○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○ ○○ ○○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Confessionalidade Evolução histórica do conceito de confessionalidade no metodismo brasileiro Elias Boaventura Doutor/UNICAMP Professor do Pós-Graduação em Educação da UNIMEP R e s u m o O presente artigo analisa a progressão das instituições metodistas de educação levando-se em consideração a presença da confessionalidade nas escolas. Nesse sentido, a ação dos missionários e missionárias nas escolas sempre foi a de respeito às outras religiões, ainda que tivessem a intenção de evangelizar e levar a todos a confissão religiosa. Unitermos: moral; escolas; Bíblia; confissão; Granbery Synopsis This article analyses the progression in the Methodist Educational Institutions, considering the presence of confessionality in schools. In that sense, the missionaries’ attitude in schools was always respectful of other religions, although it was their intention to evangelize and bring the religious confession to all. Terms: morals; schools; Bible; confession; Granbery Resumen El presente artículo analiza el progreso de las instituciones metodistas de enseñanza tomando en consideración la presencia de la confesionalidad en las escuelas. En este sentido, la acción de los misioneros en las escuelas siempre fue la de respeto a las otras religiones, aunque tengan la intención de evangelizar y llevar a todos a la confesión religiosa. Términos: moral; escuelas; Biblia; confesión; Granbery Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 9 ○ ○ ○ Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Posto que a religião seja livre, e não nos esfo rçamos para que os alunos façam parte de nossa Igreja, contudo desejamos sinceramente que todos conheçam o Evangelho e sigam a Christo verdadeiramente.” Regulamento do Instituto Granbery (18971898 págs. 7 e 8) Procuramos basear nossa busca na primeira fase, que se estende até a década de sessenta do século XX, principalmente em fontes primárias como: Expositor Cristão — órgão oficial da Igreja Metodista, e Estatutos do Instituto Granbery, sua mais tradicional instituição de ensino, e no segundo momento, na análise feita por diversos intelectuais metodistas através da Revista de Educação do COGEIME e outras obras ligadas ao tema. “O Colégio era fundamentalmente metodista. Jamais obrigava que católicos ou judeus seguissem seus preceitos teológicos, sob nenhuma circunstância. De todas as maneiras, os católicos teriam que comparecer à sua igreja, da mesma forma que o judeu à sua sinagoga.” Silva (1977 — pág. 09) Revista de Educação do Cogeime ○ to constitui um esforço metodista para tornar mais palatável sua mensagem, mas que o conteúdo permanece muito semelhante. s instituições metodistas de ensino no Brasil, criadas na segunda metade do século XIX, agendaram desde sua origem o tema “prática educacional e confissão religiosa”, a ser vivenciado nas escolas sob orientação da Igreja Metodista no País. A questão “confissão religiosa nas casas de ensino” parecia algo tranqüilo para os missionários que, entretanto, não a confundiam com denominacionalismo e repudiavam encará-la como manifestação de sectarismo religioso, que condenavam abertamente, como observa Silva: Neste trabalho, o que pretendemos é levantar o que os metodistas tomaram por elementos essenciais de confissão, que deveriam preservar nas instituições educacionais, no Brasil, a evolução do conceito confissãoconfessionalismo até sua passagem ao arranjo lingüístico que se convencionou chamar confessionalidade, que passou a predominar até os dias atuais no mundo educacional metodista. Trabalhamos com a hipótese de que a preservação e divulgação da confissão metodista, como um dos objetivos das instituições educacionais foi sempre uma constante, que a evolução histórica do concei- ○ Fase inicial O que confessavam enfaticamente os metodistas no fim do século XIX e princípio do século XX, que entendiam ser compromisso que as instituições de ensino da Igreja Metodista tinham a obrigação de abraçar? Na fase inicial, confissão estava tomada no sentido de princípios basilares sobre os quais deveriam se sustentar a proposta educacional a ser levada a efeito pelas instituições, no período, bastante confundidas com as própria paróquias onde deveriam se desenvolver as atividades religiosas. Confissão estava tomada no sentido de princípios basilares ○ ○ ○ 10 ○ ○ ○ Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ No regulamento do Colégio Granbery, há uma clara confissão que se procurou por longos anos enfatizar: “A base verdadeira d’essa moral entendemos ser a Bíblia: portanto todos os alunos têm de estudá-la. Pensamos que os princípios d’ella são os alicerces do progresso da civilização dos mais adiantados povos; e queremos que os alunos edifiquem os seus caracteres sobre esta pedra angular. Cumpre que a escola seja um centro de luz, e uma fonte de verdade: que a sua influência sobre os alunos e a sociedade seja benéfica e salutar. Faltando isso, já tem perdido a sua raison d’être.” Regulamento do Instituto Granbery (1897-1898) ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A ênfase em busca da verdade encontra-se presente nos documentos oficiais e prospectos das instituições de modo muito claro. Deve-se, entretanto, levar em consideração que a única verdade existente é aquela revelada pela Bíblia. “O collegio christão procura saber a verdade, e é leal para com a verdade em todos os logares e todos os tempos.” Estatutos do Instituto Granbery (1930) “Qual é o fim destas escolas? Que atmosfera devem ter? A do livre pensamento da Universidade?