hoje”. O fracasso escolar, particularmente em educação matemática, é irreversível no quadro conservador que predomina. A sociedade está mudando, as crianças estão mudando, o conhecimento está se aperfeiçoando, e para isso nós professores em sala de aula é necessário reavaliar as nossas práticas para também conseguir se renovar juntamente com a comunidade que está em nossa volta. A sociedade está mudando muito rápido que muitas vezes nossos alunos possuem mais informações e tecnologias avançadas em suas casas, como 13 computador, internet, DVD, que os professores. E como então conseguir a atenção desses adolescentes com conteúdos remotos sem graça e de pura abstração. É por isso que cada vez mais precisamos formular problemas em que consigamos relacionar o conteúdo formal com a realidade local, pois estamos tentando alguma coisa, e fazendo alguma coisa, agora o que não podemos permitir acontecer é deixar de tentar. Não é possível ignorar a sociedade que está a nossa volta e o sistema em que vivemos, igualmente, a matemática e a educação não podem ser insensíveis aos problemas maiores afetando o mundo moderno, principalmente a exclusão de indivíduos, comunidades, e até nações, dos benefícios da modernidade. A matemática é o maior fator de exclusão nos sistemas escolares. O número de reprovações e evasões é intolerável. Faz-se necessário ampliar as oportunidades de escolaridade e de pesquisa com a utilização plena dos recursos de ensino à distância. E naturalmente repensar, profundamente, os modelos correntes de avaliação. A violência urbana e o crescente uso de drogas estão presentes no nosso cotidiano. Isso se insere numa questão maior, que não pode ser ignorada, que é a violação da paz, em suas várias dimensões: paz interior, paz social, paz ambiental e paz militar. Essa questão maior, geralmente ignorada por matemáticos e educadores matemáticos, tem tudo a ver com o desgaste e o desinteresse dos alunos pela educação e pelas aulas de matemática. Naturalmente, todos os esforços para dirigir a ciência para o objetivo maior de uma humanidade feliz e digna dependem de uma ética científica e tecnológica e da incorporação de valores no fazer científico e tecnológico. 14 3 MATRIZES E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS 15 Neste capítulo apresentamos a origem, definições e conceitos das matrizes. Os problemas aqui relacionados poderão ser utilizados em sala de aula como introdução de conteúdo ou como exercícios extras sala de aula como introdução de conteúdo ou como exercícios extras. 3.1 Origem das Matrizes É um conjunto de números que são operados essencialmente da mesma maneira, isto sugere tratá-los em bloco, de forma única. Esta forma de tratamento é dada através do uso de elementos matemáticos chamados matrizes. Foi apenas em meados do século XIX que as matrizes tiveram sua importância detectada e saíram da sombra dos determinantes, pois alguns matemáticos da época como Sylvester ainda via as matrizes como meros ingredientes dos determinantes. Conforme o texto do site www.expoente.com.br o primeiro a lhes dar um nome foi Cauchy, por volta de 1826, ele as chamou de tableau, que significa tabela. O nome matriz só veio com James Joseph Sysvester, 1850. Seu amigo Cayley, com sua famosa Memoir on the Theory of Matrices, 1858, divulgou esse nome e começou a demonstrar sua utilidade. Conforme o dicionário Mirador (1992, p.112) matriz significa: “...2. lugar onde alguma coisa se gera ou cria. 3. Aquilo se gera. ... 7. Número complexo cujos termos, agrupados em quadro retangular, permitem operações algébricas, aplicáveis sobretudo á teoria do átomo...” 16 Atualmente, as matrizes são muito utilizadas em várias áreas de conhecimento. Suas aplicações se dão na Matemática, Física, Engenharia e Computação. 