[... ] Nossas escolas, pois, não terão a atmosfera de livre pensamento, essa pertence a outros estabelecimentos. Não andamos perguntando: o que é a verdade. Julgamos saber a verdade, em parte ao menos.” Livro de Atas Diretoria do Instituto Granbery (1905) Qual é o fim destas escolas? Que atmosfera devem ter? A do livre pensamento da Universidade Esta mesma ênfase no valor universal e eterno da Bíblia era sustentada nas assembléias, publicidades, conferências, grêmios e todas as demais atividades intelectuais e dentro da visão literalista e fundamentalista. “Em relação à Bíblia, o fundamentalismo assume posições radicais: inerrância absoluta quanto aos manuscritos originais, sendo somente admissíveis pequenos erros na transmissão dos documentos. Como as palavras da Bíblia são as palavras de Deus, a alta crítica é inteiramente inadmissível.” Mendonça e Velasques (1990 pág. 140) Em relação à Bíblia, o fundamentalismo assume posições radicais Devemos ressaltar ainda a grande preocupação de se confessar sempre o compromisso com a verdade, que deveria permear a vida daqueles que passassem pelas instituições. Revista de Educação do Cogeime ○ Este tipo de verdade é transcendental, definitiva, estática, revelada, só reconhece a verdade do outro dentro dos arrais cristãos e o máximo que se pode exigir do fiel é que seja tolerante com o diferente, respeite-o sem, entretanto, levar em consideração sua possível contribuição, ou tentar efetivamente entendê-lo em suas razões. Neste sentido, as instituições preferencialmente deveriam trabalhar com professores e administradores, ligados ao metodismo, e quando muito, à fé cristã evangélica. “Queremos uma Universidade essencialmente cristã, com todos os professores e funcionários evangélicos, que primem pelo seu viver, de modo a serem exemplos vivos do poder do ○ ○ ○ 11 ○ ○ ○ Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Para os missionários educadores, o planeta e todo universo é um projeto de Deus Cabia aos metodistas contribuir para resgatar o homem, apontar-lhe os rumos e tirá-lo deste estado de ignorância ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “[... ] o movimento metodista, entre os absolutos de eternidade (céu e inferno), mostrava o universo efêmero das ações humanas como o palco da luta histórica entre duas entidades metafísicas, o Bem e o Mal (na linguagem da fé, Deus e o Diabo). Os homens tinham de tomar consciência dessa luta e eram desafiados a se alistarem ao lado do bem para serem felizes nesta vida e garantirem a eternidade no céu.” (Mendonça 1997 pág. 135) Cabia aos metodistas contribuir para resgatar o homem, apontar-lhe os rumos e tirá-lo deste estado de ignorância tanto pela evangelização como pela educação formal, como já o havia feito nos Estados Unidos. As próprias autoridades religiosas brasileiras se consideram perdidas, como disse a Kidder um clero da época. “Explicou-nos que era nulo o espírito de religião, tanto no clero como no povo. [... ] Perguntamoslhe que notícia daríamos ao mundo religioso com respeito ao Brasil. — Diga que estamos em trevas, atrasados, quase abandonados.” Leonard (1981 pág. 32) “Será felicidade coletiva, toga honrada pela Fé Cristã; a espada erguida pela justiça sob os impulsos do Cristianismo para afastar o mal; a Ciência iluminada e amparada pela humildade do Evangelho. O que importa é haver cristãos, de fato, no ambiente social.” Expositor Cristão (8/11/1945). Para este Brasil em trevas, a Igreja Metodista confessa que tem a resposta, que sua experiência na Inglaterra e nos Estados Unidos lhe confere esta credencial. Para isso, adota claramente o método norteamericano no ensino e considera que Para este Brasil em trevas, a Igreja Metodista confessa que tem a resposta Estes mesmos missionários — educadores confessam sua fé em um planeta criado e governado por Deus, sistêmico, com destinação certa, morada provisória do homem e ame- Revista de Educação do Cogeime ○ açado pelo pecado da espécie humana, por natureza pecadora, e desviada da vontade do Criador, como considera Mendonça: Evangelho, e mais pelo exemplo que por qualquer motivo deixem sulcos indeléveis nas personalidades dos futuros guias dos destinos de nossa Pátria.” Expositor Cristão (18/10/1945) Possuidores da verdade e amantes da liberdade dentro dos limites do cristianismo, os missionários metodistas trabalhavam com a convicção de que eram participantes do “destino manifesto” (MESQUIDA 1994) que lhes conferia a condição especial de membro do Novo Israel de Deus, portador de uma definitiva visão do mundo. Para os missionários educadores, o planeta e todo universo é um projeto de Deus, tudo funciona sistematicamente dentro de uma ordem emanada do Criador, que deve ser acatada por todos. A esta ordem encontram-se presas as ciências, cujo fim é contribuir para a preservação universal dentro da lógica advogada. A escola deve também se submeter a esta lógica e funcionar como braço estendido da Igreja no cumprimento de sua missão sob pena de perder sua razão de ser. ○ ○ ○ ○ 12 ○ ○ ○ Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ a educação pode funcionar como meio auxiliar e confessa: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “precisamos de uma Universidade profundamente religiosa, primordialmente aos filhos dos crentes, e não para os filhos dos graúdos. A Igreja precisa dar amparo aos filhos da Igreja.” Expositor Cristão (1945) “Mesmo quando as velhas formulações, por causa dos novos conhecimentos, se achem inadequadas, continuaremos cientificamente a ‘lançar emphafese sobre as relações humanas’, guiados pelo ensinamento de Jesus, segundo o qual cada pessoa tem um valor infinito, perante um Deus eterno, justo e misericordioso.” Estatuto do Instituto Granbery (1930) Dando continuidade à exposição de motivos, os metodistas esclarecem: “a verdadeira missão de uma instituição de ensino superior é preparar personalidades, com elevado propósito moral, com intelectos inspirados a perceber os grandes valores religiosos : indivíduos que se consagrem a tornar melhor o mundo, e que seu objetivo, além disso, é preparar cidadãos que serão competentes na realização do melhor sentimento público, e que serão sábios na liderança moral e social, e cuja serenidade mental e espiritual será suficiente para quaisquer emergências.” Expositor Cristão (1945) “O metodismo norte-americano que chegava ao Brasil trazia uma ideologia capaz de mostrar aos brasileiros que ele desejava partilhar os benefícios da civilização protestante americana com os menos ‘afortunados’.” Mesquida (1994 pág. 125) As duas grandes guerras mundiais provocaram deslocamentos e arranjos econômicos significativos, que por sua vez colocaram em estado de prontidão a visão estática de mundo até então aceita. A revolução de 1917 na Rússia, no Brasil o crescimento do modernismo na década de 20, o otimismo pedagógico, o acirrado debate entre católicos liberais, o início da desruralização brasileira na década de 30 e o fim do Estado Novo, na década de 40, são fenômenos reveladores da inquietação que perpassava o País. Os metodistas, agora portadores de uma autonomia educativa consentida, participaram desta inquietação e passaram com mais contundência a defender a idéia de universidade como meio de se protegerem dos efeitos da onda materialista reinante. Revista de Educação do Cogeime ○ Turner, dotado de grande realismo quanto ao papel de uma universidade, esclarece que o currículo de nossa universidade não pode ser diferente, mas a confissão poderia ser proporcionada através de outros expedientes. Os metodistas, agora portadores de uma autonomia educativa consentida, participaram desta inquietação ○ ○ ○ 13 ○ ○ ○ “A premissa básica nesse proceder era claramente que o fim primordial da atividade a que chamamos educação é o homem equipado moralmente para enfrentar e interpretar a vida e os seus problemas do ponto de vista Evangélico. Em outras palavras, uma universidade não poderá possuir e, portanto, não poderá transmitir aos alunos, o ideal do caráter cristão, e a atitude cristã para com a vida e com os seus se- Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Confessavam os intelectuais metodistas que a educação formal era extremamente importante “Confessar” passou a ter novo sentido que o termo “confissão” Segunda fase Esta certeza quanto à obrigação de uma escola ligada à Igreja ser confessional nos termos em que vinha sendo posta começou a ser Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ 14 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ questionada, em função de uma onda de acontecimentos que atingiu muitas partes do mundo. Entre estes acontecimentos, mencionamos a Guerra do Vietnã, a questão estudantil financeira que abalou Paris em 1968, o avanço da Teologia da Libertação, toda uma condição de Pós-Modernidade que colocava em questão valores até então tomados por definitivos. A América Latina assiste ao avanço de governos militares autoritários, em alguns casos sanguinários, o que levou Mortiner Arias a afirmar que a América Latina sorriu na década de 1950 e chorou na década de 1960. No Brasil, este avanço da brutalidade contaminou as escolas através de perseguições a professores e alunos, de imposição de posturas tecnicistas e de adesão aos Estados Unidos através do acordo MECUSAID. O metodismo brasileiro também colocado no “olho do furacão” foi fortemente impactado, pela postura de sua juventude, sensibilizada com as mensagens de Richard Shaull e D. Hélder Câmara, o que acabou por resultar no fechamento da Faculdade de Teologia em Rudge Ramos e na debandada de grande número de jovens. A partir daí “confessar” passou a ter novo sentido que o termo “confissão” era pesado demais comportar, razão por que os pensadores metodistas optaram pelo conceito de confessionalidade bem mais flexível e mais amplo, capaz de comportar o novo quadro social. A Igreja Metodista nas décadas seguintes fez sua autocrítica e declarou enfaticamente: melhantes, — no sentido evangélico da palavra “cristão”, — a não ser que a orientação da universidade seja evangélica e o corpo docente seja também evangélico.” Expositor Cristão (1946 — setembro) O autor, no mesmo artigo, denuncia o humanismo materialista das universidades estatais, chama a atenção para os efeitos catastróficos e sentencia “queremos uma universidade rigorosamente cristã.” Em síntese, confessavam os intelectuais metodistas que a educação formal era extremamente importante, que a igreja metodista precisava de uma universidade cristã-evangélica compromissada com a fé cristã e que levasse claramente a todos os seus alunos esta confissão religiosa. Este modelo de Universidade chegou a ser vivenciado no Granbery até o princípio do século XX, mas não vingou por questões internas, por pressão da Junta de Missões dos Estados Unidos e por tantos outros motivos como já mencionamos em outro