3.1.1 Surgimento dos Primeiros Resultados da Teoria das Matrizes Costuma-se dizer que um primeiro curso de Teoria da Matrizes – ou de sua versão mais abstrata, a Álgebra Linear – deve ir no mínimo até o Teorema Espectral. Pois bem, esse teorema e toda uma série de resultados auxiliares já eram conhecidos antes de Cayley iniciar a estudar as matrizes como uma classe notável de objetos matemáticos. Como se explica isso? Esses resultados, bem como a maioria dos resultados básicos da Teoria das Matrizes, foram descobertos quando os matemáticos dos séculos XVIII e XIX passaram a formas através da notação e metodologia matricial, mas naquela época elas eram tratadas escalarmente. Mostremos aqui a representação de uma forma quadrática de duas variáveis, tanto via notação escalar com a mais moderna notação matricial: Q(x,y)=ax² + 2bxy + cy² = x y a b x · · ac y O primeiro uso implícito da noção de matriz ocorreu quando Lagrange C. 1790 reduziu a caracterização dos máximos e mínimos, de uma função real de várias variáveis, ao estudo do sinal da forma quadrática associada à matriz das segundas derivadas dessa função. Sempre trabalhando escalarmente, ele chegou à conclusão que hoje expressamos em termos de matriz positiva definida. Após 17 Lagrange, já no século XIX, a Teoria das Formas Quadráticas chegou a ser um dos assuntos mais importantes em termos de pesquisa, principalmente no que toca ao estudo de seus invariantes. Essas investigações tiveram como subproduto a descoberta de uma grande quantidade de resultados e conceitos básicos de matrizes. Assim que podemos dizer que a Teoria das Matrizes teve como a mãe a Teoria das Formas Quadráticas, pois que seus métodos e resultados básicos foram lá gerados. Hoje, contudo, o estudo das formas quadráticas é um mero capítulo da Teoria das Matrizes. 3.2 Definições e Conceitos de Matrizes Matriz é um conjunto de números dispostos em m linhas e n colunas. Dizemos que a matriz tem ordem m x n (lê-se: ordem m por n). Uma matriz A de ordem m x n, pode ser indicada como A=(aij)mxn, onde ali é o elemento da linha i e coluna j da matriz. 3.2.1 Tipos de Matrizes 1) Matriz linha: possui apenas 1 (uma) linha; 2) Matriz coluna: possui apenas 1 (uma) coluna; 3) Matriz quadrada: possui o mesmo número de linhas e de colunas; 4) Matriz diagonal: é uma matriz quadrada que possui os elementos da diagonal principal diferentes de zero e os demais elementos iguais a zero; 18 5) Matriz identidade: é uma matriz diagonal que possui os elementos da diagonal principal iguais a 1 (um) e os demais elementos iguais a zero; 6) Matriz nula: possui todos os elementos iguais a zero; 7) Matriz triangular superior: é uma matriz quadrada em que os elementos localizados abaixo da diagonal principal são nulos; 8) Matriz triangular inferior: é uma matriz quadrada em que os elementos localizados acima da diagonal principal são nulos. 3.2.2 Operações com Matrizes As operações possíveis de serem realizadas entre duas ou mais matrizes são a adição, subtração, multiplicação e transposição. 3.2.3 Adição e Subtração de Matrizes Para somarmos ou subtrairmos duas matrizes basta que somemos ou subtraiamos os seus elementos de mesma posição. Nas operações de adição e subtração de matrizes só podemos somar ou subtrair matrizes de mesma ordem 18 matriz resposta terá a mesma ordem das matrizes somadas ou subtraídas. Desta forma, a soma A(m x n) + B(m x n)= C(m x n). 