trabalho nosso Boaventura , (1995). Na década de 1930 fechou no Granbery a última faculdade deste período, mas não desfaleceu, como já tivemos a oportunidade de ver, e a busca de uma universidade confesadamente cristã-metodista, continuou pelo menos até o fim da década de 1950. ○ ○ Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ riência em instituições metodistas de ensino no Cone Sul e confessadamente socialista, entende que a confissão essencial é a mesma de Pedro: Você é o Cristo — e declara: “No caso específico das nossas escolas, à medida que a sociedade brasileira foi se desenvolvendo, elas perderam suas características inovadoras e passaram a ser reprodutoras da educação oficial. Esvaziaram- se perdendo sua percepção de que o Evangelho tem também dimensões políticas e sociais, esquecendo, assim, sua herança metodista. Em razão, suas limitações históricas e culturais à ação educativa metodista tornou-se prejudicada em dois pontos importantes: primeiro, porque não se identificou plenamente com a cultura brasileira; segundo, por ter apresentado pouca preocupação em descobrir soluções em profundidade para os problemas dos pobres e desvalidos, que são a maioria do nosso povo.” Vida e Missão (pág. 35 — 1982) “Eu acho que essa é a nossa confissão fundamental: se posicionar como instituição no meio de qualquer sociedade, como instituição cristã, é lembrar uma confissão apostólica que nós sentimos ainda como nossa.” Disse mais: “Na busca de vivenciar esta confissão o metodismo brasileiro adotou o ‘American way of life’ como sinal de uma cultura superior e melhor do que aquelas existentes no Brasil onde se apresentou como cristianismo flexível e aberto.” Não há nenhuma negação da fé metodista, mas não se trata mais de se enfatizar princípios, e sim de se buscar uma identidade dentro deste mergulho mais tenso na realidade social. Trata-se de um olhar para fora, de onde virá a inspiração para a prática educativa e o acerto de novos conceitos capazes de tornar mais palatável a missão da Igreja. Passemos agora às principais contribuições dadas pelas autoridades e intelectuais metodistas ao tema, através de exaustiva revisão bibliográfica dentro dos limites propostos. Júlio de Santa Ana (1992), teólogo metodista, membro do Conselho Mundial de Igrejas à época, professor do IMS (Instituto Metodista de Ensino Superior São Bernardo do Campo) em Rudge Ramos, com larga expe- Revista de Educação do Cogeime ○ Santa Ana se nega a ver as instituições de ensino como agências de evangelização e considera as pastorais universitárias simples “decoração piedosa” e que apesar de ter que responder às exigências do mercado, o projeto de educação metodista em qualquer nível busca ser convergente, de inclusão, e essencialmente tem como “ objetivo final a produção de sentido para a vida”. Santa Ana entende que esta leitura interessa a qualquer tipo de educação libertadora por significar uma experiência de amor com raiz na ternura da graça, elementos essenciais no desenvolvimento da capacidade de sonhar para além do mercado, e termina afirmando: “Nós temos que colocar sementes da graça neste mundo desgraçado”. Não há nenhuma negação da fé metodista ○ ○ ○ 15 ○ ○ ○ Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Em seu entender, esta confessionalidade exige “educação de qualidade”, entendida exatamente como aquela que contribui para a semeadura de sinais da graça neste mundo desgraçado. Segundo ele, todos podem adotar estes valores, e lutar institucionalmente a favor deles. Isto não implica a negação do atendimento às exigências do mercado, muito menos a negligência em relação aos avanços científicos e tecnológicos, mas na capacidade de dar sentido mais amplo a eles. Bispo Paulo Ayres (1992), metodista, compromissado com as questões sociais e zeloso das doutrinas da Igreja Metodista, se caracteriza pelo seu estilo contundente e por suas afirmações definitivas, aliás, características do episcopado. Em seu trabalho faz uma leve retomada histórica em que procura deixar clara a seu leitor a tentativa permanente da Igreja, esta entendida apenas como uma instituição do cristianismo, reformado ou não, de controle da escola, particularmente da universidade. São suas palavras textuais (p. 50-51) : ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Após este rápido intróito, o autor passa a tecer considerações sobre a relação Igreja Metodista e escolas no século XIX, mais especificamente no Brasil com um tipo de metodismo que aqui se ministrava. Era um projeto modernizador, que via na educação formal o instrumento apropriado para se alcançar o objetivo desejado. (p. 52) Os missionários entendiam a educação como um instrumento tão válido e eficiente como a pregação religiosa para a salvação do povo brasileiro das trevas da ignorância e superstição. Sua intenção era “através da educação modernizar a sociedade brasileira”. Os missionários entendiam a educação como um instrumento tão válido e eficiente como a pregação religiosa “Hoje percebemos que tal projeto eivado de bons propósitos cristãos era reacionário e arrogante, pois não partia dos interesses de um projeto enraizado e proposto para responder às necessidades da realidade do povo brasileiro” Em seguida, Paulo Ayres passa a tecer críticas ao relacionamento Igreja Metodista-Escola no Brasil e deixa claros alguns pontos importantes: - a Igreja não conhece o mundo da escola e o desrespeita; - não reconhece que a escola é um bem da sociedade civil e deseja convertê-la em simples instrumento de sua ação; - tem tido um comportamento autoritário nas tentativas de solução das crises e por isto perdeu o respeito das escolas; - as Igrejas tendem a reduzir a liberdade de produção e reprodução de conhecimentos. Ora o autor se refere exclusivamente à Igreja Metodista no Bra- “quem mantinha o controle da escola eram os próprios religiosos, pois basicamente se destinava à reprodução do próprio clero, responsável pela formulação intelectual do conhecimento religioso” “os sucessores dos grandes reformadores vão inclusive tentar restabelecer o controle eclesiástico rigoA Igreja não conhece roso na criação das escolas e das o mundo da escola e o universidades nos principados onde desrespeita prevalecia o protestantismo” Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ 16 ○ ○ ○ Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Digo que a expressão escola confessional é uma contradição de termos exatamente porque a Escola como parte importante da sociedade civil tem fundamentos próprios, que não se confundem com os da Igreja” ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “A maioria das escolas metodistas não pode ser para a classe pobre, tem que ser para a classe média, ou classe média alta. Se quiser ficar pensando que vai fazer escola para pobre, para quem está em situação difícil, nós não vamos conseguir oferecer uma boa educação .” (p. 62) A maioria das escolas metodistas não pode ser para a classe pobre, Após esta tomada de posição, vem a crítica às escolas confessionais: “podemos, infelizmente, constatar que um número grande das escolas confessionais oferece uma educação muito desqualificada aliada aos interesses ecumênicos retrógrados e autoritários” (p. 65) Prossegue o autor seu raciocínio na seguinte direção: - as escolas confessionais têm sido meras reprodutoras do sistema; - a Igreja Metodista reconhece que a universidade tem fundamento próprio; - as escolas confessionais metodistas necessariamente têm que oferecer superávit; - elas não devem se alinhar ao lado das escolas privadas e nem das estatais “Não devemos, por outro lado, de forma alguma, nos aliar ao lado das escolas particulares: por favor, não entrem nesse trem das escolas privadas; nós não podemos entrar; as escolas privadas no Brasil em sua grande Revista de Educação do Cogeime ○ maioria são um crime contra a nação brasileira, contra a sociedade brasileira, contra o povo brasileiro, e nós temos de ter a coragem de denunciar o escândalo da escola privada no Brasil” (p. 61). Ao encerrar sua exposição, Paulo Ayres conclui melancolicamente e com grande realismo, que escandalizou e escandaliza aqueles que acreditam na possibilidade de uma ação transformadora e reparadora das instituições de ensino metodistas na direção de um mundo melhor. sil, já no século XX, ora generaliza suas afirmações para todas as Igrejas relacionadas com problema da educação formal. É no contexto destas críticas que o autor coloca a questão da confessionalidade de modo bastante enfático “Uma contradição de termos numa ótica democrática, pois se é escola não é confessional, e se é confessional não é escola” ○ Que conclusões, a título de síntese, se pode tirar deste pronunciamento? Historicamente, o relacionamento Igreja/Escola manteve-se tenso em função da permanente intenção de controle e instrumentação das instituições por parte da Igreja. No caso dos metodistas, eles entendiam a educação formal como instrumento útil à Igreja; não souberam respeitar a escola em sua vida própria e a trataram de modo autoritário nas diversas crises. No que se refere à confessionalidade da escola, pareceu-me taxativo: “Se é escola não é confessional e se é confessional não é escola”. Reafirma sua oposição tanto à escola estatal como à privada e reivindica a necessidade da e scola pública, único caminho, segundo ele, As escolas confessionais têm sido meras reprodutoras do sistema ○ ○ ○ 17 ○ ○ ○ Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ para a garantia de qualidade, que no caso metodista só se alcança enquanto escolas exclusivamente voltadas aos ricos. Paulo Lockman: (1992), bispo metodista no Rio de Janeiro, em sua contribuição ao tema não acrescenta muito, uma vez que tentou trabalhar com a situação localizada do Instituto Bennet e a partir de experiências pouco refletidas e de significação limitada. Sua fala tem, todavia, o mérito de trabalhar fatos concretos bem ilustrativos de uma condição pouco confortável da Igreja Metodista, para ele responsável em última instância pela fragilidade dos poucos sinais de confessionalidade. De sua fala podem ser extraídas as seguintes observações: toma a confessionalidade como “a identidade do metodismo na ação educacional dentro das nossas instituições de ensino”. (pág. 64) Esta confessionalidade deveria ser vista nos diversos níveis da administração, onde encontra vários obstáculos: 1.Conselhos Diretores sem condições técnicas 2. Direções gerais conflitantes, sem a visão de um ministério educacional 3. Desencontro com as pastorais 4. Fraco desempenho de funcionários metodistas 5. Ausência de controle no uso do espaço físico Sua contribuição atribui à Igreja de modo geral, o fracasso por não se obter uma real confessionalidade e conclui: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ porque nós mesmos não respeitamos os princípios que estabelecemos.” (p. 76) Rui JOSGRILBERG (1992), reitor da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista (na época), doutor em Filosofia, caracteriza-se