3.2.4 Propriedades da Soma entre Matrizes a) Comutativa: A + B = B + A 19 b) Distributiva: (A + B) + C = A + (B + C) c) Matriz Neutro: A + 0 = 0 + A = A d) Matriz Inversa: A + (-A) = (-A) + A = 0 3.2.5 Multiplicação de Matrizes Separamos a multiplicação de matrizes em dois casos: multiplicação de um número real por uma matriz e multiplicação de matrizes entre si. 3.2.6 Multiplicação de um Número Real por uma Matriz Para multiplicarmos um número real por uma matriz, basta que cada elemento da matriz seja multiplicado pelo número real em questão. 3.2.7 Propriedades da Multiplicação de um Número Real por uma Matriz a) k. (n. A) = (k.n).A b) (k+n). A = k.A + n.A c) k.(A + B) = k.A + k.B d) 1.A = A e) 0.A = A f) K.0 = 0 3.2.8 Multiplicação entre Matrizes 20 Para que exista o produto de duas matrizes A e B, o número de colunas de A, tem que ser igual ao número de linhas de B. Logo, a matriz resposta terá o número de linhas de A e o número de colunas de B, assim, A(m x n) x B(n x q) = C(m x q). 3.2.9 Propriedades do Produto ente Matrizes a) A.B é diferente de B.A b) (A.B).C = A.(B.C) c) C.(A + B) = C.A + C.B d) (A + B).C = A.C + B.C e) A.I = I.A f) A.0 = 0 3.2.10 Matriz Transposta A matriz transposta é conseguida quando trocamos linhas por colunas e vice-versa. 3.2.11 Propriedades da Matriz Transposta a) (A) t =A t t b) (A + B) = A + B t c) (n.A) = n.A t t t t d) (A.B) = B . A t 21 t e) no caso de matrizes quadradas, se A = A, então dizemos que a matriz A é simétrica t f) ainda para matrizes quadradas, se A = -A, dizemos que a matriz A é anti-simétrica t g) sendo A uma matriz anti-simétrica, temos que A + A = 0 (matriz nula) 3.2.12 Matriz Inversa Chamamos de matriz inversa á matriz quadrada de ordem n que, ao ser multiplicada pela matriz inicial, resulta na matriz identidade, ou seja: A . A = In 3.3 Problemas Envolvendo Matrizes Os problemas propostos estão direcionados conforme a realidade de Osório/RS, que por sua vez é uma cidade que possui muitas lagoas e com isto a exploração do comércio de areias acarreta um grande número de jazidas. As jazidas aqui citadas serão identificadas por letras maiúsculas. Osório é uma cidade que possui uma agricultura de arroz muito forte, onde há muitas terras, conforme será mostrado no exemplo 2, com isso há muitas vendas de hectares de terras. 3.3.1 Adição de Matrizes 22 1) Na época de final de ano a Polícia Rodoviária Federal de Osório/RS, faz uma contagem de quantos veículos trafegam passando por Osório/RS. O registro aqui abordado é realizado no fim de semana de Natal e do Ano Novo durante três dias consecutivos: Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado, em dois horários classificados de maior índice de tráfego de veículos pela PRF/RS, que são das 13 horas às 14 horas e das 19 horas às 20 horas, conforme mostram as tabelas abaixo: Tabela 1 – Registro de maior índice de tráfego (Matriz Natal) Hora 13H – 14H 19H – 20H Dia Quinta- feira Sexta- feira Sábado 300 800 900 630 1560 1800 Fonte: Sabrina Inês Batista Tabela 2 – Registro de maior índice de tráfego (Matriz Ano Novo) Hora 13H – 14H 19H – 20H Dia Quinta- feira Sexta- feira Sábado 432 953 2040 660 3840 2880 Fonte: Sabrina Inês Batista Qual o número total de carros que passou pela cidade de Osório/RS nos dois finais de semana, conforme a contagem realizada pela PRF/RS? Solução: Com este tipo de problema, conseguimos introduzir o conceito de adição de matrizes com a realidade local, sem a formalidade do conceito abstrato em si. Assim é possível que o aluno possa relacionar a aplicação real com o conceito formal (muitas vezes abordado abstratamente). 