pelo rigor conceitual com que elabora o texto e pela profundidade teórica com que discute a questão. Deixa o leitor bem informado sobre a natureza da fé, segundo sua percepção, do que entende por Teologia e Filosofia Cristã e do papel que tem a razão em relação à fé e conclui sua introdução com Wesley: “Wesley não dissolve a liberdade e a razão na fé, mas vê a razão e a liberdade como necessárias à fé, ainda que a iniciativa e a primazia pertençam à fé e a palavra de Deus em seus conteúdos próprios.” (p. 82) Ao entrar na questão da confessionalidade nas escolas metodistas oferece algumas pistas interessantes: - “A confessionalidade não se sobrepõe ao saber em suas respectivas áreas que tem seus métodos e conteúdos de ciências específicas” (p. 83) - A escola não pode ser tratada como uma Igreja local - É estreita a senda da vivência da confessionalidade “ entre o desrespeito à pessoa e ao processo educativo de um lado e o perigo de não assumir a confessionalidade de outro” A confessionalidade não se sobrepõe ao saber em suas respectivas áreas que tem seus métodos e conteúdos de ciências específicas Ely Éser B. CÉSAR, teólogo metodista, ex-professor da Faculdade de Teologia, Vice-Reitor Acadêmico da Universidade Metodista de Piracicaba — UNIMEP, é portador de larga experiência acadêmica em instituições metodistas. Sua fala vem sempre “Temos que ser os primeiros a garantir a respeitabilidade desses órgãos, desses funcionamentos, porque, do contrário, a nossa própria autoridade é questionada; Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ 18 ○ ○ ○ Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ acompanhada de muito respeito e credibilidade. Ao colocar a questão da confessionalidade faz sínteses realmente provocativas. Reconhece como princípio fundamental que a escola é uma instituição civil e secular. Rechaça qualquer possibilidade de “censura religiosa na produção do saber na Universidade”. A docência nas instituições “não pode ser prerrogativa dos metodistas” e o compromisso da docência requer liberdade que ultrapassa os limites das prerrogativas confessionais. Nas escolas metodistas há que se preservar “a liberdade para a produção do saber”. O papel da escola é dado pela própria sociedade e a Igreja precisa estar atenta a esta realidade. Insistente na visão de que não se garante a confessionalidade só com metodistas, afirma categoricamente: “não é necessário que nossos docentes sejam metodistas. É necessário, sim, que tenhamos radical compromisso com a vida concreta do povo brasileiro”. É nestes limites que admite a possibilidade da confessionalidade, através de orientações e de se caminhar para a construção da cidadania. Em outro trabalho (1997), intitulado Educação e Confessionalidade, Barreto César oferece rica contribuição a quem desejar examinar o tema confessionalidade nas instituições metodistas de ensino. Afirma que se a escola não existe para promover a evangelização, ela deve contribuir para o Reino de Deus, concluindo que a confissão nas instituições metodistas é a confissão nas possibilidades do reino de Deus. Para ele, a instituição confessional necessita Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A docência nas instituições “não pode ser prerrogativa dos metodistas” A missão da escola confessional não coincide com a missão da congregação que se funda na fé A instituição confessional necessita cultivar a reflexão e a elaboração teológica ○ ○ ○ 19 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ cultivar a reflexão e a elaboração teológica e relembra que a crise da docência, que se vive hoje nas instituições, está relacionada à ausência de uma articulação de uma Teologia Fundamental de natureza wesleyana. Relembra, entretanto, que o projeto educacional é secular, escapa à visão teológica, deve ser amplamente participativo, e sem manipulações e sintetiza: “A própria natureza desta escola confessional exige processo que garanta a mais ampla participação de seus agentes conforme os diferentes níveis de sua responsabilidade no interior do projeto.” O articulista volta ao tema no encontro da Associação Latino-america de Instituições Metodistas de Ensino — ALAIME (1999) com o tema “Projeto educacional percebido por uma perspectiva crítico profética”. Afirma que “a missão da escola confessional não coincide com a missão da congregação que se funda na fé”, porque, segundo ele “a escola mesmo confessional, está vinculada ao sistema produtivo e de mercado e, conseqüentemente, aos interesses das elites.” A educação parece perder a função de busca de sentido da vida para atender ao mercado globalizado. A escola confessional metodista, desafiada a incorporar-se ao projeto missionário da Igreja, mas pela sua própria natureza de escola, não pode escapar às demandas complexas do projeto educacional da sociedade, porque seus “cânones” são os da legislação pública e não os da Igreja. A escola se sentirá órfã se a Igreja não respeitar sua especificidade. Há que Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ se reconhecer sua contribuição de instituição secular a serviço de uma dada sociedade, o que pode facilmente levá-la à dependência de grupos que funcionam com objetivos puramente mercadológicos. A natureza confessional da escola obriga, por outro lado, a superar administrativamente condutas opressivas lesivas ao corpo de servidores. Corre-se o perigo de se desenvolver uma teologia missionária cínica, se não produzir atos concretos para a superação da pobreza resultante do processo histórico. É neste engajamento que se pode aferir a fidelidade do processo em defesa da causa do pobre: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Que nós, nessa busca da nossa confessionalidade, da caracterização da nossa confessionalidade, saibamos ser equilibrados e que Deus nos faça compreender a nossa responsabilidade, como metodistas em relação às nossas crenças.” “A escola metodista latino-americana não merecerá sobreviver enquanto instituição Wesleyana se não for capaz de estruturar espaços pedagógicos para o exercício humano da solidariedade radical para com o poder concreto e na direção da massa de excluídos.” Elza Maria Rolim Zenker (1996), pastora metodista no sul do Brasil, então coordenadora da Pastoral Instituto Porto Alegre / Instituto Metodista de Educação e Cultura — IPA/IMEC, reivindica que a educação confessional tem que estar engajada na construção do conhecimento, “considerar a vida como bem maior”. Reconhece que hoje se vive uma situação iníqua em termos de justiça social e qualidade de vida, mas a prática educacional, ao contrário, reforça a situação de injustiça vigente no país e conclui categoricamente: “Se a escola não for agência de cooperação, de mudança, inócua se torna a sua tarefa” . Outras contribuições, menos elaboradas, aprecem ainda e merecem menção, embora os autores tivessem como objetivo fundamental categorias diferentes. É o caso de Jorge Mesquita (1992), que relembra: Revista de Educação do Cogeime ○ Ulisses Panisset (1992), leigo metodista notável, diretor de escolas metodista por longos anos, relembra que o Aurélio não registra o termo “confessionalidade” e enfatiza que a confessionalidade, como presente na tradição e documentos metodistas, consiste em um olhar sempre voltado para o outro, compromisso com o bem-estar social, adoção do sacerdócio universal dos crentes e exorta: Corre-se o perigo de se desenvolver uma teologia missionária cínica “os missionários deixaram como marcas da confessionalidade: riqueza de currículos com disciplinas complementares, assembléias religiosas, estímulo à presença dos alunos em escolas dominicais, diretores missionários, respeito ao calendário e lideranças metodistas do passado.” ○ Se a escola não for agência de cooperação, de mudança, inócua se torna a sua tarefa Jorge Hamilton (1996), pastor metodista, coordenador, à época, da Pastoral Universitária da UNIMEP, relaciona confessionalidade, direito à cidadania e classe média. Ressalta a ○ ○ ○ 20 ○ ○ ○ Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ influência do mercado e o fato de que o conceito de cidadania, da classe média, está relacionada ao consumo e sintetiza: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ meio usado pela igreja cristã para transmitir seus princípios e admite que a universidade geralmente serve à manutenção do sistema dominante, mas pode também servir à transformação social. Em seu esforço na busca de um conceito de confessionalidade, afirma que ela é inerente ao cristianismo: “A maioria que freqüenta nossas escolas é da classe média, nas instituições se valoriza a diferença entre escola e igreja, a prática educacional confessional metodista exige a defesa da cidadania e uma sensibilidade para lutar pelo direito de todos.” “não se atemoriza diante da ciência e da tecnologia; respeita o campo próprio de cada ciência expressa-se com firmeza, transparência e tolerância. Parte essencial do cristão, seu propósito é a construção do reino de Deus, cujas marcas são: amor, justiça, liberdade, serviço e paz [...] não é proselitista nem sectária. Ecumênica, aceita o pluralismo das idéias.” Peri Mesquida (1996), estudioso da educação metodista no Brasil, se preocupa com a etimologia das palavras educação, cidadania e confessionalidade. Esta, ele relaciona com o ato de declarar e sustentar alguma coisa com fervor. E conclui: “Na medida em que a religião é um fenômeno social, um grupo confessional é aquele grupo que possui fé e práticas comuns que refletem e projetam uma unidade.” Mesquida faz questionamentos intrigantes, colocando em dúvida se os metodistas no Brasil possuem hoje uma unidade, se são um sujeito coletivo ou mesmo uma confissão. Queremos relembrar ainda contribuições de metodistas leigos fora do âmbito do COGEIME e a visão de confessionalidade de intelectuais não ligados a fé metodista. No âmbito do laicato metodista merece menção Gustavo ALVIM (1993) em sua didática obra Autonomia Universitária e Confessionalidade . Alvim, militante metodista há longos anos, vice-reitor administrativo da UNIMEP, enfoca a confessionalidade metodista dentro dos seguintes aspectos: A Igreja Católica vê na universidade “um centro elaborador de cultura automaticamente humana” , um Revista de Educação do Cogeime ○ Considerações provisórias A Igreja Católica vê na universidade “um centro elaborador de cultura automaticamente humana ○ ○ ○ 21 ○ ○ ○ Propusemo-nos examinar o pensamento metodista sobre a questão da confessionalidade nas instituições de ensino da Igreja exclusivamente no Brasil. Não foi nossa intenção desprezar as contribuições anteriores, como seria as dos missionários no fim do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Nem desconhecemos o valor das contribuições ao tema, dados por instituições metodistas da América Latina e de outros continentes, igualmente enriquecedoras. Reconhecemos ainda representar grande lacuna a ausência da visão de outras Igrejas, tanto evangélicas como a Igreja Católica, envolvidas com o problema da educação e às voltas com a questão da confessionalidade , embora de modo diferente daquele que vivenciamos. Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Nosso propósito foi tentar dar conta daquilo que pensam os metodistas de nossos dias, clérigos e leigos, ligados à educação formal e militantes na esfera do COGEIME, quer como militantes nas instituições de ensino, quer como participantes do poder da Igreja Metodista ou simplesmente conferencistas ou articulistas da “Revista de Educação do COGEIME”. Para obter nosso objetivo, esforçamo-nos em respeitar a voz dos sujeitos envolvidos, ouvi-los desde o lugar de onde falaram, razão da revisão bibliográfica, trabalhada de modo a oferecer ao leitor um quadro fiel de tudo o que, nos limites propostos, se disse sobre o tema. Com base no que foi escrito, usamos uma síntese, que considera o pensamento aproximado do metodismo brasileiro, uma vez que os articulistas, pela prática e até pelo esforço teórico, legitimam-se como autênticos interpretes da voz metodista do País. Que conclusões podemos extrair de tudo o que disseram os intelectuais metodistas? Em primeiro lugar, que a confessionalidade nas instituições metodistas de ensino é hoje uma questão posta para a Igreja Metodista, que a incomoda, a problematiza e a desafia em larga escala, afetando de modo muito amplo seu cotidiano missionário. A maioria dos articulistas afirma: as instituições metodistas de ensino têm que estar compromissada com a confessionalidade. Pode-se concluir também da fala dos expositores que a dificuldade para o exercício de uma confessionalidade nas instituições é mais obstaculizada pelo inadequado modo como a encara a Igreja do que pela resistência real por Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Que conclusões podemos extrair de tudo o que disseram os intelectuais metodistas? ○ ○ 22 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ parte das instituições. A confessionalidade metodista se encontra teorizada, fortemente desejada, mas em função das contribuições, das ambigüidades existentes na prática, postas pelo próprio mercado, o esforço teórico, nas palavras de Barreto César, soa como uma “ teoria teológica cínica”. Em resumo, o problema da confessionalidade nas instituições de ensino encontra mais obstáculos na própria ação da Igreja do que nas instituições de ensino. A maioria dos articulistas possui em comum vários pontos dados por aceitos e imprescindíveis à confessionalidade metodista: - educação deve ser de qualidade, aqui entendida como capacidade de dar sentido à vida; - esta busca de sentido não desobriga as instituições de responderem às exigências do mercado; - a escola deve ser respeitada como uma agência prestadora de serviços da sociedade onde se encontra inserida; - escola não é paróquia nem agência de evangelização: busca seu sentido na própria sociedade; - no interior de uma escola metodista, confessionalidade não se sobrepõe ao saber: a ciência deve ser livre e não pode haver obstáculo a ela, independente de seus fins e posturas que representa. Não obstante freqüentada pela elite, a escola metodista não pode negligenciar seu compromisso em defesa do pobre e sua oposição às injustiças do sistema. Para todos os expositores, a confissão “Tu és o Cristo” e a construção do Reino de Deus representam a essência da confessionalidade. A docência deve ser respeitada e exercida Educação deve ser de qualidade, aqui entendida como capacidade de dar sentido à vida ○ ○ ○ Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ sem constrangimento e a falta de um projeto teológico por parte da Igreja é a maior ameaça que pesa no problema confessionalidade e docência. Por longos anos, trabalhando com o conceito de confissão e confessionalismo como sinônimo de confessionalidade, temos sustentado a impossibilidade de uma universidade ser confessional e autônoma. Que compromissos seriam propostos a uma universidade confessional e autônoma? - O reconhecimento de seu compromisso com a sociedade da qual é aparelho; - respeito com a pluralidade de pensamento, e com a autonomia da ciência; Revista de Educação do Cogeime ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 23 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ - dever de atender às necessidades impostas pelo mercado e pelo sistema através de sua clientela; - ação em busca do sentido da vida e do direito do pobre a uma vida digna, à paz e à justiça - direito de confessar seu compromisso com a construção do Reino de Deus, caracterizado pela vivência de justiça e de paz para todos. Nesta segunda fase, não se negou o compromisso com a confessionalidade nas instituições metodistas de ensino, mas quebrou seu caráter absoluto e se procurou deixar claro que o principal compromisso de uma escola é com o saber, tarefa que ela deve cumprir com autonomia, dentro das exigências que a sociedade lhe fizer, sem qualquer outro tipo de constrangimento. Nesta segunda fase, não se negou o compromisso com a confessionalidade ○ ○ ○ Ano 10 - n0 18 - Junho / 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Referências Bibliográficas ALVIM, Gustavo Jacques Dias. Autonomia Universitária e Confessionalidade . 2ª ed. Piracicaba: Editora UNIMEP. 1995. MATTOS, Paulo Ayres. “Confessionalidade, Educação e Escola: Um enfoque histórico”. In: Revista do COGEIME. Ano 1 Número 1, 1991. ATAS, Livro da Diretoria do Instituto Granbery. 1905. AZEVEDO, Israel Belo de. 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