23 O próprio aluno será capaz de adicionar as duas matrizes sem conhecer o significado da definição do conceito de adição de matrizes. Logo, o número total de veículos que passaram por Osório, onde a Polícia Rodoviária Federal (PRF) coletou os dados é a soma das duas matrizes. Então, temos: 300 630 800 1.560 900 1.800 + 432 660 953 3.840 2.040 2.880 = 732 1.290 1.753 5.400 2.940 4.680 Claro, que sabemos que entrarão mais carros para o Litoral Norte do Rio Grande do Sul, entre os horários que os dados não foram coletados. Com este tipo de problema, podemos explorar outras idéias, como por exemplo: a) Quantos carros passam por minuto no posto da PRF/RS? b) Qual seria a matriz minuto nesses dias e nesses horários? c) Qual a média de pessoas que se direcionam para o Litoral Norte, se a média de pessoas por carro é de três? d) Como fica a rede de esgoto das cidades litorâneas? As matrizes são instrumentos matemáticos que facilitam o manuseio dos números distribuídos em tabela, oferecendo uma organização dos dados recolhidos, mostrando uma visão mais ampla e concreta do que está acontecendo a nossa volta. Com isso podemos programar, fazer planos para melhorar a qualidade de vida da região, onde é possível valorizar os empreendimentos característicos de uma determinada região. 24 Osório, contudo é uma cidade de passagem e por ela passam milhares de pessoas em épocas festivas principalmente, e por que não incentivar a população a realizar trabalhos com dados matematicamente reais? Portanto conseguimos ver que quando formulamos problemas que envolvem a realidade local, ampliamos o conhecimento e abrimos fronteiras para os nossos alunos, mostrando que a matemática surgiu no mundo para solucionar problemas reais e cotidianos. 2) Considerando as produções de sorvete de quatro sabores de uma sorveteria artesanal nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, que são distribuídos em 3 potes diferentes com os seguintes pesos 500 ml, 1000ml e 2000ml. Qual seria a produção total dos três meses? Tabela 3 – Produção de Dezembro Sabores Chocolate Morango Creme Flocos Potes 500 1000 2000 Sabrina Inês Batista 131 89 50 200 75 50 150 60 50 205 80 50 Tabela 4 – Produção de Janeiro Sabores Chocolate Morango Creme Flocos Potes 500 1000 2000 150 73 610 250 100 70 175 114 50 193 32 65 Fonte: Sabrina Inês Batista Tabela 5 – Produção de Fevereiro Sabores Chocolate Morango Creme Flocos 25 Potes 120 43 32 500 1000 2000 Fonte: Sabrina Inês Batista 80 25 28 65 32 41 31 17 18 3) Uma indústria automobilística produz dois modelos, nas cores azul, verde e branco, nos meses de agosto e setembro, conforme mostra as tabelas abaixo: Tabela 6 - Agosto Modelo A Cor Azul Verde Branco B 200 190 180 150 120 100 Fonte: Sabrina Inês Batista Tabela 7 - Setembro Modelo A B Cor Azul Verde Branco 220 205 210 170 130 110 Fonte: Sabrina Inês Batista Qual a produção total desses meses? 4) Para facilidade de cálculo e entendimento, uma loja vende quatro tipos diferentes de mercadorias (a, b, c, d) e que o programa de controle de estoque dessa loja seja matricial. a) Que matriz quadrada representaria o estoque mensal inicial, sabendo que no dia primeiro do mês havia 80 unidades de a, 50 unidades de b, 35 unidades de c e 50 unidades de d? 26 b) Que matriz quadrada V representaria a venda mensal, supondo que naquele mês o movimento foi de 70 de a, 60 de b, 20 de c e 35 de d? c) Que matriz quadrada C representaria as compras mensais para reposição de estoque, supondo que naquele mês as compras foram 90 de a, 50 de b, 20 de c e 45 de d? 3.3.2 Multiplicação de um Número Real por uma Matriz 1) Suponhamos que uma empresa produz três sabores de sorvete e cada sabor tem os seguintes ingredientes, conforme mostra a tabela abaixo: Tabela 8 – Matriz Sabor Ingredientes Leite Sabor (litros) Chocolate Creme Flocos 20 40 15 Chocolate Baunilha (I) (mg) 700 0 450 0 500 40 Liga (mg) 10 14 8 Fonte: Sabrina Inês Batista Para aumentar a produçao de sorvetes em 40%, quanto será preciso de cada ingrediente? Solução: Um aumento de 40% significa multiplicar os valores dos elementos por 0,40. Aumentar em 40% um valor é somar a ele 40% do seu próprio valor. Daí: s = sorvete s aumentar 40% s + 40%s = s + 0,4s = s (1 + 0,4) = 1,4.s 27 Logo, devemos multiplicar o valor inicial de cada ingrediente por 1,4. Então temos: 1,40 x 20 700 0 10 40 0 500 14 15 450 40 8 = 28 980 0 14 56 0 700 19,6 21 630 56 11,2 2) Para produzir um aparelho eletrodoméstico, uma indústria gasta 5 peças de tipo a, 3 do tipo b, 1 do tipo c e 4 do tipo d. Supondo que o estoque da empresa no início do mês fosse 7000 peças de a, 4000 de b, 1500 de c e 5000 de d, responda: a) Qual é a matriz estoque inicial e qual é a matriz C, peças consumidas por um aparelho? b) Qual é a equação matricial que representa a matriz estoque e do número x de aparelhos produzidos por mês? c) Supondo que a indústria produziu no mês 1000 aparelhos, qual é o estoque, sem reposição, dessas peças no final do mês? 3.3.3 Multiplicação de Matrizes 1) Uma doceira produz negrinho e branquinho. Para fazer negrinho precisam de uma lata de leite condensado, uma xícara de açúcar, uma colher de manteiga e uma xícara de Nescau. E o branquinho uma lata de leite condensado, uma xícara de açúcar e três colheres de manteiga. Com esta receita ela consegue fazer 60 unidades de cada doce. 28 Tabela 9 – Matriz Ingredientes Doces Negrinho Branquinho Ingredientes 400 45 20 45 Leite condensado (mg) Açúcar (g) Manteiga (g) Nescau (g) 400 45 60 0 Fonte: Sabrina Inês Batista Em dezembro foram encomendados 1250 negrinhos e 1100 branquinhos. Em novembro 500 negrinhos e 450 branquinhos. Qual será o número necessário de ingredientes para produzir a encomenda? Tabela 10 – Matriz Quantidade Mês Novembro Dezembro Doces Negrinho Branquinho 500 450 1250 1100 Fonte: Sabrina Inês Batista Solução: a) Precisa ver quantas receitas precisará para conseguir entregar a encomenda. Negrinho: Branquinho: 500% 60 9 1.250% 60 21 450% 60 8 1.100% 60 19 Tabela 11 – Matriz Receita Mês Novembro Dezembro Receita Negrinho Branquinho 9 8 21 19 29 Fonte: Sabrina Inês Batista b) Multiplica-se a matriz ingrediente pela matriz receita: 400 400 9 21 6.800 16.000 45 45 8 19 765 1.800 20 20 660 1.560 45 0 405 945 x = c) A matriz resposta é a matriz ingrediente/receita. Tabela 12 – Matriz Ingredientes/Receita Receita Negrinho Branquinho Ingredientes Leite condensado (mg) Açúcar (g) Manteiga (g) Nescau (g) 6.800 765 660 405 16.000 1.800 1.560 0 Fonte: Sabrina Inês Batista 2) A tabela a seguir mostra nas linhas os sabores de sorvete mais consumidos e nas colunas o número de consumidores durante o verão de 2002 até o verão de 2004. Tabela 13 – Matriz Sorvete/Ano Ano Sorvete Flocos 2002 2003 2004 3.825 2.548 2.977 30 2.198 2.210 3.123 5.617 3.808 4.028 1.445 1.766 2.738 Creme Chocolate Morango Fonte: Sabrina Inês Batista A matriz anterior pode ser multiplicada por uma matriz que traga o valor de cada sabor de sorvete, para obterem os valores arrecadados em cada um deles. Podem também ser multiplicada por uma matriz que indique o valor das diferentes formas de vender o sorvete, por exemplo, que indique o preço da casquinha, o preço do copinho, o preço do cascão e o preço da cestinha. Contudo podemos observar que se pode adequar os problemas com a nossa realidade local, motivando cada vez mais os alunos para aprender a matemática. 3) Uma indústria fabrica três modelos diferentes de televisores. A tabela 14 mostra o número de teclas e alto-falantes usados em cada aparelho, A, B e C, e a tabela 15 mostra produção que a fábrica planeja fazer para os mesmos de novembro e dezembro: Tabela 14 – Matriz Componente Aparelho A Componentes Teclas Alto-falantes Fonte: Sabrina Inês Batista B C 10 12 15 2 2 4 Tabela 15 – Matriz Modelo Mês Novembro Dezembro Modelo 31 A B C 800 1.000 500 2.000 1.500 1.000 Fonte: Sabrina Inês Batista Quantas teclas e quantos alto-falantes serão necessários para a produção dos dois meses? 3.3.4 Matriz Inversa Segundo Di Pierro Netto (200) podemos conferir o problema abaixo: 1) Com o advento da Internet como meio de comunicação, em algumas áreas, para que uma mensagem possa ser enviada com segurança, ela é codificada. Uma forma de codificar uma mensagem é utilizando matrizes e suas inversas. As letras do alfabeto podem ser associadas a números, como 0 para o espaço em branco, 1 para a letra A, 2 para a letra B, e assim sucessivamente. Então, a mensagem pode ser transformada numa seqüência numérica, no caso, uma matriz B. O que se faz: multiplica-se uma matriz A inversível pela matriz B, obtendose a matriz AB. A mensagem é enviada na forma da matriz AB. O receptor dessa -1 mensagem precisará ter a matriz A para, multiplicando decodificar a mensagem enviada, pois: A x (AB) = B (matriz original da mensagem). Observe o seguinte exemplo: -1 A pela matriz AB, 32 Seja A = 1 2 a matriz codificada de mensagens 2 3 Sua inversa é dada -1 Por = A x A = 2 3 c d 0 1 1 2 . a b = 1 0 -1 A = 2 -1 -3 2 A mensagem a ser codificada é “Em Estudo Matrizes”, que colocada na forma de matriz dará: E U E S T U D O M A T R I Z E S 5 21 5 19 20 21 4 15 13 1 20 18 9 29 5 19 5 B= 21 13 5 19 20 21 4 15 1 20 18 9 26 5 19 A mensagem codificada (matriz ab) que será enviada via Internet será: A.B= = 1 2 2 3 . 5 21 5 19 20 21 4 15 13 1 20 18 9 26 5 19 31 23 45 38 73 14 53 49 45 70 92 67 120 87 33 Ou seja: 31, 23, 45, 55, 38, 73, 14, 53, 49, 49, 45,..., 23, 87. O receptor da mensagem, de posse da matriz inversa A -1 multiplicará a matriz inversa por AB, obtendo B (mensagem original) -1 A AB = = Como -3 2 2 -1 5 21 13 1 31 23 45 55 38 73 14 53 49 45 70 92 67 120 23 87 . 5 20 19 18 20 9 21 26 4 5 15 19 que é a mensagem original o microcomputador realiza as operações com muita rapidez podemos enviar grandes mensagens codificadas. Tanto que alguns sistemas de segurança são matriciais. Sugiro também outro problema com um contexto diferente. 2) Uma filial de uma rede de escolas precisa enviar, pela Internet, as notas de seus alunos por meio de uma matriz N. por segurança, multiplica a matriz N pela matriz A = 4 1 -3 -1 codificadora. Calcule a matriz inversa de A e verifique qual das matrizes a seguir, já codificadas, é a que representa a de maior nota. (Adoramos: (espaço, 0); (A,1); (B,2),...) 4 MÉTODO HÚNGARO 34 Neste capítulo estudaremos o teorema da alocação ótima. Para aplicar este teorema é necessário conhecer o Método Húngaro, que é um procedimento de cinco passos. Aqui apresentaremos o método de acordo com os problemas citados por Anton, transferindo-os para a realidade local. Com dois problemas citados neste capítulo é possível compreender como é desenvolvido este método. Problema 1 Existem 4 (quatro) jazidas, chamadas A, B, C e D localizadas em lugares diferentes. Cada jazida tem uma escavadeira. As escavadeiras devem ser transportadas 4 (quatro) diferentes locais de construção. As distâncias entre as escavadeiras e os locais de construção são dadas em quilômetros, conforme a tabela abaixo: Jazida Quadro 1 – Local de Construção 1 2 3 4 A 90 75 75 80 B 35 85 55 65 C 125 95 90 105 D 45 110 95 115 Fonte: Sabrina Inês Batista Como devem ser transportadas as escavadeiras para os locais de construção para minimizar a distância total percorrida? Para resolver este tipo de problema usamos o seguinte teorema: 4.1 Teorema Alocação Ótima 35 Se um número é somado ou subtraído de todas as entradas de uma linha ou coluna de uma matriz-custo, então uma alocação de tarefas ótima para a matrizcusto resultante é também uma alocação de tarefas ótima para matriz-custo original. Definição 1: dada uma matriz-custo C de ordem n x n, uma alocação de tarefas é um conjunto de n entradas da matriz tais que não há duas da mesma linha ou coluna. Uma alocação ótima é definida como segue. Definição 2: a soma das n entradas de uma alocação é chamada o custo da alocação. Uma alocação com o menor custo possível é denominada uma alocação ótima. Para resolver o problema acima é necessário definir a matriz-custo, que para este problema é a matriz 4 x 4. 90 75 75 80 35 85 55 65 125 95 90 105 45 110 95 115 Para aplicar este teorema é preciso conhecer o Método Húngaro, que é um procedimento de cinco passos a uma dada matriz-custo. O Método Húngaro só vale para matriz-custo de ordem n x n. 4.2 Método Húngaro 36 1) Com a matriz-custo subtraímos a menor entrada de cada linha de todas as entradas da mesma linha. 2) Subtraímos a menor entrada de cada coluna de todas as entradas da mesma coluna. 3) Riscamos um traço ao longo de linhas e colunas de tal modo que todas as entradas zero da matriz-custo são riscadas e utilizando um número mínimo de traços. Existem métodos computacionais que fazem isto, mas em matrizes de ordem pequena, conforme, o exemplo podemos fazer o processo manualmente. 4) Teste de Otimilidade (i) se o número mínimo de traços necessários para cobrir os zeros é n, então uma alocação ótima de zeros é possível e encerramos o procedimento. (ii) se o número mínimo de traços necessários para cobrir os zeros é menor do que n, então ainda não é possível uma alocação ótima de zeros. Continue com o passo 5. 5) Determinamos a menor entrada não riscada por nenhum traço. Subtraímos esta entrada de todas as entradas não riscadas e depois a some a todas as entradas riscadas tanto horizontal quanto verticalmente. Retornamos ao passo 3. 4.2.1 Vamos Resolver agora o Problema 1, conhecido o Método Húngaro Existem quatro jazidas, chamadas A, B, C e D localizadas em lugares diferentes. Cada jazida tem uma escavadeira. As escavadeiras devem ser transportadas a quatro diferentes locais de construção. As distâncias entre as 37 escavadeiras e os locais de construção as dadas em quilômetros, conforme a tabela abaixo: Quadro 2 – Local de Construção 1 2 3 4 A 90 75 75 80 B 35 85 55 65 C 125 95 90 105 D 45 110 95 115 Jazida Fonte: Sabrina Inês Batista Como devem ser transportadas as escavadeiras para os locais de construção para minimizar a distância total percorrida? Solução: aplicação do Método Húngaro 1. Temos a matriz-custo de acordo com o problema. Subtraímos o menor número (menor entrada) de cada linha. 90 75 75 80 1ª linha = -75 15 35 85 55 65 2ª linha = -35 125 95 90 105 3ª linha = -90 35 45 110 95 115 4ª linha = -45 0 0 0 5 0 50 20 30 5 0 15 65 50 70 Todas as linhas já contêm entradas zero. Só falta a 4ª coluna ter entrada zero. 15 0 35 0 0 0 5 50 20 30 5 0 15 65 50 70 15 4ª coluna = -5 0 0 0 50 20 25 35 0 5 0 10 0 65 50 65 38 2. Riscamos as entradas zero da matriz com um número mínimo de traços horizontais e verticais. 15 0 0 0 0 50 20 25 35 5 0 10 65 50 65 0 Como o número de traços é 3 e n = 4, então o número de traços é diferente da ordem da matriz (t = n), logo não é possível ter uma alocação ótima de zeros, pois devemos ter t = n. Subtraímos 20 de todas as entradas não riscadas e somamos 20 às duas entradas riscadas por 2 traços. 15 + 0 35 0 0 0 5 50 20 30 + 5 40 0 5 0 0 30 0 5 0 10 55 65 50 65 0 5 0 10 45 30 45 Como o número de traços continua sendo 3, subtraímos 5 (menor entrada) de todas as entradas não riscadas e somamos 5 às duas entradas riscadas por dois traços. 39 35 + 0 55 + o 0 0 5 30 20 5 5 0 10 45 30 45 40 0 5 0 0 25 0 0 0 5 55 0 0 40 30 40 Agora o número de traços é igual a n, então a matriz deve conter uma alocação ótima de zeros. 3. Por tentativa e erro, nós podemos encontrar as seguintes alocações ótimas de zeros. Jazida Quadro 3 – Local de Construção 1 2 3 4 Resulta A 90 75 75 80 B 35 85 55 65 C 125 95 90 105 D 45 110 95 115 40 0 55 0 Fonte: Sabrina Inês Batista 1ª opção: Jazida A construção 4 80 + Jazida B construção 3 55 + Jazida C construção 2 95 + Jazida D construção 1 2ª opção: Jazida A construção 2 75 Jazida B construção 4 65 + 45 + _____________ 275 kilômetros 0 25 0 40 5 0 0 30 0 0 5 40 40 Jazida C construção 3 Jazida D construção 1 90 + 45 + _____________ 275 Kilômetros Vamos sugerir um outro problema que utiliza o Método Húngaro com outro contexto relatando a realidade local do comércio de areias. Problema 2 Um negociante de terrenos vai vender 3 terrenos num leilão eletrônico. Ele recebe propostas para cada um dos terrenos de 4 interessados, mas estes interessados afirmam que podem honrar no máximo uma das propostas. As propostas estão na tabela, os valores são de mil reais: Interessados Quadro 4 – Propostas 1 2 3 Fictício A 15 25 20 25 B 19 23 12 12 C 20 30 15 30 D 20 50 30 30 Fonte: Sabrina Inês Batista Como o negociante deveria alocar os quatro terrenos para maximizar a soma das propostas correspondentes? Observe que deve ser acrescentada uma coluna de terreno fictício para obter uma matriz-custo quadrada. O interessado que receber o terreno fictício não recebe nenhum terreno real. 41 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme o objetivo geral do trabalho esta pesquisa procurou abranger mais problemas reais e práticos, que possuem uma aplicação imediata sobre o conteúdo de matrizes para que possa enriquecer nossas aulas. Assim o aluno, mesmo que não goste de estudar matemática, poderá relacionar o conteúdo formal com a realidade em que vive. Embora, acredite que as matrizes sejam aplicáveis a muitas áreas e em muitas profissões, restringimos as aplicações propostas neste trabalho às mais adequadas à região de Osório/RS. Os problemas elaborados, foram desenvolvidos a partir da realidade local, situado em Osório, Rio Grande do Sul. Como já citado, Osório é uma cidade de muitas lagoas, terras em grande quantidade que são muito aproveitadas para o cultivo e plantio de arroz. É também uma cidade de passagem, por onde trafegam muitos veículos diariamente e principalmente em datas festivas como Natal, Ano Novo, Carnaval e feriados em geral, por estar localizada em um ponto estratégico para quem deseja se deslocar para o Litoral Norte do Rio Grande do Sul, para Santa Catarina ou outros Estados do Brasil. Formulando problemas desenvolvidos para a realidade local, podemos explorar muitas idéias para nossos alunos em relação à qualidade de vida. Contudo a matemática não é uma disciplina que está somente dentro da sala de aula, conseguimos ver que ela realmente pertence ao nosso cotidiano, e com isso podemos nos preparar para o futuro, buscando uma vida de qualidade em todos os 42 sentidos, com base em fatos reais, planejando e traçando uma meta para nossas vidas. 43 REFERÊNCIAS ANTON, Honard; RORRES, Cris. Álgebra Linear com aplicações. [s.I.]: [s.ed..], [s.d.]. DANTE, Luiz Roberto. Didática da Resolução de Problemas de Matemática. 2 ed. São Paulo: Ática, 1991 D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação Matemática – da teoria à prática. 8. ed. Campinas: Papirus, 1996. DECON, Manoel José et al. A resolução de problemas no ensino da Matemática. In: Núcleo Integrador Matemática Curso de Complementação para Licenciatura: .Metodologia de Matemática. [s.ed.]. Florianópolis: UFSC/LED, 2002. 104 p. 54-59. FAINGUELERNT, Estela Kaufman. O fracasso no Ensino de Matemática ou a Matemática no fracasso do ensino? In: Revista Educação Matemática. 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